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Comunicação e Expressão Unidade de Aprendizagem 03 Visão geral da noção de texto: dissertação Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de estruturar e redigir dissertações com coerência e clareza de apresentação de ideias. Capacidade de definir, ordenar e discutir com precisão informações e ideias, valendo-se dos recursos apropriados à construção de textos dissertativos informativos ou polêmicos. Dar expressão a informações e ideias na modalidade textual estudada, em linguagem adequada à situação de produção do texto. 01 Comunicação e Expressão Apresentação Nesta aula, você aprenderá a estruturar e redigir uma dissertação, partindo do reconhecimento da organização e da natureza essencialmente argumentativa desse tipo de texto. Aprenderá também a expor e relacionar ideias em cada uma das partes da dissertação; dominando essas informações, você poderá realizar tarefas de composição textual exigidas nos ambientes profissional e acadêmico. Geekcats. Leandro Fávero e Michelle S. Fávero. Disponível em http://geekcats. com/ 02 Comunicação e Expressão Na situação representada nesses quadrinhos, o gato preto e o malhado reagem com estranheza à fala do branco, certamente porque a linguagem deste é abstrata, com jeito de especulação filosófica... Ele fala como se dissertasse acerca de um tema cuja complexidade contrasta visivelmente com os temas singelos comentados pelos outros dois. Por certo você já deparou com a necessidade de redigir um texto de dissertação. Enganam-se aqueles que pensam que ela pode ser improvisada; esse tipo de texto tem uma organização muito precisa, para que seja realmente eficaz. Ao longo desta aula, você poderá perceber que se trata de um gênero discursivo de extrema importância, que merece sua atenção, de modo especial. Trataremos de questões que devem facilitar a redação de textos dissertativos, presentes em atividades de caráter acadêmico (artigos, monografias) e das organizações empresariais (relatórios, pareceres). Vamos lá? Essa modalidade de texto é temática e toma por objeto teses em torno das quais se instala uma polêmica, com a exposição de pontos de vista e argumentos que lhe dão suporte; as partes componentes do texto dissertativo são lógicas, havendo diversas formas de ordenamento das sequências textuais responsáveis pela significação do todo. A rigor, o texto dissertativo desprende-se de situações concretas e propõe-se como análise destas, ultrapassando o particular, o único, e estendendo-se a muitos casos, pessoas e situações. A construção do raciocínio do enunciador do texto para defender e combater teses dá-se pela seleção de um léxico no qual predominam vocábulos abstratos (daí o principal elemento de que decorre a natureza temática desse tipo de texto). Isso não significa que não se encontrarão na dissertação termos concretos; eles estarão presentes nela, mas somente para dar suporte à abstração. As teses do enunciador e os argumentos de que se vale para prová-las são fundadas na realidade histórica, política e humana na qual ele se insere; seu repertório (valores, leituras, estudos, experiências de vida) fornece-lhe os elementos de que necessita para desenvolver seu texto; seu objetivo sempre será conseguir a adesão do outro às ideias que defende; seu fazer é, pois, um fazer crer no que diz. Esse aspecto da dissertação confere particular relevância às relações que se estabelecem entre o enunciador do texto e aquele a quem o texto se dirige, os enunciatários. 03 Comunicação e Expressão O enunciador assume a responsabilidade sobre a afirmação / negação dos valores inscritos no texto e empreende a busca da adesão do enunciatário. O sucesso daquele será tanto maior quanto maior for a crença que este depositar tanto no discurso do enunciador quanto no objeto desse discurso. O reconhecimento da inscrição das estruturas de realidade e dos valores de cultura no texto é fundamental para que as teses apareçam alicerçadas e, portanto, passíveis de passar por testes de validade. Nesse quadro, as relações que se estabelecem entre as partes do texto serão lógicas – e não cronológicas; caberá, por conseguinte, ordenação textual por restrição, paralelismo, inclusão, alternância, causa-efeito, contradição, enumeração, entre outras formas de ordenação. Além disso, a referência a tempo e espaço no texto dissertativo tem função de deflagrar o comentário que dele se abstrai. As mudanças, as transformações presentes no texto dissertativo não são apenas relatadas; são interpretadas. