Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Aula 03 Relações Internacionais p/ AFC/CGU - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria Professor: Ricardo Vale !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!1!()!23 ! AULA 03: SUJEITOS DE DIP - ESTADO e INDIVÍDUOS SUMÁRIO PÁGINA 1-Palavras Iniciais 1 2- Personalidade Jurídica de Direito Internacional 2 - 8 3- Personalidade Internacional dos Estados x Personalidade Internacional das Organizações Internacionais: 9 - 10 4- Estados Soberanos 10 - 51 5- A Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano 51 - 52 6- Organizações não-governamentais 52 - 53 7- Questões Comentadas 54 - 64 8- Lista de Questões e Gabarito 65 - 78 Olá, amigos do Estratégia Concursos! Tudo bem? Na aula de hoje, daremos início ao estudo dos Sujeitos de Direito Internacional Público, falando sobre o principal deles: o Estado. Também falaremos, genericamente, a respeito da personalidade internacional e, então, comentaremos acerca do papel do indivíduo no plano internacional. A nossa metodologia será a de apresentar detalhadamente toda a teoria e, simultaneamente, mostrar como ela foi cobrada em concursos públicos. Além disso, no final da aula, teremos uma lista com várias outras questões, as quais “misturam” os diversos temas abordados ao longo do texto. Boa aula a todos! Ricardo Vale ricardovale@estrategiaconcursos.com.br http://www.facebook.com/rvale01 “O segredo do sucesso é a constância no objetivo!” 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!4!()!23 1- Personalidade Jurídica de Direito Internacional: Em 1648, foram celebrados os tratados de Westfália, que colocaram um fim à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e consagraram a chamada Paz de Westfália, momento histórico muito importante para o direito internacional. A Paz de Westfália estabeleceu uma nova ordem para as relações internacionais, marcando o surgimento do Estado moderno como sujeito de direito internacional por excelência. Pela primeira vez, foi reconhecido que os Estados são dotados de igualdade absoluta no plano internacional, princípio basilar do direito das gentes1. Com o passar dos anos, as relações internacionais foram, todavia, ganhando contornos cada vez mais complexos. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve uma proliferação de organizações internacionais, que passaram a ter participação ativa no contexto internacional. Na atualidade, a complexidade é ainda maior e são vários os atores no plano internacional. É justamente essa ordem internacional complexa de que se ocupa o direito das gentes, cujo objetivo central é regular as relações internacionais a fim de permitir a convivência entre os membros da sociedade internacional. Mas quem seriam os membros da sociedade internacional? Afinal de contas, quais são os sujeitos de direito internacional público, isto é, os entes dotados de personalidade internacional? No plano do direito interno, podemos dizer que a personalidade é qualidade inerente à pessoa, seja ela física ou jurídica, o que lhe confere a capacidade para usufruir direitos e contrair obrigações. No plano do direito internacional, não há grandes diferenças! Segundo Francisco Rezek2, eminente jurista brasileiro, para que alguém seja qualificado como pessoa jurídica de direito internacional, é necessário que essa pessoa possa agir no plano internacional. Agir no plano internacional significa poder ser titular de direitos e deveres internacionais e possuir capacidade de defender seus direitos por meio de ações internacionais. Pessoas jurídicas de direito internacional, segundo essa visão, seriam os Estados Soberanos e as organizações internacionais em sentido estrito. Valério Mazzuoli, por sua vez, apresenta um conceito mais complexo de personalidade internacional. Segundo esse jurista, a qualificação jurídica de um ente como sujeito de direito internacional comporta uma conotação passiva e outra conotação ativa. 3 Assim, seriam sujeitos de direito internacional os entes a quem tal Direito é destinado (conotação passiva) e que possuem capacidade de atuação no plano internacional (conotação ativa). Por essa !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 1 “Direito das gentes” (jus gentium) é sinônimo de Direito Internacional Público 2 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 3 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!5!()!23 corrente, além dos Estados soberanos e das organizações internacionais, também os indivíduos possuiriam personalidade jurídica de direito internacional. Como se pode perceber, a questão da personalidade internacional é objeto de grande controvérsia doutrinária, estando longe de um consenso. Todavia, a evolução e a crescente complexidade das relações internacionais tem ocasionado importante transformação na sociedade internacional. Hoje, a grande tendência é considerar que a sociedade internacional não é mais puramente interestatal, em razão da participação cada vez mais ativa de outros entes no plano internacional (ONG’s, empresas transnacionais e indivíduos). Nesse sentido, a doutrina moderna considera sujeitos de direito internacional os Estados, as organizações internacionais e os indivíduos; as ONG’s e as empresas transnacionais são apenas atores internacionais. Destaque-se que, apesar de não se reconhecer personalidade internacional às ONG’s, há uma importante exceção: o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (considerado sujeito de direito internacional público). A personalidade jurídica de direito internacional não é, dessa forma, algo imutável, mas um conceito que evolui com o decorrer do tempo. Há algumas décadas atrás, somente os Estados eram considerados sujeitos de direito internacional, ou seja, essa era uma qualidade exclusiva deles. Na atualidade, podemos afirmar com total segurança que esse quadro se modificou. Várias outras entidades, que não possuem base territorial e dimensão demográfica, possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que estão habilitadas a usufruir de direitos e deveres internacionais e travam relação imediata e direta com as normas que lhes conferem tal prerrogativa. “Mas e aí Ricardo, qual das duas teorias é válida para concursos públicos?” Excelente pergunta! Com tanta controvérsia doutrinária, a nossa cabeça fica mesmo embaralhada! A tendência das bancas examinadoras é considerar que a personalidade internacional não se limita aos Estados e às organizações internacionais.4 Portanto, leve para a prova o seguinte: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 4 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!6!()!23 A personalidade jurídica de direito internacional alcança, além dos Estados e organizações internacionais, também os indivíduos. As organizações não- governamentais e as empresas transnacionais, embora tenham participação cada vez mais ativa no cenário internacional, são consideradas pela doutrina dominante apenas atores internacionais. Cabe destacar ainda que, apesar de não ser a doutrina dominante, Paulo Henrique Portela considera que as empresas transnacionais e as ONG’S também são sujeitos de direito internacional. Apesar desse entendimento, é certo que as empresas, as ONG’s e os indivíduos não possuem as mesmas prerrogativas no plano internacional. A capacidade de atuação desses sujeitos é limitada se comparada ao poder dos Estados e das organizações internacionais. Com efeito, o direito internacional reconhece capacidade para celebrar tratados aos Estados e organizações internacionais, mas não concede a mesma prerrogativa aos indivíduos, às empresas e às ONG’s. Em razão da limitação em sua atuação internacional, os indivíduos, as ONG’s e as empresas são chamados pela doutrina de sujeitos de direito internacional fragmentários5. Tais sujeitos têm acesso a alguns mecanismos de soluções de controvérsias internacionais e são destinatários de normas internacionais, que lhes conferem direitos e obrigações. Entretanto, eles não participam do processo de formação de normas jurídicas internacionais, isto é, não podem celebrar tratados. O reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos representa um grande avanço do direito internacional público, tendo sido alcançado em razão do desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos.6 Com efeito, os indivíduos podem figurar no plano passivo ou no plano ativo do direito internacional. No que diz respeito ao plano passivo, é possível, atualmente, que um indivíduo (pessoa natural) seja julgado e responsabilizado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em razão de haver cometido um crime de alta gravidade.7 A título de exemplo, o ex- ditador da Líbia, Muammar Khadafi, em razão das violações aos direitos humanos por ele perpetradas, deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 5 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 6 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 7 Segundo o Estatuto de Roma, que criou o TPI, a jurisdição dessa Corte internacional abrange os crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio, crime de agressão. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!7!()!23 Já no que diz respeito ao plano ativo, admite-se, em certos casos, que um indivíduo peticione perante Cortes internacionais. Um indivíduo ou um grupo de indivíduos pode, por exemplo, peticionar diretamente à Corte Europeia de Direitos Humanos. As empresas, por sua vez, também podem ter acesso a mecanismos de solução de controvérsias. O sistema de solução de controvérsias do MERCOSUL, por exemplo, reconhece o direito de petição a particulares. Destacamos, todavia, que o acesso a mecanismos de solução de controvérsias pelos “sujeitos fragmentários” é limitado. Algumas Cortes Internacionais somente reconhecem capacidade postulatória aos Estados soberanos, como é o caso da Corte Internacional de Justiça (CIJ). 8 Cabe destacar também que atuam na sociedade internacional as chamadas coletividades não-estatais. São elas os beligerantes, os insurgentes e os movimentos de libertação nacional (nações em luta pela soberania). 9 Os beligerantes são movimentos armados que instauram no interior de um Estado uma guerra civil com o objetivo de mudar o sistema político em vigor. Para que uma coletividade seja considerada beligerante, faz-se mister uma declaração pelos outros entes estatais, em conjunto ou separadamente. O reconhecimento da beligerância permite que essa coletividade adquira, dentre outros direitos, a capacidade para celebrar tratados. Os insurgentes, por sua vez, também são movimentos armados ocorridos no interior de um Estado com o objetivo de derrubar o sistema político vigente. Entretanto, a insurgência não assume proporções tão graves quanto a beligerância e não chega a ocorrer uma guerra civil. Também é necessário, para que uma coletividade seja considerada como insurgente, um ato declaratório de reconhecimento. A capacidade para celebrar tratados poderá ser conferida aos insurgentes, o que irá depender do ato de reconhecimento da insurgência. Por fim, os movimentos de libertação nacional são movimentos que, em razão de sua magnitude, passam a ser amplamente reconhecidos no cenário internacional. É o caso, por exemplo, da Autoridade Palestina, que tem celebrado inúmeros tratados com diferentes países. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 8 Na aula sobre Organizações Internacionais, nós trataremos de forma bem detalhada sobre a Corte Internacional de Justiça (CIJ). 9 Portela considera que as coletividades não-estatais são apenas atores internacionais. Já Mazzuoli reconhece a personalidade internacional dos beligerantes, insurgentes e movimentos de libertação nacional. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!8!()!23 Pessoal, consideramos fundamental que você conheça todo esse debate doutrinário, já que, pela sua relevância, ele pode vir a ser cobrado em prova! Algumas possíveis assertivas seriam as seguintes: 1) “A doutrina vem reconhecendo a personalidade jurídica de direito internacional dos indivíduos.” Correto. 2) “Segundo a doutrina tradicional, somente possuem personalidade jurídica de direito internacional os Estados, as organizações internacionais e a Santa Sé.” Correto. 3) “O tema da personalidade internacional é objeto de polêmica doutrinária, havendo correntes distintas sobre o assunto.” Correto 4) “Embora sejam considerados sujeitos de direito internacional, os indivíduos possuem atuação limitada no plano internacional”. Correto 5) “Os indivíduos e as empresas possuem acesso direto a alguns mecanismos de soluções de controvérsias”. Correto. Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 1. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados – 2014) Empresas multinacionais não dispõem de personalidade jurídica internacional, mesmo que elas sejam empresas públicas transnacionais contraentes de obrigações com Estados soberanos. Comentários: As empresas multinacionais não possuem personalidade jurídica de direito internacional. Questão correta. 2. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados – 2014) Somente Estados soberanos, entes assemelhados e organizações não governamentais internacionais são sujeitos de direito internacional. Comentários: O enunciado foi bastante restritivo, deixando de reconhecer a personalidade internacional às organizações internacionais e aos indivíduos. As ONG`s, por sua vez, são apenas atores internacionais. Questão errada. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!2!()!23 3. (Instituto Rio Branco – 2011) Com características políticas e jurídicas de ONG e desprovido de atributos de personalidade jurídica internacional, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha é sujeito apenas aparente de direito internacional público. Comentários: A doutrina atribui personalidade internacional ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, apesar de tratar-se de uma ONG. Questão errada. 4. (Instituto Rio Branco – 2011) - As ONGs que obtiveram reconhecimento da opinião pública mundial após a Segunda Guerra Mundial adquiriram personalidade jurídica de direito internacional público. Comentários: Segundo a doutrina dominante, as ONG’s são apenas atores internacionais, não possuindo personalidade jurídica de direito internacional. Questão errada. 5. (Instituto Rio Branco- 2010)- O MERCOSUL é uma organização dotada de personalidade jurídica de direito internacional. Comentários: O MERCOSUL é uma organização internacional e, portanto, possui personalidade jurídica de direito internacional público, a qual está expressamente prevista no Protocolo de Ouro Preto. Questão correta. 6. (Juiz Federal 1ª Região/2006) São sujeitos de direito internacional público, também chamados de pessoas jurídicas de direito internacional público, os Estados soberanos, a Santa Sé e as organizações internacionais. Comentários: De fato, são sujeitos de DIP os Estados soberanos, a Santa Sé e as organizações internacionais. Questão correta. 7. (OAB 2006.2) A expressão “coletividades não estatais” abrange as mais diferentes pessoas internacionais, como os revoltosos em uma guerra interna. Comentários: 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!3!()!23 A expressão “coletividades não-estatais” abrange os insurgentes, os beligerantes (revoltosos em guerra interna) e as nações em luta pela soberania. Questão correta. 8. (Consultor Legislativo/ Câmara dos Deputados- 2002)- Tendo em vista as atividades que realizam, concernentes a ações de solidariedade internacional, as organizações não-governamentais (ONGs) passaram a ser admitidas como sujeitos do direito internacional público. Comentários: A doutrina dominante considera que as organizações não- governamentais são apenas atores internacionais, não possuindo personalidade jurídica de direito internacional. Questão errada. 9. (Procurador BACEN-2001)- Paul Reuter define tratado internacional como sendo “uma manifestação de vontades concordantes, atribuídas a dois ou mais sujeitos de direito internacional, e destinada a produzir efeitos jurídicos em conformidade com as normas de direito internacional”. Assinale a opção em que figurem, tão só, exemplos de sujeitos de direito internacional. a) Estados, Santa Sé ou Estado do Vaticano, organizações não-governamentais (ONGs) e indivíduos. b) Estados, organizações internacionais e empresas multinacionais. c) Estados, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e Santa Sé ou Estado do Vaticano. d) Estados, Organização das Nações Unidas (ONU) e ONGs. e) Indivíduos, ONGs, organizações internacionais e Santa Sé ou Estado do Vaticano. Comentários: Quando temos uma questão de marcar pela frente, fica fácil verificarmos qual o posicionamento da banca examinadora, não é mesmo? Nessa questão, a banca adotou o posicionamento tradicional. A resposta, portanto, é a letra C. São sujeitos de DIP os Estados, as organizações internacionais (dentre as quais o MERCOSUL) e a Santa Sé ou Estado do Vaticano. