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Sujeitos de Direito Internacional Público

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Aula 03
Relações Internacionais p/ AFC/CGU - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria
Professor: Ricardo Vale
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AULA 03: SUJEITOS DE DIP - 
ESTADO e INDIVÍDUOS 
 
 
SUMÁRIO PÁGINA 
1-Palavras Iniciais 1 
2- Personalidade Jurídica de Direito Internacional 2 - 8 
3- Personalidade Internacional dos Estados x Personalidade 
Internacional das Organizações Internacionais: 
9 - 10 
4- Estados Soberanos 10 - 51 
5- A Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano 51 - 52 
6- Organizações não-governamentais 52 - 53 
7- Questões Comentadas 54 - 64 
8- Lista de Questões e Gabarito 65 - 78 
 
Olá, amigos do Estratégia Concursos! Tudo bem? 
Na aula de hoje, daremos início ao estudo dos Sujeitos de Direito 
Internacional Público, falando sobre o principal deles: o Estado. Também 
falaremos, genericamente, a respeito da personalidade internacional e, então, 
comentaremos acerca do papel do indivíduo no plano internacional. 
A nossa metodologia será a de apresentar detalhadamente toda a 
teoria e, simultaneamente, mostrar como ela foi cobrada em concursos 
públicos. Além disso, no final da aula, teremos uma lista com várias outras 
questões, as quais “misturam” os diversos temas abordados ao longo do texto. 
Boa aula a todos! 
Ricardo Vale 
ricardovale@estrategiaconcursos.com.br 
http://www.facebook.com/rvale01 
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo!” 
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1- Personalidade Jurídica de Direito Internacional: 
Em 1648, foram celebrados os tratados de Westfália, que colocaram 
um fim à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e consagraram a chamada Paz 
de Westfália, momento histórico muito importante para o direito internacional. 
A Paz de Westfália estabeleceu uma nova ordem para as relações 
internacionais, marcando o surgimento do Estado moderno como sujeito 
de direito internacional por excelência. Pela primeira vez, foi reconhecido que 
os Estados são dotados de igualdade absoluta no plano internacional, 
princípio basilar do direito das gentes1. 
Com o passar dos anos, as relações internacionais foram, todavia, 
ganhando contornos cada vez mais complexos. Após a Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945), houve uma proliferação de organizações internacionais, 
que passaram a ter participação ativa no contexto internacional. Na atualidade, 
a complexidade é ainda maior e são vários os atores no plano internacional. 
É justamente essa ordem internacional complexa de que se ocupa o 
direito das gentes, cujo objetivo central é regular as relações 
internacionais a fim de permitir a convivência entre os membros da 
sociedade internacional. Mas quem seriam os membros da sociedade 
internacional? Afinal de contas, quais são os sujeitos de direito internacional 
público, isto é, os entes dotados de personalidade internacional? 
No plano do direito interno, podemos dizer que a personalidade é 
qualidade inerente à pessoa, seja ela física ou jurídica, o que lhe confere a 
capacidade para usufruir direitos e contrair obrigações. No plano do direito 
internacional, não há grandes diferenças! Segundo Francisco Rezek2, eminente 
jurista brasileiro, para que alguém seja qualificado como pessoa jurídica de 
direito internacional, é necessário que essa pessoa possa agir no plano 
internacional. Agir no plano internacional significa poder ser titular de 
direitos e deveres internacionais e possuir capacidade de defender seus 
direitos por meio de ações internacionais. Pessoas jurídicas de direito 
internacional, segundo essa visão, seriam os Estados Soberanos e as 
organizações internacionais em sentido estrito. 
Valério Mazzuoli, por sua vez, apresenta um conceito mais complexo 
de personalidade internacional. Segundo esse jurista, a qualificação jurídica de 
um ente como sujeito de direito internacional comporta uma conotação passiva 
e outra conotação ativa. 3 Assim, seriam sujeitos de direito internacional os 
entes a quem tal Direito é destinado (conotação passiva) e que possuem 
capacidade de atuação no plano internacional (conotação ativa). Por essa 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1 “Direito das gentes” (jus gentium) é sinônimo de Direito Internacional Público 
2 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 
3 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 
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corrente, além dos Estados soberanos e das organizações internacionais, 
também os indivíduos possuiriam personalidade jurídica de direito 
internacional. 
Como se pode perceber, a questão da personalidade internacional é 
objeto de grande controvérsia doutrinária, estando longe de um consenso. 
Todavia, a evolução e a crescente complexidade das relações internacionais 
tem ocasionado importante transformação na sociedade internacional. Hoje, a 
grande tendência é considerar que a sociedade internacional não é mais 
puramente interestatal, em razão da participação cada vez mais ativa de 
outros entes no plano internacional (ONG’s, empresas transnacionais e 
indivíduos). Nesse sentido, a doutrina moderna considera sujeitos de 
direito internacional os Estados, as organizações internacionais e os 
indivíduos; as ONG’s e as empresas transnacionais são apenas atores 
internacionais. Destaque-se que, apesar de não se reconhecer personalidade 
internacional às ONG’s, há uma importante exceção: o Comitê Internacional da 
Cruz Vermelha (considerado sujeito de direito internacional público). 
A personalidade jurídica de direito internacional não é, dessa 
forma, algo imutável, mas um conceito que evolui com o decorrer do 
tempo. Há algumas décadas atrás, somente os Estados eram considerados 
sujeitos de direito internacional, ou seja, essa era uma qualidade exclusiva 
deles. Na atualidade, podemos afirmar com total segurança que esse quadro 
se modificou. Várias outras entidades, que não possuem base territorial e 
dimensão demográfica, possuem personalidade jurídica de direito 
internacional, já que estão habilitadas a usufruir de direitos e deveres 
internacionais e travam relação imediata e direta com as normas que lhes 
conferem tal prerrogativa. 
“Mas e aí Ricardo, qual das duas teorias é válida para concursos 
públicos?” 
Excelente pergunta! Com tanta controvérsia doutrinária, a nossa 
cabeça fica mesmo embaralhada! 
A tendência das bancas examinadoras é considerar que a 
personalidade internacional não se limita aos Estados e às 
organizações internacionais.4 
Portanto, leve para a prova o seguinte: 
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4 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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A personalidade jurídica de direito internacional alcança, 
além dos Estados e organizações internacionais, 
também os indivíduos. As organizações não-
governamentais e as empresas transnacionais, 
embora tenham participação cada vez mais ativa no 
cenário
internacional, são consideradas pela doutrina 
dominante apenas atores internacionais. 
 
