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. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SED-MS 
Professor de Língua Portuguesa/Literatura 
 
Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções ................................................................ 1 
Ensino e aprendizagem da gramática normativa ................................................................................. 4 
Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita ..................................................................... 13 
Variações linguísticas; norma padrão ................................................................................................ 28 
O texto: tipologia textual .................................................................................................................... 47 
Intertextualidade ................................................................................................................................ 60 
Coesão e coerência textuais .............................................................................................................. 68 
O texto e a prática de análise linguística ............................................................................................ 92 
Leitura e produção de textos .............................................................................................................. 99 
Literatura brasileira .......................................................................................................................... 101 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ..................................................................................... 146 
Base Nacional Comum Curricular .................................................................................................... 186 
Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017 ....................................................................................... 202 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 1 
 
 
Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante 
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica 
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida 
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente 
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br 
 
SABER LÉXICO-GRAMATICAL 
 
O léxico-gramática1 é simultaneamente um método e uma prática efetiva de descrição formal das 
línguas, desenvolvidos em paralelo por Maurice Gross a partir do fim dos anos 1960, o método e a prática 
nutrindo-se mutuamente. 
A base teórica que fundamenta o léxico-gramática é o distribucionalismo, e, em especial, a noção de 
transformação. As convenções de notação para a apresentação das informações gramaticais são 
concebidas para ser o mais simples e transparentes possível. A metodologia do léxico-gramática está 
inspirada nas ciências experimentais e dá enfoque à coleta dos fatos e, consequentemente, à conferição 
com a realidade dos usos linguísticos, do ponto de vista quantitativo (descrição metódica do léxico) e 
qualitativo (precauções metodológicas). O léxico-gramática também prevê uma exigência de 
formalização. Os resultados da descrição devem ser formais o suficiente para que possam ser postos em 
prática por informatas no processamento automático das línguas, entre outras através da realização de 
analisadores sintáticos. O modelo conceitual determina que os resultados da descrição tomam a forma 
de tabelas de dupla entrada, chamadas tabelas ou matrizes, que cruzam itens lexicais com as 
propriedades sintático-semânticas. Os resultados obtidos constituem uma base de informações sintático-
semânticas. As experiências comprovaram que vários indivíduos ou equipes podem alcançar uma 
cumulatividade de suas descrições. 
 
Base teórica 
A base teórica que fundamenta o léxico-gramática é o distribucionalismo, e, em especial, a noção de 
transformação no sentido. As convenções de notação para a apresentação das informações gramaticais 
são concebidas para ser o mais simples e transparentes possível. A vigilância sobre essa questão origina-
se na teoria, que está orientada para a superfície diretamente observável; é uma diferença com a 
gramática gerativa, que normalmente recorre a estruturas abstratas como as estruturas profundas. 
 
Coleta dos fatos 
A metodologia do léxico-gramática está inspirada nas ciências experimentais; dá enfoque à coleta dos 
fatos e, consequentemente, à conferição com a realidade dos usos linguísticos, do ponto de vista 
quantitativo e qualitativo. 
 
Quantitativamente: o léxico-gramática inclui um programa de descrição metódica do léxico. Trata-se, 
necessariamente, de um trabalho em grande escala, realizável por equipes e não por especialistas 
isolados. A busca exclusiva de regras de sintaxe gerais, independentes do material lexical que 
manuseiam, é denunciada como um impasse. É uma diferença com a gramática gerativa, que valoriza 
mais a noção de generalização. 
Qualitativamente: precauções metodológicas são aplicadas para garantir uma boa reprodutibilidade 
das observações e, em especial, para prevenir os riscos ligados aos exemplos construídos. Uma dessas 
precauções consiste em eleger como unidade mínima de sentido a frase elementar. Isso é, uma palavra 
adquire um sentido preciso só dentro de um contexto; além disso, ao inserir uma palavra dentro de uma 
frase, ganha-se a vantagem de manusear uma sequência passível de ser julgada como aceitável ou 
inaceitável. É o preço a pagar por poder definir propriedades sintático-semânticas com suficiente precisão 
para que faça sentido pô-las à prova em confronto com todo o léxico. Essas precauções evoluíram em 
função das necessidades e do surgimento de novos meios técnicos. Por exemplo, a partir do início dos 
 
1 Boons, Jean-Paul ; Alain Guillet ; Christian Leclère. 1976. La structure des phrases simples en français. 1. Constructions intransitives, Genève : Droz.Guillet, 
Alain ; Christian Leclère. 1992. La structure des phrases simples en français. 2. Constructions transitives locatives, Genève : Droz.Gross, Maurice. 1994. Constructing 
Lexicon-grammars, in Computational Approaches to the Lexicon, Atkins and Zampolli (eds.), Oxford University Press, pp. 213-263.Leclère, Christian. 2005. The 
lexicon-grammar of French verbs: a syntactic database, in Linguistic Informatics - State of the Art and the Future. Amsterdam/Philadelphia : Benjamins. pp. 29–45. 
Tokyo University of Foreign Studies, UBLI 1.(Adaptado) 
Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções 
 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 2 
anos 1990, os contribuidores do léxico-gramática puderam cada vez mais facilmente aproveitar exemplos 
atestados em corpus. Essa nova precaução acrescentou-se às precedentes, e o léxico-gramática passou 
a situar-se simultaneamente no âmbito da linguística introspectiva e da linguística de corpus. Os projetos 
americanos FrameNet e VerbNet, aliás, apresentam traços que manifestam uma relativa convergência 
para objetivos próximos dos do léxico-gramática. 
 
Formalização 
Oléxico-gramática também prevê uma exigência de formalização. Os resultados da descrição devem 
ser formais o suficiente para que possam ser: 
- verificados por conferição com a realidade do uso, 
- postos em prática por informatas no processamento automático das línguas, entre outras através da 
realização de analisadores sintáticos. 
Essa necessidade de formalização motivou a adoção de um modelo discretizado da sintaxe e da 
semântica. Por exemplo, a aceitabilidade é representada por uma propriedade binária: para as 
necessidades da descrição, uma frase é considerada quer como aceitável, quer como inaceitável, como 
na gramática gerativa e pelas mesmas razões. Além disso, a ambiguidade lexical é representada através 
de uma cuidadosa separação de uma palavra em um número inteiro de itens lexicais, que são distintos 
uns dos outros como dois itens relativos a palavras morfologicamente diferentes: por exemplo, os 
diferentes sentidos de jogar em jogar gamão, jogar moedas na fonte... correspondem a itens distintos. 
As propriedades sintático-semânticas dos itens (por exemplo, as estruturas de frase em que pode 
entrar um determinado verbo, ou a distribuição de seu sujeito), formam uma lista que é metodicamente 
testada com todos os itens. As propriedades são identificadas por títulos relativamente informais, como 
N_0 \, V \, N_1 \, W \, = \, N_1 \, V\, W, que representa uma transformação entre duas estruturas de frases 
(ou construções sintáticas) que pertencem a um único item. 
 A noção de item lexical, pois, não é confundida com a de construção sintática. Por isso, evita-se o 
termo "quadro de subcategorização", frequentemente utilizado no contexto de modelos que tendem a 
considerar que existe uma bijecção entre as duas noções. No quadro do léxico-gramática, as decisões 
de classificação ("subcategorização") de um item lexical não são baseadas, em geral, em uma única 
construção ("quadro"), e sim no conjunto das construções sintáticas relacionadas ao item. 
Enfim, são tomadas em consideração unicamente as propriedades para as quais é possível encontrar 
um procedimento que permita determinar de uma forma suficientemente confiável se um determinado 
item a possui ou não. Tal procedimento é determinado experimentalmente, testando com um vocabulário 
extenso a reprodutibilidade dos julgamentos. 
Uma propriedade, portanto, não é representada como um continuum, e sim como binária. Com a 
adoção deste modelo, uma etapa essencial da descrição de uma língua com o método do léxico-gramática 
consiste em observar e registrar as propriedades dos itens lexicais. 
Os resultados da descrição, portanto, tomam naturalmente a forma de tabelas de dupla entrada, 
chamadas tabelas, tábuas ou matrizes, que cruzam os itens lexicais com as propriedades sintático-
semânticas. A descrição da estrutura das frases necessita a identificação de um conjunto de argumentos 
característico de cada item predicativo; especificamente, põem-se em aplicação princípios para distinguir 
os argumentos (sujeito e objetos ou complementos essenciais) dos complementos não essenciais 
(adjuntos adverbiais ou complementos circunstanciais). 
 
