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UMA ESCOLA PARA TODOS VALORIZANDO A DIVERSIDADE 4 DELINEAMENTO METODOLÓGICO 5 ASPECTOS HISTÓRICOS, LEGAIS E CONCEITUAIS DA INCLUSÃO 9 ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS DIFERENÇAS? 10 A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA 12 A PEDAGOGIA DA NEGAÇÃO 13 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 16 A AVALIAÇÃO NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 16 A AVALIAÇÃO NA SALA DE AULA 20 A AVALIAÇÃO NA FAMÍLIA 21 O ACOMPANHAMENTO 21 O ACOMPANHAMENTO NA SALA DE AULA 25 UMA ESCOLA PARA TODOS VALORIZANDO A DIVERSIDADE 26 O OLHAR DO PROFESSOR FRENTE À EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA:DELINEAMENTO METODOLÓGICO 32 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E CURRÍCULO 36 Inclusão na Educação infantil: Dialogando sobre formação de professores 40 Inclusão e qualidade na educação 42 A Tecnologia Assistiva 51 Os Produtos de Tecnologia Assistiva 58 Formação de professores para uma Educação Inclusiva mediada pelas tecnologias 62 Tecnologias, exclusão e limites 64 Orientações da LDB 9394/96 para se tratar da Educação Especial 69 Construção de ambientes digitais de aprendizagem: contribuições para a formação do professor 74 Objetos com abordagens pedagógicas diferenciadas. 76 Objetos Auto-configuráveis 78 Portais de Conteúdo – “O Portal do Professor”: Um Exemplo Brasileiro 81 INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 83 UTILIZANDO UMA TECNOLOGIA ASSISTIVA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL 85 INFORMÁTICA NA INCLUSÃO 95 DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 95 A INFORMÁTICA E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 97 Grupos mais afetados pela exclusão social 101 CONCLUSÕES 102 Referências 103 UMA ESCOLA PARA TODOS VALORIZANDO A DIVERSIDADE Todos são iguais na diferença Na medida em que algumas pessoas pensam e refletem sobre esta nova forma de educação inspirada nas práticas inclusivas, podem surgir dúvidas a respeito de como a escola pode aceitar todas as pessoas. Será que uma criança deficiente conseguirá acompanhar o desenvolvimento de seus colegas? Será que todos conseguirão aprender da mesma forma? Esta criança não ficaria melhor em uma escola especial? Sua presença pode atrapalhar o andamento da sala? Este tipo de questionamento é muito comum por pessoas que ainda não compreenderam o verdadeiro papel da educação inclusiva. Com ideais advindos de uma cultura excludente por tantos anos, algumas pessoas ainda têm preconceitos e certa resistência a esta forma de educar na diversidade. Cabe lembrar que todos os indivíduos são diferentes entre si. Cada um vivencia experiências únicas, interage com o meio social de forma peculiar, recebe um tipo de educação e cultura de acordo com o meio onde vive, tem um tipo diferente de inteligência. É pela riqueza de diferenças que são seres humanos históricos e sociais, capazes de fazer uso de suas melhores inteligências tanto na sala de aula quanto fora dela, enfim, capazes de mudar o mundo e transformarem a sociedade. DELINEAMENTO METODOLÓGICO Metodologia Como já especificado anteriormente, foi realizada uma pesquisa de campo com professores atuantes nas escolas públicas de Lins em classes regulares e apresentados os problemas que a direcionaram, sua justificativa, relevância e objetivos. Neste capítulo é relatado o delineamento metodológico elaborado, considerando-se a caracterização do tipo de estudo em que se constitui essa pesquisa, os cuidados com a opção metodológica adotada, as etapas na construção da pesquisa e os procedimentos e técnicas utilizados durante seu desenvolvimento para a coleta, seleção e análise dos dados. Esta pesquisa busca o conhecimento das concepções dos professores que estão atuando nas classes de ensino regular frente à realidade da educação inclusiva com a qual estão se deparando atualmente e quais as práticas pedagógicas que os professores acreditam ser favoráveis à educação inclusiva, procurando relacionar dimensões como meio social, formação escolar e profissional dos sujeitos da pesquisa. Em 20 de dezembro de 1996 entrou em vigor no Brasil, a Lei 9394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A partir daí pela primeira vez na história do nosso país, a Educação Infantil passou a ser vista como básica, ressaltando-se a importância para o sistema escolar. O brincar, jogos e brincadeiras passam a ser vistos como recursos necessários na construção da identidade, autonomia, e diferentes linguagens das crianças na educação infantil e nas séries iniciais. O profissional da Educação Infantil vem ao longo da história da educação no Brasil passando por diferentes exigências, isto inclui o que se espera do educador e o papel do professor frente a formação da criança. Essa perspectiva foi se transformando ao longo dos anos, como pode-se verificar ao analisar o processo histórico da Educação Infantil. Buscou-se demonstrar a importância da formação do professor de educação infantil com relação a educação inclusiva. Neste sentido, o quadro teórico visa revelar como a Educação Infantil, em particular a oferecida às crianças das classes sociais menos favorecidas economicamente, desde o seu início, é norteada por um atendimento assistencialista, mostrando que mesmo após o reconhecimento desse segmento de ensino pela legislação brasileira e a sua inserção nas políticas públicas de Educação Básica, o atendimento a criança pequena deixa a desejar em muitos aspectos, em particular, ao que se refere à formação dos seus profissionais. A criança aprende nas práticas sociais, nas brincadeiras, na higiene, nos movimentos, no repouso, enfim, em todas as atividades por ela praticadas, sendo que o professor precisa entender e romper com as concepções polarizadoras, cabendo aqui a interdisciplinaridade. Outro ponto importante é que quando pequenas, as crianças aprendem na escola ações muito semelhantes àquelas que vivenciam na família, porém no estabelecimento educacional, esta experiência está vinculada aos desafios da vida coletiva numa cultura diversificada e também as exigências de um projeto político pedagógico sistematizado. O papel do professor mudou: de um transmissor de informação, ele passou a ser um facilitador de processo de aquisição do conhecimento. Cada país tem sua história, uma cultura e uma tradição educacional própria que condicionam a incidência das mudanças e a resposta a elas no sistema educacional. Ao mesmo tempo, porém há modos diferentes de compreender o significado da educação e de possíveis soluções alternativas diante dos problemas. É possível falar de ideologias em educação ao fazer referência ao conjunto de crenças e valores que sustentam uma determinada visão sobre as funções da educação, educador e educando e suas relações com o conjunto da sociedade. Os valores e atitudes dos cidadãos diante das estratégias inclusivas são também fatores importantes no processo de transformação da educação. Sendo esse processo destinado ao aluno, deve existir uma articulação dinâmica entre escola e comunidade. “Todos nós no serviço educativo, devemos procurar erradicar a utilização de todas as formas de rotulação, incluindo as de necessidades especiais, que agora está na moda, reconhecendo que são essencialmente discriminatórias. Em seu lugar devemos encontrar vias de reconhecimentoda individualidade de cada aluno, de que todas as crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e de que todos podem ter êxito”. A Educação Infantil mesmo com mais de um século de história relacionada com o cuidado e com a educação só foi reconhecida a pouco tempo como parte da educação básica e promoveu várias mudanças como já citamos anteriormente, porém ainda temos muitos problemas como espaços físicos adequados, materiais pedagógicos suficientes, formação de professores competentes e tudo isso precisa sim de investimentos e que tais investimentos podem ser realizado com aplicação de fundos apropriados e políticas públicas vigentes e operacionalizadas com a participação de todos os envolvidos. As crianças que passam pelo atendimento em creche ou pré-escola tem um desenvolvimento maior tanto intelectual quanto social e isso acaba resultando em uma economia para o país já que essas crianças dificilmente são reprovadas ou apresentam fracassos no decorrer do ensino fundamental. Já por outro lado, quando ocorre problemas nessa fase relacionada com a Educação Infantil podem os problemas se estender ao decorrer da vida e ocasionar sérios problemas chegando até mesmo a comprometer o desenvolvimento da criança. Mas para que ocorram resultados positivos é necessário professores capacitados