Cabe destacar ainda que, apesar de não ser a doutrina dominante, 
Paulo Henrique Portela considera que as empresas transnacionais e as ONG’S 
também são sujeitos de direito internacional. 
Apesar desse entendimento, é certo que as empresas, as ONG’s e os 
indivíduos não possuem as mesmas prerrogativas no plano internacional. A 
capacidade de atuação desses sujeitos é limitada se comparada ao poder 
dos Estados e das organizações internacionais. Com efeito, o direito 
internacional reconhece capacidade para celebrar tratados aos Estados e 
organizações internacionais, mas não concede a mesma prerrogativa aos 
indivíduos, às empresas e às ONG’s. 
Em razão da limitação em sua atuação internacional, os indivíduos, as 
ONG’s e as empresas são chamados pela doutrina de sujeitos de direito 
internacional fragmentários5. Tais sujeitos têm acesso a alguns 
mecanismos de soluções de controvérsias internacionais e são destinatários de 
normas internacionais, que lhes conferem direitos e obrigações. Entretanto, 
eles não participam do processo de formação de normas jurídicas 
internacionais, isto é, não podem celebrar tratados. 
O reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos 
representa um grande avanço do direito internacional público, tendo sido 
alcançado em razão do desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos.6 Com efeito, os indivíduos podem figurar no plano passivo ou 
no plano ativo do direito internacional. 
No que diz respeito ao plano passivo, é possível, atualmente, que um 
indivíduo (pessoa natural) seja julgado e responsabilizado pelo Tribunal Penal 
Internacional (TPI) em razão de haver cometido um crime de alta gravidade.7 
A título de exemplo, o ex- ditador da Líbia, Muammar Khadafi, em razão das 
violações aos direitos humanos por ele perpetradas, deveria ser julgado pelo 
Tribunal Penal Internacional. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
5 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
6 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010. 
7 Segundo o Estatuto de Roma, que criou o TPI, a jurisdição dessa Corte internacional abrange 
os crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio, crime de agressão. 
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Já no que diz respeito ao plano ativo, admite-se, em certos casos, 
que um indivíduo peticione perante Cortes internacionais. Um indivíduo ou um 
grupo de indivíduos pode, por exemplo, peticionar diretamente à Corte 
Europeia de Direitos Humanos. 
As empresas, por sua vez, também podem ter acesso a 
mecanismos de solução de controvérsias. O sistema de solução de 
controvérsias do MERCOSUL, por exemplo, reconhece o direito de petição a 
particulares. 
Destacamos, todavia, que o acesso a mecanismos de solução de 
controvérsias pelos “sujeitos fragmentários” é limitado. Algumas Cortes 
Internacionais somente reconhecem capacidade postulatória aos Estados 
soberanos, como é o caso da Corte Internacional de Justiça (CIJ). 8 
Cabe destacar também que atuam na sociedade internacional as 
chamadas coletividades não-estatais. São elas os beligerantes, os 
insurgentes e os movimentos de libertação nacional (nações em luta pela 
soberania). 9 
Os beligerantes são movimentos armados que instauram no interior 
de um Estado uma guerra civil com o objetivo de mudar o sistema político em 
vigor. Para que uma coletividade seja considerada beligerante, faz-se mister 
uma declaração pelos outros entes estatais, em conjunto ou separadamente. O 
reconhecimento da beligerância permite que essa coletividade adquira, dentre 
outros direitos, a capacidade para celebrar tratados. 
Os insurgentes, por sua vez, também são movimentos armados 
ocorridos no interior de um Estado com o objetivo de derrubar o sistema 
político vigente. Entretanto, a insurgência não assume proporções tão graves 
quanto a beligerância e não chega a ocorrer uma guerra civil. Também é 
necessário, para que uma coletividade seja considerada como insurgente, um 
ato declaratório de reconhecimento. A capacidade para celebrar tratados 
poderá ser conferida aos insurgentes, o que irá depender do ato de 
reconhecimento da insurgência. 
Por fim, os movimentos de libertação nacional são movimentos 
que, em razão de sua magnitude, passam a ser amplamente reconhecidos no 
cenário internacional. É o caso, por exemplo, da Autoridade Palestina, que 
tem celebrado inúmeros tratados com diferentes países. 
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8 Na aula sobre Organizações Internacionais, nós trataremos de forma bem detalhada sobre a 
Corte Internacional de Justiça (CIJ). 
9 Portela considera que as coletividades não-estatais são apenas atores internacionais. Já 
Mazzuoli reconhece a personalidade internacional dos beligerantes, insurgentes e movimentos 
de libertação nacional. 
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Pessoal, consideramos fundamental que você conheça todo esse 
debate doutrinário, já que, pela sua relevância, ele pode vir a ser cobrado em 
prova! Algumas possíveis assertivas seriam as seguintes: 
1) “A doutrina vem reconhecendo a personalidade jurídica de 
direito internacional dos indivíduos.” Correto. 
2) “Segundo a doutrina tradicional, somente possuem 
personalidade jurídica de direito internacional os Estados, as organizações 
internacionais e a Santa Sé.” Correto. 
3) “O tema da personalidade internacional é objeto de polêmica 
doutrinária, havendo correntes distintas sobre o assunto.” Correto 
4) “Embora sejam considerados sujeitos de direito internacional, os 
indivíduos possuem atuação limitada no plano internacional”. Correto 
5) “Os indivíduos e as empresas possuem acesso direto a alguns 
mecanismos de soluções de controvérsias”. Correto. 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
1. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados – 2014) 
Empresas multinacionais não dispõem de personalidade jurídica 
internacional, mesmo que elas sejam empresas públicas 
transnacionais contraentes de obrigações com Estados soberanos. 
Comentários: 
As empresas multinacionais não possuem personalidade jurídica de 
direito internacional. Questão correta. 
2. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados – 2014) Somente 
Estados soberanos, entes assemelhados e organizações não 
governamentais internacionais são sujeitos de direito internacional. 
Comentários: 
O enunciado foi bastante restritivo, deixando de reconhecer a 
personalidade internacional às organizações internacionais e aos indivíduos. As 
ONG`s, por sua vez, são apenas atores internacionais. Questão errada. 
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3. (Instituto Rio Branco – 2011) Com características políticas e 
jurídicas de ONG e desprovido de atributos de personalidade jurídica 
internacional, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha é sujeito 
apenas aparente de direito internacional público. 
Comentários: 
A doutrina atribui personalidade internacional ao Comitê Internacional 
da Cruz Vermelha, apesar de tratar-se de uma ONG. Questão errada. 
4. (Instituto Rio
Branco – 2011) - As ONGs que obtiveram 
reconhecimento da opinião pública mundial após a Segunda Guerra 
Mundial adquiriram personalidade jurídica de direito internacional 
público. 
Comentários: 
Segundo a doutrina dominante, as ONG’s são apenas atores 
internacionais, não possuindo personalidade jurídica de direito internacional. 
Questão errada. 
5. (Instituto Rio Branco- 2010)- O MERCOSUL é uma organização 
dotada de personalidade jurídica de direito internacional. 
Comentários: 
O MERCOSUL é uma organização internacional e, portanto, possui 
personalidade jurídica de direito internacional público, a qual está 
expressamente prevista no Protocolo de Ouro Preto. Questão correta. 
6. (Juiz Federal 1ª Região/2006) São sujeitos de direito 
internacional público, também chamados de pessoas jurídicas de 
direito internacional público, os Estados soberanos, a Santa Sé e as 
organizações internacionais. 
Comentários: 
De fato, são sujeitos de DIP os Estados soberanos, a Santa Sé e as 
organizações internacionais. Questão correta. 
7. (OAB 2006.2) A expressão “coletividades não estatais” abrange 
as mais diferentes pessoas internacionais, como os revoltosos em uma 
guerra interna. 
Comentários: 
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A expressão “coletividades não-estatais” abrange os insurgentes, os 
beligerantes (revoltosos em guerra interna) e as nações em luta pela 
soberania. Questão correta. 
8. (Consultor Legislativo/ Câmara dos Deputados- 2002)- Tendo em 
vista as atividades que realizam, concernentes a ações de 
solidariedade internacional, as organizações não-governamentais 
(ONGs) passaram a ser admitidas como sujeitos do direito 
internacional público. 
Comentários: 
A doutrina dominante considera que as organizações não-
governamentais são apenas atores internacionais, não possuindo 
personalidade jurídica de direito internacional. Questão errada. 
9. (Procurador BACEN-2001)- Paul Reuter define tratado 
internacional como sendo “uma manifestação de vontades 
concordantes, atribuídas a dois ou mais sujeitos de direito 
internacional, e destinada a produzir efeitos jurídicos em 
conformidade com as normas de direito internacional”. Assinale a 
opção em que figurem, tão só, exemplos de sujeitos de direito 
internacional. 
a) Estados, Santa Sé ou Estado do Vaticano, organizações não-governamentais 
(ONGs) e indivíduos. 
b) Estados, organizações internacionais e empresas multinacionais. 
c) Estados, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e Santa Sé ou Estado do 
Vaticano. 
d) Estados, Organização das Nações Unidas (ONU) e ONGs. 
e) Indivíduos, ONGs, organizações internacionais e Santa Sé ou Estado do 
Vaticano. 
Comentários: 
Quando temos uma questão de marcar pela frente, fica fácil 
verificarmos qual o posicionamento da banca examinadora, não é mesmo? 
Nessa questão, a banca adotou o posicionamento tradicional. A resposta, 
portanto, é a letra C. São sujeitos de DIP os Estados, as organizações 
internacionais (dentre as quais o MERCOSUL) e a Santa Sé ou Estado do 
Vaticano. 
 