Resultados 
Os resultados obtidos pela aplicação desse método por algumas dezenas de linguistas durante 
algumas dezenas de anos são uma base de informações sintático-semânticas para o processamento 
automático das línguas. Pode-se julgar a qualidade desta base de informações com base: 
- no seu volume, avaliado em número de itens, 
- na riqueza dos fenômenos linguísticos tomados em conta, avaliada em número de propriedades, 
- e no seu grau de formalização. 
Em francês, mais de 75 000 itens foram estabelecidos; descrições mais ou menos substanciais, 
conformes ao mesmo modelo, existem para uma dezena de outras línguas, sendo melhor representados 
o português, o italiano, o grego moderno e o coreano. 
 
Foram efetuados e publicados estudos no quadro do léxico-gramática sobre substantivos predicativos 
a partir dos anos 1970, e sobre expressões fixas a partir dos anos 1980. 
A noção de substantivo predicativo procede dos trabalhos de Zellig Harris. Origina-se na ideia de que 
se, por exemplo, o verbo estudar é analisado como sendo o predicado na frase: Luca estuda os eclipses, 
é natural analisar o substantivo estudo (ou a sequência fazer um estudo) como sendo o predicado na 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 3 
frase: Luca faz um estudo sobre os eclipses. Em tal caso, o referido substantivo é qualificado de 
predicativo. Já o verbo que vem junto, no caso, fazer, é chamado verbo suporte. A ideia foi aplicada 
metodicamente no quadro do léxico-gramática a partir dos anos 1970. 
Os contribuidores do léxico-gramática usam o termo de expressão idiomática, fixa ou cristalizada 
quando uma expressão (por exemplo jogar fora) possui propriedades específicas (no caso, o sentido) que 
justificam que se lhe dedique um item lexical, embora seja constituída por vários elementos (jogar e fora) 
que, de uma forma ou de outra, podem ser descritos como palavras. Um programa metódico de descrição 
dessas expressões foi empreendido no quadro do léxico-gramática a partir dos anos 1980. 
 
Cumulatividade 
Essas experimentações comprovaram que vários indivíduos ou equipes podem alcançar resultados 
idênticos. A resultante reprodutibilidade garante a cumulatividade das descrições. Este resultado é crucial 
para o futuro do processamento automático das línguas: a quantidade de dados que devem ser 
acumulados e representados dentro de um modelo coerente é tanta que numerosas equipes de pesquisa 
e desenvolvimento devem cooperar, e deve ser possível fusionar seus resultados sem ter que reescrever 
partes substanciais da gramática e do léxico de cada língua. Está longe de ser fácil cumprir essa 
exigência, pois existem poucos exemplos de gramáticas de um tamanho significativo que não sejam a 
obra de um único especialista. 
 
Saber pragmático – textual 
 
A linguagem2 é a base para o nosso meio de mudança e interação social. Dominá-la, nos exige 
interdiscurso com as diversas camadas sociolinguísticas, coisa que não é fácil, mas possível, através de 
práticas de produção textual, não se relacionando como a linguagem unicamente, situada no campo 
sintático, visando uma normatização da língua, que a linguagem vá além disso, alcançando o campo 
social no texto, assim trabalhando também o que está fora da norma. 
A prática de produção textual sendo praticada deforma efetiva, pode ampliar a capacidade da 
competência textual, tornar interessante a leitura e o estudo gramatical, e desenvolver formas de 
expressividade de alunos. Todas estas contribuições podem ser implantadas na sala de aula, através da 
produção textual. Sendo desenvolvida por meio, principalmente da realidade escolar e depois passa para 
um campo linguístico mais amplo. 
A competência textual deve levar em consideração a leitura, sendo a mesma não apenas um momento 
dedicado à percepção da escrita, muito mais que isso ela é oralidade em suas mais diversas 
manifestações. Essa é uma tarefa que exige tempo e esforço de alunos, professores e escola. 
Nesta construção de alunos competentes na produção textual é importante lembrar o espaço 
multicultural dentro da escola, este espaço pode ser trabalhado na perspectiva do aluno manifestar, 
dessas culturas distintas, conhecimentos de mundo diversos e internalizá-los, podendo ser trabalhado 
isto na escrita demonstrando domínio de linguagem nos diversos gêneros. 
A linguagem cria o meio social que é expresso pela língua onde surge a necessidade da comunicação, 
oral ou escrita, para fazer troca de discursos. Com isso, situamos a produção textual como o método 
coletivo que melhor atende à comunicação. 
É importante a ideia de que sociedade e linguagem devem ser trabalhadas na escola juntas para 
construção da competência textual. É papel da escola compreender a relação entre social e linguagem 
na produção de textos, já que língua é uma ferramenta compostade características sociais, pois a 
atividade linguística é feita pelo próprio falante. 
Não devemos excluir da prática textual aspectos, psicológicos, sociais, culturais e históricos, eles 
podem para a perspectiva da intertextualidade do aluno, fato tão presente na contemporaneidade em que 
o homem não se prende mais a uma verdade absoluta, a necessidade de diversos pontos de vista é 
essencial para construção de sentidos. 
Como a linguagem traz ancorada os aspectos citados acima, a escola pode partir desse ponto para 
que alunos façam uma reflexão crítica da língua. Podemos também tratar da produção de textos em 
diversos gêneros, tais como: carta, e-mail, reportagem jornalística, outdoor, resenha e assim por diante. 
Os gêneros textuais, sobretudo, os de ordem tecnológica por serem mais presentes no universo de 
alunos, são excelentes bases para o trabalho de desenvolvimento da escrita, nestes gêneros estão 
presentes aspectos tanto gramaticais como agramaticais, que podem ser estudados como diversos 
considerando os aspectos sociais e culturais de quem escreveu. 
 
2http://www.gostodeler.com.br/materia/9939/sociolinguistica_interacional_enquadres_esquemas_alinhamentos_e_sequencialidade_numa_entrevista_cultural_c
oncedida_por_ana_maria_machado.html 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 4 
No desenvolvimento dessa prática é importante que professores deixem claro que a linguagem é como 
roupa. Existem aquelas que são usadas, somente, em determinadas festas, outras que podem circular 
por cenários diferentes sem problema. Enfim, que se ressalte que linguagem não é normatização, 
objetivando distinguir certo e errado, mas que é adequação e o domínio do registro informal é tão 
importante quanto o do formal. 
 
Saber linguístico-interacional 
 
Características gerais da comunicação 
A Sociolinguística Interacional procura demonstrar que a fala-em-interação está sujeita a mudanças e 
interpretações que podem variar de acordo com o comportamento linguístico e paralinguístico (como 
pistas e marcadores), que, por sua vez, é controlado por (e controlador de) inúmeros contextos 
específicos, e estes podem ser mais bem apreendidos pelos participantes (ou mesmo pelo analista) em 
função da situação informada ou do “sentido comunicado” específicos que se estejam perquirindo. 
Assim, através de apreensões empíricas, revelam-se dados que permitam analisar melhor os modelos 
de interação, levando em conta o falante e o ouvinte in loco, em função de comportamentos específicos 
na interação. 
Desse modo, com pistas linguísticas e paralinguísticas, parte-se de convenções sociais que interferem 
sobremaneira no tipo de atividade de fala – a unidade básica da comunicação. Além disso, a presença 
das implicaturas, que podem ser convencionais (não ligadas a itens léxicos específicos, mas a condições 
de uso sociais específico) ou lexicais (ligadas a palavras e itens sintáticos), faz o ouvinte inferir certas 
interpretações num contexto. 
Com efeito, a noção de comunicação como comportamento, não partirá de fatos e evidências 
apriorísticos, mas, buscará, na apreensão empírica dos dados apresentados, o que normalmente se 
denomina de “fenômenos sociolinguísticos”, respostas pertinentes à dinâmica do processo de 
comunicação, que, como foi dito, altera-se à medida que os participantes interagem, processo este que 
não é estanque ou determinado exclusivamente por fatores variacionistas prévios ou por noções idealistas 
que, portanto, pressuporiam um modelo de certa forma “estático” de comunicação, na medida em que tal 
modelo poderia ser previamente delimitado, antes mesmo de os dados empíricos serem recolhidos numa 
situação comunicada específica. 
Não se trata apenas, pois, da análise da capacidade ou competência comunicativa de participantes se 
compreenderem mutuamente levando em conta fatores convencionais diretos ou indiretos, como, de certa 
forma. Muito mais do que isso, o que vai ocorrer é o fato de que: 
Podemos, portanto, referir-nos à comunicação humana como canalizada e restringida por um sistema 
multinivelar de sinais verbais e não-verbais, que são adquiridos, ao longo da vida, automaticamente 
produzidos e intimamente coordenados. Os insights mais importantes sobre a respeito de como tais sinais 
afetam a comunicação verbal se originaram em estudos sobre a coordenação entre falantes e ouvintes. 
Assim, a Sociolinguística Interacional não possui visão idealizada do processo comunicativo, mas o vê 
como uma construção que os participantes, durante a interação, promovem: 
 Os participantes de uma conversa, por exemplo, têm expectativas convencionais sobre o que é 
considerado normal e o que é considerado marcado em termos de ritmo, volume da voz, entoação e estilo 
de discurso. Ao sinalizar uma atividade de fala, o falante também sinaliza as pressuposições sociais em 
termos das quais uma mensagem deve ser interpretada. 
Portanto, a conversa não é um evento coeso, mas uma sucessão de atividades em contexto e em 
enquadres e esquemas específicos. O conhecimento e a aplicação das noções propostas por esses 
teóricos e por outros é o principal objetivo a ser levado a termo neste artigo, centradas numa conversa 
específica. 
 