e bem preparados. A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixação de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para freqüentar as escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. O poder institucional que preside a produção das identidades e das diferenças define como normais e especiais não apenas os alunos, como também as suas escolas. Os alunos das escolas comuns são normais e positivamente valorados. Os alunos das escolas especiais são os negativamente concebidos e diferenciados. Os sistemas educacionais constituídos a partir da oposição - alunos normais e alunos especiais - sentem-se abalados com a proposta inclusiva de educação, pois não só criaram espaços educacionais distintos para seus alunos, a partir de uma identidade específica, como também esses espaços estão organizados pedagogicamente para manter tal separação, definindo as atribuições de seus professores, currículos, programas, avaliações e promoções dos que fazem parte de cada um desses espaços. Os que têm o poder de dividir são os que classificam, formam conjuntos, escolhem os atributos que definem os alunos e demarcam os espaços, decidem quem fica e quem sai destes, quem é incluído ou excluído dos agrupamentos escolares. Ambientes escolares inclusivos são fundamentados em uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações entre ambas não se ordenam em torno de oposições binárias (normal/especial, branco/negro, masculino/feminino, pobre/rico). Neles não se elege uma identidade como norma privilegiada em relação às demais. Em ambientes escolares excludentes, a identidade normal é tida sempre como natural, generalizada e positiva em relação às demais, e sua definição provém do processo pelo qual o poder se manifesta na escola, elegendo uma identidade específica através da qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Esse poder que define a identidade normal, detido por professores e gestores mais próximos ou mais distantes das escolas, perde a sua força diante dos princípios educacionais inclusivos, nos quais a identidade não é entendida como natural, estável, permanente, acabada, homogênea, generalizada, universal. Na perspectiva da inclusão escolar, as identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e, portanto, os alunos não são categorizáveis, não podem ser reunidos e fixados em categorias, grupos, conjuntos, que se definem por certas características arbitrariamente escolhidas. É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identidades que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos especiais, com necessidades educacionais especiais, portadores de deficiências, com problemas de aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos demais, como igualmente determina alguns privilegiados. A educação inclusiva questiona a artificialidade das identidades normais e entende as diferenças como resultantes da multiplicidade, e não da diversidade, como comumente se proclama. Trata-se de uma educação que garante o direito à diferença e não à diversidade, pois assegurar o direito à diversidade é continuar na mesma, ou seja, é seguir reafirmando o idêntico.De fato, a diversidade na escola comporta a criação de grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma mesma característica, selecionada para reuni-los e separá-los. Ao nos referirmos a uma escola inclusiva como aberta à diversidade, ratificamos o que queremos extinguir com a inclusão escolar, ou seja, eliminamos a possibilidade de agrupar alunos e de identificá-los por uma de suas características (por exemplo, a deficiência), valorizando alguns em detrimento de outros e mantendo escolas comuns e especiais. Atenção, pois ao denominarmos as propostas, programas e iniciativas de toda ordem direcionadas à inclusão, insistimos nesse aspecto, dado que somos nós mesmos quem atribuímos significado, pela escolha das palavras que utilizamos para expressá-lo. É por meio da representação que a diferença e a identidade passam a existir e temos, dessa forma, ao representar o poder de definir identidades, currículos e práticas escolares. Incluir, portanto, não significa homogeneizar, mas, ao contrário, dar espaço para a expressão das diferenças. Uma diferença que se mostra não como desigualdade, mas como afirmação contundente do princípio de que todos são iguais no universo dos direitos humanos, da liberdade de expressão, da sobrevivência com dignidade e das oportunidades. Este é o princípio sob o qual a escola deve guiar-se. Esta é a direção a ser apontada, buscada e desejada. Não se trata de uma questão secundária: todo o mais será uma conseqüência de como o sistema educacional lida com esta ideia. A água só moverá o moinho se o canal que a transporta estiver na direção correta. Mas, metáforas à parte, o grande desafio está em como implementar este princípio, pois não há grandes divergências quanto ao desejo de que o fazer pedagógico seja inclusivo. Pode até parecer um tanto óbvio, como se educação e inclusão fossem partes naturais de um único conjunto indissolúvel. ASPECTOS HISTÓRICOS, LEGAIS E CONCEITUAIS DA INCLUSÃO A escola reflete a sociedade e, tanto os professores como os alunos, trazem para dentro dela todas as suas contradições. Nosso modelo econômico capitalista é, por natureza, excludente e concentrador. A disputa pelo máximo lucro é a força principal que o move. E no Brasil, devido às suas características históricas peculiares, esta disputa assume uma dimensão quase grotesca: uma minoria abocanha a maior parte da renda e da propriedade,enquanto a grande maioria da população tem que sobreviver com uma renda salarial aviltante e um trabalho precarizado. A Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na área de necessidades educativas especiais alerta que “uma alta percentagem de deficiência constitui resultado direto da falta de informação, pobreza e baixos padrões de saúde. E os meios de comunicação, altamente oligopolizados e ideologizados, cuja propriedade pertence à classe social que se beneficia deste sistema, tratam de evitar qualquer discussão que denuncie este estado de coisas. O próprio sistema escolar é claramente apartado e desigual. De um lado, escolas privadas de altíssima qualidade acessíveis apenas para a elite, formam esta mesma elite para continuar reproduzindo a desigualdade. De outro, escolas públicas com nível muito inferior, precarizadas, com professores mal remunerados e que tratam muito mais para formar mão-de-obra para o mercado de trabalho do que cidadãos críticos e conscientes. Este é o universo no qual a escola está inserida. E as diferenças não são somente econômicas e de classe social. Elas se apresentam também de outras formas: diferenças físicas, de idade, socioculturais e níveis de aprendizagem. São muitos elementos e características, transitórios ou permanentes, a exigir políticas educacionais, saberes pedagógicos e currículos específicos e flexíveis. Nas últimas três décadas o Brasil tem sido palco de uma discussão teórica que se refletiu na aprovação de uma legislação voltada para a educação inclusiva, tendo como foco principal os alunos designados como aqueles com necessidades educacionais especiais. Destaca-se aqui a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, ambas afinadas tanto aos princípios da Constituição Brasileira de 1988, quanto a documentos internacionais como a Declaração de Jomtien sobre a Educação para Todos, de 1990 e a Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área de Necessidades Educativas Especiais, de 1994. ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS DIFERENÇAS? A educação inclusiva concebe a escola como um espaço de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo suas capacidades, expressam suas idéias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças. Nas escolas inclusivas, ninguém se conforma a padrões que identificam os alunos como especiais e normais, comuns. Todos se igualam pelas suas diferenças! A inclusão escolar impõe uma escola em que todos os alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas quais possam ser limitados em seu direito de participar ativamente do processo escolar, segundo suas capacidades, e sem que nenhuma delas possa ser motivo para uma diferenciação que os excluirá das suas turmas. Como garantir o direito à diferença nas escolas que ainda entendem que as diferenças estão apenas em alguns alunos, naqueles que são negativamente compreendidos e diagnosticados como problemas, doentes, indesejáveis e a maioria sem volta? O questionamento constante dos processos de diferenciação entre escolas e alunos, que decorre da oposição entre a identidade normal de alguns e especial de outros, é uma das garantias permanentes do direito à diferença. Os alvos desse questionamento devem recair diretamente sobre as práticas de ensino que as escolas adotam e que servem para excluir. Os encaminhamentos dos alunos às classes e escolas especiais, os currículos adaptados, o ensino diferenciado, a terminalidade específica dos níveis de ensino e outras soluções precisam ser indagados em suas razões de adoção, interrogados em seus benefícios, discutidos em seus fins, e eliminados por completo e com urgência. São essas medidas excludentes que criam a necessidade de existirem escolas para atender aos alunos que se igualam por uma falsa normalidade - as escolas comuns - e que instituem as escolas para os alunos que não cabem nesse grupo - as escolas especiais. Ambas são escolas dos diferentes, que não se alinham aos propósitos de uma escola para todos. Quando entendemos esses processos de diferenciação pela deficiência ou por outras características que elegemos para excluir, percebemos as discrepâncias que nos faziam defender as escolas dos diferentes como solução privilegiada para atender às necessidades dos alunos. Acordamos, então, para o sentido includente das escolas das diferenças. Essas escolas reúnem, em seus espaços educacionais, os alunos tais quais eles são: únicos, singulares, mutantes, compreendendo-os como pessoas que diferem umas das outras, que não conseguimos conter em conjuntos definidos por um único atributo, o qual elegemos para diferenciá-las. A escola, enquanto principal instituição de construção do conhecimento tem sido confrontada com o desafio de tornar-se “inclusiva”. Implícita está, portanto, a constatação de que ela ainda tem uma prática que exclui, aparta e discrimina. Falar em inclusão nos remete às discussões sobre o direito à igualdade e o direito à diferença. As sociedades são, por mais homogêneas que tentem aparentar, multiculturais em sua essência. Não há país ou grupo social no qual todos os indivíduos sejam ou hajam da mesma forma, ou que professam a mesma fé, ou tenham as mesmas aspirações. Tanto nas suas ações cotidianas em busca da sobrevivência, como nas interpretações simbólicas da existência, os seres humanos são absolutamente únicos. Um grupo se constrói por uma necessidade histórica de estar junto aos outros. O humano é gregário por natureza, o “ser social” tão aclamado. Mas o fato de estar inserido numa sociedade não significa abrir mão da individualidade. Ao contrário, só há sentido em estar num grupo na medida em que se preserva o espaço único de cada um de seus componentes. A necessidade de liberdade também é da natureza do humano. Ser livre para se apresentar em suas características mais particulares, em seu modo próprio de ver e pensar o mundo, com suas totalidades e limitações, dono e senhor de suas idiossincrasias. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA A escola das diferenças é a escola na perspectiva inclusiva, e sua pedagogia tem como mote questionar, colocar em dúvida, contrapor-se, discutir e reconstruir as práticas que, até então, têm mantido a exclusão por instituírem uma organização dos processos de ensino e de aprendizagem incontestáveis, impostos e firmados sobre a possibilidade de exclusão dos diferentes, à medida que estes são direcionados para ambientes educacionais à parte. A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola e da sala de aula. Para que essa escola possa se concretizar, é patente a necessidade de atualização e desenvolvimento de novos conceitos, assim como a redefiniçãoe a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e educacionais compatíveis com a inclusão. Um ensino para todos os alunos há que se distinguir pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo acontecer nas salas de aulas é uma tarefa a ser assumida por todos os que compõem um sistema educacional. Um ensino de qualidade provém de iniciativas que envolvem professores, gestores, especialistas, pais e alunos e outros profissionais que compõem uma rede educacional em torno de uma proposta que é comum a todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é construída por cada uma delas, segundo as suas peculiaridades. O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por excelência para melhor desenvolver o plano de trabalho eleito e definido por um coletivo escolar; ele reflete a singularidade do grupo que o produziu, suas escolhas e especificidades. Nas escolas inclusivas, a qualidade do ensino não se confunde com o que é ministrado nas escolas-padrão, consideradas como as que melhor conseguem expressar um ideal pedagógico inquestionável, medido e definido objetivamente e que se apresentam como modelo a ser seguido e aplicado em qualquer contexto escolar. As escolas-padrão cabem na mesma lógica que define as escolas dos diferentes, em que as iniciativas para melhorar o ensino continuam elegendo algumas escolas e valorando-as positivamente, em detrimento de outras. Cada escola é única e precisa ser, como os seus alunos, reconhecida e valorizada nas suas diferenças. Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de encontrar soluções próprias para os seus problemas. As mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico - PPP e vividas a partir de uma gestão escolar democrática. A PEDAGOGIA DA NEGAÇÃO Alguns professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas quando atuam junto aos alunos que apresentam deficiência intelectual. Ao invés de apelar para situações de aprendizagem que tenham raízes nas experiências vividas pelo aluno, atividades essas capazes de mobilizar seu raciocínio, propõem atividades baseadas na repetição e na memória. Frequentemente, essas atividades são desprovidas de sentido para os alunos. Esses professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas sob o pretexto de que os alunos os quais apresentam deficiência intelectual manifestam numerosas dificuldades nos processos de aprendizagem que eles agem pouco no mundo no qual evoluem e enfim, sob o pretexto de que os alunos antecipam o fracasso e não se apóiam sobre seus conhecimentos quando estão em situação de aprendizagem ou de resolução de problemas. Agindo desta maneira, tais professores se comportam como se não reconhecessem no aluno que apresenta deficiência intelectual um sujeito capaz de crescimento e de afirmação. Seu acompanhamento pedagógico parece respaldado por uma concepção de aluno que se apóia sobre a idéia de insuficiência ou de lacuna, mesmo de falta no que diz respeito ao raciocínio. Os professores não reconhecem nesse aluno capacidades cognitivas as quais convém mobilizar para favorecer a melhor interação com o meio onde ele vive. Consequentemente, eles negam um aspecto absolutamente fundamental do desenvolvimento humano, a saber, o intelectual. Em suma, eles se fecham em uma pedagogia da negação. Uma pedagogia que não reconhece o potencial dos alunos, sobretudo daqueles que apresentam deficiência intelectual e que, consequentemente, causa prejuízos para as suas aprendizagens e autodeterminação. A Pedagogia da negação encontra sua fonte na superproteção, que é um parente próximo da rejeição. A superproteção de um professor em relação a um aluno que apresenta deficiência intelectual pode se manifestar de várias maneiras. Por exemplo, quando o professor propõe frequentemente atividades que não provocam dificuldades verdadeiras para o aluno, com medo que ele perca a motivação para aprender ou com receio que ele não seja capaz de realizar a atividade. Quando aprova o trabalho do aluno sem que o aluno tenha demonstrado um esforço para a realização dele. Quando resolve o problema no lugar do aluno, logo que ele apresenta dificuldades. Quando o professor não desafia o aluno, provocando dúvida, contrapondo idéias. Quando o professor coloca na mochila do aluno o material necessário para os deveres e para as lições de casa ou quando resolve a tarefa para o aluno, ele está atuando sob o princípio da pedagogia da negação. É importante considerar que uma das grandes responsabilidades do professor de sala de aula, bem como do professor do AEE, consiste no desenvolvimento intelectual e da autonomia do seu aluno. O desenvolvimento intelectual do aluno com deficiência deve ser objeto de preocupação constante do professor. A inteligência deve ser estimulada e educada para que ele possa evoluir. E o aluno que apresenta deficiência intelectual não escapa à regra. Mesmo o aluno que apresenta uma necessidade de apoio importante ou intenso, pode tirar proveito de intervenções educativas destinadas a favorecer ou estimular o desenvolvimento de suas estruturas intelectuais. Os exemplos, neste sentido, são numerosos na literatura científica. Diante