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2- Personalidade Internacional dos Estados x Personalidade 
Internacional das Organizações Internacionais: 
Há uma notória diferença entre a personalidade jurídica de direito 
internacional do Estado e a personalidade jurídica de direito internacional das 
organizações internacionais. 
Segundo Rezek10, o Estado constitui uma realidade física, já que 
possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. 
Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento 
para sua existência fática. Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica 
é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento). Até a 
Primeira Guerra Mundial, considerava-se que os Estados eram os únicos 
sujeitos de direito internacional. No entanto, o processo de evolução da 
sociedade internacional deu origem a um novo sujeito de direito internacional: 
as organizações internacionais. 
As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos 
de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949. 
Nesse ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer 
consultivo quanto à possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante 
o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte 
(representante da ONU no Oriente Médio). Entendeu a Corte Internacional de 
Justiça (CIJ) que a ONU possuía personalidade jurídica internacional e, 
portanto, teria legitimidade para reivindicar a reparação de danos. Por 
reconhecer a personalidade jurídica de direito internacional das organizações 
internacionais, esse Parecer Consultivo pode ser considerado um marco no 
âmbito do direito das gentes. 
As organizações internacionais possuem personalidade jurídica 
derivada, sendo apenas uma criação jurídica. Elas não são dotadas do 
elemento territorial, isto é carecem do elemento físico. Sua existência tem 
fundamento de validade no tratado constitutivo e, portanto, elas somente 
existem após a entrada em vigor deste. Dizemos que a personalidade das 
organizações internacionais é derivada porque estas não existiriam caso não 
houvesse vontade dos Estados em criá-las. Portela lembra que a soberania é 
atributo exclusivo dos Estados e que não é porque os entes estatais 
estabeleceram organizações internacionais que estas serão entidades dotadas 
de soberania. 11 
Tecidas estas considerações gerais, vejamos como esse assunto já foi 
cobrado em prova! 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
10 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008 
11 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009. 
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Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
10. (Juiz Federal 1ª Região/2006)- A personalidade jurídica do 
Estado, em direito das gentes, diz-se derivada, enquanto a das 
organizações internacionais, diz-se originária. 
Comentários: 
A personalidade jurídica dos Estados é originária, enquanto a 
personalidade jurídica das organizações internacionais é derivada. Questão 
errada. 
11. (Consultor Legislativo/ Câmara dos Deputados- 2002)- A 
personalidade jurídica dos Estados é derivada, e a das organizações 
internacionais, originária. 
Comentários: 
Exatamente igual à questão anterior. Veja como é recorrente esse 
enunciado. Questão errada. 
 
3- Estados Soberanos: 
3.1- Generalidades: 
O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é 
considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade 
internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o único que possui plena 
capacidade jurídica no plano internacional. 
O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui 
personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal 
constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de 
direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações 
internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado 
por Estados para serem criadas. Os indivíduos, por sua vez, possuem
um 
vínculo político-jurídico com um Estado conhecido como nacionalidade. 
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Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do 
Estado são o território, o povo e o governo soberano.12 Todavia, há 
autores que pregam a existência de um quarto elemento constitutivo: a 
finalidade. 13 Há ainda o conceito de Estado para a Convenção 
Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados14 (1933), que 
estabelece 4 (quatro) elementos constitutivos: população permanente, 
território determinado, governo e capacidade de entrar em relação com outros 
Estados. 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
12. (AGU-2007)- O Estado do Rio Grande do Sul, almejando ser 
reconhecido internacionalmente como um Estado soberano, pleiteou 
uma cadeira na Organização das Nações Unidas (ONU), alegando que 
possui um território, uma população e um governo permanente. Nessa 
situação, os requisitos apresentados não são suficientes para que o 
Rio Grande do Sul seja aceito na Assembléia Geral da ONU. 
Comentários: 
De fato, os requisitos apresentados não são suficientes, uma vez que o Rio 
Grande do Sul carece de soberania. Não basta que haja um governo 
permanente; ele precisa também ser soberano. Questão correta. 
 
a) Território: 
O território é a dimensão física sobre a qual o Estado exerce sua 
jurisdição geral e exclusiva, ou seja, a dimensão material onde ele exerce 
seus poderes. Geral porque, no âmbito do seu território, o Estado exerce todas 
as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. Exclusiva, 
porque tais competências são exercidas sem qualquer concorrência por parte 
de outro poder. A jurisdição do Estado sobre seu território não é, todavia, 
absoluta, uma vez que há pessoas e bens que não se submetem ao 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
12 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
13 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 
14 A Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados de 1933 é também 
conhecida por Convenção de Montevidéu. 
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poder estatal, como, por exemplo, os diplomatas, as missões diplomáticas e 
organismos internacionais. 
Apesar de possuir jurisdição unicamente sobre seu território, há 
situações em que se verifica a atuação extraterritorial do Estado, como, 
por exemplo, quando julga seus nacionais por ato praticado no exterior ou 
quando exerce jurisdição sobre missões diplomáticas e consulares.15 Em 
doutrina, é comum considerar-se que as embaixadas (missões diplomáticas) e 
os navios e aeronaves de guerra são uma extensão do território estatal. 
Entretanto, a Corte Internacional de Justiça já se pronunciou em 
sentido contrário diante de um caso concreto. 
A determinação do território estatal é feita por demarcação ou 
delimitação. A delimitação (estabelecimento de limites) pode ser feita por meio 
de tratados ou costumes. A demarcação, por sua vez, é a implantação de 
marcos físicos sobre o território, como, por exemplo, o Muro de Berlim, que 
dividia Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental. Até os dias de hoje, as 
questões fronteiriças são objeto de conflitos internacionais, como os existentes 
entre Índia e Paquistão e Israel e Palestina. 
Historicamente, a definição de limites territoriais tem se guiado pelo 
princípio do “uti possidetis”, segundo o qual o domínio sobre um 
determinado território é daqueles que efetivamente o estiverem 
ocupando. Segundo Varella16, “a necessidade do domínio efetivo tornou-se 
um costume internacional amplamente aceito e é hoje considerado condição 
para o reconhecimento da incorporação do território ao domínio do Estado.”. A 
consolidação do princípio do “uti possidetis” como regra consuetudinária de 
direito internacional público decorre de uma série de decisões da Corte 
Internacional de Justiça (CIJ) 
Vale destacar que não importa qual o tamanho do território do 
Estado. Todos os Estados, independentemente de sua base física, são tratados 
de maneira isonômica pelo direito internacional. Há Estados com grande base 
territorial (Rússia, Brasil e EUA) e Estados com território bem pequeno, como 
os chamados micro-estados (Mônaco, Andorra, San Marino). Apesar de 
possuírem tamanhos variados, todos são dotados de personalidade jurídica de 
direito internacional, prevalecendo o princípio da igualdade soberana entre 
eles. 
Em algumas situações, os Estados aceitam, de forma expressa ou 
tácita, restrições ao exercício da soberania em seu território. São as 
chamadas servidões, que poderão ser permissivas – permissão de utilização 
do território por outro Estado – ou restritivas – compromisso de não exercer 
a competência plena sobre seu território. 
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15 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
16 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 
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Para exemplificar as servidões permissivas, também chamadas de 
positivas, citamos como exemplo um Estado X que autoriza a instalação de 
uma base militar do Estado Y em seu território. Nessa situação, percebe-se 
que o Estado Y exerce certo poder sobre uma parcela do território do Estado X. 
Já para ilustrar as servidões restritivas, também chamadas de 
negativas, citamos como exemplo se o Estado X declarar que não 
estabelecerá bases militares na fronteira com o Estado Y. Nessa situação, o 
Estado X deixa de exercer sua soberania em uma parcela de seu território. 
Segundo Accioly17, “as servidões extinguem-se por acordo entre os 
Estados interessados, pela fusão destes, pela renúncia expressa ou tácita do 
Estado ou dos Estados a que aproveitam ou por qualquer outro meio de 
resolução de tratados.” Exemplificando tais hipóteses: 
1)- O Estado X diz para o Estado Y: “Ô, meu amigo, eu tinha deixado 
você instalar uma base militar no meu território, mas agora não quero mais, 
ok?” (acordo) 
2)- O Estado X se une ao Estado Z para formar o Estado W. Nesse 
caso, o Estado W não é obrigado a permitir a instalação da base do Estado Y 
em seu território. (fusão) 
3)- O Estado Y diz para o Estado X: “Ô, meu amigo, eu tinha 
instalado uma base militar em seu território, mas agora não quero mais essa 
concessão e já estou retirando minhas tropas!” (renúncia) 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
13. (Juiz Federal 1ª Região/2006)- O Estado exerce jurisdição sobre 
o seu território, muito embora sempre relativa, o que vale dizer que 
detém uma série de competências para atuar com autoridade. 
Comentários: 
De fato, a jurisdição do Estado sobre seu território é relativa. No 
entanto, o motivo de considerar-se que a jurisdição do Estado é relativa não é 
o fato deste possuir competências para atuar com autoridade. A jurisdição 
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17 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009
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estatal é relativa, mas em virtude de não alcançar algumas pessoas, bens e 
locais. Questão errada. 
14. (OAB 2006.2)- As servidões – que são restrições por meio das 
quais um Estado estrangeiro exerce uma competência no território de 
outro Estado ou um Estado se compromete em favor de outro a não 
exercer sua competência plena em seu território – têm base 
convencional e se extinguem com a sucessão de Estados. 
Comentários: 
As servidões nem sempre têm base convencional, podendo ser 
aceitas por um Estado de forma tácita. Questão errada. 
 