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!9!()!23 2- Personalidade Internacional dos Estados x Personalidade Internacional das Organizações Internacionais: Há uma notória diferença entre a personalidade jurídica de direito internacional do Estado e a personalidade jurídica de direito internacional das organizações internacionais. Segundo Rezek10, o Estado constitui uma realidade física, já que possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento para sua existência fática. Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento). Até a Primeira Guerra Mundial, considerava-se que os Estados eram os únicos sujeitos de direito internacional. No entanto, o processo de evolução da sociedade internacional deu origem a um novo sujeito de direito internacional: as organizações internacionais. As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949. Nesse ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer consultivo quanto à possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte (representante da ONU no Oriente Médio). Entendeu a Corte Internacional de Justiça (CIJ) que a ONU possuía personalidade jurídica internacional e, portanto, teria legitimidade para reivindicar a reparação de danos. Por reconhecer a personalidade jurídica de direito internacional das organizações internacionais, esse Parecer Consultivo pode ser considerado um marco no âmbito do direito das gentes. As organizações internacionais possuem personalidade jurídica derivada, sendo apenas uma criação jurídica. Elas não são dotadas do elemento territorial, isto é carecem do elemento físico. Sua existência tem fundamento de validade no tratado constitutivo e, portanto, elas somente existem após a entrada em vigor deste. Dizemos que a personalidade das organizações internacionais é derivada porque estas não existiriam caso não houvesse vontade dos Estados em criá-las. Portela lembra que a soberania é atributo exclusivo dos Estados e que não é porque os entes estatais estabeleceram organizações internacionais que estas serão entidades dotadas de soberania. 11 Tecidas estas considerações gerais, vejamos como esse assunto já foi cobrado em prova! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 10 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 11 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009. ! 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!1:!()!23 Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 10. (Juiz Federal 1ª Região/2006)- A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-se derivada, enquanto a das organizações internacionais, diz-se originária. Comentários: A personalidade jurídica dos Estados é originária, enquanto a personalidade jurídica das organizações internacionais é derivada. Questão errada. 11. (Consultor Legislativo/ Câmara dos Deputados- 2002)- A personalidade jurídica dos Estados é derivada, e a das organizações internacionais, originária. Comentários: Exatamente igual à questão anterior. Veja como é recorrente esse enunciado. Questão errada. 3- Estados Soberanos: 3.1- Generalidades: O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o único que possui plena capacidade jurídica no plano internacional. O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado por Estados para serem criadas. Os indivíduos, por sua vez, possuem um vínculo político-jurídico com um Estado conhecido como nacionalidade. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!11!()!23 Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do Estado são o território, o povo e o governo soberano.12 Todavia, há autores que pregam a existência de um quarto elemento constitutivo: a finalidade. 13 Há ainda o conceito de Estado para a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados14 (1933), que estabelece 4 (quatro) elementos constitutivos: população permanente, território determinado, governo e capacidade de entrar em relação com outros Estados. Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 12. (AGU-2007)- O Estado do Rio Grande do Sul, almejando ser reconhecido internacionalmente como um Estado soberano, pleiteou uma cadeira na Organização das Nações Unidas (ONU), alegando que possui um território, uma população e um governo permanente. Nessa situação, os requisitos apresentados não são suficientes para que o Rio Grande do Sul seja aceito na Assembléia Geral da ONU. Comentários: De fato, os requisitos apresentados não são suficientes, uma vez que o Rio Grande do Sul carece de soberania. Não basta que haja um governo permanente; ele precisa também ser soberano. Questão correta. a) Território: O território é a dimensão física sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição geral e exclusiva, ou seja, a dimensão material onde ele exerce seus poderes. Geral porque, no âmbito do seu território, o Estado exerce todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. Exclusiva, porque tais competências são exercidas sem qualquer concorrência por parte de outro poder. A jurisdição do Estado sobre seu território não é, todavia, absoluta, uma vez que há pessoas e bens que não se submetem ao !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 12 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 13 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 14 A Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados de 1933 é também conhecida por Convenção de Montevidéu. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!14!()!23 poder estatal, como, por exemplo, os diplomatas, as missões diplomáticas e organismos internacionais. Apesar de possuir jurisdição unicamente sobre seu território, há situações em que se verifica a atuação extraterritorial do Estado, como, por exemplo, quando julga seus nacionais por ato praticado no exterior ou quando exerce jurisdição sobre missões diplomáticas e consulares.15 Em doutrina, é comum considerar-se que as embaixadas (missões diplomáticas) e os navios e aeronaves de guerra são uma extensão do território estatal. Entretanto, a Corte Internacional de Justiça já se pronunciou em sentido contrário diante de um caso concreto. A determinação do território estatal é feita por demarcação ou delimitação. A delimitação (estabelecimento de limites) pode ser feita por meio de tratados ou costumes. A demarcação, por sua vez, é a implantação de marcos físicos sobre o território, como, por exemplo, o Muro de Berlim, que dividia Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental. Até os dias de hoje, as questões fronteiriças são objeto de conflitos internacionais, como os existentes entre Índia e Paquistão e Israel e Palestina. Historicamente, a definição de limites territoriais tem se guiado pelo princípio do “uti possidetis”, segundo o qual o domínio sobre um determinado território é daqueles que efetivamente o estiverem ocupando. Segundo Varella16, “a necessidade do domínio efetivo tornou-se um costume internacional amplamente aceito e é hoje considerado condição para o reconhecimento da incorporação do território ao domínio do Estado.”. A consolidação do princípio do “uti possidetis” como regra consuetudinária de direito internacional público decorre de uma série de decisões da Corte Internacional de Justiça (CIJ) Vale destacar que não importa qual o tamanho do território do Estado. Todos os Estados, independentemente de sua base física, são tratados de maneira isonômica pelo direito internacional. Há Estados com grande base territorial (Rússia, Brasil e EUA) e Estados com território bem pequeno, como os chamados micro-estados (Mônaco, Andorra, San Marino). Apesar de possuírem tamanhos variados, todos são dotados de personalidade jurídica de direito internacional, prevalecendo o princípio da igualdade soberana entre eles. Em algumas situações, os Estados aceitam, de forma expressa ou tácita, restrições ao exercício da soberania em seu território. São as chamadas servidões, que poderão ser permissivas – permissão de utilização do território por outro Estado – ou restritivas – compromisso de não exercer a competência plena sobre seu território. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 15 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 16 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!15!()!23 Para exemplificar as servidões permissivas, também chamadas de positivas, citamos como exemplo um Estado X que autoriza a instalação de uma base militar do Estado Y em seu território. Nessa situação, percebe-se que o Estado Y exerce certo poder sobre uma parcela do território do Estado X. Já para ilustrar as servidões restritivas, também chamadas de negativas, citamos como exemplo se o Estado X declarar que não estabelecerá bases militares na fronteira com o Estado Y. Nessa situação, o Estado X deixa de exercer sua soberania em uma parcela de seu território. Segundo Accioly17, “as servidões extinguem-se por acordo entre os Estados interessados, pela fusão destes, pela renúncia expressa ou tácita do Estado ou dos Estados a que aproveitam ou por qualquer outro meio de resolução de tratados.” Exemplificando tais hipóteses: 1)- O Estado X diz para o Estado Y: “Ô, meu amigo, eu tinha deixado você instalar uma base militar no meu território, mas agora não quero mais, ok?” (acordo) 2)- O Estado X se une ao Estado Z para formar o Estado W. Nesse caso, o Estado W não é obrigado a permitir a instalação da base do Estado Y em seu território. (fusão) 3)- O Estado Y diz para o Estado X: “Ô, meu amigo, eu tinha instalado uma base militar em seu território, mas agora não quero mais essa concessão e já estou retirando minhas tropas!” (renúncia) Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 13. (Juiz Federal 1ª Região/2006)- O Estado exerce jurisdição sobre o seu território, muito embora sempre relativa, o que vale dizer que detém uma série de competências para atuar com autoridade. Comentários: De fato, a jurisdição do Estado sobre seu território é relativa. No entanto, o motivo de considerar-se que a jurisdição do Estado é relativa não é o fato deste possuir competências para atuar com autoridade. A jurisdição !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 17 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 ! 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!16!()!23 estatal é relativa, mas em virtude de não alcançar algumas pessoas, bens e locais. Questão errada. 14. (OAB 2006.2)- As servidões – que são restrições por meio das quais um Estado estrangeiro exerce uma competência no território de outro Estado ou um Estado se compromete em favor de outro a não exercer sua competência plena em seu território – têm base convencional e se extinguem com a sucessão de Estados. Comentários: As servidões nem sempre têm base convencional, podendo ser aceitas por um Estado de forma tácita. Questão errada. b) Povo: O povo é a dimensão pessoal do Estado, não se confundindo com a sua população. Enquanto esta é formada pelo conjunto de pessoas que vivem com ânimo definitivo no seu território, incluindo nacionais e estrangeiros, a dimensão pessoal do Estado (povo) compreende a comunidade nacional, ou seja, o conjunto de seus nacionais. Na dimensão pessoal do Estado estão incluídos, inclusive, os nacionais que tenham se estabelecido no exterior. Segundo Rezek18, o Estado exerce inúmeras competências inerentes à sua jurisdição territorial sobre os estrangeiros residentes. Já em relação aos seus nacionais, o Estado exerce jurisdição pessoal, em virtude do vínculo jurídico-político que une o indivíduo ao Estado: a nacionalidade. c) Governo soberano: O governo é a dimensão política do Estado e é quem exerce o poder soberano estatal. A Paz de Westfália (1648), conforme já afirmamos anteriormente, é considerada um importante marco do direito internacional. E o é justamente porque os tratados celebrados naquela ocasião reconheceram pela primeira vez o poder soberano dos Estados sobre seus territórios, excluindo qualquer ingerência externa. A soberania é, portanto, atributo essencial do Estado, garantindo que sua vontade não se subordine a qualquer outro poder nos planos interno e internacional. Com efeito, na ordem jurídica internacional não existe um poder superior ao dos Estados, o que torna a sociedade internacional !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 18 !REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008! 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!17!()!23 descentralizada. Os Estados são independentes para definir sua política interna, bem como suas ações no plano internacional. A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade entre os Estados, o qual está insculpido na Carta das Nações Unidas. Nas palavras de Portela19, o poder soberano representa uma “supremacia sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado território”. Todavia, percebe-se, na atualidade, uma flexibilização do conceito de soberania. Não cabe mais falar em poder ilimitado do Estado, uma vez que a ordem jurídica interna e mesmo a ordem jurídica internacional impõem restrições à ação estatal. O direito internacional humanitário é, atualmente, um campo em que se pode perceber uma destacada interferência internacional nas questões internas. A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país. 3.2- Classificação dos Estados: Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser subdivididos em compostos por coordenação e compostos por subordinação. Vejamos o que significa cada um desses conceitos! Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões internas. Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França. Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia. Nesse caso, trata-se de um Estado simples descentralizado. Ressaltamos que, quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as funções de índole administrativa, tratar-se-á de um Estado simples centralizado. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 19 !PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!18!()!23 Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados compostos por coordenação e Estados compostos por subordinação. Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano. Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida somente pelo órgão central, sendo que cada um dos Estados conserva a autonomia em suas questões internas. Um exemplo bem claro de Estado composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos da União. Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente detentores de sua soberania. A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política no plano internacional. As unidades estatais autônomas em uma federação não possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não possuem soberania. Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União Federal). No Brasil, compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais. Apesar disso, admite-se que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizem operações externas de natureza financeira como, por exemplo, a aquisição de empréstimos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). Entretanto, tais operações possuem natureza contratual (e não convencional) e são condicionadas à atuação da União, pois faz-se necessário a participação do Brasil na entidade e, ainda, a conclusão de um acordo de garantia. A realização desse tipo de operação externa de natureza financeira está, ainda, sujeita à autorização do Senado Federal, conforme art. 52, inciso V, da CF/88. Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje em dia. Trata-se dos Estados vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!12!()!23 Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão “composto por subordinação”. Nesse tipo de Estado, existe de um lado um ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende. No século XX, com vistas a regularizar a situação das colônias, a Liga das Nações e a ONU estabeleceram a administração destas sob a forma de mandato e de tutela, respectivamente. As colônias eram territórios que passaram então a estar submetidos à administração de uma determinada soberania. Certas potências receberam o encargo de administrar estes territórios, promovendo-lhes o desenvolvimento até o momento em que reunissem condições de acesso à independência plena. O objetivo era descolonizá-los, momento em que passariam a gozar de plena soberania e, portanto, iriam adquirir personalidade jurídica de direito internacional. Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são chamados de micro-Estados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2). Segundo Rezek20, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados. Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências desses micro-estados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado vizinho, como a França, no caso de Mônaco. 3.3- Nascimento dos Estados: Segundo Accioly21, o problema da formação dos estados é igualmente do domínio da história, da política e da sociologia, como do direito internacional. Uma importante questão é, portanto, saber como surgem os Estados. O modo de formação mais simples de um Estado ocorre através do estabelecimento permanente de certa população num território determinado. Isso ocorreria quando um território está desocupado (res nullius) e uma população o ocupa. Ou ainda, quando um território foi abandonado por antigos habitantes (res derelicta) e é ocupado por uma população. Durante a Antiguidade e a Idade Média, a ocupação de territórios desabitados foi uma forma bastante comum de aparecimento de um novo ente estatal e de aquisição de território por Estado já existente. Como exemplo, citamos a aquisição de terras na América por Portugal e Espanha. Atualmente, como não mais existem territórios desabitados, essa forma de surgimento de Estado caiu em desuso. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 20 !REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008! 21 ! ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009! 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!13!()!23 Outra possibilidade de surgimento de Estados, bastante comum no passado, era por meio da guerra de conquista. Todavia, a conquista de um território pelas armas não é mais considerada legítima perante o direito internacional. Assim, essa forma de surgimento de Estados também caiu em desuso. Historicamente, observa-se alguns fenômenos pontuais quanto à expansão de domínio territorial, o que já ocorreu por meio de cessão onerosa (EUA comprou o Alasca da Rússia) ou mesmo através de decisão de uma organização internacional (o Estado de Israel foi criado por decisão da ONU). A Corte Internacional de Justiça (CIJ) já foi levada a se manifestar por diversas vezes no que diz respeito a limites territoriais. Em suas decisões, a CIJ tem reiteradamente reconhecido o princípio do “uti possidetis juris”. Conforme afirma Rezek22, a CIJ não atribui território, limitando-se a dizer, à luz do direito, a quem pertence determinada área. Atualmente, o que é mais comum é a formação de um Estado a partir de três situações diferentes: a)- Quando um Estado surge ao se separar de um outro Estado do qual fazia parte (emancipação). O Brasil, por exemplo, era colônia de Portugal, tendo separado sua população e território deste com a independência conquistada em 1822. Os Estados Unidos e os países latino-americanos também surgiram desta forma, na maioria das vezes após guerras de libertação. No início de 2011, um referendo ocorrido no Sudão determinou o surgimento de um novo Estado: o Sudão do Sul. b)- Quando um Estado é dissolvido totalmente. Como exemplo, citamos o Império Austro-Húngaro, que após a Primeira Guerra Mundial foi dissolvido, dando origem à Áustria, Hungria e Tchecoslováquia. A dissolução da União Soviética também resultou na criação de vários Estados, tais como a Federação Russa, a Ucrânia, a Geórgia e a Bielo-Rússia. c)-Quando dois ou mais Estados se fundem para formar um novo (fusão). Esse modo de formação ocorre quando um estado-núcleo absorve outras entidades, passando a formar um novo estado. Essa fusão poderá ocorrer pacificamente ou por meio de conquistas. Um exemplo seria a Itália, que surgiu da fusão de Modena, Parma, Toscana e Reino de Nápoles ao Reino da Sardenha e Piemonte. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 22 !REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!19!()!23 3.4- Extinção e Sucessão de Estados: Segundo Valério Mazzuoli23, a extinção dos Estados pode ser total ou parcial. A extinção total seria aquela em que o Estado perde um de seus elementos constitutivos essenciais, o que coloca um fim em sua personalidade jurídica de direito internacional. A extinção parcial, por sua vez, ocorre quando o Estado perde parcela de sua soberania, tornando-se semi-soberano. Parte da doutrina entende, todavia, que não há que se falar em extinção parcial, mas tão somente em extinção total. As principais formas de extinção de um Estado são a anexação total ou parcial, a fusão e o desmembramento. Com o desaparecimento do ente estatal, surge a necessidade de definir o que ocorre em relação aos seus bens e obrigações, assim como no que diz respeito aos compromissos que tenha assumido internacionalmente. Trata-se do problema da sucessão de Estados, que é regulado por normas consuetudinárias e convencionais. A sucessão em matéria de tratados é regulada pela Convenção das Nações Unidas sobre a Sucessão de Estados em matéria de Tratados de 1978, que ainda não está em vigor para o Brasil. Essa convenção estabelece, como regra geral, que a sucessão é regulada pelo texto do próprio tratado, dependendo, ainda, da forma pela qual se extinguiu o Estado. Vejamos algumas situações hipotéticas: 1)- O Estado X e o Estado Y se unem para formar o Estado Z (fusão de Estados). Nessa situação, o que ocorre com as obrigações assumidas pelos Estados X e pelo Estado Y (tratados bilaterais e multilaterais)? Salvo disposição contrária, todos os tratados multilaterais de que o Estado X e o Estado Y faziam parte passam a obrigar também o Estado Z. Já em relação aos tratados bilaterais, estes poderão continuar a existir, a depender do interesse dos outros Estados que deles eram partes contratantes. 2)- O Estado X deixa de existir, dando origem aos Estados Y e Z (desintegração). Mais uma vez perguntamos: e agora, o que ocorrerá com as obrigações assumidas pelo Estado X? Nessa situação, os Estados sucessores Y e Z não serão obrigados a cumprir os tratados multilaterais de que X era parte. Todavia, existe a possibilidade de que eles se obriguem a eles por meio de adesão feita por “notificação de sucessão”. Em relação aos tratados bilaterais, somente será possível a sucessão caso a outra parte se manifeste favoravelmente à intenção do sucessor. 3)- O Estado X continua existindo, mas surge o Estado Y a partir do desmembramento de parte do território do Estado X (secessão). Nesse caso, o Estado Y não sucederá o Estado X nos tratados !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 23 !MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!4:!()!23 bilaterais, salvo se houver interesse das partes. Já nos tratados multilaterais, a sucessão fica na dependência de aprovação de “notificação de sucessão” feita pelo Estado Y. Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 15. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- O Estado J perdeu, por secessão, parte de seu território, surgindo um novo Estado, K. Nessa situação, o Estado K não sucede o Estado J nos acordos bilaterais firmados por este e deve enviar uma notificação de sucessão para aderir aos tratados coletivos, observados, neste último caso, os limites impostos para o ingresso de novos Estados-partes. Comentários: Nesse caso, o Estado K não sucede o Estado J nos acordos bilaterais, a menos que haja interesse entre as partes. Já nos acordos multilaterais, o Estado K deverá emitir uma notificação de sucessão, a ser aprovada pelos demais contratantes. Questão correta. 16. (OAB 2006.2)- No caso de sucessão de Estados, a convenção da ONU que trata da sucessão em matéria de tratados tem por princípio básico que os tratados são transmissíveis obrigatoriamente. Comentários: A regra geral prevista na convenção da ONU que trata do assunto é que a sucessão é regulada pelo texto do próprio tratado. Questão errada. 3.5- Direitos dos Estados: Quando um Estado nasce e ingressa no plano internacional, ele passa a gozar dos direitos reconhecidos pelo direito internacional, bem como se obriga aos deveres por este impostos. Segundo a moderna doutrina do direito internacional, em respeito ao princípio da isonomia, não há que se discutir a igualdade jurídica entre os Estados, de forma que os direitos de que podem gozar os Estados mais poderosos, também o poderão os mais fracos. Os principais direitos fundamentais são os enumerados a seguir: 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!41!