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Trabalho de Direitos fundamentais

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ÍNDICE
I.	RESUMO	2
OBJECTIVOS	3
1.	Objectivo Geral	3
2.	Objectivos Específicos	3
II. INTRODUÇÃO	4
II.	DESENVOLVIMENTO	6
2.1 A Constituição Moçambicana	6
2.2 Princípios fundamentais da Constituição	6
2.2.1 Estado de Direito	6
2.2.2 Características principais do Estado de Direito	7
2.2.3 Princípio da Democracia	7
2.2.4	Estado Laico	7
2.3	Direitos, Deveres e Liberdades Fundamentais	8
2.3.1	O Direito à vida - Artigo 40 da CRM	8
2.3.2	Princípio de igualdade - Artigo 35 da CRM	8
2.3.3	Liberdade de expressão - Artigo 48	9
2.3.4	Liberdade de imprensa- Artigo 48 da CRM	10
2.3.5 Liberdade de constituir, participar e aderir a partidos políticos	11
2.4.1	Liberdade e consciência, de religião e de culto	11
2.4.2	Direito de propriedade	12
2.4 Direitos no processo penal	12
2.4.3	Direito à defesa, audiências públicas e proibição da tortura	13
2.4.2 Prisão preventiva- Artigo 54 da CRM	14
2.5 Organização Económica, Social, Financeira e Fiscal	15
2.5.1 Princípios Fundamentais da Organização Económica, Social, Financeira	16
2.6 Organização fiscal	19
2.6.1 Objectivos da política tributária	19
2.6.2. Princípios que enformam o sistema tributário	20
2.5	Outras garantias	20
III.	CONCLUSÃO	24
IV.	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	25
I. RESUMO
Este trabalho versa sobre o regime dos direitos fundamentais que incidem sobre as suas diferentes categoria bem como sobre as principais regras que determinam a efetivação dos direitos fundamentais no âmbito do ordenamento jurídico de Moçambique. Neste abordam-se os direitos, liberdades e garantias pessoais, bem como os direitos económicos, sociais e culturais, procedendo-se à contextualização de ambas as categorias de direitos e à análise das características que os aproximam e distinguem entre si. Para o efeito, serão objecto de reflexão algumas questões específicas, como as funções, o âmbito de protecção, a densificação e a titularidade dos direitos fundamentais. Procede-se, ainda, a uma análise dos princípios gerais e do catálogo dos direitos fundamentais inscritos na constituição, fazendo-se também referência aos direitos que se encontram fora do catálogo e até da própria constituição. Por fim, proporciona-se uma visão sobre os mecanismos jurídicos para a efetivação do regime dos direitos fundamentais, nomeadamente, a aplicabilidade e a eficácia dos direitos fundamentais, a vinculação das entidades públicas e dos particulares e a metódica e hermenêutica dos direitos fundamentais.
Palavra-chave: Direitos fundamentais, Constituição, Moçambique.
OBJECTIVOS
1. Objectivo Geral
Entender a Organização dos Direitos Fundamentais na Constituição Moçambicana 2004.
2. Objectivos Específicos
Conhecer os princípios fundamentais que regem a Constituição Moçambicana.
Entender a necessidade da positivação dos direitos fundamentais em Moçambique.
Entender a importância dos direitos, deveres e garantias Fundamentais estarem consagrados na Constituição.
II. INTRODUÇÃO
A sistematização dos direitos fundamentais no texto constitucional de um Estado de Direito democrático que proclama a soberania da Constituição, como é o caso de Moçambique, visa assegurar o gozo efectivo desses direitos. Na verdade, a obrigatoriedade de efetivação dos direitos fundamentais decorre da própria natureza destes direitos, especialmente da sua relação intrínseca com a dignidade humana e da sua forma de positivação no texto constitucional.
 Contudo, essa efetivação tem por base um processo sistemático de análise. Este processo de carácter jurídico-conceptual inclui a definição do âmbito de protecção do direito fundamental, a identificação do seu titular e, ainda, a sua eventual densificação normativa. Somente depois de determinadas estas questões prévias é que se poderá avançar para a consideração dos elementos e métodos necessários à efetivação e à concretização do direito fundamental, numa situação específica. 
