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Prof. Esp. Fernanda M. Furst Signori Secretaria de Estado de Educação DF Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina Sociologia: Homem como Sujeito de Trabalho Fo n te G o o gl e – A u to r d es co n h ec id o Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 2 TÉCNICO DE SECRETARIA ESCOLAR SOCIOLOGIA: HOMEM COMO SUJEITO DE TRABALHO Olá, queridos (as) estudantes! Com o intuito de promover uma ação educativa, cujo objetivo é disseminar e propiciar a construção do conhecimento, contemplando o aprendiz como participante ativo no processo ensino-aprendizado; este texto foi produzido com linguagem textual e gráfica, de modo a proporcionar a você aprendiz, uma maior interação com o que será apresentado. Para que a aprendizagem seja significativa, proponho que trabalhe o texto de forma interativa, anotando as palavras-chave em cada parágrafo, sinalizando de maneira resumida o conceito dessas palavras e relacionando o conteúdo aqui disposto com o conhecimento que você já possui sobre o assunto. Tais estratégias didáticas auxiliam você: aprendiz/ leitor na organização de ideias, permitindo a reflexão e a crítica sobre o que é apresentado. No final do texto encontram-se as referências, caso queira aprofundar os conhecimentos sobre o assunto. Ótima leitura! Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 3 Sumário 1. O que é e para que serve a Sociologia ........................................................... 4 1.1 Definição de Sociedade ............................................................................... 6 1.2 Sociedade da Informação e do Conhecimento ............................................ 9 2. O Homem na Sociedade ................................................................................ 10 2.1 Cultura ....................................................................................................... 13 2.2 Cidadania ................................................................................................... 18 3. Pensadores Clássicos da Sociologia ............................................................ 21 3.1 Auguste Comte ............................................................................................. 21 3.2 Karl Marx ...................................................................................................... 22 3.3 Èmile Durkheim ............................................................................................ 25 3.4 Max Weber ................................................................................................... 30 4. Sociologia da Educação ................................................................................. 33 4.1 A Educação como Processo de Socialização ............................................. 35 4.2 A Educação na Contemporaneidade .......................................................... 37 Referências .......................................................................................................... 39 Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 4 1. O que é e para que serve a Sociologia Os problemas que envolvem as relações humanas, a eficiência de um grupo ou os conflitos entre as pessoas podem ser entendidos a partir do comportamento do indivíduo em sociedade. Muitos de nós temos o conhecimento prático sobre o que é conviver em sociedade, os papéis sociais de cada um, a organização social, política e econômica, as diferenças regionais. Mas, além desta experiência prática é preciso nos aproximarmos, também, do conhecimento científico; o qual Krench, Crutchfield e Ballachey (1973) afirmam NÃO ter como principal objetivo controlar ou predizer sobre algo, mas compreender as circunstâncias e ter escolhas. Você sabia?! A Antropologia estuda a origem e o desenvolvimento da espécie humana, enquanto a Psicologia estuda os processos mentais do indivíduo, que influenciam e motivam seu comportamento. Já a Sociologia ganhou força na segunda metade do século XIX com o advento do modo de produção industrial e todas as suas consequências; quando os pensadores da época optaram por entender as mudanças econômicas a partir das relações sociais (MARTINS, 1994). Assim, a Sociologia como ciência se propõe a estudar as formações sociais, como o ser humano interage, se relaciona, se organiza e as influências para o todo. A Sociologia consolidou-se como ciência com o filósofo francês Auguste Comte, tendo como objeto de estudo a SOCIEDADE, e, portanto, todas as características que envolvem este agrupamento de indivíduos que dividem o mesmo tempo e espaço seguindo um padrão coletivo, tais como: os fenômenos sociais, as estruturas e as relações organizacionais. Observe o esquema abaixo: “Nada é tão prático quanto uma boa teoria que proporciona compreensão” (KRENCH; CRUTCHFIELD; BALLACHEY, 1973, P. 5) Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 5 Sendo assim, o surgimento e evolução da Sociologia como ciência é resultado da elaboração de Teorias de vários pensadores: Karl Marx, Èmile Durkheim e Max Weber sobre o mundo social e como podemos modificá-lo intencionalmente em um contexto histórico de rearranjo da dinâmica social culminando em transformações econômicas, políticas e sociais. Tornando-se objetivo da Sociologia, estudar o comportamento humano em função do meio, SOCIOLOGIA C IÊN C IA ESTUDA SOCIEDADE CULTURA • Costumes • hábitos GRUPOS SOCIAIS • Família • Instituição • Comunidade • Pares (amigos, companheiro (a) INSTITUIÇÕES SOCIAIS • Cidadania • Movimentos Sociais POLÍTICA • Estado • Governo Permeados pelas relações de PODER Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 6 compreendendo diferentes sociedades, culturas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições (FNDE, 2021). 1.1 Definição de Sociedade Sociedade é a relação entre diversos grupos sociais cujas funções e formas de atuação legitimam sua evolução ao longo do tempo. Auguste Comte (1798-1857), considerado o pai da Sociologia, foi um filósofo francês que desenvolveu suas teorias em meio as transformações sociais, políticas, econômicas, ideológicas, tecnológicas e científicas que ocorreram com a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo (LACERDA, 2004). Neste contexto de evolução, de mudanças significativas, que Comte percebeu que os fenômenos sociais: crenças, costumes, conflitos, maneira de se vestir, as relações familiares, as relações sociais e de produção, ou seja, tudo aquilo decorrente das relações humanas em coletivo e que interferem na forma como nos relacionamos, gerando um novo modo de pensar e de se comportar; o que direciona a Sociedade em seu desenvolvimento, marcando, assim, um período histórico. Para Comte, há elementos permanentes: instituições e fatos, que são presentes em toda e qualquer Sociedade, como por exemplo: a religião, um governo, trabalho, a linguagem, a constituição da família e da propriedade – instituições humanas que visam satisfazer de alguma forma a necessidade deexistência e de agrupamento, uma vez que o indivíduo é um ser essencialmente social - e há elementos variáveis: a maneira de pensar, as regras de convivência e as leis (LACERDA, 2004). Historicamente, a primeira grande transição no modo de viver da Sociedade, se deu no período Paleolítico-Neolítico, quando os grupos que se organizavam e se mantinham como caçadores nômades, com papéis sociais bem definidos: enquanto homens caçam, as mulheres cuidam da prole: Sociedade Coletora e passaram a se estabelecer em um lugar fixo para plantar e colher, ou seja, sobreviver da terra e dessa forma, passaram a demarcar territórios. Fonte: Google Foto: Auguste Comte Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 7 Com a transição para a Sociedade Agrária, as estruturas sociais passaram a ser mais complexas: havia o dono da terra, foi necessário que os membros da família se especializassem em técnicas de cultivo, o regime de trabalho era o escravista, havia a possibilidade de estoque de alimento e consequentemente o seu uso como moeda de troca (CHAVES, 2012). O estilo de vida agrário possibilitou o aumento na densidade de pessoas em um mesmo local, surgindo os povoados, posteriormente esse arranjo social foi se desenvolvendo e surgiram os feudos – grandes propriedades rurais – o que constituiu o Feudalismo (século XI-XIII) com um sistema político, econômico e social próprios. A navegação e a conquista por novos territórios fizeram com que grandes transações