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Tensão pré-menstrual A síndrome pré-menstrual (SPM), também conhecida como tensão pré-menstrual (TPM), é representada por um conjunto de sintomas físicos, emocionais e comportamentais, que apresentam caráter cíclico e recorrente, iniciando-se na semana anterior à menstruação e que aliviam com o início do fluxo menstrual. Esses sintomas ocorrem de uma a duas semanas antes do início da menstruação, ou seja, durante a fase lútea, sendo tipicamente grave o suficiente para interferir em alguns aspectos da vida. Quando os sintomas são leves a moderados, tendem a iniciar poucos dias antes do fluxo e apresentam menor interferência na vida cotidiana. Porém, quando os sintomas são intensos, costumam ocorrer com frequência a partir da ovulação, durando em torno de 14 dias. Entre 3 e 8% das mulheres têm sintomas muito intensos, provocando interferência nas suas atividades diárias e comprometimento da sua produtividade e qualidade de vida, o que constitui o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). A prevalência dos sintomas da SPM é de 75% a 80% nas mulheres em idade reprodutiva e com grande variação no número, duração e gravidade dos sintomas. Já a prevalência do TDPM é de 3% a 8% e os sintomas estão relacionados ao humor, como déficit de funcionamento social, profissional e familiar. O preciso mecanismo etiológico envolvido na SPM permanece desconhecido. A menstruação em si não é fundamental, visto que os sintomas se mantêm após histerectomia. Parece ser consequência de uma interação complexa e pouco compreendida entre hormônios esteroides ovarianos, peptídeos opioides endógenos, neurotransmissores centrais, prostaglandinas, sistemas autonômicos periféricos e endócrinos. Entretanto, a atividade cíclica ovariana e os efeitos do estradiol e progesterona sobre os neurotransmissores (serotonina e ácido gama- aminobutírico) apresentam-se como um dos possíveis mecanismos fisiopatológicos que precipitariam a ocorrência da SPM em mulheres mais sensíveis. O ácido gamabutírico (GABA), interage com os hormônios esteroides. Os níveis de GABA são afetados pelos níveis de progesterona e seus metabólitos. Como o complexo receptor GABA é o maior sítio de ação dos benzodiazepínicos especula-se que alterações no sistema gabaérgico induzidas por progesterona possam estar envolvidas na patogênese da síndrome. Com o uso dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), as pacientes apresentam melhora dos sintomas a partir do primeiro ciclo, e parece que os melhores resultados são com o tratamento intermitente, característica de resposta a essas medicações única dessa síndrome. Isso sugere que a via serotoninérgica esteja envolvida na patogênese da SPM. O nível de endorfinas sérico aumenta na metade da fase lútea, sendo indetectável no período pré-menstrual. As endorfinas podem afetar o humor. O sintoma psicológico mais frequente é a labilidade de humor, ocorrendo em até 80% das pacientes; outros são ansiedade, irritabilidade, depressão, sentimento de desvalia, insônia ou aumento de sonolência, diminuição da memória, confusão, concentração diminuída e distração. As queixas físicas comuns incluem aumento do volume abdominal e sensação de fadiga, cefaleia tensional, enxaqueca, mastalgia, dores generalizadas, aumento de peso, Saúde da Mulher Por: ANA CLARA MELO fogachos, tonturas, náuseas e palpitação. Entre as mudanças de comportamento, são comuns mudanças nos hábitos alimentares, aumento de apetite, avidez por alimentos específicos (particularmente doces ou comidas salgadas), não participação em atividades sociais ou profissionais, maior permanência em casa, aumento de consumo de álcool e aumento ou diminuição da libido. A intensidade e a qualidade dos sinais e sintomas encontrados são muito variáveis de mulher para mulher, e têm sido relatados desde a menarca até a menopausa. A maioria das mulheres busca ajuda para a TPM por volta dos 30 anos, após 10 anos ou mais convivendo com os sintomas. Algum grau de desconforto durante a fase lútea deve ser considerado normal. Quando se tem até três desses sintomas presentes (físicos ou emocionais), a SPM é considerada leve e, até quatro sintomas, moderada. O manejo inicial consiste em educação e orientação. As pacientes e seus familiares devem conhecer as características da síndrome pré-menstrual, pois ela é uma patologia endocrinoginecológica de causa incerta e não proveniente da imaginação da mulher. Apoio médico, empatia, discussão e paciência parecem ser bastante úteis. O tratamento deve ser individualizado, iniciando com intervenções no estilo de vida. Dentre as intervenções não medicamentosas, são propostas mudanças no estilo de vida, incluindo-se a prática de exercícios aeróbicos e modificações na dieta e uso de preparados herbários. Recomenda-se que as pacientes tenham alimentação equilibrada – proteínas, fibras e carboidratos adequados e baixa ingestão de gorduras saturadas; alimentos muito salgados ou muito doces devem ser evitados por poderem produzir retenção hídrica e consequente desconforto. Bebidas como café, chá e à base de cola devem ser evitadas, pois são estimulantes, podendo agravar a irritabilidade, a tensão e a insônia. Também o álcool e outras drogas podem piorar os sintomas psicológicos. Estudos mostram o uso de anticoncepcionais combinados para o alívio dos sintomas, especialmente os que contém drosperinona. Uma possibilidade seria a tomada de contraceptivo oral contínuo. A formulação contendo 30 µg de etinilestradiol+3 mg de drospirenona tem sido considerada eficaz no tratamento dos sintomas pré-menstruais. A drospirenona é um progestágeno derivado da espironolactona com propriedades progestogênicas, mineralocorticoides e antiandrogênicas e sem atividade estrogênica e androgênica. A atividade antimineralocorticoide contrabalançaria o efeito de retenção hídrica presente nos anticoncepcionais combinados de baixa dose e poderia combater sintomas de edema, ganho de peso e mastalgia associados ao período pré-menstrual. Atualmente, a formulação de 20 µg de etinilestradiol+3 mg de drospirenona no regime de 24/4 foi aprovada para tratamento de sintomas emocionais e físicos de TDPM. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), os quais incluem fluoxetina, paroxetina, sertralina e outros, são atualmente considerados pertencentes à classe farmacológica mais eficaz no tratamento dos sintomas relacionados à SPM. Os diuréticos têm sido muito usados para tratar as pacientes com síndrome pré-menstrual, particularmente aquelas com queixas de retenção líquida, ganho de peso e aumento de volume abdominal. Na fase lútea do ciclo, a progesterona inibe o efeito da aldosterona no túbulo distal, porém esse fenômeno ocorre indistintamente nas pacientes com e sem síndrome pré-menstrual. É importante salientar que a SPM tem uma melhora conhecida com placebo e como os sintomas pré-menstruais são crônicos e recorrentes, o tratamento deve considerar os custos e as reações adversas.
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