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Resumo - Direito Civil - Responsabilidade Civil (atualizado - maio 2020) docx - Documentos Google

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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
LIVRO I 
IDEIAS GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE 
CIVIL 
 
 
1- INTRODUÇÃO E CONCEITO 
 
“A responsabilidade civil, espécie de responsabilidade jurídica, deriva da 
transgressão de uma norma civil preexistente, com a consequente imposição ao 
causador do dano do dever de indenizar.” 
 
Toda forma de responsabilidade civil pressupõe a violação de uma norma civil 
preexistente impondo ao causador do dano o dever de indenizar. Responsabilizar 
alguém é atribuir a esse alguém os efeitos jurídicos do seu comportamento transgressor 
dessa norma jurídica preexistente. Então, para entender responsabilidade civil, é 
importante que se compreenda a existência de um sistema jurídico normativo prévio que 
é violado por um comportamento danoso. E, por conta dessa violação, impõe-se ao 
infrator o consequente dever de indenizar. A responsabilidade civil surge em face do 
descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um 
contrato, ou por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que 
regula a vida. Fala-se, assim, em responsabilidade civil contratual ou negocial e em 
responsabilidade civil extracontratual , também denominada responsabilidade civil 
aquiliana . 
 
A teoria da responsabilidade civil integra o direito obrigacional, pois a 
principal consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para o 
seu autor, de reparar o dano, obrigação de natureza pessoal que se resolve em perdas e 
danos. 
 
A responsabilidade civil, tradicionalmente, baseia-se na ideia de culpa. O art. 
186 CC define o que se entende por comportamento culposo. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência 
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral , comete ato ilícito . 
 
Em consequência fica o agente obrigado a reparar o dano. 
 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa (OBJETIVA), nos casos 
especificados em lei , ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco 
para os direitos de outrem. 
 
Só se pode cogitar de culpa quando o evento é previsível. Se o evento é 
imprevisível, não há que se cogitar culpa. O art. 186 pressupõe a existência da culpa, 
que abrange o dolo e a culpa strictu sensu ou aquiliana (violação de um dever que o 
agente podia conhecer e observar, segundo os padrões de comportamento médio). 
 
1 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
A culpa strictu sensu pode ocorrer das seguintes formas: 
 
a) Imprudência : consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias. Traduz falta de 
cuidado + ação. 
b) Negligência: é a falta de atenção em virtude da qual deixa o agente de prever o 
resultado que podia e devia ser previsto. Traduz falta de cuidado + omissão . 
c) Imperícia: inaptidão técnica para a prática de um ato ou ofício. É a culpa 
profissional. 
 
Nos últimos anos vem ganhando terreno a chamada TEORIA DO RISCO , que, 
sem substituir a teoria da culpa, alcança muitas hipóteses em que esta se revela 
insuficiente para a proteção da vítima. A responsabilidade seria encarada sob o aspecto 
objetivo : o agente indeniza não porque tenha culpa, mas porque é o proprietário 
do bem ou o responsável pela atividade que provocou o dano. 
 
IMPORTANTE: A responsabilidade extracontratual, nos termos do atual Código Civil, 
está baseada em dois alicerces categóricos: o ato ilícito e o abuso de direito (cuja 
caracterização dispensa a análise de culpa – é, portanto, hipótese de responsabilidade 
objetiva). Trata-se de importante inovação, uma vez que o CC/1916 amparava a 
responsabilidade extracontratual apenas no ato ilícito. 
 
2- IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE 
 
Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano 
causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. 
 
2.1 RESPONSABILIDADE DOS INCAPAZES 
 
O CC 2002 substituiu o princípio da irresponsabilidade absoluta do incapaz pelo 
princípio da responsabilidade mitigada e SUBSIDIÁRIA . 
 
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as 
pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou 
não dispuserem de meios suficientes . 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá 
ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou 
as pessoas que dele dependem . 
 
IMPORTANTE: A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é 
subsidiária, condicional, mitigada e equitativa . Os incapazes (ex.: filhos menores), 
quando praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, 
condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art. 928 do CC. Subsidiária: porque 
apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima. 
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do 
patrimônio mínimo do infante. Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser 
equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz. 
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não 
solidária . STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado 
em 2/2/2017 (Info 599). 
 
2 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Se a vítima não conseguir receber a indenização do curador, poderá o juiz, se o 
incapaz for abastado, condenar o incapaz ao pagamento de uma indenização equitativa 
(responsabilidade SUBSIDIÁRIA). 
 
A vítima somente não será indenizada pelo curador se este não tiver patrimônio 
suficiente para responder pela obrigação (responsabilidade objetiva). 
 
Se o alienado não estiver sob o poder de ninguém, responderá comseus próprios 
bens. 
 
IMPORTANTE: A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação 
somente contra o pai do garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo 
passivo. Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio 
necessário entre o genitor responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o 
menor causador do dano . É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e 
liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivam do mesmo 
fundamento de fato ou de direito, intente ação contra ambos – pai e filho –, formando-se 
um litisconsórcio facultativo e simples. Ex.: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a 
arma de fogo de seu pai e, por imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que 
ficou ferido, mas sobreviveu. Vítor ajuizou ação de indenização por danos morais e 
materiais contra João (pai de Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação 
contra João e Lucas, em litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria 
plenamente possível que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado 
a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de litisconsórcio: 
facultativo e simples. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe 
Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 
 
2.2 A RESPONSABILIDADE DOS MENORES 
 
A obrigação de indenizar cabe às pessoas responsáveis pelo menor. 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade 
e em sua companhia; 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se 
acharem nas mesmas condições; 
 
O menor só será responsabilizado se os responsáveis não dispuserem de meios 
suficientes para o pagamento (responsabilidade subsidiária), mas a indenização, que 
deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que 
dele dependem. 
 
Não mais se admite que os responsáveis pelo menor se exonerem da obrigação 
de indenizar provando que não foram negligentes na guarda, porque o art. 933 dispõe 
que a responsabilidade dessas pessoas INDEPENDE DE CULPA . 
 
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo 
antecedente , AINDA QUE NÃO HAJA CULPA DE SUA PARTE 
(responsabilidade objetiva) , responderão pelos atos praticados pelos 
terceiros ali referidos. 
 
