Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
I..V.L..LV~.La.u.a Brasileira em Perspectiva 981.0072 H673 6.ed Historiografia Brasileira e m Perspectiva '·C bam. 981.0072 H673 6.ed Titult>: Historiografía brasileira em Per~pectiva ¡ . 1 ~ 1~11 111111111111111111111111111111111111111111111111 90011 Ac. 17565 hltll~RJ N" Pat.:2016/20 10 l___ ___ ____, HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA Marcos Cezar de Freiras (org.) Laura de Mello e Souza- Laima Me~gravis Maria Odila L. Silva Dias - lzabel A. Marzon Suely Robles R. Queiróz- Maria de Lourdes M. Janotti Claudio Baralha - Vavy Pacheco Borges Maria Helena R. Capelato - Mary Del Priore Maria Srella M. Bresciani - Paulo Miceli Kazumi Munakara - Marisa Lajolo Marra ~1. Chagas de Carvalho - Leandro Konder Jorge Coli - Renato Janine Ribeiro ~~~ .co'f-~ ~6~? 6·; . J~·' <@] editoracontexto Ct>pyrig/Jf({) 1998 do, autor~s T')dos os dlrdt05 Uelta cd.,Jo rcscn,¡Jo,:. Lditora Comcxw (W•tora l'•n~kr 1 tJ~.) Or¡:.u;:::.1¡.1o .\l~r<Os CctM J •. lrcítJ\ DitlJTtlJI."tl,llcJ lúlmlu ,\ l.uconJc~ de 01" crr a Rn·1.Jo .\ bm.1 Leal Apparccidal'crcir,¡ ,\lorcir;~ Dados lnrerna,ionars de C~raloga~lo na Public;t\ao (CII') (C.lmara Br,Hilcira Ju l.ivro, SI~ BtJ\11) Frerras. 'v1arcos Cet<tr. Hisrorrografi.t brasile.ra clll pcrspcuiva 1 \iarcm C:czar de Freira~ (org) 6. ed., P retmprcss~o ~ito l'.udo ' Contexw, 2007 Bibl iografia ISBN 85-7244-088-7 l. Brasd- Hi;rót i.t. 2 Brastl - Hisró11a - Hísto11ografia l. Freiras, Mar~o~ Cez.tr de. 98-0499 CDD- 981007.2 1 F R R J - NOVA /GUACU fndJGes para '•dlogo \Ístcm.lttco· 1 Brast l Hiqonografia 981.0072 2 Hmoriografi.t: BrJ~íl 98 10072 Registro ata .... 'JS!._../ ... ?.~_} ..1Q____ E1>11 ORA Co.-. 1 !eX 1 t> g : ....... . Di retor cdnorial:fizmu f'mslcy x.: ~~ ·;.. '11·~e:'"'=="--=l)~-------l Rua Dr. Jo~¿ l:.lt.ll. 520 . Alto d.t L.tpa ~ · · .. :t..'>!. ~----.. ·--- 05083-030- ~lo Paulo- '1' ngem; --- l'.~sx. 111) 3832 5838 roe es so; ....... J:133.{Qj ....... - con te\to@ed i toratonrexru com .br _ W\\'Y..cdtcor~wntcxto lOm.br ToCF P101bida 1 rcprodu~áo tot.d ou p.~rti.ll. 0< infrarores ser5o proce.\,Jdm nJ lnnnd dJ let ...-·~ J#l.. ............... ' SUMÁRIO lntrodu~ao, 7 Marcos Cezar de Freitas PARTE 1 - HISTORIOGRAFIA BRASJLEfRA: OS OLHARES SOBRE AS FONTES Aspectos da Historiografía da Cultura sobre o Brasil Colonial, 17 Laura de Mello e Souza A Sociedade Brasileira e a Historiografía Colonial, 39 Laima Mesgravis Sociabilidades sem História: Votantes Pobres no Império, 1824- J 88 J, 57 Maria Odila Leite da Silva Dias O fmpéno da Revolu~ao: Matrizes Interpretativa ... do ... Connitos da Sociedade Monárquica, 73 habel Andrade Marson Escravidao Negra cm Debate, J 03 Suelv Robles Reis de Queiróz O Diálogo Convergente: Políticos e Historiadores no Início da Repúbl ica, 1 19 Maria de ú;urdes Monaco Janotti A Historiografia da Classe Operária no Brasil: Tn*tória e Tendencias, 145 Clcíudio H. M. Bata/ha Anos Trinta e Política: História e Historiografía. 159 Vavv Pacheco Borges Estado Novo: Nova~ Histórias, 183 Maria Helena Rolim Cape/ato PARTE II - HJSTORIOGRAHA RRASILFJRA NOVAS f'ONTcS PARA NOVOS OLHARF.S Hi.,tória da., Mulheres: A~ Vo¿es do Silencio, 217 Mary Del Pri01·e Hi'itória e Htstoriografia da., Cidades. um Percurso. 237 Maria Stella M. Brescwnni Sobre Hi'>tória. Braudel e o~ Yaga-lumes. A EscoJa dos Annales e o Brasil (ou \ice-versa)_ 259 Paulo Miceli Hi.,t6rias que os Ltvros Dtdáticos Contam. Depois que Acabou a Ditadura no Brasil, 271 Ka::umi Munakata RegiOnalismo e História da Literatura: Quemé o Vilao da História?, 297 Marüa ú~jo/o A Conflgura\ao da Historiografia Educacional Brasiletra, 329 Marta Maria Chaga'i de Carvalho Htstória dos lnrelectuais nos Anos 50. 355 Lealldro Konder A Ptntura e o Olhar sobre Si: Víctor Meirelles e a Invcn¡yao de uma Históna Visual no Século XIX Brasileiro, 375 lorf!.e Co/i Iracema ou a Funda9ao do Brasil, 405 Renatv Janine Ribeiro Notas. 415 6 PARA UMA HISTÓRTA DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA Marcos Cezar de Freitas (usn A htstóna do cerco de Ltsboa, por um tnstante. eMeve ¡¡.., m.lo" <k Raimundo Silva. o revi..,or a qucm Saramago torturou com a htpótese de que a inser~ao de uma pala\ ra - u m ll{tO e m meto a uma reconstituir,;:ao histónca, oca::.ionaria a revt.,ao de todo o fato. ou ~c¡a da própna hi.,tória do cerco. Naquele in~tante, v da dú1•ida. ocorria ao revi~or a po..,..,e de um poder cujo exercício podcria facultar a obltterac;:ao da memória já cristalizada ~obre a cidade cercada. A dúvtda, aos poucos, pa~sou a \Cr a .'>en-:a¡;ao de posse !>Obre o lato em ~ ._ Quando se acredita na existéncia de tal poder supoe-se também ser vcro~sítml po..,.;uir autoridade sobre a permanéncia do<; senttdo'i sociais dos fatos reorgani7ado!> no carpo de u m texto. Seria o senhor da narrac;:ao tJmbém o senhor do fato? No in~tante <;eguinte, o da conspirarüo. quando num gesto de rebeldta acreo;centou o 1uio indevtdo a na~ra~iío, oconeu-lhc que a atttude repre\entava a garantía de autonomta do leitor sobre o faro A exi-;tcncia e a permanéncia de um e de outro (intérprete e hi..,tória) independiam da.., formas através da~ CJUiJÍ'-o ,..,e reconheciam um 110 outro Tal independéncia recíproca era, contudo, inst<1vcl e efe mera. Isso porque no terceiro 1 n<;tante, o da proclamufriO da .fw \(/. recompuseram-se a integridade do fato - como entidaJc alheia as conspira~ñe .-; da narrativa, e a autoridade do historiador- como preceptor único da possibtlidadc de um nüo ocupar o lugar de um sim, ou vtce-vcr\a. Ao tevisor insurrecto rc:-.tava tornar a SOiidao de Slltl lida e detxar que lmtort:ldOr e história prOS'>CguÍ-..\em '.CU\ caminhos (cf S.tramago. 1989). Ao hi'-.!onadot n::tornava a autoridade \Obre o acontectdo. Ao historiado• de ofícto, a fabulac;iio de Saramago ~ugerc a pre-;en~a fanta<,magórica do mmt!acru a as~ombt at permanentemente suas prált<.:a' A realidade ca~oa do profissional da hi::.tórin testando a Lenactdade de seus olhos. 1::-;o;a ca~oada pode ser mclhor entendida se for comparada as metüforas que a literatura no~ oferece. Lembrcmo~ Macando: Os únu.:o~ c.:a~o~ de cla'i!.ilic.:.u,:iiu tmposstvcl cram os de Jose Arcadto e 1\urcilano Segundo. roram t:lll parecidos e trave<;<;OS durante a inf;\nc.:i.l que nema pr6pna S.mt.l '-iofia de la Ptedad o<; 7 potha J¡st•nguir N11 d1a do hauzado, Amaranta t.:olllt.:ou nclcs u' pubcna' com o' rcspcctl\<h nnm•·" ., ' "t" .liU os d)lll nn1p.c~ de coreo; thl"crentcs. marcada' com ,¡, nu~o:•a•s de t.:ada um. mas quando comt•c;a•am a ir ¡-, escola nptaram por tro~:ar a rnupa e as pul ... c.;¡ras e ,1 se t.:h,un;u cm ele-; rncsm<l' com os ll<lliiC' au con u <ÍIIO O mcstrc Mckhor ~~~cnlona. acnqumado a LonhcccJ Jo,é A1t.:.1dio Segundo pela camtsa \Ctdc. pcrdcu ,\s c<;tnhenas quando 1k~cohnu que este tratia a pubctra de \urcliano Scguml11. L' que o outro dJtJ.I que.; 'l t.:halll<L\"<t clllretanto. 1\ureltann Segundo a pesar de '<>llr .1 carm'a hrnnca e trazc¡ a pulscira maJctda ..:om o nonte de lose Arc:-ttllu Segundo A pat tlr daí nao se ... ahJ,\ m.11s com c.:ellc~:a quem crn que m. Mcsmo quando ncst·eram e a \ida m ltll no u d1 fe¡ entes, ( 1r:-ula cuntmuava .1 se pcrguntar se ele~ mesmos n;to tcnam t.:omctJdo um erro cm alg,Jm nmmento do \CU mtnneado Jogo de cqutvocos e nao tcriam lkadn trocados para sempre. Até o princíp1o da adole~ccncia. fnram do1s mecanJ\1110S siJH.:r6nicos. J\corclavam ao mc~mo tempo [ .. 1 e até ~onhnvam a~> me~m.1~ c01~as. Em ca:-.a, nndc ~e acredn.tva que ~.:no1dcnavam o:. ~eu., ato:. pelo mero desCJO de wnfundu· nmguém pcrccheu a rcalidade até que um dia Santa Sofi.1 de la P1edad deu a ele:-. um cop1> de 1 imanada e C\lc dcmomu ma1~ [ .. 1 du que o out ro para di7CI que C\tava faltando a¡,:u<..ar O lempo ac:~bou de dc~n11umar as Lni\as .. (García Marque/. 1976. 166) Em me10 a-.. palavra~ de García Matque7 pode acorrer ao histonadorreconhccer-,e, nao na confu-;ao das personagcns que .wheranamente trocam a própna 1denridade, o próprio papel e desconccrtam o observador que sempre soube que dcterm111ado~ indtcadores correspondem a determinada" tdcntidade!>. (trocada" as pulo.;etras. rrocado'\ O!>. nomes .. ) O hi'\tonador, ao contr;.\rio. pode pcrccber-sc em qucm nao está no texto- o leitor Ilá uma expectativa cochtchando no'> ouvtdos de quem le de que há alguém que ze la pela ordem do.:: fatos. pelo nome das per'\onagens. pela indtcac;ao dos -;eus papéi' Santa Sofia de la Ptedacl pcr!>.cgutu o ..;i mulact o até o flagrante. O htstoriador pode :.e a'\SU!>.Iar ao -;upor-sc como cla. E""e \liSto ganha <>entido quando lembra de urna convicc;ao que o acompnnha: é dado como certo que a 111St\lencta do olhat. a traca de angulo-. para o vt-;lumbre (J nova per,pcctiva) sao recompensadas com o de-. vel,uncnto d.t real idade. A lw,tonografia, por !-.ll.t 'e?, pode ... er t!ntendtda como u m universo \1m llar :1 po<.tura de S,tnt,\ Sofia de la Piedad. ou <>cp, com indtferen~a ao fato de que muito-. olhates vi~lumhram a me~ma cot,a, confirma duas htpóte"e" que ..tcompanharam como -.ombra a-.. fant:tsttea\ personagen-.. da ciJade Je espdho-. 1) há sempre um novo olhar 'obre o quottdwno, o que 11npede que o mesmo o.;e rep1ta. 8 ·mO que anali ... ado no pa<>sado. quando¡:í se \ahc ('!) t) que .... e ra;\OU. H;í ... cmpre ...,es olhar Jj-.poslO a "ra-.trear LU11<.1 pe!Sollagcnt uu Ullt f,ilu ,,¡.._ yu'- ,llnb":-. ''- urn 1 1 cm ..,cu" simulacros. e e!>.scs. por -.ua vez. pndem st!r procurados cm -.uas reveen · · t u· · · 11 .._ d~. rcaltdade. A ht-..tonogralta quer o en:cer--.e para mgtr os o tare!>. ao p quot:ll 11 ., F - 1 . ? . cncarecendo-\hes: "o te m no\'amente .m contrapo'>t\ao a es-.a ttpotc,e. _ l vtsto. h h .. .. . 