 
 
Segundo Erika de Souza Bueno3, as aulas de gramática nas salas de aula de nosso Brasil têm tomado 
outras formas e nós, profissionais ou estudantes, precisamos entendê-las, uma vez que quaisquer 
mudanças afetarão diretamente a nossa prática e a formação de nossos alunos. 
 
3 http://www.webartigos.com/artigos/analise-entre-as-gramaticas-normativa-descritiva-e-reflexiva-que-gramatica-cabe-a-escola-ensinar/87004/ (adaptado) 
Ensino e aprendizagem da gramática normativa 
 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 5 
Muitas discussões são feitas acerca do ensino da gramática na escola, uma vez que há algum tempo 
era natural o estudo exaustivo de definições que só faziam sentido dentro do ambiente escolar, no qual 
os alunos só decoravam o significado de cada qual na única intenção de tirar uma boa nota na prova e 
passar para o próximo ano letivo. 
Com isso, não fica difícil compreender que os conteúdos não eram transferidos para a vida real e, ao 
que tudo indica, não eram capazes de fazer de um aluno, um cidadão competente para se posicionar 
diante de questões da vida real, dentro de sua comunidade ou fora dela. 
Por questões como essas serem erguidas, alguns professores chegaram a imaginar que a gramática 
estava definitivamente abolida das aulas de língua portuguesa, contudo, segundo os Parâmetros 
Curriculares Nacionais do MEC, não é bem isso que ocorre: 
“... uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação, exercícios 
de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso (de uma prática pedagógica como 
esta), discute-se se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a 
questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.” 
Segundo estas diretrizes, o novo olhar para o ensino de gramática que salta aos nossos olhos, não 
exclui o conteúdo gramatical de língua portuguesa, até porque não há gramática sem língua e nem mesmo 
língua sem gramática. 
O novo olhar mostra-nos, entre outras coisas, uma metodologia eficiente que faz o aluno refletir e 
identificar diversos gêneros discursivos baseados em textos que realmente façam sentidos para eles, 
levando em consideração que a competência discursiva de um aluno não se dá de forma desarticulada 
e, para que este aluno seja capaz de usar a língua em diversas situações, incluindo ele estar ante pessoas 
e situações que têm mais proximidade do mundo letrado, se faz necessário que a abordagem gramatical 
se livre de terminologias antiquadas e de preconceitos descabidos, considerando o aluno um falante 
fluente no seu idioma pátrio. 
 
Observe mais este trecho do PCNdo MEC: 
 
“Afinal, a aula deve ser o espaço privilegiado de desenvolvimento de capacidade intelectual e 
linguística dos alunos, oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua competência discursiva. 
Isso significa aprender a manipular textos escritos variados e adequar o registro oral às situações 
interlocutivas, o que, em certas circunstâncias, implica usar padrões mais próximos da escrita”. 
Sendo assim, o novo olhar para as aulas de gramática nas nossas escolas, não se refere ao abandono 
da competência escrita, mas a uma nova metodologia de ensino, na qual são considerados os 
conhecimentos de mundo que o aluno já possui, sendo que toda a abordagem gramatical deve trazer 
uma linguagem clara sem definições ultrapassadas, livre de preconceitos e mitos. 
Precisamos nos despir destes, pois defendem, entre outros pontos, a existência de apenas um padrão 
correto para a fala, estigmatizando pessoas que não se adéquam a ele, ao passo que nós, profissionais 
comprometidos com um ensino não excludente, sabemos que toda a fala está inserida dentro de um 
contexto e deve ser respeitada nas suas muitas variantes. 
De acordo com Michele Tolentino, Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas 
aulas de língua portuguesa, afinal a gramática deve ou não ser ensinada? Diante de uma nova 
metodologia, como seria a reação de professores e alunos? 
Em vista disso, surge também outro questionamento, acerca do ensino de língua portuguesa nas 
escolas, pois ao educador compete o ensino da gramática normativa para o cumprimento dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais, os quais servem de referência para o trabalho de todas as disciplinas nos três 
níveis para a formação escolar dos discentes. Observa-se uma grande dificuldade em relação à 
aprendizagem, por parte desses, de acordo com a norma culta imposta devido à cultura dos estudantes 
que, muitas vezes, é incompatível levando os mesmos a concluírem a vida escolar sem saberem ler e 
escrever adequadamente. 
Cônscio dessa realidade, o professor de língua portuguesa, deverá dedicar-se em adotar novos 
recursos didáticos, a fim de garantir um ensino eficaz que leve o aluno a ter verdadeiramente uma a 
Não há dúvida de que deve ensinar a gramática normativa nas aulas de língua portuguesa, embora 
sabe-se perfeitamente que ela em si não ensina ninguém a falar, ler e escrever com precisão. O dever da 
escola é ensiná-la oferecendo condições ao aluno de adquirir competência para usá-la de acordo com a 
situação vivenciada. Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu objetivo, pois isto leva os 
estudantes ao desinteresse pelo estudo da língua, por não terem condições de entender o conteúdo 
ministrado em sala de aula, resultando assim frustrações, reprovações e recriminações que iniciam pela 
própria escola e o preconceito linguístico. 
1508153 E-book gerado especialmente para WELITON SILVA MARTINS
 