Os direitos e as liberdades fundamentais em Moçambique foram conquistados em 1975 com a proclamação da independência. O texto constitucional de 1975 no tocante aos direitos fundamentais, apresentava-se uma lista incompleta cuja principal ausência era de certas liberdades fundamentais de natureza política, pesa embora a importante afirmação de alguns direitos fundamentais sociais, essa lista continha 10 artigos, do Artigo 26 ao 36 da CRM 1975.
No presente trabalho iremos falar da sistematização dos direitos fundamentais na Constituição de 2004, entretanto, é importante referir que o texto constitucional de 2004 reafirma, desenvolve e aprofunda o respeito Pelos direitos fundamentais. 
Assim, iniciamos por definir Constituição, e elencamos os seus princípios fundamentais que regem a Constituição Moçambicana, pois não podemos falar de Direitos Fundamentais em Moçambique sem conhecer os princípios que regem a mesma Constituição, na verdade e com base nestes princípios que se efectivam e se consagram os direitos, deveres, e garantias fundamentais em Moçambique.
 Em seguida, partimos para a listagem dos principais direitos fundamentais e como estes se efectivam em Moçambique, e concluímos falando dos direitos sociais, económicos, financeiros e fiscais no nosso sistema Constitucional e grão grande é a sua importância e de estes estão em coordenação.
Segundo MENDES, "os direitos fundamentais são direitos de defesa que se destinam a proteger determinadas posições subjectivas contra a intervenção do poder publico… são situações jurídicas objectivas e subjectivas definidas no direito positivo em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana." 
 Todos os artigos adiante consignados pertencem a Constituição da República de Moçambique, Lei n 1/2018 de 12 Junho.
II. DESENVOLVIMENTO
2.1 A Constituição Moçambicana
Segunda Jorge Miranda, "A constituição é a lei fundamental de um determinado Estado." 
A Constituição da República de Moçambique é o documento que estabelece a forma de organização e funcionamento do Estado bem como reconhece os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. A Constituição é a lei fundamental do nosso Estado e serve como base de todas as leis que existem em Moçambique.
2.2 Princípios fundamentais da Constituição 
A Constituição da República de Moçambique estabelece alguns princípios que regem no nosso país. Os principais são: o princípio de Democracia e o princípio de Estado de Direito e é para destacar que o nosso Estado é laico. 
Artigo 3 da CRM
 (Estado de Direito Democrático)
A República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do homem.
2.2.1 Estado de Direito
O princípio de Estado de Direito trata do conteúdo, extensão e modo, como o Estado deve proceder com as suas actividades. O princípio de Estado de Direito conforma as estruturas do poder político e a organização da sociedade segundo a medida do direito. O direito estabelece regras e medidas, prescreve formas e procedimentos, e cria instituições. 
2.2.2 Características principais do Estado de Direito 
· Império da lei como expressão da vontade geral; todos os actos do Estado são 
· Limitados pela lei; 
· Divisão dos poderes: legislativo, executivo e judicial; 
· Direitos e liberdades fundamentais 
· Garantia jurídica formal e efectiva realização. 
No entanto, a Constituição da República de Moçambique consagra um vasto conjunto de requisitos do Estado de Direito e queremos salientar o artigo 2 desta que baseia-se no seguinte: O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade (Soberania e Legalidade), neste artigo está consagrado que todos os actos do Estado devem cumprir com a Constituição da República bem como as leis. 
2.2.3 Princípio da Democracia 
A República de Moçambique é uma democracia. Isto quer dizer que, é dirigido pelo povo. É uma democracia representativa, significa que o povo exerce o seu poder através de representantes eleitos por ele. A democracia como princípio fundamental da República de Moçambique explicámos intensivamente na nossa outra brochura sobre:“Estrutura do Estado e democracia em Moçambique”.
 
2.2.4 Estado Laico 
Em Moçambique, a religião é separada do Estado. Há uma divisão total, em que a religião não tem nada a ver com o Estado. A constituição reconhece a liberdade de se praticar a religião assim como desenvolver actividades de interesse social, mas sempre em observância com as leis do Estado. 