dessa realidade, é inadmissível que a Pedagogia da negação continue a fazer adeptos entre os professores que têm a responsabilidade pela educação dos alunos. Um exemplo de atividades inadequadas é quando o professor impõe aos alunos longos exercícios de multiplicação com ajuda de tabuadas sem que tenham construído o sentido da multiplicação. Os alunos podem dar respostas corretas apoiados apenas na tabuada, de forma mecânica, copiando resultados, sem compreender o sentido da operação. Nem todos os alunos que apresentam deficiência intelectual chegam a assimilar as operações de multiplicação e de divisão e a compreender o sentido destas. Este professor seria mais bem sucedido em sua ação pedagógica, se tivesse como objetivo o desenvolvimento lógico-matemático de seus alunos, se propusesse atividades de aprendizagem próximas aos interesses deles com base nas experiências vivenciadas por eles. Deste modo, o professor, provavelmente, teria contribuído mais para o desenvolvimento dos alunos e permitido a eles aprendizagens mais significativas. A qualidade da vida social e profissional das pessoas que apresentam deficiência intelectual repousa em boa parte sobre bases que são o desenvolvimento intelectual e as aprendizagens significativas que teve na escola e fora dela. Quando o professor percebe a capacidade de o aluno aprender, ele empreende ações que possibilitam essa aprendizagem. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O professor do atendimento educacional especializado deve propor atividades que contribuam para a aprendizagem de conceitos, além de propor situações vivenciaisque possibilitem esse aluno organizar o seu pensamento. Esse atendimento deve se fundamentar em situações-problema, que exijam que o aluno utilize seu raciocínio para a resolução de um determinado problema. Para desenvolver o AEE, é imprescindível que o professor conheça seu aluno e suas particularidades para além da sua condição cognitiva. O trabalho do professor do AEE é ajudar o aluno com deficiência intelectual a atuar no ambiente escolar e fora dele, considerando as suas especificidades cognitivas. Especificidades que dizem respeito principalmente à relação que ele estabelece com o conhecimento que promove sua autonomia intelectual. A AVALIAÇÃO NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Na sala de recursos multifuncionais, o aluno com deficiência intelectual poderá ser avaliado em função dos aspectos motores, do desenvolvimento da expressão oral e escrita, do raciocínio lógico matemático, do funcionamento cognitivo, da afetividade (comportamento e interação) e da relação que o aluno estabelece com o saber. Esta avaliação deve ser realizada preferencialmente através de situações lúdicas, as quais devem permitir a livre expressão do aluno. O professor do AEE acolhe a queixa trazida pela família ou pelo professor do aluno a respeito das dificuldades enfrentadas por este no contexto escolar. Como já referido anteriormente, ele avalia o aluno nos diferentes ambientes nos quais ele está implicado (família, escola, sala de recursos multifuncionais). Nesta avaliação, o professor do AEE considera os diferentes aspectos implicados no desenvolvimento do aluno, tal como já citado. Em relação aos aspectos motores, é importante que o professor observe se o aluno é capaz de manipular objetos de diferentes texturas, formas e tamanho, se ele é capaz de pegar no lápis para pintar, desenhar, bem como para fazer o traçado das letras. No caso do aluno apresentar acentuadas dificuldades motoras que impeçam o movimento necessário para realizar desenhos ou o traçado das letras, o professor deve começar a avaliação utilizando folhas de papel madeira e ir diminuindo gradativamente o tamanho do papel até chegar a usar o papel ofício para realizar pintura livre ou pintura a dedo dentre outras atividades. O fato de apresentar dificuldade motora não impede o aluno de participar de atividades de escrita ou de pintura, pois são muitas as possibilidades que o aluno pode ter para expressar sua representação do mundo. O computador se constitui em um recurso importante para expressão do aluno, além de outros recursos que o professor pode lançar mão para permitir a manifestação do conhecimento da criança. Estes recursos podem ser utilizados por ocasião da avaliação do aluno. Para avaliar o desenvolvimento da expressão oral, o professor deve observar se o aluno compreende determinadas mensagens (recados), se ele é capaz de expressar suas idéias de modo coerente com o contexto em questão, mesmo quando ele não é capaz de falar. Nesse caso, ele pode, por exemplo, expressar sua compreensão através de desenhos, apontar o material apresentado pelo professor e ainda pode realizar movimentos corporais afirmativos ou negativos. Ainda com relação à expressão oral o professor deve verificar se o aluno verbaliza de forma clara suas idéias, se ele faz uso, ao falar, de um vocabulário amplo e diversificado. Essa avaliação pode ser feita por meio do reconto de uma história, que ele pode registrar pelo desenho ou construção de maquete, modelagem ou, ainda, pelo jogo simbólico. O aluno poderá ainda relatar situações vivenciadas, ou ainda usar prancha de comunicação ou jogos educativos para expressar seu conhecimento. Todos esses recursos possibilitaram a expressão oral do aluno e oferecerão informações importantes ao professor no sentido de compreender sua expressividade verbal e não verbal. Na avaliação da aquisição da língua escrita, diferentes atividades podem ser utilizadas com o objetivo de informar ao professor o conceito que o aluno tem sobre a escrita. Para exemplificar esse procedimento de avaliação, três exemplos serão apresentados: a atividade de avaliação do nome próprio, a produção espontânea e a leitura do texto memorizado. A avaliação do nome próprio objetiva verificar se o aluno compõe seu nome (que pode ser feito com alfabeto móvel) e se atribui importância à seqüência e ao conjunto das letras que formam seu nome. Na avaliação desse conhecimento, o professor deverá considerar se o aluno compõe o nome próprio sem ajuda do professor; se ele considera que o seu nome está escrito, mesmo quando falta alguma das letras que o compõem; se ele considera que seu nome está escrito quando todas as letras estão visíveis, ainda que a ordem das mesmas tenha sido alterada, e, por fim, se ele considera que seu nome está escrito quando todas as letras estão presentes na ordem adequada. As concepções que o aluno apresenta a respeito do seu nome indicam ao professor como este aluno está interagindo com a escrita do próprio nome, mesmo quando este ainda não produz esta escrita de modo independente e convencional. A avaliação da produção espontânea tem por objetivo verificar as hipóteses de escrita do aluno. O procedimento consiste, na proposição da escrita de uma lista de palavras de um mesmo grupo semântico (lista de animais, de frutas, de brinquedos, dentre outras) pelo aluno. A partir das produções dos alunos (diferentes representações gráficas) o professor pode identificar o nível de compreensão que o aluno tem do sistema escrito. A avaliação com base na leitura de um texto memorizado tem por objetivos verificar se a criança lê o texto de memória ou se utiliza outras estratégias para realizar a leitura e ainda serve para verificar se a criança localiza no texto palavras solicitadas pelo professor. Nessa avaliação, o professor deverá observar: se o aluno lê o texto se apoiando na memória, lê o texto utilizando diferentes estratégias, indica as palavras solicitadas com apoio na memória ou lê, convencionalmente, as palavras solicitadas pelo professor. Outras propostas de avaliação da linguagem escrita podem ser efetuadas pelo professor do AEE, não com o intuito de alfabetizar esse aluno, mas com o objetivo de identificar sua evolução em leitura, as concepções que esse aluno apresenta sobre o universo da escrita, bem como sua relação com o saber escolar. A forma como o aluno se relaciona com o saber tem papel importante em seu processo de aprendizagem. Se este aluno se percebe como sujeito de aprendizagem capaz de contribuir ativamente com a construção de saberes no interior de seu grupo ele certamente terá uma motivação maior na mobilização de seus mecanismos de pensamento. A sala de aula comum se constitui espaço privilegiado para essa troca de saberes nas diferentes áreas de conhecimento. O aprendizado da matemática pode ser uma fonte de desenvolvimento intelectual e social muito importante para os alunos que apresentam deficiência intelectual. Para isto, é essencial que os aprendizados façam sentido para eles. É preciso que esses alunos sejam capazesde ver a pertinência