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A TUTELA DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO NO DIREITO DE FAMÍLIA BRSILEIRO

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A TUTELA JURÍDICA DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO E OS DIREITOS DE GUARDA, VISITAÇÃO E ALIMENTOS.
Claudevani Marcelino de Melo
RESUMO
Diante das inúmeras transformações advindas da sociedade pós-moderna, sobretudo nas instituições familiares, os animais de estimação passaram a serem vistos e considerados como integrantes da família. Poe este fato, surgiram discussões envolvendo a tutela jurídica destes animais de estimação, sobretudo quando da ruptura da sociedade conjugal. Nesse cenário, o presente estudo objetivou fazer uma analise a respeito da posição do ordenamento jurídico em relação à tutela jurídica dos animais de estimação e, por conseguinte o direito a guarda, visitação e alimentos em caso da dissolução da sociedade conjugal. Para tanto, a metodologia deste estudo consistiu no levantamento bibliográfico em livros, artigos, leis, jurisprudências e decisões judiciais. 
O presente estudo tem como objetivo tecer breves apontamentos sobre a tutela jurídica dos animais de estimação no direito de família brasileiro. A abordagem se torna justificada uma vez que cada vez mais o direito brasileiro se depara com conflitos jurídicos atinentes a questão da falta de legislação específica que trate do direito dos animais, principalmente ao que compete a questões de guarda, o direito de visitação e o direito a alimentos, quando da dissolução da sociedade conjugal. Por resultados da pesquisa, conclui-se que muito embora não haja legislação específica nesse sentido, a maioria das decisões são baseados em jurisprudências quando da existência de contendas judiciais envolvendo tutela jurídica dos animais, assim como os direitos de guarda, alimentos e visitação, quando da ruptura da sociedade conjugal, os institutos de direito de família ao qual visam a proteção da criança em caso de divorcio, estão sendo aplicados, por analogia, aos animais de estimação. 
PALAVRAS CHAVE: Animal de estimação; afetividade: sociedade conjugal.
1. INTRODUÇÃO 
Com o passar dos tempos, assim como a evolução da sociedade e a chegada da sociedade pós moderna, as estruturas sociais também foram alteradas, ao passo que as entidades familiares também sofreram inúmeras mudanças. O modelo tradicional de família a qual tínhamos como base já não é exclusiva, uma vez que essa evolução trouxe outros modelos de famílias, marcada pela pluralidade e, sobretudo pela afetividade. 
Nessa seara, os animais de estimação ganharam grande relevância, deixando de serem considerados meros objetos, passando a serem considerados de fato, integrantes do núcleo familiar como verdadeiros filhos, uma vez que muitos casais preferiram por não terem filhos, optando por incluir animais de estimação nas relações familiares. É nesse interim que surge a família multiespécie. Pois bem, essa nova concepção de família coloca os animais sob um olhar específico, passando assim a serem considerados sujeitos de direitos, reconhecidos cada vez mais como seres sencientes. 
Outrossim, é nesse cenário que surgem as inúmeras questões a respeito do tratamento dado a esses animais diante da ruptura da sociedade conjugal, uma vez que o que tem-se percebido é que frequentemente essas questões estão sendo trazidas as disputas judicias, contudo tais disputas não são de cunho patrimoniais e sim relacionadas a tutela jurídica ao que concerne o direito de guarda, visitação e alimentos para esses animais. Ante o exposto, o presente estudo visa demonstrar que a classificação dada aos animais pela legislação atual, ou seja como seres semoventes, já não condiz com a realidade desses animais no âmbito familiar, além de permear apontamentos sobre a tutela jurídica desses animais quando desta ruptura da sociedade conjugal.