b) Povo: 
O povo é a dimensão pessoal do Estado, não se confundindo com a 
sua população. Enquanto esta é formada pelo conjunto de pessoas que vivem 
com ânimo definitivo no seu território, incluindo nacionais e estrangeiros, a 
dimensão pessoal do Estado (povo) compreende a comunidade nacional, ou 
seja, o conjunto de seus nacionais. Na dimensão pessoal do Estado estão 
incluídos, inclusive, os nacionais que tenham se estabelecido no exterior. 
Segundo Rezek18, o Estado exerce inúmeras competências inerentes 
à sua jurisdição territorial sobre os estrangeiros residentes. Já em relação aos 
seus nacionais, o Estado exerce jurisdição pessoal, em virtude do vínculo 
jurídico-político que une o indivíduo ao Estado: a nacionalidade. 
 
c) Governo soberano: 
O governo é a dimensão política do Estado e é quem exerce o poder 
soberano estatal. A Paz de Westfália (1648), conforme já afirmamos 
anteriormente, é considerada um importante marco do direito internacional. E 
o é justamente porque os tratados celebrados naquela ocasião reconheceram 
pela primeira vez o poder soberano dos Estados sobre seus territórios, 
excluindo qualquer ingerência externa. 
A soberania é, portanto, atributo essencial do Estado, garantindo que 
sua vontade não se subordine a qualquer outro poder nos planos interno e 
internacional. Com efeito, na ordem jurídica internacional não existe um 
poder superior ao dos Estados, o que torna a sociedade internacional 
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!REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008!
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descentralizada. Os Estados são independentes para definir sua política 
interna, bem como suas ações no plano internacional. 
A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade 
entre os Estados, o qual está insculpido na Carta das Nações Unidas. Nas 
palavras de Portela19, o poder soberano representa uma “supremacia 
sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado 
território”. Todavia, percebe-se, na atualidade, uma flexibilização do conceito 
de soberania. Não cabe mais falar em poder ilimitado do Estado, uma vez que 
a ordem jurídica interna e mesmo a ordem jurídica internacional impõem 
restrições à ação estatal. 
O direito internacional humanitário é, atualmente, um campo em 
que se pode perceber uma destacada interferência internacional nas questões 
internas. A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de 
Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das 
violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país. 
 
 
3.2- Classificação dos Estados: 
Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à 
sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser 
subdivididos em compostos por coordenação e compostos por subordinação. 
Vejamos o que significa cada um desses conceitos! 
Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem 
completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao 
mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões 
internas. Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na 
maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são 
Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França. 
Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades 
políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. 
Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução 
das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia. Nesse 
caso, trata-se de um Estado simples descentralizado. Ressaltamos que, 
quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as 
funções de índole administrativa, tratar-se-á de um Estado simples 
centralizado. 
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!PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados 
compostos por coordenação e Estados compostos por subordinação. 
Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles 
congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias 
autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano. 
Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma 
associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados 
federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida 
somente pelo órgão central, sendo que cada um dos Estados conserva a 
autonomia em suas questões internas. Um exemplo bem claro de Estado 
composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades 
estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas 
autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos 
da União. Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se 
do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não 
perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente 
detentores de sua soberania. 
A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de 
Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por 
coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade 
Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política 
no plano internacional. 
As unidades estatais autônomas em uma federação não 
possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não 
possuem soberania. Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país 
outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano 
internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito 
internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última 
análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União 
Federal). 
No Brasil, compete à União manter relações com Estados estrangeiros 
e participar de organizações internacionais. Apesar disso, admite-se que os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizem operações 
externas de natureza financeira como, por exemplo, a aquisição de 
empréstimos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento). Entretanto, tais operações possuem natureza contratual 
(e não convencional) e são condicionadas à atuação da União, pois faz-se 
necessário a participação do Brasil na entidade e, ainda, a conclusão de um 
acordo de garantia. A realização desse tipo de operação externa de natureza 
financeira
está, ainda, sujeita à autorização do Senado Federal, conforme art. 
52, inciso V, da CF/88. 
Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje 
em dia. Trata-se dos Estados vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais 
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Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão 
“composto por subordinação”. Nesse tipo de Estado, existe de um lado um 
ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende. 
No século XX, com vistas a regularizar a situação das colônias, a Liga 
das Nações e a ONU estabeleceram a administração destas sob a forma de 
mandato e de tutela, respectivamente. As colônias eram territórios que 
passaram então a estar submetidos à administração de uma determinada 
soberania. Certas potências receberam o encargo de administrar estes 
territórios, promovendo-lhes o desenvolvimento até o momento em que 
reunissem condições de acesso à independência plena. O objetivo era 
descolonizá-los, momento em que passariam a gozar de plena soberania e, 
portanto, iriam adquirir personalidade jurídica de direito internacional. 
Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são 
chamados de micro-Estados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 
km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2). Segundo 
Rezek20, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas 
instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados. 
Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências 
desses micro-estados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado 
vizinho, como a França, no caso de Mônaco. 
3.3- Nascimento dos Estados: 
Segundo Accioly21, o problema da formação dos estados é igualmente 
do domínio da história, da política e da sociologia, como do direito 
internacional. Uma importante questão é, portanto, saber como surgem os 
Estados. 
O modo de formação mais simples de um Estado ocorre através do 
estabelecimento permanente de certa população num território determinado. 
Isso ocorreria quando um território está desocupado (res nullius) e uma 
população o ocupa. Ou ainda, quando um território foi abandonado por 
antigos habitantes (res derelicta) e é ocupado por uma população. 
Durante a Antiguidade e a Idade Média, a ocupação de territórios desabitados 
foi uma forma bastante comum de aparecimento de um novo ente estatal e de 
aquisição de território por Estado já existente. Como exemplo, citamos a 
aquisição de terras na América por Portugal e Espanha. Atualmente, como não 
mais existem territórios desabitados, essa forma de surgimento de Estado caiu 
em desuso. 
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São Paulo: Saraiva, 2008!
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Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009!
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Outra possibilidade de surgimento de Estados, bastante comum no 
passado, era por meio da guerra de conquista. Todavia, a conquista de um 
território pelas armas não é mais considerada legítima perante o direito 
internacional. Assim, essa forma de surgimento de Estados também caiu em 
desuso. 
Historicamente, observa-se alguns fenômenos pontuais quanto à 
expansão de domínio territorial, o que já ocorreu por meio de cessão 
onerosa (EUA comprou o Alasca da Rússia) ou mesmo através de decisão de 
uma organização internacional (o Estado de Israel foi criado por decisão da 
ONU). 
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) já foi levada a se manifestar por 
diversas vezes no que diz respeito a limites territoriais. Em suas decisões, a 
CIJ tem reiteradamente reconhecido o princípio do “uti possidetis juris”. 
Conforme afirma Rezek22, a CIJ não atribui território, limitando-se a dizer, à 
luz do direito, a quem pertence determinada área. 
Atualmente, o que é mais comum é a formação de um Estado a partir 
de três situações diferentes: 
a)- Quando um Estado surge ao se separar de um outro Estado 
do qual fazia parte (emancipação). O Brasil, por exemplo, era colônia de 
Portugal, tendo separado sua população e território deste com a independência 
conquistada em 1822. Os Estados Unidos e os países latino-americanos 
também surgiram desta forma, na maioria das vezes após guerras de 
libertação. No início de 2011, um referendo ocorrido no Sudão determinou o 
surgimento de um novo Estado: o Sudão do Sul. 
b)- Quando um Estado é dissolvido totalmente. Como exemplo, 
citamos o Império Austro-Húngaro, que após a Primeira Guerra Mundial foi 
dissolvido, dando origem à Áustria, Hungria e Tchecoslováquia. A dissolução da 
União Soviética também resultou na criação de vários Estados, tais como a 
Federação Russa, a Ucrânia, a Geórgia e a Bielo-Rússia. 
c)-Quando dois ou mais Estados se fundem para formar um 
novo (fusão). Esse modo de formação ocorre quando um estado-núcleo 
absorve outras entidades, passando a formar um novo estado. Essa fusão 
poderá ocorrer pacificamente ou por meio de conquistas. Um exemplo seria a 
Itália, que surgiu da fusão de Modena, Parma, Toscana e Reino de Nápoles ao 
Reino da Sardenha e Piemonte. 
 