3 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
IMPORTANTE!!! Se os pais emancipam o filho voluntariamente, a emancipação 
produz todos os efeitos naturais do ato, menos o de isentar os pais da 
responsabilidade pelos atos ilícitos praticados pelos filhos, de acordo com a 
jurisprudência o STJ (haverá, na hipótese de emancipação voluntária, 
responsabilidade SOLIDÁRIA entre pais e filhos ) . O mesmo não acontece quando a 
emancipação decorre de casamento e das outras causas previstas no art. 5º, parágrafo 
único, do CC (emancipação legal). 
 
3- RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE PENAL 
 
 
4- RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA 
 
Diz-se, pois, ser SUBJETIVA a responsabilidade quando se esteia na ideia de 
culpa . A prova da culpa passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. O ônus 
dessa prova incumbe à vítima. Em não havendo culpa (dolo ou culpa em sentido 
estrito), não há responsabilidade. 
 
A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, a reparação de um dano cometido sem 
culpa. Quando isso acontece, diz-se que a responsabilidade é OBJETIVA , uma vez que 
prescinde da demonstração de culpa , e se satisfaz apenas com a demonstração do 
dano e do nexo causal. Esta teoria, dita objetiva ou do risco , tem como postulado que 
todo dano é indenizável e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de 
causalidade, independente de culpa. 
 
IMPORTANTE!!! Quando a CULPA É PRESUMIDA inverte-se o ônus da prova. 
O autor da ação só precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do 
réu, porque a culpa do réu já é presumida. Os casos de culpa presumida são 
considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva , pois se fundam ainda na culpa, 
mesmo que presumida. É o caso, por exemplo, daqueles que assumem obrigação de 
resultado (cirurgiões plásticos contratados para realização de cirurgia embelezadora). 
Frustrado o resultado perseguido, presume-se a culpa do agente para fins de apuração da 
responsabilidade civil. 
 
4 
 
RESP. CIVIL - ILÍCITO CIVIL RESP. PENAL - ILÍCITO PENAL 
O mecanismo sancionatório civil é 
patrimonial , é menos gravoso. 
O mecanismo sancionatório é mais gravoso, 
trata-se da liberdade. 
Não há fatos típicos (a lei não traz a 
enumeração de todos os fatos que geram 
dever de indenizar). 
Só há crime se o fato for típico (a lei já 
traz todos os fatos que são ilícitos penais). 
As penas não são predeterminadas (o 
quantum fica a cargo do juiz). 
As penas são determinadas em seus 
limites (o juiz deve-se ater aos limites 
fixados em lei). 
Mesmo a culpa levíssima gera dever de 
indenizar. 
A culpa, para gerar responsabilidade penal, 
é maior. 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
RESUMINDO!! A diferença entre responsabilidade objetiva e a culpa presumida é 
que, nessa última, ainda há discussão de culpa (havendo inversão do ônus da 
prova), enquanto na responsabilidade objetiva NÃO se discute culpa. 
 
Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do 
risco da atividade. Para essa teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um 
risco de dano para terceiro. E deve ser obrigado a repará-la ainda que sua conduta seja 
isenta de culpa. É também necessário que esteja caracterizado o risco proveito , segundo 
o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada 
em benefício do responsável. 
 
IMPORTANTE: O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o 
art. 7º, XXVIII, da ConstituiçãoFederal, sendo constitucional a responsabilização 
objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos 
especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua 
natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, 
e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade . 
STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 
(repercussão geral – Tema 932) (Info 969). 
 
No CC a responsabilidade subjetiva subsiste como regra necessária, sem 
prejuízo da crescente adoção da responsabilidade objetiva em diversos dispositivos. 
 
5-RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL 
 
O inadimplemento contratual acarreta a responsabilidade de indenizar as 
perdas e danos, nos termos do art. 389 CC. 
 
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e 
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais 
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 
 
Quando a responsabilidade não deriva de contrato, mas de infração de dever 
genérico de conduta, imposto de forma genérica no art. 186 do mesmo diploma, diz-se 
que ela é extracontratual ou aquiliana. 
 
Ambas têm como consequência a obrigação de ressarcir o prejuízo causado. 
 
 O CC acolheu a teoria dualista da responsabilidade ( responsabilidade 
contratual e extracontratual) , afastando a unitária . 
 
Algumas diferenças podem ser apontadas entre as duas responsabilidades: 
 
a) Na responsabilidade contratual o inadimplemento presume-se culposo . Na 
extracontratual, ao lesado incumbe o ônus de provar culpa ou dolo do causador 
do dano. 
 
b) A contratual tem origem na convenção, enquanto a extracontratual tem 
origem na inobservância do dever genérico de não lesar outrem (ou no abuso de 
direito). 
 
5 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
c) A capacidade sofre limitações no terreno da responsabilidade contratual , sendo 
mais ampla na extracontratual. 
 
6- RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL POR ATOS 
LÍCITOS 
 
Via de regra, a obrigação de indenizar se assenta na prática de um ato ilícito. 
 
Outras vezes, a obrigação de indenizar nasce de uma atividade perigosa, e não 
pelo cometimento de um ato ilícito. 
 
Em outros casos, a obrigação de indenizar nasce de fatos permitidos por lei e não 
abrangidos pelo chamado risco social. Ex.: estado de necessidade. 
 
7- RESPONSABILIDADE NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
 As normas do CDC são de ordem pública (cogentes) e de interesse social. 
 
No sistema do CDC, tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou 
serviço como a oriunda do vício do produto ou serviço são de natureza OBJETIVA , 
prescindindo do elemento culpa a obrigação de indenizar atribuída ao fornecedor. 
 
São limitadas as excludentes invocáveis pelo agente: 
 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Determina-se expressamente a aplicação da teoria menor da desconsideração da 
personalidade jurídica, e se coloca como um direito básico do consumidor a facilitação 
da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova. 
 
8 - PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE 
EXTRACONTRATUAL 
 
8.1 AÇÃO OU OMISSÃO 
 
É a conduta (comissiva ou omissiva) . Não necessariamente tratar-se-á de ato 
ilícito ( existe também responsabilidade por ato lícito . Ex.: policial que requisita o 
carro de particular para perseguir bandido e colide contra parede: o ato é lícito, mas 
gera responsabilidade). 
 
A conduta humana pode ser definida como o comportamento positivo ou 
negativo do agente, que desemboca em um dano ou prejuízo. A regra é a ação ou 
conduta positiva. Já para configuração da omissão é necessário que exista o dever 
jurídico de praticar determinado ato (omissão genérica), bem como a prova de que a 
6 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
conduta não foi praticada (omissão específica). É ainda necessária a demonstração de 
que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. 
 
