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Cilene Roque Sistema Cardiovascular Fisiopatologia do Envelhecimento do Sistema Cardiovascular Tópicos: 1. Processo de envelhecimento do sistema cardiovascular; 2. Fisiopatologia das doenças cardiovasculares (insuficiência coronariana). 3. Principais doenças cardiovasculares que acometem idosos e sua epidemiologia; 4. Fatores de risco para doenças cardiovasculares; 5. Principais sintomas das doenças cardiovasculares e como preveni-las (impactos dos hábitos de vida). 6. Exames de imagem (EEG e ECO) para o reconhecimento das alterações cardiovasculares bem como para o diagnóstico. 7. Cateterismo e o implante do “Stent”. Cilene Roque Sistema Cardiovascular 1. Processo de envelhecimento do sistema cardiovascular: Na ausência de problemas cardíacos congênitos, um coração resistente costuma funcionar bem a vida toda. Nos indivíduos que se exercitam de modo regular e vigoroso, o coração adapta-se gradualmente à maior demanda, aumentando sua resistência e tamanho. O exercício aeróbico também ajuda a limpar os depósitos de gordura das paredes dos vasos coronarianos, retardando assim o processo de aterosclerose. Salvo algumas doenças crônicas, essa resposta benéfica ao exercício persiste na velhice. As mudanças relacionadas à idade que afetam o coração incluem: 1. Endurecimento e espessamento das válvulas das valvas cardíacas. Essas mudanças ocorrem particularmente nas valvas sujeitas às pressões arteriais mais elevadas (mitral e da aorta). Assim, as bulhas cardíacas anormais são mais comuns nas pessoas idosas. 2. Declínio na reserva cardíaca. Embora a passagem dos anos pareça provocar poucas mudanças na frequência cardíaca em repouso, o coração envelhecido é mais lento para aumentar seu débito para bombear mais sangue. O controle simpático do coração fica menos eficiente e a frequência cardíaca torna-se gradualmente mais variável. A frequência cardíaca máxima diminui, embora esse problema seja muito menos grave nos idosos fisicamente ativos. 3. Fibrose do músculo cardíaco. Quando uma pessoa envelhece, cada vez mais células cardíacas morrem e são substituídas por tecido cicatricial fibroso. Essa fibrose, que é muito mais ampla nos homens do que nas mulheres, diminui a quantidade máxima de sangue que o coração consegue bombear por unidade de tempo. Além disso, com o envelhecimento das membranas das células musculares, a fibrose atrapalha o início e a transmissão dos impulsos de contração-sinalização, levando a ritmos cardíacos anormais e a outros problemas de condução. Referências: Marieb, Elaine Anatomia humana / Elaine Marieb, Patricia Wilhelm, Jon Mallatt ; tradução Lívia Cais, Maria Silene de Oliveira e Luiz Cláudio Queiroz ; revisão técnica João Lachat, José Thomazini e Edson Liberti. -- São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2014. 2. Fisiopatologia das doenças cardiovasculares (insuficiência coronariana): Conceitua-se como insuficiência coronariana (IC) o estado em que ocorre desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio para a manutenção plena das necessidades metabólicas do miocárdio, ocasionando isquemia de diversos graus de intensidade. Várias são as causas de insuficiência coronária, como valvopatias (estenose aórtica), miocardiopatia hipertrófica, doenças da microcirculação (diabetes mellitus, síndrome X), Cilene Roque Sistema Cardiovascular origem anômala de coronárias e fístulas coronárias. Contudo, a de maior importância por sua frequência e morbi-mortalidade é a IC obstrutiva aterosclerótica. Assim, esta discussão versará especificamente sobre a aterosclerose coronária. A aterosclerose humana é um processo crônico, progressivo e sistêmico, caracterizado por resposta inflamatória e fibroproliferativa da parede arterial, causada por agressões da superfície arterial. Como