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1 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 Tutorial 30 OBJETIVO 1: COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO DA DPOC. Medicina interna – Harrison Clínica médica USP DPOC - definições e conceitos - as bases clínicas – Luis Paulo Loivos 2009 DEFINIÇÃO - A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se caracteriza por limitação crônica ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, sendo frequentemente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases nocivos. - Ocorre piora da função pulmonar ao longo do tempo, mesmo que o indivíduo não se exponha mais aos fatores de risco e utilize o melhor tratamento disponível, determinando limitações na realização de atividades diárias e impacto psicossocial negativo. - As alterações não se restringem ao trato respiratório, podendo ocorrer também efeitos sistêmicos adversos, como baixo índice de massa corporal e repercussões sobre a musculatura esquelética, principalmente nos pacientes com doença em estágio mais avançado. - A DPOC inclui o enfisema, distúrbio definido anatomicamente, que se caracteriza por destruição e dilatação dos alvéolos pulmonares; a bronquite crônica, afecção definida clinicamente por tosse crônica e expectoração purulenta; e a doença das pequenas vias respiratórias, distúrbio no qual os bronquíolos distais se encontram estreitados. A DPOC está presente apenas quando há obstrução crônica do fluxo aéreo; a bronquite crônica sem obstrução crônica do fluxo aéreo não está incluída na definição de DPOC. - Além disso, os portadores de DPOC têm maior prevalência de infarto agudo do miocárdio, angina, osteoporose, diabetes, infecções respiratórias, glaucoma, distúrbios do sono e neoplasia pulmonar. - Trata-se de uma doença altamente prevalente, apesar de ainda ser subdiagnosticada e subestimada. É atualmente a quarta maior causa de morte no mundo, sendo a sexta no Brasil, determinando importante impacto socioeconômico. FATORES DE RISCO/ETIOLOGIA - Usualmente, a doença decorre da interação de fatores ambientais e do hospedeiro. - Os fatores do hospedeiro que favorecem o desenvolvimento de DPOC são alterações genéticas, cuja principal representante é a deficiência de alfa-1 antitripsina, presença de hiperresponsividade brônquica, desnutrição, prematuridade e redução do crescimento pulmonar durante a gestação e a infância. - O tabagismo é o principal fator de risco ambiental. Está relacionado a qualquer tipo de fumo, e o risco é maior com o aumento progressivo do consumo. Entretanto, entre diferentes tabagistas com a mesma carga de consumo, apenas alguns irão desenvolver a doença, o que sugere que a carga e os fatores genéticos relacionados modificam o risco. - Outros fatores ambientais de risco são a exposição à poeira ocupacional (indústrias de borracha, plásticos, couro, têxtil, moagem de grãos e produtos alimentícios, entre outros segmentos de produção), a irritantes químicos e à poluição extra e intradomiciliar (aquecedores e fogão de lenha), além da ocorrência de infecções respiratórias graves na infância. - O tabagismo é o principal fator de risco para mortalidade por bronquite crônica e enfisema. A relação dose-resposta entre a redução da função pulmonar e a intensidade do tabagismo explica as taxas de prevalência mais altas de DPOC com o aumento da idade. A prevalência historicamente mais alta do tabagis- mo entre os homens é a explicação provável para a prevalência mais alta de DPOC no sexo masculino; contudo, a prevalência desta doença entre as mulheres tem aumentado nos últimos 50 anos, à medida que diminui a diferença nos índices de tabagismo entre os dois sexos. - A hipótese britânica alternativa sustenta que a asma e a DPOC sejam doenças fundamentalmente diferentes: a asma é entendida como um processo predominantemente alérgico, e a DPOC resulta da inflamação e lesão relacionadas ao tabagismo. - Embora as infecções respiratórias sejam causas importantes das exacerbações de DPOC, a associação entre as infecções respiratórias da infância e da idade adulta e o desenvolvimento e avanço da DPOC ainda não está comprovada. - O agravamento dos sintomas respiratórios e da obstrução ventilatória tem sido indicado como devido à exposição generalizada à poeira e à fumaça no local de trabalho. Várias exposições ocupacionais es- pecíficas, incluindo a poeira de minas de carvão e ouro, assim como da indústria têxtil do algodão, foram sugeridas como fatores de risco para a obstrução crônica das vias respiratórias. 