Artigo 12 da CRM
(Estado laico)
1. A República de Moçambique é um Estado laico.
2. A laicidade assenta na separação entre o Estado e as confissões religiosas.
3. As confissões religiosas são livres na sua organização e no exercício das suas funções de culto e devem conformar-se com as leis do Estado.
4. O Estado reconhece e valoriza as actividades das confissões religiosas visando promover um clima de entendimento, tolerância, paz e o reforço da unidade nacional, o bem-estar espiritual e material dos cidadãos e desenvolvimento económico e social.
2.3 Direitos, Deveres e Liberdades Fundamentais 
A Constituição da República de Moçambique consagra direitos, deveres e liberdades fundamentais. Esses se referem a todos os cidadãos. Os principais são: o princípio de igualdade, a liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de associação e direito de propriedade. 
2.3.1 O Direito à vida - Artigo 40 da CRM
		(O Direito à vida)
1. Todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamento cruéis ou desumanos.
2. Na República de Moçambique não há pena de morte.
Todo cidadão tem o direito de que sua vida seja respeitada e preservada e que esta mesma vida seja condigna.
2.3.2 Princípio de igualdade - Artigo 35 da CRM
(Princípio da universalidade e da igualdade)
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitas aos mesmos deveres, independentemente da cor, raças, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política. 
Artigo 36 da CRM
(Princípio da igualdade de género)
O homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural.
A lei não distingue as pessoas quanto aos seus direitos de cidadão. Perante a lei não há ministro nem camponês, nem branco nem negro, nem mulher nem homem, nem macena nem makonde, nem que este nasceu em Cabo Delgado ou em Niassa, não há muçulmano nem católico, não há rico nem pobre, nem doutor nem analfabeto. Não importa se os pais são casados pelo registo ou não, se trabalham ou não, se são da PDD ou da FRELIMO. Todos cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos. 
2.3.3 Liberdade de expressão - Artigo 48
(Liberdades de expressão e informação)
1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação. 
2. O exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação não podem ser limitadas por censura. 
Artigo 48º da Constituição da República de Moçambique reconhece que cada um pode ter as próprias opiniões e pode manifestá-las aos outros. As pessoas têm o direito de falarem aquilo que sentem, desde que isso não prejudique o bem comum. Todos os cidadãos podem trocar ideias com os outros e manifestar as suas próprias opiniões sem medo. Contra este direito vai a proibição de exprimir as próprias opiniões. Também contra a lei é quando alguém está sendo condenado porque ele tinha a coragem de manifestar as suas ideias. A liberdade de expressão tem limites nos direitos dos outros. Há, no entanto, actos que a lei pune como calúnia ou difamação. 
2.3.4 Liberdade de imprensa- Artigo 48 da CRM
3 A liberdade da imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e de criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e outros meios de difusão. 
5. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público, bem como a independência dos jornalistas perante o Governo, a Administração e os demais poderes políticos. 
 A Constituição da República de Moçambique protege a liberdade da imprensa. Esta é um dos direitos fundamentais mais importantes para uma democracia viva. Quando os jornalistas têm o direito de acesso às fontes de informação, têm a possibilidade de exprimir livremente as suas opiniões e os jornais podem publicá-las livremente etc. cria-se uma base para o pluralismo de opiniões que é impertinente para uma sociedade democrática. Também importante é que jornalistas podem ser formados e exercer a sua profissão sem intervenções do Estado. 
Artigo 52 da CRM
(Liberdade de associação)
1. Os cidadãos gozam da liberdade de associação.
2. As organizações sociais e as associações têm direito de prosseguir os seus fins, criar instituições destinadas a alcançar os seus objectivos específicos e possuir património para a realização das suas actividades, nos termos da lei.
3. São proibidas as associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que promovam a violência, o racismo, a xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei. 
É muito normal que o homem se reúna com outros para conversar, trabalhar, para resolver problemas, para trocar experiências etc. O homem é um ser social, por isso tem necessidade de conviver e de se associar aos outros. Artigo 53º da Constituição da República de Moçambique consagra o direito de todos os cidadãos para se juntarem em associações pacíficas. Existem associações com objectivos culturais, religiosos, políticos, desportivos, estudantis etc. 
