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Hipotireoidismo 1 Hipotireoidismo Status Endocrinologia Resumo Hipotireoidismo é uma condição em que a glândula tireoide está pouco ativa, resultando em uma deficiência de hormônios tireoidianos T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina). Em alguns casos a produção de hormônios pode ser suficiente, mas os hormônios da tireoide podem ter um efeito periférico insuficiente. O hipotireoidismo pode ser congênito ou adquirido. Quando congênito, é geralmente resultado de displasia ou aplasia da tireoide. A etiologia do hipotireoidismo adquirido é tipicamente autoimune Tireoidite de Hashimoto) ou iatrogênica. A patofisiologia do hipotireoidismo é caracterizada majoritariamente por uma redução da taxa metabólica basa e mixedema generalizado. Os achados clínicos típicos são fadiga, intolerância ao frio, ganho de peso, edema periorbital. Manifestações mais severas incluem doença cardíaca e coma mixedematoso, que pode ser fatal se não tratado. Hipotireoidismo 2 Crianças com hipotireoidismo congênito geralmente apresentam hérnias umbilicais e, sem tratamento precoce, desenvolvem síndrome da deficiência congênita de iodo (deficiência intelectual e diminuição do crescimento). O screening neonatal para hipotireoidismo 2448h após o nascimento é obrigatório por lei em diversos estados. Em adultos, o diagnóstico é estabelecido baseado no hormônio estimulante da tireoide TSH sérico e níveis de T4 livres T4L. O tratamento tanto para o adquirido quanto para o congênito consiste na utilização de levotiroxina L-tiroxina) e check-ups regulares para monitorar a atividade da doença. Etiologia Hipotireoidismo congênito Esporádico 85% dos casos): Hipoplasia da tireoide, displasia ou ectopia Aplasia da tireoide Transmissão transplacentária de anticorpos antitireoidianos maternais Deficiência de Iodo Hereditário 15% dos casos): Bócio dishormonogenético: defeito na síntese de hormônio da tireoide (comumente a tireoide peroxidase) que leva à hiperplasia da tireoide e bócio Resistência periférica aos hormônios tireoidianos Hipotireoidismo adquirido Primário: produção de hormônio tireoidiano insuficiente Tireoidite de Hashimoto: causa mais comum de hipotireoidismo em regiões iodo-suficientes. Associada com outras doenças autoimunes (diabetes, vitiligo, anemia perniciosa, lúpus eritematoso sistêmico). Tireoidite pós-parto (tireoidite linfocítica subaguda) Tireoidite De Quervain (tireoidite granulomatosa subaguda): geralmente subsequente à síndrome gripal Iatrogênica: pós tireoidectomia, terapia com radio iodo, medicação antitireoidiana (amiodarona, lítio) Nutricional (ingesta insuficiente de iodo): a causa mais comum de hipotireoidismo ao redor do mundo Tireoidite de Riedel: doença sistêmica relacionada à IgG4 Efeito Wolff-Chaikoff Hipotireoidismo 3 Secundário: desordens pituitárias (adenoma pituitário) → deficiência de TSH Terciário: desordens hipotalâmicas → deficiência de TRH Patofisiologia Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide O hipotálamo, glândula pituitária anterior e a glândula tireoide, com seus respectivos hormônios, compreendem um circuito auto-regulado chamado eixo "hipotálamo-hipófise-tireoide" Hipotireoidismo primário: desordens periféricas → T3/T4 não são produzidos (níveis ↓) → compensação ↑ TSH Hipotireoidismo secundário: desordens pituitárias → ↓ níveis de TSH → ↓ níveis T3/T4 ↓ Hipotireoidismo terciário: desordens hipotalâmicas → ↓ níveis de TRH → ↓ níveis de TSH → ↓ níveis de T3/T4 Regulação da síntese do hormônio da tireoide Processos com alto gasto de energia (estresse, atividade física ou frio) estimulam a liberação do hormônio liberador de tireotrofina TRH do hipotálamo. TRH alcança a adeno-hipófise, estimulando a liberação de hormônio estimulante da tireoide TSH, que, então, estimula a síntese e liberação de T4 e T3 na glândula tireoide. Hipotireoidismo 4 T4 e T3 se ligam às proteínas de transporte globulina ligadora de tiroxina TBG, pré-albumina ligadora de tiroxina TBPA e albumina, para serem transportados na corrente sanguínea. T4 e T3 (assim como outros hormônios, incluindo a somatostatina, glicocorticoides e dopamina) ocasionam um feedback negativo no TSH e no TRH. Deiodinase do tipo I e II DIO1, DIO2, localizadas predominantemente no fígado, rins, células musculares e na glândula tireoide, catalisam a conversão de T4 (relativamente) inativo em T3 biologicamente ativo. Deiodinase