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. 1 SED-MS Professor de Língua Portuguesa/Literatura Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções ................................................................ 1 Ensino e aprendizagem da gramática normativa ................................................................................. 4 Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita ..................................................................... 13 Variações linguísticas; norma padrão ................................................................................................ 28 O texto: tipologia textual .................................................................................................................... 47 Intertextualidade ................................................................................................................................ 60 Coesão e coerência textuais .............................................................................................................. 68 O texto e a prática de análise linguística ............................................................................................ 92 Leitura e produção de textos .............................................................................................................. 99 Literatura brasileira .......................................................................................................................... 101 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ..................................................................................... 146 Base Nacional Comum Curricular .................................................................................................... 186 Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017 ....................................................................................... 202 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 1 Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br SABER LÉXICO-GRAMATICAL O léxico-gramática1 é simultaneamente um método e uma prática efetiva de descrição formal das línguas, desenvolvidos em paralelo por Maurice Gross a partir do fim dos anos 1960, o método e a prática nutrindo-se mutuamente. A base teórica que fundamenta o léxico-gramática é o distribucionalismo, e, em especial, a noção de transformação. As convenções de notação para a apresentação das informações gramaticais são concebidas para ser o mais simples e transparentes possível. A metodologia do léxico-gramática está inspirada nas ciências experimentais e dá enfoque à coleta dos fatos e, consequentemente, à conferição com a realidade dos usos linguísticos, do ponto de vista quantitativo (descrição metódica do léxico) e qualitativo (precauções metodológicas). O léxico-gramática também prevê uma exigência de formalização. Os resultados da descrição devem ser formais o suficiente para que possam ser postos em prática por informatas no processamento automático das línguas, entre outras através da realização de analisadores sintáticos. O modelo conceitual determina que os resultados da descrição tomam a forma de tabelas de dupla entrada, chamadas tabelas ou matrizes, que cruzam itens lexicais com as propriedades sintático-semânticas. Os resultados obtidos constituem uma base de informações sintático- semânticas. As experiências comprovaram que vários indivíduos ou equipes podem alcançar uma cumulatividade de suas descrições. Base teórica A base teórica que fundamenta o léxico-gramática é o distribucionalismo, e, em especial, a noção de transformação no sentido. As convenções de notação para a apresentação das informações gramaticais são concebidas para ser o mais simples e transparentes possível. A vigilância sobre essa questão origina- se na teoria, que está orientada para a superfície diretamente observável; é uma diferença com a gramática gerativa, que normalmente recorre a estruturas abstratas como as estruturas profundas. Coleta dos fatos A metodologia do léxico-gramática está inspirada nas ciências experimentais; dá enfoque à coleta dos fatos e, consequentemente, à conferição com a realidade dos usos linguísticos, do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Quantitativamente: o léxico-gramática inclui um programa de descrição metódica do léxico. Trata-se, necessariamente, de um trabalho em grande escala, realizável por equipes e não por especialistas isolados. A busca exclusiva de regras de sintaxe gerais, independentes do material lexical que manuseiam, é denunciada como um impasse. É uma diferença com a gramática gerativa, que valoriza mais a noção de generalização. Qualitativamente: precauções metodológicas são aplicadas para garantir uma boa reprodutibilidade das observações e, em especial, para prevenir os riscos ligados aos exemplos construídos. Uma dessas precauções consiste em eleger como unidade mínima de sentido a frase elementar. Isso é, uma palavra adquire um sentido preciso só dentro de um contexto; além disso, ao inserir uma palavra dentro de uma frase, ganha-se a vantagem de manusear uma sequência passível de ser julgada como aceitável ou inaceitável. É o preço a pagar por poder definir propriedades sintático-semânticas com suficiente precisão para que faça sentido pô-las à prova em confronto com todo o léxico. Essas precauções evoluíram em função das necessidades e do surgimento de novos meios técnicos. Por exemplo, a partir do início dos 1 Boons, Jean-Paul ; Alain Guillet ; Christian Leclère. 1976. La structure des phrases simples en français. 1. Constructions intransitives, Genève : Droz.Guillet, Alain ; Christian Leclère. 1992. La structure des phrases simples en français. 2. Constructions transitives locatives, Genève : Droz.Gross, Maurice. 1994. Constructing Lexicon-grammars, in Computational Approaches to the Lexicon, Atkins and Zampolli (eds.), Oxford University Press, pp. 213-263.Leclère, Christian. 2005. The lexicon-grammar of French verbs: a syntactic database, in Linguistic Informatics - State of the Art and the Future. Amsterdam/Philadelphia : Benjamins. pp. 29–45. Tokyo University of Foreign Studies, UBLI 1.(Adaptado) Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 2 anos 1990, os contribuidores do léxico-gramática puderam cada vez mais facilmente aproveitar exemplos atestados em corpus. Essa nova precaução acrescentou-se às precedentes, e o léxico-gramática passou a situar-se simultaneamente no âmbito da linguística introspectiva e da linguística de corpus. Os projetos americanos FrameNet e VerbNet, aliás, apresentam traços que manifestam uma relativa convergência para objetivos próximos dos do léxico-gramática. Formalização Oléxico-gramática também prevê uma exigência de formalização. Os resultados da descrição devem ser formais o suficiente para que possam ser: - verificados por conferição com a realidade do uso, - postos em prática por informatas no processamento automático das línguas, entre outras através da realização de analisadores sintáticos. Essa necessidade de formalização motivou a adoção de um modelo discretizado da sintaxe e da semântica. Por exemplo, a aceitabilidade é representada por uma propriedade binária: para as necessidades da descrição, uma frase é considerada quer como aceitável, quer como inaceitável, como na gramática gerativa e pelas mesmas razões. Além disso, a ambiguidade lexical é representada através de uma cuidadosa separação de uma palavra em um número inteiro de itens lexicais, que são distintos uns dos outros como dois itens relativos a palavras morfologicamente diferentes: por exemplo, os diferentes sentidos de jogar em jogar gamão, jogar moedas na fonte... correspondem a itens distintos. As propriedades sintático-semânticas dos itens (por exemplo, as estruturas de frase em que pode entrar um determinado verbo, ou a distribuição de seu sujeito), formam uma lista que é metodicamente testada com todos os itens. As propriedades são identificadas por títulos relativamente informais, como N_0 \, V \, N_1 \, W \, = \, N_1 \, V\, W, que representa uma transformação entre duas estruturas de frases (ou construções sintáticas) que pertencem a um único item. A noção de item lexical, pois, não é confundida com a de construção sintática. Por isso, evita-se o termo "quadro de subcategorização", frequentemente utilizado no contexto de modelos que tendem a considerar que existe uma bijecção entre as duas noções. No quadro do léxico-gramática, as decisões de classificação ("subcategorização") de um item lexical não são baseadas, em geral, em uma única construção ("quadro"), e sim no conjunto das construções sintáticas relacionadas ao item. Enfim, são tomadas em consideração unicamente as propriedades para as quais é possível encontrar um procedimento que permita determinar de uma forma suficientemente confiável se um determinado item a possui ou não. Tal procedimento é determinado experimentalmente, testando com um vocabulário extenso a reprodutibilidade dos julgamentos. Uma propriedade, portanto, não é representada como um continuum, e sim como binária. Com a adoção deste modelo, uma etapa essencial da descrição de uma língua com o método do léxico-gramática consiste em observar e registrar as propriedades dos itens lexicais. Os resultados da