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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - MESTRADO Abel Felipe Freitag Bruna Caroline Rodrigues Eloana Ferreira D’Artibale Priscila Satie Furuya SEGREDO PROFISSIONAL Maringá - 2011 A Informação na Saúde A informação na saúde pode ser considerada como a mais íntima, pessoal e sensível das informações sobre uma pessoa, porque os dados gerados pela realização da anamnese e do exame físico são como uma extensão do corpo ou da mente de alguém. LOCH, 2003 Informações geradas pelo Atendimento • As informações que os pacientes fornecem, assim como os resultados de exames e procedimentos realizados com finalidade diagnóstica ou terapêutica, são de sua propriedade. • Os profissionais de saúde e administrativos tem apenas autorização para ter acesso às mesmas em função do exercício do profissão, mas não têm o direito de usá-las livremente. Goldim; Francisconi, 2004 Tipos e Características da Informação Tipo de Informação Públicas Privadas Íntimas Segredos Acesso Provável Todos Alguns Poucos Ninguém Característica Associada Publicidade Privacidade Intimidade Sigilo Dever Associado Confidencialidade Confidencialidade Confidencialidade Não Revelação Goldim, 2003 PRIVACIDADE: direito à intimidade, requer confiança e segurança para revelar algo íntimo. É um direito. CONFICENCIALIDADE: é uma forma de privacidade informacional que acontece no âmbito da relação profissional-paciente e no registro das informações. É o respeito ao direito do indivíduo. LOCH, 2003 Conceitos Conceitos SEGURANÇA: é frequentemente relacionado às questões de privacidade e confidencialidade, referindo-se à proteção da informação contra o acesso não autorizado. LOCH, 2003 Definição de Sigilo Profissional (SP) Sigilo Profissional é o dever ético que impede a revelação de assuntos confidenciais ligados à profissão. A dupla natureza do conceito de segredo profissional transforma-o num direito-dever, na medida em que, sendo um direito do paciente, gera uma obrigação específica aos profissionais da saúde. SALES-PERES,et al, 2008 Na relação profissional entre o enfermeiro e o paciente devem-se observar certos valores como: • igualdade, • liberdade responsável, • capacidade de escolha tem em atenção o bem comum, • competência profissional, • verdade e • justiça. SEGREDO PROFISSIONAL O segredo é um compromisso entre pessoas, o paciente revela sua intimidade, e o profissional se compromete, do ponto de vista ético, em guardar o segredo. Legislação Brasileira • Código Penal Brasileiro: – Art. 154: • Revelar a alguém sem justa causa, segredo deque tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: • Pena – detenção de 3 meses a um ano ou multa. • Código Civil Brasileiro: – Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: • I - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; • II - a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo íntimo; • III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato. • Código de Processo Civil: – Art. 406. A testemunha não é obrigada a depor de fatos: • I – que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em segundo grau; • II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem: • Capítulo II: do Sigilo Profissional – Art. 81: Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo. – Art. 82: Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem: – Art. 83: Orientar, na condição de Enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade sobre o dever do sigilo profissional. – Art. 84: Franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estão diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na legislação vigente ou por ordem judicial. – Art. 85: Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os envolvidos possam ser identificados. O segredo profissional é uma obrigação ético- legal. O segredo compreende informações obtidas do paciente no exercício da atividade profissional e que, se reveladas, podem causar danos. LIMITES ÉTICOS PARA A RUPTURA DO SEGREDO PROFISSIONAL Exceção à Preservação de Informações Ocorre quando, por força de legislação existente e por justa causa, um profissional é obrigado a comunicar informações a que teve acesso em função de sua atividade. Em algumas situações concretas na qual exista possibilidade de danos para outros, o segredo pode ser quebrado. Situações consideradas de "justa causa" para que o sigilo das informações seja rompido • Salvaguarda da vida e da saúde de terceiros de doenças graves e transmissíveis; • Doença que crie risco à vida de outras pessoas; • Exigência do bem comum que possam prevenir danos à comunidade; • Testemunhar em corte judicial, em situações especiais; • Comunicar, à autoridade competente, a ocorrência de: – Doença de informação compulsória; – De maus-tratos em crianças