 
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São Paulo: Saraiva, 2008. 
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3.4- Extinção e Sucessão de Estados: 
Segundo Valério Mazzuoli23, a extinção dos Estados pode ser total ou 
parcial. A extinção total seria aquela em que o Estado perde um de seus 
elementos constitutivos essenciais, o que coloca um fim em sua personalidade 
jurídica de direito internacional. A extinção parcial, por sua vez, ocorre 
quando o Estado perde parcela de sua soberania, tornando-se semi-soberano. 
Parte da doutrina entende, todavia, que não há que se falar em extinção 
parcial, mas tão somente em extinção total. 
As principais formas de extinção de um Estado são a anexação total 
ou parcial, a fusão e o desmembramento. Com o desaparecimento do ente 
estatal, surge a necessidade de definir o que ocorre em relação aos seus bens 
e obrigações, assim como no que diz respeito aos compromissos que tenha 
assumido internacionalmente. Trata-se do problema da sucessão de Estados, 
que é regulado por normas consuetudinárias e convencionais. 
A sucessão em matéria de tratados é regulada pela Convenção 
das Nações Unidas sobre a Sucessão de Estados em matéria de Tratados de 
1978, que ainda não está em vigor para o Brasil. Essa convenção estabelece, 
como regra geral, que a sucessão é regulada pelo texto do próprio 
tratado, dependendo, ainda, da forma pela qual se extinguiu o Estado. 
Vejamos algumas situações hipotéticas: 
1)- O Estado X e o Estado Y se unem para formar o Estado Z 
(fusão de Estados). Nessa situação, o que ocorre com as obrigações 
assumidas pelos Estados X e pelo Estado Y (tratados bilaterais e multilaterais)? 
Salvo disposição contrária, todos os tratados multilaterais de que o Estado X 
e o Estado Y faziam parte passam a obrigar também o Estado Z. Já em relação 
aos tratados bilaterais, estes poderão continuar a existir, a
depender do 
interesse dos outros Estados que deles eram partes contratantes. 
2)- O Estado X deixa de existir, dando origem aos Estados Y e 
Z (desintegração). Mais uma vez perguntamos: e agora, o que ocorrerá com 
as obrigações assumidas pelo Estado X? Nessa situação, os Estados sucessores 
Y e Z não serão obrigados a cumprir os tratados multilaterais de que X era 
parte. Todavia, existe a possibilidade de que eles se obriguem a eles por meio 
de adesão feita por “notificação de sucessão”. Em relação aos tratados 
bilaterais, somente será possível a sucessão caso a outra parte se manifeste 
favoravelmente à intenção do sucessor. 
3)- O Estado X continua existindo, mas surge o Estado Y a 
partir do desmembramento de parte do território do Estado X 
(secessão). Nesse caso, o Estado Y não sucederá o Estado X nos tratados 
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!MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
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bilaterais, salvo se houver interesse das partes. Já nos tratados 
multilaterais, a sucessão fica na dependência de aprovação de “notificação de 
sucessão” feita pelo Estado Y. 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
15. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- O Estado J perdeu, por secessão, 
parte de seu território, surgindo um novo Estado, K. Nessa situação, o 
Estado K não sucede o Estado J nos acordos bilaterais firmados por 
este e deve enviar uma notificação de sucessão para aderir aos 
tratados coletivos, observados, neste último caso, os limites impostos 
para o ingresso de novos Estados-partes. 
Comentários: 
Nesse caso, o Estado K não sucede o Estado J nos acordos bilaterais, 
a menos que haja interesse entre as partes. Já nos acordos multilaterais, o 
Estado K deverá emitir uma notificação de sucessão, a ser aprovada pelos 
demais contratantes. Questão correta. 
16. (OAB 2006.2)- No caso de sucessão de Estados, a convenção da 
ONU que trata da sucessão em matéria de tratados tem por princípio 
básico que os tratados são transmissíveis obrigatoriamente. 
Comentários: 
A regra geral prevista na convenção da ONU que trata do assunto é 
que a sucessão é regulada pelo texto do próprio tratado. Questão errada. 
 
