Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 LIVRO I IDEIAS GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL 1- INTRODUÇÃO E CONCEITO “A responsabilidade civil, espécie de responsabilidade jurídica, deriva da transgressão de uma norma civil preexistente, com a consequente imposição ao causador do dano do dever de indenizar.” Toda forma de responsabilidade civil pressupõe a violação de uma norma civil preexistente impondo ao causador do dano o dever de indenizar. Responsabilizar alguém é atribuir a esse alguém os efeitos jurídicos do seu comportamento transgressor dessa norma jurídica preexistente. Então, para entender responsabilidade civil, é importante que se compreenda a existência de um sistema jurídico normativo prévio que é violado por um comportamento danoso. E, por conta dessa violação, impõe-se ao infrator o consequente dever de indenizar. A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida. Fala-se, assim, em responsabilidade civil contratual ou negocial e em responsabilidade civil extracontratual , também denominada responsabilidade civil aquiliana . A teoria da responsabilidade civil integra o direito obrigacional, pois a principal consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para o seu autor, de reparar o dano, obrigação de natureza pessoal que se resolve em perdas e danos. A responsabilidade civil, tradicionalmente, baseia-se na ideia de culpa. O art. 186 CC define o que se entende por comportamento culposo. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral , comete ato ilícito . Em consequência fica o agente obrigado a reparar o dano. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa (OBJETIVA), nos casos especificados em lei , ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Só se pode cogitar de culpa quando o evento é previsível. Se o evento é imprevisível, não há que se cogitar culpa. O art. 186 pressupõe a existência da culpa, que abrange o dolo e a culpa strictu sensu ou aquiliana (violação de um dever que o agente podia conhecer e observar, segundo os padrões de comportamento médio). 1 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 A culpa strictu sensu pode ocorrer das seguintes formas: a) Imprudência : consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias. Traduz falta de cuidado + ação. b) Negligência: é a falta de atenção em virtude da qual deixa o agente de prever o resultado que podia e devia ser previsto. Traduz falta de cuidado + omissão . c) Imperícia: inaptidão técnica para a prática de um ato ou ofício. É a culpa profissional. Nos últimos anos vem ganhando terreno a chamada TEORIA DO RISCO , que, sem substituir a teoria da culpa, alcança muitas hipóteses em que esta se revela insuficiente para a proteção da vítima. A responsabilidade seria encarada sob o aspecto objetivo : o agente indeniza não porque tenha culpa, mas porque é o proprietário do bem ou o responsável pela atividade que provocou o dano. IMPORTANTE: A responsabilidade extracontratual, nos termos do atual Código Civil, está baseada em dois alicerces categóricos: o ato ilícito e o abuso de direito (cuja caracterização dispensa a análise de culpa – é, portanto, hipótese de responsabilidade objetiva). Trata-se de importante inovação, uma vez que o CC/1916 amparava a responsabilidade extracontratual apenas no ato ilícito. 2- IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. 2.1 RESPONSABILIDADE DOS INCAPAZES O CC 2002 substituiu o princípio da irresponsabilidade absoluta do incapaz pelo princípio da responsabilidade mitigada e SUBSIDIÁRIA . Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes . Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem . IMPORTANTE: A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa . Os incapazes (ex.: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art. 928 do CC. Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima. Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante. Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz. A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não solidária . STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 2 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Se a vítima não conseguir receber a indenização do curador, poderá o juiz, se o incapaz for abastado, condenar o incapaz ao pagamento de uma indenização equitativa (responsabilidade SUBSIDIÁRIA). A vítima somente não será indenizada pelo curador se este não tiver patrimônio suficiente para responder pela obrigação (responsabilidade objetiva). Se o alienado não estiver sob o poder de ninguém, responderá comseus próprios bens. IMPORTANTE: A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo. Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário entre o genitor responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do dano . É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivam do mesmo fundamento de fato ou de direito, intente ação contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. Ex.: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a arma de fogo de seu pai e, por imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu. Vítor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação contra João e Lucas, em litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria plenamente possível que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de litisconsórcio: facultativo e simples. STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 2.2 A RESPONSABILIDADE DOS MENORES A obrigação de indenizar cabe às pessoas responsáveis pelo menor. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; O menor só será responsabilizado se os responsáveis não dispuserem de meios suficientes para o pagamento (responsabilidade subsidiária), mas a indenização, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. Não mais se admite que os responsáveis pelo menor se exonerem da obrigação de indenizar provando que não foram negligentes na guarda, porque o art. 933 dispõe que a responsabilidade dessas pessoas INDEPENDE DE CULPA . Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente , AINDA QUE NÃO HAJA CULPA DE SUA PARTE (responsabilidade objetiva) , responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. 3 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 IMPORTANTE!!! Se os pais emancipam o filho voluntariamente, a emancipação produz todos os efeitos naturais do ato, menos o de isentar os pais da responsabilidade pelos atos ilícitos praticados pelos filhos, de acordo com a jurisprudência o STJ (haverá, na hipótese de emancipação voluntária, responsabilidade SOLIDÁRIA entre pais e filhos ) . O mesmo não acontece quando a emancipação decorre de casamento e das outras causas previstas no art. 5º, parágrafo único, do CC (emancipação legal). 3- RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE PENAL 4- RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA Diz-se, pois, ser SUBJETIVA a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa . A prova da culpa passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. O ônus dessa prova incumbe à vítima. Em não havendo culpa (dolo ou culpa em sentido estrito), não há responsabilidade. A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, a reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isso acontece, diz-se que a responsabilidade é OBJETIVA , uma vez que prescinde da demonstração de culpa , e se satisfaz apenas com a demonstração do dano e do nexo causal. Esta teoria, dita objetiva ou do risco , tem como postulado que todo dano é indenizável e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independente de culpa. IMPORTANTE!!! Quando a CULPA É PRESUMIDA inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu, porque a culpa do réu já é presumida. Os casos de culpa presumida são considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva , pois se fundam ainda na culpa, mesmo que presumida. É o caso, por exemplo, daqueles que assumem obrigação de resultado (cirurgiões plásticos contratados para realização de cirurgia embelezadora). Frustrado o resultado perseguido, presume-se a culpa do agente para fins de apuração da responsabilidade civil. 4 RESP. CIVIL - ILÍCITO CIVIL RESP. PENAL - ILÍCITO PENAL O mecanismo sancionatório civil é patrimonial , é menos gravoso. O mecanismo sancionatório é mais gravoso, trata-se da liberdade. Não há fatos típicos (a lei não traz a enumeração de todos os fatos que geram dever de indenizar). Só há crime se o fato for típico (a lei já traz todos os fatos que são ilícitos penais). As penas não são predeterminadas (o quantum fica a cargo do juiz). As penas são determinadas em seus limites (o juiz deve-se ater aos limites fixados em lei). Mesmo a culpa levíssima gera dever de indenizar. A culpa, para gerar responsabilidade penal, é maior. William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 RESUMINDO!! A diferença entre responsabilidade objetiva e a culpa presumida é que, nessa última, ainda há discussão de culpa (havendo inversão do ônus da prova), enquanto na responsabilidade objetiva NÃO se discute culpa. Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco da atividade. Para essa teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiro. E deve ser obrigado a repará-la ainda que sua conduta seja isenta de culpa. É também necessário que esteja caracterizado o risco proveito , segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável. IMPORTANTE: O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da ConstituiçãoFederal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade . STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969). No CC a responsabilidade subjetiva subsiste como regra necessária, sem prejuízo da crescente adoção da responsabilidade objetiva em diversos dispositivos. 5-RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL O inadimplemento contratual acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389 CC. Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Quando a responsabilidade não deriva de contrato, mas de infração de dever genérico de conduta, imposto de forma genérica no art. 186 do mesmo diploma, diz-se que ela é extracontratual ou aquiliana. Ambas têm como consequência a obrigação de ressarcir o prejuízo causado. O CC acolheu a teoria dualista da responsabilidade ( responsabilidade contratual e extracontratual) , afastando a unitária . Algumas diferenças podem ser apontadas entre as duas responsabilidades: a) Na responsabilidade contratual o inadimplemento presume-se culposo . Na extracontratual, ao lesado incumbe o ônus de provar culpa ou dolo do causador do dano. b) A contratual tem origem na convenção, enquanto a extracontratual tem origem na inobservância do dever genérico de não lesar outrem (ou no abuso de direito). 5 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 c) A capacidade sofre limitações no terreno da responsabilidade contratual , sendo mais ampla na extracontratual. 6- RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL POR ATOS LÍCITOS Via de regra, a obrigação de indenizar se assenta na prática de um ato ilícito. Outras vezes, a obrigação de indenizar nasce de uma atividade perigosa, e não pelo cometimento de um ato ilícito. Em outros casos, a obrigação de indenizar nasce de fatos permitidos por lei e não abrangidos pelo chamado risco social. Ex.: estado de necessidade. 