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1 MBA em Administração de Finanças e Banking Estratégia de Gestão de Riscos Prof. Nelson Rosamilha Unidade I ROSAMILHA, Nelson Estratégia de Gestão de Riscos (livro-texto 1) / Nelson Rosamilha. – São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 31 p. 1. Teoria Financeira. 2. Abordagem de riscos. 3. Avaliação de carteiras e modalidades de investimentos. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6 1. CONCEITO GENÉRICO DE RISCO ..................................................................... 7 2. CONCEITO DE RISCO EM FINANÇAS ............................................................... 8 3. RISCOS EXTERNOS E INTERNOS ................................................................... 10 4. NATUREZA DOS RISCOS ................................................................................. 11 5. AVALIAÇÃO DOS RISCOS ............................................................................... 13 6. MENSURAÇÃO DOS RISCOS .......................................................................... 15 7. TRATAMENTO DE RISCOS .............................................................................. 16 8. MONITORAMENTO DOS RISCOS .................................................................... 19 9. COMUNICAÇÃO PARA GESTÃO DOS RISCOS .............................................. 20 10. RISCO DAS OPERAÇÕES NO MERCADO FINANCEIRO NA PRÁTICA ........ 21 11. CONCEITO DE RETORNO ................................................................................ 22 12. RISCO DE INADIMPLÊNCIA E O CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS ...... 23 13. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE E MEDIDAS DE RISCO ................................... 25 14. DURATION ......................................................................................................... 26 15. VALUE-AT-RISK: POTENCIAL DE PERDA ...................................................... 28 16. RISCO DE DÍVIDA E FONTES DE FINANCIAMENTO ...................................... 29 BIBLIOGRAFIA BÁSICA .......................................................................................... 30 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 31 6 INTRODUÇÃO 7 1. CONCEITO GENÉRICO DE RISCO O termo risco provém do italiano risico ou rischio que, por sua vez, deriva do árabe clássico rizq (“aquilo que se depara com a providência”). A maior parte das pessoas associam o termo risco como o sinônimo de perigo ou algo negativo. O risco é inerente a qualquer atividade na vida pessoal, profissional ou nas organizações, e pode envolver perdas, bem como oportunidades. O Guia PMBOK define o risco como um evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo sobre pelo menos um objetivo do projeto. Dessa forma, podemos entender que o risco não possui em si uma conotação negativa, mas antes disso, possui um certo grau de incerteza. A incerteza por sua vez pode ser tanto positiva como negativa, por isso é fundamental aprofundarmos na ideia dos riscos em Finanças. 8 2. CONCEITO DE RISCO EM FINANÇAS Em Finanças, a relação risco-retorno indica que quanto maior o nível de risco aceito, maior o retorno esperado dos investimentos. Essa relação vale tanto para investimentos financeiros como para os negócios, cujo “retorno” é determinado pelos dividendos e pelo aumento do valor econômico da organização. Empreender significa buscar um retorno econômico-financeiro adequado ao nível de risco associado à atividade. Ou seja, o risco é inerente à atividade de negócios, na qual a consciência do risco e a capacidade de administrá-lo, aliadas à disposição de correr riscos e de tomar decisões, são elementos-chave. Assumir riscos diferencia empresas líderes, mas também pode levá-las a estrondosos fracassos. O resultado das iniciativas de negócios revela que o risco pode ser gerenciado a fim de subsidiar os administradores na tomada de decisão, visando a alcançar objetivos e metas dentro do prazo, do custo e das condições pré-estabelecidas. Se analisarmos os primeiros estudos da área de risco, foram iniciados aversão da observação empírica do comportamento humano frente a jogos de azar ou loterias. Para ilustrar isso, podemos utilizar um exemplo muito simples: Desde crianças fomos acostumados com cara ou coroa. Ou seja, uma moeda é lançada e possui a probabilidade igual de ser cara ou coroa. Se o resultado do lançamento for cara, o jogador ganha R$ 1.000,00; Se o resultado do lançamento for coroa, o jogador fica com R$ 0. Temos, então, dois cenários que podem ser representados da seguinte forma: O jogador pode receber R$ 1.000,00 com 50% de probabilidade; ou não receber nada com outros 50% de probabilidade. Pode-se dizer, então, que o jogador pode esperar ganhar em média R$ 500,00 (R$ 1.000,00 x 50% + R$ 0 x 50%). Digamos, ainda, que é dado o direito ao jogador “A” de participar gratuitamente desse jogo. Suponha que outra pessoa (jogador “B”) deseje participar do jogo e, para isso, esteja disposta a oferecer uma quantia em dinheiro para comprar esse direito do jogador “A”. Temos, então, três possibilidades quanto ao comportamento do jogador “A”: Possibilidade 1: o jogador “A” pode desejar receber um valor menor que R$ 500,00 em troca do direito de participar do jogo; Possibilidade 2: o jogador “A” pode desejar receber exatos R$ 500,00 em troca do direito de participar do jogo; Possibilidade 3: o jogador “A” pode desejar receber um valor maior que R$ 500,0 em troca do direito de participar do jogo. Se o jogador “A” optar pela Possibilidade 1, estará na verdade tomando a seguinte decisão: trocando um valor inferior a R$ 500,00, mas que receberá com certeza, pela incerteza de receber R$ 1.000,00 ou R$ 0 (expectativa de R$ 500,00). Explicando de outra forma, a Possibilidade 1 é, na verdade, trocar R$ 500 incertos (ou arriscados) por menos que R$ 500,00 com certeza (ou sem risco). Esse comportamento é chamado avesso ao risco. Na Possibilidade 2, o jogador “A” está, de forma análoga, trocando R$ 500,00 incertos (ou arriscados) por exatos R$ 500,00 com certeza (ou sem risco). Esse comportamento é chamado neutro ao risco. 