()!23 - Direito à liberdade: O direito à liberdade confunde-se com o conceito de soberania, que hoje é entendida como uma noção relativa. Os Estados têm soberania em seus assuntos internos (soberania interna) e no plano internacional (soberania externa). Ser soberano no plano interno significa ter liberdade de organização política (escolha da melhor forma de governo), formular suas próprias leis, aplicar a justiça às pessoas e coisas que se encontram em seu território e ainda ter o domínio sobre este. Por sua vez, a soberania no plano internacional significa a capacidade que tem um Estado de celebrar acordos internacionais, de declarar guerra e paz e de estabelecer relações diplomáticas. O Estado possui, portanto, capacidade de autodeterminação, isto é, capacidade de definir seu próprio destino de maneira livre. Ele não reconhece nenhuma vontade acima de si próprio. Entretanto, não cabe mais afirmar que a soberania é absoluta, uma vez que a sociedade internacional é regida por normas jurídicas às quais o Estado deve se submeter. - Direito à igualdade: Todos os Estados são iguais perante o direito internacional, sendo isso declarado em diversas normas de direito positivo, como por exemplo a Carta da ONU, que estabelece em seu preâmbulo que a referida Organização “é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros”. As principais conseqüências da igualdade jurídica entre os Estados são: 1)- Todos os Estados terão direito de voto em questões decididas em âmbito internacional e cada voto terá o mesmo peso. Perceba-se que tal preceito não se aplica às decisões tomadas pelo Conselho de Segurança da ONU, órgão no qual os membros permanentes possui poder de veto. 24 2)- Nenhum Estado pode reclamar jurisdição sobre outro, ou seja, existem certos assuntos que são da esfera de atuação exclusiva de um Estado, não tendo os outros qualquer ingerência sobre estes. - Direito ao respeito mútuo: O direito ao respeito mútuo consiste no direito de um Estado de ser tratado com consideração pelos demais Estados e de exigir que seus direitos sejam respeitados. Com base nesse princípio, um Estado não deve atentar contra a integridade territorial de outro, nem violar suas fronteiras. - Direito de defesa e conservação: Segundo Accioly, o direito de defesa e conservação abrange todos os atos necessários à defesa do estado contra os inimigos internos ou externos, tais como a adoção de leis penais, a organização de tribunais repressivos, a prática de medidas de ordem policial, a expulsão de estrangeiros nocivos à ordem ou à segurança !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 24 Na aula sobre Organizações Internacionais, estudaremos mais detalhadamente sobre o Conselho de Segurança da ONU. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!44!()!23 públicas, a proibição da entrada de indesejáveis, a celebração de alianças defensivas e a organização da defesa nacional. O direito à defesa e à conservação não é, no entanto, absoluto, mas limitado pelo direito à existência e à conservação dos outros Estados. O uso unilateral da força, mesmo em casos de legítima defesa, tem limites estritamente estipulados pelo direito internacional. Dessa forma, a legítima defesa somente existe em face de uma agressão injusta e atual contra a qual o emprego da violência é o único recurso possível. - Direito internacional do desenvolvimento: A igualdade jurídica entre os Estados contrastava, e muito, com a realidade do desenvolvimento desigual entre estes. Percebendo que a apregoada igualdade jurídica levava à criação de cada vez maior desigualdade econômica, o direito internacional passou a levar em consideração o direito do desenvolvimento. Isso representa uma tentativa de reduzir o desequilíbrio entre os países mais desenvolvidos e os países em desenvolvimento. É possível perceber na ordem jurídica internacional diversos dispositivos cujo objetivo é promover a inserção equitativa dos países em desenvolvimento na economia internacional. A título de exemplo, citamos os acordos internacionais firmados no âmbito da OMC, que prevêem um tratamento especial e diferenciado a favor dos países em desenvolvimento. Citamos também a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), organização internacional criada para “olhar o lado” das economias menos favorecidas. - Direito de jurisdição: Todo Estado tem o direito de exercer sua jurisdição no seu território e sobre sua população. O Estado exerce no seu domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional (F. Rezek). Portanto, ele exerce a generalidade da jurisdição. 3.6- Deveres dos Estados: A grande ênfase da doutrina é colocada nos direitos internacionais dos Estados, mas seria mais coerente com o fundamento do direito internacional se o foco fosse nos deveres. O dever fundamental dos Estados, em respeito à autodeterminação dos povos é o da não-intervenção. Accioly25 conceitua intervenção da seguinte forma: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 25 ! ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!45!()!23 “Intervenção em direito internacional é a ingerência de um Estado nos negócios peculiares, internos ou externos, de outro Estado soberano com o fim de impor a este a sua vontade.” Podemos enumerar três características de uma intervenção: a) Imposição da vontade exclusiva do Estado que a pratica b) Existência de dois ou mais Estados soberanos c) Ato abusivo, isto é, não baseado em compromisso internacional. Embora o dever por excelência dos Estados seja o de não- intervenção, ao longo do tempo, várias foram as intervenções ocorridas com a invocação de diferentes motivos, sejam eles humanitários, para proteção de nacionais ou como forma de sanção. Vejamos algumas formas de intervenção julgadas legítimas pelo direito internacional: - Intervenção em nome do direito de defesa e de conservação: Todo Estado tem o direito de adotar medidas visando à sua defesa e conservação. No entanto, essas medidas são limitadas pelo direito internacional e pela Carta da ONU, que regula os limites da legítima defesa. - Intervenção para a proteção dos direitos humanos: A Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao reconhecerem internacionalmente os direitos humanos, deram-lhes uma grande importância no plano internacional. Tal importância a que foram alçados, que aumenta gradativamente com o passar dos tempos, tem levado alguns governos a julgar que seu desconhecimento é motivo para uma intervenção. - Intervenção para a proteção de interesses de nacionais: A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 estabelece que todo Estado tem o direito de proteger os seus nacionais no exterior. A proteção desses nacionais no exterior deve ser realizada eminentemente por meio de missões diplomáticas. O que ocorre, no entanto, é que a proteção diplomática vem acompanhada muitas vezes de outros meios de pressão, tais como a adoção de restrições econômico-financeiras ou mesmo envio de tropas armadas. Ainda sobre a não-intervenção, é importante destacarmos a existência de duas doutrinas: 1)- Doutrina Monroe: Em 1823, o Presidente dos Estados Unidos James Monroe enumerou uma série de princípios destinados a dirigir a política exterior do país, dentre os quais destacam-se: 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!46!()!23 - O continente americano não pode se sujeitar, no futuro, à ocupação por nenhuma potência europeia. - É inadmissível a intervenção de potência europeia nas questões internas ou externas de qualquer país americano. - Os Estados Unidos não intervirão nas questões pertinentes a qualquer país europeu. A Doutrina Monroe, como se vê, foi a criadora, entre os países da América Latina, da ideia do princípio da não-intervenção. Posteriormente, com o fortalecimento dos Estados Unidos, a doutrina Monroe foi perdendo a razão de ser para este país e os Estados Unidos passaram a ter um novo ponto de vista sobre a questão da não-intervenção. Como forma de justificar a intervenção por ele realizada nos países da América Latina, apoiava-se na ideia de que tinham o direito de intervir nos países latino-americanos a fim de evitar que qualquer potência estrangeira o fizesse. 