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO É lugar-comum apresentar a estrutura da dissertação como sendo constituída de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Esses títulos são genéricos, aplicando- se, de resto, não somente à dissertação, mas a todo gênero de texto que pretenda objetividade, unidade de apresentação e coerência. Para que essa estrutura ganhe significação, é preciso saber que elementos caracterizam cada uma de suas partes e como desenvolvê-las. 1. Limitando o assunto e encontrando o tema Antes mesmo de pensar na Introdução, será preciso definir o recorte do assunto e o ângulo do qual será abordado – será necessário acertar o foco, fixar-se num aspecto do assunto, pois o mais das vezes ele apresenta uma generalidade tal, uma multiplicidade de opções de enfoque, que há risco de o redator perder-se no genérico e tratar o assunto superficialmente, deixando escapar aspectos de real importância para uma polêmica frutífera e criativa. Pensemos em uma sugestão de assunto como “problemas urbanos”, apresentado objetivamente como proposta de redação ou abstraído da leitura de outros textos. Esse assunto inicialmente se apresenta de forma bastante vaga para o redator, sendo, portanto, necessário limitar sua abrangência, definir seus contornos, selecionando, entre vários, o aspecto que será desenvolvido. Para abordá-lo, abrem-se várias possibilidades, tais como: • Objeto a ser considerado: metrópoles; qualquer cidade; os dois tipos de cidade, comparativamente; • Problemas: de infraestrutura (moradia, transportes, abastecimento etc.); socioculturais (educação, violência, lazer etc.). 04 Comunicação e Expressão Feita a escolha, terá sido especificado, delimitado o tema e a dissertação se desenvolverá com contornos nítidos, expondo a real capacidade de análise e de crítica do redator. Este, por sua vez, terá muito maior segurança e possibilidade de mostrar domínio do tema, lastro para tratá-lo, habilidade para expor ideias e construir argumentos. Segue-se, daí, que o primeiro passo para começar a estruturar uma dissertação é fazer o recorte do assunto, delimitar seus contornos, definir o tema. Isso é condição para que se passe à introdução, já que esta apresentará o tema ao leitor e, desde logo, apontará o ponto de vista adotado no tratamento desse tema. 2. Preparando a introdução É comum que se diga que a introdução explicita a hipótese que o texto quer provar; de fato, é nas primeiras linhas do texto que se configuram o tema e o enfoque escolhidos pelo autor. Esse enfoque fica mais bem definido se o redator traça um objetivo claro; por exemplo, seo tema da dissertação for “a crise econômica no Brasil”, o objetivo do texto pode ser definido como “mostrar de que maneira a crise econômica mundial afeta os brasileiros”. Observe os três exemplos a seguir: Exemplo 1 Entender como Tolstoi constrói sua narração não é fácil. Aquilo que tantos narradores mantêm à mostra – esquemas simétricos, vigas mestras, contrapesos, dobradiças – nele permanece oculto. Oculto não significa inexistente: a impressão que Tolstoi dá de levar tal e qual para a página escrita “a vida” (esta misteriosa entidade que para ser definida nos obriga a partir da página escrita) não passa de um produto da arte, isto é, de um artifício mais complexo que tantos outros. CALVINO, I. ‘Dois Hussardos’. In: Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 162. Nota-se que a hipótese que deverá ser provada no texto de Calvino está explicitada na primeira linha do texto: não é fácil entender como Tolstoi constrói sua narração; em seus textos, os recursos construtivos não estão evidentes. Exemplo 2 Os modelos educacionais implantados no País e institucionalizados pelas políticas governamentais em um sistema nacional de Educação demonstram uma clara desvinculação do trabalho produtivo. M.NETO,P. E. Universidade: ação e reflexão. Fortaleza: UF do Ceará, 1983. p. 32. 