comerciais ganhassem força nos centros das cidades, o que causou uma crise e consequentemente a revolta dos camponeses que passaram a ser marginalizados; além de que a grande quantidade de pessoas e a falta de saneamento fez com que a Peste Negra disseminasse parte da população. O que fez com que o Sistema Feudal entrasse em crise (século XIV) e os burgueses repensassem suas estratégias de desenvolvimento e estruturas econômicas (FERNANDES, n.d.). A luta entre classes e a busca por melhorias nas condições de vida e de trabalho culminaram na Revolução Industrial (século XVIII-XIX), a qual se caracteriza pela introdução de máquinas, especialização da mão de obra e instalação de fábricas, mão de obra assalariada. Agora, a Sociedade Industrial divide-se em duas classes sociais: os que detém os meios de produção (capitalistas/ burgueses/ empresários) e os que vendem sua força de trabalho (os trabalhadores/ operários). Embora tenha ocorrido uma evolução no pensamento, os direitos sociais ainda não eram iguais a todos os cidadãos (as): carga horária de trabalho exaustiva, crianças e mulheres trabalhavam, mas recebiam menos que os homens; tal situação hostil fez com que os trabalhadores se unissem e discutissem sua causa, o que culminou em movimentos pela luta de melhores condições de trabalho (DA SILVA, 2018). Sociedade Feudal Clero – Igreja Católica Nobreza – senhores feudais, donos da terra Servos – camponeses não detentores de terra Pesquise! Sobre as Teorias da Administração Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 8 Por meio desta linha cronológica é possível observar a dinâmica da Sociedade e identificar os elementos permanentes e as variáveis que Auguste Comte citou como constituintes e determinantes na evolução de uma Sociedade e como nossa história foi sendo construída. Mas, atenção! A dinâmica social muda de tempos em tempos, a depender dos acontecimentos que levam a esta mudança de pensamento e de comportamento; portanto, ainda estamos em evolução e assim, somos todos agentes de mudança. Observe no esquema abaixo a dinâmica social e as relações de trabalho em cada fase da Sociedade: Sociedade Coletora Sociedade Agrícola Sociedade Industrial Fo n te : G o o gl e A u to r: d es co n h ec id o Fo n te : G o o gl e A u to r: d es co n h ec id o Fo n te : G o o gl e A u to r: d es co n h ec id o Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 9 1.2 Sociedade da Informação e do Conhecimento De acordo com Castells (2000), a informação tornou-se a principal matéria prima da sociedade do século XX; por ter como característica principal a flexibilidade, permite-se ser modificada e reorganizada, ou seja, a interação e a colaboração entre os indivíduos que, a partir de uma questão discutem, refletem, ensinam e aprendem uns com os outros, proporciona a transformação e a perspectiva de desenvolvimento, os quais, pelo alto poder de alcance, afetam a todos. Dessa forma, é por meio da informação que obtemos conhecimento e acesso à diversas áreas que constituem a Sociedade: religião, ciência, cultura, política, economia etc. Portanto, o conhecimento é um instrumento de valor, pois desafia as estruturas cristalizadas de crenças e valores (VALENTIM, 2006), como por exemplo: comer manga com leite faz mal ou o próprio machismo; além de consolidar o conhecimento científico. Com a informação, a Sociedade encontra-se em constante processo de formação e expansão e com o avanço tecnológico as conexões, as trocas de informação, as atualizações tornaram-se mais constantes e cada vez mais rápidas e abrangentes, resultando em uma nova leitura sobre o mundo. Foi a década de 70 que ocorreu o boom das telecomunicações, ou seja, a interligação de cidades e Estados que recebiam as mesmas informações por meio dos programas televisivos. No final da década de 80, no mundo, a internet teve seu uso comercial liberado; mas foi somente na década de 90 que foi amplamente divulgada e seu acesso ganhou força, possibilitando às pessoas fazer pesquisas, obter informações em tempo real, trabalhar juntas a distância num mesmo projeto, obter vídeos, imagens e participar de salas de bate papo virtuais. Dentre tantas mudanças, encontramos o Hipertexto, que é como um texto dentro de outro texto (dentro do texto há links que levam a outro texto que explicam aquele conceito citado), o que contribui para a autonomia do indivíduo construir seu conhecimento. Qual a importância da informação para a Sociedade? Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 10 A Globalização: processo de integração social, econômica e cultural entre as diferentes regiões do planeta que ajuda a promover a consolidação do Sistema Capitalista, segundo Santos (2000, citado em RODRIGUES; OLIVEIRA; FREITAS, 2001) marca uma ruptura na evolução do processo social e moral que vinha ocorrendo em torno da construção e manutenção de instituições: classes sociais, propriedade, trabalho e passa a estar voltada à disseminação da informação, aos meios de comunicação que criam não somente conhecimento, mas novos mercados de trabalho, serviços e empregos (BORGES, 2000). Assim, a Sociedade da Informação tem como característica as inovações tecnológicas, enquanto a Sociedade do Conhecimento utiliza desta tecnologia para transformar a dinâmica social, cultural, econômica, política e institucional. Possibilitando um mercado aberto e autorregulável (DZIEKANIAK; ROVER, 2011). Atenção!! Uma das condições para que a Sociedade avance neste modelo, é que todos tenham acesso às TIC`s. 2. O Homem na Sociedade Quem é o Homem na Sociedade? Obteremos a resposta observando a posição social que ele ocupa, por exemplo: sua naturalidade, sua religião, filiação, região onde mora, nível de escolaridade, ou seja, em que grupos o indivíduo se localizana Sociedade. Como há vários grupos, para que convivam em harmonia, nas Sociedades Democráticas, é preciso que todos se submetam ao mesmo sistema de ordem, composto por regras (moral) e por leis (ética), que regulam o convívio social (BERGER, 1980). Fonte: wkimedia commons Autor: desconhecido Quando falamos em Homem na Sociologia, não é referência ao gênero masculino, mas ao termo utilizado para definir o ser histórico social. Mas, o termo HOMEM reflete sim uma construção cultural que surgiu para reforçar a superioridade masculina da época; o que não se aplica mais nos tempos atuais, onde há luta pela igualdade de gêneros. Então, ao ler Homem Social, entenda como Indivíduo (homem/mulher). Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 11 Dessa forma, podemos falar sobre dois elementos que regulam e reforçam a posição do indivíduo na Sociedade: A Estratificação Social: significa que toda Sociedade possui um sistema de hierarquia; porém, os critérios são definidos a depender dos costumes, da cultura do local, podendo haver, inclusive, diferentes critérios dentro de uma mesma Sociedade. Por exemplo: Nas Sociedades Ocidentais contemporâneas o tipo de estratificação mais comum é aquele que utiliza critérios socioeconômicos, ou seja, a riqueza definida em classes sociais. E, para o indivíduo se manter no seu lugar, ser reconhecido pela classe social que ocupa, ele faz uso de vários símbolos que definem seu status social: bens materiais, gosto musical, moda, linguagem, trabalho que exerce e até as opiniões características daquele grupo (BERGER, 1980). A posição ocupada na Sociedade é o que vai definir a qualidade do que o indivíduo usufrui, por exemplo: a escola, o padrão de assistência médica, o espaço cultural (diversão) e até mesmo a expectativa de vida. Assim, podemos afirmar que, a depender da posição social que o indivíduo ocupa, pode ter recompensas, tais como o Poder, privilégios e prestígio, que funcionam como uma pressão externa para que ele permaneça na sua classe social; por exemplo: é esperado que o jovem de classe média e rica frequente regularmente a escola, tenha aulas de línguas estrangeiras e viaje para conhecer novas culturas. Lembra-se? Foi falado anteriormente que dentro de uma mesma Sociedade podem existir subcritérios que ajudam a classificar a posição do indivíduo na Sociedade, são eles: a questão racial, a linhagem do sobrenome, a localização da sua moradia (bairro valorizado ou não), a maneira de se vestir; por exemplo: fulano se veste de preto, então é roqueiro. A Estratificação Social não é algo fixo, o indivíduo pode tanto ascender, quanto descender de classe social. Mas, espera-se que esta variação não seja excessiva, pois poderá colocar em risco Fonte: Google Autor: desconhecido Atenção! Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 12 toda a organização ideológica daquela Sociedade (BERGER, 1980). O outro elemento que regula o indivíduo na Sociedade é o Controle Social, também conhecido como os vários meios que asseguram que o indivíduo siga as regras sociais e/ ou serve para eliminar membros indesejáveis. Vale ressaltar que a utilização de tais meios de controle varia de acordo com a finalidade e as características do grupo em questão, que segundo Berger (1980) são eles: • Violência física: inclusive aquela oficial e legalmente utilizada, como a força policial; • Coerção Psicológica: (é a submissão voluntária às leis) como influência inibidora; • Pressão econômica: por exemplo: o dízimo das igrejas, a greve dos trabalhadores, a ameaça do corte dos benefícios no salário; • Ridicularizar e Difamar: são meios de controle, pois todo indivíduo quer ser aceito e reconhecido no grupo; • Rejeição às minorias: o que leva à marginalização do indivíduo; • Moralidade, costumes e convenções: assim, independente da hierarquia, no meio social, uns vigiam aos outros; • A própria vida privada do indivíduo: como amigos e família, funciona como um meio formal de controle. O desprezo nesses grupos, que muitas vezes são vistos como sinônimo de refúgio, pode causar um efeito psicológico significativo na maneira como o indivíduo se vê; • O ambiente de trabalho. Atenção! O sistema ocupacional é o controle social de maior importância; pois, como disse Max Weber (1864-1920): O Trabalho dignifica o Homem, ou seja, o emprego é o principal responsável pela renda do indivíduo, da qual ele precisa para viver e principalmente para fazer parte do todo. Uma pessoa desempregada é estigmatizada como irresponsável, é malvista, pois foge dos critérios de normalidade estabelecidos na Sociedade (BERGER, 1980). Será que ter e manter o emprego é algo que só depende do trabalhador? Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 13 Então, como o trabalho pode ser utilizado como meio de controle social? Observe o quadro abaixo: Controle Formal Controle Informal A própria profissão escolhida Imposições feitas por colegas de trabalho Ter requisito para ocupar o cargo A concorrência que estabelece o valor do serviço prestado Licenciamento para exercer a profissão Corrupção Organizações profissionais e sindicatos Falta de ética profissional Punição Administrativa Afinidades 2.1 Cultura A cultura brasileira é um acoplado de outras culturas; resultado da miscigenação de diferentes etnias, cada qual com seus costumes. A vasta extensão do território brasileiro é outro fator que contribuiu para a diversidade cultural, possibilitando com que cada região desenvolvesse hábitos culturais próprios, representados nas manifestações religiosas e artísticas, na culinária, nas crenças e tradições. Mas, o que é Cultura? De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, cultura é o conjunto de características materiais, intelectuais, emocionais e religiosas distintas entre uma Sociedade e outra, adquirindo diversas formas a depender do tempo e espaço, manifestando-se na originalidade e pluralidade dos diversos grupos que constituem a Sociedade (UNESCO, 2021). Controle Social por meio do Trabalho Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 14 Marilena Chauí coloca que a Cultura possui um significado importante, o de representar um padrão que diferencia as Sociedades entre si, permitindo avaliar a evolução e o progresso da humanidade a partir da presença ou ausência de elementos valorativos que funcionam como medida para comparação (BRANDÃO, 2019). Para entender como a cultura se estabelece e é vivenciada, antes é preciso diferenciar como se manifesta na Sociedade e na Comunidade. Chauí esclarece que, na Sociedade – indivíduos que dividem o mesmo tempo e espaço seguindo um padrão comum de coletividade – há divergências por interesses específicos; por exemplo: podemos dizer que há a Cultura Dominante e a Cultura Popular. Enquanto, na Comunidade – grupos de indivíduos de determinada região que partilham uma história, objetivos e práticas em comum, com espaço assegurado de participação e expressão de suas opiniões (ROCHA, 2012) – as manifestações culturais são vivenciadas de maneira mais intensa, pois permitem que cada indivíduo seja protagonista, formando assim a identidade do grupo. Conceituando Cultura Dominante e Cultura Popular: • Cultura Dominante:costuma estar relacionada com as camadas sociais economicamente mais elevadas, pois são os indivíduos que possuem formação escolar com um certo nível de instrução específica, já que se trata de uma cultura construída e disseminada ao longo da história. Assim, possui como característica principal a passividade dos indivíduos que a apreciam (BEZERRA, n.d.). • Cultura Popular: ocorre por meio de uma elaboração espontânea. Por ser a transmissão dos costumes e valores de um povo, é transmitida de forma oral e/ ou nas manifestações populares, também conhecidas como “manifestações artísticas de rua” sendo acessível a todo tipo de público (BEZERRA, n.d.). É uma convenção que, em Sociedade, as pessoas que as pessoas utilizem vestimentas. O estilo de vestimenta vai depender da região ou grupo social no qual o indivíduo está inserido. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 15 Cultura Erudita/ Dominante Cultura Popular Atenção! Cultura Popular e Cultura de Massa não possuem o mesmo significado. A Cultura de Massa, como definida por Theodor Adorno e Max Horkheimer, sociólogos fundadores da Escola de Frankfurt na Alemanha, é a maneira padronizada que indivíduos, mesmo pertencendo a diferentes regiões e seguimentos socioeconômicos, se comportam (FIANCO, 2010). Diferenciando-se das manifestações populares regionalistas, a Cultura de Massa se sustenta na produção cultural capitalista, ou seja, de acordo com os fundadores da Escola de Frankfurt, as condições que levaram a um novo arranjo social, do trabalho e dos meios de comunicação, também causaram transformações nas manifestações culturais; a fim de manter as necessidades de uma produção capitalista, baseada no lucro e na massificação - alcance de todos (HORKHEIMER; ADORNO, 2002). Não obstante, Walter Benjamin, filósofo do século XX, colocou que ao se apropriar dos elementos culturais de um povo, o meio de produção capitalista transformou a Cultura em mais um elemento de mercado, que a comercializa como um produto, reforçando a propagação de um ideal de vida capitalista e consumista (ARAÚJO, 2010). Fonte: carrocademamulengos.com.br Foto: Grupo Carroça de Mamulengos Fonte: Google Foto: Teatro Santa Isabel – Recife PE Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 16 Como exemplo, podemos citar: as produções cinematográficas; no Brasil, a música sertaneja que foi transformada e disseminada como Sertanejo Universitário; os ideais de vida disseminados pelas propagandas de consumo de produtos, como as propagandas de carro associando sua aquisição a uma vida de aventuras e as propagandas de margarina associando seu consumo a um ideal de família modelo. A globalização tornou hegemônico (que exerce domínio sobre todos) o consumo cultural e a evolução tecnológica reconfigurou as necessidades sociais dos tempos atuais. Portanto, podemos falar em uma Cultura Digital a qual conecta cada vez mais pessoas, as quais buscam por entretenimento, reconhecimento e pertencimento, que passam a criar e compartilhar não somente eventos, mas conteúdo (NOVAES, 2019). O espaço cibernético, onde as pessoas se encontram, se relacionam, se divertem, se informam, trabalham e estudam além de democratizar o acesso à informação, ao conhecimento e maximizar os valores compartilhados socialmente, contribuindo apara que a Cultura seja um sistema aberto; ainda implica na mudança de comportamento das pessoas. Você já percebeu isso?! Dentre as facilidades e benefícios da apropriação, produção e consumo de informação, podemos, também, de acordo com Novaes (2019) citar a alienação e o empobrecimento da percepção das pessoas sobre os elementos culturais; uma vez que a cultura mercantilizada se torna, ela própria, uma ideologia, não deixando espaço para o pensamento crítico. Você deve estar se perguntando: Qual o objetivo de Cultura na Sociedade? A Cultura tem sua importância como propulsora da capacidade de expressão dos diferentes grupos sociais e, portanto, seu objetivo é o de formar cidadãos, abrindo espaço para a discussão sobre as diferentes concepções de mundo (ALMEIDA; LIMA; GATTO, 2019); ou seja, é promover um espaço para que todo indivíduo possa sentir, se manifestar, contribuir e pertencer ao coletivo. Podemos dizer que a Cultura de Massa é fomentada pelo uso de tecnologias. Fonte: Pinterest.pt Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 17 Sendo assim, todo cidadão tem direito à Cultura e o Estado tem o dever de elaborar políticas de desenvolvimento cultural, tornando-a acessível; o que é uma vantagem para o Estado, pois uma população que vivencia sua Cultura diz não à violência e contribui para o crescimento econômico. Na nossa Sociedade brasileira é competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a proteção aos bens de valor histórico e artístico; a promoção e acesso à Cultura, à educação, à ciência, à tecnologia e à pesquisa; constando no artigo 215 da Constituição Federal de 1988 o seguinte texto (SENADO, 2021): Entretenimento e informação devem estar juntos em serviço da Sociedade (CANCLINI, 2005, citado em (ALMEIDA; LIMA; GATTO, 2019). Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 18 2.2 Cidadania O termo Cidadania tem origem etimológica no latim civitas, que significa "cidade" e estabelece um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade politicamente articulada (CAMARGO, n.d.). Assim, a definição do conceito de Cidadania é uma construção sócio- histórica, a qual abrange características, paradigmas e dimensões que foram sendo construídos a partir da relação dos indivíduos entre si e com o Estado de Direito (CARVALHO, 2018). Assim, podemos considerar que o termo cidadania se constitui sob dois aspectos: cultural e jurídico, que embora sejam antagônicas, se sobrepõem: Cidadania Desde a antiguidade, alguns povos definiam por escrito suas leis e normas de conduta para assegurar a organização social e a participação da população no Estado; mas a noção de cidadania surgiu na Grécia Antiga, quando se estabeleceu o Estado Democrático e Representativo. No entanto, esta participação estava atrelada à condição econômica do indivíduo; portanto, a noção de cidadania se dava por meio da exclusão, ou seja, quem Não fosse homem (aqui o termo “homem” se refere ao gênero masculino, socialmente dominante) livre e detentor de propriedades, que pudesse contribuir com o Estado, não possuía o status de Cidadão de Direito (MARSHALL, 2002). Com o advento da Revolução Industrial e o crescimento dos movimentos sociais, a luta pelos direitos iguais a todos ganhou força e visibilidade e a noção de Cultural: associado à vida em Sociedade, a sua compreensão varia de acordo com o tempo e espaço; considerando-se os indivíduos que dividem os mesmos costumes, pensamentos e comportamentos. Jurídico: conjunto de direitos e deveres civis, sociais e políticos que devem ser obedecidos por todo indivíduo pertencente àquele território. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 19 Cidadania foi deixando de ser de exclusão e passou a ser de inclusão. Contudo, nemtodas as camadas sociais e nem todos os indivíduos, como as mulheres, por exemplo, tinham seus direitos garantidos. E que Direitos seriam estes? Observe o esquema abaixo, de acordo com Marshall (2002): Direitos Sistema de normas reconhecidas ou estabelecidas que regulam as condutas humanas, para a manutenção de uma convivência harmoniosa Direito Civil (Conquista do século XVIII) Garantem a vida em Sociedade Direito Político (Conquista do século XIX) Participação no Governo Direito Social * Sinônimo de liberdade * Foi o precursor da reivindicação dos outros direitos * Regulamenta as relações entre os indivíduos e os bens na Sociedade (instituições sociais) * Delibera obrigações * Direito de ir e vir, à fé, à justiça * Direito a trabalhar * Segurança * Saúde * Alimentação * Moradia * Salário/ pagamento justo pelos serviços * Educação * Participação no progresso na nação * Participação nas decisões * Participação em movimentos sindicais (Conquista do século XX) Participação na riqueza coletiva Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 20 A partir da segunda metade do século XX a noção do que é Cidadania sofreu uma grande transformação; quando, surgiram novas demandas culturais e posições políticas baseadas nos interesses e nas perspectivas de grupos sociais específicos, tais como: direito das mulheres, das diferentes etnias e respeito às escolhas de opção sexuais e religiosas (MONTEIRO; CASTRO, 2008). O desenvolvimento e a abrangência dos Direitos civil, político e social não foi em igual ordem e em importância, para todas as Nações, como na Inglaterra; no Brasil, por exemplo: por esbarrar em barreiras estruturais de PODER (luta pelo domínio da terra e do povo) a partir da colonização e baseada na escravidão; primeiramente, foi desenvolvido o direito social, depois o político e, finalmente, o civil; de maneira hierárquica de cima para baixo (CARVALHO, 2018). Para Jean Jacques Rousseau (1712-1778) filósofo francês, a igualdade entre indivíduos somente existe se todos forem iguais perante a lei. Assim, considerando que a dignidade humana é extrínseca à condição econômica, política e social, mas inerente à condição humana e que o desrespeito aos direitos humanos resultara em atos que ofendem a consciência da humanidade; a Organização das Nações Unidas – ONU, em 1948 proclama a Declaração Universal dos Direitos Humanos, colocando os Direitos: social, civil, político, econômico e cultural acima do PODER político (UNICEF, 2021). Se antes, as profissões e as ocupações eram segregadas por classe social, agora todo e qualquer cidadão, homem ou mulher, pode exercer a profissão que desejar, desde que tenha formação/ habilitação para tal. O direito à Educação, ainda é o que mais sofre descaso por parte do Estado; pois como coloca Carvalho (2004): é por meio da educação que os indivíduos tomam conhecimento e desenvolvem uma consciência crítica sobre seus direitos e o papel que ocupam na sociedade, o que pode ser ameaçador ao controle/ PODER dos que comandam uma nação. Fonte: souncloud.com Autor: desconhecido Atenção! Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 21 O PODER, para Michael Foucault (1926-1984) teórico social francês, é uma prática social construída historicamente pelas relações entre indivíduos para sobrepor a força/ vontade de uns sobre outros: dominante/ submisso. Dessa forma, podemos afirmar que, neste sentido, o PODER reprime, ou seja, tira a autonomia do indivíduo; sendo uma maneira de se conseguir o que quer, seja por direito, por influência ou por controle/coerção (SANTOS, 2016). Fazendo com que, em pleno século XXI, os direitos dos cidadãos não sejam plenamente respeitados em todo o mundo, justamente pelas diferenças culturais e conflitos gerados pela ambição e PODER. 3. Pensadores Clássicos da Sociologia O comportamento humano é algo complexo, com atributos variados e sentido próprio; sendo assim uma única perspectiva teórica não seria capaz de elucidar toda a sua diversidade. Falaremos a seguir sobre as relações entre sociedade e indivíduo sob a ótica de quatro dos teóricos clássicos que simplificam a complexidade da realidade social facilitando e estabelecendo determinados pressupostos que facilitam a discussão. 3.1 Auguste Comte (1798-1857) Auguste Comte, filósofo francês do século XIX se dispôs a falar sobre a necessidade de se mudar radicalmente os rumos que uma Sociedade toma, para que ocorra, enfim o desenvolvimento e crescimento dela. Coloca que cada época nos oferece um modelo do modo de pensar predominante, cujas ideias correspondem aos princípios daquela ordem social. Assim, define outrora, a Sociedade Teológica - cujo pensamento estava voltado ao militarismo para conquista de territórios e à fé (religiosidade) como base intelectual e moral da ordem social; dando espaço a um novo modelo: a Sociedade Científica e Industrial. A partir de então, a ciência assume o lugar de categoria que oferece a base intelectual Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 22 e moral da ordem social e o pensamento coletivo deixa de estar voltado à guerra dos homens contra os homens e passa a ser a exploração racional dos recursos naturais (ARON,2003). Analisando a Sociedade, Comte percebeu que a ciência é a chave para o crescimento intelectual e moral da Sociedade e colocou como condição fundamental para este crescimento, a reforma social e intelectual a partir de uma política positiva; dessa forma, o Positivismo de Auguste Comte defendia o uso da Razão como ponto de partida para toda e qualquer área do conhecimento, ficando a religião, a ética e a moral entendidas a partir do uso de uma lógica que aplicada à Sociedade possibilita a ordem e o progresso (SOUZA, 2020). Pensando assim, é a partir da reflexão sobre a contradição interna que a Sociedade enfrenta, que deixar de lado a ideia de um Deus que controla tudo o que acontece e colocar a própria humanidade como provedora do seu progresso, faz com que a Sociedade se desenvolva e possa oferecer oportunidade a todos, para que contribuam com um futuro melhor; por isso, Comte defendia que todo indivíduo tinha a obrigação moral de servir aos outros e colocar os interesses da coletividade acima dos seus próprios. 