Tal estudo mostra-se importante, tendo em vista a lacuna legislativa existente, uma vez que cada vez mais nos deparamos com conflitos jurídicos oriundos da dissolução da relação conjugal que tem um animal de estimação como membro da família.ao passo que cada vez mais cada vez mais os animais fazem parte do seio famíliar, cada vez mais, eles trocam afeto e muitos casais ainda os considera como verdadeiros filhos. Ante o exposto, nada mais justo que analisar qual o destino que se dá aos animais em um caso de divórcio ou em um caso de dissolução de uma união estável, qual o destino desse animal? Ele terá direito a receber alimentos? Se será estipulada uma guarda? Direito de visitas? Se há uma legislação já nesse sentido? Ou há apenas jurisprudências que adotam o entendimento de que os animais podem ser considerados como sujeitos de direito? Para tanto, como metodologia, utilizou-se no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas e jurisprudenciais disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. 
 .
1 - A NATUREZA DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO E SEU STATUS JURÍDICO
Os animais são elementos do meio ambiente natural, e estão protegidos inicialmente na Constituição Federal, segundo o artigo 225, caput: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
Então, analisando este artigo, é possível concluir que os animais, são protegidos constitucionalmente pelo art. 225 caput da CF, é decorrente desta proteção positivada na carta maior que se percebe que os animais estão inclusos na categoria meio ambiente, a partir do momento que os animais não são protegidos não termos mais um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sendo assim é de extrema importância estarmos cada vez mais pensando nos animais, sendo extremamente necessários que sejam protegidos. Ainda na Constituição Federal: 
Essa proteção se justifica pelo fato dos animais serem seres conscientes e dotados da capacidade de sofrer, ou seja seres sencientes, por este fato é que a Constituição Federal brasileira proíbe, expressamente, quaisquer práticas cruéis contra animais: art. 225, §1º, VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
Contudo, essa proteção não é suficiente para o direito animal. Ainda existe uma luta para que o direito animal tenha autonomia perante o direito ambiental, uma vez que o direito dos animais ainda está inserido no direito ambiental. O direito ambiental é um ramo do direito sistematizador em que ele reúne diversos assuntos dos seus elementos e que protege de maneira geral, ou seja, dentro do direito ambiental, temos a proteção ao direito das aguas, direito das florestas e direito dos animais. 
Então se torna extremamente necessário que o direito animal tenha essa autonomia, ou seja, é preciso tirar o direito animal do direito ambiental e transformá-lo em um novo ramo do direito, uma vez que os animais cada vez mais estão sendo considerados seres dotados de sentimentos. 
A teoria da senciencia foi criada pelo filosofo Peter Singer, que começou a pesquisar os animais e perceber que eles seriam seres sencientes, ou seja, seres que assim como nós também são dotados de sentimentos. Os animais cada vez mais estão sendo considerados como seres que tem capacidade de ter sentimentos, ou seja , são capazes de sofrer dor, que podem ficar felizes, tristes, aflitos, ter medo, dentre outros sentimentos que nós humanos temos. E com essa teoria da senciencia animal começou-se a perceber que a tutela dos animais no direito tem que ser efetivada de maneira mais concreta, de maneira mais específica, tendo em vista que o direito animal inserido dentro do direito ambiental ainda não nos possibilita essa tão desejada proteção específica. 
De acordo com o Código Civil, os animais são considerados como semoventes, ou seja, é todos aqueles bem móveis que tem capacidade de se locomover, por este motivo é que os animais podem ser vendidos, doados, dentre outras questões. Contudo, cada vez mais esses animais passam a ter mais autonomia, podendo encontrar nos direito animaisaté mesmo propondo ação judicial. Assim, é notório que no direito, os animais estão cada vez mais sendo considerados como seres que tem capacidade de terem sentimentos, ao passo que na sociedade, desde sempre os animais fizeram parte das famílias, desde sempre é comum dentro do seio familiar, termos um animal de estimação, onde existe até por escolha de alguns casais que optam por não terem filhos, e adotarem animais para assim os consideram como filhos.