descrição, portanto, tomam naturalmente a forma de tabelas de dupla entrada, chamadas tabelas, tábuas ou matrizes, que cruzam os itens lexicais com as propriedades sintático- semânticas. A descrição da estrutura das frases necessita a identificação de um conjunto de argumentos característico de cada item predicativo; especificamente, põem-se em aplicação princípios para distinguir os argumentos (sujeito e objetos ou complementos essenciais) dos complementos não essenciais (adjuntos adverbiais ou complementos circunstanciais). Resultados Os resultados obtidos pela aplicação desse método por algumas dezenas de linguistas durante algumas dezenas de anos são uma base de informações sintático-semânticas para o processamento automático das línguas. Pode-se julgar a qualidade desta base de informações com base: - no seu volume, avaliado em número de itens, - na riqueza dos fenômenos linguísticos tomados em conta, avaliada em número de propriedades, - e no seu grau de formalização. Em francês, mais de 75 000 itens foram estabelecidos; descrições mais ou menos substanciais, conformes ao mesmo modelo, existem para uma dezena de outras línguas, sendo melhor representados o português, o italiano, o grego moderno e o coreano. Foram efetuados e publicados estudos no quadro do léxico-gramática sobre substantivos predicativos a partir dos anos 1970, e sobre expressões fixas a partir dos anos 1980. A noção de substantivo predicativo procede dos trabalhos de Zellig Harris. Origina-se na ideia de que se, por exemplo, o verbo estudar é analisado como sendo o predicado na frase: Luca estuda os eclipses, é natural analisar o substantivo estudo (ou a sequência fazer um estudo) como sendo o predicado na 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 3 frase: Luca faz um estudo sobre os eclipses. Em tal caso, o referido substantivo é qualificado de predicativo. Já o verbo que vem junto, no caso, fazer, é chamado verbo suporte. A ideia foi aplicada metodicamente no quadro do léxico-gramática a partir dos anos 1970. Os contribuidores do léxico-gramática usam o termo de expressão idiomática, fixa ou cristalizada quando uma expressão (por exemplo jogar fora) possui propriedades específicas (no caso, o sentido) que justificam que se lhe dedique um item lexical, embora seja constituída por vários elementos (jogar e fora) que, de uma forma ou de outra, podem ser descritos como palavras. Um programa metódico de descrição dessas expressões foi empreendido no quadro do léxico-gramática a partir dos anos 1980. Cumulatividade Essas experimentações comprovaram que vários indivíduos ou equipes podem alcançar resultados idênticos. A resultante reprodutibilidade garante a cumulatividade das descrições. Este resultado é crucial para o futuro do processamento automático das línguas: a quantidade de dados que devem ser acumulados e representados dentro de um modelo coerente é tanta que numerosas equipes de pesquisa e desenvolvimento devem cooperar, e deve ser possível fusionar seus resultados sem ter que reescrever partes substanciais da gramática e do léxico de cada língua. Está longe de ser fácil cumprir essa exigência, pois existem poucos exemplos de gramáticas de um tamanho significativo que não sejam a obra de um único especialista. Saber pragmático – textual A linguagem2 é a base para o nosso meio de mudança e interação social. Dominá-la, nos exige interdiscurso com as diversas camadas sociolinguísticas, coisa que não é fácil, mas possível, através de práticas de produção textual, não se relacionando como a linguagem unicamente, situada no campo sintático, visando uma normatização da língua, que a linguagem vá além disso, alcançando o campo social no texto, assim trabalhando também o que está fora da norma. A prática de produção textual sendo praticada deforma efetiva, pode ampliar a capacidade da competência textual, tornar interessante a leitura e o estudo gramatical, e desenvolver formas de expressividade de alunos. Todas estas contribuições podem ser implantadas na sala de aula, através da produção textual. Sendo desenvolvida por meio, principalmente da realidade escolar e depois passa para um campo linguístico mais amplo. A competência textual deve levar em consideração a leitura, sendo a mesma não apenas um momento dedicado à percepção da escrita, muito mais que isso ela é oralidade em suas mais diversas manifestações. Essa é uma tarefa que exige tempo e esforço de alunos, professores e escola. Nesta construção de alunos competentes na produção textual é importante lembrar o espaço multicultural dentro da escola, este espaço pode ser trabalhado na perspectiva do aluno manifestar, dessas culturas distintas, conhecimentos de mundo diversos e internalizá-los, podendo ser trabalhado isto na escrita demonstrando domínio de linguagem nos diversos gêneros. A linguagem cria o meio social que é expresso pela língua onde surge a necessidade da comunicação, oral ou escrita, para fazer troca de discursos. Com isso, situamos a produção textual como o método coletivo que melhor atende à comunicação. É importante a ideia de que sociedade e linguagem devem ser trabalhadas na escola juntas para construção da competência textual. É papel da escola compreender a relação entre social e linguagem na produção de textos, já que língua é uma ferramenta compostade características sociais, pois a atividade linguística é feita pelo próprio falante. Não devemos excluir da prática textual aspectos, psicológicos, sociais, culturais e históricos, eles podem para a perspectiva da intertextualidade do aluno, fato tão presente na contemporaneidade em que o homem não se prende mais a uma verdade absoluta, a necessidade de diversos pontos de vista é essencial para construção de sentidos. Como a linguagem traz ancorada os aspectos citados acima, a escola pode partir desse ponto para que alunos façam uma reflexão crítica da língua. Podemos também tratar da produção de textos em diversos gêneros, tais como: carta, e-mail, reportagem jornalística, outdoor, resenha e assim por diante. Os gêneros textuais, sobretudo, os de ordem tecnológica por serem mais presentes no universo de alunos, são excelentes bases para o trabalho de desenvolvimento da escrita, nestes gêneros estão presentes aspectos tanto gramaticais como agramaticais, que podem ser estudados como diversos considerando os aspectos sociais e culturais de quem escreveu. 2http://www.gostodeler.com.br/materia/9939/sociolinguistica_interacional_enquadres_esquemas_alinhamentos_e_sequencialidade_numa_entrevista_cultural_c oncedida_por_ana_maria_machado.html 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 4 No desenvolvimento dessa prática é importante que professores deixem claro que a linguagem é como roupa. Existem aquelas que são usadas, somente, em determinadas festas, outras que podem circular por cenários diferentes sem problema. Enfim, que se ressalte que linguagem não é normatização, objetivando distinguir certo e errado, mas que é adequação e o domínio do registro informal é tão importante quanto o do formal. Saber linguístico-interacional Características gerais da comunicação A Sociolinguística Interacional procura demonstrar que a fala-em-interação está sujeita a mudanças e interpretações que podem variar de acordo com o comportamento linguístico e paralinguístico (como pistas e marcadores), que, por sua vez, é controlado por (e controlador de) inúmeros contextos específicos, e estes podem ser mais bem apreendidos pelos participantes (ou mesmo pelo analista) em função da situação informada ou do “sentido comunicado” específicos que se estejam perquirindo. Assim, através de apreensões empíricas, revelam-se dados que permitam analisar melhor os modelos de interação, levando em conta o falante e o ouvinte in loco, em função de comportamentos específicos na interação. Desse modo, com pistas linguísticas e paralinguísticas, parte-se de convenções sociais que interferem sobremaneira no tipo de atividade de fala – a unidade básica da comunicação. Além disso, a presença das implicaturas, que podem ser convencionais (não ligadas a itens léxicos específicos, mas a condições de uso sociais específico) ou lexicais (ligadas a palavras e itens sintáticos), faz o ouvinte inferir certas interpretações num contexto. Com efeito, a noção de comunicação como comportamento, não partirá de fatos e evidências apriorísticos, mas, buscará, na apreensão empírica dos dados apresentados, o que normalmente se denomina de “fenômenos sociolinguísticos”, respostas pertinentes à dinâmica do processo de comunicação, que, como foi dito, altera-se à medida que os participantes interagem, processo este que não é estanque ou determinado exclusivamente por fatores variacionistas prévios ou por noções idealistas que, portanto, pressuporiam um modelo de certa forma “estático” de comunicação, na medida em que tal modelo poderia ser previamente delimitado, antes mesmo de os dados empíricos serem recolhidos numa situação comunicada específica. Não se trata apenas, pois, da análise da capacidade ou competência comunicativa de participantes se compreenderem mutuamente levando em conta fatores convencionais diretos ou indiretos, como, de certa forma. Muito mais do que isso, o que vai ocorrer é o fato de que: Podemos, portanto, referir-nos à comunicação humana