ou adolescentes; – De abuso de cônjuge ou idoso. SCHIEDERMAYER (1991) Com base na teoria principialista fundamente eticamente a quebra do sigilo. a) Quando houver alta probabilidade de acontecer sério dano físico a uma pessoa identificável e específica – NÃO-MALEFICIÊNCIA; b) Quando um benefício real resultar da quebra de sigilo – BENEFICIÊNCIA; c) Quando for o último recurso, depois de esgotadas todas as abordagens para respeito ao princípio de AUTONOMIA; d) E quando a mesma decisão de revelação possa ser utilizada em outras situações com características idênticas, independente da posição social do paciente – JUSTIÇA. SCHIEDERMAYER (1991) ESTUDO DE CASOS Paciente feminina, 16 anos, solteira, comparece no pronto atendimento, acompanhada de sua mãe, com queixas de náuseas e vômitos de difícil controle. Refere atraso menstrual. Normal ao exame físico. Feito diagnóstico de gravidez. A paciente ao saber do diagnóstico de gravidez verbaliza o desejo de levá-la a termo. O médico, por suspeitar que a paciente tenha comportamento de risco - uso de drogas IV - solicita pesquisa do anti-HIV, com consentimento da paciente. O resultado é positivo, mas ela se recusa insistentemente a dizer à mãe e ao atual namorado. Caso 3 Questões • A informação do resultado do teste HIV deve ser revelada à mãe e ao atual namorado? • Como as informações obtidas no PA devem ser transmitidas aos profissionais que farão o acompanhamento pré-natal? • Qual a conduta frente ao grupo de pessoas que compartilharam o uso de drogas com ela? Resolução CFM 1665/2003: • Art. 4°: É vedada a realização compulsória de sorologia para HIV. • Art. 5°: É dever do médico solicitar à gestante, durante o acompanhamento pré-natal, a realização de exame para detecção de infecção por HIV, com aconselhamento pré e pós-teste, resguardando o sigilo profissional. • Art. 6°: É dever do médico fazer constar no prontuário médico a informação de que o exame para detecção de anti-HIV foi solicitado, bem como o consentimento ou a negativa da mulher em realizar o exame. artigo 144º: A infecção com o vírus da SIDA é um comportamento que cria um perigo para a vida de outrem, alínea d. artigo 283º: refere que o crime de propagação de doença contagiosa é punido com pena de prisão. O potencial risco de vida para um companheiro ou companheira estável associadoa não revelação da informação sobre o diagnóstico de ser VIH+ por parte de seu parceiro pode configurar, do ponto de vista ético, uma situação de justa causa para a quebra de confidencialidade. Código Penal Código Penal - Artigo 144.º Ofensa à integridade física grave Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a: a) Privá-lo de importante órgão ou membro, ou a desfigurá- lo grave e permanentemente; b) Tirar-lhe ou afetar-lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, de procriação ou de fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a linguagem; c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica grave ou incurável; ou d) Provocar-lhe perigo para a vida; é punido com pena de prisão de dois a dez anos. Código Penal - Artigo 283º - Propagação da doença, alteração da análise ou receituário a) – propagar doença contagiosa [...] e criar deste modo perigo para a vida ou perigo grave para a integridade física de outrem é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos. A revelação de segredo relativo a doença grave e transmissível, é aceito, através do direito de necessidade, para a salvaguarda da vida e da saúde de terceiros, nomeadamente no caso da SIDA. UMA CRIANÇA DÁ ENTRADA NO SERVIÇO DE URGÊNCIA COM MARCAS EVIDENTES DE AGRESSÕES FÍSICAS. APESAR DA CRIANÇA CONTAR EM SEGREDO QUE OS PAIS A AGRIDEM, AMBOS NEGAM. Caso 2 Questões • Qual a sua atitude frente a esta situação? • A quem recorrer? • De quem é o dever de denunciar maus tratos as crianças e aos adolescentes? Estatuto da Criança e do Adolescente • Art. 2: Considera-se criança pessoas até 12 anos incompletos, e adolescentes entre 12 e 18 anos. • Art. 13: Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças ou adolescentes serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. • Art. 18: É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem • Art. 82, §4º, O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou risco ao mesmo. No respeito pelo princípio da beneficência, devemos respeitar a vontade do doente em não divulgar as informações que temos acerca dele, respeitando o sigilo profissional, de modo a agir no sentido de fazer o bem. Entretanto, em situações em que o bem será divulgar, como é o caso dos maus-tratos a crianças. O bem para estas crianças é protegê-las, ou seja, divulgar a informação necessária para as autoridades poderem agir da melhor maneira. UM INDIVÍDUO RECORRE AO SERVIÇO DE URGÊNCIA, COM FERIMENTOS, CONFESSA