05 Comunicação e Expressão Nesse texto, a hipótese é a de que no Brasil não há vínculo entre os modelos educacionais e o trabalho produtivo; em outras palavras, que a educação não se põe a serviço do trabalho. Exemplo 3 A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras): o nível intelectual dos alunos que ingressam nas faculdades vem baixando a cada ano. Vez por outra, mas não com suficiente clareza e jamais com a energia que seria de esperar, fala-se na incapacidade dos alunos, em especial na sua incapacidade de redigir. Como solução, tem-se sugerido redação nos vestibulares e cursos de composição nas faculdades. Isto é tangenciar o problema e abordá-lo apenas de um lado. Não é só o aluno que está em causa; o professor também, como adiante veremos. LINS, O. Reflexões sob um Quadro-Negro. In: Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros. São Paulo: Summus, 1977. p. 79. O que o texto se propõe demonstrar é que se deve considerar também o trabalho do professor para avaliar o problema das dificuldades em redigir apresentadas pelos alunos. Tratemos um pouco da importância da introdução de um texto dissertativo para estabelecer o vínculo com o leitor. Reportemo-nos a nossas próprias experiências com leituras iniciadas e logo abandonadas e poderemos encontrar, entre os vários e insondáveis motivos que nos levaram a deixar de lado um texto de revista, jornal ou livro, a falta de entusiasmo ocasionada pela natureza “morna” do texto, pelo início pouco atraente, que deixou de cooptar-nos, deixou de instigar nosso intelecto. Uma introdução pouco (ou nada) desafiadora, que não desperte o exercício intelectual do leitor pode condenar um texto que teria boa sequência a ser desprezado antes de a sequência ser conhecida... 3. Redigindo a introdução Ao introduzir um assunto, podemos / devemos empregar recursos para atrair a atenção do leitor. Entre os muitos recursos disponíveis, lembramos os seguintes: Interrogação, citação, asserção polêmica, frase de efeito, definição, afirmação categórica, aforismo, generalização, referência histórica. Vamos examinar alguns deles. Por sua natureza, podemos dizer que a referência histórica, a citação, o aforismo e a generalização constituem formas de introduzir o tema assentadas no conhecimento de algo que se supõe seja partilhado com o leitor, podendo, por isso, fazer nascer o interesse pela argumentação em que se sustentará a hipótese supostamente partilhada. 06 Comunicação e Expressão Reportemo-nos à frase introdutória do parágrafo, já citado, de Osman Lins: A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras)... Trata-se de uma frase contendo uma generalização que abrange o próprio leitor, que está incluído na asserção do autor (a constatação é geral). Com esse recurso, o autor laça o leitor, que é desafiado a conferir como será desenvolvido o argumento de que ele próprio seria enunciador. Vamos observar, a seguir, o efeito de sentido da afirmação categórica, que se combina com um desafio à experiência do leitor, na introdução de texto dissertativo de Angélica de Moraes, publicado no Caderno 2/Cultura, de O Estado de S. Paulo de 14/05/2000, p. 10: Nada melhor para entender a extensão de um desastre do que seu avesso, ou seja, o sucesso que ocorre quando as coisas são feitas como podem e devem ser feitas. Experimente sair de alguma das áreas de maior abuso cenográfico da Bienal do Redescobrimento para outras onde houve o fundamental respeito às qualidades das obras expostas. O que se pode concluir é que a afirmação categórica pressupõe um conhecimento quase inquestionável, dado ao qual se soma o chamamento à experiência do leitor, para que faça constatações. Um outro exemplo: Claro que a história não se repete. Mas o reprimido sempre volta em nova roupagem, enquanto não é elevado à consciência e superado junto com suas condições. Europa, a mãe da modernidade capitalista, também deu à luz o fascismo e, com a versão alemã do nacional- socialismo, inaugurou o crime contra a humanidade. KURZ, R. K. A síndrome neofascista da Fortaleza Europa. In: Mais! Folha de S. Paulo, 14/05/2000. p. 14 Efeito análogo provoca o aforismo, por remeter a um conhecimento anônimo, assentado na ciência popular: “Lobo velho perde o pelo, mas não perde a manha”, ensina velho ditado que aprendi na Argentina. Serve à perfeição para o Sr X, ou ao menos para o artigo que publicou ontem nesta Folha. Nele, esse senhor entoa um hino de amor à democracia e posa de campeão da luta pela liberdade no Brasil. Falso como nota de R$ 7,50. ROSSI, C. As digitais de Maluf. In: Folha de S. Paulo, 20 agosto 1996. Texto adaptado. 