A conduta humana, para efeito de responsabilidade civil pressupõe 
voluntariedade e consciência (no ato reflexo, caso fortuito, força maior não há conduta 
humana voluntária e consciente). 
 
Se não tiver voluntariedade e consciência , ou seja, se a pessoa não sabe o que 
faz ou não quer o que faz, não há que se falar em conduta humana. 
 
IMPORTANTE!!! A ilicitude não é um requisito obrigatório da conduta humana 
para efeito de responsabilidade, uma vez que, ainda que em caráter excepcional, 
pode haver responsabilidade civil decorrente de ato lícito. Ex.: desapropriação é 
um ato lícito do estado que gera responsabilidade; passagem forçada (prédio 
incrustado - não é servidão - passagem forçada é direito de vizinhança, que decorre ex 
lege ; estado de necessidade e legítima defesa - existe direito de regresso contra o 
causador do perigo). 
 
Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, 
nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, 
constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será 
judicialmente fixado, se necessário. 
 
7.2 CULPA OU DOLO DO AGENTE 
 
É necessário , para que a vítima obtenha a reparação do dano, que prove dolo ou 
culpa strictu sensu (aquiliana) do agente. Em alguns casos, o código presume a culpa; 
em outros, responsabiliza o agente independentemente de culpa . 
 
A teoria subjetiva faz distinção com base na extensão da culpa. 
 
a) Culpa grave ou lata: imprópria ao comum dos homens, é a modalidade que mais se 
assemelha ao dolo (há imprudência ou negligência crassa). O efeito é o mesmo do dolo. 
b) Culpa leve : falta evitável com atenção ordinária. A indenização, no caso, será 
aferidapela extensão do dano e pelo grau de culpa, podendo o juiz reduzir 
equitativamente a indenização, especialmente se a vítima tiver concorrido para o evento 
danoso. 
c) Culpa levíssima: falta só evitável com atenção extraordinária ou com especial 
habilidade. Estando presente a culpa levíssima, a indenização a ser paga deverá ser 
reduzida mais ainda, nos termos dos arts. 944 e 945 do CC. 
 
 A culpa grave ao dolo se equipara . No Direito Civil, a culpa mesmo que 
levíssima obriga a indenizar . 
 
IMPORTANTE!!! Em geral, NÃO se mede o dano pelo grau da culpa. O montante 
do dano é comprovado pelo prejuízo comprovado pela vítima (teoria da reparação 
integral do dano). Todo dano provado deve ser indenizado qualquer que seja o grau da 
culpa. Contudo, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o 
dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. 
 
7 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Art. 944. A INDENIZAÇÃO MEDE-SE PELA EXTENSÃO DO 
DANO . 
Parágrafo único . Se houver excessiva desproporção entre a 
gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir , 
equitativamente, a indenização. 
 
IMPORTANTE: Questão de debate intenso é a possibilidade de aplicação dos arts. 944 
e 945 do CC para a responsabilidade objetiva (uma vez que há referência ao grau de 
culpa). Respondendo negativamente, na I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi 
aprovado o enunciado 46: “ a possibilidade de redução do montante da indenização em 
face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo 
Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao 
princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de 
responsabilidade objetiva ”. Entretanto, na IV Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, 
Flávio Tartuce propôs enunciado doutrinário que suprimiu a parte final do enunciado 
anterior, o que acabou sendo aprovado (enunciado 380: “ Atribui-se nova redação ao 
enunciado 46 da I Jornada de Direito Civil, com a supressão da parte final: não se 
aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva ”). Em suma, a culpa concorrente, 
o fato concorrente e o risco concorrente da vítima são amplamente admitidos como 
atenuantes do nexo de causalidade na responsabilidade objetiva, conduzindo à 
redução equitativa da indenização. 
7.3 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
 
Se houve dano, mas a sua causa não está relacionada com o comportamento do 
agente, inexiste a relação de causalidade, desaparecendo, por via de consequência, a 
obrigação de indenizar. 
 
O nexo de causalidade traduz o liame jurídico que conecta ou vincula a 
conduta do agente ao prejuízo correspondente. A culpa exclusiva da vítima, o caso 
fortuito e a força maior rompem o nexo de causalidade, afastando a responsabilidade 
do agente. 
 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de 
caso fortuito ou força maior , se expressamente não se houver por 
eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no 
fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. 
 
Existem três teorias que tentam explicar o nexo de causalidade: 
 
a) Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou conditio sine qua non : é a 
teoria adotada pelo código penal, com as mitigações da doutrina da imputação 
objetiva. Tal teoria foi desenvolvida por Von Buri. Não diferencia os antecedentes 
fáticos, de maneira que tudo aquilo que concorre para o prejuízo é considerado causa . 
Os antecedentes se equivalem, têm a mesma importância. Essa teoria pode levar ao 
infinito (pode ir até a Adão e Eva). 
 
b) Teoria da causalidade adequada : desenvolvida por Von Kries, essa teoria sustenta 
que nem todo antecedente é causa . Causa é apenas o antecedente abstratamente 
idôneo e adequado a produzir o resultado danoso . 
 
8 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Ex.: Sujeito tranca outro no banheiro do aeroporto, fazendo-o perder o avião das 14h. 
Ao pegar o avião das 16h, o avião cai e o indivíduo morre. O cara que trancou o 
sujeito não tem responsabilidade (trancar alguém no banheiro não é causa adequada 
para matar alguém). 
 
c) Teoria da CAUSALIDADE DIRETA E IMEDIATA /teoria da necessariedade 
do dano ou teoria da interrupção do nexo causal : essa teoria encontra fundamento 
na doutrina do professor Agostinho Alvim, Gustavo Tepedino e Carlos Roberto 
Gonçalves. 
 
Para muitos, é a teoria adotada pelo CC/02, no art. 403. 
 
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as 
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes 
por efeito dela DIRETO E IMEDIATO , sem prejuízo do disposto na 
lei processual. 
 
Para essa teoria basta ver qual é a CAUSA DIRETA do fato. 
 