2.3.5 Liberdade de constituir, participar e aderir a partidos políticos 
Artigo 53 da CRM
(Liberdade de constituir, participar e aderir a partidos políticos)
1. Todos os cidadãos gozam de liberdade de constituir ou participar em partidos políticos.
2. A adesão a um partido político é voluntária e deriva da liberdade dos cidadãos de se associarem em torno dos mesmos ideais políticos. 
Em Moçambique hoje trabalham mais de 30 partidos políticos. Eles ajudam pôr a democracia na prática, porque formam um meio para formar e expressar a vontade política dos cidadãos. Democracia é o governo pelo povo. No nosso país, a democracia é executada por representantes, em primeiro lugar os deputados da Assembleia da República. Os partidos políticos intervêm no processo eleitoral, mediante apresentação ou patrocínio de candidatura. 
Os partidos políticos expressam o pluralismo político, concorrem para a formação e manifestação da vontade popular e são um instrumento fundamental para a participação democrática dos cidadãos na governação do país, art. 74º n.º 1 da Constituição da República de Moçambique 
Essas funções, os partidos políticos só podem exercer, quando os cidadãos têm o direito de livremente constituir e participar em partidos políticos, assim como está consagrado no art. 53º da Constituição da República. Ao mesmo tempo, o Estado deve assegurar que cada cidadão possa decidir sem pressão, se ele quer aderir a um partido ou não. 
2.4.1 Liberdade e consciência, de religião e de culto 
Artigo 54 da CRM
(Liberdade de consciência, de religião e de culto)
1. Os cidadãos gozam de liberdade de praticar ou de não praticar uma religião.
2. Ninguém pode ser discriminado, perseguido, prejudicado, privado de direitos, beneficiado ou isento de deveres por causa da sua fé, convicção ou prática religiosa. 
A liberdade de religião abrange a possibilidade de escolher, praticar ou não praticar uma religião. Cada pessoa é livre de seguir a sua religião, podendo praticá-la sozinho ou em grupo, na sua casa ou em público. O Estado não tem o direito de intervir na escolha ou na prática ou não prática da religião dos seus cidadãos. 
2.4.2 Direito de propriedade 
Artigo 82 da CRM
(Direito de propriedade)
1. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade.
2. A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade, utilidade ou interessepúblicos, definidos nos termos da lei e dá lugar a justa indemnização. 
Art. 82º da Constituição da República de Moçambique protege o direito de propriedade. Embora que a terra consoante art. 109º da Constituição da República de Moçambique seja do Estado, cada cidadão pode ter outros bens, como casas, bicicletas, rádios etc. O Estado só tem direito de tirar este direito do cidadão pagando uma justa indemnização. 
2.4 Direitos no processo penal 
A Constituição da República de Moçambique também prevê alguns direitos que se referem especialmente ao processo penal. Quando um cidadão fica preso por alegadamente ter cometido um crime, ele perde um direito muitíssimo importante, que é a sua liberdade. Para assegurar que a estadia na prisão assim como o julgamento não ultrapassem os limites do necessário para manter a ordem do Estado, a Constituição põe ao lado da pessoa acusada dum crime alguns direitos. Os mais importantes explicaremos neste capítulo. 
Artigo 59 da CRM
		(Direito à liberdade e a segurança)
1. Na República de Moçambique, todos têm direito à segurança e ninguém pode ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei. 
As pessoas em Moçambique só podem ser presas nos casos em que a lei o determina. Isso é, por exemplo, quando a pessoa é encontrada a cometer um crime ou nos casos em que a pessoa comete um crime punível com pena de prisão por mais de um ano (p.e. em caso alguém matar uma outra pessoa). 
Artigo 59 da CRM
3 Nenhum cidadão pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime, nem ser punido com pena não prevista na lei ou com pena mais grave do que a estabelecida na lei no momento da prática da infracção criminal. 