1 1 - • há .;,clllrn.: unt novo ol ar que a pan •1 0 novo qu.mc \) e e nao e o novo. ma-. a repeti~;:w;. quc percebe a n1~tura ~ua~d-~ e la __ f<:bc~u .. '\ realtdadc e wrnou se r"io;ténc 1 a. conumltdade (uma "e' t1 ,tg~.:dt,t outt ,\ \el 1 ,u..,,t ). pe Tah·a. por tudo tsso a h1-.toriografia e-.te_¡a f.tdada a :-.er -,clllprc uma p<.trlt.. da hi-.t 1 )ria da'- idéias (e vice-versa) uma vet que sua ocupa<;:iln com o tcgi-.tro e:-.ta impregnada das unpressoes (fanta~magónca'> o u nüo) do "nao regtstrado" . Paradoxahnente i'>sO nao a torna uma Jcposttún.t fiel da verd.tde, ao contráno um l.tlo pode nao ter aconte~Jdo. Lonttariamente ¡¡~ alcga~i~e' de um aomsta. Ma~ o f<1to de ~le tc1 podido afirm.t-lo. de ter pod1do contar coma ,u,1 .tceltat;üo pelo públil:o contemporanco. e pelo me1ws tao rc\"el.tdm quanto ,, stmplc' oLorrcncia de um evento l l A ¡ecepc;río Jo~ enunci~tdo!o> é ma1., reveladora parn a história da~ ldeologi,t<, di• que ~u a r• oduc;ao: e quando u m autor comete um 0ngano ou mente, ~~.u texto nao é meno'> ~¡gnilicattvo do que quando d11 a \erdade: (\que 11nporta é que o texto po~~a ~er recch•do pelo~ contenlpor:ineo::. ou que 'eu produtor tenha a..:reditado nclc. Ne"'" p~.:r~pccllva a noc;üo de falso é n1hl pettinente (Todorov llJ91· 52) A hi.;toriografia pode conccber a s1 mcsma. no fluxo da pr:.ítica do-. hi,toriadores, como o espa~o invc:-.ttgativo no qua! até o ,jmu\ac.;ro con-.cgue -.er tralldO a luz COI11 grandcL.a Jc reconhecimento. E porque isso dtz re-.pcito a -.ua naturen. a htstoriografia semp1e encaminha o enfrentamento Je uma que...ráo que diz n:.,peito i"l configura~üo de seu" Jomínto..;: o que t! a dimensáo políttca de !>.CU\ contcúdo~, métodoo; e prática~? Há doi~ anos. Fernando No\ ai-. comenta va a multiphcn~ño editorial do-. 1..'studo' e do!>.stc-.. sobre ht!>.toriografia no Bra-.d. Na oca,iao, referia--.e tamhém ~~ necc-.stdade de "analt-,ar tnc~ts de perlo .1 -.uposta mcompattbtltdade entre o marxtsmoeanovahistonogrnfia''(cl. Novats, 1995: \~abr. \9l.J5.QI) Pots bem, uma cotsa ~ a políttca na ht-.tóna, outra é a d1men.;;ao que ganha na hi-.toriografia Nesse particular, a historiografía pt)de -;er entendida como o low.\ tic tnlet ven~áo no qual a políttc.l (diluída ou magnificada) manife-.ta-'-c na' prútic,t!>. dl\cur-..tvas dos htstoriadore~ . 9 Aqui no:-. deparamo-, com urna questao de tundo já faz algum tempo que(, e.,for<;o no ~enttdo de tnucr a ~oc!edadt• ··para dc-ntw" dos hvro~ J~..- IH~tt.lllct cmdtu. -.c numa 1 rágtl chcotomta entre O'> plano-. mtcroscop1co e macroscóptco. entre <t hi,tól ia políttca delimitada pela rcla<;üo entre os homen~ e o Estado e a históna ~nc1al pmcuntda te cncnntrada) p.1ra além do~ limite.-. da ac;ao e..;tatal na v1da pübhca. De forma sunpho.,ta, podemo:-. indic<~r a ocorrellCIJ, e<;pecialmente no ambno unl\asit.:irio. de um<t espécie de "tli"1"an de taref<t-." Segundo es<.a, o~ C<;ludos 'obre o~ planos estruturai-., macropolíticm, 1deológiuh etc., '>ao o~ ma1s mdicad0, para abordar as \OCtedade-. nos .;eus aspectos púhl icos. Fm contrapost<;ao, u m outrn campo de 1nte1 ven<;ao tcónco-metodológica \e apresenta afirmando que nem toda!> a.1 h1.stóna., :-.ilo tocadas e del1nidas pelo.., eH!Iltl>:-. políticos Procura-se, ;bslm, um (outro) espa~o social (privado) capa? de <>e ofcteccr ¡¡ pcsqutsa IH-.tónca exigindo. contudo. novas abordagem. po1s. afinal de coma-.. trata-se de II:CUperar (uwadir) os espac;os ínttmos da sociedade. É pesaroso que nao sejam. o<: do1s planos. c~for~o~ cumulativos e complementare .... Días a:>slllala que: O descortinar al. ~~truturas do quotid.ano .10 nívcl da 01 gan 1t.a<;ao domicdwr. familiar e da~ par~ntcla~ e VILinhan<;.ts .:on~tllUJ terreno difícil. ondc a hlstuiiOgJafi.l pcnclra c~poradJ~..amcntc com Je,ultados bnlhant~:-., porém ~cmp1c com cno1 mes dif1culdadcs úc doc.;umcntao,:ao Nüo sti\1 caminhos tnl hú\ e 1s po1 hi..,toriadore~ preocupados c.: o m me todos q uc p1 CS1>11pocm cqu i 1 íhno. funciOnal idadc, eslabdJdade, conserva<;ao e "status quo''; e:-te~. vnluntanamente ou nao. -;e vcem enredados nos conteúdos forma1~ e normativo-. da-.. fontc~ .. (D1as, 1 995. 51. 2~ ed ) É neccs:-.áno ~u..,tentar que a hhtória, como campo d1~c1plmar, dev,¡ se manter oferecendo lettura-. ~obre qualquer soc1edade dtvidllldo-se. metodolog1camente, nas prát1ca!-. h1stonognífica' do macro e do mtcro, do público e do privado? Há que se lembrar que" aten~iio aos microuniversos, na maioria das vete~. cl<í-sc em vlrtude da capactdade que o h1~toriador Jc~envolve de apreender ludo o que tran:-.borda e c:-capa aos domín1o~ dos determlni-,mo"> (económico~ ou qualquet um). e tudo o que¿ -.ólido desmancha nas detcrmmac;oe-; Ma..; ainda está por ;,;er dito de forma mai' det1da que se o "campo propíc10" ¿1 invcst1ga~fio dos un1versos microscóp1cos é delimitado a part11 da distancia que se toma em relac;ao aos determinismos. de qualquer espéc1e, o e~foryo delimitaltvo é \ 'UO. 10 É vao porqut! o ace,so aos eventos que transconcm ¡, m~rgcm do evento . • des\ 11 KutaJu!- Ju~ grandes processos. como o da f<mnap0 de 11111 F<;t·tdn pol{tu;O. - ' 1 d f - d d . ~ . . • • 1 por t.'xcmplo. nao e (a o em un9ao a •~tancw ma10r ou menor que -;e nactona · · O d · 1 - ·1 - r •la•·'io aos detcrmmtsmos . etertnml:o.lllO -.o se matena 11a na va 1 u-..ao torna em t: .,., • - . , . 0 -.enhor da narra~ao e tambem o senhor do lato. de que . . d d. . d É como ~e o<; htstona ores. treta ou m 1retamente. con-.tantcmcnte roclama''elll a tn!-urreic;ao do Hegei adormecidO cm cada qual contra o Mar\ :.upotentc J.1' e!'tlruturao; ou. ao contrano. como se pr~'enassem o guardt<tnato d.t dialéti(a que cada um sabe ter cm clefesa do ngor ,,~,.ademKO contra a~ demanda-; do snpértlu<l. A cso;e respe1to a soc10logw tcm .,e divertido a nossa custa: Conhec.:cmo~ o~ C!ttrago~ fe1tos na (lc~CII~ño CJCntíflca pelo~ c.,qucma.., da ·'contradilfáo", da "..;upera¡;áo" o u dn "dJalclic.t' . pob cm Marx, amda que <;éno soc1ólogo e lw;tonador, é o que há de mais inc.:an~avelmente hegelwno e qu..: p101 luncJona Como ímli!>, esscs esquemas ~empreatraem l .. j Para dar apenas um exemplo vJo;ível da atualldade do n1.1lcfkJO hegehano, obscr\e -;e o aprc:.sadu acollumento da mic1 o- históna ou da pesqui.,a blllgrá!Jca l .j A minúci.1 ou a oríginalidade nao 1cm muna unportancia p.mt o lenor aprco;sado ou o seguidor prcc.:oce. O que o fasc.:111.1 é um princípio de ínterpcnelrary:io dJalét1ca que dc~rerta nele o dm minho~.:o hegellano sonhandn [ . . ] - . contando-me a mennr hiswneta, me t-ontnm a lm.tória de toda a ... ocJcdadc e de toda a épocn. [ J E!>IC r[JnC.:ÍplO hcgch3nO marXJSI<I dcixou perceber seu \entido totaht:lno na pnlítica, ondc cotlSI!>tC cm acertar ~1s c.:ontas do E~pÍ11to ab"oluto nas co'>lil!> de cada JndJvíduo, pois ~.:ada um é um microcosmo da din:irn1t:a sot.Jal. Ba'>la ahá)) cnunc.;Já·IO assim par a dc))pellal u m do~> ma1<; anugoo; fantal.m.ts de~cntívoc; - o da Jc<.:iprm:idadc especular do mic.:ro e do mac1o (Passeron. 1995 89-90) Tais questoes foram chamada~ com o objetivo de repartir com o lcitor ao; difkuldatles que <lCompanham a tdéw de colocar a hi!-ttOriografia braslletra em per ... pectiva Os jovens que cht.:!gam a.., faculdades de hi-.tóna e aO!'t cur-.o<; de pÓ\- graduac;ao hojc em dia Já sao lc1tores longínquo!- uo'> cl<iS'>ICO.., que apó-. os <1110'> 30 destc século passaram a di-;cutJr o paí . .., a partir da releitura de no~-.a históna Desde os anos 70, nas vánas univer..,1dade~ do país, d""eminou--;e um novo debate entre hl..,tonadores, o que ~igntfica d1zer que o-. sucessores de Sérg1o Buan .. ¡uc de Holanda, Caio Prado Jún101. Gilberto Freyre . .lo'é Honóno Rodrigues, entre outro,, 11 eonu-~.:ttzar;un a partir de entao uma nova historiografía bra-;ilcira. nem -;emprc de ruptut a e m rcltu;üo ao~ gran eJe, meqrc,, nem scmpre de ~:onunuid,1ue. l 1m pütll .. u Ju-, L<tllllttno-, e de~cammho-. entre o público en privauo. entren m tero e o macroco,mo~. Ji¿ respeito :t... vtc tssitudcs da pe-,qui-.a ht-.tónca rcpr~.:,c;ntada por pcsqutsadorc-, como <~queJes que compareccm a esta colctanea. Para 111\ C\tig,u a hi\lot iografia bra,iletra. a di,tanna de postuonamcntlh como "htstottador dn llltlTO" o u ''htstonador do macro", é neccsqíno flagrar a pe,qui'a ht..,tórict no \CU faLer-sL É necc ... ...,írto por ls,im dt7cr. surprecndcr o' olharcs sobre as fontes. n;io olvidando que, muttas veLe' no ca'>o da pesqui-;a ht,tónca .t lonte 1<17 o nlhar de qucm olha É pn.:u'o t.1mh~m ir .llém perccber a cmet¡,!.l!nct.t constante de nova., fonte-; para novos olhan::<;. O lt\ ro Hi~touografio lml\ileim em penpectil'll apre-;enta-'c an dehatc sem ncupar-se coma recupcra~ao Jirct.t dos íconcs de nossa historiogralta, ou 'CJa. nao h<í um Lapítulo e~pecial dedtcado a Caphtrano. a Varnhagen. a Franci~LO Li,boa. ,1 13twrquc ele Holanda, Prado .Júnior. Honóno Rodl!gue\, entre tantm. embora lodo.., tcnham '-Ido revi.,llado-, pelo' autores que comparecem ne,ta coletanea. A "cartografía'' aqui bU!\Cadn ba-;eia--;e em Joj<, criténos. trazer a lu7 as lontcs que tem condu7ido a pesqutsa htstórica no -;eu fa7er-sc con,tante. o que quer dizer. evidenemr com quai., recuro.;o<: descnttvos, normativos e filológico..; o ,1cC~!\O ao p,¡-,-.;ado hrastlciro tem \Ido buscado ~lat<, tmportante do que rcavt\'ar a' dt..;cussoes em torno da pertinenct.l de determ1nada!\ pettodizwroe:.. de determinacla:- ruptura,, de determinado' "sentidos htstónco,", foi ~olicitar ao~ pe'>qui,adorc'> que aquí e..;tao que rclesscm as fontcs CLIJO manu-;cto os investe Ja condi~ao de intérprete' de momento., dect~ivos da htstória do Brao;il 0<: cnténos de cada autor rcvclarüo ao lcitor que cm torno de "momentos dects1voo;" há uma compreensao multtfacetada. sem nada que sugira unantmtdade, e cu1a e!>colha de fontes para o accsso aO!\ mc-;mos revela o angulo vi!\ado em cada qual. Apcís tsso. o '>egundo mov11ncnto analítico quer trazer ao debate os processo-; de "aqutsi~ao" de nova:- fontc .