dessa aprendizagem em situações concretas. Muito frequentemente, o ensino da matemática para os alunos que apresentam deficiência intelectual apela unicamente para os aprendizados mecânicos fundamentados na repetição e na memorização. O sentido que o aluno imprime às suas ações e o significado que dá aos signos lingüísticos e matemáticos que manipula são determinantes para o processo de aprendizagem deles. Logo, a intervenção do professor deve ser proposital para que o aluno dê sentido ao que faz e ao que expressa. O professor da classe regular é o responsável pelo ensino da matemática na sala. O professor do AEE não deve substituir o trabalho daquele professor. Ao professor do AEE, cabe conhecer o que o aluno sabe em função de suas experiências de vida, inclusive na escola. Deve ser estabelecido um clima de confiança entre professor e o aluno para que este último possa manifestar o que conhece a partir de suas experiências. A avaliação dessas experiências poderá ser realizada pelo professor do AEE através da proposição de situações-problema contidas nessas experiências, cujas resoluções possam implicar a necessidade de o aluno levantar hipóteses mediante a mobilização de seus conhecimentos prévios. Essa mobilização poderá permitir que ele identifique e analise uma determinada alternativa de resolução de uma dada situação problema, na perspectiva de generalizar para outra situação semelhante. Intervenções como estas são de grande importância para o desenvolvimento intelectual do aluno e poderão contribuir no seu aproveitamento escolar. Os aspectos sócio-afetivos do aluno que apresenta deficiência intelectual também se constituem foco de atenção do professor do AEE durante a avaliação. As pessoas que apresentam deficiência intelectual podem ter dificuldade no plano sócio-afetivo, especialmente no que se refere à construção da imagem de si mesmo (SAHUC, 2006). Aspectos como a exclusão social, a dificuldade em interpretar as atitudes e os comportamentos dos outros em relação a si, a dificuldade de se fazer entender pelos outros e enfim, as experiências de fracasso nas diversas situações da vida quotidiana se constituem fatores suscetíveis de contribuir para esta situação. Uma baixa auto-estima pode interferir na motivação do aluno que apresenta deficiência intelectual quando ele está em situação de aprendizado ou de resolução de problemas. Este modo de funcionamento decorreria de sucessivas experiências de fracasso. Consequentemente, o professor do AEE não deve interpretar os comportamentos de busca de informações no meio externo como sendo a expressão de uma falta de atenção, uma vez que o aluno pode simplesmente estar exercendo um procedimento visando realizar um aprendizado ou resolver um problema. Além dos aspectos sócio-afetivos relacionados ao deslocamento do saber para o outro e de uma história de fracasso quase sempre associada a essa situação (deslocamento do saber), a avaliação do professor de AEE não pode desconhecer vivências culturais desse aluno. Uma fraca assimilação dos costumes e da cultura do próprio meio pode influenciar na construção de um pensamento pouco socializado. O professor do AEE deve levar em consideração essas características no momento de intervir junto ao aluno que apresenta deficiência intelectual. Porém, o professor deverá, sobretudo, mostrar-se plenamente consciente que é muito mais nos gestos e nas atitudes que nas palavras que o aluno que apresenta deficiência intelectual expressa seus sentimentos. Outro aspecto importante a ser avaliado na sala de recurso multifuncional é a relação que o aluno estabelece com o saber. Se ele mantém uma relação positiva ou se, ao contrário, o aluno não manifesta nenhuma motivação pelos conteúdos escolares. O professor avalia esta dimensão a partir da proposição de atividades pedagógicas (tais como aquelas acima citadas) nas quais ele observa o modo como o aluno as realiza. Ele poderá, também, considerar esse aspecto a partir das informações oferecidas pelo professor do ensino comum. A AVALIAÇÃO NA SALA DE AULA Em sala de aula, o professor do AEE avalia como o aluno se relaciona com o conhecimento, como ele responde às solicitações do professor, se ele manifesta atitude de dependência ou autonomia e se é necessário o uso de recursos, equipamentos e materiais para acessibilidade ao conhecimento. Ele avalia, também, se o aluno apresenta melhor desempenho em atividades individuais, em pequenos grupos ou em grupos maiores e a forma como ele interage com seus colegas. O professor do AEE deve considerar, em sua avaliação, o modo como é feita a gestão da sala de aula pelo professor do ensino comum: a organização do espaço físico, o tipo de atividade proposta, se ele utiliza atividades que permitam o aluno se expressar, se ele está atento aos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos. Se ele utiliza estratégias da aprendizagem cooperativa e como procede em relação aos agrupamentos dos alunos. Essas informações podem ser obtidas em reuniões pedagógicas ou encontros com o professor do ensino regular. A AVALIAÇÃO NA FAMÍLIA O professor do AEE poderá obter junto à família informações a respeito do aluno, sobre o seu desempenho nas atividades domiciliares, bem como sua relação com o ensino e com os conteúdos escolares. É importante que o professor do AEE compreenda como o aluno se comporta em casa do ponto de vista da comunicação e da interação com os familiares, em que situações ele manifesta atitudes de autonomia e de dependência e como a família se relaciona com ele, ou seja, se há manifestação de superproteção ou de abandono. O contato com a família é fundamental, para que se possa conhecer o comportamento do aluno no ambiente familiar, quais suas preferências, como ele se relaciona com os familiares, o que gosta de fazer durante os momentos livres e quais as expectativas da família em relação ao aluno na escola e fora dela. Com base nas observações nesses três ambientes, o professor do AEE será capaz de construir um perfil do aluno, identificando as potencialidades e dificuldades dele e dos demais atores envolvidos com esse aluno nestes três ambientes: sala de aula comum, sala de recurso multifuncional e ambiente familiar. O ACOMPANHAMENTO O acompanhamento consiste no desenvolvimento de ações que visam ao progresso no desenvolvimento e na aprendizagem do aluno, bem como a sua melhor interação no espaço escolar. Ele visa à transformação, se necessário, dos esquemas de aprendizagem do aluno, bem como das práticas dos diferentes atores (professores e familiares) que atuam com esse aluno. As características do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno com deficiência intelectual podem interferir no seu processo de construção do conhecimento. A ação pedagógica voltada para esse aluno deve resultar em opções que indiquem a possibilidade de reorganizar situações de aprendizagem que favoreçam esse processo. O acompanhamento implica, necessariamente, na elaboração de um plano de atendimentoeducacional especializado. Esse plano consiste na previsão de atividades que devem ser realizadas com o aluno na sala de recurso multifuncional. O acompanhamento prevê a articulação do professor do AEE com outros profissionais que possam dar suporte às necessidades específicas desses alunos. Prevê, também, a articulação com a família no sentido de construir as condições propícias ao desenvolvimento e aprendizagem. O acompanhamento implica na necessidade de avaliação permanente da evolução do aluno nos diferentes espaços educacionais e no redimensionamento do plano do AEE. O acompanhamento visa, também, à superação de atitudes de dependência que comumente o aluno com deficiência intelectual apresenta em situações em que ele é desafiado a resolver uma determinada situação problema. Desse modo, é importante que o professor do AEE proponha atividades que promovam a vinculação do aluno com o êxito, bem como organize situações de aprendizagem a partir dos interesses manifestados pelo aluno e escolhas diante das possibilidades existentes. Essa proposta é possível na medida em que ocorra a promoção de situações diversificadas que permitam ao aluno se expressar livremente na sala de recursos multifuncionais e na sala de aula. A oferta dessas diferentes opções de atividades tem influência no desenvolvimento da autonomia e na independência do aluno frente às diferentes situações de aprendizagem. A foto ilustra uma criança com deficiência intelectual em atendimento na sala de recurso multifuncional na escola Padre Felice Pistoni, na cidade de Fortaleza. A atividade de acompanhamento consiste na apresentação de frases associadas às gravuras, com o objetivo de desenvolver a