QUE MATOU UMA PESSOA, E PEDE PARA NÃO DIVULGAR. Caso 3 • O que você faria? • Chamaria a polícia? • Trataria o indivíduo sem preconceitos e com o mesmo cuidado? Caso 4 Em 27 de outubro de 1969, Prosenjid Poddar, um estudante indiano, matou Tatiana Tarasoff. Ela era apenas sua amiga, mas ele tinha entendido erradamente, devido a questões culturais, que ela estava interessada nele. Ela se afastou, explicando que não tinha qualquer interesse em manter uma relação afetiva com ele. O impacto desta notícia fez com que ele procurasse um apoio psicológico para a sua depressão. Os pais de Tatiana alegaram que dois meses antes de Tatiana ser morta, Poddar confidenciou ao seu psicólogo Lawrence Moore, funcionário do Hospital Cowell Memorial, da Universidade da California em Berkeley, a sua intenção de matar Tatiana. Eles alegaram que por solicitação de Moore a polícia do campus deteve, por um curto espaço de tempo, a Poddar, mas liberou-o quando este aparentou estar em pleno gozo de sua racionalidade. O Dr. Moore havia informado à polícia do campus que o paciente, poderia ter momentos de lucidez e outros de confusão, sem que isto alterasse a sua solicitação de custódia. Eles também afirmam que o Dr. Harvey Powelson, superior de Moore, deu ordens para não tomar qualquer ação futura no sentido de deter Poddar. Ninguém alertou Tatiana, ou sua família, do perigo. Desfecho • O caso foi julgado e os juízes da Suprema Corte da Califórnia dividiram-se: dois votaram pela revelação da situação de risco para a família e um votou pela preservação da privacidade do paciente e pela manutenção das informações apenas no âmbito da relação terapêutica. O primeiro voto, pela revelação, baseou-se no critério de que a defesa da vida é um dever prioritário, que ultrapassa ao da confidencialidade. O segundo, pela preservação, ao contrário, afirmou que a confidencialidade é um direito inalienável do paciente. • Este caso serviu de paradigma para este tipo de situação, quando existe um terceiro em risco. Neste caso se justifica a quebra de confidencialidade eticamente justificada. PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO • Goldim: – Critério da Necessidade: Relaciona-se às condições atuais do paciente. Estabelece prioridade aos que estão mais graves. – Critério do Merecimento: Voltado ao passado. Os recursos escassos devem ser alocados para aqueles pacientes que mereçam recebê-los, com base em ações, registros e eventos que já ocorreram. Características do Processo de Tomada de Decisão • Critério da Efetividade: Orientado para o futuro. Os recursos escassos devem ser alocados para aqueles pacientes que possam fazer melhor uso para si ou para os outros, especialmente a sociedade. Relação de custos sociais, retorno à produtividade. • Critério do Benefício Provável: Vinculado ao princípio da efetividade. É utilizado para estabelecer a probabilidade que cada indivíduo em particular ou um grupo de indivíduos tem em se beneficiar do recurso. O processo de tomada de decisão faz parte do dia-a-dia do enfermeiro. O enfermeiro deve ponderar sobre o que está em causa Respeito pelo segredo profissional O direito de terceiros Os profissionais devem recorrer a aconselhamento deontológico antes de tomar uma decisão. Orientação Deontológica “Não existe medicina sem confiança, tal como não existe confiança sem confidências, nem confidências sem segredo” (Morais, 1998, in Hottois e Parizeau) OBRIGADO! Referências • BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940, atualizado e acompanhado de legislação complementar, também atualizada, de súmulas e de índices. 38ª ed. São Paulo: Saraiva; 2000. • BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Código de ética dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro; 2007 • BRASIL. Estatuto da Criança e Adolescente. São Paulo: Cortez. 1990 • GOLDIM, José Roberto; FRANCISCONI, Carlos Fernando (1998) – Aspectos Bioéticos da Confidencialidade e Privacidade, in: COSTA, Sérgio Ibiapina Ferreira; GARRAFA, Volnei; OSELKA, Gabriel (coordenação) - Iniciação à Bioética, Publicação do Conselho Federal de Medicina, Brasília : Conselho Federal de Medicina, Editora Eletrônica, disponível in: http://www.bvseps.epsjv.fiocruz.br/ • LOCH, Jussara de Azambuja. Confidencialidade: natureza, características e limitações no contexto da relação clínica. Bioética 2003,11 (1): 51-64 • Silvia Helena de Carvalho Sales-Peres; Arsenio Sales-Peres; Amanda Maria Fantini; Fernanda D´Agostino Romanini Freitas; Marcelo Aparecido de Oliveira; Otavio Pereira Silva; Ricardo Henrique Chaguri . Sigilo profissional e valores éticos. RFO, v. 13, n. 1, p. 7-13, janeiro/abril 2008 • SCHIEDERMAYER DL. Guarding secrets and keeping counsel in computer age. J Clin Ethics 1991; 2:33-4.
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