07 Comunicação e Expressão Observe, ainda, o efeito de sentido da citação na introdução do texto dissertativo: O pensamento tornou-se mais imortal que nunca; ficou volátil, intangível, indestrutível. Mistura-se ao ar... Ele se transforma, agora, em revoada de pássaros, dispersa-se aos quatro ventos e escapa de uma só vez todos os pontos do ar e do espaço. Quem fala assim não é um apologista da Internet, e sim um entusiasta do livro. É Victor Hugo, que num capítulo de “Notre Dame de Paris” intitulado “Ceci Tuera Cela”, “isto matará aquilo”, afirma que a imprensa, levando a razão a todos os recantos da terra, expulsará os últimos resíduos da tirania e da superstição.Em seu conteúdo descritivo, as palavras de Hugo aplicam-se perfeitamente à nova era da comunicação digital. Mais do que nunca, o pensamento se desmaterializa, faz-se ar, voa, dispersa-se, anula o tempo e o espaço. Mas Hugo não estava elogiando uma nova tecnologia. Estava tomando posição num debate político. ROUANET, S. P. Da pólis digital à democracia cosmopolita, in Mais! Folha de S. Paulo, 21/05/2000, p. 15. A citação faz referência a uma personalidade consagrada pela cultura como especialista num determinado assunto e, com isso, a hipótese lançada pode conduzir o leitor a partilhar o reconhecimento do argumento. Os trechos a seguir exemplificam a introdução utilizando frasede efeito, chocando a opinião do leitor, pelo conteúdo às vezes agressivo e sempre polêmico: O bazar de sandices culturais que Ziraldo Alves Pinto, presidente da Funarte, enviou ao ministro da Cultura, Aluísio Pimenta, contém seis equívocos básicos – além dos que deles derivam –, a saber: (...) SUZUKI JR., M. Um ideário confuso. In: 20 textos que fizeram história. São Paulo: Folha de S. Paulo. p. 183. Na barbárie se está atolado até o pescoço. Ninguém põe em dúvida a brutalidade do cotidiano, vivendo como está as agruras da cidade e a opacidade das relações humanas. GIANOTTI, J. A. A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9. É interessante observar que a polêmica frase introdutória de Gianotti vem precedida dos seguintes comentários, feitos nas “Preliminares” de seu livro: Escrevi este texto como um panfleto, fazendo das ideias armas de combate. Dessa forma, bem apropriado a tal objetivo é o emprego de uma frase de efeito para introduzir as ideias polêmicas sobre as quais discorrerá. 08 Comunicação e Expressão A interrogação é outra maneira de introduzir texto que lança ganchos sobre o leitor: havendo uma pergunta, espera-se uma resposta; e posta aquela, cria-se a simulação de um diálogo no texto, cujo efeito de sentido será uma interação de saberes – o texto se mostrará como o espaço de construção do conhecimento. Uma amostra: Que busca o escritor? O verdadeiro escritor, isto é: o que faz da palavra escrita sua razão de viver. LINS, O. L. Op. cit., p. 43. 4. O Desenvolvimento do texto Com o desenvolvimento, começa mais especificamente o trabalho de argumentação em torno da hipótese lançada na introdução. Essa fase pode resumir-se a um único parágrafo, de uma dissertação breve, ou estender-se por páginas e páginas de texto. Num e noutro caso, não importa a extensão, no texto haverá uma ordem lógica presidindo as sequências de ideias. E, se adentramos o terreno da lógica, devemos atentar para as declarações com as quais argumentamos, pois nossos argumentos podem estar baseados em fatos, em julgamentos ou em inferências. Caso argumentemos com base em inferências, teremos como resultado apenas certezas relativas ou presunções. Quanto aos julgamentos, guardam muito de subjetivismo, são meras declarações de aprovação ou desaprovação e, por isso mesmo, tendem a levar a declarações vagas e lugares-comuns que compõem o repertório popular. Finalmente, vêm os fatos, que são acontecimentos verificáveis e, portanto, dispensados de questionamento. Vejamos como uma declaração tem maior ou menor peso argumentativo dependendo do suporte que a ela se dá: Fulano é um homem de sólida formação cultural (a) porque há muitos livros nas estantes de sua casa. ou (b) porque pertence a uma geração mais bem preparada. ou (c) porque estudou e diplomou-se na Universidade “X”. 09 Comunicação e Expressão Na construção (a), a declaração se apoiou numa inferência, sendo, pois, baixa a probabilidade de a asserção ser verdadeira e, por consequência, menor o peso argumentativo. Em (b), a base do que se declara é um julgamento, uma opinião, bastante improvável, sendo também baixo o peso do argumento. Em (c), referem-se fatos para sustentar a declaração, o que garante a probabilidade e confere maior peso ao argumento apresentado. Como já afirmamos, a construção das sequências de ideias obedece à lógica de concatenação de argumentos, e essa concatenação pode evidenciar, entre outras, as seguintes relações de sentido: Oposição, restrição, ressalva Com persistência rara, para o Brasil, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, ora como totem, ora como tabu: ou é a mitológica viagem de uma geração de heróis, ou a proeza irresponsável de um “bando de porralocas”, como se dizia então. Na verdade, a aventura dessa geração não é um folhetim de capa-e-espada, mas um romance