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Filarídeos Humanos Introdução Os filarídeos humanos consistem de um conjunto de nematódeos de aspecto delgado (filarióide), que geram embriões e podem causar doenças em humanos. Outra característica desses vermes é que as fêmeas produzem embriões e não colocam ovos como outros nemátodes. Taxonomia: entre os filarídeos, destacam-se Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori, causadores da filariose linfática (apenas o W. bancrofti se encontra no Brasil); Onchocerca volvulus, causador da oncocercose; Mansonella ozzardi, causador da mansonelose e Dirofilaria immitis, causador da dirofilariose. Filariose Linfática Introdução A filariose linfática é uma doença crônica que, nas Américas, é causada pelo Wuchereria bancrofti, sendo conhecida popularmente como ‘’elefantíase’’. Até pouco tempo, era endêmica de várias áreas no Brasil, sendo uma importante causa de incapacidade física. Histórico: as microfilárias foram inicialmente descritas por Desmarquay na linfa escrotal. Wucherer foi responsável por identificá-las, enquanto Silva Lima descreveu a doença na Bahia até que Bancrofti recebeu destaque pela descrição do verme adulto. Epidemiologia: a filariose ainda é endêmica em diversos locais do mundo, tendo sido controlada em estados como Alagoas desde 2006, após sucessivas campanhas de combate ao vetor e diagnóstico dos doentes. Morfologia Vermes adultos: o verme macho possui cerca de 4 cm e 0,1mm de diâmetro, possuindo a extremidade posterior enrolada ventralmente. Já a fêmea possui cerca de 8 a 10 cm, tendo um maior diâmetro Microfilárias: forma que possui movimentação ativa na corrente sanguínea do hospedeiro e se caracteriza por apresentar uma membrana externa que serve como uma bainha flexível, o que a diferencia de outros filarídeos. Larvas: são as formas encontradas no vetor, em que evoluem da forma L1 para L3 (infectante) até chegar ao homem e se desenvolver como vermes adultos. Ciclo Biológico Habitat: são vasos linfáticos e gânglios, nos vermes adultos, em especial das regiões pélvica, abdominal e membro inferior. Já as microfilárias saem do sistema linfático para o sangue periférico. Periodicidade: ainda não se sabe a razão exata, mas as microfilárias possuem preferência para a corrente sanguínea no horário noturno, coincidindo com o horário de hematofagismo da fêmea do Culex quinquefasciatus. Ciclo biológico: quando há microfilaremia, o C. quinquefasciatus, no período noturno, ao realizar a hematofagia, captura os embriões. Após 15-20 dias (correspondendo a mais da metade da vida do vetor), esses embriões formam larvas que passam pelos estágios L1, L2 e L3, tornando-se infectantes para o homem. Em um novo hospedeiro, os vetores realizam a hematofagia e, nesse momento, há escape da forma larvária e essa penetra na solução de continuidade, se tornando, meses depois em vermes adultos macho e fêmea (7 a 9 meses) que copulam e habitam os vasos linfáticos. Transmissão: a transmissão é vetorial realizada pelo Culex quinquefasciatus (‘’pernilongo’’), podendo ser transmitido por algumas espécies do gênero Anopheles, o que adquire importância na região norte. Manifestações Clínicas As manifestações clínicas abrangem um espectro que inclui casos assintomáticos/subclínicos, formas agudas, formas crônicas ou eosinofilia pulmonar tropical. O período de incubação pode durar até a formação do verme adulto (9 meses) ou após sua morte (8 anos). Assintomáticos: são indivíduos que apresentam achados imaginológicos de danos nos vasos linfáticos, embora não haja sintomatologia aparente, sendo uma condição subclínica.Tais indivíduos possuem alta microfilaremia. Agudo: apresenta linfangite filarial aguda (em especial epitroclear, inguinal e axilar), linfadenite, funiculite (inflamação funicular espermática) e orquiepididimite. Também pode ocorrer linforragias, linfangiectasias e pequena quantidade de edema. O acometimento é centrífugo, e vai da raiz do membro para a extremidade. Crônico: se caracteriza pelo linfedema por obstrução dos linfáticos, hidrocele (acúmulo líquido escrotal), quilúria (derramamento de linfa na via urinária) e elefantíase, que é o aumento exagerado dos membros, associado com a fibrose após o edema repetitivo, podendo ser irreversível. A microfilaremia pode ser baixa, pois a doença pode ocorrer após a morte do verme adulto. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Filarídeos Humanos Eosinofilia pulmonar tropical: hipersensibilidade pela resposta aos filarióides, o quadro é semelhante à asma. Diagnóstico O diagnóstico clínico pode ser dificultado, uma vez que a doença é espectral, embora a eosinofilia e os achados de imagem possam direcionar a investigação. Diagnóstico laboratorial: pode ser feito com a detecção das microfilárias através dos métodos da gota espessa, da concentração por filtração (na baixa microfilaremia) ou pelo método de Knott. Há testes de detecção do antígeno (possíveis reações cruzadas com filarídeos) e os vermes adultos podem ser visualizados através da biópsia dos linfonodos ou ultrassonografia de testículo e mamas (importante também no acompanhamento). Tratamento Feito com o citrato de dietilcarbamazina - DEC (6 mg/Kg/dia por 12 dias), podendo ser repetido até o desaparecer da parasitemia. Geralmente se associam DEC, ivermectina e albendazol, tratando também outros parasitos. Na forma crônica, o tratamento é inespecífico (higienizar as áreas), fisioterapia e cirurgias. Profilaxia Feita com a diminuição da morbidade, tratamento de infectados (reduzindo a transmissão) e combater o vetor (interrompendo a transmissão). Oncocercose Introdução A oncocercose ou ‘’cegueira dos rios’’ é uma doença causada pelo Onchocerca volvulus, um parasito de tecido subcutâneo, acometendo principalmente o continente africano e, no Brasil, ocorre na região norte. Epidemiologia: a doença se encontra presente em 38 países, 31 dos quais se encontram no continente africano, que concentra 99% dos casos da doença. Morfologia Verme adulto: helmintos filiformes que vivem enovelados. As fêmeas possuem entre 30 e 50 cm e os machos de 2 a 4 cm. Microfilárias: apresentam tamanho semelhante às do W. bancrofti, porém não possuem a bainha flexível, circulando nos linfáticos da pele por até 24 meses. Ciclo Biológico Habitat: os vermes adultos costumam se manter juntos em nódulos fibrosos no subcutâneo ou no tecido ocular, enquanto as microfilárias circulam na linfa. Ciclo biológico: assim como o anterior, consiste em um ciclo heteroxênico em que o vetor do gênero Simulium capta as microfilárias, que se desenvolvem em larvas L1, L2 e L3, que se deslocam para a probóscide do vetor e infectam novos hospedeiros, formando os adultos, que migram para o subcutâneo onde realizam a cópula e liberam os embriões (microfilárias), reiniciando o ciclo. Transmissão: também se procede por via vetorial através do ‘’borrachudo’’, artrópodes do gênero Simulium como S. guianense, S. roraimense e S. oyapockense. Manifestações Clínicas As manifestações clínicas se dão através de lesões de pele, nódulos cutâneos denominados oncocercomas, lesões linfáticas e lesões oculares. Também podem haver pacientes assintomáticos. Oncocercomas: são chamados nódulos oncocercóticos, que ocorrem quando a resposta imune contra esses parasitos pode gerar uma estrutura fibrosa que reveste a lesão, possuindo tamanho entre 1 e 8 centímetros. No geral, o centro da lesão alberga vermes vivos que produzem microfilárias e o crescimento do nódulo pode gerar compressão. Lesões cutâneas: consiste na dermatite oncocercosa ou oncodermatite, que é promovida pela migração das microfilárias pelo conjuntivo da pele, em que podem gerar prurido intenso pela migração ou morte das microfilárias. Também pode haver hiperqueratose e fibrose do epitélio devido a essas agressões constantes. Lesões oculares; a migração das microfilárias pode atingir os olhos, o que promove conjuntivite, edema palpebral, escleroceratite, iridocileite, coriorretinite difusa degenerativa e lesões do nervo óptico e cegueira. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Filarídeos HumanosLesões linfáticas: consiste no infarto dos linfonodos próximos à lesão, associado a adenopatias. Pode haver linfedema pela obstrução e fibrose na área atingida. Diagnóstico O diagnóstico clínico-epidemiológico é bastante útil na investigação diagnóstica, podendo envolver o exame oftalmológico. Diagnóstico parasitológico: pode-se realizar a biópsia da pele, extirpação dos oncocercomas, além da Prova de Mazzoti (teste terapêutico com o DEC, verificando-se prurido após a administração nos pacientes infectados). Há ainda exames imunológicos e moleculares, embora possa haver menor sensibilidade. A gota espessa não é viável, pois as microfilárias não circulam no sangue. Tratamento Pode ser feito com a nodulectomia, enquanto que o tratamento farmacológico é com o uso de dietilcarbamazina associada à ivermectina. Profilaxia O homem é o único reservatório, de forma que se preconiza o combate ao vetor, tratamento em massa dos doentes e uso de inseticidas e larvicidas biodegradáveis. Mansonelose Introdução A mansonelose é uma possível doença causada pelo Mansonella ozzardi, um parasito que é encontrado nas mesmas zonas endêmicas que o Wuchereria bancrofti, sendo um possível diagnóstico diferencial. Morfologia Verme adulto: a fêmea apresenta tamanho entre 6-8 cm, e o macho é menor, possuindo entre 2,5 e 3 cm. Microfilária: apresenta tamanho menor que o do W. bancrofti mas não apresenta a bainha flexível. Ciclo Biológico Habitat: os vermes adultos foram encontrados no mesentério e no conjuntivo subperitoneal, além das serosas da cavidade abdominal. Ciclo biológico: se procede de forma semelhante ao do Onchocerca volvulus, envolvendo os vetores do gênero Simulium como S. amazonicum, S. guianense e S. oyapockense, além de Culicoides sp em outros países. Manifestações Clínicas, Diagnóstico e Tratamento Trata-se de um parasito pouco estudado, então há dúvida sobre se os relatos de artralgia, frieza nos membros inferiores, adenite inguinal, placas e cefaleia se tratem de uma doença própria ou de uma associação casual. De todo modo, o diagnóstico é semelhante ao da filariose linfática e seu tratamento foi feito com ivermectina. Dirofilariose Introdução A dirofilariose é uma condição causada pelo Dirofilaria immitis, um parasito que acomete principalmente os cães mas que acidentalmente pode parasitar o ser humano. Essa condição é mais comum em ambientes tropicais e, no cão, pode acometer o músculo cardíaco em uma doença denominada ‘’verme do cão’’ Morfologia Os vermes adultos de Dirofilaria immitis são semelhantes aos demais filarídeos, sendo o macho menor em relação à fêmea (aproximadamente metade do tamanho) e não havendo bainha flexível na microfilária. Ciclo Biológico Esse ciclo é heteroxênico, havendo a captação de microfilárias caninas pelo vetores dos gênero Culex, Anopheles e Aedes, nos quais se desenvolvem as formas infectantes que podem ser transmitidas aos cães ou acidentalmente aos humanos. Nos cães, o ciclo se completa com o parasitismo cardíaco e microfilaremia. Manifestações Clínicas, Diagnóstico e Tratamento No homem não se desenvolve a forma adulta do verme, que geralmente morre e gera uma reação granulomatosa subcutânea (assintomática) ou pulmonar. No pulmão, gera pequenos infartos que podem ser assintomáticos ou passar com tosse, insuficiência respiratória, tosse com escarro hemoptóico e, possivelmente, eosinofilia. Diagnóstico e Tratamento: a condição não é de simples detecção por métodos laboratoriais, sendo geralmente feito por exames radiográficos, em que se verifica ‘’lesão em moeda’’. Deve-se considerar diagnósticos diferenciais como tuberculose, embolia pulmonar e histoplasmose. Não há terapia específica. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Filarídeos Humanos