2 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 - A exposição das crianças ao tabagismo materno causa redução significativa do crescimento pulmonar. A exposição intra-uterina à fumaça do tabaco também contribui para as reduções significativas da função pulmonar pós-natal. Embora a exposição passiva à fu- maça dos cigarros esteja associada a reduções da função pulmonar, a importância desse fator de risco no desenvolvimento das limita- ções graves da função respiratória dos pacientes com DPOC permanece incerta. FISIOPATOLOGIA - Na DPOC, ocorre inflamação crônica das vias aéreas centrais e periféricas, das parênquima e dos vasos pulmonares em resposta à inalação de partículas e gases nocivos, com acúmulo, principalmente, de macrófagos, neutrófilos e linfócitos T (principalmente CD8). - Essas células inflamatórias, quando ativadas, liberam vários mediadores (leucotrieno B4, interleucina 8, fator de necrose tumoral alfa, entre outros), que são capazes de lesar estruturas pulmonares e manter a inflamação neutrofílica, levando a um cíclico processo de destruição e reparação8. Outros processos importantes na fisiopatologia da doença são o desbalanço entre proteinases e antiproteinases nos pulmões (com predomínio das primeiras) e o estresse oxidativo. - Nas vias aéreas centrais, ocorre infiltração de células inflamatórias no epitélio, hipertrofia e hiperplasia de glândulas mucosas, com hipersecreção de muco, e redução do número de cílios. Nas vias aéreas periféricas (menores que 2 mm de diâmetro), ocorrem ciclos repetidos de lesão e reparo de suas paredes, promovendo remodelamento estrutural, por meio de deposição de colágeno e formação de tecido cicatricial, além de aumento da musculatura lisa, o que reduz o lúmen, levando à obstrução fixa. - O principal mecanismo para a destruição do parênquima pulmonar, geralmente envolvendo inicialmente as regiões superiores e, com o avançar da doença, todo o pulmão, inclusive com destruição do leito capilar pulmonar, é o desbalanço entre proteinases e antiproteinases (desencadeado por fatores genéticos ou por ação de células e mediadores inflamatórios). Estresse oxidativo também é um fator contributivo. - Na vasculatura pulmonar, ocorre espessamento da íntima, seguido por hipertrofia da musculatura lisa e infiltração de células inflamatórias e colágeno na parede dos vasos, o que ocorre precocemente na história natural da doença. - Os componentes que, em graus variáveis, concorrem para a determinação da obstrução ao fluxo aéreo na DPOC são: espessamento da parede brônquica, fibrose peribronquiolar, aumento da quanti- dade de muco intraluminal, alterações das pequenas vias aéreas, perda da retração elástica pulmonar e perda dos pontos de fixação das vias aéreas terminais aos alvéolos. - As alterações descritas determinam hipersecreção de muco e disfunção ciliar, o que provoca a tosse e a expectoraçãocrônica. A limitação ao fluxo aéreo, mais bem avaliada pela espirometria, é um ponto fundamental no diagnóstico da doença; essa limitação ocorre por obstrução fixa, com aumento da resistência nas vias aéreas. - Em quadros mais avançados, ocorre redução da capacidade pulmonar para trocas gasosas, o que produz hipoxemia e, posteriormente, hipercapnia, por causa da obstrução das vias aéreas periféricas, da destruição do parênquima e das alterações vasculares. Hipertensão pulmonar, que é a principal complicação cardiovascular da doença, e cor pulmonale, em geral, se desenvolvem tardiamente e pioram o prognóstico. - Na DPOC, geralmente há “retenção de ar” (aumentos do volume residual e da razão entre volume residual e capacidade pulmonar total) e hiperinsuflação progressiva (ampliação da capacidade pulmonar total) nos estágios avançados da doença. A hiperinsuflação do tórax durante o volume corrente preserva o fluxo expiratório máximo, porque, à medida que o volume pulmonar aumenta, a pressão da retração elástica se eleva e as vias respiratórias dilatam-se, de modo que a resistência diminui nessas vias. - Apesar de compensar a obstrução das vias respiratórias, a hiperinsuflação pode empurrar o diafragma para uma posição retificada, o que acarreta algumas consequências desfavoráveis. Primeiramente, devido à redução da zona de aposição entre o diafragma e a parede do abdome, a pressão abdominal positiva durante a inspiração não é aplicada de forma tão eficiente na parede torácica, limitando os movimentos do gradil costal e dificultando a inspiração. - Em segundo lugar, como as fibras musculares do diafragma retificado são mais curtas do que as do diafragma com curvatura mais normal possuem menor capacidade de gerar pressões inspiratórias do que as fibras normais. Em terceiro lugar, o diafragma retificado (com o aumento do raio de curvatura, r) precisa gerar tensão maior (t) para desenvolver a pressão transpulmonar (p) necessária para produzir o volume corrente, o que respeita a lei de Laplace, onde p = 2t/r. - Além disso, como o gradil torácico está distendido além do seu volume de repouso normal, durante o volume corrente os músculos inspiratórios precisam realizar esforço para suplantar a resistência do gradil torácico e insuflar ainda 3 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 mais os pulmões, em vez de contar com a colaboração normal da retração da parede torácica em direção ao seu volume de repouso. - Ventilação heterogênea e desigualdade da ventilação- perfusão são anormalidades típicas da DPOC, refletindo a natureza heterogênea da doença envolvendo as vias respiratórias e o parênquima pulmonar. Estudos fisiológicos são compatíveis com a existência de vários compartimentos parenquimatosos apresentando taxas de ventilação distintas, em virtude das variações regionais na complacência e resistência das vias respiratórias. - A desigualdade da ventilação-perfusão é responsável por quase toda a redução da PaO2 associa- da à DPOC; o volume de shunt é mínimo. Essa observação explica a eficácia das elevações modestas