sem ficção. O melhor do seu legado não está no gesto – muitas vezes desesperado; outras, autoritário –, mas na paixão com que foi à luta, dando a impressão de que estava disposta a entregar a vida para não morrer de tédio. Poucas – certamente uma depois dela – lutaram tão radicalmente por seu projeto, ou por sua utopia. Ela experimentou os limites de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais, existenciais, sonhando em aproximá-los todos. VENTURA, Z. 1968 – o ano que não terminou. Texto com adaptações. Enumeração O problema é que medidas como essas causam espécie, primeiro, pelos excessivos prazos de carência para que entrem em vigor, e que são quase sempre prorrogados. Essa nova resolução do Conama só valerá a partir de janeiro de 2013, para os veículos a diesel, e a partir de janeiro de 2014, para os movidos a gasolina e álcool. Não serve de consolo o “antes tarde do que nunca”, porque o “tarde” quase sempre vira “nunca”. Em segundo lugar, desanima saber que mesmo daqui a três ou quatro anos, quando a poluição veicular no Brasil - nos carros novos apenas - será mais de um terço menor, ainda assim estará muito acima da que é tolerada, hoje, na Europa e nos Estados Unidos. Tolerância com envenenamento. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php>. Acesso em: maio de 2010. 10 Comunicação e Expressão Interrogação Uma das características fundamentais do conhecimento contemporâneo é o seu utilitarismo. Em que sentido o conhecimento utilitário das economias globalizadas na sociedade do conhecimento difere da utilidade ética constitutiva de todo conhecimento? Procurar responder a essa questão é também procurar entender, na lógica de funcionamento das tecnociências, como as grandes transformações tecnológicas influenciam a ciência e como a ciência, ela própria, propicia novas tecnologias e inovações que dinamizam os mercados e ativam o consumo das novidades dos produtos delas decorrentes. VOGT, C. Ética e conhecimento. Com Ciência- Revista Eletrônica de Jornalismo Científico – SBPC. Disponível em: <http://www.comciencia.br>. Acesso em: maio de 2007. Paralelismo O debate sobre a utilidade econômica e social da pesquisa está longe de ter-se encerrado. Alguns pretendem que as descobertas científicas são a fonte essencial da tecnologia e do progresso econômico e social que dela decorre. Em suma, os pesquisadores revelariam as leis da natureza, publicariam artigos, e os engenheiros e as empresas os transformariam, em seguida, em objetos ou equipamentos úteis. Daí resulta que a sociedade em geral, e os governos em particular, devem financiar a pesquisa fundamental, fator insubstituível de progresso econômico e social. No outro extremo, alguns pensam que os resultados da pesquisa fundamental, no pior dos casos, são quase inúteis e, no melhor, tendo em vista o fato de que sua publicação é um “bem gratuito”, estão disponíveis a quem quer que os deseje utilizar. Conseqüentemente, os governos deveriam financiar a pesquisa fundamental nas mesmas bases que a arte, o esporte ou as outras formas da atividade cultural. PAVITT, K. Tem a pesquisa uma utilidade econômica? In: WITKOWSKI, Nicolas (coord.). Ciência e Tecnologia Hoje. São Paulo: Ensaio, 1995, p. 85-6. 11 Comunicação e Expressão Por fim, vejamos um exemplar de desenvolvimento por contraste: Ética e política não convergemcom muita freqüência na história do Brasil e do mundo. Esse enigma moral do processo histórico leva a indagar: pode a política ser conforme à época? A essa pergunta o realismo político, tal como formulado, por exemplo, por Maquiavel, no capítulo 15 de “O Príncipe”, responde pela negativa. A esta mesma e sempre recorrente pergunta André Franco Montoro deu uma clara resposta afirmativa, no percurso de sua fecunda e bem-sucedida vida pública. São precisamente as razões do seu sim à convergência entre ética e política o que me proponho discutir neste texto, que é uma homenagem à sua memória e uma celebração da importância de sua lição. LAFER, Celso. “Ética e política em Franco Montoro”. Mais! Folha de S. Paulo, 14/05/2000. p. 17. Note-se a riqueza de recursos presentes na introdução desse trecho de Celso Lafer: há uma declaração inicial que remete à história, há interrogação, há citação (argumento de autoridade), todos esses elementos reforçando, dando destaque ao contraste que se evidencia no desenvolvimento, a partir da frase: A essa pergunta... 