3.5- Direitos dos Estados: 
Quando um Estado nasce e ingressa no plano internacional, ele passa 
a gozar dos direitos reconhecidos pelo direito internacional, bem como se 
obriga aos deveres por este impostos. 
Segundo a moderna doutrina do direito internacional, em respeito ao 
princípio da isonomia, não há que se discutir a igualdade jurídica entre os 
Estados, de forma que os direitos de que podem gozar os Estados mais 
poderosos, também o poderão os mais fracos. Os principais direitos 
fundamentais são os enumerados a seguir: 
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- Direito à liberdade: O direito à liberdade confunde-se com o 
conceito de soberania, que hoje é entendida como uma noção relativa. Os 
Estados têm soberania em seus assuntos internos (soberania interna) e no 
plano internacional (soberania externa). Ser soberano no plano interno 
significa ter liberdade de organização política (escolha da melhor forma de 
governo), formular suas próprias leis, aplicar a justiça às pessoas e coisas que 
se encontram em seu território e ainda ter o domínio sobre este. Por sua vez, 
a soberania no plano internacional significa a capacidade que tem um Estado 
de celebrar acordos internacionais, de declarar guerra e paz e de estabelecer 
relações diplomáticas. 
O Estado possui, portanto, capacidade de autodeterminação, isto 
é, capacidade de definir seu próprio destino de maneira livre. Ele não 
reconhece nenhuma vontade acima de si próprio. Entretanto, não cabe mais 
afirmar que a soberania é absoluta, uma vez que a sociedade internacional é 
regida por normas jurídicas às quais o Estado deve se submeter. 
- Direito à igualdade: Todos os Estados são iguais perante o direito 
internacional, sendo isso declarado em diversas normas de direito positivo, 
como por exemplo a Carta da ONU, que estabelece em seu preâmbulo que a 
referida Organização “é baseada no princípio da igualdade soberana de 
todos os seus Membros”. As principais conseqüências da igualdade jurídica 
entre os Estados são: 
1)- Todos os Estados terão direito de voto em questões decididas em 
âmbito internacional e cada voto terá o mesmo peso. Perceba-se que tal 
preceito não se aplica às decisões tomadas pelo Conselho de Segurança da 
ONU, órgão no qual os membros permanentes possui poder de veto. 24 
2)- Nenhum Estado pode reclamar jurisdição sobre outro, ou seja, 
existem certos assuntos que são da esfera de atuação exclusiva de um Estado, 
não tendo os outros qualquer ingerência sobre estes. 
- Direito ao respeito mútuo: O direito ao respeito mútuo consiste 
no direito de um Estado de ser tratado com consideração pelos demais Estados 
e de exigir que seus direitos sejam respeitados. Com base nesse princípio, um 
Estado não deve atentar contra a integridade territorial de outro, nem 
violar suas fronteiras. 
- Direito de defesa e conservação: Segundo Accioly, o direito de 
defesa e conservação abrange todos os atos necessários à defesa do 
estado contra os inimigos internos ou externos, tais como a adoção de 
leis penais, a organização de tribunais repressivos, a prática de medidas de 
ordem policial, a expulsão de estrangeiros nocivos à ordem ou à segurança 
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24 Na aula sobre Organizações Internacionais, estudaremos mais detalhadamente sobre o 
Conselho de Segurança da ONU. 
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públicas, a proibição da entrada de indesejáveis, a celebração de alianças 
defensivas e a organização da defesa nacional. 
O direito à defesa e à conservação não é, no entanto, absoluto, mas 
limitado pelo direito à existência e à conservação dos outros Estados. O uso 
unilateral da força, mesmo em casos de legítima defesa, tem limites 
estritamente estipulados pelo direito internacional. Dessa forma, a legítima 
defesa somente existe em face de uma agressão injusta e atual contra a qual o 
emprego da violência é o único recurso possível. 
- Direito internacional do desenvolvimento: A igualdade jurídica 
entre os Estados contrastava, e muito, com a realidade do desenvolvimento 
desigual entre estes. Percebendo que a apregoada igualdade jurídica levava à 
criação de cada vez maior desigualdade econômica, o direito internacional 
passou a levar em consideração o direito do desenvolvimento. Isso representa 
uma tentativa de reduzir o desequilíbrio entre os países mais desenvolvidos e 
os países em desenvolvimento. 
É possível perceber na ordem jurídica internacional diversos 
dispositivos cujo objetivo é promover a inserção equitativa dos países em 
desenvolvimento na economia internacional. A título de exemplo, citamos os 
acordos internacionais firmados no âmbito da OMC, que prevêem um 
tratamento especial e diferenciado a favor dos países em desenvolvimento. 
Citamos também a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e 
Desenvolvimento), organização internacional criada para “olhar o lado” das 
economias menos favorecidas. 
- Direito de jurisdição:
Todo Estado tem o direito de exercer sua 
jurisdição no seu território e sobre sua população. O Estado exerce no seu 
domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa 
e jurisdicional (F. Rezek). Portanto, ele exerce a generalidade da jurisdição. 
 
3.6- Deveres dos Estados: 
A grande ênfase da doutrina é colocada nos direitos internacionais 
dos Estados, mas seria mais coerente com o fundamento do direito 
internacional se o foco fosse nos deveres. 
 O dever fundamental dos Estados, em respeito à 
autodeterminação dos povos é o da não-intervenção. Accioly25 conceitua 
intervenção da seguinte forma: 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25
! ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 
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“Intervenção em direito internacional é a ingerência de um 
Estado nos negócios peculiares, internos ou externos, de 
outro Estado soberano com o fim de impor a este a sua 
vontade.” 
Podemos enumerar três características de uma intervenção: 
a) Imposição da vontade exclusiva do Estado que a pratica 
b) Existência de dois ou mais Estados soberanos 
c) Ato abusivo, isto é, não baseado em compromisso internacional. 
Embora o dever por excelência dos Estados seja o de não-
intervenção, ao longo do tempo, várias foram as intervenções ocorridas com a 
invocação de diferentes motivos, sejam eles humanitários, para proteção de 
nacionais ou como forma de sanção. 
Vejamos algumas formas de intervenção julgadas legítimas pelo 
direito internacional: 
- Intervenção em nome do direito de defesa e de conservação: 
Todo Estado tem o direito de adotar medidas visando à sua defesa e 
conservação. No entanto, essas medidas são limitadas pelo direito 
internacional e pela Carta da ONU, que regula os limites da legítima defesa. 
- Intervenção para a proteção dos direitos humanos: A Carta 
das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao 
reconhecerem internacionalmente os direitos humanos, deram-lhes uma 
grande importância no plano internacional. Tal importância a que foram 
alçados, que aumenta gradativamente com o passar dos tempos, tem levado 
alguns governos a julgar que seu desconhecimento é motivo para uma 
intervenção. 
- Intervenção para a proteção de interesses de nacionais: A 
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 estabelece que todo 
Estado tem o direito de proteger os seus nacionais no exterior. A proteção 
desses nacionais no exterior deve ser realizada eminentemente por meio de 
missões diplomáticas. O que ocorre, no entanto, é que a proteção diplomática 
vem acompanhada muitas vezes de outros meios de pressão, tais como a 
adoção de restrições econômico-financeiras ou mesmo envio de tropas 
armadas. 
Ainda sobre a não-intervenção, é importante destacarmos a 
existência de duas doutrinas: 
1)- Doutrina Monroe: Em 1823, o Presidente dos Estados Unidos 
James Monroe enumerou uma série de princípios destinados a dirigir a política 
exterior do país, dentre os quais destacam-se: 
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- O continente americano não pode se sujeitar, no futuro, à ocupação 
por nenhuma potência europeia. 
- É inadmissível a intervenção de potência europeia nas questões 
internas ou externas de qualquer país americano. 
- Os Estados Unidos não intervirão nas questões pertinentes a 
qualquer país europeu. 
A Doutrina Monroe, como se vê, foi a criadora, entre os países da 
América Latina, da ideia do princípio da não-intervenção. Posteriormente, com 
o fortalecimento dos Estados Unidos, a doutrina Monroe foi perdendo a razão 
de ser para este país e os Estados Unidos passaram a ter um novo ponto de 
vista sobre a questão da não-intervenção. Como forma de justificar a 
intervenção por ele realizada nos países da América Latina, apoiava-se na ideia 
de que tinham o direito de intervir nos países latino-americanos a fim de 
evitar que qualquer potência estrangeira o fizesse. 
2)- Doutrina Drago: A Venezuela teve seus portos bombardeados 
em 1902 por potências europeias com o objetivo de que este país pagasse as 
dívidas que havia contraído. Essa atitude causou profunda indignação nos 
países latino-americanos, o que motivou o Ministro das Relações Exteriores da 
Argentina a pronunciar-se, criando a ideia que passou a ser conhecida por 
Doutrina Drago. Segundo Drago, “a dívida pública não pode motivar a 
intervenção armada e, ainda menos, a ocupação material do solo das 
nações americanas por uma potência europeia.” 
Por fim, destacamos que dentre os princípios proclamados pela Carta 
das Nações Unidas encontra-se o seguinte, relacionado com a não-
intervenção: 
“Todos os Membros deverão evitar em suas relações 
internacionais a ameaça ou o uso da força contra a 
integridade territorial ou a independência política de 
qualquer estado ou outra ação incompatível com os 
propósitos das Nações Unidas.” 
Não se considera haver intervenção quando uma ação coletiva 
decorre de compromisso assumido formalmente em tratado multilateral, como 
por exemplo a Carta da UNU, que confere ao Conselho de Segurança poderes 
para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. 
Vejamos algumas questões de provas anteriores! 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
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17. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados-2002) A não ser 
em situações especiais, como o desrespeito às normas de comércio 
internacional, os Estados têm o dever de não intervir nos assuntos 
internos de outros Estados. 
Comentários: 
Segundo a doutrina, o desrespeito às normas de comércio 
internacional não enseja intervenção. Questão errada. 
 