Artigo 60 da CRM
(Aplicação da lei criminal)
1. Ninguém pode ser condenado por acto não qualificado como crime no momento da sua prática. 
2. A lei penal só se aplica retroactivamente quando disso resultar benefício ao arguido. 
3. Presunção da inocência 
Artigo 59 da CRM 
2. Os arguidos gozam da presunção da inocência até decisão judicial definitiva. 
2.4.3 Direito à defesa, audiências públicas e proibição da tortura 
Artigo 62 da CRM
(Acesso aos tribunais)
3. O Estado garante o acesso dos cidadãos aos tribunais e garante aos arguidos o direito à defesa e o direito à assistência jurídica e patrocínio judiciário. 
4. O arguido tem o direito de escolher livremente o seu defensor para o assistir em todos os actos do processo, devendo ao arguido, que por razões económicas não possa constituir advogado, ser assegurada a adequada assistência jurídica e patrocínio judicial. 
Cada pessoa, contra qual o Estado está a realizar uma investigação ou um processo criminal, tem o direito de ser defendido por um advogado escolhido por ela. Se alguém não tem dinheiro para pagar um advogado, o Estado deve disponibilizar um defensor. 
Artigo 65 da CRM
(Princípios de processo criminal)
2. As audiências de julgamento em processo criminal são públicas, salvo quando a salvaguarda da intimidade pessoal, familiar, social ou da moral, ou ponderosas razões de segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a exclusão ou restrição de publicidade. 
3. São nulas todas provas obtidas mediante tortura, coacção, ofensa da integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações. 
2.4.2 Prisão preventiva- Artigo 54 da CRM
(Prisão preventiva)
1. A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na lei, que fixa os respectivos prazos. 
2. O cidadão sob prisão preventiva deve ser apresentado no prazo fixado na lei à decisão de autoridade judicial, que é a única competente para decidir sobre a validação e a manutenção da prisão. 
3. Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada imediatamente e de forma compreensível das razões da sua prisão ou detenção e dos seus direitos. 
4. A decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida de privação da liberdade deve ser logo comunicada a parente ou pessoa da confiança do detido, por este indicado. 
A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na lei. Estes são: Uma pessoa pode ser presa preventivamente 
· Quando for encontrada a praticar crime ou tendo acabada de o cometer;
· Quando for perseguida logo após a prática do crime por qualquer pessoa; 
· Com mandado de captura. 
· Um mandado de captura pode ser emitido por: 
· Juízes dos tribunais judiciais ou equivalentes; 
· Procuradores; 
· Directores, inspectores e subinspectores da PIC; 
· Oficiais da PRM com funções de comando; 
· Administradores distritais, chefes de postos administrativos ou presidentes dos Conselhos municipais, onde não existam oficiais da PRM. 
Dentro de 48 horas depois de captura, o cidadão na prisão preventiva tem que ser apresentado ao juiz. Só esse pode determinar se se justifica manter a prisão preventiva. 
2.5 Organização Económica, Social, Financeira e Fiscal
 A CRM, consagra no seu Título IV organização económica, social, financeira e fiscal, patente no artigo 96, que a política económica do Estado é dirigida à construção das bases fundamentais do desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao reforço da soberania do Estado e à consolidação da unidade nacional, através da participação dos cidadãos, bem como da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais, (vide nr 1 do art. 96 CRM). E sem prejuízo do desenvolvimento equilibrado, o Estado garante a distribuição da riqueza nacional, reconhecendo e valorizando o papel das zonas produtoras.
2.5.1 Princípios Fundamentais da Organização Económica, Social, Financeira 
O artigo 97 da CRM de 2004, estabelece os Princípios fundamentais da organização económica e social da República de Moçambique.
(Princípios Fundamentais)
 A organização económica e social da República de Moçambique visa a satisfação das necessidades essenciais da população e a promoção do bem-estar social e assenta nos seguintes princípios fundamentais:
a) Na valorização do trabalho;
b) Nas forças do mercado;
c) Na iniciativa dos agentes económicos;
d) Na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social;
e) Na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o interesse colectivo;
f) Na protecção do sector cooperativo e social;
g) Na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento económico e social.
 E ainda o artigo 99 CRM, vem consagrar os “Sectores de propriedade dos meios de produção” em que 
(Sectores de Propriedade dos meios de Produção)
 1. a economia nacional garante a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de produção:
2. O sector público é constituído pelos meios de produção cuja propriedade e gestão pertence ao Estado ou a outras entidades públicas.