5. A conclusão do texto Também chamada desfecho, a conclusão do texto dissertativo deve representar, de modo lógico, o tratamento dado ao tema na fase de desenvolvimento do texto. Será lógica a conclusão que, em decorrência dos argumentos apresentados, expressar a opinião do redator sobre o tema em discussão. Da mesma forma, será lógica a conclusão que resgatar os argumentos distribuídos no texto, apresentando uma súmula deles, com destaque para a informação central visada pelo autor. Seja de uma ou de outra espécie a conclusão escolhida, devem-se evitar certas soluções consideradas clichês ou fórmulas, quais sejam, os finais forçadamente éticos, dos quais se extrai uma “moral”, um preceito, uma “lição de vida” a seguir; também os encerramentos que incitem o leitor a tomar posição, assumir compromissos, levantar e/ ou portar bandeiras ideológicas... Essas são todas soluções que, quase invariavelmente, caem no lugar-comum e, pior, ultrapassam os limites do tema, projetando conteúdos não incluídos na proposta textual escolhida. Evitem-se, pois, as referências a soluções mágicas, que se evocam para neutralizar ou anular o problema discutido (por exemplo, a classe política, as leis, o governo...); evitem-se, finalmente, os apelos à consciência, ao humanitarismo, à solidariedade, à adoção de medidas, à mudança de atitudes... são clichês que roubam ao texto toda originalidade de que ele tenha se revestido nas etapas anteriores. Conclua, como foi dito, com uma referência-síntese do conteúdo do desenvolvimento, ressaltando os principais argumentos expostos. Isso será lógico e revestirá de naturalidade o encerramento do texto. 12 Comunicação e Expressão Nas atividades de estudo, assim como nas profissionais e sociais, deparamos com a necessidade de lançar hipóteses, expor teses e sustentar nossos pontos de vista com argumentos. Nos estudos, o suporte bibliográfico das disciplinas demanda o contato com textos de ciência e/ou tecnologia elaborados segundo a matriz da dissertação. Como se pode notar, trata-se de um gênero discursivo muito presente nas várias atividades de nosso dia-a-dia. Portanto, dominar as condições de produção e recepção desse gênero é de grande importância para o sucesso de várias de nossas ações. Afirmação categórica: declaração de caráter assertivo, geralmente indiscutível. Aforismo: ditado popular; frase, reflexão ou máxima que sintetiza um princípio ou uma regra de caráter prático, moral ou costumeiro. Citação: referência a ideia ou manifestação, escrita ou oral, de outrem. Asserção: proposição de intenção declarativa de sentido completo, que pode ser afirmativa ou negativa, verdadeira ou falsa. Generalização: operação intelectual que consiste em reunir um conjunto de fatos, fenômenos ou seres semelhantes em uma classe, termo ou proposição geral. Inferência: Processo pelo qual se chega a uma proposição, afirmada na base de uma ou outras mais proposições aceitas como ponto de partida do processo. (COPI, Irving. Introdução à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1977). Operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras. (Dicionário Eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7). 13 Comunicação e Expressão Bem, agora você já desenvolveu a habilidade de planejar e executar atividades de produção de textos dissertativos, sejam eles opinativos ou informativos. Você já aprendeu as etapas de planejamento do texto e conta com recursos para compor o desenvolvimento adequado ao tema sobre o qual discorrerá, bem como para concluir coerentemente o texto. Esses elementos serão extremamente úteis para outras atividades de produção textual, especialmente para a elaboração de textos pertinentes à área administrativa, tais como Propostas, Projetos, Pareceres e Relatórios empresariais, assuntos de que trataremos em aulas posteriores. Coloque em prática seus novos conhecimentos, competências e habilidades! ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2004. BECHARA, E. Moderna gramática língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. BELLINE, A. H.C. Dissertação. 4.ed. São Paulo: Ática, 1999. EMEDIATO, W. A fórmula do texto. Redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração, 2008. FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. 17.ed. Petrópolis: Vozes, 2008. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 18.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. GIANOTTI, J. A. A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9. 14 Comunicação e Expressão Vamos praticar a produção de textos dissertativos no ambiente virtual. Faça as atividades lá propostas e aguarde as análises de seu professor-mediador. 15
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