do oxigênio inspirado no tratamento da hipoxemia causada pela doença e, portanto, a necessidade de in- vestigar outros problemas além da DPOC, quando for difícil corrigir a hipoxemia com níveis modestos de oxigênio suplementar em pacientes acometidos. QUADRO CLÍNICO - Os três sintomas mais comuns na DPOC são tosse, produção de escarro e dispneia aos esforços. Alguns pacientes têm esses sintomas durante vários meses ou anos, antes de buscarem auxílio médico. - Embora o aparecimento de obstrução do fluxo aéreo seja um processo gradativo, muitos pacientes assinalam que o início da sua doença coincidiu com uma doença aguda ou exacerbação. - A exposição à fumaça dos cigarros pode afetar as vias respiratórias de grande e pequeno calibres (diâmetro ≤ 2 mm) e os alvéolos. As alterações das vias respiratórias de grande calibre provocam tosse e expectoração, e as anormalidades das pequenas vias respiratórias e dos alvéolos são responsáveis pelas alterações fisiológicas. - O enfisema e as anormalidades das vias respiratórias de pequeno calibre estão pre- sentes na maioria dos pacientes com DPOC; entretanto, não parecem estar mecanicamente relacionados um ao outro e suas contribuições relativas para a obstrução variam de caso a caso. - Além da exposição aos fatores de risco descritos, um paciente típico de DPOC apresenta inicialmente tosse e expectoração crônicas, que frequentemente precedem em muitos anos o desenvolvimento de limitação ao fluxo aéreo. - A tosse ocorre primeiramente de modo intermitente e a seguir passa a acontecer durante todo o dia. Posteriormente, o indivíduo desenvolve dispnéia, que é o sintoma que, na maioria das vezes, o leva a procurar atendimento médico. A dispnéia acontece progressivamente aos esforços e até durante o repouso, de modo persistente, determinando limitação funcional, piora da qualidade de vida e do prognóstico. - Uma das formas para classificar a dispnéia é a escala do Medical Research Council (MRC), que também tem implicações prognósticas: 0 – dispnéia apenas para exercícios extenuantes; 1 – dispnéia quando apressa o passo ou para subir escadas ou ladeiras; 2 – anda mais lentamente que pessoas da mesma faixa etária ou precisa parar quando anda no próprio passo; 3 – precisa parar quando caminha 100 metros no plano ou após poucos minutos no plano; 4 – dispnéia para vestir-se ou tomar banho sozinho ou tem dispnéia que o impede de sair de casa. - Sibilância e sensação de opressão torácica também são sintomas possíveis. Emagrecimento e redução do apetite podem ocorrer em fases mais avançadas. - O início da dispneia de esforço, frequentemente descrita como aumento da força para respirar, sensação de peso, falta de ar ou respiração arquejante, pode ser insidioso. À medida que a DPOC avança, a principal manifestação é o agravamento da dispneia aos esforços com crescente interferência na capacidade de realizar atividades profissionais ou de outros tipos. - Nos estágios mais avançados, os pacientes sentem dispneia quando executam as atividades quotidianas. Simultaneamente ao agravamento da obstrução do fluxo aéreo, há um aumento na frequência das exacerbações. Os pacientes também podem manifestar hipoxemia em repouso e necessitar de oxigênio suplementar. - Nos estágios iniciais da DPOC, os pacientes costumam apresentar um exame físico absolutamente normal. Os fumantes podem apresentar sinais de tabagismo ativo, como odor de fumaça ou manchas de nicotina nas unhas dos dedos da mão. - Nos pacientes com doença mais grave, o exame físico caracteriza-se por uma fase expiratória longa e pode incluir sibilância à expiração. Além disso, os sinais de hiperinsuflação são tórax em barril e ampliação dos volumes pulmonares com limitação das excursões diafragmáticas avaliadas pela percussão. - O exame físico, na maioria dos casos, apresenta-se normal ou pouco alterado. Os achados de tórax enfisematoso (com aumento do diâmetro antero-posterior), redução da mobilidade pulmonar, hipersonoridade à percussão, frêmito toracovocal e murmúrio vesicular diminuídos difusamente são encontrados geralmente quando a função pulmonar já está bastante comprometida. - Taquipnéia, respiração com lábios semicerrados e utilização de musculatura acessória são evidenciadas tardiamente. Podem-se observar expiração prolongada e estertores finos durante toda a inspiração. As bulhas cardíacas são normo ou hipofonéticas.4 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 - Com a progressão da doença, desenvolve-se cor pulmonale, com identificação de turgência jugular, hepatomegalia e edema de membros inferiores, além de segunda bulha cardíaca em foco pulmonar hiperfonética, sugestiva de hipertensão pulmonar. DIAGNÓSTICO - O diagnóstico é baseado em uma história de exposição aos fatores de risco associado à presença de limitação ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, com ou sem sintomas. Nesse contexto, a espirometria é fundamental, devendo ser realizada preferencialmente na fase estável da doença, em que a relação VEF1/CVF menor que 70% após broncodilatação confirma a presença de limitação ao fluxo aéreo. - O VEF1 após broncodilatação, quando analisado isoladamente, é utilizado na determinação do estágio da doença. Além disso, a velocidade de redução anual