. 6 
É importante enfatizar que a assimilação crítica dos estudos linguísticos e a necessidade de se 
estabelecer um maior contato do professor com a língua materna e a proposta da linguística; valorizar a 
língua falada pelo aluno. Considerando que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, 
absoluta e acabada antes, porém seus conceitos devem ser relativizados, para que alcance o educando 
do século XXI. 
Bagno opina que: "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que 
possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra 
a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa". 
Através desse conceito, Bagno afirma que a gramática em si não justifica seu papel de única fonte 
para o ensino da língua nas escolas, tanto do ponto de vista teórico quanto do prático, bem como o código 
normativo da linguagem, tomado no geral. Os gramáticos levam ao estágio da angústia os professores e 
os alunos, para o estudo gramatical em virtude das divergências entre os mesmos. Então o professor 
deve deixar de lado o comodismo e a repetição da doutrina gramatical e ser mais dinâmico ministrando o 
conteúdo de forma reflexiva em atividades contextualizadas, interdisciplinares, individuais ou coletivas de 
forma que o aluno passa a conhecer as variedades da língua através de pesquisas, as quais envolvam a 
leitura e produção textual, construindo seu próprio conhecimento linguístico. 
O ensino de gramática nas escolas, acontece de forma arcaica, devido à aplicação de métodos 
totalmente teóricos, sem nenhuma significação na vida dos alunos que, por sua vez, não conseguem 
estabelecer relação entre a teoria gramatical e a prática de texto. 
A concepção de que língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de, ingenuamente, se acreditar 
que a língua constituída de um único componente: a gramática. Por essa ótica, saber uma língua equivale 
a saber sua gramática; ou, por outro lado, saber a gramática de uma língua equivale a dominar totalmente 
essa língua. Na mesma linha de raciocínio, consolida-se a crença de que o estudo de uma língua é o 
estudo de sua gramática. 
É importante ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar 
a composição da língua, mas para auxiliar o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua 
materna, possibilitando-lhe as características essenciais que pertencem à sua cultura. Deve ser também, 
um ensino harmonioso na relação entre o ensino da gramática normativa e a contextualizada, sem 
descartar as nomenclaturas, terminologias e regras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento 
social e cultural dos alunos. 
Mediante a algumas situações ocorridas em sala de aula, relacionadas à aprendizagem, faz-se 
necessário algumas mudanças nos procedimentos adotados em relação ao ensino de língua portuguesa, 
pois sabe-se que os alunos pertencem a diferentes culturas e devem ser atendidos de acordo com suas 
necessidades, baseando-se em suas possibilidades de leitura e escrita levando em consideração o 
potencial gramatical que cada um tem ampliando, ou seja, enriquecendo o poder linguístico através do 
ensino da gramática que tem por objetivo preparar o aluno para uma produção textual obedecendo à 
norma padrão. 
Percebe-se que o ensino de língua portuguesa perpassa por muitas dificuldades, não apenas com a 
forma de ensinar a gramática, como também a maneira que o professor atua em sua prática, ou seja, 
além de fornecer aos alunos uma orientação válida para a prática de produção de textos respaldadas 
pelas regras gramaticais, então deve-se encontrar métodos dinâmicos e eficientes ao transmitir o 
conteúdo. Não há uma receita mágica nem respostas milagrosas, o que deve ser feito são novas práticas 
de ensino que vão propiciar ao corpo discente uma aprendizagem significativa. 
Há várias maneiras para que ocorra mudanças no ensino tradicional, uma delas é o professor tornar-
se o mediador do conhecimento ao aluno, fragmentando a distância entre o mesmo e o ensino de 
gramática, tornando-a prazerosa e não somente obrigatória. Pois, será realmente um professor, 
independentemente do conhecimento que possua se puder transmitir tais informações de forma interativa 
e criativa, estabelecendo a relação professor-aluno, acreditando sempre que o aluno é capaz de aprender 
e compreender a gramática. O aluno somente interioriza o conhecimento da estrutura gramatical, se ela 
for contextualizada em situações ou contextos comunicativos. O professor poderá utilizar recursos 
metodológicos, bem como, tecnológicos como cartazes, textos de embalagens, revistas, jornais, oficinas, 
carta comercial e pessoal, bilhete, romance, horóscopo, receita culinária, cardápio, outdoor, lista de 
compras, resenha, inquérito, edital de concurso, piada, carta eletrônica, bate-papo online, data show, 
dentre outros. É importante despertar nos alunos a consciência da funcionalidade da leitura e escrita, e 
isso só será possível quando os professores levarem em conta a bagagem que o aluno trazconsigo, a 
respeito de sua língua materna. Dessa forma pode acontecer a união da norma culta e da norma coloquial 
sem criar traumas ou defasagens na aprendizagem dos alunos, basta que os educadores busquem a 
formação continuada, não apenas teórica, mas também na prática e no contexto da realidade em que ele 
está inserido, respeitando assim as diferenças. 
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Segundo Vygotsky "O estudo da gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental 
da criança". A criança, embora domine a gramática de sua língua muito antes de entrar na escola, pois 
organiza sua fala de acordo com a necessidade, esse domínio é inconsciente, ou seja, mesmo usando o 
tempo verbal correto ao se expressar, não saberá rejeitar uma palavra quando isso lhe for solicitado. Em 
vista disso, o ensino de gramática torna-se válido não só porque permite à criança de estar consciente do 
que está fazendo, mas pode usar essas habilidades de forma precisa, além de permitir o uso da fala com 
maior eficácia. 
O ensino de gramática deve-se iniciar nos primeiros anos de escolaridade, pois a criança desenvolve 
seu pensamento a partir das descobertas que vai surgindo pelos conteúdos aplicados sem sala de aula, 
os quais contribuem para o desenvolvimento da fala e escrita. A partir dessas descobertas conclui-se que 
todas as matérias básicas são estimuladas pelo psicológico ao longo de um processo ensino-
aprendizagem. Isso ocorre de forma lenta, interativa, coletiva e contextualizada. 
Ao ensinar a gramática, o professor deve levar em consideração algumas questões como: o estudo 
coletivo, a cooperação e a competição, os quais podem ajudar na aprendizagem no sentido de que as 
crianças com facilidade colaboram com as demais, também pode haver uma competição entre grupos, 
de forma em que um seja avaliado por outros, recebendo sugestões e reflexões para o próprio 
amadurecimento. 
O ensino de gramática é importante tanto na escrita quanto na fala, até porque nós estamos inseridos 
em uma sociedade contemporânea, na qual nossa aprendizagem é medida para ingressarmos no 
mercado de trabalho por meio de concursos públicos que exigem dos concorrentes uma gramática 
contextualizada, que depende das regras da gramática normativa. As provas são elaboradas baseadas 
nos currículos escolares com propostas pedagógicas, onde a gramática normativa está inserida. Neste 
caso o aluno deve conhecer a estrutura, os usos e o funcionamento de uma língua nos seus diversos 
níveis: fonológico, morfológico, lexical e semântico. O professor de língua materna desde a alfabetização 
até o último ano escolar deve estar atento a estas informações realizando sua tarefa de educador com 
precisão e competência. 
Diante do exposto, segue sugestão a ser trabalhada no ensino de língua portuguesa dentro da sala de 
aula, que poderá ser adaptada. O professor poderá trabalhar diversas áreas do conteúdo de língua 
portuguesa, como por exemplo, gramática, produção textual, e leitura de forma contextualizada e 
dinâmica. A função de jogos e aulas dinâmicas é exatamente para que o professor construa ferramentas, 
para que o aluno, através dessas aulas, construa sua visão de mundo. 
O jogo chamado: "Produção textual a partir da história: A Bela e a Fera", lembrando que o professor 
poderá adaptá-lo e usar outras histórias, por exemplo: A pequena sereia; Rapunzel; Chapeuzinho 
vermelho; Pinóquio, dentre outras. A história deverá conter figuras, ilustrando os momentos, e o texto 
original, os quais estão anexos. 
As regras do jogo deverão ser explicadas de modo que a turma compreenda, que são: O professor 
fará um breve comentário sobre a história, colhendo os conhecimentos prévios dos alunos; Então divide-
se a turma em grupos, sendo que a quantidade de grupos fica a critério do professor, podendo ser desde 
quatro grupos, caso a turma seja pequena, ou em maior quantidade de grupos, caso a turma contenha 
um número grande de alunos, de modo que todos participem; Em seguida, distribui-se a história que 
estará recortada em figuras para que os alunos coloquem-nas em sequência; Durante a montagem, o 
professor acompanhará, se a ordem da história estiver correta, tudo bem, se não, o professor orientará 
os grupos até que eles consigam organizá-las de forma correta, não falando que está incorreto e sim 
dando pistas, instigando o aluno a refletir sobre o que foi dito durante a exposição inicial do professor; 
Montada a historinha, o professor pedirá que os alunos leiam o texto original da historinha e, em seguida, 
que cada um crie sua própria história, podendo mudá-la, e, finalmente, na próxima aula o professor 
colocará o vídeo da história. 
Os conhecimentos na área da linguística ocorrem durante todo o processo escolar, pois o ensino 
gramatical se repete em todos os anos escolares, numa prática diária em sala de aula, numa interação 
formal e contextualizada, na oralidade e na escrita. 
Nesse contexto, pode-se afirmar que o ensino da gramática é importante, pois a mesma oferece 
condições para o aluno ampliar seu discurso linguístico em relação ao funcionamento da língua padrão, 
através do conhecimento de regras gramaticais trabalhadas em atividades aplicadas pelos professores 
que demonstram as variedades linguísticas levando o aluno a entender a estrutura, o uso e o 
funcionamento da língua materna. 
Para a produção textual é importante primeiramente, que o aluno tenha ampla visão de mundo, caso 
essa não seja a realidade do mesmo, é imprescindível que o professor aborde o assunto determinado em 
sala de aula, através de debates e pesquisas, para que o aluno construa seu próprio conhecimento de 
forma crítica e reflexiva. A partir de então, aplica-se o conhecimento das normas gramaticais, que ajudará 
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ao aluno na estruturação de seu texto, pois para escrever bem é necessário o uso adequado das palavras 
que dão uma sequência lógica e coesa ao texto. 
O que falta no ensino da gramática, de acordo com a didática é a aplicabilidade, pois quando aprende-
se algo que serve de uso em nossas vidas, certamente ficará guardado dentro de nós, de maneira tal que 
não esqueceremos. Acredita-se que há possibilidade da gramática condizer com a nossa realidade, 
utilizando a própria fala dos alunos para por isso em prática, por exemplo, quando um aluno expressa 
algo comum na fala de sua comunidade como os regionalismos e os neologismos, pode-se aproveitar a 
oportunidade e intervir nessa fala, mostrando que, muitas vezes, há várias formas de dizer a mesma 
palavra, que a Linguística explica todas essas variações e posteriormente demonstrar como a gramática 
normativa usa essa palavra. Outro ponto que falta no ensino de gramática é acabar com certas 
"decorebas", muitas vezes, aprende na escola que os verbos: ser, estar, continuar, parecer, permanecer, 
dentro outros, sempre serão verbos de ligação, e ao chegar à faculdade leva-se um choque ao se deparar 
que depende do contexto do texto ou da frase para esse verbo ser realmente de ligação. 
Sabe-se que ser professor é uma profissão importantíssima e mesmo com tantos problemas encarados 
por estes profissionais, é possível ainda sonhar em mudar o ensino da nossa língua de uma forma a que 
todos venham aprender e a valorizá-la, não é um caminho fácil, não obstante também não é impossível, 
mas falta aplicar à prática o que nossa professora comenta em muitas de nossas aulas de Gramática, 
Descrição e Uso: está na hora de arregaçarmos as mangas em prol de um ensino de qualidade. 
 