processo sistêmico, frequentemente, acomete todos os leitos arteriais incluindo a aorta e seus ramos principais: carótidas, renais, ilíacas e femorais. A hipercolesterolemia, a hipertensão arterial (HA), o diabetes, o tabagismo, as reações imunológicas e inflamatórias, e a susceptibilidade genética individual figuram entre os fatores de risco para lesão arterial. .As alterações vasculares coronárias presentes na aterosclerose derivam de três componentes fundamentais: disfunção endotelial, que se instala precocemente, com alteração da reatividade do vaso, causando vasoconstrição paradoxal, após estímulos com a acetilcolina, e exacerbação da reatividade à epinefrina e angiotensina; a disfunção endotelial, também, induz à perda das propriedades antitrombóticas naturais e da permeabilidade seletiva do endotélio; obstrução da luz do vaso pela placa aterosclerótica e complicação trombótica no local da lesão. Todos são capazes de causar IC, mas frequentemente ocorrem ao mesmo tempo. Referências: Protásio Lemos da Luz, Desidério Favarato. Doença Coronariana Crônica. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/abc/1999/7201/72 010002.pdf. Acesso em: 17 de nov de 2020. 3. Principais doenças cardiovasculares que acometem idosos e sua epidemiologia: A vulnerabilidade imposta pelo envelhecimento é social , biológica e psicológica. O envelhecimento é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares pelas próprias alterações anátomo-funcionais. O enrijecimento arterial é um processo próprio do envelhecimento, decorrente do desgaste imposto ao longo dos anos levando à ruptura das fibras de elastina na parede das artérias e sua substituição por colágeno menos distensíveis, resultando na redução da complacência arterial e aumento da velocidade de propagação das ondas de pressão que por sua vez resulta no retorno mais precoce das ondas refletidas da periferia à raiz da aorta. Esse retorno precoce, ainda durante a sístole, leva a amplificação da PAS (pressão arterial sistólica), responsável pelo aparecimento de HAS (hipertensão arterial sistólica) , hipertrofia ventricular(HVE) e aumento atrial. Consequentemente, o coração do idoso tem comprometimento da adaptação às situações de sobrecarga. A HVE associada a alterações no fluxo celular do cálcio provoca uma alteração na função diastólica e aumenta a importância da contração atrial para o enchimento ventricular. As modificações que ocorrem no endotélio do idoso contribuem para o surgimento de doença aterosclerótica. A vasodilatação dependente do endotélio diminui progressivamente com a idade e tem influência para o desenvolvimento de DCV (doença cardiovascular). O principal mecanismo parece ser a redução da disponibilidade do NO. A lesão endotelial é cumulativa e dá origem a maior número de placas ateroscleróticas, caracterizando um http://publicacoes.cardiol.br/abc/1999/7201/72010002.pdf http://publicacoes.cardiol.br/abc/1999/7201/72010002.pdf Cilene Roque Sistema Cardiovascular comprometimento mais difuso. Essas placas têm um menor conteúdo lipídico e capa fibrosa mais calcificada o que diminui o risco de ruptura, porém o maior número de placas eleva a probabilidade de eventos coronários O envelhecimento também leva à modificações autonômicas. Existe com o aumento da idade, uma progressiva dessensibilização dos receptores beta adrenérgicos. Há uma diminuição da resposta vasodilatadora, que contribui para o aumento da pós-carga, e uma diminuição da resposta cronotrópica e inotrópica. Desse modo, aumenta a dependência do mecanismo de Frank – Starling para o aumento do débito cardíaco em situações de maior necessidade. Embora em repouso, o débito cardíaco mantenha-se normal no pico do exercício, a frequência cardíaca máxima é menor que nos mais jovens , sendo um dos fatores de redução da capacidade física do