como canalizada e restringida por um sistema multinivelar de sinais verbais e não-verbais, que são adquiridos, ao longo da vida, automaticamente produzidos e intimamente coordenados. Os insights mais importantes sobre a respeito de como tais sinais afetam a comunicação verbal se originaram em estudos sobre a coordenação entre falantes e ouvintes. Assim, a Sociolinguística Interacional não possui visão idealizada do processo comunicativo, mas o vê como uma construção que os participantes, durante a interação, promovem: Os participantes de uma conversa, por exemplo, têm expectativas convencionais sobre o que é considerado normal e o que é considerado marcado em termos de ritmo, volume da voz, entoação e estilo de discurso. Ao sinalizar uma atividade de fala, o falante também sinaliza as pressuposições sociais em termos das quais uma mensagem deve ser interpretada. Portanto, a conversa não é um evento coeso, mas uma sucessão de atividades em contexto e em enquadres e esquemas específicos. O conhecimento e a aplicação das noções propostas por esses teóricos e por outros é o principal objetivo a ser levado a termo neste artigo, centradas numa conversa específica. Segundo Erika de Souza Bueno3, as aulas de gramática nas salas de aula de nosso Brasil têm tomado outras formas e nós, profissionais ou estudantes, precisamos entendê-las, uma vez que quaisquer mudanças afetarão diretamente a nossa prática e a formação de nossos alunos. 3 http://www.webartigos.com/artigos/analise-entre-as-gramaticas-normativa-descritiva-e-reflexiva-que-gramatica-cabe-a-escola-ensinar/87004/ (adaptado) Ensino e aprendizagem da gramática normativa 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 5 Muitas discussões são feitas acerca do ensino da gramática na escola, uma vez que há algum tempo era natural o estudo exaustivo de definições que só faziam sentido dentro do ambiente escolar, no qual os alunos só decoravam o significado de cada qual na única intenção de tirar uma boa nota na prova e passar para o próximo ano letivo. Com isso, não fica difícil compreender que os conteúdos não eram transferidos para a vida real e, ao que tudo indica, não eram capazes de fazer de um aluno, um cidadão competente para se posicionar diante de questões da vida real, dentro de sua comunidade ou fora dela. Por questões como essas serem erguidas, alguns professores chegaram a imaginar que a gramática estava definitivamente abolida das aulas de língua portuguesa, contudo, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, não é bem isso que ocorre: “... uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação, exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso (de uma prática pedagógica como esta), discute-se se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.” Segundo estas diretrizes, o novo olhar para o ensino de gramática que salta aos nossos olhos, não exclui o conteúdo gramatical de língua portuguesa, até porque não há gramática sem língua e nem mesmo língua sem gramática. O novo olhar mostra-nos, entre outras coisas, uma metodologia eficiente que faz o aluno refletir e identificar diversos gêneros discursivos baseados em textos que realmente façam sentidos para eles, levando em consideração que a competência discursiva de um aluno não se dá de forma desarticulada e, para que este aluno seja capaz de usar a língua em diversas situações, incluindo ele estar ante pessoas e situações que têm mais proximidade do mundo letrado, se faz necessário que a abordagem gramatical se livre de terminologias antiquadas e de preconceitos descabidos, considerando o aluno um falante fluente no seu idioma pátrio. Observe mais este trecho do PCNdo MEC: “Afinal, a aula deve ser o espaço privilegiado de desenvolvimento de capacidade intelectual e linguística dos alunos, oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua competência discursiva. Isso significa aprender a manipular textos escritos variados e adequar o registro oral às situações interlocutivas, o que, em certas circunstâncias, implica usar padrões mais próximos da escrita”. Sendo assim, o novo olhar para as aulas de gramática nas nossas escolas, não se refere ao abandono da competência escrita, mas a uma nova metodologia de ensino, na qual são considerados os conhecimentos de mundo que o aluno já possui, sendo que toda a abordagem gramatical deve trazer uma linguagem clara sem definições ultrapassadas, livre de preconceitos e mitos. Precisamos nos despir destes, pois defendem, entre outros pontos, a existência de apenas um padrão correto para a fala, estigmatizando pessoas que não se adéquam a ele, ao passo que nós, profissionais comprometidos com um ensino não excludente, sabemos que toda a fala está inserida dentro de um contexto e deve ser respeitada nas suas muitas variantes. De acordo com Michele Tolentino, Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa, afinal a gramática deve ou não ser ensinada? Diante de uma nova metodologia, como seria a reação de professores e alunos? Em vista disso, surge também outro questionamento, acerca do ensino de língua portuguesa nas escolas, pois ao educador compete o ensino da gramática normativa para o cumprimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais servem de referência para o trabalho de todas as disciplinas nos três níveis para a formação escolar dos discentes. Observa-se uma grande dificuldade em relação à aprendizagem, por parte desses, de acordo com a norma culta imposta devido à cultura dos estudantes que, muitas vezes, é incompatível levando os mesmos a concluírem a vida escolar sem saberem ler e escrever adequadamente. Cônscio dessa realidade, o professor de língua portuguesa, deverá dedicar-se em adotar novos recursos didáticos, a fim de garantir um ensino eficaz que leve o aluno a ter verdadeiramente uma a Não há dúvida de que deve ensinar a gramática normativa nas aulas de língua portuguesa, embora sabe-se perfeitamente que ela em si não ensina ninguém a falar, ler e escrever com precisão. O dever da escola é ensiná-la oferecendo condições ao aluno de adquirir competência para usá-la de acordo com a situação vivenciada. Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo estudo da língua, por não terem condições de entender o conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim frustrações, reprovações e recriminações que iniciam pela própria escola e o preconceito linguístico. 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 6 É importante enfatizar que a assimilação crítica dos estudos linguísticos e a necessidade de se estabelecer um maior contato do professor com a língua materna e a proposta da linguística; valorizar a língua falada pelo aluno. Considerando que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, absoluta e acabada antes, porém seus conceitos devem ser relativizados, para que alcance o educando do século XXI. Bagno opina que: "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa". Através desse conceito, Bagno afirma que a gramática em si não justifica seu papel de única fonte para o ensino da língua nas escolas, tanto do ponto de vista teórico quanto do prático, bem como o código normativo da linguagem, tomado no geral. Os gramáticos levam ao estágio da angústia os professores e os alunos, para o estudo gramatical em virtude das divergências entre os mesmos. Então o professor deve deixar de lado o comodismo e a repetição da doutrina gramatical e ser mais dinâmico ministrando o conteúdo de forma reflexiva em atividades contextualizadas, interdisciplinares, individuais ou coletivas de forma que o aluno passa a conhecer as variedades da língua através de pesquisas, as quais envolvam a leitura e produção textual, construindo seu próprio conhecimento linguístico. O ensino de gramática nas escolas, acontece de forma arcaica, devido à aplicação de métodos totalmente teóricos, sem nenhuma significação na vida dos alunos que, por sua vez, não conseguem estabelecer relação entre a teoria gramatical e a prática de texto. A concepção de que língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de, ingenuamente, se acreditar que a língua constituída de um único componente: a gramática. Por essa ótica, saber uma língua equivale a saber sua gramática; ou, por outro lado, saber a gramática de uma língua equivale a dominar totalmente essa língua. Na mesma linha de raciocínio, consolida-se a crença de que o estudo de uma língua é o estudo de sua gramática. É importante ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar a composição da língua, mas para auxiliar o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua materna, possibilitando-lhe as características essenciais que pertencem à sua cultura. Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o ensino da gramática normativa e a contextualizada, sem descartar as nomenclaturas, terminologias e regras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento social e cultural dos alunos. Mediante a algumas situações ocorridas em sala de aula, relacionadas à aprendizagem, faz-se necessário algumas mudanças nos procedimentos adotados em relação ao ensino de língua portuguesa, pois sabe-se que os alunos pertencem a diferentes culturas e devem ser atendidos de acordo com suas necessidades, baseando-se em suas possibilidades de leitura e escrita levando em consideração o potencial gramatical que cada um tem ampliando, ou seja, enriquecendo o poder linguístico através do ensino da gramática que tem por objetivo preparar o aluno para uma produção textual obedecendo à norma padrão. Percebe-se que o ensino de língua portuguesa perpassa por muitas dificuldades, não apenas com a forma de ensinar a gramática, como também a maneira que o professor atua em sua prática, ou seja, além de fornecer aos alunos uma orientação válida para a prática de produção de textos respaldadas pelas regras gramaticais, então deve-se encontrar métodos dinâmicos e eficientes ao transmitir o conteúdo. Não há uma receita mágica nem respostas milagrosas, o que deve ser feito são novas práticas de ensino que vão propiciar ao corpo discente uma aprendizagem significativa. Há várias maneiras para que ocorra mudanças no ensino tradicional, uma delas é o professor tornar- se o mediador do conhecimento ao aluno, fragmentando a distância entre o mesmo e o ensino de gramática, tornando-a prazerosa e não somente obrigatória. Pois, será realmente um professor, independentemente do conhecimento que possua se puder transmitir tais informações de forma interativa e criativa, estabelecendo a relação professor-aluno, acreditando sempre que o aluno é capaz de aprender e compreender a gramática. O aluno somente interioriza o conhecimento da estrutura gramatical, se ela for contextualizada em situações ou contextos comunicativos. O professor poderá utilizar recursos metodológicos, bem como, tecnológicos como cartazes, textos de embalagens, revistas, jornais, oficinas, carta comercial e pessoal, bilhete, romance, horóscopo, receita culinária, cardápio, outdoor, lista de compras, resenha, inquérito, edital de concurso, piada, carta eletrônica, bate-papo online, data show, dentre outros. É importante despertar nos alunos a consciência da funcionalidade da leitura e escrita, e isso só será possível quando os professores levarem em conta a bagagem que o aluno trazconsigo, a respeito de sua língua materna. Dessa forma pode acontecer a união da norma culta e da norma coloquial sem criar traumas ou defasagens na aprendizagem dos alunos, basta que os educadores busquem a formação continuada, não apenas teórica, mas também na prática e no contexto da realidade em que ele está inserido, respeitando assim as diferenças. 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 7 Segundo Vygotsky "O estudo da gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança". A criança, embora domine a gramática de sua língua muito antes de entrar na escola, pois organiza sua fala de acordo com a necessidade, esse domínio é inconsciente, ou seja, mesmo usando o tempo verbal correto ao se expressar, não saberá rejeitar uma palavra quando isso lhe for solicitado. Em vista disso, o ensino de gramática torna-se válido não só porque permite à criança de estar consciente do que está fazendo, mas pode usar essas habilidades de forma precisa, além de permitir o uso da fala com maior eficácia. O ensino de gramática deve-se iniciar nos primeiros anos de escolaridade, pois a criança desenvolve seu pensamento a partir das descobertas que vai surgindo pelos conteúdos aplicados sem sala de aula, os quais contribuem para o desenvolvimento da fala e escrita. A partir dessas descobertas conclui-se que todas as matérias básicas são estimuladas pelo psicológico ao longo de um processo ensino- aprendizagem. Isso ocorre de forma lenta, interativa, coletiva e contextualizada. Ao ensinar a gramática, o professor deve levar em consideração algumas questões como: o estudo coletivo, a cooperação e a competição, os quais podem ajudar na aprendizagem no sentido de que as crianças com facilidade colaboram com as demais, também pode haver uma competição entre grupos, de forma em que um seja avaliado por outros, recebendo sugestões e reflexões para o próprio amadurecimento. O ensino de gramática é importante tanto na escrita quanto na fala, até porque nós estamos inseridos em uma sociedade contemporânea, na qual nossa aprendizagem é medida para ingressarmos no mercado de trabalho por meio de concursos públicos que exigem dos concorrentes uma gramática contextualizada, que depende das regras da gramática normativa. As provas são elaboradas baseadas nos currículos escolares com propostas pedagógicas, onde a gramática normativa está inserida. Neste caso o aluno deve conhecer a estrutura, os usos e o funcionamento de uma língua nos seus diversos níveis: fonológico, morfológico, lexical e semântico. O professor de língua materna desde a alfabetização até o último ano escolar deve estar atento a estas informações realizando sua tarefa de educador com precisão e competência. Diante do exposto, segue sugestão a ser trabalhada no ensino de língua portuguesa dentro da sala de aula, que poderá ser adaptada. O professor poderá trabalhar diversas áreas do conteúdo de língua portuguesa, como por exemplo, gramática, produção textual, e leitura de forma contextualizada e dinâmica. A função de jogos e aulas dinâmicas é exatamente para que o professor construa ferramentas, para que o aluno, através dessas aulas, construa sua visão de mundo. O jogo chamado: "Produção textual a partir da história: A Bela e a Fera", lembrando que o professor poderá adaptá-lo e usar outras histórias, por exemplo: A pequena sereia; Rapunzel; Chapeuzinho vermelho; Pinóquio, dentre outras. A história deverá conter figuras, ilustrando os momentos, e o texto original, os quais estão anexos. As regras do jogo deverão ser explicadas de modo que a turma compreenda, que são: O professor fará um breve comentário sobre a história, colhendo os conhecimentos prévios dos alunos; Então divide- se a turma em grupos, sendo que a quantidade de grupos fica a critério do professor, podendo ser desde quatro grupos, caso a turma seja pequena, ou em maior quantidade de grupos, caso a turma contenha um número grande de alunos, de modo que todos participem; Em seguida, distribui-se a história que estará recortada em figuras para que os alunos coloquem-nas em sequência; Durante a montagem, o professor acompanhará, se a ordem da história estiver correta, tudo bem, se não, o professor orientará os grupos até que eles consigam organizá-las de forma correta, não falando que está incorreto e sim dando pistas, instigando o aluno a refletir sobre o que foi dito durante a exposição inicial do professor; Montada a historinha, o professor pedirá que os alunos leiam o texto original da historinha e, em seguida, que cada um crie sua própria história, podendo mudá-la, e, finalmente, na próxima aula o professor colocará o vídeo da história. Os conhecimentos na área da linguística ocorrem durante todo o processo escolar, pois o ensino gramatical se repete em todos os anos escolares, numa prática diária em sala de aula, numa interação formal e contextualizada, na oralidade e na escrita. Nesse contexto, pode-se afirmar que o ensino da gramática é importante, pois a mesma oferece condições para o aluno ampliar seu discurso linguístico em relação ao funcionamento da língua padrão, através do conhecimento de regras gramaticais trabalhadas em atividades aplicadas pelos professores que demonstram as variedades linguísticas levando o aluno a entender a estrutura, o uso e o funcionamento da língua materna. Para a produção textual é importante primeiramente, que o aluno tenha ampla visão de mundo, caso essa não seja a realidade do mesmo, é imprescindível que o professor aborde o assunto determinado em sala de aula, através de debates e pesquisas, para que o aluno construa seu próprio conhecimento de forma crítica e reflexiva. A partir de então, aplica-se o conhecimento das normas gramaticais, que ajudará 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 8 ao aluno na estruturação de seu texto, pois para escrever bem é necessário o uso adequado das palavras que dão uma sequência lógica e coesa ao texto. O que falta no ensino da gramática, de acordo com a didática é a aplicabilidade, pois quando aprende- se algo que serve de uso em nossas vidas, certamente ficará guardado dentro de nós, de maneira tal que não esqueceremos. Acredita-se que há possibilidade da gramática condizer com a nossa realidade, utilizando a própria fala dos alunos para por isso em prática, por exemplo, quando um aluno expressa algo comum na fala de sua comunidade como os regionalismos e os neologismos, pode-se aproveitar a oportunidade e intervir nessa fala, mostrando que, muitas vezes, há várias formas de dizer a mesma palavra, que a Linguística explica todas essas variações e posteriormente demonstrar como a gramática normativa usa essa palavra. Outro ponto que falta no ensino de gramática é acabar com certas "decorebas", muitas vezes, aprende na escola que os verbos: ser, estar, continuar, parecer, permanecer, dentro outros, sempre serão verbos de ligação, e ao chegar à faculdade leva-se um choque ao se deparar que depende do contexto do texto ou da frase para esse verbo ser realmente de ligação. Sabe-se que ser professor é uma profissão importantíssima e mesmo com tantos problemas encarados por estes profissionais, é possível ainda sonhar em mudar o ensino da nossa língua de uma forma a que todos venham aprender e a valorizá-la, não é um caminho fácil, não obstante também não