dessa variável é o marcador prognóstico mais fidedigno nesses pacientes. - Além do VEF1, o estado nutricional, a intensidade da dispnéia (escala do MRC) e a capacidade de realização de atividades físicas também têm relação com o prognóstico e com o risco de óbito por qualquer causa e por causas respiratórias. - Pelas implicações terapêuticas e prognósticas, a es- pirometria é muito importante na classificação da doença. O teste de reversibilidade ao broncodilatador pode ser positivo na DPOC, mas a resposta negativa ao teste não prediz ausência de resposta ao tratamento a ser instituído. A gasometria arterial está indicada em todo indivíduo que apresentar, em ar ambiente, saturação periférica de oxigênio menor que 90% à oximetria de pulso. - A radiografia de tórax raramente é diagnóstica, mas está indicada de rotina, principalmente para afastar a presença de neoplasia pulmonar. De maneira semelhante ao exame físico, os achados sugestivos da DPOC só ocorrem na doença avançada. Nessa fase, evidenciam-se hipertransparência dos campos pulmonares, pobreza da trama broncovascular que se acentua do hilo para a periferia, rebaixamento e retificação dos hemidiafragmas, alargamento dos espaços intercostais e silhueta cardíaca menor e verticalizada. - A tomografia computadorizada de tórax está indicada nas situações de dúvida diagnóstica ou quando um procedimento cirúrgico, como cirurgia redutora de volume ou bulectomia, estiver sendo programado. - A dosagem de alfa-1 antitripsina está recomendada nos casos de enfisema pulmonar diagnosticado antes dos 45 anos de idade, quando não houver fator de risco conhecido para DPOC, quando o enfisema predominar em região basal, associado ou não a bronquiectasias, ou se houver história familiar da doença. - As determinações da capacidade pulmonar total (CPT), da capacidade residual funcional (CRF), do volume residual (VR) e da capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO) permitem uma melhor avaliação dos pacientes com DPOC, sendo possível constatar aumento da CPT, do VR e da CRF e redução da DLCO. - O eletrocardiograma e o ecocardiograma estão indicados nos casos em que houver suspeita de hipertensão pulmonar, que é a principal complicação cardiovascular da doença, e cor pulmonale, que, em geral, se desenvolvem tardiamente e pioram o prognóstico. - Durante o acompanhamento, espirometria com teste de broncodilatação, radiografia de tórax e gasometria arterial (na indicação citada e para os que estão em uso contínuo de suplementação de oxigênio) são realizadas anualmente. OBJETIVO 2: COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ASMA. Medicina interna – Harrison MS IV Diretizes Brasileiras para o Manejo da Asma – 2006 ASMA – MANEJO DA CRISE 2003 Fabíola Reis de Oliveira PANORAMA ATUAL DA ASMA: EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTOS - FERNANDA ZONATO RODRIGUES 2007 DEFINIÇÃO - A asma é uma síndrome que se caracteriza por obstrução das vias respiratórias com evolução acentuadamente variável, tanto espontaneamente quanto em resposta ao tratamento. Os pacientes asmáticos apresentam um tipo especial de inflamação das vias respiratórias, que os tornam mais sensíveis que os indivíduos normais a uma ampla variedade de estímulos desencadeantes; isto provoca estreitamento excessivo das vias respiratórias, redução do fluxo ventilatório e sinais e sintomas como sibilos e dispneia. - Em geral, o estreitamento das vias respiratórias é reversível, mas alguns pacientes com asma crônica podem ter um componente de obstrução ventilatória irreversível. - A asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispnéia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar. Resulta de uma interação entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes, e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas. - A asma é uma das doenças crônicas mais comuns em todo o mundo e atualmente acomete cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, a prevalência dessa doença aumentou nos países desenvolvidos, mas agora parece ter sido estabilizada com índices de cerca de 10 a 12% dos adultos e 15% das crianças. 5 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 - Nos países em desenvolvimento, nos quais a prevalência de asma era muito menor, os índices crescentes parecem estar associados à urbanização mais ampla. As prevalências de atopia e de outras doenças alérgicas também aumentaram no mesmo período, o que sugere que as razões deste aumento provavelmente sejam sistêmicas, em vez de limitadas aos pulmões. - Como a asma é frequentemente complicada pelos efeitos do tabagismo nos pulmões, é difícil ter certeza quanto à história natural da doença entre os adultos. A asma pode começar em qualquer idade, mas o pico de incidência ocorre aos 3 anos. Na infância, a asma é duas vezes mais comum no sexo masculino, mas a relação entre os dois sexos iguala-se na idade adulta. ETIOLOGIA/FATORES DE RISCO - A asma é uma doença heterogênea com fatores genéticos e ambientais interrelacionados. Vários fatores de risco foram implicados. ATOPIA - Atopia é o principal fator de risco para asma e os indivíduos não atópicos têm risco muito pequeno de desenvolver esta doença. Os pacientes asmáticos frequentemente têm outras doenças