Ademais, é clarividente que os animais estão inseridos desde sempre no âmbito do direito de família, porém, a preocupação deste ramo do direito de família em realizar essa proteção do direito animal, a proteção do bem-estar do direito animal é algo relativamente novo no ordenamento jurídico. Até alguns anos atrás não se falava em guarda de animas ou sobre alimentos. Não se tinha notícia de nenhuma ação judicial nesse sentido, isso porque ainda existia uma regressão da questão do direito animal. Onde os animais ainda eram vistos como objetos e não como partes integrantes da família. Os animas muito embora fizessem parte da família em si, eles ainda não tinham essa importância para o direito de família. 
Isso se dá pelo fato de que até hoje inexiste na legislação brasileira, dispositivos em que nos autorizam fazer uma guarda de um animal ou até mesmo uma ação de alimento de animal, porem existem nesse sentido jurisprudências considerando os animais como sujeitos de direitos no âmbito do direito de família. E muito comum nas ações de divórcios as partes não saberem o que fazer com os animais, ou seja, desconhecem se existe algum respaldo jurídico que os façam requerer seja a guarda, alimento e até mesmo direito a visitação. 
2- CONCEITOS DE FAMILIA NO DIREITO BRASILEIRO E A SUA EVOLUÇÃO
A família sempre existiu, ou seja, é sabido que desde que o mundo é mundo os seres vivos se unem, criando vínculos uns com os outros. É dessa necessidade de criar-se vínculos, de não viver só, que surgiram as primeiras instituições familiares. Nesse contexto, faz-se oportuno descrever o conceito de família apresentada por Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 23-24):
Trata-se de instituição jurídica e social, resultante de casamento ou união estável, formada por duas pessoas de sexo diferente com a intenção de estabeleceram uma comunhão de vidas e, via de regra, de terem filhos a que possam transmitir o seu nome e seu patrimônio.
Entretanto, ao longo da historia essa famílias passaram por diversas transformações, sobretudo no ultimo século, essas mudanças foram mais rápidas e marcantes, portanto esse conceito rígido de família conceito de família vem mudando a muito tempo, isso se faz necessário pelo fato de que houve uma repersonalização das relações familiares na busca do atendimento aos interesses que são considerados mais valiosos quando se fala da pessoa humana: afeto, solidariedade, confiança, respeito e amor. (DIAS, 2016, p. 28). 
Antigamente só era reconhecida como família legítima a família matrimonial, ao passo que só eram reconhecidos os filhos advindos desta relação. Contudo com o passar do tempo essas concepções foram perdendo espaço para um novo paradigma que é o da afetividade, ou seja, um afeto como valor jurídico, podendo assim ser exteriorizado nessas relações afetivas desses grupos familiares. A esse proposito, salutar as lições de Maria Berenice Dias (2016, 22):
Isso levou à aproximação dos seus membros, sendo mais prestigiado o vínculo afetivo que envolve seus integrantes. Surge a concepção da família formada por laços afetivos de carinho, de amor. A valorização do afeto deixou de se limitar apenas ao momento de celebração do matrimônio, devendo perdurar por toda a relação. Disso resulta que, cessado o afeto, está ruída a base de sustentação da família, e a dissolução do vínculo do casamento é o único modo de garantir a dignidade da pessoa.
Com a inserção do princípio da afetividade no conceito de família, esta passou a ser constituída não mais apenas pelo fator biológico, mas sim pelas relações de afeto, sendo assim admitidos inúmeros tipos de entidades familiares. É nesse cenário que surge a família multiespecie, ou seja, aquela formada por seres humanos e animais de estimação e pautada na afetividade existente nessa relação. 
Essa nova concepção de família se da pelo fato dos animais estarem fazendo parte cada vez mais efetivamente da família, ou seja, não mais como objetos, e sim como integrante da família. Essa é a realidade presente na vida de muitas pessoas, em que seus animais de estimação são considerados membros da família em que partilham do mesmo amor e carinho, ou seja, existe uma relação afetiva familiar. 