idoso. A variabilidade da frequência cardíaca que constitui um marcador da influência do sistema autonômico encontra-se diminuída nos idosos e está associada a maior morbidade e mortalidade. Com a idade, ocorrem modificações no metabolismo das lipoproteínas devido a mudanças no metabolismo hepático, com diminuição dos receptores de LDL nos hepatócitos, diminuição na síntese de ácidos biliares, retardo na depuração das lipoproteínas,diminuição da absorção intestinal do colesterol, modificações no tamanho do colesterol HDL e alterações hormonais. Em mulheres na pós-menopausa ocorre um aumento do LDL, apresentando-se com níveis mais elevados em comparação com os homens. Em geral, os valores do HDL colesterol permanecem estáveis, mas estudos prospectivos mostram diminuição em ambos os sexos. O estilo de vida e o próprio tempo promovem uma verdadeira conspiração que aumenta a vulnerabilidade. De fato, os fatores clássicos de risco são muito prevalentes e têm papel bem definido em idosos. Estudos que analisaram mais de 500 mil indivíduos mostraram que 80 a 90% dos participantes que desenvolveram doença arterial coronariana significativa tinham pelo menos um dos quatro fatores de risco clássicos: hipercolesterolemia, hipertensão arterial (HA), diabetes melito (DM) e tabagismo. As obstruções ateroscleróticas nos idosos são mais frequentes e difusas. Estudos de necropsias identificaram presença de DAC (doença arterial coronariana), em cerca de 90% de idosos octogenários, sendo que apenas 30 a 40% desenvolveram manifestações clínicas da doença. O Cardiovascular Helth Study, um estudo observacional de mais de 6.000 indivíduos com mais de 65 anos em cinco comunidades americanas, demonstrou que apenas 20% da população era isenta de doença aterosclerótica . Referências: MAURÍCIO WAJNGARTEN. O coração no idoso. Disponível em: https://cardios.com.br/arquivos_dados/foto_alta/fot o-noticia-id-69-f1.pdf. Acesso em: 17 de nov de 2020. 4. Fatores de risco para doenças cardiovasculares: a. HIPERTENSÃO: Complicações: AVC, IAM, Insuficiência renal, aterosclerose e retinopatia hipertensiva; b. Diabetes: Complicações: AVC e IAM; c. Dislipidemia: Complicações: doença aterosclerótica; d. Tabagismo: Complicações: O cigarro é um dos principais fatores de risco para desenvolvermos infarto agudo do miocárdio, angina de peito e acidente vascular cerebral. O uso continuado de tabaco faz o corpo ter uma propensão maior a formar coágulos que podem entupir nossas artérias. https://cardios.com.br/arquivos_dados/foto_alta/foto-noticia-id-69-f1.pdf https://cardios.com.br/arquivos_dados/foto_alta/foto-noticia-id-69-f1.pdf Cilene Roque Sistema Cardiovascular e. Alimentação inadequada e Sedentarismo; f. Consumo excessivo de bebidas alcoólicas; g. Fatores psicossociais (ansiedade, depressão, raiva, stress…) Complicações: O stress desencadeia algumas reações fisiológicas no corpo humano, através da estimulação da liberação de substâncias que afetam o sistema cardiovascular. Interfere na imunidade gerando um desequilíbrio interno no organismo, facilitando o aparecimento de diversas doenças como as dermatológicas, gastrointestinais, processos inflamatórios e infec- ciosos, doenças autoimunes e, particularmente, as cardiovasculares (doença arterial coronariana, hipertensão, arritmias, insuficiência cardíaca e morte súbita). Referências: Entendendo as doenças cardiovasculares [recurso eletrônico] / coordenação, Newton Barros ; organizadores, Salvador Ramos ... [et al.]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. 