Esta é uma teoria que restringe a causa do fato à causa direta e imediata. 
Esta teoria parte da premissa de análise mais incisiva, porquanto é preciso que exista 
um vínculo, um liame necessário, entre aquele antecedente que se considera causa 
e o resultado . Por essa teoria, pergunta-se: #Esse comportamento anterior foi 
CAUSA DIRETA desse resultado? Se a resposta for positiva, há o nexo de 
causalidade. Para essa teoria não se indaga apenas se a causa é adequada. 
Questiona-se se a causa é direta e imediata. Indaga-se se há um vínculo necessário 
entre o resultado e a causa. 
 
7.4 DANO 
 
Em regra, sem prova de dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente. 
Cabe ao autor da demanda o ônus de provar o dano (aplicação do art. 373 do CPC/15). 
Em hipóteses excepcionais, contudo, admite-se a inversão do ônus da prova do dano ou 
prejuízo, a exemplo das hipóteses envolvendo relação de consumo (se presente a 
hipossuficiência do consumidor ou a verossimilhança de suas alegações). O dano pode 
ser material ou extrapatrimonial (moral). Fala-se, atualmente, no reconhecimento de 
novos danos (danos morais coletivos, danossociais, danos por perda de uma chance 
etc.). 
 
7.4.1 Conceito e Espécies 
 
Conceito: dano é a lesão de qualquer bem jurídico, patrimonial ou moral. É 
toda desvantagem ou diminuição que sofremos em nossos bens jurídicos. 
 
Dano material ou patrimonial é o que afeta o patrimônio corpóreo do 
ofendido (não cabe, pela dicção dos arts. 186 e 403 do CC, reparação por dano 
hipotético ou eventual). Moral ou extrapatrimonial é o que só ofende o lesado como 
ser humano, não lhe atingindo o patrimônio. 
 
IMPORTANTE!!! Indeniza-se o dano ! Só há indenização com dano . Sem a prova 
do dano, ninguém pode ser indenizado civilmente. O dano pode ser patrimonial ou 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
extra-patrimonial (moral), direto ou indireto. A inexistência de dano torna sem 
objeto a pretensão a sua reparação. 
 
EXCEÇÃO!!! Aquele que demanda dívida já paga deve pagar em dobro. 
 
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em 
parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for 
devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro 
do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele 
exigir, salvo se houver prescrição. 
 
IMPORTANTE: Para que haja a aplicação da sanção civil do pagamento em 
dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 
940 do CC 2002), é imprescindível a demonstração de má-fé do credor . Permanece 
válido o entendimento da Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não 
dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940 do CC 2002). STJ. 2ª 
Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso 
repetitivo) (Info 576). 
 
IMPORTANTE: A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança 
judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002) pode ser 
postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de ação autônoma 
ou do manejo de reconvenção. STJ. 2ª Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco 
Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576). 
 
Para Carlos Roberto Gonçalves, esse é um caso de responsabilidade 
independente de dano. 
 
 Para CRG, outra exceção é o art. 416 do CC, que permite ao credor cobrar a 
cláusula penal sem precisar provar o prejuízo. 
 
IMPORTANTE!!! Art. 943 CC . 
 
Art. 943. O direito de exigir REPARAÇÃO e a OBRIGAÇÃO DE 
PRESTÁ-LA transmitem-se com a herança. 
 
Obs.: O dispositivo acima se aplica tanto ao dano moral quanto ao patrimonial. E tanto 
o direito de exigir a reparação quanto reparar o dano. 
 
IMPORTANTE!!! Ter em mente que nem todo dano é indenizável . Existem três 
requisitos para o dano ser indenizável: 
 
a) Lesão a um interesse juridicamente tutelado (o simples fim de um namoro, 
por si só, não é interesse juridicamente tutelado para efeito de indenização). 
 
b) A subsistência do prejuízo ( o dano só é indenizável se o prejuízo subsistir ). 
 
c) Certeza do dano e atualidade . Atual é o dano que já existe no momento da 
apuração da responsabilidade. O dano, para ser indenizável, deve ser certo, não 
se indeniza dano hipotético. 
 
Obs.: Este requisito é relativizado pela teoria francesa da perda de uma chance. 
10 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
IMPORTANTE!!! Perda de uma chance . Segundo Fernando Gaburri, a perda de 
uma chance ocorre nos casos em que o ato ilícito retira da vítima a possibilidade futura 
de experimentar uma situação superior ou mais favorável do que a atual . Ex.: 
Wanderlei Cordeiro de Lima e o “padre maluco” – Essa teoria ganhou maior 
notoriedade no Brasil com o julgamento do “Show do Milhão” pelo STJ. 
Recentemente, também decidiu o STJ ser possível a aplicação da teoria da perda de 
uma chance em função de erro médico. 
 
Obs.: Nos casos de perda da chance, a indenização deve ser reduzida, uma vez que se 
indeniza a chance perdida. 
 
#QUESTÕES ESPECIAIS DE CONCURSO 
 
#O juiz, ao fixar a indenização em sede de responsabilidade civil, poderá reduzir 
o quantum indenizatório considerando o grau de culpa do infrator? 
Sim!!! Existe hoje no CC um redutor indenizatório, com fulcro no art. 944, parágrafo 
único ( só pode reduzir ). 
 
Art. 944. A INDENIZAÇÃO mede-se pela EXTENSÃO DO 
DANO. 
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a 
gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, 
eqüitativamente, a indenização. 
 
IMPORTANTE!!! #O que é dano moral in re ipsa? 
Em algumas situações, a doutrina e a jurisprudência afirmam que a demonstração 
do dano moral não é necessária, bastando se demonstrar que houve a prática do 
ato. Nesse caso, fala-se em damnun in re ipsa , também conhecido como dano moral 
in re ipsa . Há danos morais que, pela sua frequência e pela sua natureza dispensam 
prova em juízo. Dano in re ipsa é aquele que DISPENSA PROVA EM JUÍZO. 
 
IMPORTANTE!!! Quando se atinge direitos fundamentais (violação a direitos 
fundamentais) o dano é presumido (in re ipsa). 
 
IMPORTANTE: Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja 
considerado como in re ipsa , sendo necessária a comprovação nos autos do 
prejuízo sofrido. Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de 
experiência para a configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, 
o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela parte ou de 
reavaliação pelo julgador . STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). CUIDADO , porque há julgados 
anteriores do STJ em sentido contrário: O dano moral por uso indevido da marca é 
aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática 
de conduta ilícita, revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos concretos ou 
a comprovação probatória do efetivo abalo moral .(...) STJ. 4ª Turma. REsp 
1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). 
 