3.2 Karl Marx (1818-1883) Karl Marx é alemão, mas passou grande parte da sua vida no Reino Unido (Inglaterra). Filósofo, Sociólogo, Historiador, Economista e Jornalista, Marx também foi um grande revolucionário socialista, pois defendia uma Sociedade igualitária, combatendo as desigualdades sociais oriundas do Capitalismo; tanto que, publicou obras muito significativas, dentre elas: O Manifesto Comunista e O Capital, obras que não pouparam críticas ao Capitalismo. Mas o que é o Capitalismo? Observe a imagem abaixo: Será que hoje em dia a Sociedade pensa assim? Fonte: pinteret.com Foto: Auguste Comte Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 23 Dentre as correntes teóricas que surgiram para explicar as diferenças entre classes sociais, cada vez mais visíveis devido a Revolução Industrial, está o Materialismo Histórico Dialético deKarl Marx e Friedrich Engels o qual compreende a evolução da história humana ligada às relações de produção e que estas por sua vez são determinadas pela estrutura econômica presente na sociedade; portanto, as mudanças sociais ocorrem determinadas pela situação econômica dos indivíduos. Utilizando-se da dialética, Karl Marx propõe que o homem modifica sua história pela práxis, ou seja, pela prática cotidiana e não pelas ideias; assim, a mudança acontece quando as forças produtivas e as relações de produção entram em contradição. Como assim? Observe o esquema abaixo: Im ag e m r et ir ad a d o m at er ia l p ro d u zi d o p o r B it en co u rt e B ez er ra ( 2 0 1 1 ). Burgueses detem Meios de produção Gera riqueza exp lo ram Classe Operária V en d e su a m ão d e o b ra Sentem-se injustiçados, insatisfeitos Conflitos Gera mudanças Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 24 Atenção! Uma crítica a esta Teoria é que ela somente leva em conta a economia, deixando de lado as motivações religiosas, ideológicas e militares para o desenvolvimento da sociedade, tal como fez o sociólogo Max Weber anos depois. Para Karl Marx a origem dos problemas sociais estaria no tipo de organização social; por isso as críticas ao modo de se organizar de uma Sociedade Capitalista de produção, onde segundo ele, a Burguesia – classe social dominante, detentora dos meios de produção e que mantém o controle do Estado para se manter no Poder enriquece às custas do operariado - mão de obra para o trabalho nas fábricas, o qual não trabalha somente o suficiente para manter seu sustento, para sanar suas necessidades básicas de comer, vestir, estudar, moradia etc., mas trabalha horas consecutivas, produzindo além do que recebe para dar lucro e pagar impostos. A essa dinâmica relacional entre classes sociais, Marx deu o nome de mais - valia (BITENCOURT; BEZERRA, 2011). Mais- Valia é o valor que o trabalhador produz a mais, e que não fica com ele, e sim, com o patrão, ou seja, o quanto um trabalhador rende além do que recebe pelo trabalho efetuado e que não é convertido em valores monetários reais; configurando assim, o que define como exploração capitalista. Assim, podemos falar em: (a) Meio de Produção – são os materiais utilizados pelo trabalhador no seu fazer profissional, por exemplo: as máquinas, as instalações do ambiente de trabalho, matéria prima etc.; (b) Modo de Produção - é a maneira como a Sociedade produz e utiliza seus bens e serviços, ou seja, são as relações de produção estabelecidas em cada época histórica, por exemplo: escravidão, feudalismo, comunismo, socialismo, capitalismo (SCOTT, 2006). Karl Marx traz mais dois conceitos importantes, são eles: • Alienação: é a condição na qual se encontra o trabalhador, visto que no meio de produção capitalista, com a separação de tarefas e a especialização do trabalho, o operário conhecia apenas parte daquilo que produziu, e não o seu todo, não tendo assim uma relação significativa com o resultado; por exemplo: se antes o agricultor arava a terra, distribuía as sementes, regava a terra e colhia a plantação; agora há um trabalhador especialista em cada O uso da tecnologia vai além de facilitar o trabalho, ela possibilita que o trabalhador produza mais e assim, dê mais lucro. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 25 etapa, como no caso da montagem de carros nas fábricas. Assim ficava mais fácil de o empregador controlar a produção e o trabalhador. • Ideologia: é a maneira de pensar de uma Sociedade, podendo ser a partir do modo de produção ou pelo estilo tecnológico; sendo o mais comum: atribuindo ideias a uma determinada classe social; por exemplo: ao se fazer uma representação da Sociedade como algo harmônico e justo, camuflando assim, a luta entre as classes sociais, estamos criando a ilusão de uma Sociedade igualitária, quando na verdade, não passa de um jogo de Poder para manter os privilégios da classe dominante; por exemplo: Incentivar as pessoas a trabalharem cada vez mais porque somente assim será possível o progresso da nação, sendo que quem está trabalhando está sendo explorado, não está recebendo seus direitos e quem está incentivando está enriquecendo individualmente. 3.3 Èmile Durkheim (1858-1917) Na França, a Escola de Durkheim se originou da obra de Auguste Comte, dando continuidade à visibilidade dos fenômenos da estrutura social, em meio às discussões surgidas na então Sociedade Industrial; no entanto, seu interesse foi o de compreender quais são os fatores que definem uma Sociedade; para tanto era preciso ir a campo para estudar. Eis que surge o Funcionalismo – cujo objetivo é explicar a Sociedade, as ações coletivas e individuais, a partir de causalidades; assim, considera a Sociedade como um sistema complexo cujas partes trabalham juntas para promover a solidariedade e a estabilidade (CABRAL, 2004). Incomodado com a formação literária e pouco científica nas escolas francesas, Durkheim procurou referências nos modelos biológicos para explicar os Fonte: pinteret.com Foto: Karl Marx A ideologia impede que a classe trabalhadora tenha consciência sobre a própria submissão Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 26 modelos sociais; fazendo parte dos seus estudos as Ciências da Natureza, a Filosofia, a Psicologia, o Direito e a Economia, o que resultou na formulação da Teoria dos Fatos Sociais – tão importante quanto a funcionalidade da Sociedade, são os fatos que a levam a funcionar de determinada maneira, sendo estes fatos fixos, coercitivos, generalizantes e independentes da vontade do indivíduo (DURKHEIM, 2002). Para Durkheim, a Sociedade precisa de um consenso para então, existir como conjunto de pessoas que dividem o mesmo tempo e espaço, interagindo entre si e legitimando sua evolução ao longo do tempo. Este consenso é representado pelos padrões compartilhados: crenças, costumes, propósitos, preocupações. Contudo, Durkheim pontua, no fim do século XIX (momento de contradições entre a fé e a ciência), que com o advento da ciência, tais padrões, tidos como tradições repassadas de geração em geração, foram abaladas pelo desenvolvimento do pensamento científico (ARON,2003). O conhecimento científico é, para Durkheim, o que o sociólogo deve ter em mente para não cair em contradições ou se precipitar com conclusões do senso comum. Dessa forma, os fatos sociais - aqueles comuns em toda Sociedade e que regem sua organização - entendidos sob o ponto de vista objetivo, conferem ao sociólogo elementos mais precisos para entender a dinâmica social (DURKHEIM, 2002). Os Fatos Sociais são, portanto, regras gerais construídas socialmente ao longo do tempo e espaço e que por seus procedimentos padronizados constitui uma consciência coletiva – modo de pensar, sentir e agir reconhecidos, aceitos e sancionados pela Sociedade (BITENCOURT; BEZERRA, 2011). Neste sentido, não pode ser