5. Principais sintomas das doenças cardiovasculares e como preveni-las (impactos dos hábitos de vida): SINTOMAS: Os sintomas mais comuns de ataque cardíaco são chamados de “avisos do coração”. O paciente que está apresentando um infarto agudo do miocárdio geralmente apresenta dor no peito retroesternal (atrás dos ossos do peito) com irradiação para a mandíbula e braço esquerdo, associada às náuseas e vômitos. Os pacientes com diabetes podem ter infarto sem dor torácica, o que torna muitas vezes mais difícil o reconhecimento desses avisos. PREVENÇÃO: a. Exercício Físico: O exercício físico realizado de forma regular e seguindo critérios adequados de intensidade e duração melhora a capacidade de contração cardíaca e a distribuição sanguínea para músculos e órgãos. Além disso, diminui a sobrecarga cardíaca por conta do aumento de trocas gasosas na periferia (como a captação de oxigênio mais eficiente nos músculos, diminuindo o trabalho do coração), e diminui também a frequência cardíaca (FC) de repouso. A resposta ao exercício físico torna-se mais eficiente com um aumento mais demorado da FC do que quando a pessoa estava destreinada, ocasionando um prolongamento do exercício físico e o cansaço mais tardio. A pressão arterial pode ter melhor estabilidade e controle pela diminuição da sobrecarga cardíaca e pelo efeito vasodilatador (dilatação dos vasos sanguíneos, o que reduz a pressão arterial) do exercício físico. Esses efeitos refletem-se num melhor funcionamento do tecido – endotélio – que recobre os vasos com melhor fluxo sanguíneo e liberação de substâncias que auxiliam na proteção do sistema cardiovascular. Além disso, atua no metabolismo das gorduras, reduzindo o colesterol e os triglicerídeos, podendo melhorar o HDL colesterol (que é protetor e benéfico) e, por fim, pode equilibrar e controlar os níveis de glicose sanguínea. b. Prevenção da hipertensão: Manter o peso corporal e hábitos alimentares adequados, reduzir o sal da dieta utilizando Cilene Roque Sistema Cardiovascular temperos que acrescentam sabor aos alimentos, realizar atividades físicas regularmente, estabelecer momentos de lazer, abandonar o fumo, aumentar a ingestão de ve- getais em geral, reduzir o consumo de álcool e de gordura na dieta. c. Alimentação: Em relação às doenças cardiovasculares, existem alguns alimentos que podem auxiliar na redução dos fatores de risco cardiovascular. Um exemplo disso são as fibras, que são classificadas em solúveis e insolúveis. As fontes de fibras solúveis são: a aveia, as partes internas das frutas, a cevada e as leguminosas (feijão, grão de bico, lentilha e ervilha). Essas fibras, principalmente a aveia, reduzem a absorção do colesterol pelo corpo e podem diminuir moderadamente o colesterol. Já as fibras insolúveis, presentes nas cascas de frutas, farelo de trigo, grãos e hortaliças, não atuam sobre o colesterol, mas aumentam a saciedade, auxiliando na redução da ingestão calórica. A recomendação da ingestão de fibra alimentar total para adultos é de 20 a 30 g/dia, 5 a 10 g destas devendo ser solúveis, como medida adicional para a redução do colesterol. Outro exemplo são os fitosteróis, que são substâncias encontradas nos vegetais e que competem com a absorção do colesterol no intestino. Uma dieta balanceada com quantidades adequadas de vegetais fornece aproximadamente 200 a 400 mg de fitosteróis, no entanto, é necessária a ingestão de 2 g/dia de fitosteróis para a redução média de 10% a 15% do LDL colesterol. Os fitosteróis não influenciam os níveis plasmáticos de HDL colesterol e de triglicerídeos. A proteína de soja, cuja ingestão de 25 g/dia pode reduzir até 6% do LDL colesterol, pode ser considerada como auxiliar no tratamento da hipercolesterolemia. As principais fontes de soja na alimentação são o feijão de soja, o óleo de soja, o queijo de soja (tofu), o molho de soja (shoyo), a farinha de soja, o leite de soja e o concentrado proteico da soja. Os flavonoides, entre os antioxidantes presentes na dieta, também estão envolvidos na prevenção do risco de doença arterial coronariana e são encontrados em verduras, frutas (cereja, amora, uva, morango, jabuticaba), grãos, sementes, castanhas, condimentos e ervas. Referências: Entendendo as doenças cardiovasculares [recurso eletrônico] / coordenação, Newton Barros ; organizadores, Salvador Ramos ... [et al.]