-.. para ,¡ produ~üo de noves olharc'> sobre o passado. Nc'>se sentido, é ncces,átto operar um desdobramento na expostr;ao Pnmeiramente, cncaminha-'e a di'>cu-;<,ao -;obre a rec.ep~iío de novas aportes e escoJa... na historiografía hrasiletra. Desdohram-se de tats prcocupa~óe" ao; tndaga~oes ~ubre a., pos.,tbtlidade-, heurí,tica' pre,entc~ na configura~ao de campoo; stngulate~ na hi!>toriografia, como tlo genero. das attes e das cidade.'-. Na 'cqliéncia, abre-\e espa~o as análtse'> sobre a pre<:cn9a do conhecimcnto hi,tóri~:o na <11 quitctura teónca e metodológic<t de out ros campos epistemológicos e di-..ctpltnares Basicamente bu-.;ca-'>C explicttar a emergenc!a de campo' histórico<. patttculares. Tndaga-'>e, por exemplo. se O\ di lema<, entre o particular e o u ni ver<., al tamhém interfcrem na imagem de históna que a literatura elahora "no -,eu interior" 12 quando quer referir-se a uma hi,tória da literatura. E mais: - que configura~ao historiográfica c0nft>n' (ou nao) autonomía ;t hi,tória da educac,:üo em relac,:iío ~~ história. É aqueJa um :.ubcampo de.,ta? Com quats recursos a filosofía abn .. ¡ 11rerlocu~ao com a h1stóna para. em "terntório estrangciro", problcmatlzar a prodU(;ao de imagen:-. nas pdticas discurs1va-; da historiografía'? Em que momento a tlltelectualidade brasilcira tnterveto no debate político medmnte a evoca<;ao da história como base de autoridade argumentativa? E, por fim. como a hl-;tóna e a hi,tonografia se con\'ertem em produtos clo e para o mercado, ou seJa. o que é o tivro de hi'itória? No seu aspecto material um livro é um espa~o finito. Essa fatalidade sornada ao; tnúmeras posslbtlidades que se nhrcm quando se pretende di~CUtll historiografía toma esta publica~üo ciente de que vem a público com !acunas Enseja-se. contudo, que seja a pnmemt de uma série de publica~oes que art1cule a produ<;ao permanente de uma história da historiografía brasilcira. O leitor talvez estranhe a dispandadc entre os capítulos quanto ao tamanho de cada um. Constderou-se conveniente facultar aos analistas ltberdadc de interven<;ÜO, com um mínimo de monitornmento, para que interviesscm mov1dos pelo dcsejo de opinar sobre os temas solicitados. Os caleido~cópio'> sao fabricados assim. Por fim. é necessáno enaltecer o profiss10nalismo de cada autor aqui envolv1do. Cada qual retirou-se por um pouco de seus muitos afazcres para ~:ompor um texto inédtto para e~te HisrorioKrafia brasileira em penpecttva. Foram solícitos, gcntis e diligente~. A pequena parte de esfor~o que me cabe ne!>te cmpreendimcnto gostaria de dedid-la ü memória de Enio Silvcira. Altá~. qualquer tentativa de resgatar idéias na história das idéias, o debate na história dos debates, é, inevitavelmcnte, um tributo a ele. 13 ASPECTOS DA HISTORIOGRAFIA DA CULTURA SOBRE O BRASIL COLONIAL Laura de Mello e Souza wsP) P rocurarci aqui tra~ar um paincl gcral da produ~ao historiográfica referente a cultura no período colonial: tcmpo em que Brasil ainda nao era Brasil. senda melhor chamá-lo de Aménca portugue~a. país como portugueses da América, mms do que como brasileiros - designativo dos comerciantes de pau-brasil -, se viam os próprios habttantcs do território. Evidentemente, impuseram-se cenos cntérios e recortes. Em pnmeiro lugar, meu objeto é a produ\=ÜO historiográfica realizada pelos brastletros. Esta op~ao nada tem de xcn6foba, visando apenas facilttar a ststematiza~iio e salientar as linhas mestras que tcm norteado os brasileiros cm suas reflexoes sobre o país. Urna próxima etapa talvez fossc examinar as preferencias temáticas de brasileiros e estrangeiros, se é que clas existem e apresentam um sentido definido. De qualquer forma, lembro, a guisa de homenagern, que algun~ dos mais expressivos trabalhos a tratarern de nossa hi-.tória colonial foram realt7ado-. por estrangeiros, ensinando- nos, rnuitas vezes, a melhor enxergar nossa rcalidade: a magnífica obra de Charles R. Boxer, os trabalhos definitivos de Alan Manchcstcr, Dauril Alden, John Russell- Wood, Kenncth Maxwell , Stuart Schwartz.1 Cabe ressaltar, contudo, que se trata, no conJunto, de obras de histót ia política, social ou económica, deixando ele lado a problemática cultural- ou fazendo, como Boxcr e Ru.,sell-Wood, que el a tangcncie, muitas vezes corn brilho, outros ternas. destacadoo; como primordiais. Em segundo lugar, examinarn-se aqut trabalhos que, rnesmo sem dtzer respeito única ou exclusivamente ao período que se convencionou chamar de história colontal - e que, iniciado com a chcgada de Pedro Álvares Cabral. estende-se até 1822 -. trazem subsídios importantes a compreensao do período, confenndo-lhe inteligibilidade por intermédio da análise da cultura. Trahalhos que fixaram tem<íticas, sugerirarn fontcs e ditaram orienta~oes teórico- metodológicas ao longo de todo e~te século, criando, ao fim e ao cabo, uma lradi{:iio. Na verdade, é da genese desta tradi~ao que trata este artigo. Os estudo-, mais contcmpodineos foram, cm algun\ caso'>, apenas indicados, e no geral tratados de forma mais ráptda e superficial do que os estudos precuro;ores ou fundadores da referida tradi~ao. Nas abordagen:. hi.,tóricas, é sempre prudente tomar distancm ante o objeto focal izado. 17 Nao cabe ao historiador defimr o que scja cultura. mas creio ser nece~~ário, no ambito deste artigo. explicitar o que c~tou ~.-ntt.mk:ndo pur till. Pen:,o em defmir;oes simples e abrangentes. como a de Cario Ginzburg. para quem a cultura é uma "jaula nexível". ou. mats ainda. na de Clifford Gcertz, que ve cultura como "tei.1 de :,tgnificado~··.2 Na produr;ao htstonográftca aqu1 exammada. nao se privilegia a cultum erudita. ou letrada. procurando captar. ao contrário. a dinamica e a multipltcidade dos nivei-, culturats . Vai-,e. inclu,ive. do nivel mais simbólico ao nivel mats concreto· tanto os autores que bu~caram scnttdo na produ~ao letrada quanto os que se debru¡;aram sobre a \ida matcnal cstariio presentes neste artigo Muitas veze:.. a hbtória da ~:ultura e a ht~tóna das mentalidades aparecerao aqut mUlto próxtmas. Nao cre10 que este seja o lugar para definir os campos, atribui~oes e limites de urna e de outra, mas é bom lembrar que também na Europa - e sobretudo na Fran~a. pátna das an<Hises de mentalidades - tal vizinhan~a. e até mesmo a superposi'Yño tem-se feíto presentes. Por fím, a ressalva sempre necessúria cm trabalhos deste tipo: nao há aquí a pretensao de dar canta do as~unto nem ele arrolar todos os trabalhos produzidos. De antemao, pe¡;o desculpas por omissoc~ e esc¡uecimcntos. ENSAJOS FORMATIVOS: A ENFASF. NAS RF.LAC::ÜES GERAIS ENTRE HISTÓRIA E CULTURA (1907-1936) Sem <;er obra sobre a cultura brasileira, os Capítulos de História Colonial ( 1907) de Capistrano de Abre u abre m pcrspect1 va ... analíticas que até hoje inspiram htstoriadores. Grande me~.tre ele scus contemporaneo!-1. descobridor da autoría de alguns dos documentos básicos de nossa hi~tóna. o grande emdito cearense foi uma espéc1e de promessa nao cumprida. ~ Nos Capítulos, contudo, a presenta perspectiva de análise mUlto original: ver nossa form<t¡;iio sob o impacto da cultura material, que o meio específico e nao raro adverso moldou dectsivamente mas que acabou se tornando elemento dtferenciador, capaz de confenr certa identidade aos agentes <.ociais - "homens capazes para penetrar todos os scrtoes" durante anos a fio, nao tendo outro sustento senao "ca\as do mato, bichos, cohras, lagartos, frutas bravas e raízes de vários paus"; ou ainda homen'i capazes de se su~tentar com "u m punhado de farinha e u m peda¡;o de cobra. quando o há".4 Cultura material innuenciada •gualmcnte pela pluralidade étnica dos habitantes: mesti9agern gcograficamcntc condicionada, variada e cambiante, composta das "tres ra¡;as irredutívei~" que a co loniza~üo compel ira tt convivencia, na Amazonia prevalecendo o elemento indígena ("abunclavam mamelucos, rarcavam Oll mulatos"); a beira-mar e na zona aurífera sobressaindo o negro. "com todos os derivados de~te radical"; ao Sul do!> tróp1cos dcvando-se ·•a porcentagem dos brancos".5 18 Ma~ cu lt ura matenal dotada de irnportancia a caracteri<'<ll toJo um p~:ríodo Ja htstona Ja Amérit.a Portugue'>il. a épm.<l Jo Llllllo··. l)li<IIH.Io J~.: LOUJu !>e fanam a' porta'> da' cabana .... "o rude leito aplicado ao chao duro. e ma1s tarde a cama para 0 .., partos", a' cordas, o alforgc que carregava a conmla. "a maca para guardar roupa. a mochila para mllhar ca' al o. a pe1a para prende-lo e m viagem, a' ha m ha' b - d ,. ~ de faca. as roacas e surroe,, a roupa e entrar no mato Marcada ma1s por um antlllfanl\mo construtivo do que pdo pessm1i<;mo que unantmcmentc se lhc atribuiu quando de \Ua publica~ao. cm 1928. é Rerrato do Brasil, obra do dtscípulo e mecena.,· de Capí<>trano. Paulo Prado Obra curio-.a e um 1,uHo de,Jocada. mescla de mova~ao e de con\ervadon,mo. cm que se enfoca a hi,tóna do Brao;J! sob v1és cultural e o:;e bu~ca uma curioo.,a tipologta quallficativa .:om base cm scnt1mentos. Assim, a luxtÍ1ia impera nos pnmciro~ tempos, de fixar;ño do homern ao meio: a cobtra norte1a o cstdbelecimento da atJvtdade económica e a cxpansao do território; a triste-:a e o romantismo dao o tom ao!> hábito<. de.-.fibrados e decadentes dos luso-bra!\tleiro" e. cm seguida, dos brasdetro~ propriamcntc d1tos O objetivo último é a compreensao de um wráter nacional, como no contcmporanco Macwwíma, de M<lrío de Andrade - que, como o;;e sabe, deJicou es~e IJVJ o a Paulo Prado Curioso. con tu do, que o pcrcurso e~colh1do seja essa tipologw dos <;entJmentos. e que <;e atente para o ~ignificado mat~ !>tmbólico de certo<; fenornenos da colonizaqiio. A<;sim. <;e sao datada~ ¡:¡.;; con~idcra<;oes intciaJs sobre o dcgreclo e a imagem do Brasil como urna grande terra de delmqúentes, é absolutamente atual a pteocupa~ao expres!>a ~ob1e o seu stgntftcado: "O portugues transplantado 'ó pensava na pátna d'além-mar· o Brasil era um degrcdo ou um purgatório".7 Vida e molle Jo bandeirante ( 1929). de José ele Alcántara Machado de Oliveira é, como Retwto do Brasil, trabalho que se benefic10u diretamente da publlca¡;ao de fontc' documentaio;; até entao inédita!