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@STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 1 Patologia é o estudo (logos) da doença (pathos). A identificação de uma doença com base nas alterações morfológicas induzidas nos órgãos e tecidos é o mais antigo e universal método de diagnóstico da prática médica. Embora na prática médica essa divisão não exista, academicamente a patologia é dividida em geral e especial. A patologia geral estuda as alterações básica e comuns a várias células tecidos e órgãos das várias espécies animais; a patologia especial (ou sistêmica), a presença, as causas e os efeitos daquelas alterações básica em órgãos, sistemas e aparelhos orgânicos específicos. Na patologia, a doença é estudada em seus quatro aspectos principais: sua causa (etiologia); os processos envolvidos em seu desenvolvimento (patogênese); as alterações morfológicas induzidas nos órgãos e tecidos (as lesões) e as consequências funcionais dessas alterações (as manifestações clínicas). Apesar desse papel amplo, seu foco principal continua sendo a lesão, que é a alteração morfológica consequente à doença. A iniciação e a evolução do processo mórbido são pontos de grande interesse na patologia, estudados na patogênese. Nessa área, estuda-se a sequência de eventos que constitui a resposta das células e tecidos aos agentes causais, desde seu primeiro contato com o organismo até a deflagração do processo mórbido. Os agentes causais da doença, ou agentes etiológicos, são estudados na etiologia. Todo médico veterinário que atua na prática médica da profissão é, na essência, um patologista. Ao examinar um paciente, seu objetivo inicial é reconhecer, identificar e nomear a lesão observada e, em seguida, apontar a doença que causou aquela lesão. Em outras palavras, seu objetivo é diagnosticar. De posse do diagnóstico, ele pode estabelecer o tratamento e o prognóstico. Em medicina, o prognóstico é a previsão da evolução de um processo mórbido. @STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 2 Diagnóstico morfológico O diagnóstico morfológico informa o órgão alterado e a lesão observada. Por exemplo: enterite granulomatosa. O diagnóstico morfológico ideal informa o órgão lesado, o tipo de lesão básica, a distribuição das lesões e o tempo de evolução da lesão. Por exemplo: hepatite necrótico- purulenta multifocal crônica informa que o fígado tem uma doença inflamatória de longa duração caracterizada pela presença de muitos focos necróticos contendo pus. Uma técnica muito interessante para designar uma doença cujo diagnóstico ainda não está bem definido, ou quando se deseja usar um termo genético e absolutamente não específico, é utilizar o sufixo -patia após a raiz que indica o órgão. Por exemplo: hepatopatia, nefropatia, etc. Diagnóstico etiológico O diagnóstico etiológico informa, além do diagnóstico morfológico, o agente causador. Por exemplo: enterite granulomatosa por Mycobacterium avium subespécie paratuberculosis. Diagnóstico definitivo O diagnóstico definitivo informa o nome da doença responsável pelas lesões observadas. A menção do nome da doença dispensa demais informações. Por exemplo: paratuberculose ou doença de Johne (enterite granulomatosa por M. avium. Diagnóstico presuntivo Quando o diagnóstico definitivo, por qualquer razão, ainda não pode ser definido, emite-se o diagnóstico presuntivo, um diagnóstico apenas de presunção ou suspeição. Alguns o denominam diagnóstico provisório, que, por indicar apenas uma suspeita, depende de confirmação posterior. Existem muitas alterações não patológicas que simulam lesões e podem confundir o profissional, por isso chamadas de falsas lesões. Ao se deparar com uma alteração supostamente patológica, antes de considera-la uma lesão deve-se responder três questões sequenciais: É normal? Várias particularidades anatômicas – normais, portanto, – podem ser @STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 3 confundidas com lesões aos serem vistas pela primeira vez. Um exemplo clássico é o tórulo do piloro. A palavra tórulo indica uma projeção anatômica, ou um aumento de volume localizado. Suínos