#O que é DANO REFLEXO (ou em RICOCHETE), DANO INDIRETO e DANO 
BOOMERANG ? 
 
11 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Dano indireto remete-nos à ideia de uma cadeia de prejuízos: a mesma vítima 
sofre um dano direto e danos indiretos ou consequenciais. Ex.: indivíduo comprou um 
cavalo e, quando recebeu o animal, verificou que possuía uma doença contagiosa e letal. 
O indivíduo sofreu dano direto, porque o animal veio infectado, e danos indiretos, uma 
vez que o cavalo infectou três outros cavalos, que faleceram. Neste caso, restam 
configurados danos indiretos. Danos indiretos não se confundem com os danos 
reflexos ou em ricochete. 
 
O dano reflexo é aquele que atinge, além da vítima direta, uma vítima indireta, a 
exemplo do filho que sofre o dano pela morte do pai. 
 
IMPORTANTE!!! No dano indireto há uma vítima que sofre uma cadeia de prejuízos. 
No dano reflexo há duas ou mais vítimas. O pai, num assalto foi alvejado e vem a 
morrer. A vítima direta é o pai. A vítima indireta é o filho. Esse filho, ao entrar com a 
indenização, pela ligação que tem com o pai, é a vítima indireta, que sofre o chamado 
dano reflexo ou em ricochete. 
 
No dano boomerang existe uma inversão de posições na relação jurídica 
desencadeada pelo ato ilícito. Ex.: Caio, guiando o seu veículo, abalroa o veículo de 
Tício, causando-lhe dano. Tício, ato contínuo, em reação, deflagra tiros contra o veículo 
de Caio. Neste caso, quem era agente do dano se torna vítima e a vítima se torna autor. 
 
IMPORTANTE!!! Dano emergente e lucro cessante . Indenizar significa reparar o 
dano causado à vítima integralmente (princípio da reparação integral do dano). O 
critério para o ressarcimento do dano material encontra-se no art. 402 do CC. Abrange 
o pagamento do dano emergente e do lucro cessante. 
 
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as 
perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele 
efetivamente perdeu (DANOS EMERGENTES) , o que 
razoavelmente deixou de lucrar (LUCRO CESSANTE). 
 
a) Dano emergente: é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida pela 
vítima. 
 
b) Lucro cessante: é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de um ganho 
esperado. É apurado com base em fatos pretéritos, naquilo que vinha ocorrendo 
anteriormente. É o que razoavelmente se deixou de lucrar. 
 
7.4.2. Dano moral 
 
7.4.2.1 Conceito e Características 
 
Em sua primeira fase, o dano moral era irreparável. Os autores, inclusive no 
plano internacional, entendiam que era um exagero indenizar o dano moral. Falava-se 
em não haver preço da dor. Argumentava-se também que o dano moral não seria 
mensurável. Para eles, admitir o dano moral seria dar poder excessivo ao juiz. 
 
Numa segunda fase, no Brasil, o dano moral passou a ser reparável, desde que 
condicionado a um dano material sofrido. Não existia autonomia jurídica na reparação 
do dano moral. 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
Em um terceiro momento, já após a CF/88 (art. 5º, V e X), o dano moral passou 
a ser reparado de maneira autônoma . 
 
O CC/02 torna explícita a reparação por dano moral, para afastar qualquer 
dúvida quanto à sua reparabilidade. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, AINDA QUE 
EXCLUSIVAMENTE MORAL , comete ato ilícito. 
 
Conceito: Dano moral é LESÃO A DIREITO DA PERSONALIDADE . 
Logo, a melhor corrente categórica é aquela que conceitua os danos morais como lesão 
a direitos da personalidade. Atinge o ofendido como pessoa, não atingindo seu 
patrimônio corpóreo. Objetiva compensar os males suportados pela vítima, não havendo 
finalidade de promover acréscimo patrimonial (tal dedução justifica a não incidência de 
imposto de renda sobre o valor recebido a título de dano moral – Súmula 498 do STJ). 
 
IMPORTANTE: Além do pagamento de indenização em dinheiro, presente o dano 
moral, é viável uma compensação in natura , conforme reconhece enunciado aprovado 
na VII Jornada de Direito Civil (enunciado 589): “ A compensação pecuniária não é o 
único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo admitida a reparação in natura, 
na forma de retratação pública ou outro meio” . 
 
IMPORTANTE!!! É perfeitamente cumulável , dada a sua autonomia, o pedido de 
indenização por dano moral e por dano estético (danos morais decorrentes do dano 
estético). 
 
“Só se deve reputar como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação 
que, fugindo à normalidade , interfira intensamente no comportamento psicológico do 
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero 
aborrecimento está fora da órbita do dano moral , pois fazem parte da normalidade 
do nosso dia a dia. (Sergio Cavalieri).” 
 
Dessa forma, por si só, não caracteriza dano moral, por exemplo, o fato de 
determinada pessoa ficar presa em porta detectora de metal em banco e exame de malas 
na alfândega . 
 
IMPORTANTE!!! O dano moral pode dispensar prova em concreto, pois se passa no 
interior da personalidade e, em determinadas situações, existe in re ipsa (se presume a 
existência). 
 
IMPORTANTE!!! Dano moral e pessoa jurídica. Vem prevalecendo o 
entendimento que ADMITE a responsabilidade por dano moral infligido a pessoa 
jurídica , especialmente no caso de danos resultantes de abalo de credibilidade. A 
pessoa jurídica é titular de honra OBJETIVA , fazendo jus à indenização por dano 
moral sempre que seu bom nome, reputação ou imagem forem atingidos no meio 
comercial por algum ato ilícito. Nesse sentido a súmula 227 STJ: “A pessoa jurídica 
pode sofrer dano moral.” 
 
7.4.2.2. Quantificação e Natureza Jurídica Do Dano Moral 
13 
 
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins MoreiraNeto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
O Brasil, alinhando-se à França, Suíça, Portugal e Espanha, adotou uma regra 
geral de responsabilidade por dano moral (art. 186), não tendo consagrado normas 
específicas para o cálculo da indenização. Temos dois sistemas: 
 
1º) SISTEMA ABERTO OU LIVRE: vale-se do critério de arbitramento . A 
jurisprudência brasileira adota esse sistema. Arbitrar o dano moral é, no caso 
concreto, defini-lo no quantum mais adequado para o caso concreto (predomina no 
Brasil). O magistrado deve agir com equidade analisando: a) a extensão do dano; b) as 
condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos; c) as condições psicológicas das 
partes; d) o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima. 
 