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. 6. Importância dos exames de imagem (EEG e ECO) para o reconhecimento das alterações cardiovasculares bem como o diagnóstico: Em termos de diagnóstico por imagem das doenças cardíacas, há pouco mais de três décadas, o único método não-invasivo disponível era a radiologia convencional, que empregava radiografias em três ou quatro posições para uma avaliação morfológica bidimensional do coração, dos grandes vasos, dos pulmões e da vascularização pulmonar. É uma situação bem diferente da que temos hoje, apóso desenvolvimento de métodos de estudo, inicialmente também limitados a avaliações morfológicas em duas dimensões, porém com maior resolução de contraste, como a ultra-sonografia, a tomografia computadorizada e, posteriormente, a ressonância magnética, que evoluíram de tal modo a permitir não só estudos anatômicos tridimensionais, mas também apreciações funcionais e análises tissulares, como a viabilidade do miocárdio pós-infarto. Nesse aspecto, deve-se destacar o papel da Medicina Nuclear. Radiologia convencional O exame radiológico convencional do tórax tem baixo custo, grande disponibilidade, não é invasivo, é de fácil realização e reprodução. Por isso ainda é utilizado no atendimento inicial do paciente com doença cardiovascular, no seu acompanhamento e nas unidades de terapia intensiva. Nas radiografias simples do tórax, em Cilene Roque Sistema Cardiovascular projeções frontal e lateral, o coração e os grandes vasos são representados por imagem de densidade homogênea, de contornos bem definidos, não sendo possível o reconhecimento de estruturas intracardíacas, exceto quando calcificadas. Entretanto, é possível a avaliação das dimensões do coração e, pela análise de seus contornos, o reconhecimento de aumentos seletivos de câmaras cardíacas ou alterações anatômicas nas grandes artérias e veias. O átrio direito é representado pelos contornos cardíacos inferior direito, na radiografia em frontal, e anterior e superior, na lateral, e, quando aumentados, esses arcos passam a ter maior convexidade lateral na radiografia em projeção frontal e a ocupar uma extensão maior da silhueta cárdio-mediastinal anterior na lateral. O átrio esquerdo, por ser uma estrutura posterior e mediana, não participa dos contornos cardíacos quando normal na projeção frontal. Na radiografia em perfil, forma a parte mais alta do contorno posterior do coração. Seu aumento manifesta-se progressivamente pelos seguintes sinais: alargamento do ângulo da carina e elevação do brônquio do pulmão esquerdo, duplo contor-no à direita na silhueta cardiovascular em frontal, compressão esofágica no sentido ântero-posterior no perfil, desdobramento do arco médio, sendo que a porção in- ferior desse arco corresponde à projeção do apêndice atrial. O ventrículo direito também não participa dos contornos da sombra cardíaca em frontal quando normal e, no perfil, forma o seu contorno anterior e inferior. Quando aumentado, leva a uma rotação do coração de modo que, em frontal, se observa a elevação da sua ponta e um abaulamento do arco médio. Em perfil, o contorno anterior da silhueta cardíaca se aproxima da parede torácica anterior. O ventrículo esquerdo corresponde ao arco inferior esquerdo, em frontal, e ao arco inferior e posterior, em perfil. Seu aumento acentua a convexidade e altura do arco póstero-inferior, e aumenta sua impressão sobre o esôfago contrastado no perfil, e o arco cardíaco inferior esquerdo em frontal. Ainda na projeção lateral, outro sinal de aumento do ventrículo esquerdo é a ultrapassagem da veia