>. Se para Paulo Prado c.ontou mUJto a le1tura da~ Vuitaroes do Samo Ofício que 'eu <~mtgo Captstrano aJudara a organiLM. para Aldintara Machado fot fundamental a leitura dos lm•entários e Testamentos que, sob JnJciattva de Washmgton Luís, v1eram il luz em 1920 Apesar de ainda muiro dcscritivo. Vtda e morte do bandcilllntc capta com grande sen~tbilidadc e p10neirismo o senrido do cot1diano no que tcm de litúrgico, moMrando. portanto, gt ande atual1dade temática. Na valontar;üo da v1da maten al como ckmento de tnteltgtbtlidade da cultura de um povo. uproxuna-!>e de Cüpistrano, ma-; leva ma1s longe a enfase no!> a'lpectos meno-; nobres e aparentemente sem importancia da vida, mostrando como podcm sct ahamenle reveladores Na rudeza Jos h<ibitos, na pobreza de objetos imperante nos invent<1no~. no alto valor das vestimentas e no pequeno prer;o das moradias, Akfintata Machado enxerga ptstas para de!>vend.tr a pobren de Sao Paulo. abalando dct'JtlllJvamente a idéia de uma cap1tant<L opulenta, presente nas mistificar;ocs de lmhagtstas como Pedm Tacques de Almeida Pa1' Lcme e Freí 19 Cia.,par da \1aore de Deu~. 1'\um Jo~ mais befo-. capítulo~. "Em fa<.:e da morte", empreenue ) ...¡ue hojc se ... h •• n .• t de .máli<>c J'- mu•taf¡J,¡Jc.,. m,•,t1.111Ju LUIIIu u medo Jo monbundo k va ,¡ ,u rependimentos capa7e~ de revelar as ma7efa.., pmfund.~~ Ja 'ouet.laJe c~t.t.t\ 1\la. E fragmento'\ de analt~t.: Jc.,te tipo se encontram cm uuti\IS pa'><iagcn..,· "HaH.:r,t cotsa mat~ relatl\a do que o luxo?'. 1ndaga com acutdadc 1:. constata: "É na b.uxela e na~ all'a1a.s de cama e me"a que <~ gente apotentada l'ai' t1mbre cm ostt.:nlar a ;;ua opulencia"" Merece relevo amda o befo Iom en"al'-'tiCO com que '\Cabreo capítulo "O ~ertao". lra<;ando analogia entre este e o mar. Por fm1. nao h<í como n¡jo pen~ar em "A .samantana do .. ertao".capítulo de Cwnmho.,· efronretras. de St:rgio Buarque de Holanda, qu,tndo Alc.intara ~tachado lfu.,tra 'll<.l 1t.léia de que O\ habito~ se pautam pela~ nece ... -..1dade.s cottd1ana-. e bt1nda o lc11or com e '-la pa,..,agem .. A mingua de água para beber, -;e dessedent.t (o banJe1rante) com o .sangue do" anima1s. o suco dos frutos. a sel\ a das folha<i e da" , •• t) ra1ze-.. Mas o marco inaugtual lla\ amílises da cultura bra-.ile1ra -;eria Ca\(/ Gmnde & Sen:ala, e-.tampada ern 1933. f'echo de um período do pcn,<1111l!nto bra.sileiro, e 1níc10 de outro. é também. como Retrato do Brasil, obra híbrida de tradi~i:ío e 1nova<;fio. em muitos ponto" nostálgica de um Bra-;tl que chcgava ao fim - o de ante.; Je 1930. vi-;to por Gilbelto Freyre de forma amíloga ~~da douceur de 1'11'1<:- que colonu certac; análiscs '>audost'>ta" do Antigo Regnne franccs. Se do ponto de vtsta idcológ•co o autor ainJa '>e filia a urn paí., arcatco. de"eJando que o Brastl fos-..e un. \asto engenho Japaranduba - como o de "cu primo. Pc;:dro Paranho~. -.egundo confc.,.,a em Tempo moflo e outros rempm - é ineg<ivel a lllovac;ao documental e tcmüttCd tnmda por '-LJa prune1ra obra e mant1da nas que '>e .;cguem de perto: Sohrculo.•· e mucamhv~ ( 1036) e Norde:.te ( 1937). 10 Freyrc Jtgni flcou os anúncio.s de JOI'Ilal\, os diáno<, e a corre-.pondencla familiar, o~ e!>CrttO\ Je viajantes cstrangeiro-;, os livro<i de recertas, as fotografía~, as cantiga'> de 1oda e toda a tradic;ao oral, mulliplicando os "suportes culturai~" a d1sposi~ñ.o Jo lw,tonador. 11 Antes de toda a prodU<;:i.io h1.,tonográfica contcmpon1nea, centrada na questao da-.. mentalldade-. e da cultura. mo'>trou-nos que o~ tempos da vida !>ao objeto" da lliStóna tanto qu,mto <.,U..t\ invariante.., ou como o próprio ecúmeno. Foi. assim. p10neiro na-. an<lll\e~ da 111ffincia. da velhtce, da festa. da famílta, do amor. do -.exo. da morte. da comida. da natureza e da pai<>agem heyre tnovou tarnbém no método. ondc contudo a.; fragilidades e incongruencias se fa7em nota1 de forma mais evtdente, como ressaltaram postenormcntc váno~ crÍtiCo<;. A'>scntou as ba~es de seu livro inaugural no criténo de difcrencia~ao entre r:1~a e cultura: a prímeira de1xamt de ser categoría explicativa, papel doravante at11buído ü cultura Se a cxplorac;:'io económ1ca foi v1olenta e iníqua. a mestic;agcm atuou como elemento .ttenuador. diminuinclo a" distancia-. entre a casa -.enhori<tl e .t -.enL.tl.t Ü'> males tr.tdlctonalmentc imputado-, a mc'>ti<;agem - <b doenc;a.s. a amoralidadc. a apatta, a aver-.ñ.o ao trabalho - 20 pas.sariam a ... er atrihuído" ao 'tstema econ(>llliCO. Ao contrá1 io da rnonourltura. a ¡¡¡.,:~ti~¡-agem mo .. trou-s•' ~t'lll~, ICI 1)('1 Bn,il e cm ('(/\(/ r;rmulr' & \'pn-uln \'111-'t.• pela prime1ra ve7. ab01dada como fato ... oual. ··omc dado -.octOlóg1co. e:n que a tran~llll~'>ao cultural - 0 momento da cultura -· L'l>nt;, m~u-. do que a tran~mi~sao genética 1' ~ A percep~áo da mestl<r.tgem como um \alor pos1ti'vo permitirÍa a Frcyn~ exaltar a superiondade do' portugueses como coloni;adore.-..: muito mats tole1 antes. pf¡)-;tiCOS e 0eXÍVl'IS lflll' 0.'> tfcmais pOVOS. Cl11j)I'L'L'Il(fe¡ lillll a colonizac;iio soh a C~(lde Ja mobílidade. da llliSLibilldade e da t~cfllll.llabilldaJe. Teónco Je um !tt\o· rropicali11no e, em últ1111a in-..tancia. ju ... tlftcaJor Jo 1111pcriali~mo portugul:.s. Freyre ganhana grande pre<.,tJgtO em Portugal durante o regime d1taronal de SalaLar ~ ~1a-. a percep\-·ao po-.ltl\'a da me\tH,;agcm. aliada a -..1lon7ac;ao da cultura. permitina igualmente a l'n:yre cles.ac;.:•· a originalidadt.: de pr<ltica .... crcn¡;as e co~rume<> cotidiano-. tributáno.., do entrecruzamento Jo., rr2s grupo'> que con-..tttuíram o po\o bra-.lle1ro: portuguese-.. .• tfncanos, indígena"- aqui. n;.o maJ'> "as tt·e~ ra~a-. 11Tedutíve1s" de Capi<;trano Segundo ~ua concep~ao. as cultura!\ indígena e negra Jama l.'> tena m se enqui-,.tado no Bra~i l. ncm contra e las se tenam desenvol v1do ódio.;, ao contrúno, v1ram--.c respo •sáve1s pela J1namiza<;ao da cultura dominante, da mesma formJ que a mi-.cigenac;ao <.,uav1zara as rela~oes \Ociat~ e inter-ractai .... Sem utili7ar a l!xprc'>sao ou problemat11ar o conceito. Freyre lanc;ou. portanto. as ba-,e-. d<t análl-..e da me'>ti~agcm cultural no Bra<>il, vt'>tJ numJ per-.pccriva predominantemente harmon1ca, posto que capaz de equilibrar os antagoni<;mo-; enrre cultula\· a européw e a mdígena. a europém e a african.t, a afncana e a rndígen.1. Tal me.,tic;agem pode ocorrer dcvido ao estabelecimento ele certa rec1procidade cultural que, nao raro, teve valor c~tratégico. H ;íbito~ alimentare-; e culturai-. dcpo1s mu1to arraigados :w cot1Jmno luso-bra-;ilerro !'oram gcrados nessc amb1ente propício ü reciproc1daJe. No que diL re.-..pelto ~ts contnbui~6es cultuntl'> Jos indígena~. Freyre chamou a atenc;ao para a "couvade": para a afinidadc com os .mimais: para o "mtlo do bicho'' - que dc,ignou como .sobrevivencta de tendencias totemrca<, e anlrni-.ta'> presentes, entre OLitros exemplos. nas históna<. hornpilantes de b1cho<,-papoc-. que comern crian~as -: para o "complexo Ja mandioca": para o "mito do anJo menino" - ou ~eja. a valonzac;ao das cnan~a.s morta'>. operada pelos jesuitas a f1m de re~ponder a terrível 1110rtandacfe infanttf entre O\ CllrtlllllnS. Entretanto, a abordagem de Freyre valo1 Íí':l sobretudo o aporte cultural nfricano. desracanJo-lhe o caníter positivo e most1ando que tudo quanto .se lhe imputou como rra~o negativo dizia respe1t0 <tntc.; ü escruvid5o "Parece ¿¡s ve,¿c., lllOuencw da ra~a o que e influencia pura e 'implc-. do escravo do si<;tema .,ocral da escr.tvid5o Da (.,tpítcld.tde imcnsa des.;e ""terna para reb,u x...1r moratmente senhore-.. e c"cra' o'"· Se índ1o-. e lu-;o, eram tn-..tonho\ e melancólicos. o negro trouxe .r 21 011!-.tura cultUJal uma extraord1nána alegria e VJtalidade lnfluenciou a" cren~as, o-. costumes, a fa la. A 1 in gua portugne<:a tiin d1Jra dad,, a cnloctr os pronomc' cm enc lisc, foi amolecJda pelo negro, que lhe abrandou os SS e os RR, criando uma linguagem falada de crii.ln~as grande-; que ac.tbou por 'e generalmu. Se a percep~ao da me~tu;:agcm ..:ullural C: tra\-o t!\lntftiiWift na obra de freyre. cabe destacar outro' assuntn' que, ma1s ace\<,Órios, abrcm contudo poo;-;ibilldades me-;timávCJ'> para a invc'>tJgayao. Assim, o relevo dado as rela<;:Cie . ., 'exuaJs e ¿t rellgiosidadc popular, con,iderado' objeto-. dignos de análise e neo<, cm elementos explicatiVO'> da cultura bra-;Jic¡ra - mcsmo que a per..,pecti\a entiio adotada n<io se sustente nos d1as que corn.:m. É bcm verdade que a sexualldadc surge como temáLH.:a subordinada a quc-;tao ma1s ampla da me!-.tir;agem, dcsdobrando-sc em constata9oe-; discutíve1s sobre o pnap1smo do africano ou a menor lubncidade do índ10. De qualquer forma, n111guém, ante' de Freyrc, '>C det1vera com tal vagar na quesU.ío, o que lhe confcre precedencia de mais de quarenta anos '>Obre mteres-.c mu1to atual na hisLória da., mentalidades francesa ou na históna cultura l dos anglo-saxoes 11 As péí.gina.s sobre o sadismo sexuctl, imperante nas relac¡:oes entre senhores e cscravos, permancccm antológicas: -;adismo man1festado desde a Infancia, nos "menino!.-diabos" a 'e beliscarem e a darem bolos uns nos outro<>. e atmgindo a plenitude na 1dade adulta ··a exagerada tendencia para o sadismo característica do bra<>ileJro, na-;cido e criado em cao;a-grande, principalmente em engenho".14 E alguns imi¡::h1.1, relegados it condi~ao de nota de rodapé, tém susc1tado bons estudos contempornneos. Veja-se um exemplo: "Nao deve f1car -;em reparo o fato de, num país po1 tongos século-; de e:-.cravos e Jc mulhere-, recalcada.., pela extrema pres<>ao masculma, o culto dommante entre a maiona l.atólica 'er o masoqu1sta. sentimental, do Corac¡:ao de Jesus. É comum entre os poeta' como exJbJcion1smo do corac¡:ao sofredor. A nossa literatura amorosa, tantoquanto a devocional e mística, está cheia de coraqoes a >:angrarem voluptuosamente; ou entao magoados, dolondos, fendos, amargurados, dil.tcerados, cm chamas, etc etc " 15 Po1~ é JU!