3. O sector privado é constituído pelos meios de produção cuja propriedade ou gestão pertence a pessoas singulares ou colectivas privadas, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
4. O sector cooperativo e social compreende especificamente:
aOs meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais;
bOs meios de produção destinados à exploração colectiva por trabalhadores;
cOs meios de produção possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter lucrativo, que tenham como principal objectivo a solidariedade social, designadamente entidades de natureza mutualista.
No capítulo II da Constituição da República, vem consagrar a Organização económica de Moçambique, em que, estabelece o seguinte:
Artigo 101 da CRM
(Coordenação da actividade económica)
1. O Estado promove, coordena e fiscaliza a actividade económica agindo directa ou indirectamente para a solução dos problemas fundamentais do povo e para a redução das desigualdades sociais e regionais.
2. O investimento do Estado deve desempenhar um papel impulsionador na promoção do desenvolvimento equilibrado.
Artigo 105 da CRM
(Sector familiar)
1. Na satisfação das necessidades essenciais da população, ao sector familiar cabe um papel fundamental.2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e encoraja os camponeses, bem como os trabalhadores individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de produção.
Artigo 106 da CRM
		(Produção de pequena escala)
O Estado reconhece a contribuição da produção de pequena escala para a economia nacional e apoia o seu desenvolvimento como forma de valorizar as capacidades e a criatividade do povo.
Artigo 107 da CRM
(Empresariado nacional)
1. O Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional no quadro do desenvolvimento e da consolidação da economia do país.
2. O Estado cria os incentivos destinados a proporcionar o crescimento do empresariado nacional em todo o país, em especial nas zonas rurais.
Artigo 108 da CRM
(Investimento estrangeiro)
1. O Estado garante o investimento estrangeiro, o qual opera no quadro da sua política económica.
2. Os empreendimentos estrangeiros são autorizados em todo o território nacional e em todos os sectores económicos, excepto naqueles que estejam reservados à propriedade ou exploração exclusiva do Estado.
Nestes termos podemos dizer que Moçambique adoptou a economia de mercado, na medida em que o estado promove, coordena e fiscaliza a actividade económica agindo directa ou indirectamente para a solução dos problemas fundamentais do povo e para a redução das desigualdades sociais e regionais.
2.6 Organização fiscal
Artigo 127 da CRM
(Sistema Fiscal) 
O que o Sistema Fiscal Moçambicano é estruturado com vista a satisfazer as necessidades financeiras do Estado e das demais entidades públicas, realizar os objectivos da política económica do Estado e garantir uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza.
2.6.1 Objectivos da política tributária
 É pelas receitas públicas que o Estado realiza as necessidades públicas. A tributação tem assim como principal objectivo a operacionalização de um mecanismo que garanta uma eficaz colecta e redistribuição das receitas públicas em vista a promoção da justiça social. Eficaz porque deverá garantir a consecução das metas orçamentais no que diz respeito as receitas públicas e sua sustentabilidade ao longo do tempo, ao mesmo tempo o sistema proporcionará recursos para o melhoramento dos serviços públicos, sem sobrecarregar o sector privado e evitando alterações na pauta fiscal.
Concomitantemente, a recolha de receitas também possui funções extrafiscais, como a utilização para a distribuição da renda e diminuição da desigualdade entre pessoas e regiões. Serve também para a protecção da economia nacional, estímulo de actividades de produção e geração de empregos. Deve, em tese, ainda, regular ou restringir o consumo de produtos não essenciais, nocivos à saúde e de luxo. Pode estimular o desenvolvimento económico e social promovendo a educação e cultura, fortalecer a economia informal, facilitar a produção e muitos outros objectivos.
A criação, modificação e extinção de impostos segundo o princípio da legalidade (artigo 127.º, n.º 2 da CRM) devem garantir um sistema fiscal justo. A carga tributária imposta a cada agente deve estar de acordo com a sua capacidade de contribuição, isto é, o sistema deve conceder tratamento igual para situações iguais e desiguais para situações desiguais.