atópicas, sobretudo rinite alérgica (detectada em mais de 80% dos asmáticos) e dermatite (eczema) atópica. - A atopia pode ser evidenciada em 40 a 50% das populações dos países desenvolvidos, mas apenas um percentual peque- no dos indivíduos atópicos desenvolve asma. Essa observação sugere que algum outro fator (ou fatores) ambiental ou genético predisponha ao desenvolvimento da asma pelos indivíduos atópicos. - Os alergênios que causam sensibilização geralmente são proteínas com atividade de protease e os alergênios mais comuns são derivados dos ácaros da poeira doméstica, dos pelos de gatos e cães, das baratas (nas cidades rurais), do pólen das gramíneas e das árvores e dos roedores (nos profissionais que trabalham em laboratórios). ASMA INTRÍNSECA - Um percentual pequeno (cerca de 10%) dos pacientes asmáticos tem testes cutâneos negativos aos alergênios inalatórios comuns e concentrações séricas normais de IgE. Esses pacientes com asma não atópica ou intrínseca geralmente têm doença de início mais tardio (asma de início na vida adulta), com frequência também apresentam pólipos nasais e podem ser sensíveisao ácido acetilsalicílico. - Em geral, esses pacientes têm doença mais grave e persistente. Existem poucas informações quanto ao mecanismo da asma intrínseca, mas a imunopatologia das biópsias brônquicas e do escarro parece ser idêntica à observada na asma atópica. INFECÇÕES - Embora as infecções virais sejam fatores desencadeantes comuns das exacerbações da asma, ainda não está claro se elas desempenham alguma função etiológica. Há alguma correlação entre infecção pelo vírus sincicial respiratório na lactência e desenvolvimento de asma, mas é difícil determinar a patogenia específica porque esta infecção é muito comum nas crianças. FATORES AMBIENTAIS - É provável que fatores ambientais presentes nos primeiros anos de vida determinem quais indivíduos atópicos serão asmáticos. A prevalência crescente de asma ao longo das últimas décadas, principal- mente nos países em desenvolvimento, também indica a importância da interação entre predisposição genética e fatores ambientais. - O papel dos fatores dietéticos é controverso. Estudos de observação mostraram que dietas pobres em antioxidantes (vitaminas A e C), magnésio, selênio e gorduras polinsaturadas ômega-3 (óleo de peixe), ou ricas em sódio e polinsaturadas ômega-6, estavam asso- ciadas ao risco mais alto de desenvolver asma. A deficiência de vitamina D também pode predispor ao desenvolvimento da doença. - Os poluentes do ar, inclusive dióxido de enxofre, ozônio e partículas emanadas do diesel, podem desencadear sintomas de asma, mas a participação dos diferentes poluentes do ar na etiologia da doença não é tão inequívoca. A maioria das evidências fala contra um papel importante da poluição do ar, porque a asma não é mais prevalente nas cidades com níveis altos de poluição ambiental associada ao tráfego de veículos, que nas áreas rurais com níveis baixos de poluição. - Os alergênios inalados são desencadeantes comuns dos sintomas asmáticos e também foram implicados na sensibilização alérgica. A exposição aos ácaros da poeira doméstica nos primeiros anos da infância é um fator de risco para sensibilização alérgica e asma, mas o controle rigoroso dos alergênios não mostrou qualquer efeito de redução do risco de desenvolver asma. FISIOPATOLOGIA - Participam de sua fisiopatologia três importantes fatores: broncoconstricção, hipersecreção e inflamação brônquica. Esta última é, sem dúvida, um importante fator, que está presente em qualquer paciente, independente da gravidade da doença. - A asma está associada a um tipo específico de inflamação crônica da mucosa das vias respiratórias e um dos principais objetivos do tratamento é reduzir essa inflamação. - A mucosa das vias respiratórias fica infiltrada por eosinófilos e linfócitos T ativados e também há ativação dos mastócitos da mucosa. O grau de inflamação não se correlaciona diretamente com a gravidade da doença e estas 6 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 anormalidades podem ser detectadas nos pacientes atópicos sem sintomas da asma. - Uma anormalidade característica é o espessamento da membrana basal em razão da deposição de colágeno sob o epitélio. Essa alteração também é encontrada nos pacientes com bronquite eosinofílica, que têm tosse, mas não asma; por esta razão, é provável que esse espessamento seja um marcador da inflamação eosinofílica das vias respiratórias, tendo em vista que os eosinófilos liberam fatores fibrogênicos. - A principal característica fisiopatogênica da asma é a inflamação brônquica, resultante de um amplo e complexo espectro de interações entre células inflamatórias, mediadores e células estruturais das vias aéreas. Ela está presente em todos os pacientes asmáticos, inclusive naqueles com asma de início recente, nas formas leves da doença e mesmo entre os assintomáticos. - A resposta inflamatória alérgica é iniciada pela a interação de alérgenos ambientais com algumas células que têm como função apresentá-los ao sistema imunológico, mais especificamente os linfócitos Th2. Estes, por sua vez, produzem citocinas responsáveis pelo início e manutenção do processo inflamatório. A IL-4 tem papel importante no