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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) FACULDADE DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA DISCIPLINA: História da Filosofia III DISCENTE: David Rocha Vasconcelos EPICURO – CARTA SOBRE A FELICIDADE Introdução Epicuro foi o filósofo grego nascido em 341 a.c na ilha grega de Samos. Apesar do seu local de nascimento ele possuía cidadania ateniense, herdada do seu pai emigrante. No ano de 306 a.c, Epicuro funda em Atenas aquela que viria a ser a sua célebre escola ateniense, conhecida como ‘’O jardim de Epicuro’’. O epicurismo se tornou uma das escolas gregas mais renomadas, influenciando diversos pensadores até os dias de hoje. Devido a sua grande fama ganhou diversas interpretações equivocadas. O epicurismo tem como base de sua tese o prazer, porém, várias interpretações desse prazer foram confundidas com o gozo imoderado dos prazeres mundanos, como se não distinguisse do hedonismo puro e simples. Epicuro chegou a ser acusado de imitar Demócrito e sua teoria atomista, entretanto, Demócrito possuía como base de sua tese a teoria de causa e efeito que era aplicada indistintamente tanto ao homem quanto ao mundo. Portanto, do ponto de vista filosófico, Demócrito pode ser considerado determinista ou fatalista enquanto Epicuro repelia essa teoria determinista. Em momento algum Epicuro deixa de preservar a vontade humana e a liberdade individual, incluindo em seu sistema a sociedade e a consciência moral. Na carta sobre a felicidade ou carta a Meneceu, o filósofo grego versará justamente sobre a conduta humana, tendo em vista o alcance da tão almejada saúde de espírito. A carta é iniciada por uma exortação ao exercício da filosofia, disciplina cuja única meta é justamente tornar o homem feliz. Desse modo temos de cultiva-la por todo o percurso de nossa existência. Em Epicuro passa a transmitir aqueles tópicos que considera essenciais para uma vida feliz, a começar pela crença na existência dos deuses. A seguir é apresentada a morte, para muitos vista como pior dos males, no texto é exortado a importância necessária de superação desse medo: o que importa não é a duração, mas a qualidade de vida. Por último é falado sobre os desejos e necessidade de controla-los, tendo em mira tanto a saúde do corpo como quanto a tranquilidade do espírito. O prazer como bem principal e inato não é algo que se deva ser buscado a todo custo já que às vezes pode resultar em dor, do mesmo modo que uma dor nem sempre deve ser evitada, pois pode resultar em prazer. Carta sobre a felicidade Nunca devemos hesitar em nos dedicarmos a filosofia enquanto jovens e nem nos cansarmos de fazê-lo depois de velhos, pois ninguém é jovem ou velho demais para se alcançar a saúde de espírito. Aquele que diz que a hora de se dedicar a filosofia passou é como se estivesse dizendo que a hora de ser feliz também passou, a filosofia é útil em qualquer período da vida: para quem estiver velho sentir-se rejuvenescido e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo algum das coisas que estão por vir. Portanto, é necessário que cuidemos das coisas que nos trazem felicidade. Dentre os ensinamentos fundamentais para uma vida feliz, está em primeiro lugar a consideração para com as divindades como entes imortais e bem aventurados: não devemos atribui-los nada que não seja compatível com a sua imortalidade e bem aventurança. Os deuses de fato existem, já a imagem deles feita pela maioria das pessoas, essa não existe. Descrente não é aquele que rejeita os deuses, mas sim quem atribui aos deuses falsos juízos. O juízo do povo em relação aos deuses é baseado em opiniões falsas. Além dos deuses, acostuma-te também com a ideia de que a morte para nós não é nada, todo bem e mal residem nas sensações que o mundo nos oferece, a morte é justamente a privação dessas sensações. Não existe nada de aterrorizante na vida para aquele que está perfeitamente convencido de que não há nada terrível na morte. Quem diz temer a chegada da morte por ter medo de sofrer é tolo, não porque a morte em si trará sofrimento, mas porque o que lhe aflige é a própria espera: aquilo que não nos perturba enquanto presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado. Então o que seria supostamente o mais terrível dos males para nós não significa nada, porque quando estamos vivos a morte não está presente; ao contrário, quando a morte está presente nós é que não estamos. O sábio em momento algum desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele viver não é um fardo e não viver não é um mal. Não devemos esquecer que de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não nosso. Consideremos os desejos agora, dentre eles há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros apenas naturais. Dentre os necessários há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros para o bem-estar corporal e outros para a própria vida. O conhecimento seguro dos desejos nos ajuda a direcionar com sabedoria toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que é isso que visa á vida feliz. Em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, afastando-nos da dor e do medo. Quando atingirmos esse estado perfeito de felicidade, teremos aplacado todas as necessidades da alma, não tendo que buscar algo que nos falta, estaremos completamente satisfeitos. Nós só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; do contrário, essa necessidade não se faz sentir. É por essa razão que é afirmado pelo epicurismo que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz, o prazer é identificado como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele é praticada toda escolha e toda recusa, e a ele se chega escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. Mesmo o prazer sendo o bem primeiro e inato, não é por isso que devemos escolher qualquer prazer; há ocasiões em que evitamos diversos prazeres quando deles advêm efeitos desagradáveis. Devido a isso convém avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Além da mediação dos prazeres, outro bem igualmente importante é a autossuficiência, tal bem nos ajudará a lidar com a ausência do muito, e nos fazendo contentar com o pouco; tudo que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo que é inútil. Quando nos habituamos a um modo de vida simples nós nos preparamos para as adversidades da vida, além de ser conveniente para a saúde. Portanto, quando se diz que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres intemperantes ou que consistem no gozo, mas ao prazer que é ausência de sofrimento físico e de perturbações da alma. De todas essas coisas que falamos até agora, a prudência é o princípio e supremo bem, sendo mais preciosa até que a filosofia, pois é dela que se originam todas as outras virtudes. A felicidade depende da prudência, sem prudência não há felicidade, pois, todas as virtudes estão intimamente ligadas a felicidade. Seria possível existir alguém mais feliz que o sábio, que possui um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, já que as coisas acontecem ou por necessidade ou por acaso, ou por vontade nossa? Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito ainda nos oferece uma esperança de perdão, enquanto o destino naturalista é uma necessidade implacável.
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