Contudo, somente ter um animal de estimação em casa não significa que essa família seja multiespecie, para essa configuração, é necessário que os animais sejam considerados membros da família, é preciso o compartilhamento da afetuosidade. Nessa linha de entendimento, Walquiria de oliveira dos Santos (2020) enfatiza:
Ressalta-se ainda que, o fato de somente possuir um bichinho de estimação no lar não é elemento suficiente para caracterizar a família multiespécie, mas, o compartilhamento de afetuosidade é um dos principais elementos norteadores desse novo arranjo familiar. Assim, por exemplo, se um determinado animal possui tão somente a finalidade de desempenhar a função de guarda de uma casa não pode ser considerado como se filho fosse, pois possui uma finalidade específica, uma função determinada, ele não participa das atividades familiares, da rotina.
Essa configuração de família vem ganhando cada vez mais visibilidade, uma vez que esses animais são considerados efetivamente como verdadeiros filhos, e por este fato, merecem cuidados como tal, mesmo que não reconhecidos pelo ordenamento jurídico. Em razão da inserção dos animais de estimação no meio familiar como integrantes de fato é que vem surgindo novas demandas judiciais, envolvendo a tutela jurídica e os direitos desses animais, sobretudo quando ocorre a ruptura conjugal. Antigamente não era comum preocupar-se com os animas de estimação em uma dissolução da sociedade conjugal, contudo este panorama mudou.
3 - OS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO NA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL
Como já visto anteriormente, em todo núcleo familiar que existe um animal de estimação, há o reconhecimento de que eles são partes integrantes da família. Com a dissolução da sociedade conjugal, muitas vezes, o ex- cônjuge acaba impedindo que o outro mantenha convivência com o animal, e em razão disso, muitas pessoas tem recorrido ao judiciário, objetivando poder rever seu animal de estimação. Ainda inexiste em nosso ordenamento jurídico, uma lei que regulamentando acerca da guarda de animais, assim diante deste fato, os tribunais tem utilizado, por analogia, as regras que disciplinam a guarda compartilhada dos filhos, dispostas nos artigos 1.583 a 1.590 do Código Civil. 
A guarda compartilhada de animais é uma solução viável em casos de dissolução da sociedade conjugal. Sendo possível assim, acionar a justiça para resolver tal contenda. Nesses casos, os juízes tomam como critério as questões afetivas relacionadas ao caso, é a partir desse quesito que se estabelece o tempo que cada parte passara com o animal. 
Para decidir as questões referentes ao direito de guarda (unilateral, alternada ou compartilhada) e alimentos de animais após a dissolução da sociedade conjugal, é utilizada pela jurisprudência a analogia do direito de família. Essa guarda de animais no direito de família, muito embora ainda não esteja positivado no nosso Código Civil, é possível, segundo jurisprudências sobre o assunto, utilizar por analogia, o que está disposto no direito de família:
Neste viés, diante da ocorrência das chamadas famílias multiespécies, ou seja, aquelas famílias formadas por pessoas e seus animais de estimação (animais não humanos). A tendência jurisprudencial é no sentido de aplicar a estas famílias o instituto da proteção da pessoa dos filhos aos animais de estimação quando do rompimento das relações familiares a fimde proporcionar aos mesmos uma convivência familiar continuada com seus tutores baseado no princípio do melhor interesse do animal. (BELCHIOR e DIAS, 2019, p. 71). 
Para além da guarda é possível pleitear também após a dissolução da sociedade conjugal, alimentos para esses animais, pois os animais assim como nós humanos também precisam se alimentar, inclusive algum animais possuem restrições alimentarem demandando assim, uma alimentação específica. Existem também animais que tem manias alimentares, isso tudo demanda um custo, e quando está na constância do casamento é o casal, que ambos tomam esta responsabilidade de suprir tais necessidades desses animais. Contudo, diante de um divórcio ou de uma dissolução de união estável, assim que estão se separando, as partes devem ter a consciência de que quem ficar com a guarda do animal, isso representará consequentemente ter gastos com o animal. Ademais esse animal poderá ficar doente também, o que irá gerar custos. Portanto, a importância de além de atribuir a guarda do animal, atribuirmos também um valor referentes aos alimentos. Valor este que deve ser baseado em quanto era gasto de ração e outros itens alimentares mensalmente, acrescido de um valor para despesas veterinárias, para que o bem-estar do animal acima de tudo fique resguardada. Ou seja, a proteção, a dos animais no direito de família. 