Obs.: O sistema do arbitramento deve ser balizado pelo entendimento sedimentado em 
súmulas e pela uniformização de jurisprudência, para evitar subjetivismos. O STJ 
adota, em tal contexto, o método bifásico para fixação do montante indenizatório, 
pelo qual deve o juiz, na primeira fase , fixar um valor básico de indenização de acordo 
com o interesse jurídico lesado e em conformidade com a jurisprudência consolidada do 
Tribunal (grupo de casos); na segunda fase , há a fixação definitiva da indenização de 
acordo com as circunstâncias particulares do caso concreto (STJ, REsp 959.780/ES, 
Rel. 
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26.04.2011). 
 
2º) SISTEMA TARIFADO: sistema da tarifação legal . Pretende estabelecer em lei 
critérios prévios de quantificação por dano moral, ou seja, pretende estabelecer um 
tabelamento do valor devido a título de dano moral. 
 
Obs.: A lei de imprensa (foi revogada) tabelava o dano moral, e o STJ, na súmula 281, 
já declarava a inconstitucionalidade da tarifação. 
 
Súmula STJ: 281 A indenização por dano moral não está sujeita à 
tarifação prevista na Lei de Imprensa. 
 
Em geral afirma-se que a natureza jurídica da indenização por dano moral é 
compensatória para a vítima e disciplinador ou pedagógico para o ofensor . Como 
toda reparação de dano, a finalidade precípua do ressarcimento dos danos não é punir o 
responsável , e sim recompor o patrimônio do lesado . O caráter disciplinador é 
meramente reflexo, indireto. Parcela da doutrina não vislumbra diferença entre o caráter 
disciplinador/pedagógico e o caráter punitivo (enunciado 379 do CJF/STJ: “ O art. 944, 
caput, do CC não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou 
pedagógica da responsabilidade civil ”). 
 
IMPORTANTE!!! Começa a ganhar força no Brasil a teoria do desestímulo ou teoria 
do punitive damages . Essa teoria sustenta que, ao fixar o dano moral, além de 
compensar a vítima, o juiz deve desestimular o causador do dano, puni-lo, para que o 
agente não volte a delinquir . É a função social da responsabilidade civil. 
 
Obs.: Isso é muito importante para casos de lesões repetitivas, como boates etc. Nos 
EUA isso é muito usado. Nos EUA, o valor compensatório vai para a vítima, o valor 
punitivo vai para creches, fundos etc. 
 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Dispõe o enunciado 379 da IV jornada de direito civil: 
 
379 – Art. 944 : O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a 
possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da 
responsabilidade civil. 
 
#Cabe incidência de imposto de renda na indenização por dano moral? 
O STJ decidiu que NÃO incide IR , o dano moral é apenas um quantum para voltar ao 
status quo ante , não ganho de capital. A indenização é a justa compensação, não é 
ganho de capital. 
 
7.4.2.3 Prazo Prescricional Para Reclamar Dano Moral 
 
IMPORTANTE!!! O prazo prescricional da pretensão de indenização por dano moral 
pode ser de três anos , de acordo com o CC, ou de cinco anos , no âmbito do CDC , se 
decorrente de fato do produto ou do serviço (art. 27). Obs.: É decenal o prazo 
prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em 
inadimplemento contratual (STJ. 2ª Seção. EREsp 1280825-RJ, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632). 
 
CDC Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos 
danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção 
II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do 
conhecimento do dano E de sua autoria . 
 
Obs.: A pretensão de fazer cessar lesão ou ameaça a direitos da personalidade é 
imprescritível. Contudo, violado um direito da personalidade, a pretensão de 
indenização é prescritível (a repercussão econômica da lesão a direito da 
personalidade é prescritível). 
 
7.4.2.4 Responsabilidade Nas Relações De Família 
 
A partir do momento em que a CF promoveu a dignidade da pessoa humana, a 
responsabilidade civil nas relações de família ganhou força. 
 
É inegável que no campo das relações de família pode ocorrer dano moral. 
 
É possível que a mulher ou marido ajuíze ação de separação cumulada com dano 
moral (no caso de traição, por exemplo). 
 
Trata-se, segundo o prof. Inácio de Carvalho Neto, de responsabilidade 
extracontratual/aquiliana . 
 
Já há decisão reconhecendo dever de indenização pela prática de adultério, pela 
recusa a prática de ato sexual, por forçar o parceiro a ato sexual anormal, por maus 
tratos etc. 
 
Abandono afetivo de filho também gera dano moral. Mas isto é controvertido. O 
STJ tem julgados concedendo o dano moral e julgados negando o dano moral. 
 
IMPORTANTE: O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de 
cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável? 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
Há um dever jurídico de cuidar afetivamente? SIM . Nos julgamentos da 3º Turma 
prevalece o entendimento de que, em hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso em 
relação ao filho, é cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foiextraída da compreensão de que o ordenamento jurídico prevê o "dever de cuidado", o 
qual compreeende a obrigação de convivência e "um núcleo mínimo de cuidados 
parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos 
quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção 
social." STJ. 3ª Turma. REsp 1159242-SP, Relª Minª Nancy Andrighi, julgado em 
24/4/2012 (Info 496). STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, 
julgado em 03/11/2015. NÃO . Nas hipóteses julgadas pela 4ª Turma, entende-se que 
não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha sido o sofrimento do filho. 
O Direito de Família é regido por princípios próprios, que afastam a responsabilidade 
civil extracontratual decorrente de ato ilícito. No plano material, a obrigação jurídica 
dos pais consiste na prestação de alimentos. No caso de descumprimento dos deveres de 
sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê como punição a perda do 
poder familiar, antigo pátrio-poder. STJ. 4ª Turma. REsp 1.579.021-RS, Relª Minª 
Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017. 
 
IMPORTANTE: A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo 
MATERIAL do filho gera danos morais , passíveis de compensação pecuniária. O 
descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de 
prestar assistência MATERIAL ao filho , não proporcionando a este condições dignas 
de sobrevivência e causando danos à sua integridade física moral, intelectual e 
psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil. STJ. 4ª 
Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609). 
 