linguagem oral, bem como contribuir para sua evolução conceitual para a aprendizagem da leitura. O acompanhamento na sala de recursos multifuncionais visa, também, à organização da expressão verbal. Desse modo, é importante que o professor organize situações que permitam ao aluno estabelecer diferenças entre as características da língua oral e escrita. O professor do AEE deve proporcionar ao aluno o contato com as mais variadas formas de comunicação, porque esse contato possibilita o entendimento e a ampliação do seu vocabulário. Ele deve organizar situações em que o aluno seja provocado a se expressar oralmente através de descrições de imagens, fotos, recontos orais e relatos de experiências. A capacidade de estabelecer relações entre ações vivenciadas se constitui uma fragilidade do aluno com deficiência intelectual. A oralidade pode possibilitar o desenvolvimento dessa capacidade, permitindo-lhe transitar pelo mundo da representação, porque a palavra substitui o mundo físico dos objetos, ela permite ao sujeito planejar e organizar o pensamento, contribuindo para a compreensão da palavra oral e para a interpretação de significados. A ampliação do vocabulário possibilita o seu uso de modo compreensivo. O professor do AEE pode propor a realização de jogos que demandem desafios que implicam o uso de estratégias cognitivas quando contextualizadas nas experiências e conhecimentos prévios do aluno em situações de resolução de problema. A foto ilustra uma atividade de acompanhamento realizada com um aluno que tem paralisia cerebral associada a dificuldades motoras e de linguagem e deficiência intelectual. A atividade consiste em utilizar jogos de encaixe com a finalidade de desenvolver suas habilidades de preensão e punção, bem como desenvolver sua capacidade comunicativa. Na sala de recursos multifuncionais, o professor do AEE deve realizar ações específicas pelas quais os alunos possam distinguir o que é essencial do que é secundário no processo de compreensão de uma história ou de outras situações. Por exemplo, diante de uma situação problema vivida por um personagem de uma história em quadrinho solicitar que o aluno identifique as causas e conseqüências da situação vivida pelo personagem dentro da lógica do aluno. O professor pode planejar diferentes situações que possibilitem a livre expressão do aluno na dramatização, na pintura, no desenho, na modelagem, na dança, na música, na escrita, no jogo pedagógico e em outras. Geralmente a pessoa que apresenta deficiência intelectual não utiliza de maneira espontânea as estratégias cognitivas que permitam antecipar suas ações. O professor tentará, então, fazer com que o aluno reconstitua essas ações no plano do pensamento e organizá-las em função do fim que ele pretende alcançar. Por exemplo, se ele quer construir uma maquete, deverá reunir os elementos necessários para essa construção. Qualquer situação concreta real e de interesse do aluno pode ajudar na capacidade de antecipação. As possibilidades de atividades dessa natureza são muitas. O que importa, entretanto, é que ao longo dessas atividades o professor esteja presente no desenvolvimento delas, que ele encoraje o aluno e o apóie no planejamento de seus procedimentos, questionando sobre as razões de suas ações. O aluno poderá transferir esses conhecimentos nas atividades de sua rotina. Todo o acompanhamento e as atividades aqui propostas almejam desencadear o conflito cognitivo. Mas este só se efetivará mediante o reconhecimento do conflito pelo aluno. Quando, por exemplo, ele se auto-questiona, ou seja, dúvida e entra em contradição com o que faz, diz, explica. O conflito cognitivo pode emergir da discordância do aluno diante do resultado antecipado de uma ação e daquele por ele observado. Ele pode, também, resultar de uma oposição entre pontos de vista de colegas em uma situação de resolução de problemas. Os exemplos que acabaram de ser apresentados são ilustrações de intervenções que podem contribuir para o desenvolvimento da inteligência do aluno. É importante não negligenciar os alunos que apresentam deficiência intelectual no início da escolarização bem como na educação infantil. As dificuldades de evocação e de representação das crianças que apresentam deficiência intelectual e a sua limitada representação do mundo, ou seja, de interiorização da realidade pode ter uma influência negativa sobre a capacidade de significação dessas crianças, isto é, sobre a capacidade de dar sentido às atividades de natureza intelectual que lhes são propostas e, consequentemente, de mobilizar eficientemente seus esquemas cognitivos ou lingüísticos. A atividade apresentada a seguir é fundamentada na interiorização da ação e é destinada a favorecer o desenvolvimento das estruturas intelectuais em crianças que apresentam deficiência intelectual. A imitação e o jogo têm um papel muito importante na diferenciação entre significantes e significados e, consequentemente, na interiorização da ação. Situações vivenciadas pela criança durante o dia podem ser utilizadas para que ela reconstitua no pensamento aquilo que viveu. Essa reconstrução é importante para que ela se organize no espaço e no tempo e coordene as ações vividas em nível mental. É importante ressaltar que as ações do acompanhamento expressam o plano de atendimento educacional especializado, o qual é elaborado de acordo com a necessidade específica de cada aluno. O ACOMPANHAMENTONA SALA DE AULA O acompanhamento do professor do AEE na sala de aula do ensino comum se caracteriza por uma interlocução em que o professor do AEE deve procurar ouvir as dificuldades encontradas por esse professor para ensinar ao aluno com deficiência intelectual no contexto da sala de aula. Quando as dificuldades forem do âmbito da gestão da classe ou do ensino formal, essas dificuldades devem ser discutidas pela equipe pedagógica da escola da qual os professores em questão devem participar. A participação do aluno na sala de aula regular não deve ser negligenciada. A foto mostra quatro crianças durante uma atividade de jogo de dominó realizada em uma sala de aula regular. É importante considerar que a interação do aluno com seus pares na classe comum fazem dele um agente participativo que contribui ativamente para a constituição de um saber compartilhado. O aluno deverá perceber-se como sujeito que contribui para a construção de saberes coletivos, retirando disso múltiplas vantagens, inclusive a de acessar um papel social valorizado. Oportunizar ao aluno com deficiência intelectual viver integralmente a sua escolarização no espaço da sala de aula comum permite que ele se beneficie dessa convivência. Para clarificar as ações do professor do AEE, a seguir apresentamos um estudo de caso com o respectivo plano de AEE. UMA ESCOLA PARA TODOS VALORIZANDO A DIVERSIDADE Todos são iguais na diferença Na medida em que algumas pessoas pensam e refletem sobre esta nova forma de educação inspirada nas práticas inclusivas, podem surgir dúvidas a respeito de como a escola pode aceitar todas as pessoas. Será que uma criança deficiente conseguirá acompanhar o desenvolvimento de seus colegas? Será que todos conseguirão aprender da mesma forma? Esta criança não ficaria melhor em uma escola especial? Sua presença pode atrapalhar o andamento da sala? Este tipo de questionamento é muito comum por pessoas que ainda não compreenderam o verdadeiro papel da educação inclusiva. Com ideais advindos de uma cultura excludente por tantos anos, algumas pessoas ainda têm preconceitos e certa resistência a esta forma de educar na diversidade. Cabe lembrar que todos os indivíduos são diferentes entre si. Cada um vivencia experiências únicas, interage com o meio social de forma peculiar, recebe um tipo de educação e cultura de acordo com o meio onde vive, tem um tipo diferente de inteligência. É pela riqueza de diferenças que são seres humanos históricos e sociais, capazes de fazer uso de suas melhores inteligências tanto na sala de aula quanto fora dela, enfim, capazes de mudar o mundo e transformarem a sociedade. No início da década de 80, a teoria da inteligência única começou a ser cientificamente questionada. Em seu lugar surgiu a teoria das inteligências múltiplas, tendo sido identificadas sete nas primeiras pesquisas, incluindo aquela que corresponde à antiga inteligência única, ou seja, a inteligência lógico-matemática, também conhecida como inteligência racional. Mais recentemente, a este total de sete inteligências foi acrescentada a inteligência naturalista (SASSAKI, 2006, p.131). Dessa maneira, sempre existiram salas de aula heterogêneas, e buscar o potencial de cada aluno de acordo com suas habilidades individuais significa