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Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 CONCEITO: As Anemias Carenciais representam um grupo de alterações no qual, apesar de não apresentar doença específica, há carência de elementos essenciais para produção de hemácias (ferro, folato ou Vitamina B12). As anemias carenciais podem ocorrer em qualquer idade sendo, entretanto, mais freqüente na criança devido à grande necessidade de produção de células, nesta fase, para fazer frente ao processo de crescimento. O SANGUE ATUA: § Carregando oxigênio e outros nutrientes para as células. § Protegendo de infecções. § Removendo dejetos e toxinas. PRINCIPAIS TIPOS DE CÉLULAS SANGÜÍNEAS 1. Glóbulos Vermelhos (Hemácias ou Eritrócitos): Contém hemoglobina que é uma proteína rica em ferro. O oxigênio é captado pela hemoglobina, quando ela passa pelos pulmões. O oxigênio é carregado pelos glóbulos vermelhos e distribuído para diferentes órgãos e tecidos no corpo. Quando a quantidade de hemoglobina está baixa, ocorre a anemia. 2. Plaquetas: São pequenos elementos em forma de disco que ajudam a coagulação sangüínea. As plaquetas previnem o sangramento anormal ou excessivo. 3. Glóbulos Brancos (Leucócitos): São células sangüíneas que defendem o organismo contra infecções. Uma redução de qualquer tipo de glóbulo branco pode resultar em maior chance de desenvolvimento de infecção. QUAIS SÃO AS CAUSAS DE ANEMIA CARENCIAL? A carência alimentar e as perdas sangüíneas correspondem às causas mais freqüentes de anemias carenciais, em nosso meio. Entre as causas de carência alimentar devemos ressaltar a ingestão deficiente de elementos ricos em ferro. A principal fonte de ferro é a mioglobina de origem animal (sobretudo carne, fígado e ovos) e nos de origem não animal, verduras, legumes e vegetais. No entanto, o organismo humano tem uma capacidade muito maior de absorver o ferro de origem animal. Na faixa etária do recém nascido, a alimentação inadequada é a principal causa de anemia. No pré-escolar (1a 6anos), além da dieta inadequada, a verminose representa outra causa muito comum. A incidência de anemia carencial nas mulheres jovens e adultas é maior que nos homens. A hemorragia menstrual, associada ou não à gestação e lactação é a maior causa de desequilíbrio entre a produção de hemácias e a necessidade de ingesta, que se agrava, quer por regimes alimentares inadequados, ou por perda excessiva de sangue. A gravidez é outra causa extremamente comum, particularmente nos casos de gestações con- secutivas. No indivíduo adulto e no idoso, além da carência alimentar, a perda sangüínea digestiva (por hérnia de hiato, úlceras, gastrite ou hemorróidas), deve constar entre as causas mais comuns de anemia. Além de deficiência de ferro, a dieta inadequada leva à carência de outros elementos essenciais, como vitamina B12, ácido fólico e proteínas. A Vitamina B12 e as proteínas são encontradas nas carnes, enquanto que as verduras cruas correspondem à principal fonte de ácido fólico. A ingestão freqüente de álcool pode levar à anemia, tanto pela ingesta alimentar deficiente, como por inibir a absorção de alguns elementos nutritivos. As doenças crônicas de origem infecciosa, inflamatória ou neoplásica também podem levar a anemia. Entre essas, as mais freqüentemente associadas à anemia são a Artrite Reumatóide e a Tuberculose. As anemias não são doenças contagiosas (não passam para outras pessoas), e nem apresentam um caráter pré-maligno, ou seja, o desenvolvimento de Leucemia ou outra malignidade não é decorrente de uma “anemia mal curada”. QUAIS SÃO OS SINTOMAS DE ANEMIA? Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 Como citado anteriormente, as hemácias carregam oxigênio para os tecidos, garantindo assim, o metabolismo dos mesmos. Em outras palavras, as hemácias transportam o combustível essencial à sobrevivência de nosso organismo. Dessa forma, quando esse “combustível” encontra-se escasso, pode se sentir tontura, falta de ar, dores de cabeça, fadiga muscular, sonolência, irritabilidade, entre outros sintomas, correspondendo à falta de oxigênio nos diferentes tecidos e órgãos. Esses são chamados “Sintomas Gerais”, porque podem ser observados em qualquer tipo de anemia. Outros sinais e sintomas podem também ser encontrados, e merecem destaque, frente à sua alta freqüência, como a alteração do paladar, que corresponde a desejos de ingerir terra, sola de sapato, parede, gelo, entre os mais citados. Esses “desejos inusitados”, também conhecidos como “perversão alimentar” são causados por deficiência de ferro nos tecidos que regulam o paladar. A exposição deste sinal é profundamente influenciada pelas “regras sociais”, sendo por isso mais facilmente encontrado em crianças e gestantes. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO? O diagnóstico de Anemia Carencial pode ser feito durante exames de rotina ou após testes de sangue realizados durante a investigação de uma doença em curso. Muitos pacientes com anemia vão ao médico porque sentem sintomas de fadiga, falta de ar, ou simplesmente porque observaram palidez. É muito importante salientar que nada substitui a consulta médica, já que apenas um profissional médico é capaz de, através de história minuciosa e exame físico adequado, propor a melhor conduta em cada caso. A auto-medicação é sempre indesejável, muitas vezes perigosa, podendo inclusive, mascarar o diagnóstico. Ressaltamos que a severidade dos sintomas nem sempre reflete a gravidade da doença que causou a anemia. Assim, não se deve menosprezar o grau de anemia ou dos seus sintomas, mas sim, devemos buscar a sua causa exata para que possamos tratá-la de forma correta. Da mesma forma, não devemos nos basear no grau de anemia para procurar um médico. Na maioria dos casos, a consulta com o clínico geral ou pediatra é suficiente para que o diagnóstico seja elucidado e o tratamento correto seja administrado. Geralmente, correspondem a casos de Anemia secundária a verminose, a alimentação inadequada, a perda sangüínea abundante (menstrual ou de tubo digestivo) ou ainda secundária a doenças crônicas, como as de origem inflamatória, infecciosa ou ainda, uso de certos medicamentos. Quando a anemia se mostra persistente, apesar do tratamento instituído, alguns pacientes, podem necessitar de uma ou mais consultas complementares com o especialista (hematologista). Além do hemograma, exames complementares mais sofisticados podem ser necessários para esclarecer a causa da anemia. Um exame especial, chamado Eletroforese de Hemoglobinas pode estar indicado, sobretudo nos casos cuja suspeita que a anemia não seja carencial, e sim de origem hereditária. As informações obtidas através desse exame auxiliam na confirmação do diagnóstico e ajudam o médico a desenvolver um plano de tratamento mais especifico para o paciente e, muitas vezes, para a sua família. Em alguns casos, um mielograma pode estar indicado. O mielograma consiste em se obter uma amostra de material contido dentro da medula dos ossos, que é então examinado, para identificar que tipo ou tipos de células estão envolvidas na doença. Obter uma amostra de medula óssea é relativamente fácil. Amostras de medula óssea são geralmente obtidas através da crista ilíaca (quadril) ou esterno (osso do peito). A pele de onde a amostra será retirada é primeiro desinfetada e então anestesiada com um medicamento parecido com o que o dentista usa. Depois que a área é anestesiada, uma agulha é inserida dentro do osso, através da pele. Uma pequena quantidade de medula óssea é retirada pela seringa. Esse processo é chamado “aspiração de medula óssea”. Pode também ser necessário a retirada de um pequeno pedaço do osso, que chamamos de “Biópsia de Medula”, que é então levado para uma avaliação. Ressaltamos que o mielograma e a biópsia óssea são efetuados em casos especiais, não sendo um exame de rotina para o esclarecimento da maioria das anemias. QUALÉ O TRATAMENTO ? Nesse tópico, é muito importante se entender que na maioria dos casos, a recuperação das anemias acompanha o tratamento das suas causas. Dessa forma, se a causa da anemia for carência alimentar, a conduta é a correção nutricional e a reposição dos elementos carentes. Por outro lado se a causa for perda menstrual abundante, deve-se indicar o acompanhamento ginecológico para investigação e correção das causas da hemorragia. Já as anemias que acompanham as doenças crônicas, evoluem igualmente, de forma crônica, e seu tratamento depende do tratamento da doença de base. QUAL É O PROGNÓSTICO ? Por não se tratar de uma única doença. O prognóstico depende da doença que causou a anemia, do tempo de instalação dessa e do tratamento que poderá ser instituído. Na maioria dos casos, o prognóstico é muito bom, devendo- Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 se, contudo, manter a maior atenção possível para que as causas detectadas não retornem, sobretudo nos casos de carência alimentar, verminose e alcoolismo. QUAIS SÃO AS MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA A ANEMIA CARENCIAL? De maneira geral, podemos dizer que as principais medidas preventivas são: 1. USAR ÁGUA FILTRADA E SAPATOS DE SOLA GROSSA: Essas medidas visam evitar a verminose, outra causa importante de anemia. A água filtrada ou fervida deve ser usada para beber e para lavar os alimentos. 2. ACOMPANHAMENTO MÉDICO REGULAR: Essa medida é aconselhável, especialmente em crianças, cuja taxa de crescimento é muito grande, sendo, por vezes, necessária suplementação vitamínica e/ou calórica. Nas adolescentes, as primeiras menstruações podem representar um dos fatores responsáveis pela instalação de anemia, devendo-se manter consultas com ginecologista para correção. A realização de exames parasitológicos periódicos é também aconselhável, em qualquer faixa etária. 