IMPORTANTE: O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado 
comportamento sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, 
entre outros), e mesmo assim continua normalmente tendo relações sexuais com sua 
companheira sem alertá-la para esse fato, assume os riscos de sua conduta e, se ela for 
contaminada, responde civilmente pelos danos causados. A negligência, incúria e 
imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente de sua 
possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre a 
probabilidade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção. STJ. 4ª Turma. 
REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 
647). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO II 
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL 
TÍTULO I 
DA AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE 
CAPÍTULO I 
DA RESPONSANBILIDADE POR ATO PRÓPRIO 
 
 
1- INFRAÇÃO A UM DEVER 
 
A ação ou omissão do agente, que dá origem a indenização, geralmente decorre 
da infração a um dever, que pode ser legal, contratual ou social (abuso de direito). 
 
Na responsabilidade extracontratual/aquiliana , o que se fere é uma norma 
legal (art. 186, 187 e 927), fundando-se no postulado neminem laedere (dever jurídico 
de não lesar outrem). 
 
O art. 186 é o dispositivo que define a regra geral da responsabilidade civil , é 
quem define o ato ilícito. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (dolo), 
negligência ou imprudência (culpa), violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito . 
(responsabilidade SUBJETIVA) 
 
2- ABUSO DE DIREITO 
 
O art. 187 consagra o ABUSO DE DIREITO , que é equiparado ao ato 
ilícito . 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, 
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu 
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes . 
(responsabilidade OBJETIVA) 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
IMPORTANTE!!! Ao definir o abuso de direito o legislador NÃO TROUXE A 
EXIGÊNCIA DA CULPA ( responsabilidade OBJETIVA ). 
 
A pessoa, mesmo agindo dentro dos seus direitos, pode, em alguns casos, ser 
responsabilizada. O abuso de direito prescinde da idéia de culpa (responsabilidade 
objetiva) . Ocorre o abuso de direito quando o agente atuando dentro dos limites da lei 
deixa de considerar a finalidade social de seu direito subjetivo e dele exorbita, ao 
exercê-lo, causando prejuízo a outrem . Não ocorre violação aos limites objetivos da 
lei, mas o agente se desvia dos fins sociais a que a lei se destina. 
 
A jurisprudência, em regra, considera abuso de direito o ato que constitui o 
exercício egoístico, anormal do direito, nocivo a outrem, contrário ao destino 
econômico e social do direito em geral. 
 
IMPORTANTE: O ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de 
fundamentação idônea e intentadas com propósito doloso, pode configurar ato 
ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o denominado assédio processual . 
STJ. 3ª Turma. REsp 1817845-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. 
Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2019 (Info 658). Trata-se daquilo que, nos 
Estados Unidos, ficou conhecido como “ sham litigation ” (litigância simulada), ou 
seja, a “ ação ou conjunto de ações promovidas junto ao Poder Judiciário, que não 
possuem embasamento sólido, fundamentado e potencialidade de sucesso, com o 
objetivo central e disfarçado de prejudicar algum concorrente direto do impetrante, 
causando-lhe danos e dificuldades de ordem financeira, estrutural e reputacional .” 
 
#Existe diferença entre a ilicitude do art. 186 (regra geral) e a ilicitude do art. 187 
(abuso de direito)? 
Existe sim , uma vez que a ilicitude prevista no artigo 186 é SUBJETIVA , ao passo 
que a ilicitude do artigo 187 é OBJETIVA , porquanto, na definição do abuso de 
direito, o legislador utilizou um critério apenas finalístico, não vinculado à culpa . 
 
O nosso sistema é dual, consagrando a ilicitude com culpa e a ilicitude sem 
culpa. 
 
IMPORTANTE!!! Vale lembrar que não caracteriza abuso de direito a situação desurrectio e consequente supressio , por conta da incidência dos princípios da boa-fé 
objetiva, da confiança e da não surpresa ( venire contra factum proprium ). 
 
Surrectio traduz uma situação jurídica favorável que se consolida ao longo do 
tempo a partir do cumprimento de uma obrigação até então não prevista 
contratualmente fazendo surgir novo dever contratual para a parte que assim se 
comportou, em benefício da parte contrária, à luz do princípio da confiança; em 
contrapartida, haverá a perda de um direito ou faculdade originariamente conferido à 
outra parte ( supressio , que corresponde ao não exercício de um direito durante um 
determinado lapso de tempo gerando a justa expectativa na parte contrária de que o 
direito não seria exigido, o que faz com que a obrigação contratual deixe de existir). 
Um ganha e outro perde. Ex.: pessoa que se apropriou de área comum do 
condomínio para parar o carro, sem que o condomínio reclamasse (o sujeito ganhou a 
área e o condomínio perdeu). Surrectio para a pessoa e Supressio para o condomínio. 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
3- ROMPIMENTO DE NOIVADO E SEPARAÇÃO JUDICIAL 
 
É princípio da ordem pública que qualquer dos noivos tem a liberdade de se 
casar e de se arrepender. Dependendo da forma de como o arrependimento se manifesta 
(sem justo motivo, acarretando dano moral ou patrimonial), pode dar causa à ação de 
indenização. 
 
Os noivos realizam despesas, tais como, enxoval, buffet etc. O arrependimento 
do outro acarretará, então, prejuízo. Se não houve justo motivo para a mudança de 
atitude, o lesado terá o direito de obter a reparação do dano. 
 
A responsabilidade do desistente só será reconhecida se: 
 
a) Se inexistir motivo justo para a retratação. Ex.: mudança de religião, 
infidelidade etc. 
b) Se ficar provado que o rompimento causou dano material ou moral ao outro 
noivo. 
 
Se o marido agride a esposa, causa-lhe ferimentos graves ou comete calúnia 
injúria (crime contra honra), tal conduta, além de constituir causa de separação, pode 
gerar ação de indenização de perdas e danos. 
 
O que carece de fundamentação legal é o pedido de indenização fundado no só 
fato da ruptura conjugal. 
 
O adultério, embora constitua causa para a separação, não conduz, por si só, à 
concessão de indenização por dano moral. A indenização é devida somente se a 
violação do dever de fidelidade extrapolar normalidade genérica. 
 
4- DIREITO À IMAGEM 
 
O direito à imagem integra o rol dos direitos da personalidade. 
 
Dispõe o art. 20 do CC e o inciso V do art. 5º da CF: 
 
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da 
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a 
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização 
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e 
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a 
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. 
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes 
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os 
descendentes. 
 