Em atual decisão, um juiz da 4ª Vara Cível da comarca de Patos/MG, condenou um ex-conjuge a pagar, a título de alimentos, o valor de R$ 200,00 (duzentos reais) mensais para o custeio das despesas como os animais. Em sua decisão, o magistrado entendeu que embora não haja lei que disciplinasse tal empasse, decidindo assim por analogia, considerou em sua decisão que o fim do casamento não poderia afastar a obrigação de cuidar dos animais. 
Da mesma maneira, após o fim de um relacionamento, ambas as partes tem o direito de continuar convivendo com seu animal de estimação. Mesmo que estejam na posse de um dos companheiros, isso não é motivo para impedir a convivência para com eles. Diante disso, o STJ, considerou ser possível a regulamentação judicial de visitas a animais de estimação após a dissolução de uma união estável. Sendo assim, numa separação conjugal, para além da divisão dos bens materiais, os animais também poderão entrar na disputa, podendo a parte que perdeu a guarda do animal ter direito a visitas, ficar com o animal em feriados etc.
Nesse sentido, cada vez mais decisões entendem que o animal de estimação, adquirido na constância do relacionamento, deve ter seu bem-estar considerado quando da dissolução do casamento ou união estável. Nesse sentido, o STF já garantiu o direito de visita a um animal de estimação após a separação do casal ao julgar o REsp 1.713.167. Vejamos:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. AQUISIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO RELACIONAMENTO. INTENSO AFETO DOS COMPANHEIROS PELO ANIMAL. DIREITO DE VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER DO CASO CONCRETO. 1. Inicialmente, deve ser afastada qualquer alegação de que a discussão envolvendo a entidade familiar e o seu animal de estimação é menor, ou se trata de mera futilidade a ocupar o tempo desta Corte. Ao contrário, é cada vez mais recorrente no mundo da pós-modernidade e envolve questão bastante delicada, examinada tanto pelo ângulo da afetividade em relação ao animal, como também pela necessidade de sua preservação como mandamento constitucional (art. 225, § 1, inciso VII -"proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade"). 2. O Código Civil, ao definir a natureza jurídica dos animais, tipificou-os como coisas e, por conseguinte, objetos de propriedade, não lhes atribuindo a qualidade de pessoas, não sendo dotados de personalidade jurídica nem podendo ser considerados sujeitos de direitos. Na forma da lei civil, o só fato de o animal ser tido como de estimação, recebendo o afeto da entidade familiar, não pode vir a alterar sua substância, a ponto de converter a sua natureza jurídica. 3. No entanto, os animais de companhia possuem valor subjetivo único e peculiar, aflorando sentimentos bastante íntimos em seus donos, totalmente diversos de qualquer outro tipo de propriedade privada. Dessarte, o regramento jurídico dos bens não se vem mostrando suficiente para resolver, de forma satisfatória, a disputa familiar envolvendo os pets, visto que não se trata de simples discussão atinente à posse e à propriedade. 4. Por sua vez, a guarda propriamente dita - inerente ao poder familiar - instituto, por essência, de direito de família, não pode ser simples e fielmente subvertida para definir o direito dos consortes, por meio do enquadramento de seus animais de estimação, notadamente porque é um munus exercido no interesse tanto dos pais quanto do filho. Não se trata de uma faculdade, e sim de um direito, em que se impõe aos pais a observância dos deveres inerentes ao poder familiar. 5. A ordem jurídica não pode, simplesmente, desprezar o relevo da relação do homem com seu animal de estimação, sobretudo nos tempos atuais. Deve-se ter como norte o fato, cultural e da pós-modernidade, de que há uma disputa dentro da entidade familiar em que prepondera o afeto de ambos os cônjuges pelo animal. Portanto, a solução deve perpassar pela preservação e garantia dos direitos à pessoa humana, mais precisamente, o âmago de sua dignidade. 6. Os animais de companhia são seres que, inevitavelmente, possuem natureza especial e, como ser senciente - dotados de sensibilidade, sentindo as mesmas dores e necessidades biopsicológicas dos animais racionais -, também devem ter o seu bem-estar considerado. 7. Assim, na dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao animal de estimação, independentemente da qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender do caso em concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser humano e do seu vínculo afetivo com o animal. 8. Na hipótese, o Tribunal de origem reconheceu que a cadela fora adquirida na constância da união estável e que estaria demonstrada a relação de afeto entre o recorrente e o animal de estimação, reconhecendo o seu direito de visitas ao animal, o que deve ser mantido. 9. Recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 1713167 SP 2017/0239804-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 19/06/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/10/2018).