3. DIETA BALANCEADA; Uma alimentação balanceada não é necessariamente dispendiosa. A ingestão diária de feijão (principalmente o preto), carne ou ovo e verduras cruas e bem lavadas, é o suficiente. Um suplemento semanal de carne de fígado (cozido ou ensopado) é desejável, especialmente em crianças, gestantes e durante a amamentação. ANEMIA FERROPRIVA Anemia é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição na qual a concentração sanguínea de hemoglobina se encontra abaixo dos valores esperados (inferior a -2DP), tornando-se insuficiente para atender as necessidades fisiológicas exigidas de acordo com idade, sexo, gestação e altitude. De origem multifatorial, pode ser ocasionada pela deficiência de ferro e/ ou diversos outros micronutrientes, por perdas sanguíneas, processos infecciosos e patológicos concomitantes, uso de medicações específicas que impeçam ou prejudiquem a absorção do ferro. A principal causa de anemia é a deficiência de ferro, estando associada a mais de 60% dos casos em todo o mundo. O ferro é o metal mais presente no corpo humano e participa de todas as fases da síntese proteica e dos sistemas respiratórios, oxidativos e anti-infecciosos do organismo. A maior parte do ferro utilizado no organismo humano é proveniente do próprio sistema de reciclagem de hemácias, e uma pequena parte proveniente da dieta, advindo de fontes vegetais ou inorgânicas (ferro não hemínico), e da carne e ovos (ferro hemínico ou orgânico). Diferente do ferro não heme, que sofre intensa influência de fatores antinutricionais no seu processo absortivo, o ferro heme tem regulagem própria e independente de ação de mecanismos inibidores ou facilitadores da dieta. A secreção gástrica de ácido clorídrico (necessária para a solubilização dos sais de ferro e para a manutenção do ferro na forma ferrosa Fe2+) também é importante para a absorção do mineral. REPERCUSSÕES DA ANEMIA PARA A SAÚDE A anemia ferropriva tem efeito no crescimento e desenvolvimento de populações em risco, por afetar grupos Recomendação do consenso: houve discreta melhora na situação da anemia no Brasil nos últimos anos, especialmente por aumento da prevalência do aleitamento materno, uso de fórmulas enriquecidas, melhoria do acesso a fontes alimentares, programas de fortificação e enriquecimento de alimentos, campanhas educativas governamentais e privadas, além de modificações ambientais. No entanto, os resultados de estudos de prevalência de âmbito nacional são controversos, escassos, com populações pequenas e regionalizadas. Há necessidade de estudos que utilizem amostras representativas e calculadas, com base populacional. Sugere-se a criação de suplementos em periódicos, incentivando a publicação atualizada a respeito do tema na população brasileira e que possam contemplar artigos nacionais que não obtiveram espaço editorial em revistas internacionais por serem temas de interesse regional. Contar com apoio de grandes corporações, sociedades cientificas ou mis- tas, para analisar a prevalência em amostras representativas ou de grande porte. Agregar também dados de grandes laboratórios, hospitais públicos e privados, que disponham de dados de hemograma, ferritina, marcadores inflamatórios e CID (Código internacional de classificação de doenças) registrado de anemia ferropriva. Há necessidade de dados atualizados, representativos e de confiabilidade, para a continuidade de programas de prevenção e tratamento mais adequados. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 em idade de crescimento e comprometer o desenvolvimento cerebral. Desde o período pré-natal, tem repercussões importantes e deletérias de longo prazo no desenvolvimento de habilidades cognitivas, comportamentais, linguagem e capacidades motoras das crianças, sendo que o possível impacto negativo permanece mesmo após o tratamento precoce por décadas, especialmente em crianças pouco estimuladas ou de baixo nível social e econômico. A carência de ferro na infância também predispõe a cáries dentárias, menor discriminação e identificação de odores em comparação aos grupos controle, alterações na imunidade não específica, paladar e apetite (com associação a quadros de pica - alterações do sabor e apetite); resposta alterada ao estresse metabólico e desenvolvimento audiovisual. Nos trabalhos que avaliaram a suplementação com ferro, o déficit cognitivo é descrito como maior nas crianças anêmicas, porém não foi revertido com a suplementação precoce por períodos curtos (30 dias); sendo necessário mínimo de 90 dias para serem identificados os efeitos positivos modestos na repleção das reservas de ferro, com plena adesão do paciente e do profissional de saúde. A literatura considera ideal tempos maiores de intervenção, de acordo com o sal utilizado. Durante a gestação a anemia (especialmente no primeiro e segundo trimestres) associa-se a desfechos obstétricos desfavoráveis, como prematuridade, baixo peso ao nascer e aumento da mortalidade perinatal e neonatal. No período pós-parto se associa à redução da qualidade de vida e aumento nos níveis de depressão, o que pode implicar diretamente no cuidado com o recém-nascido e seu desenvolvimento, desfavorecendo o aleitamento materno. Pesquisas nacionais evidenciaram que anemia materna exerceu influência sobre os valores de hemoglobina do lactente aos 6 meses de vida, mesmo em aleitamento materno exclusivo. A Academia Americana de Pediatria inicia a suplementação de ferro aos 4 meses de vida. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E LABORATORIAL As manifestações clínicas da deficiência de ferro são determinadas pelos estágios de depleção, deficiência de ferro e anemia propriamente dita, quando as repercussões clínicas e fisiológicas são aparentes, como apatia, cansaço, irritabilidade, taquicardia e outros. Exames laboratoriais específicos oferecem diagnóstico em cada um destes períodos. A depleção de ferro, primeiro estágio, é caracterizada por diminuição dos depósitos de ferro no fígado, baço e medula óssea e pode ser diagnosticada a partir daferritina sérica, principal parâmetro utilizado para avaliar as reservas de ferro, por apresentar forte correlação com o ferro armazenado nos tecidos. Entretanto, a concentração de ferritina é influenciada pela presença de doenças hepáticas e processos infecciosos e inflamatórios, devendo ser interpretada com cautela. Valores inferiores a 12μg/L são fortes indicadores de depleção das reservas corporais de ferro em crianças menores de 5 anos, e inferiores a 15μg/L para crianças entre 5 e 12 anos. No segundo estágio (deficiência de ferro), são utilizados para diagnóstico a própria redução do ferro sérico, aumento da capacidade total de ligação da transferrina (>250-390μg/dl) e a diminuição da saturação da transferrina (<16%). Outros exames podem ser necessários como a transferrina, zincoprotoporfirina eritrocitária e capacidade total de ligação do ferro. O ferro sérico é relevante no diagnóstico quando seus valores se encontram menores que 30mg/dl. A anemia ferropriva (diminuição sanguínea da hemoglobina e hematócrito e alterações hematimétricas) é o estágio final da deficiência de ferro. A OMS estabelece como ponto de corte para diagnóstico de anemia valores de hemoglobina menores que 11g/dl e 11,5g/dl para crianças de 6 a 60 meses e crianças de 5 a 11 anos de idade, respectivamente. Para o hemató- crito, consideram-se inadequados valores abaixo de 33% e 34% para crianças de 6 a 60 meses e crianças de 5 a 11 anos de idade, respectivamente. No momento atual, determina-se a utilização de variações no nível da hemoglobina de acordo com a idade, com intervalos aceitáveis. Ainda na avaliação do hemograma, leucopenia e plaquetose também podem ser indicativos do quadro de anemia e devem ser considerados. A contagem dos reticulócitos se relaciona à eritropoiese, uma vez que o volume de hemoglobina presente nos reticulócitos representa o volume de ferro disponível para a eritropoiese e é um indicador precoce da anemia ferropriva e déficit de hemoglobinização. A referência para crianças do seu valor relativo é de 0,5% a 2%, e do valor absoluto de 25000-85000/mm3, devendo este último ser utilizado por ser mais fidedigno. Para o diagnóstico da anemia ferropriva também é necessário considerar os sinais clínicos da deficiência de ferro, que podem ser utilizados em conjunto com parâmetros bioquímicos e laboratoriais, tais como: redução da acidez gástrica, gastrite atrófica, sangramento da mucosa intestinal, irritabilidade, distúrbios de conduta e percepção, distúrbio psicomotor, inibição da capacidade bactericida dos neutrófilos, diminuição de linfócitos T, diminuição da capacidade de trabalho e da tolerância a exercícios, palidez da face, das palmas das mãos e das mucosas conjuntival e oral, respiração ofegante, astenia e algia em membros inferiores, unhas quebradiças e rugosas e estomatite angular. PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA ANEMIA FERROPRIVA Ações de educação alimentar e nutricional (EAN) voltadas para a prevenção da anemia ferropriva preveem o estímulo ao acesso universal à alimentação adequada, ao aleitamento materno exclusivo e prolongado, de forma a aumentar o consumo de alimentos fontes de ferro, bem como de alimentos que aumentam a biodisponibilidade e a absorção do ferro na introdução de alimentos complementares. A contraindicação de uso de leite de vaca in natura, não processado, em pó ou fluido antes dos 12 meses (limitação de consumo de 500ml/dia após os 12 meses) também é uma estratégia reconhecidamente protetora contra a deficiência de ferro e o desenvolvimento de anemia ferropriva, devendo ser continuamente incentivada. Estilos de vida optantes por regimes de alimentação restritos para o uso de carnes e Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 alimentos fontes de ferro hemínico requerem igualmente acompanhamento