e ruminantes apresentam um tórulo carnoso bem desenvolvido e revestido de mucosa localizado no piloro. O tórulo do piloro não tem função definida, provavelmente atuando como parte do mecanismo valvular que controla o fluxo de conteúdo que passa do estômago para o duodeno. É um artefato? Artefatos são alterações resultante de fatores não ligados ao processo patológico; alguns deles podem ser confundidos com lesões. Por exemplo, rupturas ou deslocamentos de vísceras, ou mesmo ferimentos resultantes de manuseio do cadáver, simulam lesões. É uma alteração post mortem? Várias alterações resultantes dos processos normais se instalam no cadáver em consequência da morte (alterações cadavéricas) e podem simular lesões. Antes de ser interpretada, toda lesão dever ser descrita. A descrição das lesões é um excelente exercício de aprendizado e que, com a repetição do procedimento, a capacidade de perceber os detalhes mais sutis aumenta muito e permite diagnósticos mais precisos. Na impossibilidade de escrever a descrição, deve-se ao menos fazer uma descrição mental das lesões. Sempre que possível e quando aplicável, localização, cor, tamanho, volume, peso, forma, consistência, número, extensão, conteúdo, odor, distribuição e tempo de evolução são características que devem ser descritas. Em geral, simetria na distribuição das lesões indica causa sistêmica e que elas não foram ocasionadas por um fator de ação apenas local. Por distribuição entende-se o modo e a extensão em que uma lesão aparece em um órgão. As possibilidades são as seguintes: @STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 4 → Difusa Quando a totalidade ou a quase- totalidade do órgão é atingida. → Focal Quando a lesão é única e de tamanho relativamente pequeno. → Multifocal Quando a lesão é múltipla ou formada por vários focos. → Extensa localizada (ou localmente extensiva) Quando atinge grande parte, mas não a totalidade, de um órgão. A evolução de uma lesão, ou mesmo de uma doença, pode ser aguda ou crônica. Esses termos indicam, respectivamente, que ela está presente no paciente há pouco ou há muito tempo. O termo autópsia é mais bem empregado quando o procedimento é realizado em pessoas, uma vez que o termo original foi criado exatamente em referência aos seres humanos. Necropsia, por outro lado, refere-se ao exame do cadáver, seja ele de pessoas ou de animais. Biópsia é o exame de um fragmento colhido do paciente vivo e não se aplica ao exame de amostras colhidas durante a necropsia. Colher significa retirar uma porção de um todo, como uma fruta de uma árvore. Muitas vezes, porções de órgãos, tecidos ou fluidos orgânicos (referidas como amostras) são retiradas do paciente para exame posterior em laboratório. Portanto, uma amostra é colhida do paciente. Por outro lado, coletar subentende colecionar ou juntar várias porções, como a coleta do lixo. Lesão é a alteração consequente à doença; tanto pode ser morfológica quanto bioquímica ou funcional. Como sempre resulta de doença, é redundante dizer “lesão patológica”. Doença é o termo a ser empregado para se referir à presença de uma anormalidade física ou psíquica. Muitos dizem, por exemplo: “a etiologia do carbúnculo é o C. chauvoei.” @STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 5 É preciso tomar cuidadocom essa confusão muito frequente. Etiologia significa estudo das causas das doenças, e não a causa das doenças. O termo correto para essa última finalidade é “agente causal” ou “agente etiológico”. As doenças ou estados mórbidos manifestam-se por meio de sinais e sintomas. Enquanto sinal indica as manifestações objetivas da doença (aquelas que se vê), sintoma refere-se às manifestações subjetivas (aquelas que se sente). Assim, ao passo que os sinais são exibidos pelo paciente, os sintomas são sentidos e relatados por ele ao médico. Note, portanto, que o termo sintoma não tem aplicação em medicina veterinária. @STDSELVAGEM PATOLOGIA GERAL 6 WERNER, P. R., (2011). Patologia Geral Veterinária Aplicada. 1ª edição. Editora Roca. Capítulo 1 – Introdução à Patologia Animal.
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