Nesse caso, a maioria dos ministros considerou que apesar dos animais serem qualificados como coisa pela legislação civil, eles possuem valor subjetivo, único e peculiar. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto até aqui, é possível perceber que os animais merecem cada vez mais ter uma proteção jurídica de forma efetiva, para além da proteção contra a crueldade, eles merecem também serem tutelados no âmbito do direito de família. Isso se dá pelo fato de que já não se pode negar a existência dessa estrutura familiar, os animais de estimação já são enxergados e reconhecidos como membros da família, com necessidades de terem seus direitos tutelados, por se tratarem de seres vivos com capacidade de ter sensações e sentimentos de forma consciente.
Sendo assim, importante que dentro do direito de família, ao ser procurado para uma ação de divórcio ou dissolução da união estável, o advogado inclua no rol de questionamentos de praxe, perguntas atinentes a existência de animais de estimação e qual será seu destino no âmbito familiar, quanto a guarda, alimentos e até direito de visitas, pois mesmo que não haja no ordenamento jurídico, pode-se incluir esses direitos aos animais baseado em jurisprudências já existentes. 
Com essas inovações, revigora-se o pensamento de Charles Darwin: “a compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana”.
REFERÊNCIAS 
BELCHIOR, G.P., DIAS, M.R.M.S. A Guarda Responsáveldos Animais de Estimação na Família Multiespécie. Revista Brasileira de Direito Animal. Salvador, vol. 14, maio./ago.2019.
BRASIL, Código Civil Brasileiro. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988. 
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, REsp: 1713167, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, julgado em 19/06/2018. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/635855286/recurso-especial-resp-1713167-sp-2017-0239804-9/inteiro-teor-635855288. Acesso em 12.04.2021
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. – 4ª ed. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Direito de Família, vol. 6, 13ª ed. – São Paulo, Saraiva, 2016.
Juiz condena ex-marido a pagar metade de despesas de cães adquiridos no casamento. 30/03/2021. Redação JOTA. Disponível em: https://www.jota.info/jotinhas/juiz-condena-ex-marido-a-pagar-metade-de-despesas-de-caes-adquiridos-no-casamento-30032021. Acesso em 02/05/2021.
SANTOS, Walquiria de Oliveiras dos. Família multiespécie: análise da (in) viabilidade de tutelar judicialmente as demandas de guarda, regulamentação de visitas e alimentos para os animais de estimação após a ruptura do vínculo conjugal. Instituto Brasileiro de Direito de Família. Disponível em: https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/1566/Fam%C3%ADlia+multiesp%C3%A9cie:+an%C3%A1lise+da+(in)+viabilidade+de+tutelar+judicialmente+as+demandas+de+guarda,+regulamenta%C3%A7%C3%A3o+de+visitas+e+alimentos+para+os+animais+de+estima%C3%A7%C3%A3o+ap%C3%B3s+a+ruptura+do+v%C3%ADnculo+conjugal. Acesso em: 13/04/2021.

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