é impossível, mas falta aplicar à prática o que nossa professora comenta em muitas de nossas aulas de Gramática, Descrição e Uso: está na hora de arregaçarmos as mangas em prol de um ensino de qualidade. Tipos de gramática e ensino de língua: Gramática normativa; Gramática descritiva; Gramática reflexiva; Gramática do uso Quando se fala em gramática, logo vem à mente aquele conceito bem antigo de gramática tradicional, ou seja, um conjunto de normas, regras para um bom funcionamento da língua, para falar e escrever corretamente. Essa definição é bem restrita diante dos fenômenos que cercama língua. Gramática normativa A Gramática Normativa ou Prescritiva estabelece normas a serem seguidas. Está ligada ao “certo e errado”, a uma forma que não reflete o código linguístico, afinal é uma lei a ser obedecida. Conforme Travaglia: A gramática normativa, que é aquela que estuda apenas os fatos da língua padrão, da norma culta de uma língua, norma que se tornou oficial. Baseia-se em geral, mais nos fatos da língua escrita e da pouca importância a variedade oral da norma culta, que é vista, conscientemente, ou não, como idêntica a escrita. Ao lado da descrição da norma ou variedade culta da língua (análise de estruturas, uma classificação de formas morfológicas e lexicais), a gramatica normativa apresenta e dita normas de bem falar e escrever, normas para a correta utilização oral e escrita do idioma, prescreve o que se deve e o que não se deve usar na língua. Essa gramática considera apenas uma variedade da língua como válida, como sendo a língua verdadeira. Então, esse tipo de gramática é o que mais os alunos veem nas escolas, aquela forma tradicional de estudar o conteúdo. Não aceita nenhuma variedade que a língua apresenta. Impõe regras a serem obedecidas, por exemplo: o verbo tem que concordar em gênero e número com o sujeito “Os homens trabalham”. Caso alguém desobedeça a esse segmento e fale “Os homi trabaia”, será visto como uma pessoa ignorante, que fala errado, não segue a concordância adequada. A gramática tradicional não se preocupa com a interação e nem com a variação que ocorre na língua, trabalha apenas com o fator homogêneo. A Gramática Tradicional dedica-se exclusivamente a língua escrita e passa a deixar de lado a língua falada. Então, detém as normas de bom uso, a variedade culta, padrão. Despreza a oralidade e outras variedades da língua. Por isso, surgem os preconceitos linguísticos. Segundo Travaglia: Os critérios de qualidade de que se vale a gramática normativa são muitas vezes, problemático e com frequência nada tem a ver com a realidade da língua em si e em sua variação. A variedade que é considerada culta é normalmente a das classes sociais de prestigio econômico, político, cultural, etc., não considerando, portanto, a capacidade de qualquer variedade da língua de cumprir uma função comunicacional. É necessário que em sala de aula o professor de Língua Portuguesa aprimore-se dos recursos da Gramática Normativa porque mesmo tendo suas desvantagens apresenta também as vantagens. Pois a partir de seu uso o aluno consegue dominar normas, escrever e se expressar melhor. É preciso que o professor não se detenha apenas na GT, mas também em outros tipos de Gramática, bem como: a Descritiva e a Reflexiva, para assim desenvolver um resultado satisfatório enfocando a variação e mudança, com isso excluir os mitos que tem na língua. 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 9 Já a Gramática Descritiva é um estudo da língua sob um olhar mais crítico, incluindo vários elementos. Faz uma descrição da estrutura e do funcionamento da língua, de sua forma e função. Tem a preocupação em descrever, explicar as línguas como elas são faladas. De acordo com Travaglia (2001, p.32): Gramática descritiva A Gramática Descritiva é a que descreve e registra para uma determinada variedade da língua em um dado momento de sua existência (portanto numa abordagem sincrônica) as unidades e categorias linguísticas existentes, os tipos de construção possíveis e a função desses elementos, o modo e as condições de usos dos mesmos. Portanto a gramática descritiva trabalha com qualquer variedade da língua e não apenas com a variedade culta e dá preferência para a forma oral desta variedade. Podemos, então, ter gramática descritiva de qualquer variedade da língua. Através dessa afirmação pode-se perceber que a Gramática Descritiva descreve as regras de como uma língua é realmente falada. Então, trabalha com outras variedades, como a informal. Não tem o objetivo de apontar erros, mas de identificar todas as formas de expressão existentes. Diante da seguinte frase: “Os cachorro são dele, viu”, a gramática descritiva procura explicar os usos da língua, e que não há línguas uniformes. Neste caso essas formas não seriam erros, mas variedades da forma oral. Gramática reflexiva A Gramática Reflexiva seria um trabalho de reflexão diante do que o aluno já domina. E também um trabalho de recursos linguísticos que ainda não domina. O objeto de estudo dessa gramatica é levar o aluno a aprendizagem de novas habilidades linguísticas, daí promover um ensino produtivo. Aqui se estuda gramatica a partir de exemplos que facilitem o entendimento dos elementos da língua em atividade em sala de aula. Conforme Travaglia: A gramática reflexiva é a gramática em explicitação. Esse conceito se refere mais ao processo do que aos resultados; representa as atividades de observação e reflexão sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e princípios, ou seja, a constituição e funcionamento da língua. Parte, pois, das evidencias linguísticas para tentar dizer como é a gramática implícita do falante, que é a gramática da língua. Então, esse trabalho com a Gramática Reflexiva é mais voltado para a inovação do ensino por uma mudança da metodologia. Pois, constroem-se atividades que o levem a redescobrir fatos já estabelecidos pelos linguistas. Diante disso, o livro apresenta um título de como se faz o plural. É exposto o modelo, no qual os alunos observam que há frases no singular “O animal racional” e depois o plural “Os animais racionais”. Através da observação os alunos logo reconhecem que palavra terminada em AL, troca-se o “L” por “IS”. Isso é um exemplo simples para formação do plural que é feito a partir de uma análise simples que ajuda o aluno a utilizar a língua com mais facilidade. Outro tipo de trabalho com Gramática Reflexiva é desenvolver competência comunicativa. De acordo com Travaglia “[...] a gramática reflexiva é constituída por atividades que focalizam essencialmente os efeitos de sentido que os elementos linguísticos podem produzir na interlocução [...]”. Partindo desse princípio seria uma reflexão voltada para a semântica e a pragmática. É uma análise das possibilidades e não possibilidades que um enunciado ou uma língua pode gerar. Preocupa-se mais com a forma de atuar usando a língua. Diante desses três tipos de Gramática pode-se perceber que servem como um forte instrumento de apoio em sala de aula. Para promover uma aprendizagem satisfatória e produtiva, o professor deve incorporar no seu trabalho tanto a Gramática Normativa, quanto a Descritiva e a Reflexiva. Assim os alunos poderão perceber a diferença e a contribuição que cada uma apresenta ao ensino de língua. Gramática do uso Um dos grandes temas em discussão nas reflexões sobre linguagem de base funcionalista diz respeito às relações entre discurso e gramática. Se afirmações como "a gramática de hoje é o discurso de ontem" ou "o discurso de hoje é a gramática de amanhã" têm parecido muito extremadas, a noção de que a gramática é sensível às pressões do uso parece não poder ser negada. Diz Du Bois (1993a) que o que equaciona as relações entre discurso, ou uso, e gramática são as seguintes proposições: a) a gramática molda o discurso; b) o discurso molda a gramática; ou: "a gramática é feita à imagem do discurso"; mas: "o discurso nunca é observado sem a roupagem da gramática". É assim que as reflexões sobre o modo funcionalista de investigação da linguagem têm de começar pelo próprio modelo de interação linguística. Na verdade, entender a gramática como sensível às pressões do uso - mais especificamente pela capacidade de escolha do falante na sua produção linguística - é integrar a organização gramatical em uma teoria global da interação. Concebendo a língua 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 10 como instrumento que estabelece relações comunicativasentre os usuários, o paradigma funcional coloca a expressão linguística como mediação entre a intenção do falante e a interpretação do destinatário. Assim, a expressão linguística não pode ser analisada autonomamente sem a consideração de que ela é função, de um lado, da intenção e da informação pragmática do falante, e, de outro, da informação pragmática do destinatário, bem como de sua conjetura sobre qual tenha sido a intenção comunicativa do falante. Quando o falante diz algo, ele tem uma intenção comunicativa, um plano mental relativo a alguma modificação na informação pragmática do destinatário, e isso vai determinar escolhas na formulação linguística: a formulação tem de ser capaz de provocar no destinatário o desejo de modificação da informação pragmática tal como a pretendeu o falante, e este, por sua