A doutrina maioritária considera que o sistema fiscal é considerado justo na base de dois critérios: equidade vertical (requer que os indivíduos com maior capacidade de pagamento suportem uma carga fiscal maior) e equidade horizontal (a distribuição da carga fiscal deve efectuar-se de modo a que indivíduos com igual capacidade suportem a carga), tudo no sentido de minimizar a evasão fiscal e estender a base tributária.
Ainda assim o sistema fiscal deverá ser simples, evitando complexidades administrativas e minimizando as diferenças arbitrárias na tributação, concorrendo deste modo para que o contribuinte se predisponha a pagar o tributo, pois sabe como o imposto foi calculado. Mais ainda, o sistema deve ser previsível, isto é, deve ser conhecido e ter por base uma legislação estável e transparente, sem excessiva carga tributária e ainda flexível para acomodar as mudanças necessárias.
Por fim a eficiência do sistema é aferida pela moderação das distorções do impacto dos impostos na decisão sobre poupança, investimento, produção, comércio, trabalho e consumo.
2.6.2. Princípios que enformam o sistema tributário
O artigo 100.º da CRM
(Impostos)
os impostos são criados ou alterados por lei, que os fixa segundo critérios de justiça social”, sendo esta uma referência do texto constitucional aos princípios da legalidade e da justiça social.
O texto constitucional é, a este respeito, complementado pela Lei ordinária, encontrando-se os princípios que regem a organização e o funcionamento do sistema tributário nacional e fixam as respectivas bases sistematizados em dois diplomas complementares, respectivamente:
2.5 Outras garantias 
Existem mais garantias da Constituição importantes para os cidadãos, por exemplo o princípio de proporcionalidade, o princípio de divisão de poderes ou o princípio que o Estado só pode interferir em direitos dos cidadãos quando uma lei admite este acto. Aqui queremos apresentar mais dois princípios, quais são o acesso aos tribunais, a independência dos juízes bem como direitos dos administrados. 
Acesso aos tribunais
Artigo 70
(Direito de recorrer aos tribunais)
O cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus direitos e interesses reconhecidos pela Constituição e pela lei. 
Artigo 252
(Direitos e garantias dos administrados)
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos. Pilar fundamental do Estado de Direito é o livre acesso à via aos tribunais. Este direito não só está preconizado em caso que o cidadão sentir violado os seus direitos por um outro cidadão, mas sim, também pelo actos do Estado. Qualquer cidadão, sofrendo uma violação dos seus direitos, pode recorrer aos tribunais. 
 
Artigo 217
(Independência dos juízes)
1. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem obediência à lei. 
2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade. 
3. Direitos e garantias dos administrados 
Artigo 249
(Princípios fundamentais)
1. A Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. 
2. Os órgãos da Administração Pública obedecem à Constituição e à lei e actuam com 
3. respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça. 
	
Artigo 250
(Estrutura)
1. A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços, sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo. 
2. A Administração Pública promove a simplificação de procedimentos administrativos e a aproximação dos serviços aos cidadãos. 
Artigo 253
(Direitos e garantias dos administrados)
1. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos serviços competentes da Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em que estejam directamente interessados nos termos da lei. 
2. Os actos administrativos são notificados aos interessados nos termos e nos prazos da lei e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos legalmente tutelados. 
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos. A Administração Pública tem a tarefa de implementar as leis em todo o país, da capital até ao nível das comunidades locais. Na sua função, serve o interesse público e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. Consoante art. 249º da Constituição da República de Moçambique, os órgãos da Administração Pública obedecem à constituição e à lei. Eles actuamcom o respeito dos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça 
III. CONCLUSÃO
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Lei n 1/2018, de 12 de Julho, Imprensa Nacional de Moçambique,
2. MIRANDA, Jorge, Direitos Fundamentais, 3ª ed. Revista e actualizada Coimbra, Almedina, 2020.
3. MIRANDA, Jorge, Teoria Da Constituição, Coimbra, Almedina, 2020
4. https://www.kas.de/c/document_library/get_file?uuid=7321229b-41ea-ba70-cced-e1b993c4a3e5&groupId=252038
5. https://www.igc.fd.uc.pt/timor/pdfs/cap_III.pdf
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