modificado pela vontade de um único indivíduo agindo de livre e espontânea vontade a ponto de infringir as regras sociais. Dessa forma, para ser identificado como fato social, é preciso atender a três características: generalidade, exterioridade e coercitividade. Observe o esquema abaixo: Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori27 Atenção! Mesmo que as estruturas organizacionais que regem a Sociedade de determinado tempo e espaço (como as Sociedades Agrária, Industrial e do Conhecimento) variem na sua composição de acordo com o pensamento da época, existem elementos comuns a todas elas. Assim podemos citar como exemplos de fatos sociais: • Instituições Sociais: Com seu poder normativo e coercitivo, designam meios sociais duradouros e estáveis que funcionarão como organização das ações humanas no coletivo, ou seja, controlam o comportamento da pessoa na Sociedade. Podendo ser: (a) Espontâneas – surgem das relações entre os indivíduos – por exemplo: Família; (b) Criadas – foram instituídas para regular, organizar e operacionalizar – por exemplo: Bancos, Igrejas, Política, Escolas e locais designados ao lazer. FATOS SOCIAIS (comuns em toda Sociedade) Consciência Coletiva Comportamento estabelecido pela Sociedade, exercendo determinada força sobre os indivíduos; obrigando- os a se adaptar às regras do lugar onde vivem. co n stitu i Coercitividade Generalidade Exterioridade caracte rística s Induzir, pressionar ou forçar os indivíduos a agirem de acordo com os padrões estabelecidos pela Sociedade. Abrange não somente um indivíduo ou grupo, mas toda a Sociedade. O que não depende do indivíduo para acontecer, ou seja, quando ele nasce a Sociedade já está organizada e cabe a ele aprender e se adaptar. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 28 • Educação: Enquanto fato social, atua como processo de preparação do indivíduo, moldando-o de acordo com a consciência coletiva; assim, todas as Sociedades desenvolvem sistemas educacionais formais; para ensinar as ciências e a cultura de maneira hegemônica, com o intuito de manter o padrão vigente e possibilitar que o indivíduo integre-se ao grupo social. Continuando sob esta perspectiva, podemos falar no conceito de Sociabilidade - o indivíduo aprende na família e nas relações sociais sobre o modo de se comportar da sua Sociedade; mas é na escola que ocorre o processo de aprendizagem chamado por Durkheim como socialização, o que nos dá o sentimento de pertencimento no todo (DURKHEIM, 2002). Vale ressaltar que no século XIX, muitas instituições encontravam-se enfraquecidas, as condições de vida estavam estremecidas: miséria, desemprego, doenças e muitos questionamentos foram levantados, levando ao rompimento de valores tradicionais para o surgimento de novas maneiras de pensar e se comportar. Não à toa que, Durkheim reiterou, que somente com uma escola laica e de valores morais seria possível superar a crise identitária causada pelo Capitalismo. Para Durkheim, uma Sociedade adoecida é como um corpo humano doente que precisa de atenção e cuidados para que volte à situação de coesão e harmonia. Assim, define dois estágios dos fatos sociais: • Fato Social Normal: Aqueles comuns a todos, apresentando pouca variação, ou seja, a Sociedade está funcionando dentro do esperado. • Fato Social Patológico: Ocorre quando os fatos sociais estão “falhando”, ou seja, não há mais controle e coesão por meio deles; o que abre espaço para a marginalidade, criminalidade, violência, corrupção. Dinâmica que ocorre de tempos em tempos Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 29 O fato social patológico deve ser tratado o quanto antes, com a aplicação do Direito e da Justiça, para que a Sociedade não seja acometida pela Anomia – falta de regras claras, sem valores, sem limites – o que pode levar o indivíduo ao desespero, a cometer atos ilícitos (Durkheim, 2002). Sabendo que, em Sociedade o todo está integrado, ou seja, os fatos sociais estão interligados entre si e que qualquer alteração afeta toda a Sociedade; então podemos concluir que tanto os comportamentos ditos maus, quanto os bons influenciam o coletivo. Partindo-se deste pressuposto, podemos enfim falar no conceito de Solidariedade – uma combinação da consciência individual e coletiva, responsáveis pela formação dos nossos valores morais e que exercem influência sobre nossas escolhas, o que nos impulsiona a agir pelo outro. Assim, podemos especificar dois tipos de Solidariedade: • Solidariedade Mecânica: Quando os indivíduos diferem pouco entre si e por se enxergarem como semelhantes, dividindo os mesmos valores e sentimentos, mantém uma coesão social solidária; por exemplo: Sociedades Primitivas (pré-capitalistas); e na Sociedade Contemporânea indivíduos pertencentes a grupos, como os religiosos. • Solidariedade Orgânica: Possui um arranjo mais complexo, pois seus indivíduos se diferenciam entre si, como os órgãos de um corpo, onde cada um possui sua singularidade, mas todos trabalham juntos por um objetivo, manter o ser humano vivo. Assim, podemos afirmar que o que une os indivíduos diferentes entre si é a necessidade de troca de serviços; o que nos leva ao conceito de Divisão do Trabalho Social. O conceito de Divisão do Trabalho Social diz respeito ao modo como os seres humanos se organizam para distribuir as tarefas cotidianas, o que seria responsável por manter a harmonia e a produtividade do sistema social; portanto, para Durkheim, esta divisão consiste mais de princípios morais do que econômicos (DURKHEIM, 1999). O fato social patológico pode ser tratado com punição; mas também, com ações educativas preventivas e com a reparação de danos Fonte: Google Foto: Emile Durkheim Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 30 Na fase inicial das Sociedades humanas, a divisão do trabalho era feita por critérios sexuais e de faixa etária; à medida que a Sociedade foi evoluindo, as divisões sociais no trabalho tornaram-se mais significativas, surgiram as especializações e as especificações do trabalho; ficando as atividades laborais separadas em partes constituintes de um processo produtivo. A divisão social do trabalho, na Sociedade Moderna, possui implicações tanto no processo produtivo, quanto nas dinâmicas sociais; por exemplo: a partir do momento que o processo de trabalho é dividido por tarefas específicas, exige-se do trabalhador um conhecimento próprio para aquele fazer e esse trabalhador ao exercer constantemente a mesma tarefa, alcança um nível de eficiência que aumenta a velocidade produtiva do sistema como um todo, como desejável no Sistema Capitalista de produção. Do ponto de vista das dinâmicas sociais, percebe- se que tamanha divisão específica do trabalho traz como consequência a estratificação social; pois ao se estabelecer diferentes valorizações e níveis de importância sobre as atividades exercidas, o sistema acaba gerando divisão de classes sociais. Justamente a divisão de classes sociais modifica a maneira como os indivíduos se relacionam entre si e os crimes, definidos por Durkheim como transgressões a leis, deixa de ser vertical: população contra o Estado e passa a ser horizontal: população contra população (DURKHEIM, 1999). 3.4 Max Weber (1864-1920) Sociólogo, economista e jurista alemão, Max Weber presenciou a unificação dos reinos de origem germânica em Estado, constituindo a Alemanha. Para Weber, a característica mais importante da Sociedade Moderna é a racionalização, tendo o trabalho, exercido de maneira disciplinada, como uma virtude para se alcançar o sucesso profissional e a salvação espiritual. Buscando compreender a Sociedade por suas condições históricas,culturais e sociais, Max Weber defendia que as mudanças sociais ocorriam por meio das ações sociais – liberdade que os indivíduos dispunham para agir e modificar a sua realidade - observadas nos fenômenos sociais; sendo as ideias, as crenças e os Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 31 valores os principais catalizadores destas mudanças (WEBER, 2009). Destaca-se que a ideia de liberdade, a qual permite fazer escolhas, confere ao indivíduo o status de sujeito-no-mundo, aquele que cria a si mesmo – traço fundamental do Existencialismo. Weber coloca que, para analisar uma situação social é necessário criar um instrumento de orientação, o qual chamaremos de “Tipo Ideal” para então, entender a ação social, do ponto de vista de: qual o sentido que o indivíduo como ator, atribui à sua conduta. Assim, o pesquisador sociólogo, a partir de uma construção mental dos aspectos do que ele deseja observar estabelecerá um parâmetro; por exemplo: para Weber o trabalhador ideal é aquele que exerce com dedicação seu trabalho árduo e que obtém seu sustento a partir deste trabalho (Aron, 2003). Pensando no sentido que o indivíduo dá à sua conduta, as ações sociais podem ser classificadas em: • Ação Social Tradicional: é uma ação motivada pelos hábitos, crenças e costumes • Ação Social Afetiva: é agir de acordo com a emoção, os sentimentos, tais como: orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja, medo etc. • Ação social racional com relação a fins: na busca pelos melhores meios de se alcançar um objetivo, o indivíduo escolhe agir de maneira estritamente racional; por exemplo: Quero emagrecer, então vou fazer ginástica ou Quero passar em um concurso público, então tenho que estudar. • Ação social racional com relação a valores: a ação é norteada pelos princípios e os valores morais do indivíduo (influenciados pela cultura e costumes locais); por exemplo: Não vou roubar porque é errado. Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao outro; assim, algumas atitudes coletivas não podem ser desconsideradas, como os fenômenos sociais intrínsecos a toda Sociedade: O Poder e a Dominação; ambos pertencentes à mesma esfera das relações sociais, um dependendo do outro, mas com significados diferentes. Exemplos: *estudar *rezar *trabalhar *escrever *consumir Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 32 O Poder é a imposição da vontade, pela força física, autoridade ou legalidade, de uma pessoa ou instituição sobre os outros indivíduos e assim, independe da aceitação. O Poder torna-se mais legítimo à medida que alcança mais indivíduos, por isso o Estado tem tamanho controle sobre a população (WEBER, 1991). A Dominação é a aceitação e a subordinação dos indivíduos ao Poder exercido. São três tipos de Dominação legítima: • Dominação Legal: estabelecida entre os indivíduos de uma mesma Sociedade para manter a ordem, a harmonia e a garantia dos direitos individuais; sendo ao Estado instituída a competência para fazer valer as leis, ou seja, a obediência se deve às regras. Exemplos: a Hierarquia Funcional; a Administração baseada em Documentos; a demanda pela Aprendizagem Profissional; o emprego da força por parte do Estado por meio da polícia e do exército contra a população. • Dominação Tradicional: é a moral implícita nas relações, o respeito à tradição; tendo a figura detentora do Poder: professor, o pai na família patriarcal, o líder religioso, o governante como quem vai perpetuar o respeito aos costumes. • Dominação Carismática: é a força de dominação mais instável, pois está ligada às características pessoais do indivíduo, a sua habilidade de comunicação, de mobilizar grande quantidade de pessoas e comandar/ liderar. O líder carismático tem forte Poder de dominação, faz com que os outros vejam nele a esperança por dias melhores, o ponto inicial para uma mudança necessária; e por isso a decisão está nas mãos dele. Exemplos: profetas, grandes líderes políticos, líderes comunitários etc. Um fenômeno social que requer atenção na visão de Weber é o Trabalho. Sob forte influência religiosa do Protestantismo, o trabalho deixa de ser visto como Atenção! Se há quem imponha sua vontade (dê ordens), há quem receba estas ordens. O que poderíamos dizer sobre os influenciadore s digitais na atualidade? Fo n te : G o o gl e A u to r: Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 33 uma condenação e passa a ser a possibilidade de alcançar a glória de Deus, dando um novo sentido a quem dele necessita. Vale ressaltar que o sentido do trabalho é socialmente construído e associado à realidade social, que na Sociedade Moderna condiz ao Capitalismo. Para tanto, Max Weber defende que o indivíduo tenha uma atividade laboral, pois a afirmação da pessoa humana passa pelo trabalho; devendo, assim, todos trabalhar, mesmo que não necessitem financeiramente; afinal o trabalho é o caminho para a conquista da felicidade, do valor desejável, do pertencimento social e, portanto, confere significado à existência humana (WEBER, 1997). 4. Sociologia da Educação As transformações tecnológicas, políticas, sociais e culturais da Sociedade geradas pela Revolução Industrial, também trouxeram transformações intelectuais para o Mundo Moderno, o que redirecionou o discurso pedagógico; pois, se antes a interpretação sobre a realidade se dava pelo sagrado (a figura de Deus) e com o Iluminismo pela centralidade da razão e pela ciência. Agora, a realidade passa a ser heterogênea, reconhecendo a pluralidade do pensamento. Ora, se há pluralidade do pensamento, então significa que cada indivíduo é capaz de fazer por si só uma interpretação sobre a realidade. Mas, lembre-se! O ser humano é um indivíduo social, ou seja, necessita do outro para coexistir, sendo assim, cada interpretação encontra seu limite na perspectiva do outro, ou seja, é na relação com o outro que se abre uma gama de possibilidades de ideias. Assim, surge a nova educação – integrando elementos: crenças, valores, demonstração afetiva, interesses sociais e cenário político, os quais são construídos na interação entre indivíduos – preparando, assim, a formação integral, na sua capacidade física, intelectual e moral; instigando a liberdade de pensamento e criatividade. Eis que, podemos, enfim, falar sobre uma Sociologia “na” e “para” a Educação! Todo este movimento em torno do novo contexto sobre a Educação, surgiu na primeira metade do século XX e pode ser entendido por meio da Deixa de ter enfoque moralista e passa a considerar a alteridade. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 34 Sociologia da Educação – ciência que estuda os processos sociais de ensino e de aprendizagem, compreendendo que a educação se dá no contexto da Sociedade, onde um indivíduo exerce influência sobre o outro. Dessa forma, a Sociologia da Educação fornece instrumentos que auxiliam a pensar o lugar da educação na ordem social, compreendendo sua vinculação com outras instituições: família, comunidade, religião, como se dá a relação entre indivíduos no processo de ensino-aprendizagem e o papel da escola. Entendendo-se a educação como um desses espaços mais importantes para se promover o bem-estar social, ela passa a ser democrática, reconhecida como direito de todos à formação cidadã e para o desenvolvimento de aptidões e habilidades comocondição essencial, para uma mão-de-obra qualificada (FERREIRA, 2006). Neste sentido a Sociologia da Educação se propõe a compreender: • A educação como processo social global • Os sistemas escolares • A escola como unidade sociológica • A sala de aula como subgrupo social • O papel do professor • O papel da escola na formação do indivíduo Vejamos a seguir o que os pensadores clássicos da sociologia diziam sobre a Educação. Walfare States: modelo de Estado assistencialista e intervencionista fundado com base nos direitos sociais. Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 35 4.1 A Educação como Processo de Socialização Èmile Durkheim foi um dos primeiros sociólogos a colocar a escola como uma instituição importantíssima na Sociedade, capaz de desenvolver o senso de disciplina, a noção de pertencimento ao grupo e a autonomia do indivíduo; sendo a responsável por fornecer aos indivíduos o conjunto de regras, valores, atitudes e comportamentos fundamentais para a coesão social (DURKHEIM, 2011). As ideias pedagógicas de Durkheim revelam o caráter conservador da tendência proposta na época; para ele a educação é uma ação exercida pelas gerações adultas sobre as mais jovens, com o intuito de formar indivíduos preparados para tomar parte do espaço público; pois estes somente poderão começar a agir, quando tomarem consciência do contexto no qual estão inseridos, obtendo conhecimento histórico sobre sua origem e sobre as condições atuais. Para tanto, Durkheim defende que a consciência individual seja desenvolvida a ponto de transformar o indivíduo em ser social; mas para isso as Instituições de Ensino devem ser laicas e públicas; sendo o Estado, o órgão regulador e fiscalizador responsável pela educação formal, onde o papel do professor tem o significado social de autoridade formadora de cidadãos capazes de contribuir com a harmonia social, passando o conhecimento de maneira a estabelecer confiança e segurança na relação com o aprendiz, fazendo-se valer de uma Pedagogia