9 Já na Possibilidade 3, o jogador “A” está trocando R$ 500,00 incertos (ou arriscados) por mais que R$ 500,00 com certeza (ou livres de risco). Esse comportamento é chamado propenso ao risco. Na prática, podemos citar um princípio financeiro que diz que um real certo vale mais do um real com risco. É fato que a grande maioria dos investidores evita o risco quando o podem fazer sem sacrificar a rentabilidade desejada. Da mesma forma que um indivíduo faz a escolha entre uma atividade arriscada (loteria/jogo) e uma livre de risco, investidores também podem optar por investimentos mais ou menos arriscados. Em finanças, os títulos públicos de curto prazo são considerados ativos livres de risco, dada a pequena probabilidade de quebra/calote do governo em horizontes curtos de tempo. Para ilustrar, imaginemos que em uma economia existam apenas dois ativos, um arriscado e outro livre de risco, com retornos médios respectivos de 10% e 5% ao ano. Caso seja feita uma carteira composta apenas pelo ativo arriscado, poderemos esperar retornos por volta de 10% ao ano. Não é necessário dizer que essa carteira será arriscada, dado que o ativo arriscado (por definição) deve ter riscos maiores que o ativo livre de risco (que possui risco nulo). Caso, porém, optemos por uma carteira composta por 50%de ativo livre de risco e 50% de ativo arriscado, teremos reduzido o risco pela metade (50% x risco do ativo arriscado + 50% x risco do ativo livre de risco). O preço a pagar por essa redução de risco é uma redução proporcional no retorno, pois essa nova carteira possuirá retorno esperado de 7,5% ao ano (50% x 5% + 50% x 10%). Esse é, portanto, um dos pilares de finanças: a taxa de troca entre risco e retorno. Desse modo, podemos definir o prêmio pelo risco como a diferença entre o retorno de um investimento com risco e o retorno de um investimento sem risco. A aplicação do conceito de risco no contexto empresarial requer a definição de indicadores de desempenho (geração de fluxo de caixa, valor de mercado, lucro, reclamações de clientes, quebras operacionais, fraudes, entre outros) associados a níveis de volatilidade, ou seja, à variação dos resultados em torno de uma média. Essas possibilidades, tanto de ganho como de perda, que podem ter causas de natureza externa (ambiente competitivo, regulatório, financeiro) ou de natureza interna (diferencial tecnológico, controles, capacitações, conduta) são oriundas do contexto em que cada organização atua. Nesse contexto, o cálculo de prêmio do risco deve considerar o risco histórico para diferentes investimentos. 10 3. RISCOS EXTERNOS E INTERNOS O conceito de risco torna-se muito amplo e, para analisarmos, primeiro vamos separar entre a origem dos eventos (externos ou internos), pois auxilia na definição da abordagem a ser empregada por parte da organização. Riscos Externos: são ocorrências associadas ao ambiente macroeconômico, político, social, natural ou setorial em que a organização opera. Exemplos: nível de expansão do crédito, grau de liquidez do mercado, nível das taxas de juros, tecnologias emergentes, ações da concorrência, mudança no cenário político, conflitos sociais, aquecimento global, catástrofes ambientais, atos terroristas, problemas de saúde pública etc. A organização, em geral, não consegue intervir diretamente sobre estes eventos e terá, portanto, uma ação predominantemente reativa. Isso não significa que os riscos externos não possam ser “gerenciados”; pelo contrário, é fundamental que a organização esteja bem preparada para essa ação reativa. Riscos Internos: são eventos originados na própria estrutura da organização, pelos seus processos, seu quadro de pessoal ou de seu ambiente de tecnologia. A organização pode e deve, em geral, interagir diretamente com uma ação proativa. 11 4. NATUREZA DOS RISCOS Igualmente importante é classificar a natureza dos riscos, o que permite sua agregação de uma forma organizada e de acordo com a sua natureza – estratégica, operacional ou financeira – em função da área da organização que é afetada pelos eventos. Cabe mencionar que os riscos podem pertencer a categorias distintas e em alguns casos poderão se encaixar em duas ou até mesmo em todas as categorias concomitantemente. Em alguns segmentos de negócio mais regulados, notadamente os bancos, o órgão regulador estabelece como boa parte dos riscos devem ser agrupados. Riscos Estratégicos: os riscos estratégicos estão associados à tomada de decisão da alta administração e podem gerar perda substancial no valor econômico da organização. Os riscos decorrentes da má gestão empresarial muitas vezes resultam em fraudes relevantes nas demonstrações financeiras. Exemplos: falhas na antecipação ou reação ao movimento dos concorrentes causadas por fusões e aquisições; diminuição de demanda do mercado por produtos e serviços da empresa causada por obsolescência em função de desenvolvimento de novas tecnologias/produtos pelos concorrentes. Riscos Operacionais: os riscos operacionais estão associados à possibilidade de ocorrência de perdas (de produção, ativos, clientes, receitas) resultantes de falhas, deficiências ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, assim como de eventos externos como catástrofes naturais, fraudes, greves e atos terroristas. Os