>tamente no tocante ü religiosJdade que sua pos1<¡:ao envelhcccu bem menos, e tem in~p1rado um bom número de trabéilhos. Aprox11na-se dos C<itudos europeus scus contempon1neos de sociología das religioes e antecede-se, <linda urna vez, aos m.tis recentes, voltados para a di.;tinc¡:ao entre religJO-;idade e rcligiao. entre prática 'i'ida e dogm.1s abo;trato<. Ne!>ta per'>pectJva. indica t1 afetJ\ 1zac¡:Jo di.l vida rcligJO'><l e a -;exualiza\iiO dos !>antos como trac¡:o., fundamental\ dt~ religio;;idade luso-brasileJra. Como cxcmplo!> de un1 e outro trnyo, vepm-se as Intimidades clesabusadas com o<> santo-; da casa, muitas veze;; 111vocados em diminutivos cannho~os - "Santo Anton111ho", ··am1go >:antinho"- ma<. nem por is-.;o isento!> de m~m P<lrar atní' da porta em ~.:a'>tJgo de uma promessa nao cumpnda. V•.!J<~m-o;c o:- nome!> de docc.s conventual'- de '-Uge-;riva conota9ao Lilica - papo,-de- anJo. harriga-de-fre1ra, levanta-velho, língua-de-moc,:a. ConsJderem-'ie a<, prútJCil'> 22 da~ JOvens ans1o"a" por engra\ 1dar e, po1 ls'>O, dada' ,1 es fregar a gcnitália com santos patronos Ja piUl.l ia\-au. "L S::íü Gon~ralo do i\marante só faltando tornar se oente para emprcnhar as mulhcrcs estén;i..,, que o aperreiam com promessa-; e e- ' fnc<¡:óc-.. E Sao Joao Bau-.ta k'-lCJado no '>l!ll d1a <.:omo 'e fos!>e um rapaL. boniLu e namorador. -;ollo entre mo~ra' casadount,, que até lhe dirigcm pilhéna~· ''· Recordem-se trovinha' populare..,, como c.-.w: Sao Gon~alo do •\mar.lntc (a\UillCOICÍro tf,¡-, \Cih.t\ P111 qu~.. nih l..l'>ill'> a~ lllll'tas Qu~ nul Hl:> fltl.:l .un cla~) 1 Ou ~unda como esta OLJtra: Da1 me no1vo. S.io Joao. da1-mc notvo. d<11-m~ noivo que me quero ca\,u. 17 De Casa Grande & Sen::ala cabcria re-.salvar que nao o;e tratt~ de estudo !>i<aemático sobre o período colonial, mas de m1scelanca dummada sobre a h1stóna do Brasil até o final do século XIX. Apesa1 dessa 1negável aLemporaliJade, o produto final revela aspecto<; até entao num:a abordado" da cultura na Aménca portuguesa- razfio por que influenciou decisivamente os estudos posteriore'-> sobre e$Se período. Raí::e' do Brastl ( 1936). de Sérg1o Buarque de Holanda, marca. na verdade. o mícto de uma hi-;tória cultural madura e rigorosa do ponto de \Jsta teórico e metodológico. Gdberto Freyre obt1vera boa forma9ao academica no!> Estado' Unidos, e divulgara, entre nó-; , a ant1 opologm cultural 1101 te-americana. Se u estilo irreverente e caudaloso, contudo, mascarava incoerencias, contradi~oe-; e graves falha-, na compo-.i~ao da obra. Se Raí-:e\ do Brasil é <linda um en'>aio, na boa trad1~ao brasileira de pemar o ptlí~- corno hcyre, como Pr.Jdo. como Capistrano -, aborda, pel::l primcira vez, tema.-. ligados it cultura com metodologta rigorosamentc adequada ao obJeto, maneJando conceitos com seguranc.:a, ancorando-s~" na sociología da cultura dos alemiics, na reona -;oc1ológica e na etnología. Fm prefác1o clá-;s¡co. AntoniO Cand1do mo,trou tal filit~~iio, acrescentando, as suas tnfluencJ<l'-, a .. h" ' 1 d f " ll' ,., ' 1 d d nova J'itona '>OCJa os 1 ance..,es " re10 'er possJ\ e etectar, ma1s o que 111fluencia propnamente d1ta, uma surpreendente afinidauc e coinctdéncia temát1ca e metodológica entre Sérgio e os fundadores da moderna historiografía francesa, O'\ homen~ dos Annales - Marc Bloch, Luc1cn Febvrc e. Já na o;egunda gerac.:ao, Fe¡ nand Braudcl A vida material, a'i mentalidades. o 1mag111áno foram objetos que se impuseram tt um e aos outro'> na mesma época. e certamente em dccorrencia das lcJtura:-. o;;emelhantcs que todo-; faziam entiio. combinando históna, -.ocJOiogia e 23 antropnlogJa Gílberto ¡.:reyn.: f01 um preeur!'>or da mode1na hi-..tón.t da-.. l11CiltUJÍU;H.k, ~ J¡¡ lll..l\<1 Jw,tóri,t -..UJtural, SLif;Íu fui Ulll Jo, 'CU' ~llilJOII.!\. ~ ll iC/, -;imultaneamente ao., france\e'>. mesmo que os autores a guiarcm-no tenham s1do diferente!'>. Dnl\ln ,\ ( ,\o Do OB.JFT<>: ll~n H1s1 úRI \ D,\ cm:n .! RA ( 1945-1959> 0!-> trabalhos que. IHh anos 40 e 50. \oltaram-\e para a problemática d~h relayóe-. entre H1sróna e Cultura na fonnayao do Brasil d1fcn::m ... en-..Jve lmente do-.. que lhc-.. antccederam. murT<•Jo-.. pelo tom emaí-;tico e pela ahordagern mai-.. fluida. U m excmplo -;ignificativo 0 \ mltura hm.1iletra. de remando de Azevedo ( 1 9-l-.1). esfon,:o de ,j,tcmatiZ<tc,:ao Je no-.;,a vida cultural de-;de O!'> tcmpo'- colm11a1' e afinauo conforme o d1apa.,al1 tcónco da 'oc1ologia curopé1.t Ohra acadcm1ca. preocupada com a explica<;<io crentificamente fundamentada. rompe. ne,tc "enudo. com a tradi~ao cnsaíst1c,: '-'rgente . Ao adotar <t diferencia<;:ao entre cu ltura e c1vdin~ilo. acredlla que e ... ta .'>C achava, na época, bem rep:lltiela entre os bra~>ileiros . faltando-lhe" o apre~o pelos valores culturai-; que só a educayao si..;temática poderia trazer. 19 Tal perspectiva tr.u op~ao teórica já na época di ... cutível e hoje msustentá\'el: identificar cultura e educa~ao. acn.:dltando que a primcu-a se resume a e:. in..,tituu;oe~- e~cola~. b1hliotcca.,, academ1a~ e aoc; suportes JI\ ros- ligadm ao un1verso da ... letras 20 J\..,.,¡111. apesar do bom panorama acerca das cren~a., rehgiO.,a'> -· identificadas ao catol1cismo oficial, acossado por "impurezas arro- , d" .. d " . - " 21 1 d d 1n ws que o amea~avam !'>Cm cessar e contamrna~ao - . e as at1 v¡ a C.\ litcrána~. artísticas e científica ... constitutthiS do que entcnde ser a cultura propnamente d1ta, e objeto da ..,egunda parte do livro22• a obr.t de Fernando de Azevedo flcu. em todos o., .,cntido!>, aquém da de Fre}re. Para e-;te, cultura, entao. JÚ era muito mais do que in..,tru~áo; multifacctada e plural, nao .,e restringía as elites, con.,tituindo uma e ... pécic ele escala crom<1tica de todo um povo. i\huto ma1s rica e complexa é a posu;ao de Sérgio Buar que de Holanda. Monrf,".l ( 1945) e Camwlws e frontemts ( 1957) marcam sucl consolida~ao como historiador da cultura. vollado para o estudo minucio'O "ias técn1cas e prática..; da vida cot1drana Nes-;a época. 'ua inspira~ao vcio de Koch Grunberg. Norden..,k1old. Frieue1 ic1 . .t antropología mostrando-<:e como vía necessána a rcflexao .,obre proces.,o!'- hi-..tóricos, notadamente no vré.., da análrse cultural No plano o mar-; genérico pos<,ível, o ObJeto de Mon~oes e Caminho<; e Frontciras é a história dos pauhsta" ant1gos: popula~oe-.. mamclucas 4ue vrv1.11ll a cavalciro de duas cultura~ . equilibrando--;e na ten,ao entre mobd1dade - o caminho, a penetra~ao fluv1al (monrii,) - e -;edentanza~:io a jronreira. onde tradi96es de naturcza diver.,a "e comb1na,am. produzindo tcc.:nrca-,, costume\, atrtudc,, artefato-; Do ponto de v¡~ta metodológico. o autor bu,ca comprecndcr. cm toda a -..ua comple\idade. o 24 111 ecalll\ll10 das troca,, -;íntcsc~ e .,olu9oe., cultural.,. 0Jao \C trata de constat,u cf(fitwio de trar;os, ma.., de perc.:ebcr que a forma a<,<,tllmda por tal' tr<t<;"O" t01 del1n1Ja pela s1tuar;ao hi-;tónca. co;ta é, afinal. a prova dos nove de todo o proce-:-:o. Por fim. 110 plano mat'> circunscrito. a anállse 1ncidc sobre a vida material - vrés ele que parte , 1 comprccn..,fw mars funda. restabelcccndo -.c. a.,.,im. o pcrcur-;o de volla do '1 part1cula1 ao geraJ.-· Apesar da mútua afiniJade entre O\ doi' livros. Cammlw.' t' fronrcira.,· ~ 111 ,¡¡.., complexo metodolog1~amcntc e multo 111<11'- neo na" po-..-,rhllidade!-> temática" que ahrc . ..,obretudo cm "lnd1os e mamaluco' na expan<ío paulí.,ta·· - anúlt-.c \oltada para "a" <;ttua~oc" "urgida" do contato entre uma popula9ao aclvcntícia e os antigos natura1s da terra com a ..;ub.;;eqtiente ado<rao. por aqueJa, de cerio., paJroc-; de conduta e. arnda mais de uten-.ílios e técnrca" própnos do" últimos··."_¡ Ü!-> novt.. artigos que compoem c-;tcnúcleo ... ao pcquena-; obras-pnmas. capa7e" de surpreender e maravtlhar a cada parágrafo. Murto .tntcs das con"'dcra~6es de C.trlo Gint:burg sobre o conhccrmento indrciário. Sérgro Buarque de Holanda aborda este problema cm "Veredas de pé posto" e "Samaritana<; do serta o", detendo-se o; obre a dimcnsáo cultural dos sentrdos e da percep~ao. No primeu·o, discorrc sobre a arte de -;e ouentar no mato por mero da lcitura de pegadas e ramos quebrados, mostrando ainda como há um "jeito de corpo·· própno para a marcha langa - os pés devcm ficar ligciramente \OltaJo-; para dentro-. Jc¡,ele cedo incorporado pcloo; mamelucos de Sao Paulo No segundo, trata da questao do aba.;;tec1mento de água durante a., langas jornadas sertiio adentro, e da forma próp1 ia aos camrnhantes de decifrarem sinai.; referentes a ex istcncia de mananciais ou rcservatórios. !S "Iguarias de Bugre", "Ca~a e Pesca'' e "Botica tia Naturen'' sao um marco na trajctória do autor. contcndo Já algumas das qucst6es po.,¡enormente explorada., em Vl\lio do pllraíso. onde o "gasto do maravrlhoc:.o" iria adquinr importancia central. Exploram a incorpora9ao. por parte do europeu. de hábnm. alimentares. venatóno-; e curat1vos tnu.\itados e exóticos, mo<>trando que, mcl\mo se subordinada a fome- "companheira da aventura"-, a itincrnncw ou i't. premcncia da doenc;a, cla ~e fazia quase 'lempre através de criténos ora seletivos, ora analógico-.. Estcs últ1mos -,e encontram pre.\ente'>, por exemplo, na cren<;:a na virtude de certas pedras existentes nas entranhao; do' anunars. identific.tda~ pelos colonos a Jendária pedra bezoar Manifestam-... e arnda na ado~ao de ccrta<; prútlcas indígenas de pesca - como o hábito de intox1car o" pcixes, velhas conhecida<, dos portugueses. Na nova terra, Jrante de peculrandadc... do meio natural, "ande nao 'iC reproduzem exatamente as visocs hahitu~tt.,, a imagina<;:<lo adquirc dircito'i novos", apcsar dt: haver <,cmpre quem im,i<,~isse nas analogía-;, procurando "o honc-.to pao de tligo'' na mand1oca. a castanha européia na araucána .