aumento da produção de anticorpos IgE específicos ao alérgeno. - Vários mediadores inflamatórios são liberados pelos mastócitos (histamina, leucotrienos, triptase e prostaglandinas), pelos macrófagos (fator de necrose tumoral – TNF-alfa, IL-6, óxido nítrico), pelos linfócitos T (IL- 2, IL-3, IL-4, IL-5, fator de crescimento de colônia de granulócitos), pelos eosinófilos (proteína básica principal, ECP, EPO, mediadores lipídicos e citocinas), pelos neutrófilos (elastase) e pelas células epiteliais (endotelina-1, mediadores lipídicos, óxido nítrico). - Através de seus mediadores as células causam lesões e alterações na integridade epitelial, anormalidades no controle neural autonômico (substância P, neurocinina A) e no tônus da via aérea, alterações na permeabilidade vascular, hipersecreção de muco, mudanças na função mucociliar e aumento da reatividade do músculo liso da via aérea. - Esses mediadores podem ainda atingir o epitélio ciliado, causando-lhe dano e ruptura. Como conseqüência, células epiteliais e miofibroblastos, presentes abaixo do epitélio, proliferam e iniciam o depósito intersticial de colágeno na lâmina reticular da membrana basal, o que explica o aparente espessamento da membrana basal e as lesões irreversíveis que podem ocorrer em alguns pacientes com asma. - Outras alterações, incluindo hipertrofia e hiperplasia do músculo liso, elevação no número de células caliciformes, aumento das glândulas submucosas e alteração no depósito e degradação dos componentes da matriz extracelular, são constituintes do remodelamento que interfere na arquitetura da via aérea, levando à irreversibilidade de obstrução que se observa em alguns pacientes. - O processo que gera a sensibilização do paciente é a primeira etapa que se estuda para entender o desenvolvimento do quadro asmático. Os alérgenos inalados entram em contato com a mucosa respiratória e são capturados por células dendríticas presentes no epitélio brônquico. Estas células são capazes de reconhecer o alérgeno, processar o antígeno e apresentar seus fragmentos peptídicos ligados à molécula do Complexo de Histocompatibilidade II (CH II) aos linfócitos T auxiliares. Estes vão produzir citocinas, sobretudo interleucinas (IL) (IL- 3, IL-4, IL-5, IL-10, IL -13) que caracterizam uma resposta predominantemente humoral, induzindo a proliferação de linfócitos do subtipo “T helper 2” (Th2). - As citocinas produzidas pelos linfócitos T fazem com que estas células estimulem a produção de imunoglobulinas (IgE) por linfócitos B, além de estimular a proliferação de mastócitos e ativação e aumento da sobrevida de eosinófilos. Os anticorpos liberados na circulação se ligam a receptores de alta afinidade presentes em mastócitos. - Quando ocorre uma reexposição ao antígeno, este se liga à IgE nos mastócitos e estas células, então, liberam mediadores pré-formados que atuam abrindo as junções entre as células epiteliais. O antígeno pode então, entrar na mucosa para ativar mastócitos e eosinófilos que, por sua vez, liberam mais mediadores. Conjuntamente, tanto por via direta ou por reflexos neuronais, os mediadores induzem broncoespasmo, aumento da permeabilidade vascular e produção de muco e recrutam do sangue mais células secretoras de mediadores inflamatórios. - Esta reação ocorre em cerca de metade dos pacientes asmáticos. É denominada reação imediata, ou seja, ocorre minutos após a exposição do indivíduo ao antígeno e é caracterizada, fundamentalmente, por obstrução de vias aéreas.O principal fator responsável pela obstrução de vias aéreas nesta fase é a contração da musculatura lisa brônquica, porém, outros fatores estão envolvidos, como a formação de edema das vias aéreas e hipersecreção de muco. - A chegada de leucócitos recrutados (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e também linfócitos e monócitos) sinaliza o início da fase tardia da asma e ocorre horas após a exposição antigênica. Nesta fase, ocorre a liberação de mediadores produzidos por leucócitos, pelo endotélio e por células epiteliais. Fatores, principalmente de eosinófilos, também causam danos ao epitélio. - Indivíduos com asma atópica apresentam broncoconstrição que, geralmente, tem um pico após 2 horas após a exposição ao alérgeno (resposta asmática imediata). Em aproximadamente 60% dos indivíduos, essa broncoconstrição também ocorre de 3 a 7 horas depois, 7 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 caracterizando a resposta asmática tardia, que está associada com a hiperresponsividade brônquica e a inflamação eosinofílica das vias aéreas. A obstrução das vias aéreas durante a resposta tardia é mais prolongada e geralmente mais grave do que a observada na resposta imediata. - A redução do fluxo ventilatório é causada principalmente pela broncoconstrição, mas o edema das vias respiratórias, a congestão vascular e a obstrução intraluminar pelo exsudato também podem contribuir. Isso provoca reduções do volume expiratório forçado em 1 segundo (VEF1), da relação VEF1/capacidade vital forçada (CVF) e do fluxo expiratório de pico (FEP), além de aumentar a resistência nas vias respiratórias. - O fechamento precoce das vias respiratórias periféricas causa hiperinsuflação pulmonar (“retenção de ar*”) e aumenta o volume residual, principalmente