riscos operacionais geralmente acarretam redução, degradação ou interrupção, total ou parcial, das atividades, com impacto negativo na reputação da sociedade, além da potencial geração de passivos contratuais, regulatórios e ambientais. Riscos Legais: associado à exposição a perdas geradas por contratos mal formulados, documentações inadequadas ou descumprimento da legislação vigente. Esse tipo de risco pode resultar no impedimento do exercício da atividade. Riscos Financeiros: são aqueles associados à exposição das operações financeiras da organização. É o risco de que os fluxos de caixa não sejam administrados efetivamente para maximizar a geração de caixa operacional, gerenciar os riscos e retornos específicos das transações financeiras e captar e aplicar recursos financeiros de acordo com as políticas estabelecidas. São ocorrências tais como a administração financeira inadequada, que conduz a endividamento elevado, podendo causar prejuízo frente à exposição cambial ou aumentos nas taxas de juros etc. Incluem-se neste grupo operações no mercado de derivativos de commodities. Dentre os tipos de riscos financeiros, podemos classificar como: Risco de Liquidez: é definido como o risco de variações da liquidez dos títulos nos mercados que dificultam ou impossibilitam a realização de operações. Esse tipo de risco costuma ser decorrente da dificuldade de se realizar operações com um determinado ativo, em consequência do pequeno volume de negócios com ele realizado. Dessa forma, a empresa se expõe ao risco de não conseguir suprir eventuais necessidades imediatas de caixa. Esse risco pode ser controlado limitando os títulos ou ativos a uma pequena quantidade na carteira administrada. Risco de Crédito: decorrente da capacidade de pagamento de um título, por parte da instituição emitente. O não pagamento do título na data ou nas 12 condições acordadas, no mercado, recebe o nome de default (inadimplência). Esse tipo de risco abrange além do pagamento do valor principal, aos valores intermediários e acessórios, como juros e amortizações. Para reduzir esse risco é adotado um procedimento que consiste na avaliação e verificação a capacidade de pagamento do emitente de um determinado título. Esse procedimento é denominado de Análise de Risco e executado por empresas especializadas em tal mensuração, conhecidas como Agências de Rating, que, além de medir o risco, também avaliam a situação econômico-financeira dos emissores como forma de subsidiar de forma mais completa as decisões de investimento envolvidas. Risco de Mercado: representa a incerteza em relação ao comportamento dos preços dos ativos em função de oscilações de variáveis como taxas de juros, câmbio, preço de ações, dentre outras. Esse tipo de risco possui várias subdivisões sendo a primeira como absoluto ou relativo: o Risco absoluto: é representado por um eventual comportamento inesperado do preço de um ativo, que cause perdas ao investidor. o Risco relativo: é medido quando comparamos os desvios de comportamento da rentabilidade de um certo ativo com um dado parâmetro de referência, ou benchmark. No caso de benchmark, o risco é mensurado pelo descasamento entre o ativo e sua referência, e não necessariamente a uma dada queda de preços em si. Outra subdivisão, a estrutural, envolve os conceitos de risco sistemático e não sistemático: o Risco sistemático: decorrente de dificuldades financeiras de países e instituições, que podem causar significativos danos no sistema financeiro como um todo (natureza política, econômica e social). o Risco não sistemático: a parcela do risco que se pode eliminar mediante diversificação, que pode ser simples (aumento da quantidade de diferentes ativos na carteira) ou eficiente (considerando as correlações de retorno entre os ativos componentes). 13 5. AVALIAÇÃO DOS RISCOS Para se definir qual o tratamento que será dadoa determinado risco, o primeiro passo consiste em determinar o seu efeito potencial, ou seja, o grau de exposição da organização àquele risco. Esse grau leva em consideração pelo menos dois aspectos: a probabilidade de ocorrência e o seu impacto (em geral medido pelo impacto no desempenho econômico-financeiro do período). Deve-se incorporar também o impacto “intangível” à análise. A quantificação do grau de exposição nem sempre é trivial, podendo haver interdependência entre os riscos em dois níveis: a) os eventos podem não ser independentes; b) um determinado evento pode gerar “impactos múltiplos”, ou seja, efeitos sobre diferentes tipos de riscos, em diversas áreas. Nesse caso, o grau de exposição irá depender do impacto financeiro consolidado e da probabilidade conjunta de todos os eventos e deve ser medido quantitativamente. Para o caso de eventos independentes que tenham efeito sobre uma única área – como a maior parte dos riscos operacionais – o grau de exposição financeira é calculado simplesmente pelo valor aproximado do impacto financeiro multiplicado pela probabilidade de ocorrência do evento. Os riscos associados a estes eventos podem ser controlados para cada processo isoladamente. Incorpora-se ainda na abordagem o impacto intangível de cada um dos processos, conforme ilustrado na figura 1. Figura 1 - Exemplo Ilustrativo de Mapa de Avaliação dos Riscos Fonte: IBGC, 2007. O Gráfico A, Exposição Financeira, representa o espaço no qual são expostos os eventos de riscos identificados em função do nível da probabilidade de ocorrência (eixo horizontal) e do valor do impacto do evento (eixo vertical). Os tons denotam o grau de importância que se deve dar a cada um dos eventos em função da região que ocupam no gráfico (um evento de alta probabilidade e alto impacto se dispõe na região escura, devendo ser monitorado com muito cuidado). No Gráfico B, Exposição Final, a exposição financeira mensurada no eixo vertical já é o resultado do impacto multiplicado pela probabilidade (Gráfico A). A partir de então, incorpora-se o impacto intangível de cada um dos eventos. O evento 1, que numa primeira análise foi classificado como de média importância (região intermediária no Gráfico A), caso tenha um impacto intangível alto, passa a se 14 enquadrar na região escura no Gráfico B, pois a Exposição Final (Exposição Financeira + Impacto Intangível) é considerada alta. A elaboração de um Mapa de Avaliação dos Riscos, como ilustrado na figura 1, é uma etapa fundamental na priorização do gerenciamento de riscos e na definição de tratamento que deve ser dado a cada um dos riscos identificados. 