• 1 ll\J na jabut1cab.t, a carne de vaca na de tamanduJ- como regi,traram tantos dos pnmciros crom~tas. Tai' procedrmentO.\. portanto, mostraram-'e muito mal'i complexos do que as apa1cncw., kvam a supor: "nada tao difkd [.--] como uma análi!->e lustónca 25 tendente a di,cnminar [ ... ] entre o-. ckmento~ importaJo, e o~ que procederam Jm:.>tamente do genno. Tra<;o' comun-. prepararam ..... em duvtda. e antectparam. a -.ínte'e desse' diversos elemento-. [ .. ] 'ao digno~ de tntere.,se, por outro lado. O'> procc,,o, de ractonalt7a<¡:ao e assimilac;:ao a que o euroreu ..,ujcttou muito" de tais elemento'>. dando-lhes novo-. "igtttftcado., e novo encadcamcnto lógico. mais em harmonta com <;Cu<> ~enttmentos e '>eus padr6c<; de conduta tradil:tonal" .2c. Ese revendo nu m momento cm que m u itos acrcditavam na ..,obredctenninar;ao do economico, e quando se comer;ava a cogitar, entre os ht'>tonadorc" francese~. na autonomta das mentalidades - fenómenos de longuí ... .,tma durar;ao - Sérgio Buarquc de HolanJa fica muna espécic de meto- catmnho extremamente ... ugc,tivo. Caminhos e ji'cmteirm mo-.tra que fot nos a~pedo" da vida material que o colono e ... eu' primeiros descendentes se mo::.traram mat" -.en-,ívct-. "a manife...,tar;óe., dtvergente<; da tradt~ao curopéia", mantendo. "empre que possível, o legado ancestral no tocante a vtda famtltar e em socicdade.~7 Mas foram determinados tra~os de mentaltdade, peculinrcs aos colomzadore" portuguesl.!s, que penmttram operar a <;eler;5o das técni(.:as adotadas, a retirar, da bottca da natureza, cenas sub-;tancia<; e nao outras, impnmmdo sent1do nos arranjos cultura•" e intluindo sobre a ht-.tória dos homens. Mentalidaclc que nao se aprcscntava quasc 1móvel. como nos trabalhos de Phi lippe Arie.'>, ma" passível de alterar--.e aO'> poucos. sob o unp,tcto da "agitac¡:ao de '>upcrfícic" repre~entada pela adoc¡:ao de novas técmcas e de nO\O~ costumes 2lS Mentahdade, por outro lado, n constituir o <;ub<>trato comum de práttcas dtversa~: há analogta, para Sérgio, entre o ra~cínto lusitano pelo ultramar e o fascínto dos mamelucos paultsras pelo mterior. as monr;6e!> a'>~umindo. ne1-te tmügm;.íno, a forma de urna "migrar;ao ultramanna" 29 Trata-!'lc, as~im, do 111esmo. obJeto repensado j:í a lu7 Je outras cogitar;oes: as que emhalavam a fe itura de Vislin dn pomísu. Defendido como tese cm 195g e publ1cado em 1959, Visiio do paraíso cono;tttut, ... em nenhuma dúv1da. o atestado de maioridadc do'> e\tudos de h1stóna dí.l cultura no Brastl, e, neste genero, nao foi até hoje suplantado Obra precursora. trac¡:a a ht<;tória Jo untver<;o mental do" colonos portugueses da época do<; descobrimento~. enfatimndo-lhc o caráter míttco e explorando. como em scus ltvro!> antenores, a tcn ... ao entre mudanc¡:a e perstsll~ncta. F, pois, n histórin de uma proJec¡:ao 1magmána- a crent;a lu<;itana no mito Jo pa1aÍ'>O tetre!.tre- ou, como se dt7 hoje, uma históna do imaginúrio. Nao deixa de 1-er um,t ht~tóna comparativa, pots há con<;tante rcfcrencta ao contexto cspanhol. dwnte da riqueza mitiftcadora dos vi7inhos- "frondosidades"-. a 1 maginar;ao portuguesa í.iparece pobre e rasteira. apegada a expenencia, madre de rodas a.•· cníws. em detrimento da fanta<;ia; imaginar;ao enfa.,ttaJa "de portentos e prodígios": "os olhos que enxergam, a!-. maos que tatciam, lüo ele mostrar-lhe-; '1. 1 d b .. 10 o , . d cun'-lantemente a pnmetra e a u ttma pa avra o ~a er . e1-pmto e aventura e o fa::.cínto pelo desconhecido lcvam o' c~panhói!> a aceitarem o maravilhoso. enquanto O predomínio da tradtc;ao amatT<I o-. portugueses a rotina 26 Um ou mitro mito. como o da pre~en~a Jo apó,tolo Tomé em tcrras bra~ílicas - o Sumé tnvocado pelo:-. je,uíta-. para .JUSttftcar ~ua ac;ao catcquétka Junto ao" índtos - faria c,trreirn na América Portuguesa. Sempre rcclaborado.,, c.:ontudo, e redt171dos ;,, proporc;:oe' ma•' concrctn" uo dia-a-dia. Era asstm que. 111ais do que as fruta-., intcrc,.,ava a Fret Antónto do Ro<>éirio o que a apa1éncid dcla<., pudesse dl\sl m u lat" ".-.cus ~ecretos :,ignt ftcaJos e se u h ierógl i f o mi "terio-;o. Aferrado, embora. a-, cot<>a<; vi'líveis e concrcta1-, nüo lhe tmportava tanto o vé-las com o<> olhos ou apalp<í-las com a mao, quena. -.tm. ver e <;cntir através dos olho'> e - ,~ '' das maos . O" demni'> mitos, qua-.e semprc de in'ipira¡;ao e"panhola - '·o, grande'i mttO!. da conqui~t..t tbérica foram. com uma únic,1 C\ccc;ao. de lavra castelhana" -. entrariam no mundo de tnlluéncta lusa atenuado'>, rcclaborados e reduLtdo~ a dimen'>aO mai., conc1cta da' tela cotidiana.n O sub,trato mental do., coloniLadores, ou o seu imaginário, nunca lwvia ,.,tdo abordado como elemento imprescmJível para ..;e compreender a constituic;iio do espa~o geogdfico Ja América portugue'a e do proccsso colontz<~dor. Retomando as analogta~ antenormente utili?ada-, cm Raíz.es do Bra.\tl, Sérgio Buarque de Holanda dú nova intcligibiltdade- de forma aliás originalísstma - ciO Iemido tomado pela nossa colonizac¡:ao - para usar ,1 problemática levantada mal" de dez ano<; ante-. por Cato Prado Jr. em Fomwréio do Brasil contempo}'(ineo A Espanha que trayava na Aménca cidades quadriculadas e bcm disposta., em torno de sua prac¡:a central era, por p.tracloxal que pudes..,e parecer, afeita a mitificac;:6e!.. Já os portuguese\, de~le1xado!. na urbamLac¡:ao, dcixaram-<>e sempre glllar pela expcriéncia. Também paradoxal é a constatar;ao de yuc a incapaciJade Jc mitificar nao tmplica, obrigatonamente, modernidade mental. Serin antes o lado arcaico da mentaltdade lusttana que importa a pobreza tmaginattva, a rotJna, a liás presente em tantos ato:- da admmt..,trac;:ao portuguesa no império. E este é outro ponto ao mcsmo tempo bnlhantc e comrover~o de sua análi<;c. O que foi con-.iderado movar;ao e pione1ri.,mo para muitos autores, ante1- e dcpoi~ dele - lembre-se, nesta qualtJade. Joaquim Banadas de Carvalho e toda a ~ua dtscussao sobre a c'>peciftctdade do Rena<;cimento portugué~- aparece, em Viwio do paraíw, como apego ao passado e. em última m-.tftncta, entra ve a modermnc¡:ao. H A crónica do século XYl. minuciOsamente dC1-Critiva no tocante as coisa<., do Novo Mundo e da Ásta, aproxnna-sc antes do "verismo naluralí;;ttco [ ... ] con~tante de fragmentos e fa lho, por assim dtze1. de pcrspecttva", muito mais próprio aos homens medicvais do que ao-.: e:-.critorcs do Renascimcnto ·'4 A ativ1dade coloni¿adnra, de carátcr "disperso. fragmcntário. linear" discrepou cm tudo da ativtJade ca::.telhana. verdadeiramente inovadora cm termo<~ colontat1>. 1' Chega a parecer que, nao lo,.,em o., pauli-.ta~- centrai,, cm toda a ohra de Sérgio. como elementos moderntz.tdore' cm no~sa história -, os ponuguc,e~ ficariam mdef tntdamet.te arranhando a LO\t,l como caranguejos. na famo'a formulac;ao de Frei Ytt:cntc do <)alvador. 27 A influcn(.:la Je Sérgio BJarque de Holanda no plano do-. e-.tudo.., de eultura tal va nJo se tenha tello notar tk• 1mediato Nos final'> dos anos 50. a lw.toriografia come<¡ava a se L'aracteri?.ar por trabalhos ma1s econom1co-.. gravltnndo cm torno das obra, de Ca1o Prado l1 e de (\•l,o Purtadn Conw 'e ved ad1antc .• 1 htstóna Ja cultura :-.ó comer;:ou a ganhar for~a no final Jo, anos 70 Entao. o recur'o ao~ escnto~ Je Sérgio se toman.t Imperativo. e \Ua poderosa pcr,onalldade intelectual dominaría a cena. Alem do que, tal influencia continuaría ap6s sua morte com a edi¡;<tO de Ulll \'Oiume extraordmáno dediCado llMI\ Ú hi,tóna d 1 literalUia e a CrÚ1ca lítenína. Capltulns d(• litermurn colonial. deci ... ivn nt~ oricnta<;ao dn inrerc,sc• de vános pe<;q;u..;adores para os c-.tudo-; '\obre o ->éculo XVITT 1 itcrário, notada mente o (II'Ci.ldÍ \m O 3'' Ape .• ar de se '>lluar muna área ma1s propnamente l1terária, Formoriio da laerutura hmslle1ra, de Antonio CandH.lo, publicada qua~e ao mesmo tempu que a obra magna de Sérgio ( 1959). viria a te'. algum impacto sobre as an<lll\t.!s históricas. hto pode ser con..,talado tanto no ;\mb1to do-. e~tudos -;obre cultura e 'ociedadc - port::wto, em campo afim ao da obra - quanto no plano do;; cstudos mais voltados para a an:íli<>c do~ movnnentos -.o~1ais. notadamenle a conte~ta~ao ~ediciosa própna ao fim do período colonial. Antes do século XVIII, d17 Anton1o Candido, a cria~ao litcnína algumas veLe~ conheccu fo1 mas privi lcgiadas e originai-.; Lembre-sc, como exemplos máx11no.;;, Gregario de Matos Gut.!rm e Padre António Vie1ra, cm quem a percepc;ao da e\pccific¡daue da v1da na colónw já <;C fa¿ nota1, 111fluindo na obra poética de um ~ no~ <>ermócs do outro. Contudo, é prec1so diferenciar manif'estarcio hterária de .itera/tila, e~t.t entendida como "sistema de obras ligadas por denominadore~ co•nun,, que pe:mitem reconhecer a-. nota., dominantes de uma fase" Além das caracterí..;ticas Internas (língua, temas. imagens), t;u-; denom111adore-; cnnsistem em 'cerio'> elemento.., de natureza -;ocial e psíqu1ca, embora literal iamente organw1do..,. que se man¡fc-.tam h1storicamente e fazem da literatura aspecto orgiinico da CIVIII?a~ao" · a ex1stencia de um con¡unto de produtore~ literários. "mais ou menos consc¡c; tes do seu papel"; um conJunto de receptores, "formando o~ diferente.; t1pos de público. ~em o~ qua1s a obra nao \lve"; um mecanl\1110 tran<;mi-;sor- uma l111guagcm, tracluz1da em estilo". "que liga uns a outro~··.n Neste 'ientido - na constlltuc;üo de um si\lcma - a literatura brasileira teria '>urgido apena<., no século XVLIL marcaua pelo neoclassici.,mo. pela ilu~rrar;:ao e pelo aH.:adl'>mo •s Ligaua, em ma10r ou menor grau, a tomada de consciencia da situa~üo da colónia e il luta pela emancipa~<io política dos luso-bra<>ilciro~; Fmmaulo da lllemtura hrasileri<l repre..,enta etapa c;ign¡f¡catlva na comti!UI<;ao de uma hi,tona da cultura no Bra-.il porque nao -.;e limita ¡t análi-.c de umu de ~ua~ manifest::t~oeo;, a literatura · vai além, estabeleccndo a~ relac;oe<; entre ela e .1 ~oc,edade Tal pe1~pect1va ~eria retomada noc; en<.aio~ que compocm Lueratura e W1C'iedade ( 1965), onde o que d1z re~pelto di11.