cava inferior pelo contorno póstero-inferior do coração em um ponto 2 cm acima da sua intersecção com o diafragma, em mais de 1,8 cm (sinal de Hoffman-Rigler). Há uma acentuação na concavidade do arco médio, que representa a via de saída do ventrículo direito e tem sua forma normal muito variável, podendo ser côncava, reta ou mesmo abaulada. Normalmente, a única porção visível da aorta é o arco que se projeta como convexidade discreta na porção mais alta da silhueta cardiovascular à esquerda e, quando alongada e/ou dilatada, torna-se mais evidente. Se o alongamento for só da porção ascendente, sua convexidade aparece na projeção frontal acima do arco do átrio direito. A veia cava superior compõe o limite lateral direito superior da imagem cárdio-mediastinal, como estrutura reta, que se perde no nível da clavícula. Quando dilatada projeta-se mais lateralmente. Eventualmente, pode se tornar mais evidente quando deslocada lateralmente pela aorta alongada e/ou dilatada. Um dos pontos importantes na análise das radiografias simples do tórax é a avaliação da vascularização pulmonar. A artéria pulmonar direita, por estar mergulhada na densidade do mediastino, é invisível nas radiografias em projeção frontal, porém pode ser identificada na lateral como uma opacidade ovalada anterior à traquéia. A artéria pulmonar esquerda pode ser vista no hilo em frontal. Na radiografia de tórax em posição ortostática, os vasos nos lobos superiores aparecem menores que os dos inferiores em mais de 60% das pessoas normais. Nas radiografias obtidas em decúbito dorsal, esse gradiente de perfusão deixa de existir, passando, na verdade, a ter uma orientação da frente para trás, e os vasos dos campos pulmonares superiores passam a ter calibre semelhante àqueles dos campos inferiores. Nos casos de aumento do fluxo sanguíneo pulmonar, há um aumento no calibre das artérias e, ao contrário, na redução do fluxo sanguíneo aos pulmões, há uma diminuição difusa do calibre dos vasos. Quando há um aumento na resistência ao fluxo além dos capilares pulmonares, a pressão aumenta nas veias produzindo a hipertensão venosa pulmonar ou pós-capilar. Com o aumento da pressão média no átrio esquerdo, há, inicialmente, uma inversão no padrão normal da vascularização Cilene Roque Sistema Cardiovascular pulmonar, com aumento de calibre e evidência dos vasos dos campos pulmonares superiores. Com aumentos progressivos nos níveis pressóricos, há um aumento do líquido no espaço intersticial e aumento da drenagem linfática, com hilos pulmonares aumentados, como consequência do aumento do calibre dos vasos, e com borramento dos seus contornos. Nessa fase, surge, ainda, o espessamento pleural, devido ao edema subpleural, e a última manifestação do edema intersticial, talvez a mais evidente, é o aparecimento do espessamento dos septos interlobulares, que se manifestam mais freqüentemente como imagens lineares, perpendiculares à superfície pleural, periféricas, nas bases, junto aos seios costo-frênicos, com cerca de 2 a 3 cm de comprimento. Sem a correção do aumento das pressões à esquerda, o quadro progride para edema alveolar, cuja imagem característica são as opacidades irregulares de contornos imprecisos, confluentes, com distribuição predominante nas regiões centrais, poupando a periferia, dando o aspecto clássico de “asa de borboleta”. Na hipertensão arterial pulmonar, ou pré-capilar, há uma desproporção no tamanho das artérias centrais, representadas por hilos muito grandes, e no dos ramos periféricos, muito pequenos. Tomografia computadorizada Nas coronariopatias estima-se que ocorram mais de 20 milhões de casos de síndromes coronárias agudas por ano no mundo. Apesar da criação de escores de risco clínicos (Framing- ham, PROCAM etc) e de toda a propedêutica armada desenvolvida para detecção da doença