2)- Doutrina Drago: A Venezuela teve seus portos bombardeados em 1902 por potências europeias com o objetivo de que este país pagasse as dívidas que havia contraído. Essa atitude causou profunda indignação nos países latino-americanos, o que motivou o Ministro das Relações Exteriores da Argentina a pronunciar-se, criando a ideia que passou a ser conhecida por Doutrina Drago. Segundo Drago, “a dívida pública não pode motivar a intervenção armada e, ainda menos, a ocupação material do solo das nações americanas por uma potência europeia.” Por fim, destacamos que dentre os princípios proclamados pela Carta das Nações Unidas encontra-se o seguinte, relacionado com a não- intervenção: “Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer estado ou outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas.” Não se considera haver intervenção quando uma ação coletiva decorre de compromisso assumido formalmente em tratado multilateral, como por exemplo a Carta da UNU, que confere ao Conselho de Segurança poderes para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Vejamos algumas questões de provas anteriores! Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!47!()!23 17. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados-2002) A não ser em situações especiais, como o desrespeito às normas de comércio internacional, os Estados têm o dever de não intervir nos assuntos internos de outros Estados. Comentários: Segundo a doutrina, o desrespeito às normas de comércio internacional não enseja intervenção. Questão errada. 3.7- Reconhecimento de Estado X Reconhecimento de Governo: 3.7.1- Reconhecimento de Estado: Uma vez que tenham sido reunidos os elementos que constituem o Estado (território, população e governo soberano), o governo da nova entidade buscará o seu reconhecimento pela comunidade internacional. Tal reconhecimento nem sempre é algo simples e pode demorar anos e anos para ser conquistado. Citamos o exemplo do Brasil, que teve sua independência proclamada em 1822, mas só obteve reconhecimento de Portugal em 1825. Segundo Mazzuoli26, o reconhecimento de um Estado é um direito que este possui e, ao mesmo tempo, um dever dos outros componentes da sociedade internacional. Nesse sentido, só caberia o não-reconhecimento quando um Estado tiver sido criado em desacordo com o direito internacional. Opondo-se a essa tese, Portela27 considera que o reconhecimento é ato discricionário do Estado. Essa última posição é a que consideramos mais segura para a prova, embora seja importante conhecer o debate doutrinário em torno dessas duas visões. “Mas Ricardo, o que significa reconhecer um Estado?” O reconhecimento significa a decisão do governo de um Estado já existente de aceitar outra entidade como equivalente a si próprio. É um ato jurídico unilateral, de natureza política, nem sempre explícito, por meio do qual um Estado demonstra que acredita estar presente em uma entidade a !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 26 !MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 27 !PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!48!()!23 personalidade jurídica de direito internacional idêntica à que possui. O art. 14 da Carta da OEA referenda esse entendimento, dispondo que “O reconhecimento significa que o Estado que o outorga aceita a personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro, determina o direito internacional.” Segundo a doutrina dominante, o ato de reconhecimento do Estado tem natureza meramente declaratória e não constitutiva. “E o que quer dizer essa natureza declaratória, Ricardo?” A natureza declaratória quer dizer, meus amigos, que o organismo que reúna todos os elementos constitutivos do Estado tem o direito de ser assim considerado e não deixa de possuir a qualidade de Estado pelo fato de assim não ser reconhecido. Ou seja, a existência do Estado precede o seu reconhecimento. Esse também é o entendimento do art.13 da Carta da OEA, que afirma que: “A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento pelos outros Estados.” Apesar desse entendimento, existem autores, como Marcelo Dias Varella28, que afirmam que o reconhecimento do Estado tem natureza constitutiva. Segundo essa visão, o reconhecimento funcionaria como uma forma de controle dos Estados mais poderosos sobre o surgimento de outros entes estatais. O reconhecimento do Estado pode ocorrer de formas bem diversificadas, não havendo uma regra que determine como este deve ser feito. Assim, poderá haver o reconhecimento expresso ou o reconhecimento tácito. Ou ainda, poderá haver o reconhecimento mútuo ou por meio de um tratado bilateral em que dois Estados pactuantes reconhecem a existência de um terceiro. O reconhecimento de um Estado pode ser coletivo ou individual. Será ele individual quando o ato de reconhecimento for emanado de um Estado isoladamente. Por sua vez, será coletivo quando o reconhecimento for concedido em um mesmo ato por dois ou mais Estados. O ato de reconhecimento de um Estado opera efeitos retroativos (ex tunc). Assim, ao reconhecer a existência de um Estado, o outro Estado reconhece como válidos todos os atos dele emanados desde o momento em que presentes todos os elementos constitutivos próprios da entidade estatal. Outra característica do ato de reconhecimento de Estado é que ele possui natureza irrevogável. Assim, se um Estado X manifestou seu reconhecimento em relação a um Estado Y, não dá pra voltar atrás, ainda que tenha havido a ruptura das relações diplomáticas entre eles. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 28 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!42!()!23 “Tudo bem Ricardo, eu entendi até agora! Mas o que implica o reconhecimento do Estado?” Excelente pergunta! Se o Estado não obtém o reconhecimento pela sociedade internacional, sua participação na ordem jurídica global fica limitada. Com efeito, ele não poderá exercer algumas das prerrogativas tipicamente estatais, como celebrar tratados, manter relações diplomáticas e fazer parte de organizações internacionais. O reconhecimento implica que o Estado que o outorga aceita a personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro, determina o direito internacional. O reconhecimento mútuo é condição sine qua non para a celebração de tratados bilaterais. Já no que diz respeito à celebração de tratados multilaterais, o fato de um Estado dele ser parte não implica no reconhecimento de todos os demais pactuantes. Vamos entender melhor isso com alguns exemplos! 1)- Se o Estado X não tem o reconhecimento por parte do Estado Y, os dois não poderão celebrar tratados bilaterais entre si. Mas se o mesmo Estado X for reconhecido pelo Estado Z, com este já será possível a celebração de um tratado bilateral. 2)- Se o Estado X não for reconhecido pelo Estado Y e pelo Estado Z, mas for reconhecido pelos Estados A e B, não há empecilho para que estes cinco Estados celebrem entre si um tratado multilateral. Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 18. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados-2002)- A personalidade jurídica internacional de um Estado é constituída a partir do seu reconhecimento pelos demais Estados da sociedade internacional. Comentários: A personalidade jurídica de direito internacional dos Estados independe de seu reconhecimento. Conforme já comentamos, o ato de reconhecimento de Estado tem natureza meramente declaratória. Questão errada. 19. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Um Estado tornou-se independente recentemente. Nessa situação, para que esse Estado 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!43!()!23 seja digno de reconhecimento pelos demais Estados da sociedade internacional, é necessário que ele possua população, território, governo e soberania, além de ter seu pedido de reconhecimento aceito pelos demais Estados até cinco anos a contar da data de sua independência. Comentários: É possível que um Estado seja reconhecido por alguns Estados e por outros não. Adicionalmente, a existência de um Estado prescinde de seu reconhecimento pela sociedade internacional. Questão errada. 20. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Em 1970, o Estado A tornou-se independente, recebendo, em 1972, o reconhecimento do Estado B. Em 1980, esses dois estados romperam relações diplomáticas por defenderem interesses comerciais divergentes. Nessa situação, o Estado B, segundo o direito internacional, pode revogar o reconhecimento anteriormente declarado. Comentários: O ato de reconhecimento do Estado possui natureza irrevogável, motivo pelo qual a questão está errada. 21. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Um Estado é recém- independente. Nessa situação, dois outros Estados podem, segundo o direito internacional, celebrar um tratado internacional para exprimir o reconhecimento conjunto do Estado recém-independente. Comentários: O reconhecimento de Estado pode ser individual ou coletivo. Ele será coletivo quando, em um mesmo ato, dois ou mais Estados concederem seu reconhecimento. Uma das formas de externar o reconhecimento de Estado é por meio da celebração de tratado internacional. Questão correta. 22. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- O Estado X, situado no continente americano, tornou-se independente em 2000. Em 2003 o Estado Y, também situado no continente americano, declarou o reconhecimento do Estado X. Nessa situação, somente a partir do referido reconhecimento os atos emanados pelo Estado X serão aceitos como válidos pelos tribunais do Estado Y. Comentários: Os atos do Estado Y serão reconhecidos como válidos desde o momento em que presentes no Estado X os elementos constitutivos de Estado, ou seja, desde 2000. Em outras palavras, o ato de reconhecimento de Estado 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!49!()!23 opera efeitos retroativos, ou falando mais bonito, tem efeitos “ex tunc”. Questão errada. 3.7.2- Reconhecimento de Governo: Enquanto o reconhecimento de Estado ocorre quando do nascimento deste, o reconhecimento de governo tem premissas diferentes. Em uma situação em que há necessidade de reconhecimento de governo, o Estado já existe e é reconhecido no plano internacional como dotado de personalidade jurídica de direito internacional. O que ocorre, no entanto, é uma ruptura da ordem política vigente e instauração de um novo modelo de poder, por meio de uma revolução ou de um golpe de Estado. A ruptura da ordem política é marcada, portanto, por um fato que é contrário às prescrições constitucionais vigentes no momento. Não há que se falar em reconhecimento de governo quando, por meio de eleições, um novo partido ascende ao controle político de um país. Em relação ao reconhecimento de governo, destacam-se duas teorias principais: a doutrina Tobar e a doutrina Estrada. A doutrina Tobar provém do pensamento do Ministro das Relações Exteriores da República do Equador Carlos Tobar, segundo o qual os governos deveriam se recusar a reconhecer um governo que surja de uma mudança abrupta na ordem política até que este possua legitimidade popular. O pensamento de Carlos Tobar fica bem expresso nas linhas seguintes: “O meio mais eficaz para acabar com essas mudanças violentas de governo, inspiradas pela ambição, que tantas vezes têm perturbado o progresso e o desenvolvimento das nações latino-americanas e causado guerras civis sangrentas, seria a recusa, por parte dos demais governos, de reconhecer esses regimes acidentais, resultantes de revoluções, até que fique demonstrado que eles contam com a aprovação popular.” Já a doutrina Estrada provém do pensamento do Secretário de Estado das Relações Exteriores do México, Genaro Estrada, segundo o qual os países não devem se pronunciar no sentido de outorgar reconhecimento de governo. Segundo a Doutrina Estrada, essa é uma prática desonrosa, que fere a soberania das nações e não se deve qualificar em momento algum o direito que têm os países de aceitar, manter ou substituir seus governos ou autoridades. A base da Doutrina Estrada é a não- intervenção, a qual não proíbe a ruptura de relações diplomáticas com o Estado em que um novo governo foi instaurado. O que não deve ser feito, 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!5:!()!23 segundo essa teoria, é a formulação e manifestação expressa de juízo de valor sobre o governo estrangeiro. Comparando as duas doutrinas, percebemos que pela doutrina Tobar o reconhecimento de governo é expresso, enquanto na doutrina Estrada, o reconhecimento é tácito, já que não há juízo de valor expresso sobre a qualidade ou a legitimidade dos novos detentores do poder, mas tão somente uma ruptura ou manutenção das relações diplomáticas, conforme for julgado conveniente. Atualmente, os países têm utilizado em muito maior proporção a doutrina Estrada, não emitindo pronunciamentos a respeito da legitimidade dos novos governos. Na prática, a doutrina Tobar sofreu grande desgaste e é cada vez menos utilizada. O que se verifica nos dias de hoje é a simples ruptura das relações diplomáticas – sem o pronunciamento formal recusando o reconhecimento - ou a preservação de tais relações, quando se entenda que isso seja mais conveniente. Segundo Portela29, o reconhecimento de governo é ato unilateral, discricionário, não-obrigatório, irrevogável e incondicionado. 3.8- Imunidade à Jurisdição Estatal: 3.8.1- Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 x Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963: Os representantes de um Estado perante o outro gozam de certos privilégios e garantias, os quais estão previstos atualmente na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963. Em primeiro lugar, cabe-nos destacar a diferença entre o serviço diplomático e o serviço consular. Qual a diferença entre um diplomata e um cônsul? Em rápidas palavras, podemos dizer que o diplomata é o representante do Estado em suas relações internacionais, enquanto o cônsul é o responsável por oferecer aos nacionais proteção e assistência no exterior – assuntos privados. Assim, o diplomata representa o Estado de origem frente à soberania local, enquanto o cônsul representa o Estado de origem para o fim de cuidar, onde atue, de interesses privados. Para que possam exercer com tranquilidade suas funções no exterior, esses representantes do Estado possuem certos privilégios e garantias. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 29 !PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ∀#∃%&∋!51!()!23 Esses privilégios e garantias representam uma espécie de imunidade de jurisdição, ou seja, definem situações em que o Estado soberano não poderá submeter os representantes de outros Estados à sua jurisdição. Várias teorias existem sobre o fundamento e a natureza jurídica das imunidades diplomáticas e consulares. Afinal de contas, por que os diplomatas e cônsules possuem privilégios e garantias? Será que é somente para beneficiá-los? Seria uma espécie de prêmio? A resposta mais aceita atualmente é dada pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, que, encampa, em seu preâmbulo, a doutrina funcional estabelecendo que: “Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenho das funções das missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados;” Segundo Mazzuoli, as imunidades diplomáticas e consulares são baseadas na ficção da extraterritorialidade. Se, por ficção, os agentes diplomáticos e consulares são considerados representantes do soberano que os envia, também por ficção devem ser considerados como estando fora do território em que atuam. 30 A Convenção de Viena de 1961 (sobre relações diplomáticas) prevê privilégios e garantias bem mais extensos do que a Convenção de Viena de 1963. Para ilustrar isso, Rezek apresenta o seguinte raciocínio, que, por sua didática, transcrevemos a seguir: “É indiferente ao direito internacional o fato de que inúmeros países – entre os quais o Brasil – tenham unificado as duas carreiras, e que cada profissional da diplomacia, nesses países, transite constantemente entre funções consulares e funções diplomáticas. A exata função desempenhada em certo momento e em certo país estrangeiro é o que determina a pauta de privilégios. Assim, ao jovem diplomata brasileiro que atue como terceiro-secretário de nossa embaixada em Nairobi aplica-se a Convenção de 1961 – não a de 1963 -, e ele terá uma cobertura mais ampla que aquela de goza o cônsul geral do Brasil em Nova York, veterano titular de um dos postos mais disputados da carreira.” 31 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 30 !MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 31 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 40531388093 !∀#∃%&∀∋()∗+∀,∗∃−./∗∃.∋(01(234 5∀/,.∃(∀(67∀∋+&∀∋( 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀(=(>7#∃(?≅ 8,/9:(!.−∃,;/(<∃#∀((((((((((((((((((((!!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/&0!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Compartilhar