15 6. MENSURAÇÃO DOS RISCOS Uma primeira abordagem para o gerenciamento de riscos pode adotar uma visão mais qualitativa sobre os objetivos estratégicos da organização e os impactos dos eventos de riscos sobre eles (avaliação aproximada da “exposição” alta, média ou baixa). Entretanto, uma vez definido o direcionamento estratégico da organização, esse pode ser traduzido em termos quantitativos (objetivos, indicadores de desempenho e metas financeiras) que orientarão o seu planejamento (projeção do orçamento e do plano tático). A atividade de planejamento envolve detalhar, além de outros dados, as receitas e as despesas operacionais, os custos, investimentos e o fluxo de caixa projetado. Para isto é necessário que se projetem cenários sobre as tendências de mercado, trajetórias das variáveis macroeconômicas e financeiras, bem como as premissas operacionais. Consolida-se assim, um conjunto organizado e ordenado de planos e metas das ações, sob o ponto de vista físico, econômico e financeiro. O impacto financeiro consolidado dos riscos na organização pode ser medido quantitativamente em termos da variação potencial do seu valor econômico, fluxo de caixa e resultado econômico. Para viabilizar tal quantificação é necessário que a organização tenha o seu negócio modelado em alguma ferramenta que possibilite simulações e seja capaz de gerar cenários das principais variáveis e consistentes entre si. A modelagem passa pela identificação detalhada de cada um dos fatores que afetam as transações e indicadores de desempenho da organização, incluindo todos os tipos de riscos identificados, e pela determinação da dinâmica de impacto de cada uma das operações nas contas de resultados. A geração de cenários envolve o conhecimento e previsões de cada área estratégica da organização e deve expressar a evolução conjunta das variáveis. A área financeira pode traçar previsões para as variáveis macroeconômicas; a área de crédito, para a inadimplência de cada tipo de cliente; a área comercial, para as vendas; e estas, em conjunto com a de planejamento, para os preços, índices de consumo, eficiência, capacidade, etc. Associando-se probabilidades aos cenários gerados, é possível quantificar o risco e estimar a probabilidade de que qualquer métrica de desempenho fique abaixo das metas orçadas em cada período (ex.: geração ou necessidade de caixa, resultado contábil etc.). É recomendável buscar a identificação e o gerenciamento dos riscos integralmente, não apenas os riscos isolados, mas também os riscos múltiplos e comuns a diferentes áreas. Dessa forma, pode-se obter maior autoconhecimento e, consequentemente, um processo decisório antecipado de redução de perdas e aumento de ganhos, como também uma previsibilidade maior para os resultados futuros da organização. 16 7. TRATAMENTO DE RISCOS Depois de identificados, avaliados e mensurados, deve-se definir qual o tratamento que será dado aos riscos. Na prática, a eliminação total dos riscos é impossível. Nesse contexto, a elaboração de um mapa de riscos apoia a priorização e visa direcionar os esforços relativos a novos projetos e planos de ação elaborados, a fim de minimizar os eventos que possam afetar adversamente e maximizar aqueles que possam trazer benefícios para a organização. É recomendável alinhar a estrutura de controles internos aos objetivos estratégicos e ao nível de exposição desejado pela organização. A alta administração poderá determinar seu posicionamento frente aos riscos, considerando seus efeitos, grau de aversão e resposta, complementada por uma análise de custo-benefício. As várias alternativas para tratamento dos riscos são descritas abaixo, iniciando-se pelo dilema básico: evitar ou aceitar o risco. Evitar o Risco: decisão de não se envolver ou agir de forma a se retirar de uma situação de risco. Exemplo: uma organização decide se desfazer de uma unidade de negócios. Aceitar o Risco: neste caso, apresentam-se quatro alternativas: reter, reduzir, transferir/compartilhar ou explorar o risco. Reter: manter o risco no nível atual de impacto e probabilidade. Exemplo: a diretoria da empresa decide nada investir em melhorias da área de informática, assumindo que as perdas e erros atualmente sabidos e esperados de informações internas para o processo de decisão e de gestão são (riscos) toleráveis. Reduzir: ações são tomadas para minimizar a probabilidade e/ou o impacto do risco. Exemplo: uma organização financeira identificou e avaliou o risco de seus sistemas permanecerem inoperantes por um período superior a três horas e concluiu que não aceitaria o impacto dessa ocorrência. A organização investiu no aprimoramento de sistemas de autodetecção de falhas e de backup para reduzir a probabilidade de indisponibilidade do sistema. Transferir e/ou Compartilhar: atividades que visam reduzir o impacto e/ou a probabilidade de ocorrência do risco através da transferência ou, em alguns casos, do compartilhamento