7- RESPONSABILIDADE NAS RELAÇÕES DE CONSUMO As normas do CDC são de ordem pública (cogentes) e de interesse social. No sistema do CDC, tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço como a oriunda do vício do produto ou serviço são de natureza OBJETIVA , prescindindo do elemento culpa a obrigação de indenizar atribuída ao fornecedor. São limitadas as excludentes invocáveis pelo agente: § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Determina-se expressamente a aplicação da teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica, e se coloca como um direito básico do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova. 8 - PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL 8.1 AÇÃO OU OMISSÃO É a conduta (comissiva ou omissiva) . Não necessariamente tratar-se-á de ato ilícito ( existe também responsabilidade por ato lícito . Ex.: policial que requisita o carro de particular para perseguir bandido e colide contra parede: o ato é lícito, mas gera responsabilidade). A conduta humana pode ser definida como o comportamento positivo ou negativo do agente, que desemboca em um dano ou prejuízo. A regra é a ação ou conduta positiva. Já para configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado ato (omissão genérica), bem como a prova de que a 6 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 conduta não foi praticada (omissão específica). É ainda necessária a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. A conduta humana, para efeito de responsabilidade civil pressupõe voluntariedade e consciência (no ato reflexo, caso fortuito, força maior não há conduta humana voluntária e consciente). Se não tiver voluntariedade e consciência , ou seja, se a pessoa não sabe o que faz ou não quer o que faz, não há que se falar em conduta humana. IMPORTANTE!!! A ilicitude não é um requisito obrigatório da conduta humana para efeito de responsabilidade, uma vez que, ainda que em caráter excepcional, pode haver responsabilidade civil decorrente de ato lícito. Ex.: desapropriação é um ato lícito do estado que gera responsabilidade; passagem forçada (prédio incrustado - não é servidão - passagem forçada é direito de vizinhança, que decorre ex lege ; estado de necessidade e legítima defesa - existe direito de regresso contra o causador do perigo). Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário. 7.2 CULPA OU DOLO DO AGENTE É necessário , para que a vítima obtenha a reparação do dano, que prove dolo ou culpa strictu sensu (aquiliana) do agente. Em alguns casos, o código presume a culpa; em outros, responsabiliza o agente independentemente de culpa . A teoria subjetiva faz distinção com base na extensão da culpa. a) Culpa grave ou lata: imprópria ao comum dos homens, é a modalidade que mais se assemelha ao dolo (há imprudência ou negligência crassa). O efeito é o mesmo do dolo. b) Culpa leve : falta evitável com atenção ordinária. A indenização, no caso, será aferidapela extensão do dano e pelo grau de culpa, podendo o juiz reduzir equitativamente a indenização, especialmente se a vítima tiver concorrido para o evento danoso. c) Culpa levíssima: falta só evitável com atenção extraordinária ou com especial habilidade. Estando presente a culpa levíssima, a indenização a ser paga deverá ser reduzida mais ainda, nos termos dos arts. 944 e 945 do CC. A culpa grave ao dolo se equipara . No Direito Civil, a culpa mesmo que levíssima obriga a indenizar . IMPORTANTE!!! Em geral, NÃO se mede o dano pelo grau da culpa. O montante do dano é comprovado pelo prejuízo comprovado pela vítima (teoria da reparação integral do dano). Todo dano provado deve ser indenizado qualquer que seja o grau da culpa. Contudo, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. 7 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Art. 944. A INDENIZAÇÃO MEDE-SE PELA EXTENSÃO DO DANO . Parágrafo único . Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir , equitativamente, a indenização. IMPORTANTE: Questão de debate intenso é a possibilidade de aplicação dos arts. 944 e 945 do CC para a responsabilidade objetiva (uma vez que há referência ao grau de culpa). Respondendo negativamente, na I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado o enunciado 46: “ a possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva ”. Entretanto, na IV Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, Flávio Tartuce propôs enunciado doutrinário que suprimiu a parte final do enunciado anterior, o que acabou sendo aprovado (enunciado 380: “ Atribui-se nova redação ao enunciado 46 da I Jornada de Direito Civil, com a supressão da parte final: não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva ”). Em suma, a culpa concorrente, o fato concorrente e o risco concorrente da vítima são amplamente admitidos como atenuantes do nexo de causalidade na responsabilidade objetiva, conduzindo à redução equitativa da indenização. 7.3 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE Se houve dano, mas a sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, desaparecendo, por via de consequência, a obrigação de indenizar. O nexo de causalidade traduz o liame jurídico que conecta ou vincula a conduta do agente ao prejuízo correspondente. A culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito e a força maior rompem o nexo de causalidade, afastando a responsabilidade do agente. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior , se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Existem três teorias que tentam explicar o nexo de causalidade: a) Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou conditio sine qua non : é a teoria adotada pelo código penal, com as mitigações da doutrina da imputação objetiva. Tal teoria foi desenvolvida por Von Buri. Não diferencia os antecedentes fáticos, de maneira que tudo aquilo que concorre para o prejuízo é considerado causa . Os antecedentes se equivalem, têm a mesma importância. Essa teoria pode levar ao infinito (pode ir até a Adão e Eva). b) Teoria da causalidade adequada : desenvolvida por Von Kries, essa teoria sustenta que nem todo antecedente é causa . Causa é apenas o antecedente abstratamente idôneo e adequado a produzir o resultado danoso . 8 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Ex.: Sujeito tranca outro no banheiro do aeroporto, fazendo-o perder o avião das 14h. Ao pegar o avião das 16h, o avião cai e o indivíduo morre. O cara que trancou o sujeito não tem responsabilidade (trancar alguém no banheiro não é causa adequada para matar alguém). c) Teoria da CAUSALIDADE DIRETA E IMEDIATA /teoria da necessariedade do dano ou teoria da interrupção do nexo causal : essa teoria encontra fundamento na doutrina do professor Agostinho Alvim, Gustavo Tepedino e Carlos Roberto Gonçalves. Para muitos, é a teoria adotada pelo CC/02, no art. 403. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela DIRETO E IMEDIATO , sem prejuízo do disposto na lei processual. Para essa teoria basta ver qual é a CAUSA DIRETA do fato. Esta é uma teoria que restringe a causa do fato à causa direta e imediata. Esta teoria parte da premissa de análise mais incisiva, porquanto é preciso que exista um vínculo, um liame necessário, entre aquele antecedente que se considera causa e o resultado . Por essa teoria, pergunta-se: #Esse comportamento anterior foi CAUSA DIRETA desse resultado? Se a resposta for positiva, há o nexo de causalidade. Para essa teoria não se indaga apenas se a causa é adequada. Questiona-se se a causa é direta e imediata. Indaga-se se há um vínculo necessário entre o resultado e a causa. 7.4 DANO Em regra, sem prova de dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente. Cabe ao autor da demanda o ônus de provar o dano (aplicação do art. 373 do CPC/15). Em hipóteses excepcionais, contudo, admite-se a inversão do ônus da prova do dano ou prejuízo, a exemplo das hipóteses envolvendo relação de consumo (se presente a hipossuficiência do consumidor ou a verossimilhança de suas alegações). O dano pode ser material ou extrapatrimonial (moral). Fala-se, atualmente, no reconhecimento de novos danos (danos morais coletivos, danossociais, danos por perda de uma chance etc.). 7.4.1 Conceito e Espécies Conceito: dano é a lesão de qualquer bem jurídico, patrimonial ou moral. É toda desvantagem ou diminuição que sofremos em nossos bens jurídicos. Dano material ou patrimonial é o que afeta o patrimônio corpóreo do ofendido (não cabe, pela dicção dos arts. 186 e 403 do CC, reparação por dano hipotético ou eventual). Moral ou extrapatrimonial é o que só ofende o lesado como ser humano, não lhe atingindo o patrimônio. IMPORTANTE!!! Indeniza-se o dano ! Só há indenização com dano . Sem a prova do dano, ninguém pode ser indenizado civilmente. O dano pode ser patrimonial ou 9 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 extra-patrimonial (moral), direto ou indireto. A inexistência de dano torna sem objeto a pretensão a sua reparação. EXCEÇÃO!!! Aquele que demanda dívida já paga deve pagar em dobro. Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição. IMPORTANTE: Para que haja a aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002), é imprescindível a demonstração de má-fé do credor . Permanece válido o entendimento da Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940 do CC 2002). STJ. 2ª Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576). IMPORTANTE: A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de ação autônoma ou do manejo de reconvenção. STJ. 2ª Seção. REsp 1111270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576). Para Carlos Roberto Gonçalves, esse é um caso de responsabilidade independente de dano. Para CRG, outra exceção é o art. 416 do CC, que permite ao credor cobrar a cláusula penal sem precisar provar o prejuízo. IMPORTANTE!!! Art. 943 CC . Art. 943. O direito de exigir REPARAÇÃO e a OBRIGAÇÃO DE PRESTÁ-LA transmitem-se com a herança. Obs.: O dispositivo acima se aplica tanto ao dano moral quanto ao patrimonial. E tanto o direito de exigir a reparação quanto reparar o dano. IMPORTANTE!!! Ter em mente que nem todo dano é indenizável . Existem três requisitos para o dano ser indenizável: a) Lesão a um interesse juridicamente tutelado (o simples fim de um namoro, por si só, não é interesse juridicamente tutelado para efeito de indenização). b) A subsistência do prejuízo ( o dano só é indenizável se o prejuízo subsistir ). c) Certeza do dano e atualidade . Atual é o dano que já existe no momento da apuração da responsabilidade. O dano, para ser indenizável, deve ser certo, não se indeniza dano hipotético. Obs.: Este requisito é relativizado pela teoria francesa da perda de uma chance. 10 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 IMPORTANTE!!! Perda de uma chance . Segundo Fernando Gaburri, a perda de uma chance ocorre nos casos em que o ato ilícito retira da vítima a possibilidade futura de experimentar uma situação superior ou mais favorável do que a atual . Ex.: Wanderlei Cordeiro de Lima e o “padre maluco” – Essa teoria ganhou maior notoriedade no Brasil com o julgamento do “Show do Milhão” pelo STJ. Recentemente, também decidiu o STJ ser possível a aplicação da teoria da perda de uma chance em função de erro médico. Obs.: Nos casos de perda da chance, a indenização deve ser reduzida, uma vez que se indeniza a chance perdida. #QUESTÕES ESPECIAIS DE CONCURSO #O juiz, ao fixar a indenização em sede de responsabilidade civil, poderá reduzir o quantum indenizatório considerando o grau de culpa do infrator? Sim!!! Existe hoje no CC um redutor indenizatório, com fulcro no art. 944, parágrafo único ( só pode reduzir ). Art. 944. A INDENIZAÇÃO mede-se pela EXTENSÃO DO DANO. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. IMPORTANTE!!! #O que é dano moral in re ipsa? Em algumas situações, a doutrina e a jurisprudência afirmam que a demonstração do dano moral não é necessária, bastando se demonstrar que houve a prática do ato. Nesse caso, fala-se em damnun in re ipsa , também conhecido como dano moral in re ipsa . Há danos morais que, pela sua frequência e pela sua natureza dispensam prova em juízo. Dano in re ipsa é aquele que DISPENSA PROVA EM JUÍZO. IMPORTANTE!!! Quando se atinge direitos fundamentais (violação a direitos fundamentais) o dano é presumido (in re ipsa). IMPORTANTE: Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa , sendo necessária a comprovação nos autos do prejuízo sofrido. Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador . STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). CUIDADO , porque há julgados anteriores do STJ em sentido contrário: O dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita, revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral .(...) STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619). #O que é DANO REFLEXO (ou em RICOCHETE), DANO INDIRETO e DANO BOOMERANG ? 