nutricional adequado, com apoio de nutricionistas especialistas para garantir o consumo adequado de ferro e ou suplementação profilática sempre que necessário. As recomendações de ingestão de ferro são apresentadas nas Dietary Reference Intakes (DRIs) e foram desenvolvidas e calcula- das pelo Institute of Medicine of the National Academies. Dentre as políticas nacionais que visam a pre- venção da anemia ferropriva em crianças, cita-se a fortificação de alimentos, adotada em conso- nância com a OMS e que visa abordagem susten- tável e custo-efetiva para a prevenção da anemia ferropriva2,37, a estratégia NutriSus (oferta de sa- chês com 15 micronutrientes em pó para acrésci- mo às preparações da criança na rotina escolar)38, e a fortificação da água potável com ferro39. A política nacional de fortificação de alimentos foi recentemente atualizada pela ANVISA, prevendo atualmente a fortificação das farinhas de trigo e milho com fumarato ferroso e sulfato ferroso (de boa disponibilidade) em 4 a 9 mg para cada 100g de farinha (RDC n° 150 de 2017) O Brasil também apresenta políticas para a suplementação do ferro desde 2005 (Programa Nacional de Suplementação de Ferro - PNSF), atingindo crianças de seis a 24 meses de idade, gestantes e lactantes até o terceiro mês pós-parto com suplementação profilática com sulfato ferroso via oral. Segundo o programa, crianças entre seis e 24 meses devem ser suplementadas com sulfato ferroso na dosagem de 1mg/kg peso/dia. A recomendação vigente da Sociedade Brasileira de Pediatria orienta a suplementação profilática com dose de 1mg de ferro elementar/kg ao dia dos três aos 24 meses de idade, independentemente do regime de aleitamento. Para lactentes nascidos pré-termo ou com baixo peso (menor de 1500g), a recomendação é de suplementação com 2mg/kg/dia a partir do 30o dia até os 12 meses. Já para os prematuros com baixo peso (entre 1000g e 1500g) a recomendação de suplementação é de 3mg/kg/dia até os 12 meses; e para recém-nascidos com menos de 1000g, de 4mg/kg/dia. Após o 1o ano de vida, a suplementação em todos os casos reduz-se para a dose de 1mg/kg/dia por mais 12 meses. A dose de suplementação profilática com ferro elementar recomendada é diferenciada (30mg/ dia) para crianças entre 2 e 12 anos residentes em regiões com prevalência de anemia ferropriva superior a 40%. A suplementação profilática é demonstrada em estudos como suficiente para elevar a concentração de hemoglobina e estoques de ferro, contribuindo para a redução do risco de anemia. Para gestantes, a recomendação profilática é de 40mg/dia de ferro elementar para mulheres não anêmicas, 60-120mg/dia para gestantes com anemia, por mínimo de 60 dias. Além das políticas nacionais mencionadas acima, a importância de ações no escopo do atenção básica à saúde para a prevenção e controle da anemia (como o controle de doenças infecciosas e parasitárias, ampliação da rede de saneamento básico e higiene pessoal, bem como acesso a água tratada) é inegável, bem como ações voltadas para a saúde reprodutiva da mulher, como a prevenção da gravidez na adolescência, planejamento familiar, estímulo ao acompanhamento nutricional no pré-natal precoce, acesso a cuidados perinatais e pós-natal (clampeamento adequado do cordão umbilical, prevenção de hemorragia pós-parto e intervalo Inter gestacional maior que 18 meses). O tratamento da anemia ferropriva é pautado na orientação nutricional para o consumo de alimentos fonte, e reposição de ferro - por via oral - com dose terapêutica de 3 a 5 mg/kg/dia de ferro elementar para crianças por mínimo de oito semanas. A suplementação deve ser continuada visando a reposição dos estoques de ferro, o que varia entre dois a seis meses ou até obtenção de ferritina sérica maior que 15μg/dL (ressalvando a importância de que o valor alcance os valores esperados entre 30 e 300μg/dL). Dentre os diversos tipos de sais de ferro disponíveis para a suplementação destacam-se o sulfato ferroso, o fumarato ferroso e o gluconato ferroso. Os sais de ferro são eficazes na correção da hemoglobina e reposição dos estoques de ferro, apresentambaixo custo e a rápida absorção (difusão ativa e passiva, no duodeno). A suplementação com sais de ferro também exige cautela quanto ao excesso de dosagem, uma vez que a oxidação do ferro ferroso gera radicais livres, e a absorção do ferro excessiva eleva a saturação da transferrina e o ferro livre no plasma, tóxico para o metabolismo. Por sofrer influência dos componentes dietéticos, a suplementação com sais de ferro deve ser realizada longe das refeições, recomendando-se a tomada em jejum, 1h antes das refeições ou antes de dormir. Apesar da eficácia, a adesão ao tratamento com sais ferrosos é geralmente baixa devido aos sintomas adversos frequentes (35% a 55%) e típicos da suplementação, como náuseas, vômitos, gosto metálico, pirose, dispepsia, plenitude ou desconforto abdominal, diarreia e obstipação. Assim, a dose ideal torna-se a dose tolerada pelo paciente. Apesar disto, o sulfato ferroso ainda é o composto de escolha pelo Ministério da Saúde para os programas de suplementação no Sistema Único de Saúde, o que se reflete em potencial abandono do tratamento ou da profilaxia. Além dos sais ferrosos, os sais férricos e aminoquelatos - ferro polimaltosado, ferro amino-quelado, EDTA e ferro carbonila - também podem ser utilizados com melhor perfil de adesão, por padrão de absorção mais lento e fisiologicamente controlado (taxa de absorção de cerca de 50%) por não sofrerem alterações com a dieta (o que permite administração durante ou após as refeições), e por provocarem menos efeitos adversos (10% a 15%). Os sais férricos apresentam eficácia semelhante aos ferrosos quanto à correção da anemia ferropriva. O ferro quelato também apresenta alta biodisponibilidade (a união do ferro ao aminoácido impede a formação de compostos insolúveis), não é prejudicado por fatores inibidores da dieta e não é exposto diretamente à mucosa intestinal (reduzindo os riscos de toxicidade local e de efeitos adversos), apresentando as mesmas vantagens do uso dos sais férricos. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 O ferro carbonila é a alternativa mais abundante em teor de ferro elementar (98%), com boa disponibilidade e efetividade, e menor taxa de efeitos adversos em relação aos sais ferrosos, porém mais do que os outros sais férricos. Diferentemente das demais alternativas, pode ter sua absorção diminuída por componentes da dieta, devendo ser administrado em jejum. Apesar da absorção lenta e controlada, todas as alternativas mencionadas requerem maior tempo de tratamento e de apresentar custo para o paciente, uma vez que ainda não são distribuídos gratuitamente na rede pública. Assim, a família deve ser educada quanto à importância da adesão ao tratamento. Além da suplementação de ferro via oral, a reposição parenteral de ferro é recomendada em casos excepcionais como os de hospitalização por anemia grave após falha terapêutica do tratamento oral, necessidade de reposição de ferro por perdas sanguíneas, doenças inflamatórias intestinais, quimioterapia ou diálise ou após cirurgias gástricas com acometimento do intestino delgado, devendo sempre ser solicitada avaliação de especialista experiente para uso prévio. Recomendação do consenso: a avaliação clínica não é suficiente para detecção de casos precocemente, uma vez que os sinais clínicos se tornam visíveis apenas depois da condição instalada ou quadro de deficiência já intenso, com consequências graves e de longa duração. Assim, o diagnóstico precoce é fundamental para a aplicação de tratamentos eficazes. A história clínica, o envolvimento do pediatra na orientação pré-natal, na orientação ao aleitamento e introdução de alimentos complementares e o exame clínico ainda devem ser parte essenciais da consulta. Os exames laboratoriais de rotina para diagnóstico e para a profilaxia da ane- mia são preferencialmente o hemograma completo (com parâmetros hematimétricos), contagem de reticulócitos e ferritina. O uso da ferritina como marcador da fase de depleção é essencial, porque, quando há intervenção nesta fase, os resultados são de possível profilaxia dos déficits cognitivos. A proposta do consenso é que haja uma triagem de exames já em crianças a partir dos 12 meses de vida. Em casos de necessidade, para diagnóstico diferencial ou naqueles não resolvidos com o tratamento habitual, outras provas de avaliação podem ser realizadas, como a dosagem do ferro sérico, transferrina, zincoprotoporfirina eritrocitária, capacidade total de ligação do ferro, entre outros. No entanto, estes exames detectam apenas a fase de deficiência de ferro e não a de depleção. O diagnóstico da anemia por valor de hemoglobina deve ser feito pelas faixas de normalidade para cada idade e não por valor absoluto. O critério proposto para ferritina é que a criança deva ter valores acima de 30μg/dl. Valores inferiores a 15μg/dl indicam deficiência grave e valores intermediários devem ser avaliados após suplementação com ferro. O teste do pezinho (triagem neonatal) também deve ser utilizado para descartar causas genéticas de anemia (p. ex. doença falciforme ou deficiência de G6PD, bem como outras hemoglobinopatias). Uma vez realizado o diagnóstico da anemia ferropriva, o tratamento deve ser estabelecido de forma correta e emergencial, com o melhor sal disponível, com controle adequado e pelo tempo necessário. Medidas de avaliação de hemograma associado ao PCR (para descartar infecção e inflamação) e da ferritina, são propostos como exames iniciais em todas as crianças aos 12 meses de idade. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 O hemograma compreende a contagem das células do sangue periférico (hemácias, leucócitos e plaquetas) e a contagem diferencial dos cinco tipos leucocitários, além da quantidade dos valores da hemoglobina e do hematócrito e ainda o do cálculo dos índices hematimétricos. I ) - ERITROGRAMA É a parte do exame hematológico que avalia especificamente a série vermelha, através dos seguintes parâmetros: número de glóbulos vermelhos, dosagens de hemoglobina e hematócrito e índices hematimétricos. O eritrograma permite o diagnóstico e o acompanhamento das anemias e poliglobulias. Define-se anemia como “ o estado no qual a concentração de hemoglobina sanguínea é menor do que o limite inferior de referência para a idade e sexo do paciente ”; em geral, considera-se como anemia os níveis de hemoglobina : § abaixo de 13,5g/dl em homens e de 11,5g/dl em mulheres adultos; § Ao nascimento, como os recém-nascidos têm níveis altos de hemoglobina, considera-se 15,0g/dl o limite inferior de referência. § Dos três meses de idade até a puberdade, níveis abaixo de 11,0g/dl indicam anemia. Quando a concentração de hemoglobina diminui, geralmente diminuem também as contagens de glóbulos vermelhos do sangue. Poliglobulia é a condição na qual a concentração de hemoglobina sanguínea é maior do que o limite superior de referência para o sexo e idade do paciente; considera-se, geralmente, valores acima de 18g/dl e de 16g/dl para homens e para mulheres adultos, respectivamente. Ao nascimento, as crianças são fisiologicamente poliglobúlicas, considerando-se como limite superior da normalidade, nessa faixa etária, valores de até 22g/dl. O hematócrito corresponde, em porcentagem, ao volume de hemácias em relação ao volume total de sangue. Ao mesmo número de hemácias podem corresponder valores de hematócrito diferentes, conforme o estado de hidratação do indivíduo: § desidratação e redução no volume plasmático geram valores mais elevados; § hipervolemia e aumento no volume plasmático resultam em valores menores. O número de hemácias, isoladamente, não tem grande valor, mas é fundamental para o cálculo dos índices. Nos aparelhos automatizados, o hematócrito é calculado e não medido diretamente e, por esta razão, não é um índice adequado para se avaliar anemia. Os índices hematimétricos avaliam as hemácias em relaçãoao tamanho e conteúdo de hemoglobina, auxiliando na caracterização dos quadros anêmicos. Os contadores automatizados medem o VCM (volume corpuscular médio) e calculam os demais índices, razão pela qual o VCM e a hemoglobina são os parâmetros de escolha para avaliação da anemia. O VCM é um índice de tamanho da hemácia: Hemácias com VCM abaixo de 80 : são consideradas microcíticas, Valores acima de 95 : indicam macrocitose; O VCM é normal nas chamadas hemácias normocíticas. De maneira geral, as alterações no tamanho das hemácias são referidas como anisocitose (microcitose e macrocitose). Recentemente, o uso de aparelhos automatizados permitiu a introdução de um novo índice, o RDW - red cell distribution width, o qual corresponde à amplitude de distribuição do tamanho das hemácias. É mais um índice de anisocitose, Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 indicando o quanto a população de hemácias se desvia do tamanho médio. HCM e CHCM são índices de cor, refletindo a concentração de hemoglobina presente nas hemácias. Valores de CHCM abaixo de 30%: indicam hipocromia, condição em que as hemácias estão menos coradas que as normais por apresentarem uma concentração hemoglobínica subnormal. A classificação hematimétrica das anemias relaciona índices de cor e tamanho: § As anemias hipocrômicas geralmente são microcíticas; um exemplo desta condição é a anemia ferropriva, já que o ferro é fundamental para o processo normal de hemoglobinização das hemácias. § As anemias normocrômicas e normocíticas apresentam índices de cor e tamanho normais, porém, a concentração de hemoglobina e o número de glóbulos vermelhos são anormais; é o caso das anemias da doença crônica ou por sangramento agudo. § As anemias macrocíticas apresentam VCM acima do limite superior de referência; um exemplo é a deficiência de vitamina B e/ou de folato, os quais são cofatores indispensáveis para a maturação nuclear normal dos precursores eritrocíticos. Precursores: Os precursores das hemácias maduras são os chamados eritroblastos, células nucleadas que se encontram, normalmente, apenas na medula óssea; tais células só passam ao sangue periférico em condições de estímulo aumentado à gênese da série vermelha, como por exemplo na anemia hemolítica. O precursor imediato da hemácia madura é o reticulócito (nl =1 a 2%; no RN é mais elevado: a termo, 5%, prematuro, até 10%, normaliza-se ao fim da primeira semana), célula anucleada com restos ribossômicos em seu citoplasma e cuja contagem é útil para se avaliar a formação de novas hemácias. Ø Reticulócitos acima de 2,0% indicam maior estímulo à eritrogênese: anemias hemolíticas, pós-hemorrágicas. Reticulócitos também aumentam nas anemias ferroprivas quando se administra ferro (modo indireto de se diagnosticar anemia ferropriva) Ø Contagem inferior a 0,5% sugere falta de produção medular de glóbulos vermelhos (provável anemia ferropriva ou aplástica). Alterações de forma, cor e tamanho de hemácia: A avaliação da série vermelha inclui o exame microscópico do esfregaço sanguíneo, porque muitas alterações morfológicas de importância diagnóstica não são identificadas apenas pelas contagens e cálculo dos índices. A observação microscópica das hemácias pode fornecer informações adicionais importantes, sendo particularmente útil no diagnóstico das anemias. Alterações da forma: anisocitose é a variação de tamanho das hemácias, medida pelos índices VCM e RDW poiquilocitose é a variaçâo da forma das hemácias Alterações de forma das hemácias podem sugerir tipos específicos de anemias, necessitando-se eventualmente de outros exames para confirmação diagnóstica. São tipos de poiquilócitos: esferócitos (esferocitose hereditária), ovalócitos (ovalocitose), hemácias em alvo (talassemia ou HbC), hemácias em lágrima ou dacriócitos (mielofibrose), estomatócitos (estomatocitose), esquizócitos (coagulação intravascular disseminada, prótese valvar, microangiopatia), equinócitos ou crenadas (uremia), acantócitos (dislipidemia) e hemácias em foice ou drepanócitos (anemia falciforme). Alterações da cor: hipocromia e hipercromia referem-se à variação de cor e são indicadas pela CHCM o termo policromasia refere-se à cor azulada que as hemácias mais jovens – reticulócitos Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 II ) - LEUCOGRAMA É a parte do hemograma que inclui a avaliação dos glóbulos brancos. Compreende as contagens global e diferencial dos leucócitos, além da avaliação morfológica do esfregaço sanguíneo ao microscópio. Este exame está indicado no diagnóstico e acompanhamento dos processos infecciosos, inflamatórios, alérgicos, tóxicos e neoplásicos. Os valores de referência para leucócitos totais e para os diferentes tipos leucocitários variam com a idade. Crianças costumam apresentar contagens globais mais altas, com porcentagens relativas de linfócitos superiores às dos adultos, diferença esta que tende a desaparecer após a puberdade. número global de leucócitos é alto no recém-nascido, e começa a cair ano fim de 2 ou 3 dias. A contagem relativa dos leucócitos é de uso corrente na prática clínica, mas pode não traduzir uma real alteração; esta deve ser comprovada pela contagem absoluta, a qual considera o número global dos leucócitos. Os glóbulos brancos podem ser classificados em: granulócitos: neutrófilos (segmentados), eosinófilos e basófilos. Os neutrófilos jovens são formas não segmentadas (bastonetes, metamielócitos, mielócitos e pró-mielócitos) não granulócitos: linfócitos e monócitos. O número global de leucócitos no RN é alto e começa a cair no fim de 2 a 3 dias. Valores hematológicos normais no RN: Cada um dos tipos de leucócito está envolvido com uma função particular. § A anemia carencial ferropriva é a mais comum das anemias da infância; § A idade de aparecimento geralmente é de 6meses a 2 anos, com pico de 6 a 10 meses, mas os sintomas geralmente se tornam evidentes mais tarde; § São fatores de risco: prematuridade ou baixo pesos ao nascer, anemia materna, ingestão exagerada de leite de vaca (ou de cabra), dieta prolongada com mamadeiras (atraso em iniciar alimentos sólidos), perda gastrointestinal ( diarréia crônica, ancilostomíse, RGE, alergia a leite de vaca, anomalias anatômicas, úlcera péptica); § É HIPOCÔMICA E MICROCÍTICA COM REICULÓCITOS BAIXOS E RDW ELEVADO; § Adinamia, fraqueza, desânimo, mau desempenho físico e escolar são comuns. Pode haver vontade de comer terra ou gelo. Esplenomegalia pode ser palpada em 15% dos doentes. Deficiência de ferro está relacionada com déficit de aprendizado, menor desempenho intelectual e de atenção, tanto em crianças quanto em adolescentes; § Geralmente e microcitose e hipocromia e poiquilocitose mais a história clínica são suficientes para o diagnóstico e início do tratamento. Quando a história é típica e a palidez inquestionável o tratamento pode ser iniciado mesmo antes do resultado do laboratório Quando persiste dúvida estuda-se o ferro sérico e suas proteínas transportadoras; § O ferro sérico está baixo na anemia ferropriva mas em lactentes seu valor se superpõe à faixa normal, portanto, O FERRO SÉRICO ISOLADO É UM MAU MARCADOR DE ANEMIA FERROPRIVA (o valor limite normal varia com a idade); § A ferritina sérica é a proteína que se liga ao ferro nos tecidos. Reflete o total de ferro no organismo. Está diminuída na anemia ferropriva, exceto nos casos associados de infecção/inflamação. O valor da Ferritina Sérica pode ter aumento de duas a quatro vezes na presença de infecções e processos inflamatórios , o que faz diminuir o seu valor diagnóstico; § Quase todo o ferro do soro está ligado à transferrina, a proteína de transporte do ferro. Na anemia ferropriva aumenta muito a síntese de transferrina para compensar o transporte e a absorção. Valor normal varia de 300 a 360 microg/dL; § O índice de saturação da transferrinaé baixo.Valores abaixo de 10% da saturação de transferrina são indicativos de anemia ferropriva, entre 10 e 16%, duvidoso e acima de 16% normal. § Leucopenia é definida pela contagem de leucócitos abaixo de 4 000 por mm3; § Leucocitose corresponde à contagem acima de 10 000 leucócitos por mm3. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 Desvio à esquerda corresponde ao aparecimento, no sangue periférico, de precursores granulocíticos, que normalmente se localizam na medula óssea. Estes precursores incluem os bastonetes, os mielócitos e os metamielócitos. O desvio à esquerda ocorre em resposta aos processos infecciosos bacterianos ou na leucemia mielóide crônica nos primeiros existe um desvio escalonado por todos os precursores. Na avaliação dos resultados devem-se considerar os valores de referência para idade, sexo e etnia, bem como as condições de coleta do sangue. Situações de estresse, gravidez, exercício físico, alimentação e uso de corticóides podem aumentar a leucometria, mais especificamente o número de neutrófilos circulantes. Leucocitose – aumento global de leucócitos – verifica-se: § Na maior parte dos casos de infecções bacterianas, agudas e crônicas. § Nas infecções bacterianas supuradas § Na coqueluche, no fim do período catarral e no começo do paroxístico ( atinge de 15.000 a 45.0000), havendo predomínio de linfócitos § Na mononucleose infecciosa, há elevação de leucócitos a partir da segunda semana, podendo exceder 30.000, e linfocitose, com presença de linfócitos atípicos § Na cetoacidose diabética ( na ausência de qualquer processo infeccioso), cifras podem atingir 20.000 a 30.000. Tanto o desvio à esquerda quanto as granulações tóxicas são indicadores do aumento da produção e da velocidade de maturação dos neutrófilos pela medula óssea. Esta reação é comumente associada às infecções graves como pneumonias, endocardites, peritonites, pielonefrites, abscessos, etc. O surgimento de leucopenia no curso destas infecções é um sinal de mau prognóstico. As leucocitoses reacionais intensas são chamadas de reações leucemóides e devem ser diferenciadas principalmente da leucemia mielóide crônica. Nesta, o desvio à esquerda é não escalonado, com aumento de mielócitos e presença de poucos blastos. São comuns os aumentos no número de eosinófilos e de basófilos. A pesquisa de fosfatase alcalina nos neutrófilos pode ajudar nos casos mais difíceis. Ausência de atividade da fosfatase alcalina neutrofílica sugere a origem leucêmica dos neutrófilos. Em raras ocasiões verifica-se a presença de neutrófilos jovens não escalonados e eritroblastos no sangue periférico, caracterizando a reação leuco-eritroblástica. Esta reação, que deve ser diferenciada dos quadros reacionais, sugere a presença de infiltração de medula óssea por metástases, por exemplo, permitindo o escape de células medulares. Leucopenia – diminuição global dos leucócitos – encontra-se: NAS INFECÇÕES BACTERIANAS SÃO OBSERVADOS: § leucocitose por neutrofilia (aumento dos neutrófilos); § desvio à esquerda escalonado dos neutrófilos: corresponde à presença de neutrófilos jovens, as formas não segmentadas (bastonetes, metamielócitos, mielócitos e pró-mielócitos), no sangue periférico. O desvio é dito escalonado quando existe predomínio dos neutrófilos mais maduros. § alterações tóxico-degenerativas nos neutrófilos: caracterizadas pela presença de granulações tóxicas, corpúsculos de Döle e vacúolos no citoplasma dos neutrófilos § eosinopenia A resolução do processo infeccioso caracteriza-se por: § diminuição do número de neutrófilos § aumento do número de linfócitos § retorno de eosinófilos Alterações hematológicas na sepse do recém-nascido: § Leucopenia: < 5000 ou Leucocitose: > 25000 § Neutropenia (diminuição de neutrófilos) : < 2500 § Granulocitopenia :< 500 (mau prognóstico) § Granulações tóxicas e vacúolos neutrofílicos § Bastonetose: mais de 1400 bastões entre 12 e 18 horas de vida e após maior que 800 § Ìndice neutrofílico: relação No bastões/neutrófilos totais maior que 0,2 (mais sensível; sensibilidade maior que 90% e valor preditivo negativo em 100% dos RN normais § Plaquetopenia: <100.000 (tardio) Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 § Na maior parte das viroses há leve leucopenia com linfocitose, mas às vezes o número de leucócitos não se modifica ou se mostra um pouco elevado § Em certas infecções bacterianas, como febre tifóide e paratifóide § Em infecções bacterianas habitualmente acompanhadas de leucocitose, em condições particulares, o aparecimento de leucopenia traduz um prognóstico de gravidade em relação à infecção (falha dos meios de defesa do organismo). \Nas riquetsioses (primeira semana de evolução do tifo exantemático) Malária crônica Leishmaniose visceral Início do choque anafilático § Várias doenças do sangue: anemia aplástica, leucemia aguda (formas leucopênicas) Carência de ácido fólico ou vitamina B12. desnutrição grave. LES Certas doenças acompanhadas de esplenomegalia (como a doença de Gaucher) § Como efeito de agentes depressores da medula óssea: medicamentos (cloranfenicol, imunodepressores), tóxicos ( DDT), irradiação. NAS INFECÇÕES VIRAIS SÃO OBSERVADAS, EM GERAL: § Leucopenia ou leucocitose por aumento no número de linfócitos § atipia linfocitária: caracterizada pela presença de linfócitos maiores, com citoplasma mais volumoso e basofílico, núcleos irregulares e com cromatina mais aberta. Esta reação é mais comum em crianças e adolescentes, sendo rara em adultos; a doença mais comumente associada a atipia linfocitária é a MONONUCLEOSE INFECCIOSA. Algumas vezes, o polimorfismo dos linfócitos atípicos pode ser confundido com blastos (que ocorrem nas doenças linfoproliferativas neoplásicas, como as leucemias). O aumento no número de eosinófilos (eosinofilia: >500 eosinófilos) está comumente associado a: processos alérgicos como asma, rinite e dermatite ; processos parasitários, especialmente as verminoses intestinais; reações a medicamentos: penicilina, cefalosporinas,nitrofurantoína, clorpromazina; convalescença de doenças infecciosas agudas; síndrome de Löeffler e outros. O aumento de monócitos está associado aos processos inflamatórios ou infecciosos crônicos. Linfocitose - aumento dos linfócitos – ocorre: § nas infecções virais § na coqueluche (acompanhada de leucocitose) § nas infecções ou processos inflamatórios de evolução crônica ou subaguda (tuberculose, sífilis) . § Na convalescença de moléstias infecciosas agudas Dentre as principais causas de erro laboratorial na execução do hemograma destaca-se a coleta inadequada da amostra. Para este exame, o sangue deve ser obtido por punção venosa minimamente traumática, evitando-se, sempre que possível, o acesso de cateteres. O sangue assim colhido deve ser prontamente colocado em tubo de vidro contendo proporção adequada de EDTA (ácido etilenodiaminotetraacético) e homogeneizado com delicadeza. A formação de agregados plaquetários é causa de falsa plaquetopenia, podendo os microcoágulos resultar em grandes variações nas contagens celulares. EXAMES DE URINA Num indivíduo adulto normal, aproximadamente um litro de sangue perfunde os dois rins a cada minuto, possibilitando a formação de um ultrafiltrado do plasma. Este filtrado possui pH e osmolalidade semelhantes aos do plasma sanguíneo, ou seja, 7,4 e 285mOsm/kg de água, respectivamente. A densidade é de aproximadamente 1010. À medida que o ultrafiltrado flui pelos túbulos de cada néfron e pelos duetos coletores de cada rim, ocorrem modificações em sua constituição química e suas características físicas, que resultam em um volume de urina com composição final extremamente diferente daquela inicial do ultrafiltrado, seja pela reabsorção da maioria das substâncias, seja pela secreção de outras tantas. O volume final de urina formada depende do estado de hidrataçãodo indivíduo. Os 180 litros de filtrado glomerular formados a cada 24 horas são reduzidos a um ou dois litros de urina. A tabela 8 apresenta os volumes de urina habitualmente observados nas diferentes faixas etárias. Frente a algumas situações clínicas, pode ser útil a realização de dosagens bioquímicas na urina coletada por períodos de Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 12 ou 24 horas. A coleta de urina por períodos longos, ainda que mais representativa, pode se constituir em grande obstáculo nos pacientes pediátricos. Uma possível solução para este problema é a adoção de valores de referência parametrizados em relação à excreção urinária de creatinina. A excreção urinária de cálcio, por exemplo, pode ser avaliada em amostras de urina de 24 horas ou isoladas, sendo expressa por creatinina (mg/g). Os intervalos de referência nas diferentes faixas etárias são: Para as relações ácido úrico/creatinina e oxalato/creatinina, os intervalos de referência, nas diferentes faixas etárias, estão listados na tabela 9. EXAME DE URINA DE ROTINA (TIPO I) O exame de urina de rotina é um dos procedimentos laboratoriais mais solicitados para os pacientes com as mais diferentes queixas clínicas, ou mesmo para indivíduos normais que apenas se submetem à avaliação periódica, sem sintomatologia alguma. Este exame pode fornecer informações úteis para o diagnóstico de processos irritativos, inflamatórios e infecciosos, bem como de alguns distúrbios metabólicos, como por exemplo, diabetes e acidose. Graças às diferentes substâncias pesquisadas é possível, também, a detecção até mesmo de algumas doenças não relacionadas com o rim ou vias urinárias, como distúrbios hemolíticos, hepatite, etc. Como todos os demais exames laboratoriais, a ocasião e as condições de coleta são fundamentais para a obtenção de resultados úteis e