durante as exacerbações agudas e nos pacientes com asma mais grave. Na asma mais grave, a ventilação reduzida e o fluxo sanguíneo pulmonar aumentado causam desproporção entre ventilação e perfusão e hiperemia brônquica. HIPERREATIVIDADE DAS VIAS RESPIRATÓRIAS - A HRVR é a anormalidade fisiológica característica da asma e este termo refere-se à resposta broncoconstritora exagerada a vários estí- mulos desencadeantes inalados, que não produziriam qualquer efeito nas vias respiratórias normais. - A acentuação da HRVR está relacionada com a frequência dos sintomas de asma e, por esta razão, um dos principais objetivos do tratamento é reduzir essa hiperreatividade. A reatividade broncoconstritora exacerbada é observada com broncoconstritores diretos (como histamina e metacolina), que contraem a musculatura lisa das vias respiratórias, mas geralmente também ocorre com alguns estímulos indiretos que liberam mediadores broncoconstritores dos mastócitos ou ativam os nervos sensoriais. - A maioria dos fatores desencadeantes dos sintomas asmáticos parece atuar indiretamente, inclusive alergênios, exercício, hiperventilação, névoa (por ativação dos mastócitos), poeiras irritantes e dióxido de enxofre (via reflexo colinérgico). QUADRO CLÍNICO - Vários são os estímulos que podem desencadear a hiperresponsividade observada na asma como, por exemplo, alérgenos, fumaça de cigarro, poluentes atmosféricos, fármacos, alterações na temperatura ambiental, infecções respiratórias, estímulos ocupacionais, substâncias presentes em alimentos, obesidade, exercício físico e estresse. - O tipo de estímulo que desencadeia a crise asmática é diferente para cada indivíduo, sendo que nem todas as pessoas expostas aos mesmos estímulos desenvolvem a doença. A este fato associa-se claramente a predisposição genética que tem sido amplamente estudada e enfatizada como principal fator para o desenvolvimento da resposta mediada por imunoglobulina E (IgE) a alérgenos inalatórios comuns. - Os sinais e os sintomas típicos da asma são sibilos, dispneia e tosse com intensidade variável, tanto espontaneamente quanto depois do tratamento. Os sintomas podem piorar à noite e os pacientes frequentemente acordam nas primeiras horas da manhã. Os pacientes podem referir dificuldade de encher os pulmões de ar. - Alguns pacientes têm produção exagerada de muco, que em geral é espesso e difícil de expectorar. Pode haver hiperventilação e utilização dos músculos acessórios da respiração. Os sinais e os sintomas prodrômicos podem preceder uma crise e inclui prurido sob o queixo, desconforto entre as escápulas ou medo inexplicável (morte iminente). - Os sinais físicos característicos são inspiratórios e principalmente expiratórios, roncos difusos em todo o tórax e hiperinsuflação em alguns casos. Alguns pacientes, principalmente as crianças, podem ter predomínio de tosse seca (asma variante com tosse). Quando a asma está controlada, o paciente pode ter exame físico normal. - A asma tem sintomas bem característicos, mas alguns deles podem ser confundidos com os de outras doenças. Para um diagnóstico adequado ou seguro, o ideal é procurar um profissional de saúde assim que sentir qualquer desconforto. Os principais sintomas são: Tosse seca. Chiado no peito. Dificuldade para respirar. Respiração rápida e curta. Desconforto torácico. Ansiedade. - Considerando-se a limitação ao fluxo aéreo e sua variabilidade, a asma é classificada, segundo o GINA em 4 diferentes estágios: http://www.saude.gov.br/ansiedade 8 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 1) Intermitente: presença de sintomas menos de 1 vez por semana, exacerbações curtas, presença de sintomas noturnos no máximo 2 vezes por semana, volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) = 80% do predito e variabilidade do VEF1 <20%; 2) Persistente leve: presença de sintomas mais do que uma vez por semana e menos de 1 vez ao dia, exacerbações podem afetar as atividades e o sono, presença de sintomas noturnos mais do que 2 vezes por mês, VEF1 = 80% do predito e variabilidade do VEF1 entre 20 e 30%; 3) Persistente moderado: presença de sintomas diariamente, exacerbações podem afetar as atividades e o sono, presença de sintomas noturnos mais do que 1 vez por semana, uso diário de ß-2 agonista de curta duração (broncodilatador), VEF1 entre 60 e 80% do predito e variabilidade do VEF1 > 30% e 4) Persistente grave: sintomas diários, exacerbações freqüentes, sintomas noturnos também freqüentes, limitação das atividades físicas, VEF1 = 60% do predito e variabilidade do VEF1 30%. Atualmente a classificação da asma também considera se o paciente ainda não recebeu tratamento específico ou se já está em tratamento. OBJETIVO 3: DIFERENCIAR INFLAMAÇÃO AGUDA DE INFLAMAÇÃO CRÔNICA Patologia básica – Robbins . MS - O processo inflamatório é subdividido em fase aguda e fase crônica da inflamação. Na maioria dos casos, as fases agudas e crônicas das inflamações seguem uma sequência cronológica, sendo sempre caracterizadas pela saída de leucócitos dos vasos sanguíneos para os tecidos. - A inflamação aguda é uma resposta rápida do hospedeiro com o objetivo de liberar para a área de infecção ou de lesão tecidual os leucócitos e as proteínas plasmáticas que