vez, tem de ter sido capaz de antecipar a interpretação que sua formulação poderia obter daquele destinatário, naquele determinado estado de informação pragmática. Isso implica dizer que, do lado do destinatário, a interpretação da formulação linguística se faz basicamente segundo a informação pragmática que ele já possui, enquanto, do lado do falante, a seleção do que deve constituir a expressão linguística, embora provenha de sua intenção comunicativa, depende da informação que ele possua sobre qual seja a informação pragmática de seu destinatário naquele momento. O que está implicado nesse modelo é uma integração de sintaxe e semântica, dentro de uma teoria pragmática, o que envolve intervenção: - dos papéis envolvidos nos estados de coisas designados pelas predicações (funções semânticas); - da perspectiva selecionada para apresentação dos estados de coisas na expressão linguística (funções sintáticas); - do estatuto informacional dos constituintes dentro do contexto comunicativo em que eles ocorrem (funções pragmáticas). Trata-se, como diz Gebruers, de uma teoria que procura oferecer "um quadro para a descrição científica da organização linguística em termos das necessidades pragmáticas da interação verbal, na medida em que isso é possível". A gramática é vista, então, como uma teoria de componentes integrados, uma teoria funcional da sintaxe e da semântica, a qual, entretanto, só pode ter um desenvolvimento satisfatório dentro de uma teoria pragmática, isto é, dentro de uma teoria da interação verbal. Requer-se dela, pois, que seja "pragmaticamente adequada", embora se reconheça que a linguagem só pode funcionar comunicativamente por meio de arranjos sintaticamente estruturados. A especificação gramatical de uma expressão, por outro lado, inclui a descrição semântica, não se admitindo a existência de uma sintaxe autônoma. Qualquer uma das propostas funcionalistas pode ser invocada para verificar o tratamento da frase enquanto ato de interação, enquanto peça de comunicação real. Basta ver as "camadas" de Dik (predicação - proposição - frase), ou as "funções" da frase, de Halliday, além da proposta De Lancey sobre as noções de "fluxo de atenção" e de ponto de vista", ligadas à organização das frases no discurso. Dik propõe níveis, ou camadas, de organização da estrutura subjacente da frase. No nível 1 está o predicador, que designa relações e propriedades, e os termos, que se referem a entidades; no nível 2 se produz a predicação, que designa um estado de coisas, uma codificação linguística que o falante faz de uma situação; no nível 3 está uma estrutura de ordem mais alta, a proposição, que designa um "conteúdo proposicional", ou seja, um fato possível; a proposição revestida de força ilocucionária constitui, no nível 4, a frase ("clause", em Dik), que corresponde a um ato de fala. Nas três metafunções (isto é, tipos de função) de Halliday, chamadas de "textual", "ideacional" e "interpessoal", a "oração" é a "realização simultânea" de três "significados": uma "mensagem" (significado como relevância para o contexto), uma "representação" (significado no sentido de "conteúdo"), e uma "troca" (significado como forma de ação). Segundo Halliday, diferentes redes sistêmicas codificam diferentes espécies de significado, ligando- se, pois, às diferentes funções da linguagem. Assim, o sistema de transitividade, especificando os papéis dos elementos da oração, como "ator", "meta" etc., codifica a experiência do mundo, e liga-se, pois, com a função ideacional; o sistema de modo (do qual deriva o de modalidade), especificando funções como "sujeito", "predicador", "complemento", "finitude", diz respeito aos papéis da fala, e liga-se, pois, com a função interpessoal; os sistemas de tema e de informação, especificando as relações dentro do próprio enunciado, ou entre o enunciado e a situação, dizem respeito à função linguisticamente intrínseca, a função textual. Dentro de cada sistema, as escolhas se fazem com respeito a um determinado nível gramatical. Assim, no nível da frase, é obrigatória a escolha referente ao sistema de modo, já que toda e qualquer frase há de ser ou declarativa, ou interrogativa, e assim por diante. Cada sistema maior implica subsistemas, nos quais o modo de operação se repete, levando a escolhas cada vez mais específicas. Cada elemento da língua é explicado por referência à sua função no sistema linguístico total. Nesse sentido, uma gramática funcional é aquela que constrói todas as unidades de uma língua - suas orações, suas expressões - como configurações orgânicas de funções, e, assim, tem cada parte interpretada como funcional em relação ao 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 11 todo. Hengeveld (1989) apresenta um modelo de análise da frase em dois níveis, no qual se pode ver uma certa integração do funcionalismo da escola da Holanda (Dik e seguidores) com o de Halliday: 1) Representacional (relacionado com o evento narrado): o enunciatário compreende a que situação (real ou não) se faz referência. 2) Interpessoal (relacionado com o evento de fala): o enunciatário reconhece a intenção comunicativa do enunciador. No nível representacional estão os estados de coisas, entidades às quais as sentenças (como "expressões referenciais", que ocorrem em algum tempo e lugar) se referem. No nível interpessoal há uma estrutura ilocucionária abstrata, que expressa a relação entre o falante, o destinatário e a mensagem, ou conteúdo transmitido. A "cláusula", ou frase, representa a combinação dos dois eventos, o narrado e o de fala; nessa análise, a predicação preenche duas funções: a) designa o estado de coisas no nível representacional (a "predicação" de Dik); b) representa o conteúdo do ato de fala no nível interpessoal (a "proposição" de Dik). De um ponto de partida que é a predicação, passa-se, subsequentemente: a) à expressão referencial; b) à expressão referente à unidade de informação (ou conteúdo transmitido em um ato de fala); c) finalmente, à fala real. No modelo de Halliday se encontra estabelecida uma relação sistemática entre a análise linguística e o contexto de ocorrência dos enunciados, de tal modo que se pode encontrar, já nas suas primeiras propostas, três variáveis situacionais de registro associadas aos três componentes metafuncionais do sistema linguístico: o "campo" do discurso (a atividade social implicada), ligado ao componente experiencial; o "teor" do discurso (a distância social entre os participantes), ligado ao componente interpessoal; o "modo" do discurso (o canal entre os participantes), ligado ao componente textual. Duas possibilidades alternativas são assentadas como base para a organização da teoria linguística, numa gramática funcional sistêmica, como a de Halliday: a "cadeia" (o sintagma) e a "escolha" (o paradigma). Gomo aponta Hudson, há dois tipos de categorias em uma gramática sistêmica, os traços e as funções: o traço é uma categoria paradigmática, que relaciona um item com outros itens da língua que, sob algum aspecto relevante, são similares, enquanto a função é uma categoria sintagmática.Uma gramática sistêmica é, acima de tudo, paradigmática, isto é, coloca nas unidades sintagmáticas apenas a realização, reservando, para o nível abstrato e profundo, as relações paradigmáticas. A consideração do sistêmico implica a consideração de escolhas entre os termos do paradigma, sob a ideia de que escolha produz significado. A gramática é, afinal, o mecanismo linguístico que liga umas às outras as seleções significativas que derivam das várias funções da linguagem, e as realiza numa forma estrutural unificada. A gramática organiza as opções em alguns conjuntos dentro dos quais o falante faz seleções simultâneas, seja qual for o uso que esteja fazendo da língua. A questão das "escolhas" tem de ser vista, também, dentro da dicotomia restrições/escolhas que representa a própria duplicidade básica implicada no complexo em que se constitui a atividade linguística dos falantes. Na verdade, a competência linguística dos sujeitos é entendida, numa teoria funcionalista da linguagem, como a capacidade que os falantes têm não apenas de acionar a produtividade da língua (jogar com as restrições), mas também - e primordialmente - de proceder a escolhas comunicativamente adequadas (operar as variáveis dentro do condicionamento ditado pelo próprio processo de produção). A primeira decorrência da adoção dessa dicotomia como diretriz de investigação é o estabelecimento de duas asserções aparentemente contraditórias: 1) As diversas modalidades de língua (falada e escrita), assim como os diversos registros (tenso, frouxo etc.) têm as mesmas regularidades (tanto nas estruturas como nos processos), e a mesma gramática. 