descobrir talentos que se complementam. Ninguém é tão severamente prejudicado porque não possui uma ou outra habilidade. Independente da necessidade especial que uma pessoa possa apresentar, ela possui alguma habilidade que deve ser trabalhada e estimulada. Dessa forma, todas as pessoas podem aprender, mas cada uma de uma maneira diferente das outras. Dentro de uma perspectiva inclusiva de educação, a escola deve oferecer uma educação de qualidade sem excluir nenhum aluno, atendendo a diversidade existente valorizando as inteligências de cada aluno, procurando saber quais são as habilidades e identificando seu estilo de aprendizagem, garantindo o sucesso dos alunos nas atividades escolares. Não somente a formas de ministrar as aulas, mas também as práticas avaliativas devem ser repensadas pelos professores. A idéia de submeter os alunos a testes, provas ou trabalhos no final de um período de aulas com o intuito de que eles provem por escrito o que aprenderam não é mais aceitável. Este tipo de avaliação partia de um pressuposto excludente, de que todos os alunos aprendiam da mesma maneira e tinham que atender aos mesmos objetivos. Dessa forma, ao valorizar os alunos pelas suas habilidades e individualidades, o professor é capaz de criar situações relevantes e significativas das quais podem ser extraídos os dados de avaliação de aprendizagem, nunca comparando os alunos entre si, mas sim comparando o aluno com seu próprio desempenho anterior. O caráter da avaliação não é prejudicar o aluno ou mostrar as suas falhas, ela deve servir como um elemento norteador que mostre onde o ensino precisa melhorar, onde o professor pode mudar suas abordagens educativas e onde a escola deve estruturar-se melhor para atender as necessidades de seus alunos. O princípio fundamental da escola inclusiva é o que de todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. as escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos por meio de currículo apropriado, modificações organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com a comunidade (...) dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer apoio extra que possam precisar, para que lhes assegure uma educação efetiva (UNESCO, 1994) Considerando estes pressupostos, para que uma educação inclusiva realmente aconteça nas escolas brasileiras são necessárias mudanças no que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem, no plano de trabalho didático-pedagógico, na avaliação educacional e na formação continuada de professores, dentre outras. Ao pensar em necessidades especiais, alguns professores se atentam apenas às pessoas com alguma deficiência física ou intelectual, no entanto a exclusão escolar e social atinge um foco ainda maior no contexto brasileiro. Dessa forma, ao adotar uma postura inclusiva de educação, esta deve abranger as diferenças de qualquer natureza. A inclusão coloca a questão da incorporação dessas crianças pelo ensino regular sob outra ótica, reconhecendo a existência das mais variadas diferenças, expressadas pelas crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes à minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos marginalizados. (UNESCO,1994, p.4) De fato, inclusão é a capacidade de entender e reconhecer o outro, ter o privilégio de conhecer e compartilhar a diversidade existente entreas pessoas, acolhendo-as sem exclusão. As práticas inclusivas de educação beneficiam todos os envolvidos neste processo, pois estes aprendem a lidar com as diferenças, com as dificuldades e diminuir preconceitos desde a infância. Desenvolvem sentimentos como respeito e solidariedade, sem se deixar levar por sentimento como pena, estranhamento e sensação de superioridade. Porém, para a inclusão ser efetivamente realizada, toda a escola deve se envolver e ser devidamente estruturada, todos devem estar devidamente preparados e conscientizados, inclusive os pais dos alunos. Todo o projeto pedagógico da escola deve ser reelaborado e a reflexão deve envolver além da equipe escolar, toda a comunidade. Só assim todos terão acesso à importância da educação inclusiva e os benefícios que esta traz para toda sociedade. Isso significa que a mera mudança de nomenclatura não resolve o problema da exclusão, pois o processo de inclusão não ocorre de uma hora para outra com base em improvisos. Deve haver mudanças nas redes de ensino, reafirmando o compromisso dos sistemas na construção de um espaço escolar aberto e propício a receber as diferenças de quaisquer naturezas. De acordo com Oliveira (2006), a inclusão é um movimento que tem caminhado a passos tímidos, mas que representa um momento de transformação rumo a uma escola mais humanizadora e que, para tanto, são necessários esforços políticos dos representantes da sociedade civil na construção de uma nova realidade. A realidade escolar deve ser o reflexo da sociedade fora da escola, e vivenciando experiência de valorização das diferenças desde a infância, ao se tornarem adultos, os alunos não terão dificuldades de vencer os preconceitos. Com esta experiência, aprende-se que cada pessoa ocupa um lugar importante na sociedade, todos são dignos de valor e devem ser respeitados, aprende-se que para se ter um lugar no mundo deve-se considerar o outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Dessa maneira, o professor deve sempre valorizar as diferenças de seus alunos com diversidade, pois são elas que garantem a construção do conhecimento. Os preconceitos devem ficar para trás, o que importa agora é o trabalho de reflexão, sensibilização e comprometimento de todos os envolvidos neste processo. Todas as pessoas são capazes de aprender, ensinar, desenvolver e de realizar, mas para isso é necessário modificar pensamentos, quebrar as barreiras que estão impedindo que todos sejam inseridos na sociedade de forma autônoma exercendo sua cidadania. A formação dos professores na educação inclusiva Como já visto anteriormente o professor tem um papel essencial para a realização de uma proposta de educação realmente inclusiva. Sua ação, tanto no que se refere ao ato de planejar seu trabalho como na sua atuação em sala de aula é determinado pela sua visão de mundo, pela leitura que faz da sociedade, da educação, de si mesmo como cidadão, de seu compromisso com seu aluno e das suas relações com ele. Esta postura pessoal é construída ao longo da vida, de acordo com as experiências vivenciadas, com a sua formação pessoal e também profissional. Como um professor será capaz de realizar práticas educacionais inclusivas se ele não tem posturas inclusivas em sua vida ou se não acredita ser possível esta forma de trabalho? Esta nova forma de educação impõe ao professor o desafio de disseminar conhecimentos que visem à construção de uma melhor qualidade de vida, desencadeadora de novas atitudes, para que o mestre possa desempenhar responsável e satisfatoriamente seu papel de agente transformador da educação. Educar significa instituir a integração dos educandos como agentes em seu lugar designado num conjunto social, do qual nem eles, nem seus educadores, têm o controle. Significa assegurar ao mesmo tempo a promoção desses mesmos educandos e, portanto, de seus educadores, em atores de sua própria história individual e da história coletiva em curso (NÓVOA, 1997, p.109). Pode-se perceber que a profissão docente não se dissocia do lugar que seus membros ocupam nas relações de produção e do papel que desempenham na manutenção da ordem social. Denari (2006) aponta que no momento em que a escola se impõe como um instrumento privilegiado de estratificação social, os professores também passam a ser investidos de ilimitado poder; tanto podem promover a inclusão como a exclusão do aluno diferente. Neste caso a diferença é vista por um lado negativo em que são atribuídas ao aluno características que o inferioriza perante os demais. Quando se parte do princípio de que todas as pessoas diferenciam-se umas das outras e podem conviver harmonicamente com esta diversidade, dadas as peculiaridades, cada aluno receberia atendimento diferenciado sem que isso desencadeasse um processo de marginalização. Esta convivência não deveria ser interpretada como uma concessão de um determinado grupo a outros, mas sim como um direito de todos reconhecido pela sociedade, sem qualquer discriminação. Nesse sentido, deve-se pensar em como se sente o professor de classe regular diante desta nova realidade de ter em sua sala alunos com necessidades educacionais especiais? Que influências têm seu trabalho sob a perspectiva do desenvolvimento do processo educativo dos seus alunos? Como vem se dando a formação docente? Somente a boa vontade basta para realizar práticas