Tipos de gramática e ensino de língua: Gramática normativa; Gramática descritiva; Gramática 
reflexiva; Gramática do uso 
 
Quando se fala em gramática, logo vem à mente aquele conceito bem antigo de gramática tradicional, 
ou seja, um conjunto de normas, regras para um bom funcionamento da língua, para falar e escrever 
corretamente. Essa definição é bem restrita diante dos fenômenos que cercama língua. 
 
Gramática normativa 
A Gramática Normativa ou Prescritiva estabelece normas a serem seguidas. Está ligada ao “certo e 
errado”, a uma forma que não reflete o código linguístico, afinal é uma lei a ser obedecida. Conforme 
Travaglia: 
A gramática normativa, que é aquela que estuda apenas os fatos da língua padrão, da norma culta de 
uma língua, norma que se tornou oficial. Baseia-se em geral, mais nos fatos da língua escrita e da pouca 
importância a variedade oral da norma culta, que é vista, conscientemente, ou não, como idêntica a 
escrita. Ao lado da descrição da norma ou variedade culta da língua (análise de estruturas, uma 
classificação de formas morfológicas e lexicais), a gramatica normativa apresenta e dita normas de bem 
falar e escrever, normas para a correta utilização oral e escrita do idioma, prescreve o que se deve e o 
que não se deve usar na língua. Essa gramática considera apenas uma variedade da língua como válida, 
como sendo a língua verdadeira. 
Então, esse tipo de gramática é o que mais os alunos veem nas escolas, aquela forma tradicional de 
estudar o conteúdo. Não aceita nenhuma variedade que a língua apresenta. Impõe regras a serem 
obedecidas, por exemplo: o verbo tem que concordar em gênero e número com o sujeito “Os homens 
trabalham”. Caso alguém desobedeça a esse segmento e fale “Os homi trabaia”, será visto como uma 
pessoa ignorante, que fala errado, não segue a concordância adequada. A gramática tradicional não se 
preocupa com a interação e nem com a variação que ocorre na língua, trabalha apenas com o fator 
homogêneo. 
A Gramática Tradicional dedica-se exclusivamente a língua escrita e passa a deixar de lado a língua 
falada. Então, detém as normas de bom uso, a variedade culta, padrão. Despreza a oralidade e outras 
variedades da língua. Por isso, surgem os preconceitos linguísticos. Segundo Travaglia: 
Os critérios de qualidade de que se vale a gramática normativa são muitas vezes, problemático e com 
frequência nada tem a ver com a realidade da língua em si e em sua variação. A variedade que é 
considerada culta é normalmente a das classes sociais de prestigio econômico, político, cultural, etc., não 
considerando, portanto, a capacidade de qualquer variedade da língua de cumprir uma função 
comunicacional. 
É necessário que em sala de aula o professor de Língua Portuguesa aprimore-se dos recursos da 
Gramática Normativa porque mesmo tendo suas desvantagens apresenta também as vantagens. Pois a 
partir de seu uso o aluno consegue dominar normas, escrever e se expressar melhor. É preciso que o 
professor não se detenha apenas na GT, mas também em outros tipos de Gramática, bem como: a 
Descritiva e a Reflexiva, para assim desenvolver um resultado satisfatório enfocando a variação e 
mudança, com isso excluir os mitos que tem na língua. 
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Já a Gramática Descritiva é um estudo da língua sob um olhar mais crítico, incluindo vários elementos. 
Faz uma descrição da estrutura e do funcionamento da língua, de sua forma e função. Tem a preocupação 
em descrever, explicar as línguas como elas são faladas. De acordo com Travaglia (2001, p.32): 
 
Gramática descritiva 
A Gramática Descritiva é a que descreve e registra para uma determinada variedade da língua em um 
dado momento de sua existência (portanto numa abordagem sincrônica) as unidades e categorias 
linguísticas existentes, os tipos de construção possíveis e a função desses elementos, o modo e as 
condições de usos dos mesmos. Portanto a gramática descritiva trabalha com qualquer variedade da 
língua e não apenas com a variedade culta e dá preferência para a forma oral desta variedade. Podemos, 
então, ter gramática descritiva de qualquer variedade da língua. 
Através dessa afirmação pode-se perceber que a Gramática Descritiva descreve as regras de como 
uma língua é realmente falada. Então, trabalha com outras variedades, como a informal. Não tem o 
objetivo de apontar erros, mas de identificar todas as formas de expressão existentes. Diante da seguinte 
frase: “Os cachorro são dele, viu”, a gramática descritiva procura explicar os usos da língua, e que não 
há línguas uniformes. Neste caso essas formas não seriam erros, mas variedades da forma oral. 
 
Gramática reflexiva 
A Gramática Reflexiva seria um trabalho de reflexão diante do que o aluno já domina. E também um 
trabalho de recursos linguísticos que ainda não domina. O objeto de estudo dessa gramatica é levar o 
aluno a aprendizagem de novas habilidades linguísticas, daí promover um ensino produtivo. Aqui se 
estuda gramatica a partir de exemplos que facilitem o entendimento dos elementos da língua em atividade 
em sala de aula. Conforme Travaglia: 
A gramática reflexiva é a gramática em explicitação. Esse conceito se refere mais ao processo do que 
aos resultados; representa as atividades de observação e reflexão sobre a língua que buscam detectar, 
levantar suas unidades, regras e princípios, ou seja, a constituição e funcionamento da língua. Parte, pois, 
das evidencias linguísticas para tentar dizer como é a gramática implícita do falante, que é a gramática 
da língua. 
Então, esse trabalho com a Gramática Reflexiva é mais voltado para a inovação do ensino por uma 
mudança da metodologia. Pois, constroem-se atividades que o levem a redescobrir fatos já estabelecidos 
pelos linguistas. Diante disso, o livro apresenta um título de como se faz o plural. É exposto o modelo, no 
qual os alunos observam que há frases no singular “O animal racional” e depois o plural “Os animais 
racionais”. Através da observação os alunos logo reconhecem que palavra terminada em AL, troca-se o 
“L” por “IS”. Isso é um exemplo simples para formação do plural que é feito a partir de uma análise simples 
que ajuda o aluno a utilizar a língua com mais facilidade. 
Outro tipo de trabalho com Gramática Reflexiva é desenvolver competência comunicativa. De acordo 
com Travaglia “[...] a gramática reflexiva é constituída por atividades que focalizam essencialmente os 
efeitos de sentido que os elementos linguísticos podem produzir na interlocução [...]”. Partindo desse 
princípio seria uma reflexão voltada para a semântica e a pragmática. É uma análise das possibilidades 
e não possibilidades que um enunciado ou uma língua pode gerar. Preocupa-se mais com a forma de 
atuar usando a língua. 
Diante desses três tipos de Gramática pode-se perceber que servem como um forte instrumento de 
apoio em sala de aula. Para promover uma aprendizagem satisfatória e produtiva, o professor deve 
incorporar no seu trabalho tanto a Gramática Normativa, quanto a Descritiva e a Reflexiva. Assim os 
alunos poderão perceber a diferença e a contribuição que cada uma apresenta ao ensino de língua. 
 