confiáveis. Idealmente, deve-se utilizar amostra recente coletada após um período de, pelo menos, duas horas sem que o indivíduo tenha urinado. A urina deve ser colhida após assepsia local, desprezando-se o primeiro jato sempre que possível. O exame é constituído por três fases: análises física, química e de elementos figurados. Análise física Compreende a observação do aspecto, da cor e da densidade. Aspecto: a urina normal possui aspecto claro, transparente. Pode, porém, se apresentar turva devido à presença de formações de uratos ou fosfatos amorfos. Cor: a cor da urina normal varia do amarelo ao âmbar e é devida à presença de um pigmento chamado urocromo. As colorações rósea, vermelha ou castanha podem indicar presença de sangue, enquanto a cor âmbar escuro sugere níveis elevados de urobilina ou bilirrubina; já as urinas que assumem uma tonalidade amarela-viva, verde ou mesmo azul podem ser compatíveis com o uso de medicamentos, tais como antissépticos e vitaminas, ou de alimentos corados. Densidade: o uso da densidade como índice de avaliação parcial da integridade renal é baseado no conceito de que o túbulo renal normal é capaz de modular o volume de líquido a ser reabsorvido a partir do filtrado glomerular, poupando ou não água na dependência das necessidades imediatas do organismo. Em condições habituais, considera-se como densidade adequada aquela cujo valor se situa no intervalo entre 1 015 e 1 021 (1 018 + 0,003). Análise química Inclui a determinação do pH, a pesquisa de proteínas, glicose, corpos cetônicos, bilirrubinas e urobilinogênio e a quantificação dos valores de proteínas e glicose. pH: os rins são reguladores do equilíbrio ácido-básico. A regulação se dá pela secreção de hidrogênio e de ácidos orgânicos fracos, bem como pela reabsorção de bicarbonato do ultrafiltrado pelos túbulos contornados. A determinação do pH urinário pode auxiliar no diagnóstico dos distúrbios eletrolíticos sistêmicos de origem metabólica ou respiratória e no acompanhamento de tratamentos que exijam manutenção da urina num determinado intervalo de pH. No exame de rotina, algumas vezes, a determinação do pH é substituída pela simples referência à reação (ácida, alcalina ou ligeiramente ácida). Esta determinação, para ter algum significado clínico, deve ser feita em amostra de urina recente. Proteínas: proteinúria pode ser indicadora de lesão renal. Em relação à intensidade, ela pode ser classificada em: Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 Ø proteinúria elevada: excreção superior a 3,5g de proteínas em 24 horas. É típica de síndrome nefrótica, mas pode ocorrer em casos de glomerulonefrite, nefroesclerose, amiloidose, lupus eritematoso disseminado, trombose da veia renal, insuficiência cardíaca congestiva ou pericardite. Ø proteinúria moderada: excreção entre 0,5 e 3,5g de proteínas em 24 horas. É detectada em doenças renais como glomerulonefr,ite crônica, nefropatia diabética, mieloma múltiplo e nefropatia tóxica, na pré-eclâmpsia e ainda nas alterações inf lamatórias malignas, degenerativas e irritativas do trato urinário, incluindo a presença de cálculo urinário. Ø proteinúria mínima: excreção inferior a 0,5g de proteínas em 24 horas. Está associada a doenças como glomerulonefrite crônica, enfermidade policística renal, afecção túbulo-renal, fase de convalescença de glomerulonefrite aguda e vários distúrbios do trato urinário inferior. Ø proteinúria postural: ocorre apenas quando o indivíduo permanece em posição ereta e pode atingir até 1,0g de proteínas em 24 horas. Ø proteinúria funcional: associada a estados febris, à exposição ao calor ou ao frio intensos e a exercícios físicos. Ø microalbuminúria: presença de albumina na urina em quantidade variável de 20 a 200 microgramas por minuto ou de 30 a 300mg em 24 horas. No diabetes mellitus insulina- dependente, a microalbuminúria é indicador de doença renal inicial, refletindo a existência de lesão microvascular. Em relação à etiologia e local de origem, a proteinúria pode ser classificada como se segue: Ø proteinúria glomerular: é o tipo mais comum, havendo predomínio de albumina entre as proteínas excretadas. É decorrente do aumento da permeabilidade glomerular, como ocorre nas glomerulonefrites, sendo a proteinúria geralmente superior a 2,0 g em 24 horas. Ø proteinúria tubular: excreção urinária de proteínas de baixo peso molecular, as quais, em condições normais, são reabsorvidas pelas células tubulares. As proteínas excretadas são a beta-2 microglobulina, a lisozima, a pré-albumina, a proteína carregadora do retinol, a alfa-1 glicoproteína ácida, a alfa-2 macroglobulina e a siderofilina. A proteinúria tubular pode ocorrer agudamente, em situações de estresse, tais como queimaduras, pancreatite aguda ou administração de drogas nefrotóxicas. A proteinúria tubular crônica pode ser decorrente de doenças hereditárias, como a síndrome de Fanconi, ou de doença renal, como a pielonefrite crônica. Em geral, estas proteinúrias são de 1,0 a 2,0 g em 24 horas. Ø proteinúria por sobrecarga: ocorre quando a concentração plasmática de uma determinada proteína filtrável está anormalmente elevada, como acontece com a hemoglobina, nos casos de hemólise intravascular intensa, e com a mioglobina, nas lesões extensas de tecido muscular. Nas doenças linfoproliferativas, ocorre produção anormal de grandes quantidades de cadeias leves de imunoglobulinas, caracterizando a proteinúria de Bence- Jones. Ø proteinúria pós-renal: resultante do extravasamento de proteínas plasmáticas em decorrência de processos inf lamatórios, infecciosos ou neoplásicos em vias urinárias. Glicose: em circunstâncias normais, praticamente toda a glicose filtrada pelos glomérulos é reabsorvida no túbulo contornado proximal e a pesquisa de glicose na urina é negativa. O nível sanguíneo no qual a reabsorção tubular é superada é chamado de limiar renal e está situado na faixa entre 160 e 180 mg/dl. Esse conceito deve ser considerado nas situações em que a glicose aparece naurina. Outros açúcares podem ser encontrados na urina, seja por simples sobrecarga alimentar, seja por deficiência de algumas enzimas responsáveis pelo metabolismo dos carboidratos. Estes erros inatos do metabolismo podem resultar em galactosúria, frutosúria e pentosúria. As fitas reagentes utilizadas na realização dos exames de urina de rotina são baseadas na reação com glicose-- oxidase, o que lhes confere elevadas sensibilidade e especialidade. Para a identificação de outros açúcares, é necessária a utilização de metodologias específicas. Corpos cetônicos: cetonúria ocorre no jejum prolongado, em estados febris, após exercícios físicos intensos, no frio intenso e no diabetes mellitus mal controlado. Os três corpos cetônicos presentes são: ácido acetoacético (20%), acetona (2%) e ácido beta hidroxibutírico (78%). Bilirrubina e urobilinogênio: em condições normais, após a conjugação, a bilirrubina direta é excretada pelas vias biliares, chegando ao intestino. Nesse local, por ação bacteriana, ela é metabolizada, gerando urobilinogênio. Cerca de 50% do urobilinogênio formado no intestino é reabsorvido pela circulação êntero-hepática e posteriormente excretado pelo fígado e pelo rim. Qualquer falha neste mecanismo, seja pela maior quantidade de bilirrubina formada, seja por lesão hepática que impeça a excreção do urobilinogênio, acarretará modificações na excreção urinária. Há dois grupos Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 de doenças que podem alterar os níveis de excreção urinária de bilirrubina e de urobilinogênio: Ø doença hepática: a bilirrubina direta não é excretada, como ocorre, por exemplo, na obstrução biliar, ref luindo para o sangue. Como essa bilirrubina é filtrada pelos glomérulos renais, à medida que sua concentração aumenta no sangue, aumenta sua excreção renal. Como não chega bilirrubina no intestino, a produção de urobilinogênio é reduzida, chegando a ser negativa sua pesquisa na urina. Ø doença hemolítica: Há aumento acentuado na produção da bilirrubina indireta. Como o fígado está normal, grande quantidade de bilirrubina direta é produzida e lançada no intestino, com consequente conversão em urobilinogênio. Há, portanto, um aumento da Ø reabsorção intestinal de urobilinogênio, elevando a excreção renal. Não ocorre excreção urinária de bilirrubina, pois a fração aumentada é a indireta, não solúvel e que circula ligada às proteínas, o que a torna não filtrável. Hemoglobina: as fitas reagentes possuem áreas que permitem o reconhecimento da presença de hemoglobina na urina, seja na hemácia íntegra (hematúria) ou livre (hemoglobinúria). Esse dado é importante e deve ser relacionado com a observação do exame morfológico da urina. É possível a ocorrência de hemoglobinúria sem a presença de grande número de hemácias íntegras, em decorrência, por exemplo, de hemólise intravascular. Análise dos elementos figurados Pode ser realizada por microscopia óptica ou por citometria de fluxo. A microscopia é realizada no sedimento urinário obtido por centrifugação, enquanto na citometria de fluxo, a identificação e a contagem de elementos figurados são realizadas por equipamentos automatizados, em urina não centrifugada. Os elementos figurados da urina incluem: Células epiteliais: três diferentes tipos de células epiteliais podem ser observados na urina, quais sejam: escamosas, transicionais e tubulares renais. Na prática diária, pouca atenção é dispensada a estes elementos, uma vez que podem raramente ref letir alguma doença; no entanto, a presença de células com morfologia anômala deve ser considerada como indicativa de eventual processo neoplásico, havendo necessidade de exames mais específicos. Células sanguíneas: células do sangue periférico estão normalmente presentes em pequeno número na urina, sendo as mais frequentes os leucócitos polimorfonucleares e os