de uma parte do risco. Exemplo: uma concessionária de energia elétrica identificou e avaliou os riscos de falhas naturais com danos elétricos em seus equipamentos turbo-geradores e de potência de grandes usinas. Após analisar a melhor estratégia a ser adotada no que tange às despesas possíveis comfranquia, os prêmios de risco a serem contratados, constitui-se um seguro desses equipamentos junto ao mercado, transferindo esse risco operacional categorizado como de alto impacto e baixa frequência, inerente ao processo de operação e manutenção. Devem ser transferidos por meio de seguro os riscos tidos como catastróficos (riscos de baixa frequência e alta severidade), os riscos de alta frequência que provoquem cumulativamente perdas relevantes e todos aqueles cujo custo de transferência seja inferior ao custo de retenção. Os custos de seguro obtidos no mercado podem subsidiar a decisão sobre retenção versus transferência dos riscos. Além de identificar os riscos que deseja transferir, os gestores de seguros precisam conhecer profundamente a dinâmica das operações da organização e o fluxo de informações que garantirá a adequação do contrato de seguro por toda a vigência das apólices, 17 normalmente de 12 meses. A transferência do risco não necessariamente elimina todas as potenciais perdas e, por isso, é necessário dispor de um adequado plano de contingência. Explorar: aumentar o grau de exposição ao risco na medida em que isto possibilita vantagens competitivas. Exemplo: uma empresa produtora de petróleo usa as informações sobre o mercado futuro para especular no mercado de derivativos, aumentando sua exposição ao preço da commodity. Prevenção e Redução dos Danos: os riscos podem ser reduzidos pela prevenção – diminuição da probabilidade de ocorrência e/ou diminuição do impacto financeiro esperado sobre a organização, caso o evento ocorra – e/ou pela remediação – controle dos danos após a ocorrência do evento. Para o risco cujo impacto possa afetar adversamente a continuidade da operação, faz-se necessária a elaboração de um plano de contingência adequado e continuamente testado. Ainda mais amplo do que um plano de contingência, as organizações devem avaliar a adoção de uma metodologia para a “Gestão da Continuidade de Negócios”. As decisões sobre evitar, reter, reduzir, transferir ou explorar riscos estão baseadas na avaliação do impacto deles sobre os indicadores de desempenho escolhidos e sobre a imagem da organização e os custos de se estabelecerem controles internos. Da mesma forma, pode haver critérios distintos para enfocar o conceito e práticas de controles internos, que quando acentuados podem gerar custos, muitas vezes excessivos. Na questão do equilíbrio riscos versus controles versus custos, são muito utilizadas as “melhores práticas” aplicáveis aos tipos específicos ou categorias de risco, segmento de negócios ou tecnologias em questão. As melhores práticas são geradas e disseminadas por institutos independentes, internacionais ou nacionais, associações de indústria ou profissionais e organismos de normatização e por entidades regulatórias. Dessa forma, a organização terá uma resposta específica para cada evento significativo. Deverão ser avaliados e monitorados os impactos positivos e negativos da ocorrência dos eventos, considerando: o Risco inerente: risco natural; ausência de qualquer ação que a direção possa realizar para alterar a probabilidade de ocorrência ou de impacto. o Risco residual: resultante do processo de tomada de ações e aplicação das melhores práticas de controles internos ou da reposta da organização ao risco. Capacitação: na avaliação dos riscos deve-se considerar a capacitação da organização em lidar com esses riscos, o que significa ser capaz de identificá-lo, antecipá-lo, mensurá-lo, monitorá-lo e, se for o caso, mitigá-lo. Como exemplo, um incêndio pode ser classificado como um evento de alta magnitude para uma organização do setor florestal. Porém, se a organização possui forte capacitação interna para prevenir e controlar um incêndio, o evento, inicialmente classificado como de alto impacto, pode ser reclassificado para médio ou baixo impacto. A avaliação da capacitação se dá em duas dimensões principais: pessoas e processos. O exercício de avaliação de capacitação requer uma análise comparativa às melhores práticas, com a identificação de eventuais lacunas de capacitação. Uma vez definido o grau de tolerância ao risco da organização, deve-se adotar um plano de ação para eliminar as lacunas inaceitáveis para assegurar um gerenciamento de riscos eficaz. 18 19 8. MONITORAMENTO DOS RISCOS É papel da alta administração a avaliação contínua da adequação e da eficácia de seu modelo de gerenciamento de riscos. Esse deve ser constantemente monitorado, com o objetivo de assegurar a presença e o funcionamento de todos os seus componentes ao longo do tempo. O monitoramento regular ocorre no curso normal das atividades gerenciais. Já o escopo e a frequência de avaliações ou revisões específicas dependem, normalmente, de uma avaliação do perfil de riscos e da eficácia dos procedimentos regulares de monitoramento. Vulnerabilidades e deficiências devem ser relatadas aos níveis superiores de gestão e, dependendo da gravidade, reportadas à alta administração. De um modo geral, os controles internos se estruturam em controles gerais e atividades de controles específicos, como por exemplo, reconciliações e confirmações de posições ou fluxos contábeis, procedimentos de testes etc. Uma das metodologias para dar suporte a esse processo de avaliação é o uso de Matrizes de Controles de Riscos, que evidenciam os objetivos e os riscos associados. Essas atividades de controle têm o propósito de