do tipo III DIO3, presente na placenta e no SNC, catalisam a conversão de T4 em T3 reverso biologicamente inativo (rT3). Os receptores de hormônios da tireoide são fatores de transcrição, que regulam a expressão genética de certas proteína, assim, mediando os efeitos dos hormônios tireoidianos em um nível celular. Efeitos do hipotireoidismo Decréscimo da taxa metabólica basal → decréscimo de oxigênio e consumo de substrato, que ocasiona: SNC apatia, problemas de cognição Pele e apêndices: pele seca, alopecia, madarose Perfil lipídico: ↑ lipoproteínas de baixa densidade, ↑ triglicerídeos Intolerância ao frio Decréscimo da atividade simpática que leva à: Diminuição da sudorese Pele fria (devido ao decréscimo de fluxo sanguíneo) Constipação (devido ao decréscimo da motilidade intestinal) Bradicardia Decréscimo da transcrição de genes do sarcolema Ca+ ATPases) → decréscimo do débito cardíaco, miopatia Hiperprolactinemia: ↑ prolactina estimulada pelo TRH → supressão de LH, FSH, GnRh e testosterona, e estimulação de crescimento de tecido mamário Mixedema: acumulação de glicosaminoglicanos e ácido hialurônico na camada reticular da derme Mucopolissacarídeos de proteínas complexas se ligam à água → edema sem depressão (sinal de Cacifo / godê negativo) Hipotireoidismo 5 Inicialmente o edema é pré-tibial e conforme a progressão da condição, se generaliza, resultando em um espectro de sintomas Controle do feedback hormonal de hormônios não-trópicos Os hormônios de liberação não-trópicos são liberados no hipotálamo 1 para o sistema portal da glândula pituitária anterior (adeno-hipófise, 2. Nesse local os hormônios GH, MSH (hormônio estimulante de melanócitos) e a prolactina são liberados. Isso estimula a secreção de hormônios nos órgãos-alvo: GH leva à secreção de fator de crescimento semelhante à insulina 1 IGF1 no fígado, que tem efeito anabólico nos ossos e nos músculos 3. Na pele, o MSH estimula a produção de melanócitos 4. Prolactina estimula o crescimento e lactação das glândulas mamárias 5. Os hormônios inibidores também são liberados no hipotálamo e subsequentemente chegam à glândula pituitária anterior, onde causam a inibição dos hormônios não-trópicos. GnRH = growth hormone-release hormone = hormônio de liberador de gonadotrofina, TRH = thyrotropin-releasing hormone = hormônio liberador de tireotrofina, MSHRH = melanocyte-stimulation hormone-releasing hormone= hormônio liberador do hormônio estimulador de melanócito, MSHIH = melanocyte-stimulation hormone-inhibiting hormone = hormônio inibidor do hormônio estimulador de melanócito, Dop = dopamine = dopamina) Manifestações clínicas Hipotireoidismo 6 Sintomas gerais relacionados ao decréscimo da taxa metabólica Fadiga, diminuição da atividade física Intolerância ao frio Diminuição da sudorese Perda de cabelo, unhas quebradiças e pele seca e fria Ganho de peso Constipação Bradicardia Miopatia, mialgia, enrijecimento, câimbras Sinal de Woltman: atraso no relaxamento dos reflexos tendíneos profundos → também associado com idade avançada, gravidez e diabetes mellitus. Síndromes de aprisionamento (como a Síndrome do túnel do carpo) Sintomas relacionados ao mixedema Pele com textura fofa, aparência inchada Doença cardíaca mixedematosa (cardiomiopatia, bradicardia, dispneia) Voz rouca, dificuldade de articulação de palavras Edema pretibial e periorbital Coma mixedematoso Sintomas de hiperprolactinemia Ciclos menstruais anormais (amenorreia secundária, menorragia) Galactorreia Bócio (na tireoiditede Hashimoto) ou tireoide atrófica Hipotireoidismo congênito Crianças com hipotireoidismo congênito podem apresentar diversos sinais e sintomas além dos típicos sintomas em neonatos. Pós-parto: Hérnia umbilical Icterícia neonatal prolongada Hipotonia Decréscimo da atividade, dificuldade de alimentação, adipsia Choro rouco, macroglossia Hipotireoidismo 7 Síndrome da deficiência de iodo congênita: complicação do hipotireoidismo congênito que leva ao atraso no desenvolvimento do cérebro e esqueleto, resultado em anormalidades esqueléticas (baixa estatura e atraso no fechamento das fontanelas) além de deficiências intelectuais. 