11 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Dano indireto remete-nos à ideia de uma cadeia de prejuízos: a mesma vítima sofre um dano direto e danos indiretos ou consequenciais. Ex.: indivíduo comprou um cavalo e, quando recebeu o animal, verificou que possuía uma doença contagiosa e letal. O indivíduo sofreu dano direto, porque o animal veio infectado, e danos indiretos, uma vez que o cavalo infectou três outros cavalos, que faleceram. Neste caso, restam configurados danos indiretos. Danos indiretos não se confundem com os danos reflexos ou em ricochete. O dano reflexo é aquele que atinge, além da vítima direta, uma vítima indireta, a exemplo do filho que sofre o dano pela morte do pai. IMPORTANTE!!! No dano indireto há uma vítima que sofre uma cadeia de prejuízos. No dano reflexo há duas ou mais vítimas. O pai, num assalto foi alvejado e vem a morrer. A vítima direta é o pai. A vítima indireta é o filho. Esse filho, ao entrar com a indenização, pela ligação que tem com o pai, é a vítima indireta, que sofre o chamado dano reflexo ou em ricochete. No dano boomerang existe uma inversão de posições na relação jurídica desencadeada pelo ato ilícito. Ex.: Caio, guiando o seu veículo, abalroa o veículo de Tício, causando-lhe dano. Tício, ato contínuo, em reação, deflagra tiros contra o veículo de Caio. Neste caso, quem era agente do dano se torna vítima e a vítima se torna autor. IMPORTANTE!!! Dano emergente e lucro cessante . Indenizar significa reparar o dano causado à vítima integralmente (princípio da reparação integral do dano). O critério para o ressarcimento do dano material encontra-se no art. 402 do CC. Abrange o pagamento do dano emergente e do lucro cessante. Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu (DANOS EMERGENTES) , o que razoavelmente deixou de lucrar (LUCRO CESSANTE). a) Dano emergente: é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida pela vítima. b) Lucro cessante: é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de um ganho esperado. É apurado com base em fatos pretéritos, naquilo que vinha ocorrendo anteriormente. É o que razoavelmente se deixou de lucrar. 7.4.2. Dano moral 7.4.2.1 Conceito e Características Em sua primeira fase, o dano moral era irreparável. Os autores, inclusive no plano internacional, entendiam que era um exagero indenizar o dano moral. Falava-se em não haver preço da dor. Argumentava-se também que o dano moral não seria mensurável. Para eles, admitir o dano moral seria dar poder excessivo ao juiz. Numa segunda fase, no Brasil, o dano moral passou a ser reparável, desde que condicionado a um dano material sofrido. Não existia autonomia jurídica na reparação do dano moral. 12 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Em um terceiro momento, já após a CF/88 (art. 5º, V e X), o dano moral passou a ser reparado de maneira autônoma . O CC/02 torna explícita a reparação por dano moral, para afastar qualquer dúvida quanto à sua reparabilidade. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, AINDA QUE EXCLUSIVAMENTE MORAL , comete ato ilícito. Conceito: Dano moral é LESÃO A DIREITO DA PERSONALIDADE . Logo, a melhor corrente categórica é aquela que conceitua os danos morais como lesão a direitos da personalidade. Atinge o ofendido como pessoa, não atingindo seu patrimônio corpóreo. Objetiva compensar os males suportados pela vítima, não havendo finalidade de promover acréscimo patrimonial (tal dedução justifica a não incidência de imposto de renda sobre o valor recebido a título de dano moral – Súmula 498 do STJ). IMPORTANTE: Além do pagamento de indenização em dinheiro, presente o dano moral, é viável uma compensação in natura , conforme reconhece enunciado aprovado na VII Jornada de Direito Civil (enunciado 589): “ A compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo admitida a reparação in natura, na forma de retratação pública ou outro meio” . IMPORTANTE!!! É perfeitamente cumulável , dada a sua autonomia, o pedido de indenização por dano moral e por dano estético (danos morais decorrentes do dano estético). “Só se deve reputar como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade , interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero aborrecimento está fora da órbita do dano moral , pois fazem parte da normalidade do nosso dia a dia. (Sergio Cavalieri).” Dessa forma, por si só, não caracteriza dano moral, por exemplo, o fato de determinada pessoa ficar presa em porta detectora de metal em banco e exame de malas na alfândega . IMPORTANTE!!! O dano moral pode dispensar prova em concreto, pois se passa no interior da personalidade e, em determinadas situações, existe in re ipsa (se presume a existência). IMPORTANTE!!! Dano moral e pessoa jurídica. Vem prevalecendo o entendimento que ADMITE a responsabilidade por dano moral infligido a pessoa jurídica , especialmente no caso de danos resultantes de abalo de credibilidade. A pessoa jurídica é titular de honra OBJETIVA , fazendo jus à indenização por dano moral sempre que seu bom nome, reputação ou imagem forem atingidos no meio comercial por algum ato ilícito. Nesse sentido a súmula 227 STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.” 7.4.2.2. Quantificação e Natureza Jurídica Do Dano Moral 13 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins MoreiraNeto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 O Brasil, alinhando-se à França, Suíça, Portugal e Espanha, adotou uma regra geral de responsabilidade por dano moral (art. 186), não tendo consagrado normas específicas para o cálculo da indenização. Temos dois sistemas: 1º) SISTEMA ABERTO OU LIVRE: vale-se do critério de arbitramento . A jurisprudência brasileira adota esse sistema. Arbitrar o dano moral é, no caso concreto, defini-lo no quantum mais adequado para o caso concreto (predomina no Brasil). O magistrado deve agir com equidade analisando: a) a extensão do dano; b) as condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos; c) as condições psicológicas das partes; d) o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima. Obs.: O sistema do arbitramento deve ser balizado pelo entendimento sedimentado em súmulas e pela uniformização de jurisprudência, para evitar subjetivismos. O STJ adota, em tal contexto, o método bifásico para fixação do montante indenizatório, pelo qual deve o juiz, na primeira fase , fixar um valor básico de indenização de acordo com o interesse jurídico lesado e em conformidade com a jurisprudência consolidada do Tribunal (grupo de casos); na segunda fase , há a fixação definitiva da indenização de acordo com as circunstâncias particulares do caso concreto (STJ, REsp 959.780/ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26.04.2011). 