determinar em que proporção, através de distintos atributos, os objetivos considerados relevantes pela administração estão sendo efetivamente gerenciados. A alta administração deve dedicar especial atenção e fornecer diretrizes que orientem: a extensão e o conteúdo da documentação formal na organização: manuais de políticas e procedimentos, organogramas, descrições de funções e responsabilidades, instruções operacionais, diagramas de fluxo, resultados de avaliações, análises e testes realizados; o relato, a documentação interna e externa (quando aplicável) de deficiências encontradas, assim como, o respectivo nível de ameaça ou exposição, percebida, potencial ou real, e oportunidades associadas para reforço ou revisão dos controles utilizados; e o conteúdo dos relatórios e os níveis de informação estratégica: significância de problemas ou fatos anormais, princípios da cultura, implicações práticas e comportamentais, informação aos níveis superiores, laterais, diretoria, conselho de administração, comitê de auditoria, auditores e outras entidades externas. 20 9. COMUNICAÇÃO PARA GESTÃO DOS RISCOS A comunicação ágil e adequada com as diversas partes interessadas, acionistas, reguladores, analistas financeiros e outras entidades externas tem a finalidade de permitir avaliações mais rápidas e objetivas a respeito dos riscos a que está exposta a organização. O conteúdo da comunicação com o ambiente externo e interno reflete as políticas, a cultura e as atitudes desejadas e valorizadas pela alta administração. Devem ser veiculadas a filosofia e a abordagem de gerenciamento de riscos na organização, assim como delegações claras de responsabilidade e autoridade. A divulgação de processos e procedimentos deve alinhar atitudes e reforçar a cultura da organização. Mecanismos devem ser implementados e geridos de modo a estimular, e não a reprimir, a comunicação de desvios ou suspeitas de violações dos códigos de conduta ou dos princípios de ordem ética da organização por todos os colaboradores, como por meio de exemplos e pelo reforço de atitudes positivas pela alta administração. Entre outros aspectos, devem ser veiculados de forma eficaz: A importância e a relevância de um gerenciamento efetivo dos riscos corporativos; Os objetivos da organização neste domínio; O apetite e a tolerância a riscos da empresa; Uma linguagem comum para o assunto “riscos”. 21 10. RISCO DAS OPERAÇÕES NOMERCADO FINANCEIRO NA PRÁTICA Risco de crédito e de liquidez são alguns exemplos que fazem parte do cotidiano de quem opera no mercado de títulos. É importante ressaltar que esses riscos devem ser sempre levados em consideração no ato da transação, pois impactam diretamente no seu valor. Mesmo nos ativos de renda fixa, temos diferentes níveis de riscos envolvidos. Títulos pós-fixados, com exceção daqueles indexados ao CDI ou Selic, possuem fator de variabilidade adicional por terem seus rendimentos dependentes de indexadores que oscilarão ao longo do horizonte de investimento. Mais ainda, títulos do governo, pela baixa probabilidade de quebra deste, tendem a ser menos arriscados que títulos privados no que diz respeito a risco de crédito. No que tange à operação desses ativos de renda fixa, vale salientar como o comportamento da taxa de juros pode afetar o preço deles. Suponha que um investidor aplica R$ 100,00 em um título prefixado que rende 10% ao ano (a.a.) e tem vencimento em um ano. No vencimento, o resgate será igual a R$ 110,00. Caso a taxa de juros praticada no país suba ao longo da vida da operação, o preço do título se deteriora, pois, a taxa usada para descontá-lo será superior aos 10% acordados na transação. Quanto aos títulos pós-fixados, pode-se separá-los em dois grupos: 1. O primeiro diz respeito àqueles indexados a CDI ou Selic. O valor de mercado desses instrumentos é pouco ou nada sensível à variação de taxa de juros, ou seja, papéis que pagam 100% de CDI, por exemplo, não apresentam risco de taxa de juros, pois seu valor de mercado irá flutuar de acordo com a taxa de mercado praticada (estrutura a termo de juros). Já as operações que rendem um spread de CDI diferente de 100% (ex.: 98% de CDI, 102% de CDI, Selic+1,5%, CDI+2%) terão seu valor de mercado impactado pela variação da taxa de juros. 2. No segundo grupo, estão os ativos atrelados a algum índice (inflação, TR etc.), que terão seu preço impactado tanto pela taxa de juros quanto pela variação do seu indexador. Somado a isso, é importante mencionar que ambos os grupos estão sujeitos a risco de crédito e liquidez. 22 11. CONCEITO DE RETORNO Ao estudarmos sobre riscos, precisamos entender e definir o retorno. De forma geral, o retorno é a variação positiva ou negativa na riqueza de um investidor. Essa variação é resultado da aplicação de recursos em certo ativo ou investimento. É possível ainda fazer uma distinção entre o retorno (medido em moeda) e a taxa de retorno (expressa em porcentagem). O retorno é uma medida essencial para a tomada de decisão de qualquer investidor, pois a análise de viabilidade para se aceitar determinado risco deve considerar qual o retorno envolvido. Esse conceito podemos verificar no nosso cotidiano, pois não assumimos um risco muito alto se o retorno é baixo. Os investimentos em países emergentes como o Brasil possuem como premissa uma alta taxa de retorno, isso é considerado para que o investidor possa assumir o risco de investir em um país que de forma geral possuem características como imprevisibilidade, falta de regulamentação e baixo nível de maturidade. Dessa forma, o investidor espera que para assumir o risco a taxa de retorno seja atrativa. 