2) As diversas modalidades e os diversos registros têm, entretanto, características diferentes e peculiares, ligadas à própria implementação das determinações do sistema, para a qual, em princípio, são relevantes as condições de produção. Desse modo, pode-se dizer que o sistema é o mesmo, mas que o aproveitamento das possibilidades é dependente das condições de produção. A gramática busca regularidades, busca especificar a sistematicidade da atividade linguística, porque sua finalidade não é dar conta de peculiaridades ou idiossincrasias de um determinado enunciado que um determinado falante produz em uma determinada situação. O que se põe em exame é a produção de sentido, e ela se opera no jogo que equilibra o sistema: o jogo entre as restrições e as escolhas, estas inscritas na natureza da atividade linguística, bem como na sua função, suas condições de produção, suas estratégias, seu processo de produção, e até seu acabamento formal. Mackenzie afirma que a gramática funcional ocupa uma posição intermediária em relação às abordagens que dão conta apenas da sistematicidade da estrutura da língua ou apenas da 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 12 instrumentalidade do uso da língua. Ela tem como hipótese fundamental a existência de uma relação não- arbitrária entre a instrumentalidade do uso da língua (o funcional) e a sistematicidade da estrutura da língua (a gramática). Em outras palavras, a gramática funcional visa explicar regularidades dentro das línguas e através delas, em termos de aspectos recorrentes das circunstâncias sob as quais as pessoas usam a língua. Como diz De Beaugrande, enquanto nas gramáticas formais se tende a deixar certas especificações funcionais para o domínio fluído da semântica, da pragmática e da estilística, nas gramáticas explicitamente "funcionais", pelo contrário, especificações funcionais ricas são acomodadas no esquema, de tal modo que a "descrição gramatical" contenha dados amplos para auxiliar uma descrição semântica, pragmática e estilística. Na verdade, é evidente uma oposição entre o funcionalismo e o estruturalismo, que colocou sob estudo a "langue" (a língua em si e por si mesma), descrevendo cada subdomínio (nível ou componente) por critérios internos, o que levava a uma ênfase nos dados formais. Ao apresentar a oposição entre as duas correntes, De Beaugrande indica que o funcionalismo não aceitou essa atribuição dos dados funcionais ao uso da língua (à "parole"), ou à interação entre os subdomínios, e defendeu uma perspectiva mais integrativa na qual todas as unidades e os padrões da língua seriam compreendidos em termos de funções. Indica, ainda, que, desse modo, a "gramática" passa a incluir não somente os morfemas e as estruturas sintagmáticas, mas o seu embasamento cognitivo no conhecimento que a comunidade tem de como os processos e seus participantes são organizados (por exemplo, se uma Ação tem um Iniciador). O "discurso", por outro lado, é a rede total de eventos comunicativos relevantes, incluindo gestos, expressões faciais, manifestações emocionais e outros. E os dois conjuntos de subdomínios estão relacionados não pelo tamanho e pela constituição, mas por funções mutuamente controladoras, como as curvas de entonação que são típicas de certos padrões gramaticais em certos domínios do discurso (por exemplo, discursos políticos). Na gramática funcional, noções "pragmáticas" - relativas às escolhas que o falante faz para distribuir a informação dentro de seu enunciado - são entendidas como internas à gramática. Essa visão, que necessariamente relaciona padrões discursivos a padrões gramaticais, faz uma integração da pragmática na gramática. O "fluxo de informação", por exemplo, entra como fenômeno a ser investigado na gramática, e organizações como a de uma "estrutura argumentai preferida" são tomadas sob análise, uma análise que olha a forma que a estrutura argumentai toma, e relaciona essa forma com a codificação da informação (nova ou velha). O fluxo de atenção, segundo Ghafe, diz respeito aos aspectos cognitivos e sociais da "embalagem" que as pessoas fazem do conteúdo ideacional, quando falam. Em outras palavras, mais do que com o conteúdo ideacional do enunciado, o fluxo de informação tem que ver com a organização que nele obtêm categorias como "tópico e comentário", "sujeito e predicado", "informação dada e informação nova", ou, ainda, "unidades de entonação", "orações", "frases" e "parágrafos". O fluxo de informação determina a ordenação linear dos sintagmas nominais na frase, que se faz na sequência que o falante considera adequada para obter a atenção do ouvinte, mas alterações da ordem podem atuar para controlar o fluxo de atenção. Uma maneira de investigar a organização do fluxo de informação é exatamente considerar o "fluxo de atenção". Levando-se em conta as noções de "fluxo de atenção" e de "ponto de vista", entende-se que os eventos descritos no discurso e as entidades neles envolvidas não têm todos a mesma importância comunicativa, dispondo a organização discursiva de mecanismos capazes de marcar a relevância relativa dos diferentes eventos e entidades que se seguem no discurso. De Lancey distingue um fluxo de atenção natural, referente às estruturas perceptuais, e um fluxo de atenção linguístico, referente aos mecanismos linguísticos pelos quais esses valores são marcados nas frases; do fluxo de atenção linguístico pode-se dizer, por exemplo, que, seguindo a ordem natural, ele parte de Origem (Agente, Experimentador) para Meta, e que ele se situa na posição mais à esquerda, na frase. O fluxo de atenção natural tem como base a ordenação temporal dos eventos, que deve ser refletida na frase, a não ser que haja alguma motivação especial potencialmente ligada ao próprio ponto de vista - que cause a não coincidência, e torne marcado o enunciado. Os pontos de vista a partir dos quais se descreve uma cena são dois, o de um observador externo e o de um dos participantes. Entende-se que os pontos de vista, valores essencialmente dêiticos, são especificados nas frases por meio de mecanismos linguísticos apropriados que cada língua possui. O que se postula, nessas propostas de investigação, é uma relação entre gramática e discurso que entende que o comportamento sintático semântico pode ser mais bem explicadodentro de um esquema que leve em conta a interação de forças internas e externas ao sistema. Entretanto, à estrutura conceptual dos estruturalistas (na qual as únicas forças que organizam a língua são as internas) não é necessário opor-se uma estrutura conceptual ligada a um funcionalismo do tipo que Du Bois denomina transparente, ou sincrônico (no qual se presume que todos os fatos sintáticos aparentemente autônomos são realmente resultados transparentes dos objetivos funcionais do falante). 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 13 Du Bois indica uma posição intermediária que postula a interação de forças internas e externas em competição e que se resolvem no sistema. Afinal, exatamente por constituir uma estrutura cognitiva é que a gramática é sensível às pressões do uso; ou seja: flexível, porque ajustável (a partir de centros categoriais, ou núcleos nocionais), a gramática é passível de acomodação sob pressões de ordem comunicativa. Assim, na resolução do equilíbrio entre a determinação das forças externas e as estruturas, Du Bois propõe que as gramáticas sejam tratadas como sistemas adaptáveis, isto é, como sistemas parcialmente autônomos (por isso, sistemas) e parcialmente sensíveis a pressões externas (por isso, adaptáveis). Na explicação das gramáticas como "sistemas adaptáveis", forças motivadoras originadas em fenômenos externos penetram no domínio da língua, onde se encontram com forças internas. Nessa visão, fenômenos reconhecidos como intrinsecamente linguísticos são tratados como forças dinâmicas, em vez de estruturas fixas, categorias, ou entidades. Um dos pontos importantes na avaliação dessa posição é exatamente o fato de que, concebendo as regras e os princípios da gramática mais como tendências do que como regras absolutas com condições rígidas de aplicação, essa noção de uma competição de princípios, que atua tanto dentro de uma mesma língua como entre línguas, liga-se a uma aceitação da variabilidade da língua no espaço e no tempo, isto é, à concepção - fundamental no estudo do uso linguístico - de que as línguas têm um caráter dinâmico. Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que o texto apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado. “Aquela senhora tem um piano. Que é agradável, mas não é o correr dos rios. Nem o murmúrio que as árvores fazem... Por que é preciso ter um piano? O melhor é ter ouvidos E amar a Natureza.” Que simboliza o piano no poema? Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se percebe pela oposição que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio das árvores (bens naturais). O poema descarta a necessidade do piano, dando preferência à fruição dos sons da Natureza. O que é a linguagem? É qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies ou tipos: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Os elementos constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos. Embora os animais também se comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem. Não se devem confundir os conceitos de linguagem e de língua. Enquanto aquela (linguagem) diz respeito à capacidade ou faculdade de exercitar a comunicação, latente ou em ação ou exercício, esta última (língua ou idioma) refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, munido de regras próprias (sua gramática). Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem é função cerebral que permite a qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua. Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados em computação. O estudo da linguagem, que envolve os signos, de uma forma geral, é chamado semiótica. A linguística é subordinada à semiótica porque seu objeto de estudo é a língua, que é apenas um dos sinais estudados na semiótica. Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 14 A respeito das origens da linguagem humana, alguns estudiosos defendem a tese de que a linguagem desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com as mãos. Posteriores alterações no aparelho fonador, os seres humanos passaram a poder produzir uma variedade de sons muito maior do que a dos demais primatas. De acordo com Kandel apesar das dificuldades de se apontar com precisão quando ou como a linguagem evoluiu há certo consenso quanto a algumas estruturas cerebrais constituírem-se como pré- requisitos para a linguagem e que estas parecem ter surgido precocemente na evolução humana. Segundo esse autor essa conclusão foi atingida após exame dos moldes intracranianos de fósseis humanos. Na maioria dos indivíduos o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem; a área cortical da fala do lobo temporal (o plano temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no direito. Visto que os giros e sulcos importantes deixam com frequência impressões no crânio, o registro fóssil foi estudado buscando-se as assimetrias morfológicas associadas à fala nos humanos modernos. Essas assimetrias foram encontradas no homem de Neanderthal (datando de cerca de 30.000 a 50.000 anos) e no Homo erectus (datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor de nossa própria espécie. Para que serve a linguagem? (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam... (...) Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. Esses versos foram extraídos do poema “Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que Cecília Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser constituída de sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu significado, derruba reis e impérios; serve para construir a liberdade do ser humano e também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar declarações de amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas também para caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. - A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos animais. O provérbio popular “Palavra não quebra osso”, contrapondo a palavra à ação, insinua que a linguagem não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora podemos desfazer facilmente essa visão simplista das coisas, analisando para que serve a linguagem. - A linguagem é uma maneira de perceber o mundo. “Este deve ser o bosque”, murmurou pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm nomes”. (...) Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse enquanto avançava em meio às árvores, “depois de tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 15 do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a mão no tronco daárvore. “Como é que essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome nenhum... ora, com certeza não tem mesmo!” Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso terminou acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. Lewis Carroll. Aventuras de Alice. Trad. Sebastião Uchôa Leite. 3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166 Esse texto, reproduzido do livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá”, mostra que a protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de apreender a realidade em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as coisas do mundo exterior só têm existência para os homens quando são nomeadas. A linguagem é uma forma de apreender a realidade: só percebemos aquilo a que a língua dá nome. Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 de junho de 2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”, usada para traduzir o grau de confiabilidade de um país entre credores ou investidores internacionais: (...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa não se conhece. Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez identificado, batizado e devidamente etiquetado, o “risco país” passou a existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é possível dormir em paz num país submetido à medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade com que a um paciente se tira a pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso placar luminoso, sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o “risco naufrágio”. - A linguagem é uma forma de interpretar a realidade. O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as palavras, fossem elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras apenas nomes para as coisas, seria mais conveniente que todos os homens trouxessem consigo as coisas de que precisassem falar ao discorrer sobre determinado assunto (...). ...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano de se expressarem por meio de coisas, cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que falar sobre longos assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas um grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para acompanhá-lo (...). Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua universal, compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são geralmente da mesma espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente percebido. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. Esse trecho do livro “Viagens de Gulliver” narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para língua – pelas coisas. Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse discorrer sobre uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vulgares de que a compreensão da realidade independe da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas aplicadas a coisas classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo. O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas não podem substituir as palavras, porque a língua é bem mais que um sistema de demonstração de objetos ou mera cópia do mundo natural. As coisas não designam tudo que uma língua pode expressar. Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua, agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera, banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a ideia da classe fruta; não posso, então, expressar ideias mais gerais. Não produzimos palavras somente para designar as coisas, mas para estabelecer relações entre elas e para comentá-las. Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de gênero (masculino e feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de demonstração de objetos, pois permite falar do que 1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS . 16 está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até criar novas realidades, mundos não existentes. A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam conceitos, e eles ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”, uma vez que é a Terra que gira em torno dele. Contudo esse conceito, criado pela linguagem, determina uma realidade que encanta a todos. Outro exemplo: apagar uma coisa escrita no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito a lápis, a caneta ou mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova realidade, deletar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, e estas é que lhes conferem existência para toda a comunidade de falantes. As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada língua pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de ver a realidade. O inglês, por exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep, que designa o animal, e mutton, que significa a carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas coisas numa palavra só: Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado, ou seja, não aplicamos a distinção que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso mostra que a linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa maneira de perceber e de ordenar a realidade. A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você derrubou o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe que, na primeira formulação, não existe um responsável pela queda e pela quebra do objeto. É como se isso se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se a responsabilidade pelo acontecimento a um agente. - A linguagem é uma forma de ação. Existem certas fórmulas linguísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre diz aos noivos “Eu vos declaro marido e mulher”, quando alguém diz “Prometo estar aqui amanhã”, quando um leiloeiro proclama “Arrematado por mil reais”, quando o presidente de alguma câmara municipal afirma “Declaro aberta a sessão”, eles não estão constatando alguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato de abrir uma sessão realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se quando se diz “Prometo”. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para demonstrar que a linguagem não é algo sem consequência, porque ela também é ação. Funções da Linguagem Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é que ela serve para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? - A
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