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RESENHA História, saber acadêmico e saber escolar: um diálogo possível?

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RESENHA 
 
 O artigo de João Edson Fanai intitulado “História, saber acadêmico e saber escolar: um diálogo possível?” traz uma abordagem um tanto crítica, de questionamentos e também de denúncia à partir da fala da professora Vavy Pacheco. Segundo Pacheco em “História e política: laços permanentes” as novas configurações no ambiente acadêmico não permitem mais uma abordagem da História conteudista, como se via nas academias, pois, por muito tempo o ensino de História foi metodista em que se decorava datas, nomes e fatos históricos sem verdadeiramente fazer uma análise crítica e construtiva da história e isso impactou na formação enviesada de várias gerações de alunos.
 Apesar dos avanços na produção do saber acadêmico, ainda é perceptível uma certa timidez nesta aproximação entre o conhecimento produzido nas universidades versus o saber escolar. Fanai, reconhece a ausência de diálogo entre a educação básica e o ensino superior reforçando a defasagem teórico-metodológica na formação dos professores. Como fazer chegar esse conhecimento acadêmico nas escolas é o principal questionamento. É preciso, e aqui concordamos com o autor, que não adianta saber quando determinado acontecimento histórico ocorreu se os formadores de novos saberes não trouxerem uma visão historiográfica que deixe um pouco de lado a memorização de datas e imersa mais na criação de conceitos, em que apresente os verdadeiros heróis da história que não aparecem nos livros didáticos, que revisite o passado analisando cada detalhe tendo em vista construir um olhar diferente sobre a história. 
 Entende-se que é desafiador e ao mesmo tempo algo inequívoco, pois, se constata a crescente produção científica dentro das universidades sem que os resultados tenham aportado com a mesma intensidade no ensino fundamental e médio.
 O artigo, evidencia ainda, alguns grandes desafios enfrentados pelos profissionais que atuarão como professor de História e que do nosso ponto de vista devem ser analisados para não culpabilizarmos apenas o professor. O primeiro problema seria o de definir o material didático mais adequado ao seu trabalho, pois a abundância de material necessariamente não se traduz em refinamento da abordagem do conhecimento historiográfico e tudo isso exige rigor no estudo do material disponível. Um outro elemento de destaque é a necessidade de que os mecanismos que garantam a escolha estejam assegurados e o material não venha previamente imposto. Outro terceiro fator é como escolher diante de tantas abordagens historiográficas qual caminho.
 Na visão do autor-historiador, não seria arriscado demonstrar ao aluno de ensino médio as abundantes narrativas e releituras de temas afins, pois, é aí que estar a riqueza do ensino e não a fragilidade epistemológica do conhecimento historiográfico. Torná-los cientes de que a construção do e sobre o passado advém de registros e vestígios que muitas vezes escapam aos nossos dedos e o que realmente importa no ofício da profissão e que deve ser superado é tornar as narrativas ao menos palatáveis e convincentes.
 A importância de pensar essas questões é perceber que o papel de sustentação da atividade do professor não é o livro didático, mas sim “outras” vias de complementação do ensino. Nesta ótica, isso não significa minimizar os livros didáticos, pois, seja para o bem ou para o mal eles cumprem o seu papel. O importante é destacar a constante relação dialógica que deve o professor manter com os materiais utilizados. Não se trata de “jogar fora” os materiais já existentes e disponíveis, pois afinal, existem preceitos fundamentais a serem cuidadosamente trabalhados no ensino básico que não podem ser abandonados. 
 Jacques Le Goff aponta de modo contundente os cuidados que devemos ter ao tratar do conhecimento historiográfico destinado aos níveis intermediários, segundo o autor “[...] a cronologia é indispensável para levar os alunos e também adultos, a compreender a evolução histórica. Como privar-se de instrumentos de medida do tempo? [...]” E na mesma linha reflexiva há em David Lowenthal uma preocupação com o abandono radical da cronologia que leva muitas vezes a equívocos sérios no tratado dos eventos e sua inserção em uma periocidade correta. Trata-se de inserir de modo equilibrado, o referencial cronológico. Não abandonar e nem superestimar sua aplicação, ao contrário, utilizá-lo dentro das novas necessidades e paradigmas postos pelos novos estudos históricos.
 É necessário do ponto de vista epistemológico fazer uma reestruturação dos livros didáticos que abordem novas narrativas, novas historiografias e isso não é tarefa fácil, pois, temos que reconhecer que em si tratando de educação no Brasil as condições de trabalho, materiais e recursos metodológicos e tecnológicos são escassos. A ausência de aparatos didáticos, hoje avaliados como indispensáveis ferramentas auxiliadoras ao trabalho do historiador muitas vezes não estão disponíveis ou de fácil acesso dificultando a diversificação das atividades de ensino.
 Poderíamos apontar lacunas enormes no ensino de História tanto nas universidades como na educação básica. A defasagem entre o avanço dos recursos postos à disposição dos professores e a real capacidade de sua aquisição permanecerá enquanto políticas públicas não forem acionadas no sentido de reduzir distância entre esses dois pólos. 
 Não há soluções ou fórmulas prontas, o trabalho deve ser constante. Elencar os desafios também não significa apontar um horizonte sombrio, pois, apesar de tudo, importantes iniciativas estão sendo feitas como é o caso do lançamento da revista de História da Biblioteca Nacional que disponibiliza textos de ótima qualidade para o público em geral como também oferece aos profissionais da área excelente materiais. 
 Enfim, o artigo de Fanai é convidativo e nos impulsiona a repensarmos nossas práticas dentro da sala de aula e perceber que temos um público ávidos de curiosidade que quer ampliar as possibilidades acerca dos múltiplos caminhos que nos levam ao conhecimento do passado. Para tanto, investir constantemente na qualificação dos professoras que atuam na educação básica e estabelecendo um patamar de remuneração condigna ao papel que desempenham e dotando as unidades de aporte técnico adequado é o caminho de uma boa educação.

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