arterial coronária (DAC), como teste ergométrico, cintilografia miocárdi- ca, ecocardiograma e coronariografia invasiva, a morte súbita é primeira e última manifestação clínica de DAC em mais de 50% das vítimas dessa doença1. Por outro lado, mesmo após a sistematização da indicação da coronariografia invasiva pelas diretrizes internacionais, de cada quatro pacientes que realizam o exame nos Estados Unidos, um é normal. Assim, apesar de todos os avanços e conhecimentos adquiridos sobre a DAC nas últimas décadas, a estratificação de risco na população ainda é imprecisa. Nesse sentido, múltiplos novos fatores de risco bioquímicos e genéticos têm sido identificados, e métodos diagnósticos não-invasivos têm sido desenvolvidos na tentativa de melhorar a sensibilidade e especificidade no diagnóstico precoce da doença. Escore de cálcio Grandes avanços nos últimos anos permitiram à tomografia computadorizada quantificar o cálcio coronariano de forma confiável e reprodutível. Tendo em vista que a calcificação coronária aumen- ta com a idade, é mais prevalente no sexo masculino e varia de acordo com fatores étnicos e ambientais2, foram criados escores de cálciopara melhor estratificação dos pacientes. Apesar de não ser o mais preciso, o escore de Agats- ton é o mais estudado e utilizado mundialmente. Ele estabelece 5 faixas de risco de DAC: escore zero – risco muito baixo; escore 1-10 – risco baixo; escore 11-100 – risco moderado; escore 101-400 – risco alto; escore ≥ 401 – risco muito alto. Outra forma de estratificação de risco é a divisão por percentis – pacientes acima do per- centil 75 são considerados de alto risco. Estudos anatomopatológicos estabeleceram que a presença de calcificação coronária está fortemente associada à DAC. A carga de cálcio é preditora independente de risco de eventos cardíacos e, se somada ao escore de risco de Framingham, melhora a avaliação de risco nas populações de riscos baixo, intermediário e alto. No entanto, a presença e carga de cálcio coronariano não se correlacionam com o achado de lesões obstrutivas nem com seu grau de redução luminal à co- ronariografia invasiva. Além disso, 6% dos pacientes sem calcificação coronária apresentam placas de aterosclerose à angiotomografia de artérias coronárias. Finalmente, a I Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia estabeleceu a quantificação do escore de cálcio em pacientes assintomáticos com risco intermediário de eventos (10-20% em 10 anos) pelos critérios de Framingham como classe I. A quantificação nos pacientes assintomáticos com história familiar de DAC precoce foi definida como classe IIa6. Cilene Roque Sistema Cardiovascular Referências: Clínica médica, volume 2: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, emergências e terapia intensiva. – Barueri, SP: Manole, 2009. – (Clínica médica). 7. Cateterismo e o implante do “Stent”: A cineangiocoronariografia (cateterismo cardíaco) é um procedimento invasivo, geralmente realizado com o objetivo de obter informações anatômicas e funcionais do coração e de suas artérias (artérias coronárias) e valvas. Este exame permite diagnosticar diversas doenças cardíacas e avaliar a sua repercussão. Mais comumente, o cateterismo cardíaco é realizado para avaliar as artérias coronárias, identificando e quantificando obstruções responsáveis por quadros de “angina” e de infarto do miocárdio. A avaliação do resultado de tratamentos por angioplastia ou cirurgia cardíaca também é comumente realizada através deste exame. Este exame é, em geral, realizado apenas com anestesia local, por dissecção da artéria do braço (braquial) ou punção das artérias radial (braço) ou femoral (virilha). Em situações específicas, pode ser necessário utilizar, além da artéria, uma veia, que permite estudar adequadamente o lado direito do coração e/ou as artérias