inclusivas de educação? Os questionamentos são inúmeros, e considerando que as políticas de inclusão garantem acesso e permanência de todos os alunos nas salas de aula regulares, na formação do professor seria importante prever um preparo para lidar com a diversidade. Nota-se algumas impropriedades que vem sendo cometidas na forma de compreender e interpretar como se daria a formação de professores neste contexto, principalmente a formação do professor de educação especial. Falar de uma educação inclusiva que pressupõe, entre outras, a inserção de alunos com deficiência em classes comuns do ensino regular, é falar de uma pedagogia de suporte para que as diferenças não sejam meros pretextos para a não-aprendizagem. Assim, formar professores competentes e qualificados pode ser o alicerce para que se garanta o desenvolvimento das potencialidades máximas de TODOS os alunos, entre eles, os com deficiência (OLIVEIRA, 2004, p.2) Cabe ao professor, não se preocupar com as rotulações e organizar práticas educativas que permitam aos alunos ajudarem uns aos outros nas soluções das dificuldades encontradas. Deve ser flexível nos seus métodos de avaliação, contribuindo para a construção de uma escola de qualidade para todos, contribuindo para o aprimoramento do sistema escolar, no sentido de melhorar o acesso à educação das pessoas com necessidades educativas especiais. O princípio geral é o da igualdade de direitos, a questão da educação especial também precisa ser repensada como um conjunto de serviços e de recursos de apoio, orientados para a educação regular, em benefício de todos os aprendizes.A inclusão educacional exige que o professor reconheça que as dificuldades escolares encontradas não devem focalizar o aluno como culpado, mas sim considerar as limitações existentes nos sistemas de ensino e nas escolas. O desafio implica numa nova visão de necessidades educacionais especiais das escolas, dos professores e de todos os recursos humanos que nela trabalham. O professor deve pesquisar e se atualizar a respeito das necessidades educacionais de seus alunos, a ponto que possa planejar suas aulas e desenvolver práticas pedagógicas verdadeiramente inclusivas, de modo a atender a todos e a cada um valorizando o trabalho na diversidade entendida como um recurso e não como um obstáculo. As práticas avaliativas não devem ter o objetivo de rotular os alunos, estigmatizando-os ou segregando-os, mas necessariamente devem ter o objetivo de sinalizar as mudanças que precisam ocorrer para que o processo de ensino-aprendizagem seja efetivamente concretizado. Estes temas devem ser discutidos nas Secretarias de Educação, nas escolas durante as reuniões e planejamentos, nas universidades, na comunidade e por toda população, pois trata-se de um assunto que envolve toda a sociedade. Os currículos escolares devem ser adaptados de modo que atendam as necessidades de todos os alunos, provendo oportunidades que sejam apropriadas aos diversos tipos de habilidades, não o contrário como vem ocorrendo ao longo dos anos, quando os professores fazem o currículo e os alunos que devem se enquadrar nele. O sucesso das escolas inclusivas depende muito do comprometimento de todos os envolvidos neste processo, principalmente dos professores, que são os que desempenham um papel diretamente com os alunos. Leite e Aranha (2005), afirmam que pensando em uma proposta de atuação a todos os alunos com qualidade, ou seja, num ensino pautado no atendimento à diversidade, a formação continuada pode constituir uma opção para que as mudanças qualitativas agregadas ao saber docente sejam refletidas no conhecimento dos alunos. Dessa forma, pode-se perceber que a inclusão não é só uma meta a ser alcançada, mas uma jornada com um propósito. Durante o curso desta jornada, os professores vão construir e ampliar suas habilidades sobre as experiências que já possuem com o objetivo de alcançar todas as crianças e suas necessidades de aprendizagem. Porém, eles também têm o direito de esperar apoio e oportunidades para o seu desenvolvimento profissional neste caminho, da mesma maneira que os pais e mães têm o direito para esperar que suas crianças sejam ensinadas por professores cuja capacitação preparou-os para ensinar todas elas. Essa tarefa pode não ser tão difícil quanto possa parecer, pois grande parte dos professores já tem muito do conhecimento e das habilidades que eles precisam para ensinar de forma inclusiva. O que muitas vezes lhes falta é confiança em sua própria competência. Isso acontece, em parte, ao mito existente há muito tempo acerca da especialização das necessidades especiais que os fazem acreditar que a capacitação especializada é um requisito para a inclusão. Além disso, poucos professores tiveram a oportunidade de ensinar todas as crianças na sua comunidade local, porque alguns alunos foram enviados para escolas especiais ou para escolas independentes (MITTLER, 2003, p.184). De acordo com Mittler (2003), esta atitude não justifica a falta de oportunidades de capacitação que a grande maioria dos professores vem vivenciando, mas representa uma base para futuras oportunidades de desenvolvimento profissional sobre os fundamentos que já existem. A criação de oportunidades para capacitação não significa influenciar o modo como os professores se sentem com relação à inclusão. Os professores precisam de oportunidades para refletir sobre as propostas de mudança que mexem com seus valores e com suas convicções, assim como aquelas que afetam a sua prática profissional cotidiana. É importante que a educação inclusiva não seja vista apenas como um modismo ou uma inovação que em pouco tempo cairá no desuso. Este processo de implantação é lento, porém extremamente importante para que se tenha uma sociedade igualitária nos direitos e no exercício da cidadania. O OLHAR DO PROFESSOR FRENTE À EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA:DELINEAMENTO METODOLÓGICO Metodologia Como já especificado anteriormente, foi realizada uma pesquisa de campo com professores atuantes nas escolas públicas de Lins em classes regulares e apresentados os problemas que a direcionaram, sua justificativa, relevância e objetivos. Neste capítulo é relatado o delineamento metodológico elaborado, considerando-se a caracterização do tipo de estudo em que se constitui essa pesquisa, os cuidados com a opção metodológica adotada, as etapas na construção da pesquisa e os procedimentos e técnicas utilizados durante seu desenvolvimento para a coleta, seleção e análise dos dados. Esta pesquisa busca o conhecimento das concepções dos professores que estão atuando nas classes de ensino regular frente à realidade da educação inclusiva com a qual estão se deparando atualmente e quais as práticas pedagógicas que os professores acreditam ser favoráveis à educação inclusiva, procurando relacionar dimensões como meio social, formação escolar e profissional dos sujeitos da pesquisa. Etapas da construção da pesquisa Diante do exposto na introdução e dos objetivos do presente trabalho, este estudo procura responder aos seguintes problemas: A compreensão que os professores das séries iniciais têm a respeito das práticas inclusivas de educação contribuem para a efetivação de tais práticas no seu dia a dia de trabalho? Os professores com especialização na área de educação especial são mais favoráveis á educação inclusiva do que os que não possuem formação específica na área? O nível de formação docente deve ser observado e analisado quando se trata da garantia de uma educação para todos de qualidade respeitando e valorizando as diversidades? A partir dos questionamentos acima citados, a pesquisa seguiu as seguintes etapas: a) Levantamento bibliográfico; b) Análise documental – documentos oficiais; c) Coleta e seleção de dados com os sujeitos da pesquisa; d) Análise dos dados coletados e apresentação dos mais relevantes. Na primeira etapa, realizou-se um levantamento bibliográfico considerando os aspectos da temática a ser estudada quanto da metodologia a ser adotada, na busca para compreender quais os melhores caminhos a serem seguidos. Na segunda etapa, efetuou-se uma análise documental, considerando documentos publicados pelo MEC sobre a Educação Especial Inclusiva, em especial a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Na terceira etapa foi realizado o procedimento de coleta de dados através da aplicação do questionário e seleção dos dados relevantes observados. A quarta e última etapa constituiu-se na análise dos dados encontrados e as considerações pertinentes. Procedimentos metodológicos Para a coleta dos dados obtidos nesta pesquisa foi utilizado
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