2º) SISTEMA TARIFADO: sistema da tarifação legal . Pretende estabelecer em lei critérios prévios de quantificação por dano moral, ou seja, pretende estabelecer um tabelamento do valor devido a título de dano moral. Obs.: A lei de imprensa (foi revogada) tabelava o dano moral, e o STJ, na súmula 281, já declarava a inconstitucionalidade da tarifação. Súmula STJ: 281 A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa. Em geral afirma-se que a natureza jurídica da indenização por dano moral é compensatória para a vítima e disciplinador ou pedagógico para o ofensor . Como toda reparação de dano, a finalidade precípua do ressarcimento dos danos não é punir o responsável , e sim recompor o patrimônio do lesado . O caráter disciplinador é meramente reflexo, indireto. Parcela da doutrina não vislumbra diferença entre o caráter disciplinador/pedagógico e o caráter punitivo (enunciado 379 do CJF/STJ: “ O art. 944, caput, do CC não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil ”). IMPORTANTE!!! Começa a ganhar força no Brasil a teoria do desestímulo ou teoria do punitive damages . Essa teoria sustenta que, ao fixar o dano moral, além de compensar a vítima, o juiz deve desestimular o causador do dano, puni-lo, para que o agente não volte a delinquir . É a função social da responsabilidade civil. Obs.: Isso é muito importante para casos de lesões repetitivas, como boates etc. Nos EUA isso é muito usado. Nos EUA, o valor compensatório vai para a vítima, o valor punitivo vai para creches, fundos etc. 14 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Dispõe o enunciado 379 da IV jornada de direito civil: 379 – Art. 944 : O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil. #Cabe incidência de imposto de renda na indenização por dano moral? O STJ decidiu que NÃO incide IR , o dano moral é apenas um quantum para voltar ao status quo ante , não ganho de capital. A indenização é a justa compensação, não é ganho de capital. 7.4.2.3 Prazo Prescricional Para Reclamar Dano Moral IMPORTANTE!!! O prazo prescricional da pretensão de indenização por dano moral pode ser de três anos , de acordo com o CC, ou de cinco anos , no âmbito do CDC , se decorrente de fato do produto ou do serviço (art. 27). Obs.: É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual (STJ. 2ª Seção. EREsp 1280825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632). CDC Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano E de sua autoria . Obs.: A pretensão de fazer cessar lesão ou ameaça a direitos da personalidade é imprescritível. Contudo, violado um direito da personalidade, a pretensão de indenização é prescritível (a repercussão econômica da lesão a direito da personalidade é prescritível). 7.4.2.4 Responsabilidade Nas Relações De Família A partir do momento em que a CF promoveu a dignidade da pessoa humana, a responsabilidade civil nas relações de família ganhou força. É inegável que no campo das relações de família pode ocorrer dano moral. É possível que a mulher ou marido ajuíze ação de separação cumulada com dano moral (no caso de traição, por exemplo). Trata-se, segundo o prof. Inácio de Carvalho Neto, de responsabilidade extracontratual/aquiliana . Já há decisão reconhecendo dever de indenização pela prática de adultério, pela recusa a prática de ato sexual, por forçar o parceiro a ato sexual anormal, por maus tratos etc. Abandono afetivo de filho também gera dano moral. Mas isto é controvertido. O STJ tem julgados concedendo o dano moral e julgados negando o dano moral. IMPORTANTE: O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável? 15 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Há um dever jurídico de cuidar afetivamente? SIM . Nos julgamentos da 3º Turma prevalece o entendimento de que, em hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso em relação ao filho, é cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foiextraída da compreensão de que o ordenamento jurídico prevê o "dever de cuidado", o qual compreeende a obrigação de convivência e "um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social." STJ. 3ª Turma. REsp 1159242-SP, Relª Minª Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012 (Info 496). STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/11/2015. NÃO . Nas hipóteses julgadas pela 4ª Turma, entende-se que não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha sido o sofrimento do filho. O Direito de Família é regido por princípios próprios, que afastam a responsabilidade civil extracontratual decorrente de ato ilícito. No plano material, a obrigação jurídica dos pais consiste na prestação de alimentos. No caso de descumprimento dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê como punição a perda do poder familiar, antigo pátrio-poder. STJ. 4ª Turma. REsp 1.579.021-RS, Relª Minª Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017. IMPORTANTE: A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais , passíveis de compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar assistência MATERIAL ao filho , não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando danos à sua integridade física moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609). IMPORTANTE: O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), e mesmo assim continua normalmente tendo relações sexuais com sua companheira sem alertá-la para esse fato, assume os riscos de sua conduta e, se ela for contaminada, responde civilmente pelos danos causados. A negligência, incúria e imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente de sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre a probabilidade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção. STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647). 