pulmonares. A via de acesso femoral é a mais frequentemente utilizada. O paciente permanece desperto durante o procedimento. Em situações específicas e em pacientes pediátricos, pode ser necessário o uso de anestesia geral. Após a anestesia, cateteres são introduzidos no sistema cardiovascular do paciente, de forma totalmente indolor. Estes cateteres podem ser utilizados para medir pressões, colher amostras de sangue para avaliar o grau de oxigenação sanguínea e injetar contraste iodado. As injeções de contraste permitem visualizar o coração e suas artérias por meio de equipamentos sofisticados que emitem raios-X. O contraste pode causar alguma sensação de calor no corpo, que desaparece rapidamente. Todo o exame é filmado e as imagens arquivadas em CD. Após o exame, os cateteres são retirados. Quando se utiliza a técnica braquial, existe necessidade de suturar a artéria e a pele. Para as técnicas femoral e radial, faz-se apenas compressão no local da punção. Em casos selecionados e de acordo com a indicação clínica, pode-se realizar algum procedimento diagnóstico (ultra-som intracoronariano ou guia de pressão) ou terapêutico (ex: angioplastia coronariana) adicional, imediatamente após o cateterismo. Um stent é uma prótese metálica em forma de tubo inserida nas artérias coronárias para evitar sua obstrução. A colocação geralmente é feita através de uma angioplastia, procedimento cirúrgico que tem o objetivo de desbloquear as artérias. Ela é realizada quando depósitos de gordura, chamados de placas de ateroma, se acumulam no interior de uma artéria coronária, reduzindo assim a passagem de sangue para o coração. A angioplastia é feita através de uma pequena incisão na coxa para acessar a artéria femoral. Em seguida, um fio-guia é inserido e conduzido até o local da obstrução e um cateter preso a um pequeno balão vazio é introduzido através dele. Quando inflado, o balão comprime a placa contra a parede arterial alargando a artéria. Dessa forma, o sangue pode circular normalmente. O stent é colocado ao redor do cateter e quando o balão é inflado, ele se desloca e adere à parede. Em seguida, o stent permanece no local, impedindo uma nova obstrução da artéria coronária. A colocação de um stent apresenta, no entanto, alguns inconvenientes. Ela requer um tratamento à base de antiagregantes plaquetários, composto Cilene Roque Sistema Cardiovascular de aspirina e clopidogrel, durante alguns meses. O objetivo é evitar a formação de um trombo (coágulo de sangue) na artéria. Referências: Hospital Israelita Albert Einstein. Cardiologia Intervencionista Informativo do Procedimento. Disponível em: https://medicalsuite.einstein.br/Servicos/Consentim entosInformados/Informativo_Cineangiocoronariogr afia_portugues.pdf. Acesso em: 17 de nov de 2020. GENTSIDE. Stent: quais são os tipos e como é feita a colocação da prótese? O que é stent?. Disponível em: https://www.gentside.com.br/saude/stent-quais-sao -os-tipos-e-como-e-feita-a-colocacao-da-protese-o- que-e-stent_art6668.html. Acesso em: 17 de nov de 2020. https://medicalsuite.einstein.br/Servicos/ConsentimentosInformados/Informativo_Cineangiocoronariografia_portugues.pdf https://medicalsuite.einstein.br/Servicos/ConsentimentosInformados/Informativo_Cineangiocoronariografia_portugues.pdf https://medicalsuite.einstein.br/Servicos/ConsentimentosInformados/Informativo_Cineangiocoronariografia_portugues.pdf https://www.gentside.com.br/saude/stent-quais-sao-os-tipos-e-como-e-feita-a-colocacao-da-protese-o-que-e-stent_art6668.html https://www.gentside.com.br/saude/stent-quais-sao-os-tipos-e-como-e-feita-a-colocacao-da-protese-o-que-e-stent_art6668.html https://www.gentside.com.br/saude/stent-quais-sao-os-tipos-e-como-e-feita-a-colocacao-da-protese-o-que-e-stent_art6668.html
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