eritrócitos. Ø leucócitos: são visualizados cerca de 3 a 5 por campo e a elevação desse número indica, geralmente, a existência de processo inf lamatório ou infeccioso em algum nível do sistema urinário. A presença de um corpo estranho em via urinária, como cálculo, por exemplo, também pode ocasionar aumento no número de leucócitos. A detecção de mais de 50 leucócitos por campo, ou de grumos de leucócitos degenerados é fortemente sugestiva de infecção bacteriana aguda. Quando o exame é realizado por citometria de fluxo, considera-se como elevados mais de 20000 leucócitos por ml para os homens e mais de 30 000 leucócitos por ml para as mulheres; Ø hemácias: não há um consenso sobre o número de hemácias que podem estar presentes na urina normal. Por esta razão, cada laboratório assume um valor de referência e o informa no lauda. Para a população pediátrica, em especial, o sedimento urinário obtido por centrifugação, quando examinado ao microscópio, apresenta de duas a cinco hemácias por campo; já na urina analisada por citometria de fluxo, considera-se como referência até 25 000 hemácias por ml. Em urinas muito diluídas, com densidade entre 1002 e 1005, as hemácias podem se romper, liberando hemoglobina. Nesta eventualidade, o exame é negativo para hemácias, mas a pesquisa de hemoglobina se mantém positiva. Como a membrana celular é bastante flexível e distintamente permeável a solutos e água, a morfologia típica de disco bicôncavo dos eritrócitos pode ser alterada, em resposta a modificações na osmolalidade urinária. Quando a urina é hipertônica, verifica-se um deslocamento de água intracelular para o meio externo e a célula assume uma forma irregular, descrita como crenada. Quando a urina, ao contrário, está hipotônica, o fluxo de água ocorre em sentido contrário, fazendo com que as hemácias assumam a forma esférica. Processos inflamatórios, infecciosos ou traumáticos das vias urinárias causam aumento do número de eritrócitos. A hematúria tem relação mais próxima com distúrbios de origem renal ou geniturinários, nos quais o sangramento é resultado de trauma ou irritação das mucosas. As principais causas de hematúria são: cálculos renais, glomerulonefrite, tumores, trauma, pielonefrite e exposição a produtos químicos tóxicos. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 Pacientes com doenças glomerulares, como os diversos tipos de glomerulonefrites, nefropatia por IgA e nefroesclerose, apresentam eritrócitos com morfologia bizarra, denominados dismórficos, enquanto aqueles com lesões não glomerulares mostram eritrócitos com morfologia típica ou com alterações mínimas. Estas características podem ser assim descritas: • evaginações e/ou invaginações celulares com alta densidade óptica; • rupturas da membrana celular, com perda de citoplasma; • depósitos granulares com alta densidade óptica circundando internamente a célula; e • células com aspecto de timão de navio, com evaginações pequenas circundando externamente a membrana. Estas características dismórficas não são devidas às modificações do meio ambiente urinário, mas sim da estrutura intrínseca da membrana celular e têm sido detectadas, com altos graus de sensibilidade (99%), e especificidade (93%) nos processos glomerulares. A referência ao dismorfismo eritrocitário só tem sentido quando se constata a presença de hematúria, uma vez que a maioria das hemácias observadas na urina de indivíduos normais apresenta algum grau de dismorfismo, sem nenhum significado clínico relevante. Hematúria macroscópica é evento relativamente raro na clínica pediátrica, sendo relatada uma incidência anual de 1,3 por mil. Hematúria microscópica, porém, é encontrada com grande frequência na prática diária (ver definições de hematúrias macroscópica e microscópica no parágrafo abaixo). A ocorrência descrita na literatura varia na dependência dos critérios utilizados para diagnóstico, dos métodos laboratoriais, do número de amostras por indivíduo e das características da população estudada, entre outros fatores.Vehaskari e colaboradores, pesquisando crianças com idades entre oito e quinze anos, encontraram prevalência de 4,1% de hematúria microscópica definida como pelo menos uma amostra positiva em quatro; esta prevalência caiu para 1,1% quando houve exigência de duas amostras positivas em quatro. Doodge e colaboradores, ao analisarem amostras seriadas de urina de crianças com idades entre seis e doze anos, encontraram prevalência de 3,5 casos de hematúria por mil meninos e de 6,4 casos por mil meninas, considerando a ocorrência de pelo menos duas amostras positivas em três. Com relação à intensidade, as hematúrias podem ser macroscópicas, quando o número de hemácias presentes é tal que o aspecto e a cor da urina estão alterados à simples inspeção visual, ou microscópicas, nas quais apenas ao exame mais minucioso se constata a presença de um número anormal destas células. A intensidade da hematúria não guarda relação com a gravidade do processo patológico que a ela deu origem; porém, as hematúrias microscópicas são, mais frequentemente, de origem glomerular, enquanto os sangramentos francos acompanhados de coágulos sanguíneos são, quase que exclusivamente, de causas urológicas. As hematúrias são ditas isoladas quando o aumento no número de hemácias é a única anormalidade presente. Em muitas ocasiões, a presença de hemácias está associada a outras alterações urinárias, das quais a proteinúria é a mais frequente. A hematúria pode, ainda, ser transitória, intermitente ou persistente. Hematúria pode ser consequência de diferentes tipos de lesões em variados locais do trato urinário, dos rins até a uretra. Ainda que um mesmo evento possa causar sangramento em diferentes locais do trato urinário, pode-se definir, sob o aspecto didático, quatro locais como fontes potenciais de hematúria: glomérulos, interstício renal, sistema vascular e vias urinárias. O reconhecimento da origem do sangramento, se renal ou pós-renal, é útil no direcionamento da elucidação etiológica, na escolha dos procedimentos diagnósticos e na definição da conduta a ser instituída. Quadro 2: Causas de hematúria Cilindros: são precipitados protéicos formados na luz tubular. Na dependência do conteúdo da matriz protéica, os cilindros são classificados como: Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 Ø hialinos: compostos de proteína, sem inclusões. Possuem pouco significado clínico, podendo estar associados à proteinúria. Grandes quantidades destes cilindros aparecem na urina colhida após a realização de atividade física intensa; Ø celulares: compostos por células epiteliais descarnadas. A presença de cilindros epiteliais renais é indicativa de doença tubular e varia de acordo com a natureza do processo lesivo; Ø leucocitários: aparecem em inflamações intersticiais e doenças glomerulares. Podem conter uns poucos leucócitos ou estarem completamente saturados, sendo muito difícil a sua identificação se houver degeneração celular; Ø hemáticos: caracterizam-se pela presença de eritrócitos no interior. Pode ocorrer lise dos eritrócitos, com liberação de hemoglobina, identificada pela cor amarelada na matriz protéica. A presença deste tipo de cilindro é significativa de doença glomerular; Ø granulosos: caracterizam-se pela presença de restos celulares no interior da matriz Ø protéica. Cilindros mais velhos tendem a ser finamente granulosos. Estes cilindros indicam, quase sempre, a presença de doença renal e as exceções incluem os breves surtos de cilindros granulosos que podem aparecer após exercícios intensos; Ø céreos: refletem a fase final dos cilindros granulosos e significam obstrução prolongada do néfron e oligúria. Ocorrem em estágios finais de doença renal crônica; Ø gordurosos: também chamados de cilindros lipoídeos, apresentam gotículas de gordura em seu interior. Este tipo de cilindro é observado em associação com grandes proteinúrias. Cristais: podem ser observados ao exame microscópico de pessoas normais. Alguns são decorrentes de alterações posteriores à coleta, tais como rebaixamento da temperatura ou variações do pH, não possuindo nenhuma importância diagnóstica; outros ref letem características da composição da dieta habitual do indivíduo ou situações metabólicas particulares, mas não patológicas; por fim, raros tipos de cristais podem indicar a presença de distúrbios metabólicos específicos. Incluem-se entre estes os cristais de cistina, de fosfatoamoníaco-magnesiano, de tirosina e de leucina. Os principais descritos são: Ø oxalato de cálcio: estão presentes em grande número em urinas de indivíduos normais com dietas ricas em alimentos contendo precursores do ácido oxálico, tais como tomate, maçã, laranja e bebidas carbonatadas; Ø ácido úrico: são vistos com frequência em urinas de crianças durante as fases de crescimento corporal acelerado, em razão do intenso metabolismo de nucleoproteínas; Ø cistina: observados em urinas de portadores de cistinúria. A cistinúria é responsável por cerca de 1 % dos cálculos urinários; Øfosfato-amoníaco-magnesiano: também denominados de cristais triplos. Quando observados em urina recém emitida, sugerem a presença de processo infeccioso por germe produtor de urease; Ø tirosina e leucina: são aminoácidos resultantes do catabolismo protéico e podem aparecer na forma de cristais em urinas de pacientes com degeneração ou necrose tecidual importante. Outros elementos figurados incluem fungos e bactérias. Se as condições de coleta e preservação não são adequadas, o exame pode fornecer informações incorretas e até mesmo prejudiciais ao raciocínio clínico. Se o tempo entre a coleta e o exame é excessivo, pode ocorrer o crescimento de microrganismos que induzem o diagnóstico de infecção urinária. Ainda que seja possível a ocorrência isolada de bactérias, os processos infecciosos caracterizam-se, geralmente, por um conjunto de alterações que inclui aumento no número de leucócitos, de hemácias, bactérias e proteinúria. Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 As crianças representam um grupo de grande vulnerabilidade para deficiências de macro e micronutrientes, em consequência do rápido crescimento e desenvolvimento, principalmente nos primeiros mil dias de vida, que incluem o período da gestação e os dois primeiros anos. O pico do desenvolvimento cerebral acontece a partir do terceiro trimestre de gestação até os dois anos de vida. No primeiro ano, o cérebro ganha de 350-700 gramas, o que representa 25-50% do peso adulto. No segundo ano, o ganho está entre 700-950 gramas – 50-68% do peso adulto. Tal crescimento cerebral se faz às custas de uma intensa neurogênese, acompanhada de dois processos chaves no neurodesenvolvimento: a mielinização e a sinaptogênese, com uma média de 700 sinapses por segundo. Esse período crítico do neurodesenvolvimento é dependente da oferta de nutrientes específicos, cuja deficiência pode afetar a habilidade cognitiva e aumentar o risco para a ocorrência de doenças crônico-degenerativas em longo prazo, a chamada programação metabólica. Intervenções nesse período são fundamentais para garantir a oferta nutricional ideal para uma vida saudável e produtiva. Leite materno: a base da vida saudável É consenso mundial que o aleitamento materno é uma forma inigualável de prover nutrição ideal para o crescimento e desenvolvimento. Essa é a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasi- leira de Pediatria (SBP): da sala de parto aos dois anos de vida (ou mais), exclusivo nos primeiros seis meses; após, se inicia a alimentação complementar. Suplementação vitamínico-mineral Tradicionalmente as vitaminas A e D e os minerais iodo, zinco e ferro estão associados às maiores deficiências, consideradas de elevado impacto social e priorizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em todo o mundo. Entretanto, recentemente, passou a ter destaque,em nível de saúde pública mundial, a deficiência de um vital ma- cronutriente para o neurodesenvolvimento, o DHA (Ácido Docosahexaenoico), que será comentado a seguir. Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa Os ácidos graxos (AG) são constituintes estruturais das membranas celulares, além de cumprirem funções energéticas e de reservas metabólicas. Os AG essenciais ω-6 e o ω-3 são considerados precursores dos ácidos graxos poli- insaturados de cadeia longa: Ácido Araquidônico (AA), Ácido Eicosapentaenoico (EPA) e Ácido Docosahexaenoico (DHA). O DHA oriundo da série ω-3 é considerado o AG mais importante no desenvolvimento cerebral e da visão. Cerca de 50-60% do peso seco do cérebro é composto por lipídeos, 35% do teor lipídico é LC-PUFA (long chain polunsaturated fatty acids), sendo que o DHA responde por 15% de todos ácidos graxos do córtex frontal (responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoções). Apesar do ácido alfa-linolênico (ω-3) ser convertido em EPA e DHA no ser humano, não se sabe ao certo qual porcentagem realmente é convertida – estima-se que seja baixa, da ordem de 5% para o EPA e 0,5% para o DHA. Crianças, por imaturidade enzimática, não conseguem converter todo DHA necessário ao seu neurodesenvolvimento a partir do ácido alfa linolênico, destacando-se a importância de fornecer o suporte nutricional medido em DHA (produto final) não em ω-3 (produto inicial da cadeia enzimática). O I Consenso Brasileiro da Associação Brasileira de Nutrologia sobre recomendações de DHA durante a gestação, lactação e infância recomenda a suplementação de 200mg de DHA ao dia para gestantes, lactantes, independente da dieta. Crianças não amamentadas devem receber DHA através de sua fonte láctea complementar, caso contrário, suplementar o DHA isoladamente. Vitamina D e vitamina A A deficiência de vitamina D é um dos distúrbios nutricionais mais frequentes em todo o mundo, estimando-se que 1 bilhão de pessoas sofram de insuficiência ou deficiência dessa vitamina. No Brasil, embora a maioria da população resida em regiões de adequada exposição solar, a hipovitaminose D é um problema comum em lactentes, crianças e adolescentes. A vitamina D está envolvida na regulação de mais de 1.000 genes, o que sugere que possa ter um papel em muitos outros processos fisiológicos. Estudos epidemiológicos Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 apontam para ações extraesqueléticas da vitamina D, sugerindo que sua deficiência possa se associar a diabetes melito tipo 1, asma, dermatite atópica, alergia alimentar, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, doença cardiovascular, esquizofrenia, depressão e variadas neo- plasias (mama, próstata, pâncreas, cólon). Os principais consensos nacionais e internacionais são unânimes em recomendar a triagem para hipovitaminose D apenas para grupos de risco, não recomendando como exame de rotina. A dose preventiva universal da vitamina D é de 400UI para lactentes de 0-12 meses e 600UI para os maiores de 1 ano. Entretanto, a Academia Americana de Pediatria vem discutindo ultimamente a individualização das doses. Recomenda-se a prescrição isolada de vitamina D para podermos titular a dose; em regiões de comprovada deficiência de vitamina A se recomenda o Programa de Suplementação de vitamina A, do Ministério da Saúde, com utilização da megadose única para crianças de 6-12 meses, dose de 100.000UI, e para crianças de 12-72 meses, 200.000UI, lembrando a relação local/regional do risco- benefício: hipertensão intracraniana versus risco de mortalidade por pneumonia, diarreia e sarampo. Ferro A anemia por deficiência de ferro é a mais comum das ca- rências nutricionais, com maior prevalência em crianças, principalmente nos países em desenvolvimento. Aquelas com idade entre 6-24 meses apresentam risco duas vezes maior para desenvolver a doença do que aquelas entre 25- 60 meses. Considerada um sério problema de saúde pública, a anemia pode prejudicar o desenvolvimento mental e psicomotor, causar aumento de morbidade e mortalidade materna e infantil, além da queda no desempenho do indivíduo no trabalho e redução da resistência às infecções. As novas recomendações da SBP indicam a suplementação preventiva para recém-nascido de termo, de peso adequado para a idade gestacional, de 1mg de ferro elementar/kg de peso/dia, a partir do 3o mês (independentemente se em aleitamento materno exclusivo, misto ou somente fórmula infantil) até o 24o mês de vida. A Academia Americana de Pediatria recomenda, aos 12 meses de idade, uma triagem para deficiência de ferro sem anemia (dosagem de ferritina) e deficiência de ferro com anemia (hemograma); caso se constate deficiência, o tratamento é realizado com 3-5mg de ferro elementar/kg de peso/dia. Zinco Sua ação biológica no crescimento, no desenvolvimento cognitivo, na reparação tissular e replicação celular torna- -o um elemento de grande importância para o organismo, particularmente para o sistema imunológico. É o segundo elemento-traço mais abundante no corpo humano. A dosagem sérica de zinco não reflete com segurança o real estado nutricional com relação ao mineral. A prova te- rapêutica pode ser realizada utilizando-se o zinco na dosa- gem de 1 mg/kg/dia e observando-se a resposta clínica em 5- 10 dias de uso. No tratamento da carência, utiliza-se a dose de zinco elementar, 1-2mg/kg/dia por via oral e correção dietética adequada; na diarreia aguda se prescreve 20mg/dia para crianças acima de seis meses de idade e metade da dose para aquelas abaixo dessa . idade. Suplementação de ferro: quando e como? A ferropenia é a deficiência nutricional mais comum na infância em todo o mundo, tanto em países pobres quanto ricos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que a prevalência de anemia seja de 53%, principalmente em menores de dois anos de idade, sendo que 60% dos casos são causados por carência de ferro. O ferro é componente crucial para os organismos vivos, incluindo funções respiratórias, produção de energia, síntese de DNA e proliferação celular. A maior parte do ferro utilizado no corpo humano é oriunda do próprio sistema de reciclagem de hemácias. Além da utilização na hematopoiese, o ferro é essencial para o sistema nervoso central, principalmente durante as fases críticas do desenvolvimento cerebral no que se refere à velocidade de pro- cessamento cerebral, memória Maria Eduarda Butarelli Nascimento – P6 e aprendizado. Por esses motivos, é de fundamental importância o reconhecimento e tratamento da ferropenia na infância. O ferro disponível nos alimentos é encontrado em duas formas: ferro heme, advindo da carne e derivados; e ferro não-heme, advindo de produtos vegetais. O ferro heme é frequentemente bem absorvido, diferente do ferro não- heme que depende do status do indivíduo, de outros componentes da dieta, assim como de sua composição. A Tabela 1 mostra os estágios da deficiência de ferro, cuja conceituação é importante para a prevenção e tratamento adequados. Existem situações onde há redução do suprimento de ferro para a eritropoiese, independente dos níveis de estoque. Isso acontece primordialmente nos estados inflamatórios crônicos, como câncer, doença renal crônica, infecções e doenças autoimunes. É relevante salientar, ainda, uma entidade pouco conhecida, a anemia por deficiência de ferro refratária à reposição do componente (IRIDA), que é causada pela mutação no gene TMPRSS6, aumentando a expressão da hepcidina e, então, impedindo a absorção intestinal de ferro. É uma condição rara, mas deve ser levada em consideração nos casos refratários ao tratamento. Quadro clínico O quadro clínico de deficiência de ferro/anemia ferropriva pode manifestar-se através de: palidez cutâneo-mucosa, astenia, baixo ganho pôndero-estatural, redução da acidez gástrica,