~tamente ü hi-;tóna da 2R cultura na América purtugue:-.a ~ apena' "Letra~ e idé1a~ no período colonial". Pela~ ,ugc-.tl\'as pagma~ inll.liH'>. rcfelt:lllt::- tt S:i\• Pttulu 11..1 '-' J ióm..~. Lab ... ¡;,mtudo Jc,t.acar "A literatura na evolu<fiiO de uma comunidade", voltado para a anál1'.:: da~ ..,t1cwbi 1 idade.; tccida" cm torno du pnita:a lttcr<ÍI ia e para o papel de uma e oulra cm l'lmfcrir "expre.,,fio mtelectual coerente Jo .,cnt1mento locall..,ta do~ naturais de Sao 1 ,\C) Pau o . Jú a<., obra'> de Sérgio Buarque de Holanda anteriormente referida~ , 011..,tltuem. a meu \Cr. a própria cria<iüo de uma h1-.tóna da l:Uitura no Hrasd Ante-; tkk. algun.., momento., hn lhantl!'- de autore~o, como Capl\trano de Abreu e Jo..,é de Aldintara Machado e Olivemt atestam a preocupa<;ao com o papel da cultura material na forma<iiio ..,ocial bra!>ileira. Gdberto Freyre. precur~o,or em tantos <;enuJo:.. inaugura tema,, renO\'a o u ... o de fontes e 1n1cia a análl~e da LUilllra muna perspectiva fortementc influenciada pela lw-.tória, sem contudo conseguir, no enfoque e no método, supluntar certa -.uperpos1<;ao entre esta d1-.ciplina e a antropología. Com Sérg1o. o conceito de cultura proc.ura abar(.ar uma gama ~igllll'tcativamente m,uor de C\pa~os. dando nova mtelig1bd!dacle ao proce~1>0 histónco: a v1da matenal. o cot1diano, as mentalidades, as prát1ca~ e li'>O' populares e também a' ma1s altas manlfe:-..ta~oe., do e-.pírito humano <;e combinam e c;e relac10nam dialet1camente com .1 soc1edade. A h1stória da cultura conceb1da por Sérgio Buarque de Holanda entre O'> anos 40 e ~O nfto difere muito da l11~tória cultural pratlcada hoje. rcssahando-se C\ identemente o maior rigor e cu1dado que o conee1lo de cultura tem rcceb1do ma1~ 1ccentemente no amb1to da antropolog1a, Je onde vem ganhando 01., domín1os da hi~;tl)ria ENTRE A HIS'I ÓRTA DA CUL'IlJRA E A HISTÓRlA DAS MEN'l i\LIDAJ>ES: Os PRI:\IEIROS MOME~TOS (1967-1986) Como ¡á foi dito, a produr;ao lw.toriográfica ~obre o período colon1al nüo conheceu, durante a década de 60, obras p.trticulannente Significativas no tocante as abordagens de h1stóna da cultura. l<>to \e deveu. po..,..,ivelmente. ;¡ inlluenc1a conjugada da conjuntura h1stónca- o tníc10 do longo pe1 íodo dl{alonal no Bra.,il, que afetou de forma p<~rt1cula1 as c1éncia-.. humnnas- e da rear;:ao a cla O p10ce-.,<,o de polniza\ao. crescentc desde a era Ju,celmo Kubll\check, nao foi 111terromp1do de II11CÚ1ato quando do golpe llltlltar, e O maior IIHCres~e. no ftmbito do:-. e\tUUO~ de história, socinlogia e antropología. era dc<,pertado pela aniil1se das váncb formas as\U!111das pela lula política, do funciona mento da econom1.1 - a problem<it ica do modo de produ<;iio - ou da' estrutura' fundamentais da \OCICdade. como a escrav1di'ío. Naquele\ temp01> difícet-.., os e1>ludo-; sobre cultura parec1am meno-.; urgentes. e talvez p01 i-;so tenham 'ido momentaneamente de1xados de lado. Allás. como diria Maria Bt:atnz N111a d,t Silva .JÜ no final da dl!cada de 70, ,t hl,tóna da 29 cultura era vítirna de um .... cm número de pr~:~.:oncetto'- fo~~c por ultltzar fonte\ arnpl:lmcntc mJnuseada .... -.onhc ... iJ..t, J~. luJu"· fu,"c: pt.:lu :-.cu ~.:aniler meno, "preci-;o" e "científico" - confut me cnt~io diztam O!> adepto:-. da ht\tória \erial e • -10 quantttattva. Sempre buscando a pt.!r'ipcctlva emmentcmente hi<.tónca. cabe destacar. em 196 7. a publica~ao de uma notável edt~ao cntica, acompanhada de sei' be lo~ en~;aio.., ondc a an:íJi,e tle hi,turiador e a de cnttco literário aparcccm ttllerligadas. a-;<;cmelhando-se ao que \ 111ha -;endo feíto na Fu ropa ern geral e na Fran~a e m particul<~r de:-.de. pelo meno,, o tnícto da décm.l.1 de 60. e entao bat11ado de hnf(}na da\ menwlidades. Rcftro-mc a Residuos .IC't\centistwem Minas - textos do \'éC11/o do o u m e as proJef·oes do mundo barroco, de Afonsn Á vil a, ba\tante influenciatlo pela leona estética do barroco - Wolffltn, Wel\bach, Hatzfeld Centrando o foco tlO\ fenómenO\ cuJturais propno~; a~ 1\ftníl\ \etecenti\ta,. e reafttando an,Íit\C definitiva da-; dua~; grande' fe,ta-, barrocas que entüo lá tiveram lugar- a fe:-.ta do Triunfo Eucarí'itico. ocornda em 1 733. e a do A u reo Trono Episcopal. que e m 1748 celehrou a criac¡:ao do bi~>pado de Marrana - Ávil .. t postula a tese do caráter restdual, arcaico, extemporilneo da¡, manifesta'r6e¡, barroca\ mineiras, OL:Orridas quando o genero já de~aparecia da Europa - ou pelo meno~ de '>Ua por'rÜO octdental. Quatro ano" depoi\, praticarnente todos O¡, ensa10\ seriam publicados, c;crn a edi~ao crítica, numa coletanea tntitulada O lúdtco e c.H pmjeriies do mundo barroco, que tra7ia atnda uma parte inictal, nova, denommada "O elemento lúdi<.:o na' forma-, de expre<;,ilo do harroco".41 Nilo fo!>se pela qua ltdade Ja edi9iío crítica, que por dtzer rc~peíto a textos literários fogc ao escopo de<.tc art1go, o ttabalho de Afonso Ávtla -.e ¡,u\tentaria pela orig111alldade dos emaiO\. "A tran\planta<i.1o de uma mentalidadc e um estilo de v1da" e "O primado do Vl'mal na cultura barroca mtneira" aprescntam contnbUt~ao mareante para o melhor emendtmcnto da soctedade surgida na~ Mtnas do <;éculo XVIII e respon\ável por uma da' mais extraordin:íria<. flora1f6es culwrais de no~>sa históna. Mal\ do que o aspecto propriamentc artí~t•co, ressalta de\\a\ análises o enfoque do barroco como "um esttlo mats de civtl!za~iio t ... ] o c¡ual, favorecido pela., condt~oes geográficas Ja regiao. acabou c1 i\talizando-se no '>Cu in~ulamento e marcando fundamente a trajetória mental Jo povo da\ rnontanhas" 42 O barroco minetro \lllge. ao;sim, como uma mentalldade peculiar. vastamcnte compartilhada pelo' dtferente' \egmento~ da popula'rao - como aliás concclluou a formulac;iiu clá<:\lca, -;e bem que d•scurível. de Jacques Le Goff anos depoi-; 41 Civilizac;ao e mentalidade marcadas pelo pnmado do vr-,ua l. pela eclosiio de urna "nítida con\ciencia Óllca", que Ávila rastreia nos poema<;, na pintura, no\ cartazes e em toda a cxc1ta~ao visual pre-,cnte na~ festa-; barrocas. Sem,,bilidade, mentahdade. vtda económica ~ao 1nstancw' articulada-, num todo: "Entre os esqu~ma~ de <>1gnificados cultumi<> capaLe., de explicar o ..,ent1do totalizador da ci\tltza~ao mine1ra do ..,éculo XVJTI. o do pnmado do vi:-.ut~l rcpre:.entará, '>C nao o mats váltdo, 30 .• 1,, meno., aqueJe que conduz mats ob,ettvamentc ü compreen~ao da ~llll<lgcneld..td~.. ~.Jractcritadora Jc \Uas. :•b~,mg~ntc' raíze<; barroc·.1' .n modo de r .1 .;en\ibil1dade vtsual. a consctenct.l ottca, tal como \e lormaram e ve ~ ( Jc.;envolvcram ao longo do c1clo do ouro, eram proJe<;ües de um mundo conceb1do ~inda a unagetn do tdeaJ de beleLa seiscenti ... ta, lllUnJo rc~iJuaJ ljllt.! Je:...lp<li'Ct:ell<l a . d .. H •nfim coma economw que o con tc1onara . , ~: Se a problemáttca Ja, mentt~lidade~ entra no' en\aio-, de Afonso A vil a por mcio Ja n.:flcxao mais teóm:a da estética do barroco. é de forma muito rnais dtret.l e dclthcrada que el a tnflui no trabalho p1onciro e ínovador de An1ta Novmsk). Cri.\tüos 1/0I'VS IW Bahw, concluído como tc:-.c no 1nícto de 1970 e publicado cm 1973 Apesar de haver \ido e<.,tudado antcnonnente, de forma puntual, aqUt e no e>..t~rior. ~ó entao fm o probkma dos cn..,tJo~ novo\ e de ... ua rela~ao com o Santo Ofício abordado ~;ob um ponto de \i<;ta m.u~ fecundo, contandO-\C hoje, no Bra~tl. , . f . d d 'd .¡~ com um numero :-1g111 tcauvo e eMu O\ neste <,ent• o. - A grande originaltdade do trabalho de Antta Novinsky está na fonna como enfoca o problema do cnstáo novo. Mats do que e-,miuyat a ::mtenttc•tlade de '>Ua crenyn judaica, como fizera Y ves Révah ou, no ..;entido opo:-to, ve-lo como quimera fabricada pelo Tribunal Jo Santo Ofíc10- na ltnha Jas interpreta<;ocs ilustrada\ do século XVITI que impregn.tram a histonografia liberal do século XlX e, no;; ano~ 60. mfluenciaram a per-;peLttva marxista de Antonto Jo\é Saraiva, dtscutível mas. sem dúvida, brilhante -, a autora procura ententlcr o umver~o mental e cultural daquele homem.-16 O a\pecto religtoso .~>Ó lhe 1ntere~:.a na medid.¡ cm que lanc;a lu7 ~obre a cultura, mesmo potquc ao;; evidencia.., hio.,tóncas nao indicam que houvessc maior enfa\e naquele plano "O cristáo novo baiano nao !>Obre~sai pela SUiJ religiostdade em nenhum momento de no,,o estudo. Ao::. pdticas judaiCa'-. que vagamente lembravam e algumas vezes prattca\am, faz.am parte menos de urna nece,\idade tntenor de caráter tl!ligioso do que de um conjunto de atitudes. que respondiam a urna neces-.idade de atfc,ao. part1cipayño e tdcntif1ca~ao. Sua" rc-;po\tac; agre\~ivas eram dcfesas que se expre:.savam num espínto de inconforrni-;mo religioso, representando uma forc;a Je opOS IC(fi.O, na qual se reflcte toda uma manetra de pen,ar e scnt1r o mundo''. 17 "O homem dtvldido", últuno capítulo do ltvro, <;intel!La bem a pos1c;ao de Anita Novm-;ky o cri-;tiio nu\O é um heterodoxo, podendo ;;er caracterizado ··por \Ua mdcpcndencia rehgto~a. por sua~ tdéias herética .... por !>eu espírito crítiCo. ma-; nunc<t por '>Ua rcltgtosidade··. Nada. na docum~ntac;ilo mquio;;itonal referente a Bahta. indica que tivcsse apre~o cspeci.t l por rito<;, fossem eles católicos ou jud:.uco\. era, acima de tudo, um de-.,cnraizado, que os ¡udeu\ víam como cnstao, e estes vwm como JUdeu Homem divtdido, dtzla-sc "cnstilo novo coma Gra~a de Deu\" -1x É cunoso que Cn\lfios II0\'0' na Bahia chcgas-;e a pos1c;ocs próxima\ üs das análiscs francesas de mcntaltdade realiLada' mais ou meno-; n<t tne\rl1a época. pots, entao, Antta No\ ino;ky Luml.1 nao indica va. cm 'ua htbliografia, conhectmento de"e 31 tipo de trahalho. DcpOI!-t, contudo. aproximou-sl! de Robcrt Mandrou, que C!-tludara o' hctclndnxo' t>mnrcn~ num tr ... tb~1lho 11nrr)¡tantc. \Cndo m-..