atuarão no processo de defesa. Seu início é rápido (poucos minutos) e sua duração é curta (algumas horas a poucos dias). As principais características da fase aguda da inflamação são: vasodilatação e edema acentuados, associados a emigração de leucócitos, predominantemente neutrófilos. - A inflamação crônica é o padrão de reação inflamatória que apresenta duração prolongada (semanas ou mais), no qual a inflamação, a lesão tecidual e as tentativas de reparo coexistem. Diferente da inflamação aguda (caracterizada por alterações vasculares, predominância de neutrófilos no infiltrado), a inflamação crônica apresenta infiltrado celularpredominado por macrófagos que chegam mais tardiamente para limpar a área preparando-a para a reparação ou para contrapor-se ao agente agressor persistente. Junto com os macrófagos, os linfócitos e plasmócitos geralmente fazem parte do típico infiltrado da inflamação crônica que, de forma generalizada é referido como infiltrado mononuclear. - Na maioria dos casos na fase aguda, com a eliminação do agente agressor, promove-se a cura do processo com o reparo do tecido injuriado, ou seja, o organismo é capaz de remover e substituir as células lesadas resultando na normalidade histológica e funcional do tecido. No entanto, se a resolução da inflamação falhar, ou seja, se o agente nocivo não for removido e a normalidade do tecido não for alcançada, a inflamação aguda é, então, sucedida pela inflamação crônica. - A inflamação é um mecanismo de defesa que visa cessar a causa inicial da lesão celular e as conseqüências de tal lesão. Logo, o processo inflamatório cessa quando os agentes agressores e os mediadores que foram secretados são destruídos. Esse processo pode ser dividido em agudo ou crônico. Inflamação aguda quando se inicia rapidamente, com ação curta, tendo como principais características o edema e a migração de leucócitos (neutrófilos). Inflamação crônica tem como características uma maior duração, presença de linfócitos e macrófagos, proliferação de vasos, fibrose e necrose. INFLAMAÇÃO AGUDA - A inflamação aguda apresenta três componentes principais: (1) dilatação de vasos pequenos, o que desencadeia aumento no fluxo sanguíneo; (2) aumento da permeabilidade da microvasculatura, permitindo que proteínas plasmáticas e leucócitos deixem a circulação; e (3) emigração dos leucócitos da microcirculação, que se acumulam no foco da lesão e são ativados a fim de eliminar o agente agressor. - Quando um agente prejudicial, como um microrganismo infeccioso ou células mortas, é encontrado, os fagócitos que residem em todos os tecidos tentam eliminar esses agentes. Ao mesmo tempo, os fagócitos e outras células sentinelas teciduais reconhecem a presença da substância externa ou anormal e reagem por meio da liberação de moléculas solúveis que medeiam a inflamação. Alguns desses mediadores atuam sobre os pequenos vasos sanguíneos nas proximidades e promovem o efluxo de plasma e o recrutamento de leucócitos circulantes para o local em que o agente lesivo está localizado. - Resposta imediata a um agente nocivo, onde há um recrutamento dos mediadores químicos do hospedeiro ao local da lesão. As alterações vasculares decorrentes da inflamação visam facilitar o movimento de proteínas plasmáticas e células sanguíneas da circulação para o local da lesão ou infecção. As principais alterações são vasodilatação, aumento da permeabilidade da microcirculação, estase e migração leucocitária que alteram o fluxo e o calibre vascular. Eventos celulares também 9 Sanndy Emannuelly – 4° Período 2020.1 ocorrem para que haja extravasamento de leucócitos e fagocitose do agente nocivo. INFLAMAÇÃO CRÔNICA - A inflamação crônica é uma resposta de duração prolongada (semanas ou meses), na qual inflamação, lesão tecidual e tentativas de reparo coexistem em diferentes combinações. Pode suceder a inflamação aguda, como descrito anteriormente, ou pode começar de forma insidiosa, como um processo latente, progressivo, sem sinais de uma reação aguda precedente. - Ao contrário da inflamação aguda, que se manifesta por alterações vasculares, edema e infiltração predominantemente neutrofílica, a inflamação crônica caracteriza-se por: • Infiltração de células mononucleares, que incluem macrófagos, linfócitos e plasmócitos. • Destruição tecidual induzida pelo agente ofensivo persistente ou pelas células inflamatórias. • Tentativas de cura pela troca do tecido danificado por tecido conjuntivo, pela angiogênese (proliferação de pequenos vasos sanguíneos) e, em particular, pela fibrose. - Observa-se a inflamação ativa, a destruição do tecido e a tentativa de reparar os danos, simultaneamente. Ocorre devido a infecções persistentes; exposição prolongada a agentes tóxicos, exógenos ou endógenos; e a auto- imunidade. - Observa-se morfologicamente infiltrado de células mononucleares, destruição tecidual e tentativas de cicatrização pela substituição do tecido danificado por tecido conjuntivo. - A inflamação granulomatosa é um padrão distinto de reação inflamatória crônica caracterizada pelo acúmulo focal de macrófagos ativados, que geralmente desenvolvem uma aparência epitelióde. Sua origem está relacionada com as reações imunológicas.
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