Gramática do uso 
Um dos grandes temas em discussão nas reflexões sobre linguagem de base funcionalista diz respeito 
às relações entre discurso e gramática. Se afirmações como "a gramática de hoje é o discurso de ontem" 
ou "o discurso de hoje é a gramática de amanhã" têm parecido muito extremadas, a noção de que a 
gramática é sensível às pressões do uso parece não poder ser negada. Diz Du Bois (1993a) que o que 
equaciona as relações entre discurso, ou uso, e gramática são as seguintes proposições: 
a) a gramática molda o discurso; 
b) o discurso molda a gramática; ou: "a gramática é feita à imagem do discurso"; mas: "o discurso 
nunca é observado sem a roupagem da gramática". 
É assim que as reflexões sobre o modo funcionalista de investigação da linguagem têm de começar 
pelo próprio modelo de interação linguística. Na verdade, entender a gramática como sensível às 
pressões do uso - mais especificamente pela capacidade de escolha do falante na sua produção 
linguística - é integrar a organização gramatical em uma teoria global da interação. Concebendo a língua 
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. 10 
como instrumento que estabelece relações comunicativasentre os usuários, o paradigma funcional coloca 
a expressão linguística como mediação entre a intenção do falante e a interpretação do destinatário. 
Assim, a expressão linguística não pode ser analisada autonomamente sem a consideração de que ela é 
função, de um lado, da intenção e da informação pragmática do falante, e, de outro, da informação 
pragmática do destinatário, bem como de sua conjetura sobre qual tenha sido a intenção comunicativa 
do falante. 
Quando o falante diz algo, ele tem uma intenção comunicativa, um plano mental relativo a alguma 
modificação na informação pragmática do destinatário, e isso vai determinar escolhas na formulação 
linguística: a formulação tem de ser capaz de provocar no destinatário o desejo de modificação da 
informação pragmática tal como a pretendeu o falante, e este, por sua vez, tem de ter sido capaz de 
antecipar a interpretação que sua formulação poderia obter daquele destinatário, naquele determinado 
estado de informação pragmática. Isso implica dizer que, do lado do destinatário, a interpretação da 
formulação linguística se faz basicamente segundo a informação pragmática que ele já possui, enquanto, 
do lado do falante, a seleção do que deve constituir a expressão linguística, embora provenha de sua 
intenção comunicativa, depende da informação que ele possua sobre qual seja a informação pragmática 
de seu destinatário naquele momento. O que está implicado nesse modelo é uma integração de sintaxe 
e semântica, dentro de uma teoria pragmática, o que envolve intervenção: 
- dos papéis envolvidos nos estados de coisas designados pelas predicações (funções semânticas); 
- da perspectiva selecionada para apresentação dos estados de coisas na expressão linguística 
(funções sintáticas); 
- do estatuto informacional dos constituintes dentro do contexto comunicativo em que eles ocorrem 
(funções pragmáticas). 
Trata-se, como diz Gebruers, de uma teoria que procura oferecer "um quadro para a descrição 
científica da organização linguística em termos das necessidades pragmáticas da interação verbal, na 
medida em que isso é possível". A gramática é vista, então, como uma teoria de componentes integrados, 
uma teoria funcional da sintaxe e da semântica, a qual, entretanto, só pode ter um desenvolvimento 
satisfatório dentro de uma teoria pragmática, isto é, dentro de uma teoria da interação verbal. Requer-se 
dela, pois, que seja "pragmaticamente adequada", embora se reconheça que a linguagem só pode 
funcionar comunicativamente por meio de arranjos sintaticamente estruturados. 
A especificação gramatical de uma expressão, por outro lado, inclui a descrição semântica, não se 
admitindo a existência de uma sintaxe autônoma. Qualquer uma das propostas funcionalistas pode ser 
invocada para verificar o tratamento da frase enquanto ato de interação, enquanto peça de comunicação 
real. Basta ver as "camadas" de Dik (predicação - proposição - frase), ou as "funções" da frase, de 
Halliday, além da proposta De Lancey sobre as noções de "fluxo de atenção" e de ponto de vista", ligadas 
à organização das frases no discurso. Dik propõe níveis, ou camadas, de organização da estrutura 
subjacente da frase. No nível 1 está o predicador, que designa relações e propriedades, e os termos, que 
se referem a entidades; no nível 2 se produz a predicação, que designa um estado de coisas, uma 
codificação linguística que o falante faz de uma situação; no nível 3 está uma estrutura de ordem mais 
alta, a proposição, que designa um "conteúdo proposicional", ou seja, um fato possível; a proposição 
revestida de força ilocucionária constitui, no nível 4, a frase ("clause", em Dik), que corresponde a um ato 
de fala. Nas três metafunções (isto é, tipos de função) de Halliday, chamadas de "textual", "ideacional" e 
"interpessoal", a "oração" é a "realização simultânea" de três "significados": uma "mensagem" (significado 
como relevância para o contexto), uma "representação" (significado no sentido de "conteúdo"), e uma 
"troca" (significado como forma de ação). 
Segundo Halliday, diferentes redes sistêmicas codificam diferentes espécies de significado, ligando-
se, pois, às diferentes funções da linguagem. Assim, o sistema de transitividade, especificando os papéis 
dos elementos da oração, como "ator", "meta" etc., codifica a experiência do mundo, e liga-se, pois, com 
a função ideacional; o sistema de modo (do qual deriva o de modalidade), especificando funções como 
"sujeito", "predicador", "complemento", "finitude", diz respeito aos papéis da fala, e liga-se, pois, com a 
função interpessoal; os sistemas de tema e de informação, especificando as relações dentro do próprio 
enunciado, ou entre o enunciado e a situação, dizem respeito à função linguisticamente intrínseca, a 
função textual. 
Dentro de cada sistema, as escolhas se fazem com respeito a um determinado nível gramatical. Assim, 
no nível da frase, é obrigatória a escolha referente ao sistema de modo, já que toda e qualquer frase há 
de ser ou declarativa, ou interrogativa, e assim por diante. Cada sistema maior implica subsistemas, nos 
quais o modo de operação se repete, levando a escolhas cada vez mais específicas. Cada elemento da 
língua é explicado por referência à sua função no sistema linguístico total. Nesse sentido, uma gramática 
funcional é aquela que constrói todas as unidades de uma língua - suas orações, suas expressões - como 
configurações orgânicas de funções, e, assim, tem cada parte interpretada como funcional em relação ao 
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. 11 
todo. Hengeveld (1989) apresenta um modelo de análise da frase em dois níveis, no qual se pode ver 
uma certa integração do funcionalismo da escola da Holanda (Dik e seguidores) com o de Halliday: 
1) Representacional (relacionado com o evento narrado): o enunciatário compreende a que situação 
(real ou não) se faz referência. 
2) Interpessoal (relacionado com o evento de fala): o enunciatário reconhece a intenção comunicativa 
do enunciador. 
No nível representacional estão os estados de coisas, entidades às quais as sentenças (como 
"expressões referenciais", que ocorrem em algum tempo e lugar) se referem. No nível interpessoal há 
uma estrutura ilocucionária abstrata, que expressa a relação entre o falante, o destinatário e a mensagem, 
ou conteúdo transmitido. A "cláusula", ou frase, representa a combinação dos dois eventos, o narrado e 
o de fala; nessa análise, a predicação preenche duas funções: 
a) designa o estado de coisas no nível representacional (a "predicação" de Dik); 
b) representa o conteúdo do ato de fala no nível interpessoal (a "proposição" de Dik). 
 