fundamentada na Sociologia, a qual determina os fins e na Psicologia a qual determina os meios (ALMEIDA, 2016). Apesar de não ter escrito nenhum documento específico sobre educação, Karl Marx fez referência à educação no processo de desenvolvimento das Sociedades e sua relação com a luta de classes pelo Poder. Para Marx a educação possui uma ligação direta com as relações sociais de produção, uma vez que o trabalhador não precisava mais ter o conhecimento sobre o todo; mas sim se especializar em apenas uma parte para realizar as tarefas na fábrica. Dessa forma, entendendo a atividade laboral como central no processo de formação da Sociedade, Marx coloca que o conhecimento segmentado adquirido pelos operários reforça a alienação, pois de geração em geração aprendem aquele modo Fonte: Google Autor: desconhecido Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 36 de vida, por exemplo: trabalhar para receber salário e se sustentar, percebendo como algo natural, sem perspectiva de mudança. O que reforça a ideologia da classe dominante e a luta entre classes (RODRIGUES, 2004). Sendo assim, podemos entender que esta dinâmica, à sua época, se perpetuava para que a educação não alcançasse o patamar de libertação e emancipação; qualidades atribuídas à educação por Marx. No entanto, para corromper com este ideal, seria preciso que a educação escolar ocorresse em apenas um período, para que no outro o indivíduo estivesse livre para trabalhar, rompendo com a alienação e promovendo a emancipação, ou seja, com uma educação que contemplasse o mental, o físico e o tecnológico (práxis – saber fazer) os filhos dos operários estariam à frente dos filhos da Burguesia que não recebiam esta educação tecnológica (eram ensinados a pensar e não a fazer) e assim, poderiam tomar o Poder. Para Marx Weber a educação vista como parte do processo de socialização torna-se um objeto da contemporaneidade. Weber coloca que o Estado Capitalista precisava de um novo Homem, mais racional para lidar com a burocratização da vida social moderna e, assim, ser educado para a legitimação das regras da vida em Sociedade. Dessa forma, a educação humanista e intelectualizante devem dar espaço a profissionais capacitados; o que chamou de Pedagogia do Treinamento - a qual tem a função de tornar os profissionais especializados em funções específicas de acordo com as necessidades do Estado e das empresas privadas (RODRIGUES, 2004). Neste sentido, entende-se a educação como um sistema que forma de maneira a despertar carisma (capacidade de exercer Poder), preparar para uma conduta de vida (Homem culto) e transmitir conhecimento especializado (para exercer trabalho burocrático) para introduzir o indivíduo em uma atividade no mercado de trabalho. Para Weber, diferente de Marx e Durkheim, infelizmente a educação não é sinônimo de libertação, mas sim um fator a mais para fazer a distinção entre indivíduos, obter honras, Poder e enriquecer, reforçando a estratificação social. Atenção! Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 37 4.2 A Educação na Contemporaneidade Com o advento do Capitalismo e os resultados do pós Segunda Guerra Mundial, a Teoria do Capital Humano – formalizada por Theodore Schultz, buscava mostrar que, países desenvolvidos que foram arrasados na guerra, conseguiram se reconstruir devido os investimentos na área da Educação e Saúde; a Educação deixou de ser percebida como bem de consumo e passou a ser vista como investimento econômico, pois ao aprimorar aptidões e habilidades nos indivíduos, torna-os mais produtivos, o que pode influenciar positivamente as taxas de crescimento e desenvolvimento do país (FERREIRA, 2006). Sob este aspecto, as principais discussões acerca da educação estavam voltadas à problemáticas tais como: mobilidade social, mecanismos de seleção escolar para torná-la mais democrática e as diferenças no processo de escolarização de acordo com a classe social. Assim, a Sociologia da Educação ganhou espaço na construção do conhecimento científico que passa a ser priorizado devido a sua significativa contribuição social; com isso, esperavam-se explicações sobre o processo de reconstrução em plena mudança social e em vias de modernização. No Brasil, o desenvolvimento da Sociologia da Educação foi marcado pelo Movimento Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, o qual deu origem a um documento que serviu como Base da Educação a pedido do então Presidente Getúlio Vargas. Tal Movimento foi um marco do projeto de renovação educacional do Brasil; dentre os intelectuais que participaram, estavam: Fernando Azevedo, Anísio Teixeira e Cecília Meireles os quais contribuíram para a discussão sobre os novos ideais de educação, contra o empirismo dominante, de modo a servir aos interesses dos indivíduos, vinculando a escola ao seu meio social, condicionado pela solidariedade, serviço social e cooperação (FERREIRA, 2006). Para tanto, Sociologia da Educação, enquanto ciência, nas suas pesquisas, buscou definir as taxas de escolarização por categorias socioeconômicas e estabelecer correlações entre o desempenho escolar e os fatores sociais, como: Pesquise mais sobre este assunto! Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 38 idade, sexo, habitar, profissão, nível escolar dos pais, tamanho da família, rendaetc. Contudo, a partir do final da década de 60 com a emersão dos Movimentos Sociais e dos protestos sobre as promessas de estabilidade econômica que não se concretizaram, surgiram novas teorias explicativas sobre a realidade e consequentemente um novo olhar sobre as relações entre escola e estrutura social; o que desencadeou o olhar crítico e os novos caminhos da Sociologia da Educação. Dentre os sociólogos contemporâneos podemos citar o francês Pierre Bourdieu (1930-2002) que se popôs a superar as oposições entre o subjetivo (indivíduo) e o objetivo (sociedade), analisando o social como existindo nas duas modalidades, uma vez que considera as relações familiares, a convivência com a comunidade, os aspectos religiosos e os sistemas escolares como o cenário onde o indivíduo se prepara para viver em Sociedade e por isso o processo de socialização e as relações de aprendizagem são diferentes para cada um, determinando assim, sua percepção e a maneira de agir. Mas, como as estruturas políticas, morais, éticas da Sociedade são incorporadas pelo indivíduo? Bourdieu coloca que a reprodução do pensamento social muitas vezes ocorre de forma inconsciente sem que o indivíduo se dê conta (FERREIRA, 2006). Partindo deste pressuposto, Bourdieu defende que a educação escolar não é de todo democrática, pois ao assumir uma postura imparcial, com critérios de seleção objetivos, ensinando conteúdos pré-determinados baseados nos grupos dominantes está impossibilitando aos estudantes competir de forma igualitária, pois não leva em consideração seus aspectos individuais determinados pela bagagem cultural que carregam consigo (PRAXEDES, 2015). Por exemplo: ensinar arte, somente a partir de obras consagradas e música erudita, ao invés de incluir o grafite e a música de rua. Portanto, se faz necessário refletir sobre o papel da escola e do professor em uma Sociedade que se compromete com a educação emancipadora e igualitária, mesmo que por interesses políticos, não haja respaldo para que o professor de fato atue como educador e não como reprodutor de conhecimento e para que a escola seja lugar de mudança social e não um espaço doutrinador. Fonte: Google Foto: Pierre Bourdieu Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Planaltina - Prof. Fernanda Signori 39 Referências ALMEIDA, A.C.R.; LIMA, J.P.R.; GATTO, M.F. Cultura e Desenvolvimento das cidades – política cultural para quem? P. 36-41. In. Cultura, Cidadania e Política Pública, org. Alvaro Daniel Costa, Editora Atena, 2019. ALMEIDA DE, Felipe Mateus. O conceito de educação nos clássicos da Sociologia. Revista Científica, n.1, v.3, p.117-128, 2016. ARAÚJO, Braulio, S.R. O conceito de aura, de Walter Benjamin e a indústria cultural. Portal de Revistas da USP, v.0, n.28, p. 120-143, 2010. Disponível em: www.revistas.usp.br ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Tradução Sérgio Bath – 6 ed – São Paulo: Martins Fontes, 2003. BERGER, Peter L. Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística. Tradução: Donaldson M. Garschagen, 5ªed, Petrópolis: Editora Vozes, 1980. BEZERRA, Juliana. O que é Sociologia. Toda Matéria. 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