16 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 LIVRO II RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL TÍTULO I DA AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE CAPÍTULO I DA RESPONSANBILIDADE POR ATO PRÓPRIO 1- INFRAÇÃO A UM DEVER A ação ou omissão do agente, que dá origem a indenização, geralmente decorre da infração a um dever, que pode ser legal, contratual ou social (abuso de direito). Na responsabilidade extracontratual/aquiliana , o que se fere é uma norma legal (art. 186, 187 e 927), fundando-se no postulado neminem laedere (dever jurídico de não lesar outrem). O art. 186 é o dispositivo que define a regra geral da responsabilidade civil , é quem define o ato ilícito. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (dolo), negligência ou imprudência (culpa), violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito . (responsabilidade SUBJETIVA) 2- ABUSO DE DIREITO O art. 187 consagra o ABUSO DE DIREITO , que é equiparado ao ato ilícito . Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes . (responsabilidade OBJETIVA) 17 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 IMPORTANTE!!! Ao definir o abuso de direito o legislador NÃO TROUXE A EXIGÊNCIA DA CULPA ( responsabilidade OBJETIVA ). A pessoa, mesmo agindo dentro dos seus direitos, pode, em alguns casos, ser responsabilizada. O abuso de direito prescinde da idéia de culpa (responsabilidade objetiva) . Ocorre o abuso de direito quando o agente atuando dentro dos limites da lei deixa de considerar a finalidade social de seu direito subjetivo e dele exorbita, ao exercê-lo, causando prejuízo a outrem . Não ocorre violação aos limites objetivos da lei, mas o agente se desvia dos fins sociais a que a lei se destina. A jurisprudência, em regra, considera abuso de direito o ato que constitui o exercício egoístico, anormal do direito, nocivo a outrem, contrário ao destino econômico e social do direito em geral. IMPORTANTE: O ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de fundamentação idônea e intentadas com propósito doloso, pode configurar ato ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o denominado assédio processual . STJ. 3ª Turma. REsp 1817845-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2019 (Info 658). Trata-se daquilo que, nos Estados Unidos, ficou conhecido como “ sham litigation ” (litigância simulada), ou seja, a “ ação ou conjunto de ações promovidas junto ao Poder Judiciário, que não possuem embasamento sólido, fundamentado e potencialidade de sucesso, com o objetivo central e disfarçado de prejudicar algum concorrente direto do impetrante, causando-lhe danos e dificuldades de ordem financeira, estrutural e reputacional .” #Existe diferença entre a ilicitude do art. 186 (regra geral) e a ilicitude do art. 187 (abuso de direito)? Existe sim , uma vez que a ilicitude prevista no artigo 186 é SUBJETIVA , ao passo que a ilicitude do artigo 187 é OBJETIVA , porquanto, na definição do abuso de direito, o legislador utilizou um critério apenas finalístico, não vinculado à culpa . O nosso sistema é dual, consagrando a ilicitude com culpa e a ilicitude sem culpa. IMPORTANTE!!! Vale lembrar que não caracteriza abuso de direito a situação desurrectio e consequente supressio , por conta da incidência dos princípios da boa-fé objetiva, da confiança e da não surpresa ( venire contra factum proprium ). Surrectio traduz uma situação jurídica favorável que se consolida ao longo do tempo a partir do cumprimento de uma obrigação até então não prevista contratualmente fazendo surgir novo dever contratual para a parte que assim se comportou, em benefício da parte contrária, à luz do princípio da confiança; em contrapartida, haverá a perda de um direito ou faculdade originariamente conferido à outra parte ( supressio , que corresponde ao não exercício de um direito durante um determinado lapso de tempo gerando a justa expectativa na parte contrária de que o direito não seria exigido, o que faz com que a obrigação contratual deixe de existir). Um ganha e outro perde. Ex.: pessoa que se apropriou de área comum do condomínio para parar o carro, sem que o condomínio reclamasse (o sujeito ganhou a área e o condomínio perdeu). Surrectio para a pessoa e Supressio para o condomínio. 18 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 3- ROMPIMENTO DE NOIVADO E SEPARAÇÃO JUDICIAL É princípio da ordem pública que qualquer dos noivos tem a liberdade de se casar e de se arrepender. Dependendo da forma de como o arrependimento se manifesta (sem justo motivo, acarretando dano moral ou patrimonial), pode dar causa à ação de indenização. Os noivos realizam despesas, tais como, enxoval, buffet etc. O arrependimento do outro acarretará, então, prejuízo. Se não houve justo motivo para a mudança de atitude, o lesado terá o direito de obter a reparação do dano. A responsabilidade do desistente só será reconhecida se: a) Se inexistir motivo justo para a retratação. Ex.: mudança de religião, infidelidade etc. b) Se ficar provado que o rompimento causou dano material ou moral ao outro noivo. Se o marido agride a esposa, causa-lhe ferimentos graves ou comete calúnia injúria (crime contra honra), tal conduta, além de constituir causa de separação, pode gerar ação de indenização de perdas e danos. O que carece de fundamentação legal é o pedido de indenização fundado no só fato da ruptura conjugal. O adultério, embora constitua causa para a separação, não conduz, por si só, à concessão de indenização por dano moral. A indenização é devida somente se a violação do dever de fidelidade extrapolar normalidade genérica. 4- DIREITO À IMAGEM O direito à imagem integra o rol dos direitos da personalidade. Dispõe o art. 20 do CC e o inciso V do art. 5º da CF: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. CF Art. 5 º , V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; IMPORTANTE: Uma revista fez uma reportagem sobre trabalho infantil. Para ilustrar a matéria, a revista utilizou fotos de crianças simulando como se estivessem trabalhando 19 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 em minas de talco. Ocorre que os pais das crianças não autorizaram essas imagens. A revista deve ser condenada a pagar indenização por danos morais pela violação do direito de imagem das crianças que tiveram as fotos publicadas na reportagem sem a autorização dos pais. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade das crianças (art. 227 do CF/88), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses econômicos de veículos de comunicação. O dever de indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa . STJ. 3ª Turma. REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018. IMPORTANTE: Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem prévia autorização, em cenas do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda que de forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente de efetivo prejuízo. O STJ não concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes. O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas como coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem de pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1454016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/12/2017 (Info 621). IMPORTANTE: A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social. Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. STJ. 3ª Turma. REsp 1631329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614). 20 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizadopor Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 CAPÍTULO II RESPONSABILIDADE INDIRETA É indireta porque não foi o sujeito responsável que diretamente agiu (foi o animal ou a coisa). Subdivide-se em RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO e RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA OU DO ANIMAL. RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO 1- PRESUNÇÃO DE CULPA E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA A responsabilidade por ato de terceiro é uma responsabilidade INDIRETA . #O que se entende por responsabilidade indireta? A responsabilidade civil DIRETA , também chamada de simples ou por ato próprio , é aquela em que o agente causador do dano é o responsável por sua reparação. Deriva de fato causado diretamente pelo agente que gerou o dano. A responsabilidade civil INDIRETA ou COMPLEXA ocorre quando o responsável pela reparação do dano é pessoa distinta da causadora direta da lesão . É a que decorre de ato de terceiro , com o qual o agente tem vínculo legal de responsabilidade, além das situações de fato de animal ou fato da coisa . 21 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 Veja como o tema está disposto no Código Civil: Responsabilidade por ato de terceiro: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; Responsabilidade pelo fato do animal: Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Responsabilidade pelo fato da coisa: Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. No caso de concurso de agentes na prática de um ato ilícito surge a solidariedade. Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão SOLIDARIAMENTE pela reparação. Parágrafo único . São SOLIDARIAMENTE responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932. As pessoas do art. 932 são responsabilizadas ainda que não haja culpa de sua parte. O CC 2002 abandonou o critério da culpa presumida, para responsabilizar os pais, tutores, patrões etc. independentemente de culpa. Enuncia o art. 933 do CC a adoção, segundo Flávio Tartuce, da teoria do risco-criado. Assim, para que essas pessoas respondam, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva impura , conforme a doutrina de Álvaro Villaça Azevedo. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte (responsabilidade OBJETIVA ) , responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos . 22 William Bossanelli Araújo e Leopoldo Martins Moreira Neto – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020 IMPORTANTE!!! No CC/16 a responsabilidade por ato de terceiro era baseada na culpa, que era presumida (culpa in vigilando , pela vigilância inadequada, ou culpa in eligendo , pela eleição inadequada do terceiro). O CC/02 revolucionou a matéria. Atualmente a responsabilidade por ato de terceiro é OBJETIVA . Obs.: A responsabilidade objetiva imprópria ( é a responsabilidade por culpa presumida , invertendo-se o ônus da prova) é espécie de responsabilidade subjetiva , uma vez que, mesmo sendo presumida, existe discussão a respeito da culpa. A responsabilidade objetiva é quando a responsabilidade independe de culpa. #O que se entende por culpa presumida? Ensina o Professor Cristiano Chaves que a regra geral prevista no art. 927, caput do Código Civil é da responsabilidade subjetiva com base na culpa, a qual deve ser provada pela vítima. No entanto, como exceção, o sistema admite a responsabilidade subjetiva com culpa presumida em que haverá a inversão do ônus de prova, ou seja, a vítima fica dispensada de provar a culpa do agente . Esta responsabilidade só será possível nos casos previstos em lei. Exemplo de responsabilidade subjetiva com culpa presumida: responsabilidade contratual (a responsabilidade do cirurgião plástico por tratamento puramente estético é hipótese de responsabilidade subjetiva com culpa presumida, de acordo com o STJ). 2- RESPONSABILIDADE DOS PAIS, DOS TUTORES E CURADORES 1ª) Pais pelos filhos menores: Os pais respondem pelos atos dos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e companhia . A responsabilidade paterna independe de culpa. Ex.: pai que deixa o filho menor dirigir carro. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob SUA AUTORIDADE E EM SUA COMPANHIA; II - o tutor e o curador , pelos pupilos e curatelados , que se acharem nas mesmas condições; (Tem que estar sob autoridade E COMPANHIA). No CC/02 pode haver responsabilidade civil do absolutamente e do relativamente incapaz , de forma SUBSIDIÁRIA, CONDICIONAL, MITIGADA E EQUITATIVA . RESPONSABILIDADE CIVIL DO INCAPAZ Art. 928. O incapaz ( absoluta ou relativamente ) responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
Compartilhar