-,mu Ulll.t J.¡-, llltlntlutora" de '-CUS trabalhos ,10 Br,\\11 -l'l Já nn ... traballlll!'t de cvaltlo Cabra! de Melln 0 C\idente a Influencia da historiogr.1fia francc..,a, ulmbii~ttJa ü d.t tradi<,:ao lwaonografica pernambucnna. Sua obra. inkiad.t cm 1975 LOm 0/i/1(/a re,laumda. é hoJt\ -;cm dúvicla. uma d"' mai<; significati\·a, que ternos: cm 1984. \CIO a lu/ o Norte agrário e (} lmpérto; dOI<; <lllll\ Jepo"'· Ruhro 1'<'111, e e m l9X9 publlcou-"c O no me e o 1angue~ por fi m, cm 1995 <;Hrglll A ji·onda d01 ma::omho1. ~o Todos este.; 11 vro.., \Crsam -;obre a históna de Pernambuco. L todos. pratlcamcntc. rcallzam 1mportante rev1sao h1!-ttonográ11ca e Jo~.:umental. nurn emprecnd1mento de JusTórw da /u.1tána que ..,e Jesen\'olve cm paralelo as prcocupar;ocs pr111C1pal\ Nuhm \'('/()e o 110111(' e o \(//1glle abordam mais di1etamente :! constru<;flo de um imaginário \OCia!, enlatm.tndo, no prime1ro ca!'>O, a problemática do •at1vi,mo pernambucano: no "cgundo. a\ e ... tratégws de afirnM<;ao e de busca de swtus por parte de elementos da ... octedade pernambucana que tmham 011gem juda1<:a. Ambo!> reprcsentam urna contribuir;ao s1gnificat1va para o e"tuJo do univer~o mental da-; camada:. dominante!> m11na das mais significativas rcgi6e.'> da colóma, e A fronda dm ma-:omho' completa. de ccrt.1 forma, este quadro. No~ tres, sao multo importante., as rela~6es entre sociedade, irnagmáno e ulllverso mental. Ern 0/inda re,taurada, um dos a~pectoo; ma1~ interessantes é o recur'>O a análi<;e da c..:ultura matenal para avan9ar na compreen .;ao da guerra contra os holandeses. Esta é vi~ta como o espa~o onde aflora certa maneira e"pccífica de ser dos luso-bra.;ilclros, exprcssa na lula Je guernlha:-. e nas formas própnac; do comer e do vestir Fontes variadas - Schkoppe, Waerdcnhurch, as lnfonnarñe.\ e SIIRestiies do ca¡>itiio Vicente Campe/o- atestam a superioridade dos o;oldados lu-.o-brasileiro' ..,obre os europcus. ou mesrno do" mazombo"\Obre os reinó1s - no caso de ser portuguesa a fonte em questao. Roupa ... leve., e -..umárias, dieta rúc;tica, capacidade de acomodar-!'te as condi96es ecológ1cas fi7cram com que os luso-brasi leiro\ se saíssem melhor na.; refregas. Excentrico em rcln<;ao aos grandes conflitos da época, e ocupando. nesta qualidade, posi~ao infenor ante a arte européw da guerra. Po1tugal adotou sem dor ma101 a aclimatar;iio de técntca' indígena" "saudável heterodoxia'', constata o autor, ponderando que a pnítlca da "guerra volante" t1vcra 1nício antes, mold<.ndo-se durante os "mai<; de cem ano' de convívio ao longo da mannha ou no fundo do '.'>ertiio "' e mo,trando-.'>e incorporada ao património cultural da popular;ao lu,o-brasilcmt em come<;o" do <;éculo XVII, "proporcionando a serta nislél" e a soldado., da terra o' meio'> de !'te espalharem pelo interior e de re··i.;tircm a e!'ttrangeiros".~ 1 Como a guernlha preenchia a funr;ao da mobilidaue a cu..,tos mutto mais batxo~. rc<;tnnglll-se ao mínmto o U\O da cavalaria e da artilharia. muito drfrcultada pela predom111ancia das n1.1ta,, dos mangues, dos canaviais, do<> atolctros nos meses chu ,rosos, pela ausencia do~ grande" espar;os abertos e pela precaricdade dos cam;nhos.~1 32 Ao ver o 1nícto do procesM) ele tomada de con-,ciéncJ<t do., colono' como ·nnuenctado por u)llut~oes eeologiCa\ e ullturm-.. lossem est.1-.. relacionada-; a :.1111a, dl\tintas, fos,em decorrcntc' <.le uma cultura matenal e"pccífica - F\aldo (\tbral Je Mello real11ou um avan<;o cons¡Jcrüvel no\ C\tuJo., de h1stóna da utltura referentes ao período colomal. Rctomou. scm dúvic.Ja. preocupa<;oes que, cm outra ·ll·tn! h .. 1viam e; ido caras a Gilbe1 to Freyre - no tocante a ecología. argumento L '- , Cil ' • ct'ntral de Nordeste · e aos C\tudos de Sergw Buarquc de lloland:t .. tccrca da t•xp,mS:H) pauhsta Sua per,pel.:ti\U, contudo. já era a da moJcrna histnnografia l·uropéta da cultura e das mentalidades. Por fim. atnda ne..,.,e período em que os estudos europcu' e norte-amencano-.. contemporaneos sobre a cultura. o mmgináno e as mentahdade~ comer;am a fecundar a' prcocupa~ocs de alguns hi~toriadorcs bra,ile1ro.,, cabe de.,tacar o-> trabalho' dt. Mana Beatnz Ni na da Sil va. autora que ~e ded~eou nao apenas a uma hi..,t6na Ja cultura rnai.., afiliada ~~ htstóna das 1déia'> - como denota -.eu estudo sobre Silvestre Ptnhe1ro Fcrreira- quJnto ao universo da.., prát1ca' cultura1s e da cultum material - objeto de pelo meno.; dois livro.:; importantes !>Obre a soctedadc, o cotidiano e a cultura no final do -;éculo XVlll e durante o período joanino. 54 Como d1z no prefácio de Cultura e sociedadc 110 Rio de )allelro, a autora se bao;e1a na concepr;ao de cultura própna a antropologta, a sociologta da cultura e até aos estudoc; de folclore, vendo grande bcnefício no fato de "o historiador ter abandonado um conccito re~trito de cultura por um concetto amplo, como aquele que domina as ob1as do~ antropólogo!>".~~ De fato. a nnportancia desse livro reside no fato de procurar C\tabelecer a<; conexoc-.. entre <;ocictlade, cot1diano e produy5o cultural, entendendo como componentes da cultura nao apenas as at1v1dades próprias ¡, cultura erudita e -..ua produ~iiú. os livro!'t. como também os húhitos e co:-.tumes - ahmenta~iio, vestu<írto. moradia, rel¡g¡o-.,¡dade, latcr - e .• linda, as lcitura<> populare\, pertencente' sem dú\ 1da a circuito cultural dl'>tmto c.laqucle dos letrados. A cultura ~urge, a<.,im, como rnult1formc: no ambilo tia cultura e da produr;iio letrada, tem-c;e, para a autora, a cultura explínta: já no espa~o da' práticas populare.., e doc;; co"tumec;;. tem-sc a culturo nnplícita BALAN<;O DOS PRI~CIPAlS TEMAS CONSTANTES DAS ABORDAGENS MAIS RECEr-ll FS SOBRE A HISTÓRI \ DA CCLTURA NO PERÍODO COLONIAL Nas última-; década!>, com abordagens e perspectivas diversas, "urgiram trabalhos <;1gnificat1vos voltados p.tra a que..,tfio da cultura no" -;éculoc; XVI. XVII e XVIII. Mcsmo correndo-se o meo de de1xar algun\ tic lado. pode-se drvid1-IO!-t ern quatro núc..:leo-.. temáticos básicos: o' que dc-;tacam grupo~ de pcssoas, '>Ua\ 1ué1as e obras. o..; que incidcm sobre a publica~ao de livros, ~ua c1rcula<;ao e influencia, os 33 1-UFRí·\J -t~:·.¡~ I.JUA~lJI Rg. rfu 1~ que se atem a stsremas de cren\as na América portuguesa; os que refletem sobre as troca ... cuhurat" verificada' entre- Furopa e América ldeologia e escravidao, de Ronaldo Vainfas, publicou-se cm 1986 e versa sobre os escritos de quatro letrados, todos religiosos. que produziram obras fundamentais a compreensao do escravismo na América portuguesa: Antonio Vietra, Jorge Benci. Anton1o José Andreoni. o Antonil, e Manuel Ríbeiro da Rocha. Preocupado com a forma por meio da qual "a sociedade escravista foi percebida, pensada ou recriada pelos letrados colo111a1" entre os séculos XVI e XVIII", o próprio autor considerou o trabalho como pertencendo ao ambito da hbtória das idéias.~6 De fato, tem muitas afinidades com o tipo de anáhse que se fazia, neste campo, por volta dos anos 70 - Eliseu Verán é autor central em sua explicayao; contudo. pela luz que lan\a sobre o universo mental dos letrados colonia.s. traz subsídios importantes para urna análise de cultura. Um dos méritos do trabalho é explorar a!'> contradic;oes entre cmtianismo. missionarismo catequético e defesa da escravidao, verdadeiro loda\al em meio ao qual se moviam os Jesuítas no mundo luso-braslleJro. No esfor90 cm relacionar literatura e sociedadc, fica evidente a influencm da obra de Antonio Candido. Publicado em 1989, A sátira e o enxenho, de Joao Adolfo Hansen, ganhou repercussao imediata e. creio, vem desempenhando papel fundamental na revivescenc1a do interes\e pelo barroco e, ind1retamente, pelo arcadismo. Traya um pamel da sociedade baiana e do seu universo cultural no final do século XVII, buscando urna compreensao mais acurada da polemica figura de Gregório de Mattos Guerra - por ele considerado mais um cultor dos dinones satíricos, que permit1a111 a crítica e a mordacidade para as<.,Jm preservar a ordem, do que o iconoclasta consagrado tradicionalmente pela crítica. s? Mesmo predominando no estudo a perspectiva do crít1co literário, é d1gno de nota o trabalho de historiador, familiarizado com os conflito~ próprios a época e com a documenta9ao mais propriamente hi!>tórica- como a inquisitorial. Em posi~ao análoga. misto de cuidndosa crítica hterária e perspectiva histórica, situa-se Teatro do sacramento, de Alcir Pécora ( 1994). Debmyando-se sobre o~ ~ermoes de Antonio Vieira, refuta as análises que, a seu ver, descontextualizaram a obra do grande jesuíta por desconhecerem a possibilidade de conviverem, naquela época, lado a lado, dominios aparentemente conflitantes como a prega<;ilo e a política. 5t< No tocante ao !'legundo grupo rererido - o que se volta para o estudo de lívros e le•tores -, há trabalhos interessante'i que, s~m estarem dirctamcnte ligados a problemé.ítica da cultura, tangencmm-n::~ por tratarem da influencia desempenhada pelas idéia" libertárias no contexto de cnse do rmal do século XVIII e inicio do século XIX. merecendo, nesta qualidade. ser mencionados. Assim, Presenr;a france.\a 110 movimento (h•mocrcítico baiano de 1798, pequeno estudo de Kátia de Quetró!'> Mattoso publicado cm 1969 e útil•nclu~ive por publicar documentos, como 34 'nwntário da~ bibliotecas 1k alguns revolucwnário~ de entao - prova mdiscutívcl o 1 1 da infl uencia da\ 1dém~ 1 rancesa'i \Obre o mov1mento seJJcJO\O uos batano" 1 (/(ttch•s de inOI'arclo 110 Brmll - 178CJ-J80 l. li vro editado cm 1970 e depo1s 1 c:.:ditado com o nome de Jdéia de revoluriio no Brasil ( 1 781.J-1801 }, retoma a r uestüo da mflucncm das idé1a!'> estrangeiras ..,obre o surgimento da consciencia da ~ondi~áo colo111al. Ao reiterar a mfluencia francesa sobre o mov11nento da Bah1a e HlJiLaJ a maior afei~ao do" mtneiro' de 1789 an 1ddno norte-americano. considera 0 primetro episódio 111<11~
Compartilhar