💡 A maioria das crianças com hipotireoidismo congênito não tem sintomas ao nascimento porque a placenta supre o feto com hormônios tireoidianos maternais. Por isso, o screening neonatal é vital quando as crianças são assintomáticas. Deficiências intelectuais irreversíveis podem ser evitadas com o início precoce da terapia adequada. Diagnóstico Hipotireoidismo congênito: screening neonatal para medir os níveis de TSH 24 - 48 h após o nascimento. Níveis aumentados de TSH indicam a patologia. Hipotireoidismo adquirido: determinar níveis de TSH, que podem ser acompanhados dos níveis de T4L para confirma a suspeita diagnóstica. Visão geral das modificações nos níveis hormonais Outras considerações diagnósticas Combinação das três ferramentas diagnósticas pode ser útil para diferenciar entre diferentes condições afetando a tireoide, como diferenciar hipotireoidismo exógeno de endógeno. Testagem de anticorpos Tg Ab (tiroglobulina) e TPO Ab (tireoide peroxidase): detectáveis na maioria dos pacientes com hipotireodismo autoimune TRAb (receptor de TSH Detectar anticorpos contra o receptor de TSH Teste de captação de iodo radioativo Hipotireoidismo 8 Mede a proporção de iodo exógeno que é utilizada pela tireoide Ultrassom da glândula tireoide Medir tamanho, estrutura, corrente sanguínea Condições associadas Hipercolesterolemia (↑ LDL, hiperlipidemia, ↓ glicemia) ↑ creatina-quinase Anemia leve Possivelmente hiponatremia Diagnóstico diferencial Síndrome do doente eutireoideo (síndrome da doença não-tireoidiana) Etiologia: doentes severos ou sob estresse físico severo Patofisiologia Função normal da tireoide → sem sintomas de hipotireoidismo / hipertireoidismo Citocinas (p. ex. interleucina 6 ocasionam diversas mudanças nos níveis de TSH e hormônios tireoidianos circulantes. Atividade das enzimas deiodinases alterada ↓ Conversão de T4 para T3 ↑ Conversão de T4 para T3 reverso (rT3) ↓ Globulina ligadora de tiroxina Características clínicas: específicas para doenças não tireoidianas subjacentes Laboratório Síndrome do T3 baixo Síndrome do T3 e T4 baixos Tratamento Tratar doença subjacente Reposição de hormônio tireoidiano Resistência ao hormônio da tireoide Sensibilidade insuficiente do órgão-alvo Etiologia: déficits no metabolismo dos hormônios da tireoide ou na interação do receptor, resultado de mutações genéticas Hipotireoidismo 9 Características clínicas: sintomas tanto de hipo quanto de hipertireoidismo são possíveis Laboratório: níveis de T4L e T3L persistentemente aumentados e ausência de supressão de TSH Tratamento: sem tratamento disponível Tratamento Reposição de L-tiroxina L-tiroxina / liotironina Reposição durante toda a vida Indicada para hipotireoidismo e mixedema Efeitos colaterais: sudorese, intolerância ao calor, tremores, perda de peso, taquicardia, palpitações, arritmias, dores no peito Interação medicamentosa: Necessário aumento de dosagem: estrogênio, omeprazol, carbonato de cálcio, fenitoína, carbamazepina, propranolol Necessária redução de dosagem: glicocorticoides Follow-up: controle laboratorial da função do TSH Considerações especiais Crianças com hipotireoidismo congênito: normalização dos níveis de hormônios tireóideos dentro de 23 semanas é vital para prevenir dano cerebral e desordens do desenvolvimento Mulheres grávidas com hipotireoidismo preexistente: as doses de Levotiroxina devem ser aumentadas, mas após o parto devem ser reduzidas aos níveis pré-gravidez Pacientes anoréxicos: hormônios tireoideanos sintéticos às vezes são utilizados para atingir perda de peso Hipotireoidismo 10 Pacientes idosos ou com doenças cardiovasculares preexistentes: inciar levotiroxina com uma dosagem menor e ir aumento gradualmente Reposição de L-tiroxina no hipotiroidismo subclínico se: TSH ≥ 10 mU/L TSH 7,0 - 9,9 mU/L em pacientes assintomáticos com 70 anos TSH acima do limite máximo de 6,9 mU/L em pacientes sintomáticos com < 70 anos Complicações Coma mixedematoso O coma mixedematoso é uma condição rara causada pela descompensação dos hormônios da tireoide e pode ser desencadeado por infecções, cirurgia e trauma. É potencialmente fatal, se não for tratado, em 40% dos casos Apresentação clínica Sintomas cardinais: status mental prejudicado, hipotermia, mixedema Hipoventilação com hipercapnia Hipotensão (possivelmente choque) e bradicardia Diagnóstico TSH e T4 Cortisol Hipoglicemia e hiponatremia ↑ CK e LDH ECG complexo QRS com baixa voltagem, onda Q achatada ou invertida Análise de líquor: leve ↑ proteína Tratamento Combinação de levotiroxina e liotironina mais hidrocortisona IV Monitoramento na CTI Outras complicações Linfoma primário de tireoide Risco cardiovascular aumentado Síndrome do túnel do carpo
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