23 12. RISCO DE INADIMPLÊNCIA E O CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS A utilização de capital de terceiros gera benefícios fiscais para a empresa, aumentando seu valor. No entanto, possui uma contrapartida relevante, isso porque quanto maior a dívida, maior serão suas obrigações com pagamento de juros e amortização. Quando a empresa utiliza capital de terceiros é comum dizer que essa empresa é alavancada, porém, as empresas muito alavancadas tendem a ser classificadas pelo mercado como mais arriscadas no que diz respeito a risco de crédito. O risco de inadimplência de uma empresa está relacionado à sua capacidade de gerar resultado, caixa operacional e ao nível de desembolsos com encargos financeiros e amortização do valor principal de dívidas. De fato, quanto maior for a capacidade para geração de resultado e caixa operacional em relação às obrigações da empresa, menor o risco de inadimplência. Da mesma forma, quanto mais estáveis forem esses resultados, menor o risco. Em âmbito mundial, existem agências especializadas em atribuir ratings para as dívidas das empresas, como a Moody’s e a Standard & Poor’s (S&P). Esses ratings são divulgados publicamente e possuem grande influência na decisão dos spreads que serão cobrados pelos credores. Os ratings são definidos por letras, sendo o AAA (S&P) e Aaa (Moody´s) os que representam a menor probabilidade de ocorrer inadimplência. Quanto mais próximo de D, maior o risco, sendo D considerado uma empresa inadimplente (S&P), conforme descrito na Tabela: Tabela 1- Comparativo de Ratings Agência Moody´s Agência S&P Nível de qualidade Aaa AAA Altíssima qualidade. Risco de default muito pequeno. Aa AA Alta qualidade. Risco de default pequeno. A A Alta-Média qualidade. Indicadores sólidos, mas potencialmente vulnerável. Baa BBB Média qualidade. Indicadores adequados, mas potencialmente incertos. Ba BB Presença de elementos especulativos. Visão de longo prazo questionável. B B Apto a pagar no momento, mas com risco de default no futuro. Caa CCC Baixa qualidade. Perigo claro de default. Ca CC Altamente especulativo. Pode estar em default. C C Mais baixo rating. Baixa perspectiva de renegociação. D - Em default. Fonte: MOODY’S E S&P, 2019 Os critérios utilizados pelas agências para calcular o risco de inadimplência e definir os ratings são baseados nos Índices de Cobertura de Juros (ICJ), podendo ser definidos como EBITDA/Juros e Dívida Líquida/EBITDA. O EBITDA é a sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Earnings Before Interest Taxes, Depreciation, and Amortization). É um 24 dos conceitos mais utilizados na análise financeira de empresas. O índice é obtido reduzindo-se o Lucro Bruto apenas das despesas operacionais. Exclui-se desse cálculo tanto a depreciação e as amortizações do período quanto o pagamento e recebimento de juros. O EBITDA permite calcular o lucro puramente operacional, descontando qualquer tipo de ganho financeiro e juros decorrentes da alavancagem da empresa. De forma geral, a capacidade de geração de caixa que o negócio possui. O EBITDA é utilizado na avaliação de empresas. O valuation com base no fluxo de caixa descontado tem como matéria-prima fundamental esse dado. 25 13. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE E MEDIDAS DE RISCO A Análise de sensibilidade é uma técnica extremamente útil que tem por finalidade determinar o impacto de certas variáveis sob certas condições de mercado. Essa análise e, consequentemente, a sua conclusão são, muitas vezes, fundamentais para a tomada de decisão. Dessa forma, vamos analisar as principais medidas de sensibilidade e de risco. 26 14. DURATION A Duration possui duas interpretações: 1. Pode referir-se à medida de sensibilidade de um fluxo de entradas (ativo) ou saídas (passivo) a mudanças na taxa de juros. 2. Pode referir-se à média ponderada dos pagamentos e seus momentos de ocorrência. Essa dupla interpretação costuma causar confusões quanto ao uso adequado de cada uma. A primeira interpretação, de medida de sensibilidade, é conhecida como duration modificada. Já a segunda interpretação, da média ponderada dos fluxos, é chamada duration de Macaulay. Caso seja utilizada capitalização contínua, os dois valores se igualam, mas, nos demais casos, podem resultar em valores distintos. Em um título de renda fixa, a duration de Macaulay é um valor entre zero e a maturidade do título (em anos). Assim, um título com prazo de um ano, com rendimento de 2% ao mês e resgate com valor principal de R$ 1 milhão, tem duration igual ao prazo de vencimento do título (um ano), pois não apresenta pagamentos intermediários (cupons).Caso o mesmo título possuísse pagamentos mensais de cupom, o duration seria igual a 10,8 meses (maior volume no resgate do principal “puxa” a duration mais para seu prazo). Já a duration modificada é a sensibilidade percentual do preço do ativo a mudanças na taxa de juros. Propriedades da duration Abaixo, podemos citar algumas propriedades da duration. São elas: Quanto menor o cupom, maior é a duration (caso os outros parâmetros permaneçam constantes). Instrumentos de baixo cupom terão maior volatilidade no preço que os instrumentos de alto cupom. Quanto maior o prazo de vencimento de um instrumento, maior sua duration (caso os outros parâmetros permaneçam constantes). Instrumentos longos terão maior volatilidade no preço que instrumentos curtos. Quanto maior o Yield, menor será a duration. A duration tem um significado econômico, refletindo a sensibilidade do preço de um Bond em relação à mudança da taxa de juro. Duration possui unidade de medida em anos. Convexidade: duration em relação à Yield A duration mensura bem as variações de preço para oscilações na taxa de juros de até um basis point (0,01%). Para grandes aumentos da taxa de juros, o modelo de duration superestima a queda de preço, enquanto que, para grandes quedas da taxa, o modelo subestima o aumento de preço. Convexidade é a propriedade que captura essas distorções do modelo de duration e mensura a sua taxa de mudança em relação às mudanças de Yield. 