3.7- Reconhecimento de Estado X Reconhecimento de Governo: 
3.7.1- Reconhecimento de Estado: 
Uma vez que tenham sido reunidos os elementos que constituem o 
Estado (território, população e governo soberano), o governo da nova entidade 
buscará o seu reconhecimento pela comunidade internacional. Tal 
reconhecimento nem sempre é algo simples e pode demorar anos e anos para 
ser conquistado. Citamos o exemplo do Brasil, que teve sua independência 
proclamada em 1822, mas só obteve reconhecimento de Portugal em 1825. 
Segundo Mazzuoli26, o reconhecimento de um Estado é um direito 
que este possui e, ao mesmo tempo, um dever dos outros componentes da 
sociedade internacional. Nesse sentido, só caberia o não-reconhecimento 
quando um Estado tiver sido criado em desacordo com o direito internacional. 
Opondo-se a essa tese, Portela27 considera que o reconhecimento é ato 
discricionário do Estado. Essa última posição é a que consideramos mais 
segura para a prova, embora seja importante conhecer o debate doutrinário 
em torno dessas duas visões. 
“Mas Ricardo, o que significa reconhecer um Estado?” 
O reconhecimento significa a decisão do governo de um Estado já 
existente de aceitar outra entidade como equivalente a si próprio. É um ato 
jurídico unilateral, de natureza política, nem sempre explícito, por meio 
do qual um Estado demonstra que acredita estar presente em uma entidade a 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
26
!MAZZUOLI, Valério
de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
27
!PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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personalidade jurídica de direito internacional idêntica à que possui. O art. 14 
da Carta da OEA referenda esse entendimento, dispondo que “O 
reconhecimento significa que o Estado que o outorga aceita a personalidade do 
novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro, determina 
o direito internacional.” 
Segundo a doutrina dominante, o ato de reconhecimento do 
Estado tem natureza meramente declaratória e não constitutiva. 
“E o que quer dizer essa natureza declaratória, Ricardo?” 
A natureza declaratória quer dizer, meus amigos, que o organismo 
que reúna todos os elementos constitutivos do Estado tem o direito de ser 
assim considerado e não deixa de possuir a qualidade de Estado pelo fato de 
assim não ser reconhecido. Ou seja, a existência do Estado precede o seu 
reconhecimento. Esse também é o entendimento do art.13 da Carta da OEA, 
que afirma que: “A existência política do Estado é independente do seu 
reconhecimento pelos outros Estados.” 
Apesar desse entendimento, existem autores, como Marcelo Dias 
Varella28, que afirmam que o reconhecimento do Estado tem natureza 
constitutiva. Segundo essa visão, o reconhecimento funcionaria como uma 
forma de controle dos Estados mais poderosos sobre o surgimento de outros 
entes estatais. 
O reconhecimento do Estado pode ocorrer de formas bem 
diversificadas, não havendo uma regra que determine como este deve ser 
feito. Assim, poderá haver o reconhecimento expresso ou o 
reconhecimento tácito. Ou ainda, poderá haver o reconhecimento mútuo 
ou por meio de um tratado bilateral em que dois Estados pactuantes 
reconhecem a existência de um terceiro. 
O reconhecimento de um Estado pode ser coletivo ou individual. 
Será ele individual quando o ato de reconhecimento for emanado de um 
Estado isoladamente. Por sua vez, será coletivo quando o reconhecimento for 
concedido em um mesmo ato por dois ou mais Estados. 
O ato de reconhecimento de um Estado opera efeitos retroativos 
(ex tunc). Assim, ao reconhecer a existência de um Estado, o outro Estado 
reconhece como válidos todos os atos dele emanados desde o momento em 
que presentes todos os elementos constitutivos próprios da entidade estatal. 
Outra característica do ato de reconhecimento de Estado é que ele 
possui natureza irrevogável. Assim, se um Estado X manifestou seu 
reconhecimento em relação a um Estado Y, não dá pra voltar atrás, ainda que 
tenha havido a ruptura das relações diplomáticas entre eles. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
28 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 
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“Tudo bem Ricardo, eu entendi até agora! Mas o que implica o 
reconhecimento do Estado?” 
Excelente pergunta! Se o Estado não obtém o reconhecimento 
pela sociedade internacional, sua participação na ordem jurídica global fica 
limitada. Com efeito, ele não poderá exercer algumas das prerrogativas 
tipicamente estatais, como celebrar tratados, manter relações diplomáticas 
e fazer parte de organizações internacionais. 
O reconhecimento implica que o Estado que o outorga aceita a 
personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e 
outro, determina o direito internacional. O reconhecimento mútuo é 
condição sine qua non para a celebração de tratados bilaterais. Já no 
que diz respeito à celebração de tratados multilaterais, o fato de um Estado 
dele ser parte não implica no reconhecimento de todos os demais pactuantes. 
Vamos entender melhor isso com alguns exemplos! 
1)- Se o Estado X não tem o reconhecimento por parte do Estado Y, 
os dois não poderão celebrar tratados bilaterais entre si. Mas se o mesmo 
Estado X for reconhecido pelo Estado Z, com este já será possível a celebração 
de um tratado bilateral. 
2)- Se o Estado X não for reconhecido pelo Estado Y e pelo Estado Z, 
mas for reconhecido pelos Estados A e B, não há empecilho para que 
estes cinco Estados celebrem entre si um tratado multilateral. 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
18. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados-2002)- A 
personalidade jurídica internacional de um Estado é constituída a 
partir do seu reconhecimento pelos demais Estados da sociedade 
internacional. 
Comentários: 
A personalidade jurídica de direito internacional dos Estados 
independe de seu reconhecimento. Conforme já comentamos, o ato de 
reconhecimento de Estado tem natureza meramente declaratória. Questão 
errada. 
19. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Um Estado tornou-se 
independente recentemente. Nessa situação, para que esse Estado 
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seja digno de reconhecimento pelos demais Estados da sociedade 
internacional, é necessário que ele possua população, território, 
governo e soberania, além de ter seu pedido de reconhecimento aceito 
pelos demais Estados até cinco anos a contar da data de sua 
independência. 
Comentários: 
É possível que um Estado seja reconhecido por alguns Estados e por 
outros não. Adicionalmente, a existência de um Estado prescinde de seu 
reconhecimento pela sociedade internacional. Questão errada. 
20. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Em 1970, o Estado A tornou-se 
independente, recebendo, em 1972, o reconhecimento do Estado B. Em 
1980, esses dois estados romperam relações diplomáticas por 
defenderem interesses comerciais divergentes. Nessa situação, o 
Estado B, segundo o direito internacional, pode revogar o 
reconhecimento anteriormente declarado. 
Comentários: 
O ato de reconhecimento do Estado possui natureza irrevogável, 
motivo pelo qual a questão está errada. 
21. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- Um Estado é recém-
independente. Nessa situação, dois outros Estados podem, segundo o 
direito internacional, celebrar um tratado internacional para exprimir o 
reconhecimento conjunto do Estado recém-independente. 
Comentários: 
O reconhecimento de Estado pode ser individual ou coletivo. Ele será 
coletivo quando, em um mesmo ato, dois ou mais Estados concederem seu 
reconhecimento. Uma das formas de externar o reconhecimento de Estado é 
por meio da celebração de tratado internacional. Questão correta. 
22. (Juiz Federal- 5ª Região- 2006)- O Estado X, situado no 
continente americano, tornou-se independente em 2000. Em 2003 o 
Estado Y, também situado no continente americano, declarou o 
reconhecimento do Estado X. Nessa situação, somente a partir do 
referido reconhecimento os atos emanados pelo Estado X serão aceitos 
como válidos pelos tribunais do Estado Y. 
Comentários: 
Os atos do Estado Y serão reconhecidos como válidos desde o 
momento em que presentes no Estado X os elementos constitutivos de Estado, 
ou seja, desde 2000. Em outras palavras, o ato de reconhecimento de Estado 
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opera efeitos retroativos, ou falando mais bonito, tem efeitos “ex tunc”. 
Questão errada. 
 