De um ponto de partida que é a predicação, passa-se, subsequentemente: 
a) à expressão referencial; 
b) à expressão referente à unidade de informação (ou conteúdo transmitido em um ato de fala); 
c) finalmente, à fala real. 
No modelo de Halliday se encontra estabelecida uma relação sistemática entre a análise linguística e 
o contexto de ocorrência dos enunciados, de tal modo que se pode encontrar, já nas suas primeiras 
propostas, três variáveis situacionais de registro associadas aos três componentes metafuncionais do 
sistema linguístico: o "campo" do discurso (a atividade social implicada), ligado ao componente 
experiencial; o "teor" do discurso (a distância social entre os participantes), ligado ao componente 
interpessoal; o "modo" do discurso (o canal entre os participantes), ligado ao componente textual. Duas 
possibilidades alternativas são assentadas como base para a organização da teoria linguística, numa 
gramática funcional sistêmica, como a de Halliday: a "cadeia" (o sintagma) e a "escolha" (o paradigma). 
Gomo aponta Hudson, há dois tipos de categorias em uma gramática sistêmica, os traços e as funções: 
o traço é uma categoria paradigmática, que relaciona um item com outros itens da língua que, sob algum 
aspecto relevante, são similares, enquanto a função é uma categoria sintagmática.Uma gramática sistêmica é, acima de tudo, paradigmática, isto é, coloca nas unidades sintagmáticas 
apenas a realização, reservando, para o nível abstrato e profundo, as relações paradigmáticas. A 
consideração do sistêmico implica a consideração de escolhas entre os termos do paradigma, sob a ideia 
de que escolha produz significado. A gramática é, afinal, o mecanismo linguístico que liga umas às outras 
as seleções significativas que derivam das várias funções da linguagem, e as realiza numa forma 
estrutural unificada. A gramática organiza as opções em alguns conjuntos dentro dos quais o falante faz 
seleções simultâneas, seja qual for o uso que esteja fazendo da língua. A questão das "escolhas" tem de 
ser vista, também, dentro da dicotomia restrições/escolhas que representa a própria duplicidade básica 
implicada no complexo em que se constitui a atividade linguística dos falantes. Na verdade, a competência 
linguística dos sujeitos é entendida, numa teoria funcionalista da linguagem, como a capacidade que os 
falantes têm não apenas de acionar a produtividade da língua (jogar com as restrições), mas também - e 
primordialmente - de proceder a escolhas comunicativamente adequadas (operar as variáveis dentro do 
condicionamento ditado pelo próprio processo de produção). 
A primeira decorrência da adoção dessa dicotomia como diretriz de investigação é o estabelecimento 
de duas asserções aparentemente contraditórias: 
1) As diversas modalidades de língua (falada e escrita), assim como os diversos registros (tenso, frouxo 
etc.) têm as mesmas regularidades (tanto nas estruturas como nos processos), e a mesma gramática. 
2) As diversas modalidades e os diversos registros têm, entretanto, características diferentes e 
peculiares, ligadas à própria implementação das determinações do sistema, para a qual, em princípio, 
são relevantes as condições de produção. 
Desse modo, pode-se dizer que o sistema é o mesmo, mas que o aproveitamento das possibilidades 
é dependente das condições de produção. A gramática busca regularidades, busca especificar a 
sistematicidade da atividade linguística, porque sua finalidade não é dar conta de peculiaridades ou 
idiossincrasias de um determinado enunciado que um determinado falante produz em uma determinada 
situação. O que se põe em exame é a produção de sentido, e ela se opera no jogo que equilibra o sistema: 
o jogo entre as restrições e as escolhas, estas inscritas na natureza da atividade linguística, bem como 
na sua função, suas condições de produção, suas estratégias, seu processo de produção, e até seu 
acabamento formal. 
Mackenzie afirma que a gramática funcional ocupa uma posição intermediária em relação às 
abordagens que dão conta apenas da sistematicidade da estrutura da língua ou apenas da 
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instrumentalidade do uso da língua. Ela tem como hipótese fundamental a existência de uma relação não-
arbitrária entre a instrumentalidade do uso da língua (o funcional) e a sistematicidade da estrutura da 
língua (a gramática). Em outras palavras, a gramática funcional visa explicar regularidades dentro das 
línguas e através delas, em termos de aspectos recorrentes das circunstâncias sob as quais as pessoas 
usam a língua. Como diz De Beaugrande, enquanto nas gramáticas formais se tende a deixar certas 
especificações funcionais para o domínio fluído da semântica, da pragmática e da estilística, nas 
gramáticas explicitamente "funcionais", pelo contrário, especificações funcionais ricas são acomodadas 
no esquema, de tal modo que a "descrição gramatical" contenha dados amplos para auxiliar uma 
descrição semântica, pragmática e estilística. Na verdade, é evidente uma oposição entre o funcionalismo 
e o estruturalismo, que colocou sob estudo a "langue" (a língua em si e por si mesma), descrevendo cada 
subdomínio (nível ou componente) por critérios internos, o que levava a uma ênfase nos dados formais. 
Ao apresentar a oposição entre as duas correntes, De Beaugrande indica que o funcionalismo não aceitou 
essa atribuição dos dados funcionais ao uso da língua (à "parole"), ou à interação entre os subdomínios, 
e defendeu uma perspectiva mais integrativa na qual todas as unidades e os padrões da língua seriam 
compreendidos em termos de funções. Indica, ainda, que, desse modo, a "gramática" passa a incluir não 
somente os morfemas e as estruturas sintagmáticas, mas o seu embasamento cognitivo no conhecimento 
que a comunidade tem de como os processos e seus participantes são organizados (por exemplo, se 
uma Ação tem um Iniciador). 
O "discurso", por outro lado, é a rede total de eventos comunicativos relevantes, incluindo gestos, 
expressões faciais, manifestações emocionais e outros. E os dois conjuntos de subdomínios estão 
relacionados não pelo tamanho e pela constituição, mas por funções mutuamente controladoras, como 
as curvas de entonação que são típicas de certos padrões gramaticais em certos domínios do discurso 
(por exemplo, discursos políticos). 
Na gramática funcional, noções "pragmáticas" - relativas às escolhas que o falante faz para distribuir 
a informação dentro de seu enunciado - são entendidas como internas à gramática. Essa visão, que 
necessariamente relaciona padrões discursivos a padrões gramaticais, faz uma integração da pragmática 
na gramática. O "fluxo de informação", por exemplo, entra como fenômeno a ser investigado na gramática, 
e organizações como a de uma "estrutura argumentai preferida" são tomadas sob análise, uma análise 
que olha a forma que a estrutura argumentai toma, e relaciona essa forma com a codificação da 
informação (nova ou velha). O fluxo de atenção, segundo Ghafe, diz respeito aos aspectos cognitivos e 
sociais da "embalagem" que as pessoas fazem do conteúdo ideacional, quando falam. Em outras 
palavras, mais do que com o conteúdo ideacional do enunciado, o fluxo de informação tem que ver com 
a organização que nele obtêm categorias como "tópico e comentário", "sujeito e predicado", "informação 
dada e informação nova", ou, ainda, "unidades de entonação", "orações", "frases" e "parágrafos". O fluxo 
de informação determina a ordenação linear dos sintagmas nominais na frase, que se faz na sequência 
que o falante considera adequada para obter a atenção do ouvinte, mas alterações da ordem podem atuar 
para controlar o fluxo de atenção. 
Uma maneira de investigar a organização do fluxo de informação é exatamente considerar o "fluxo de 
atenção". Levando-se em conta as noções de "fluxo de atenção" e de "ponto de vista", entende-se que 
os eventos descritos no discurso e as entidades neles envolvidas não têm todos a mesma importância 
comunicativa, dispondo a organização discursiva de mecanismos capazes de marcar a relevância relativa 
dos diferentes eventos e entidades que se seguem no discurso. De Lancey distingue um fluxo de atenção 
natural, referente às estruturas perceptuais, e um fluxo de atenção linguístico, referente aos mecanismos 
linguísticos pelos quais esses valores são marcados nas frases; do fluxo de atenção linguístico pode-se 
dizer, por exemplo, que, seguindo a ordem natural, ele parte de Origem (Agente, Experimentador) para 
Meta, e que ele se situa na posição mais à esquerda, na frase. O fluxo de atenção natural tem como base 
a ordenação temporal dos eventos, que deve ser refletida na frase, a não ser que haja alguma motivação 
especial potencialmente ligada ao próprio ponto de vista - que cause a não coincidência, e torne marcado 
o enunciado. Os pontos de vista a partir dos quais se descreve uma cena são dois, o de um observador 
externo e o de um dos participantes. Entende-se que os pontos de vista, valores essencialmente dêiticos, 
são especificados nas frases por meio de mecanismos linguísticos apropriados que cada língua possui. 
O que se postula, nessas propostas de investigação, é uma relação entre gramática e discurso que 
entende que o comportamento sintático semântico pode ser mais bem explicadodentro de um esquema 
que leve em conta a interação de forças internas e externas ao sistema. 
Entretanto, à estrutura conceptual dos estruturalistas (na qual as únicas forças que organizam a língua 
são as internas) não é necessário opor-se uma estrutura conceptual ligada a um funcionalismo do tipo 
que Du Bois denomina transparente, ou sincrônico (no qual se presume que todos os fatos sintáticos 
aparentemente autônomos são realmente resultados transparentes dos objetivos funcionais do falante). 
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Du Bois indica uma posição intermediária que postula a interação de forças internas e externas em 
competição e que se resolvem no sistema. 
Afinal, exatamente por constituir uma estrutura cognitiva é que a gramática é sensível às pressões do 
uso; ou seja: flexível, porque ajustável (a partir de centros categoriais, ou núcleos nocionais), a gramática 
é passível de acomodação sob pressões de ordem comunicativa. Assim, na resolução do equilíbrio entre 
a determinação das forças externas e as estruturas, Du Bois propõe que as gramáticas sejam tratadas 
como sistemas adaptáveis, isto é, como sistemas parcialmente autônomos (por isso, sistemas) e 
parcialmente sensíveis a pressões externas (por isso, adaptáveis). 
Na explicação das gramáticas como "sistemas adaptáveis", forças motivadoras originadas em 
fenômenos externos penetram no domínio da língua, onde se encontram com forças internas. Nessa 
visão, fenômenos reconhecidos como intrinsecamente linguísticos são tratados como forças dinâmicas, 
em vez de estruturas fixas, categorias, ou entidades. Um dos pontos importantes na avaliação dessa 
posição é exatamente o fato de que, concebendo as regras e os princípios da gramática mais como 
tendências do que como regras absolutas com condições rígidas de aplicação, essa noção de uma 
competição de princípios, que atua tanto dentro de uma mesma língua como entre línguas, liga-se a uma 
aceitação da variabilidade da língua no espaço e no tempo, isto é, à concepção - fundamental no estudo 
do uso linguístico - de que as línguas têm um caráter dinâmico. 
 