CF Art. 5 º , 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além 
da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
 
IMPORTANTE: Uma revista fez uma reportagem sobre trabalho infantil. Para ilustrar 
a matéria, a revista utilizou fotos de crianças simulando como se estivessem trabalhando 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
em minas de talco. Ocorre que os pais das crianças não autorizaram essas imagens. A 
revista deve ser condenada a pagar indenização por danos morais pela violação do 
direito de imagem das crianças que tiveram as fotos publicadas na reportagem sem a 
autorização dos pais. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade 
das crianças (art. 227 do CF/88), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses 
econômicos de veículos de comunicação. O dever de indenização por dano à imagem de 
criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa . STJ. 3ª Turma. 
REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018. 
 
IMPORTANTE: Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em virtude da 
veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem prévia 
autorização, em cenas do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples 
utilização não autorizada de sua imagem, ainda que de forma indireta, geraria direito a 
indenização por danos morais, independentemente de efetivo prejuízo. O STJ não 
concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica 
não depende da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como 
coadjuvantes. O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a 
autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou 
audiovisuais bem como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas como 
coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem 
de pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a 
história profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1454016-SP, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/12/2017 (Info 
621). 
 
IMPORTANTE: A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de 
imagem vinculada a fato histórico de repercussão social. Súmula 403-STJ: Independe 
de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa 
com fins econômicos ou comerciais. STJ. 3ª Turma. REsp 1631329-RJ, Rel. Min. 
Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 
(Info 614). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizadopor Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
RESPONSABILIDADE INDIRETA 
 
 
É indireta porque não foi o sujeito responsável que diretamente agiu (foi o 
animal ou a coisa). 
 
Subdivide-se em RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO e 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA OU DO ANIMAL. 
 
 
RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO 
 
 
1- PRESUNÇÃO DE CULPA E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA 
 
A responsabilidade por ato de terceiro é uma responsabilidade INDIRETA . 
 
#O que se entende por responsabilidade indireta? 
 
A responsabilidade civil DIRETA , também chamada de simples ou por ato 
próprio , é aquela em que o agente causador do dano é o responsável por sua reparação. 
Deriva de fato causado diretamente pelo agente que gerou o dano. 
 
A responsabilidade civil INDIRETA ou COMPLEXA ocorre quando o 
responsável pela reparação do dano é pessoa distinta da causadora direta da lesão . É a 
que decorre de ato de terceiro , com o qual o agente tem vínculo legal de 
responsabilidade, além das situações de fato de animal ou fato da coisa . 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
 
Veja como o tema está disposto no Código Civil: 
 
Responsabilidade por ato de terceiro: 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e 
em sua companhia; 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem 
nas mesmas condições; 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e 
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão 
dele; 
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde 
se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus 
hóspedes, moradores e educandos; 
 
Responsabilidade pelo fato do animal: 
 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este 
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. 
 
 
Responsabilidade pelo fato da coisa: 
 
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que 
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja 
necessidade fosse manifesta. 
 
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano 
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar 
indevido. 
 
No caso de concurso de agentes na prática de um ato ilícito surge a 
solidariedade. 
 
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito 
de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa 
tiver mais de um autor, todos responderão SOLIDARIAMENTE 
pela reparação. 
Parágrafo único . São SOLIDARIAMENTE responsáveis com os 
autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932. 
 
As pessoas do art. 932 são responsabilizadas ainda que não haja culpa de 
sua parte. O CC 2002 abandonou o critério da culpa presumida, para responsabilizar os 
pais, tutores, patrões etc. independentemente de culpa. Enuncia o art. 933 do CC a 
adoção, segundo Flávio Tartuce, da teoria do risco-criado. Assim, para que essas 
pessoas respondam, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis. 
Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva impura , 
conforme a doutrina de Álvaro Villaça Azevedo. 
 
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo 
antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte 
(responsabilidade OBJETIVA ) , responderão pelos atos praticados 
pelos terceiros ali referidos . 
 
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William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 
 
IMPORTANTE!!! No CC/16 a responsabilidade por ato de terceiro era baseada na 
culpa, que era presumida (culpa in vigilando , pela vigilância inadequada, ou culpa in 
eligendo , pela eleição inadequada do terceiro). O CC/02 revolucionou a matéria. 
Atualmente a responsabilidade por ato de terceiro é OBJETIVA . 
 
Obs.: A responsabilidade objetiva imprópria ( é a responsabilidade por culpa 
presumida , invertendo-se o ônus da prova) é espécie de responsabilidade subjetiva , 
uma vez que, mesmo sendo presumida, existe discussão a respeito da culpa. A 
responsabilidade objetiva é quando a responsabilidade independe de culpa. 
 
#O que se entende por culpa presumida? 
Ensina o Professor Cristiano Chaves que a regra geral prevista no art. 927, caput 
do Código Civil é da responsabilidade subjetiva com base na culpa, a qual deve ser 
provada pela vítima. No entanto, como exceção, o sistema admite a responsabilidade 
subjetiva com culpa presumida em que haverá a inversão do ônus de prova, ou 
seja, a vítima fica dispensada de provar a culpa do agente . Esta responsabilidade só 
será possível nos casos previstos em lei. Exemplo de responsabilidade subjetiva com 
culpa presumida: responsabilidade contratual (a responsabilidade do cirurgião 
plástico por tratamento puramente estético é hipótese de responsabilidade subjetiva com 
culpa presumida, de acordo com o STJ). 
 
2- RESPONSABILIDADE DOS PAIS, DOS TUTORES E 
CURADORES 
 
1ª) Pais pelos filhos menores: 
 
Os pais respondem pelos atos dos filhos menores que estiverem sob sua 
autoridade e companhia . 
 
A responsabilidade paterna independe de culpa. Ex.: pai que deixa o filho menor 
dirigir carro. 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob SUA 
AUTORIDADE E EM SUA COMPANHIA; 
II - o tutor e o curador , pelos pupilos e curatelados , que se 
acharem nas mesmas condições; (Tem que estar sob autoridade E 
COMPANHIA). 
 
No CC/02 pode haver responsabilidade civil do absolutamente e do 
relativamente incapaz , de forma SUBSIDIÁRIA, CONDICIONAL, MITIGADA E 
EQUITATIVA . 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL DO INCAPAZ 
Art. 928. O incapaz ( absoluta ou relativamente ) responde pelos 
prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não 
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios

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