3.7.2- Reconhecimento de Governo: 
Enquanto o reconhecimento de Estado ocorre quando do nascimento 
deste, o reconhecimento de governo tem premissas diferentes. Em uma 
situação em que há necessidade de reconhecimento de governo, o Estado 
já existe e é reconhecido no plano internacional como dotado de 
personalidade jurídica de direito internacional. 
O que ocorre, no entanto, é uma ruptura da ordem política 
vigente e instauração de um novo modelo de poder, por meio de uma 
revolução ou de um golpe de Estado. A ruptura da ordem política é marcada, 
portanto, por um fato que é contrário às prescrições constitucionais vigentes 
no momento. Não há que se falar em reconhecimento de governo quando, por 
meio de eleições, um novo partido ascende ao controle político de um país. 
Em relação ao reconhecimento de governo, destacam-se duas teorias 
principais: a doutrina Tobar e a doutrina Estrada. 
A doutrina Tobar provém do pensamento do Ministro das Relações 
Exteriores da República do Equador Carlos Tobar, segundo o qual os 
governos deveriam se recusar a reconhecer um governo que surja de 
uma mudança abrupta na ordem política até que este possua 
legitimidade popular. O pensamento de Carlos Tobar fica bem expresso nas 
linhas seguintes: 
“O meio mais eficaz para acabar com essas mudanças 
violentas de governo, inspiradas pela ambição, que tantas 
vezes têm perturbado o progresso e o desenvolvimento das 
nações latino-americanas e causado guerras civis 
sangrentas, seria a recusa, por parte dos demais governos, 
de reconhecer esses regimes acidentais, resultantes de 
revoluções, até que fique demonstrado que eles contam 
com a aprovação popular.” 
Já a doutrina Estrada provém do pensamento do Secretário de 
Estado das Relações Exteriores do México, Genaro Estrada, segundo o qual os 
países não devem se pronunciar no sentido de outorgar 
reconhecimento de governo. Segundo a Doutrina Estrada, essa é uma 
prática desonrosa, que fere a soberania das nações e não se deve qualificar em 
momento algum o direito que têm os países de aceitar, manter ou substituir 
seus governos ou autoridades. A base da Doutrina Estrada é a não-
intervenção, a qual não proíbe a ruptura de relações diplomáticas com o 
Estado em que um novo governo foi instaurado. O que não deve ser feito, 
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segundo essa teoria, é a formulação e manifestação expressa de juízo de valor 
sobre o governo estrangeiro. 
Comparando as duas doutrinas, percebemos que pela doutrina 
Tobar o reconhecimento de governo é expresso, enquanto na doutrina 
Estrada, o reconhecimento é tácito, já que não há juízo de valor expresso 
sobre a qualidade ou a legitimidade dos novos detentores do poder, mas tão 
somente uma ruptura ou manutenção das relações diplomáticas, conforme for 
julgado conveniente. 
Atualmente, os países têm utilizado em muito maior proporção a 
doutrina Estrada, não emitindo pronunciamentos a respeito da legitimidade dos 
novos governos. Na prática, a doutrina Tobar sofreu grande desgaste e é cada 
vez menos utilizada. O que se verifica nos dias de hoje é a simples ruptura das 
relações diplomáticas – sem o pronunciamento formal recusando o 
reconhecimento - ou a preservação de tais relações, quando se entenda que 
isso seja mais conveniente. 
Segundo Portela29, o reconhecimento de governo é ato 
unilateral, discricionário, não-obrigatório, irrevogável e 
incondicionado. 
 
3.8- Imunidade à Jurisdição Estatal: 
3.8.1- Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 x 
Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963: 
Os representantes de um Estado perante o outro gozam de certos 
privilégios e garantias, os quais estão previstos atualmente na Convenção de 
Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção de Viena sobre 
Relações Consulares de 1963. 
Em primeiro lugar, cabe-nos destacar a diferença entre o serviço 
diplomático e o serviço consular. Qual a diferença entre um diplomata e 
um cônsul? Em rápidas palavras, podemos dizer que o diplomata é o 
representante do Estado em suas relações internacionais, enquanto o 
cônsul é o responsável por oferecer aos nacionais proteção e 
assistência no exterior – assuntos privados. Assim, o diplomata representa 
o Estado de origem frente à soberania local, enquanto o cônsul representa o 
Estado de origem para o fim de cuidar, onde atue, de interesses privados. 
Para que possam exercer com tranquilidade suas funções no exterior, 
esses representantes do Estado possuem certos privilégios e garantias. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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!PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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Esses privilégios e garantias representam uma espécie de imunidade de 
jurisdição, ou seja, definem situações em que o Estado soberano não poderá 
submeter os representantes de outros Estados à sua jurisdição. 
Várias teorias existem sobre o fundamento e a natureza jurídica 
das imunidades diplomáticas e consulares. Afinal de contas, por que os 
diplomatas e cônsules possuem privilégios e garantias? Será que é somente 
para beneficiá-los? Seria uma espécie de prêmio? 
A resposta mais aceita atualmente é dada pela Convenção de Viena 
sobre Relações Diplomáticas, que, encampa, em seu preâmbulo, a doutrina 
funcional estabelecendo que: 
“Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é 
beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenho das funções 
das missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados;” 
Segundo Mazzuoli, as imunidades diplomáticas e consulares são 
baseadas na ficção da extraterritorialidade. Se, por ficção, os agentes 
diplomáticos e consulares são considerados representantes do soberano que os 
envia, também por ficção devem ser considerados como estando fora do 
território em que atuam. 30 
A Convenção de Viena de 1961 (sobre relações diplomáticas) 
prevê privilégios e garantias bem mais extensos do que a Convenção de 
Viena de 1963. Para ilustrar isso, Rezek apresenta o seguinte raciocínio, que, 
por sua didática, transcrevemos a seguir: 
“É indiferente ao direito internacional o fato de que inúmeros países – 
entre os quais o Brasil – tenham unificado as duas carreiras, e que 
cada profissional da diplomacia, nesses países, transite 
constantemente entre funções consulares e funções diplomáticas. A 
exata função desempenhada em certo momento e em certo país 
estrangeiro é o que determina a pauta de privilégios. Assim, ao 
jovem diplomata brasileiro que atue como terceiro-secretário de 
nossa embaixada em Nairobi aplica-se a Convenção de 1961 – não a 
de 1963 -, e ele terá uma cobertura mais ampla que aquela de goza o 
cônsul geral do Brasil em Nova York, veterano titular de um dos 
postos mais disputados da carreira.” 31 
 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
30
!MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
31 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 
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