27 28 15. VALUE-AT-RISK: POTENCIAL DE PERDA O Value-at-risk (VaR) é uma medida do potencial de perda no valor de um ativo ou portfólio em um horizonte de tempo e com determinado nível de confiança. Dessa forma, caso tenhamos um ativo com VaR diário de R$ 1 milhão a 95% de confiança, estamos dizendo que há apenas 5% de chance desse ativo sofrer perdas maiores que R$ 1 milhão em um dia normal de operação. A grande vantagem do VaR é seu poder de síntese: com poucos números, é possível determinar o risco de perda de uma carteira, por mais complexa que possa ser sua composição. O VaR também serve ao propósito de acompanhamento da evolução da exposição a riscos, pois com o seu acompanhamento sistemático, é possível verificar se a perda potencial de determinado ativo ou carteira está aumentando ou diminuindo. Há algumas questões importantes com relação ao uso do VaR: É preciso determinar distribuições de probabilidade dos fatores de risco, suas correlações e seus potenciais efeitos no valor do ativo ou carteira para estimar a probabilidade de perda dado um nível de confiança. Nesse ponto, reside uma das questões mais controversas em finanças: a distribuição normal reflete os retornos? A crise das subprime, em 2008, acusou perdas da ordem de 30 desvios com relação à média, enquanto, na distribuição normal, 99% das ocorrências se dão entre -3 e 3 desvios. A normalidade é, no mínimo, uma premissa a ser utilizada com muito cuidado e critério. Há três grandes elementos no VaR (perdas potenciais, horizonte temporal e nível de confiança), que não podem ser apresentados separadamente. O VaR só é uma medida de risco quando apresenta os três elementos na sua formulação. 29 16. RISCO DE DÍVIDA E FONTES DE FINANCIAMENTO A alavancagem financeira pode ser importante para uma organização se desenvolver ou ganhar mercado, pois sem recursos disponíveis é muito difícil obter algum tipo de vantagem competitiva. Porém, em muitas empresas mesmo dispondo de recursos em caixa ou podendo recorrer aos sócios, os gestores optam pelo financiamento quando pensam em um novo projeto ou quando adquirem máquinas, veículos ou outros tipos de investimento corporativo. Essas empresas consideram a captação de recursos por meio de dívida uma forma de reduzir seu custo de capital, mais especificamente o Custo Médio Ponderado de Capital. Isso é explicado pelo fato de o custo da dívida com terceiros ser normalmente mais baixo quando comparado ao Custo do Capital Próprio ou ainda pela simples consideração de que os juros (provenientes da dívida) são dedutíveis do imposto de renda. De forma geral, os principais riscos oriundos do endividamento são: Aumento da probabilidade de falência: o endividamento pode contribuir com o aumento da probabilidade de falência, que é a incapacidade de cumprir compromissos contratuais. Pois a liquidez financeira está relacionada à capacidade de geração de fluxo de caixa operacional da empresa e ao nível de suas obrigações financeiras. Nesse contexto, aumentando a alavancagem financeira, aumenta-se também o nível de obrigações financeiras, e consequentemente a probabilidade de a empresa falir. Atrito entre acionistas e financiadores: o endividamento pode causar atrito entre os acionistas e financiadores, já que os acionistas possuem direitos residuais sobre os fluxos gerados pela empresa e tendem a apoiar medidas que os beneficiem em detrimento do aumento do risco para os credores. Esse tipo de problema também é conhecido como custo de agência de tomar empréstimos. Perda de flexibilidade: o endividamento pode implicar em perda de flexibilidade na gestão da empresa, pois a organização pode ficar restrita (ou impossibilitada) de investir em novos projetos e tomar mais recursos emprestados, sendo obrigada a manter saldos de caixa além do que consideraria adequado. As empresas possuem muitas formas de captação de recursos no mercado, desse modo, analisaremos as principais formas de obtenção de recursos e seus riscos associados na Unidade II. 30 BIBLIOGRAFIA BÁSICA SECURATO, José Roberto. Decisões Financeiras em Condições de Risco. Editora Atlas. 1993 HULL, John. Introdução aos Mercados Futuros e de Opções. Editora BM&F. 1991 IBGC. Guia de Orientação para Gerenciamento de Riscos Corporativos. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, 2007. WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira. Corporate Finance Stephen A Ross – Editora Atlas. 31 REFERÊNCIAS BARCLAY, Michael J.; SMITH, Clifford W.; WATT, Ross L. “The determinants of corporate leverage and dividend policies”. Journal of Applied Corporate Finance. Volume 7, Issue 4, pages 4-19, Winter 1995. BRADLEY, Michael; JARRELL, Gregg A.; KIM, E. Han. “On the Existence of an Optimal Capital Structure: Theory and Evidence”. The Journal of Finance. Vol. 39, No. 3, Papers and Proceedings, Forty-Second Annual Meeting, American Finance Association, San Francisco, CA, December 28-30, 1983 (Jul., 1984), pp. 857-878 BREALEY, R. A.; MYERS, S. C. Principles of corporate finance. 6ª. ed. Nova York: Mcgraw Hill, 2000. DAMODARAN, A. Finanças corporativas aplicadas: manual do usuário. Porto Alegre: Bookman, 1998. JENSEN, Michael C.; MECKLING, William H. “Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure”. Journal of Financial Economics (JFE), Vol. 3, No. 4, 1976. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. Corporate finance. 4ª. ed. Boston: Irwin, 1996.
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