 
 
Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que o texto 
apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado. 
 
“Aquela senhora tem um piano. 
Que é agradável, mas não é o correr dos rios. 
Nem o murmúrio que as árvores fazem... 
Por que é preciso ter um piano? 
O melhor é ter ouvidos 
E amar a Natureza.” 
 
Que simboliza o piano no poema? 
Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se percebe pela oposição 
que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio das árvores 
(bens naturais). O poema descarta a necessidade do piano, dando preferência à fruição dos sons da 
Natureza. 
 
O que é a linguagem? 
 
É qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos 
através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos 
órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies ou tipos: visual, auditiva, tátil, etc., ou, 
ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Os elementos 
constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar 
conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos. Embora os animais também se 
comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem. 
Não se devem confundir os conceitos de linguagem e de língua. Enquanto aquela (linguagem) diz 
respeito à capacidade ou faculdade de exercitar a comunicação, latente ou em ação ou exercício, esta 
última (língua ou idioma) refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma 
nação, munido de regras próprias (sua gramática). 
Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem é função cerebral que permite a qualquer ser humano 
adquirir e utilizar uma língua. 
Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados em computação. 
O estudo da linguagem, que envolve os signos, de uma forma geral, é chamado semiótica. A linguística 
é subordinada à semiótica porque seu objeto de estudo é a língua, que é apenas um dos sinais estudados 
na semiótica. 
Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita 
 
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A respeito das origens da linguagem humana, alguns estudiosos defendem a tese de que a linguagem 
desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com as mãos. Posteriores alterações no aparelho 
fonador, os seres humanos passaram a poder produzir uma variedade de sons muito maior do que a dos 
demais primatas. 
De acordo com Kandel apesar das dificuldades de se apontar com precisão quando ou como a 
linguagem evoluiu há certo consenso quanto a algumas estruturas cerebrais constituírem-se como pré-
requisitos para a linguagem e que estas parecem ter surgido precocemente na evolução humana. 
Segundo esse autor essa conclusão foi atingida após exame dos moldes intracranianos de fósseis 
humanos. Na maioria dos indivíduos o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem; a área cortical 
da fala do lobo temporal (o plano temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no direito. Visto que os 
giros e sulcos importantes deixam com frequência impressões no crânio, o registro fóssil foi estudado 
buscando-se as assimetrias morfológicas associadas à fala nos humanos modernos. Essas assimetrias 
foram encontradas no homem de Neanderthal (datando de cerca de 30.000 a 50.000 anos) e no Homo 
erectus (datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor de nossa própria espécie. 
 
Para que serve a linguagem? 
 
(...) 
Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Todo o sentido da vida 
principia à vossa porta; 
o mel do amor cristaliza 
seu perfume em vossa rosa; 
sois o sonho e sois a audácia, 
calúnia, fúria, derrota... 
 
A liberdade das almas, 
ai! Com letras se elabora... 
E dos venenos humanos 
sois a mais fina retorta: 
frágil, frágil como o vidro 
e mais que o aço poderosa! 
Reis, impérios, povos, tempos, 
pelo vosso impulso rodam... 
(...) 
Cecília Meireles. 
Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. 
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. 
 
Esses versos foram extraídos do poema “Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que Cecília 
Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser constituída de 
sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu significado, derruba reis e impérios; serve 
para construir a liberdade do ser humano e também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar 
declarações de amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas 
também para caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. 
 
- A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos animais. 
 
O provérbio popular “Palavra não quebra osso”, contrapondo a palavra à ação, insinua que a linguagem 
não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora podemos desfazer 
facilmente essa visão simplista das coisas, analisando para que serve a linguagem. 
 
- A linguagem é uma maneira de perceber o mundo. 
 
“Este deve ser o bosque”, murmurou pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm nomes”. (...) 
Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e 
sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse enquanto avançava em meio às árvores, “depois de 
tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar 
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do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a 
mão no tronco daárvore. “Como é que essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome nenhum... 
ora, com certeza não tem mesmo!” 
Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso terminou 
acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. 
Lewis Carroll. Aventuras de Alice. 
Trad. Sebastião Uchôa Leite. 
3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166 
 
Esse texto, reproduzido do livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá”, mostra que a 
protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de apreender a realidade 
em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as coisas do mundo exterior só têm 
existência para os homens quando são nomeadas. A linguagem é uma forma de apreender a realidade: 
só percebemos aquilo a que a língua dá nome. 
Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 de junho de 
2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”, usada para traduzir o grau de confiabilidade de um país 
entre credores ou investidores internacionais: 
 
(...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa não se conhece. 
Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez identificado, batizado e 
devidamente etiquetado, o “risco país” passou a existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é 
possível dormir em paz num país submetido à medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade 
com que a um paciente se tira a pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso 
placar luminoso, sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o “risco naufrágio”. 
 
- A linguagem é uma forma de interpretar a realidade. 
 
O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as palavras, fossem 
elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras apenas nomes para as coisas, 
seria mais conveniente que todos os homens trouxessem consigo as coisas de que precisassem falar ao 
discorrer sobre determinado assunto (...). ...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano de se 
expressarem por meio de coisas, cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que 
falar sobre longos assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas 
um grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para acompanhá-lo (...). 
Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua universal, 
compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são geralmente da mesma 
espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente percebido. 
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. 
Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. 
 
Esse trecho do livro “Viagens de Gulliver” narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as 
palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para língua – pelas coisas. 
Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse discorrer sobre 
uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vulgares de que a 
compreensão da realidade independe da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas 
aplicadas a coisas classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma 
forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo. 
O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das 
coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas não podem substituir as palavras, 
porque a língua é bem mais que um sistema de demonstração de objetos ou mera cópia do mundo natural. 
As coisas não designam tudo que uma língua pode expressar. 
Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua, 
agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera, banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao 
mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a ideia da classe fruta; não posso, então, expressar 
ideias mais gerais. Não produzimos palavras somente para designar as coisas, mas para estabelecer 
relações entre elas e para comentá-las. Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de 
gênero (masculino e feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no 
espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de demonstração de objetos, pois permite falar do que 
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está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até criar novas realidades, 
mundos não existentes. 
A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam conceitos, e eles 
ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos 
que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”, uma vez que é a Terra que gira em torno dele. 
Contudo esse conceito, criado pela linguagem, determina uma realidade que encanta a todos. Outro 
exemplo: apagar uma coisa escrita no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito 
a lápis, a caneta ou mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova 
realidade, deletar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar 
no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma 
nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, e estas é que lhes conferem existência para toda 
a comunidade de falantes. 
As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada língua 
pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de ver a realidade. O inglês, por 
exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep, que designa o animal, 
e mutton, que significa a carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas 
coisas numa palavra só: Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado, ou seja, não 
aplicamos a distinção que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso 
mostra que a linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, 
segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa maneira de 
perceber e de ordenar a realidade. 
A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo 
desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você derrubou 
o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe que, na primeira formulação, não existe um responsável pela 
queda e pela quebra do objeto. É como se isso se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se 
a responsabilidade pelo acontecimento a um agente. 
 
- A linguagem é uma forma de ação. 
 
Existem certas fórmulas linguísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre diz aos noivos 
“Eu vos declaro marido e mulher”, quando alguém diz “Prometo estar aqui amanhã”, quando um leiloeiro 
proclama “Arrematado por mil reais”, quando o presidente de alguma câmara municipal afirma “Declaro 
aberta a sessão”, eles não estão constatando alguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato 
de abrir uma sessão realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se 
quando se diz “Prometo”. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para 
demonstrar que a linguagem não é algo sem consequência, porque ela também é ação. 
 
Funções da Linguagem 
 
Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é que ela serve 
para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também 
exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? 
 
- A

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