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Saúde Reprodutiva, fertilidade humana e planejamento familiar Módulo 18 Marina Albuquerque GT 2 Objetivo Geral: Compreender os diferentes tipos de amenorreia OE 1: Entender a fisiopatologia e a etiologia das amenorreias primária e secundária OE 2: Descrever a avaliação clínica e os exames laboratoriais relacionados às amenorreiras OE 3: Diferenciar as pacientes que possuem alterações anatômicas com caracteres e sem caracteres OE 4: Discutir o futuro reprodutivo das pacientes com amenorreia primária permanente com base na bioética (Barriga solidária, doação de óvulos, etc) Objetivos Ciclo Menstrual Normal -A menstruação normal requer uma complexa interação hormonal. - É preciso que, por meio do hipotálamo, haja secreção pulsátil de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), modulada por neurotransmissores e hormônios. O GnRH estimula a secreção de FSH e hormônio luteinizante (LH) pela hipófise, promovendo o desenvolvimento do folículo ovariano e a ovulação. -Um folículo ovariano com atividade normal secreta estrogênio; após a ovulação, esse folículo é convertido em corpo-lúteo e há secreção de progesterona, além de estrogênio – hormônios esses que estimulam o desenvolvimento do endométrio. -Se não houver gravidez, a secreção de estrogênio e progesterona diminui, e se inicia o sangramento por privação. No entanto, em caso de inatividade de qualquer um dos componentes (hipotálamo, hipófise, ovário, útero e o canal de saída), não há sangramento. Fonte: Very Well Health Amenorreia -A amenorreia primária é definida como a ausência de menstruação aos 13 anos de idade, quando não há caracteres sexuais secundários visíveis, ou aos 15 anos de idade, quando há caracteres sexuais secundários normais -Mulheres que já menstruaram podem ter amenorreia secundária, definida como ausência de menstruação por três ciclos menstruais normais -A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreveu três classes de amenorreia: 1.O grupo I da OMS inclui mulheres sem evidências de produção endógena de estrogênio, que apresentam níveis normais ou baixos de FSH, níveis normais de prolactina e ausência de lesão do eixo hipotalâmico-hipofisário 2.O grupo II está associado a mulheres com evidências de produção de estrogênio e níveis normais de prolactina e FSH 3.O grupo III inclui mulheres com altos níveis séricos de FSH, indicativos de insuficiência ou falência gonadal Amenorreia sem caracteres sexuais secundários Amenorreia sem caracteres sexuais secundários Exame pélvico anormal Hipogonadismo hipogonadotrófico Hipogonadismo hipergonadotrófico Deficiência de 5a-redutase; de 17,20-liase ou 17a-hidroxilas e em indivíduo XY Defeito do receptor de FSH Hiper- plasia suprar- renal lipoide congê- nita Defeito do recep- tor do LH Deleção parcial do cromossomo X Disgenesia gonadal Mosaicismo dos cromossomos sexuais Toxinas ovarianas ambientais e terapêuticas Deficiência de 17a-hidroxilase em indivíduo XX Galactosemia Hiperplasia suprarrenal lipoide congênita em indivíduo XX Atraso fisiológico Síndrome de Kallmann Tumores do sistema nervoso central Disfunção hipotalâmica/ hipofisária Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Como o desenvolvimento mamário é o primeiro sinal de exposição ao estrogênio na puberdade, pacientes sem caracteres sexuais secundários têm amenorreia primária, não secundária -Disgenesia gonadal (desenvolvimento anormal das gônadas -> gônadas em fita (fibrosadas)) está associada a altos níveis de LH e FSH, pois a gônada não produz os esteroides e a inibina que, por feedback, normalmente inibem a produção hipofisária de LH e FSH. -As anormalidades do cariótipo são comuns em mulheres com amenorreia primária associada à insuficiência gonadal. A síndrome de Turner (45,X) e suas variantes representam o tipo mais comum de hipogonadismo hipergonadotrófico em mulheres com amenorreia primária; -Outros distúrbios associados à amenorreia são anormalidade estrutural dos cromossomos X, mosaicismo, disgenesia gonadal pura, deficiências enzimáticas que impedem a produção normal de estrogênio e mutações inativadoras do receptor de gonadotrofina Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Distúrbios genéticos 1. Síndrome de Turner: indivíduos 45, X0; anormalidade cariotípica mais comum causadora de insuficiência gonadal e amenorreia primária; há desenvolvimento ovariano normal na vida intrauterina, sendo a amenorreia consequência da atresia acelerada dos folículos; há ovários em fita (fibróticos); baixa estatura, pescoço alado, tórax em escudo, cúbito valgo (aumento do ângulo dos braços), linha de implantação baixa dos cabelos, palato em ogiva, nevos pigmentados e quartos metacarpais curtos, diabetes melito, dilatação da aorta, hipertensão e perda auditiva ao longo da vida 2. Cromossomo X anormal: Indivíduos 46,XX com deleções parciais do cromossomo X têm fenótipos variáveis dependendo da quantidade e da localização do material genético ausente; A insuficiência gonadal pode se dar em razão da quebra cromossômica ocorrida em um gene necessário para a função ovariana, meiose anormal ou inativação do X translocado e dos genes autossômicos adjacentes Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Distúrbios genéticos 3. Mosaicismo: a amenorreia primária está associada a vários tipos de mosaicismo, sendo o mais comum o 45,X/46,XX. Os achados clínicos em pacientes 45,X/47,XXX e 45,X/46,XX/47,XXX são semelhantes aos encontrados em pacientes 45,X/46,XX e variam na produção de estrogênio e gonadotrofina, dependendo do número de folículos nas gônadas 4. Disgenesia gonadal pura: Indivíduos de fenótipo feminino com infantilismo sexual, amenorreia primária, estatura normal e ausência de anormalidades do cariótipo (46,XX ou 46, XY) têm disgenesia gonadal pura. As gônadas geralmente são em fita, mas pode haver algum desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, bem como episódios de sangramento uterino. A disgenesia gonadal pura em indivíduo 46,XY (antes denominada síndrome de Swyer) ocorre quando mutações no SRY (gene da região determinante do sexo no cromossomo Y) localizado em Yp11 resultam em mulheres XY sem desenvolvimento gonadal apropriado Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Distúrbios genéticos 5. Disgenesia gonadal mista: A maioria das pacientes com disgenesia gonadal mista é XY e tem genitália ambígua com uma gônada em fita de um lado e um testículo malformado do outro. Pequena parcela dessas pacientes tem mutações no gene SRY -Deficiências enzimáticas raras 1. Hiperplasia suprarrenal lipoide congênita: Pacientes com esse distúrbio autossômico recessivo são incapazes de converter colesterol em pregnenolona, a primeira etapa da biossíntese de hormônios esteroides; tanto os indivíduos XX quanto os XY têm fenótipo feminino; A maioria é XY e não tem útero. Sem reposição hormonal, permanecem sexualmente infantis. Pacientes XX podem desenvolver caracteres sexuais secundários na puberdade, embora desenvolvam grandes cistos ovarianos e insuficiência ovariana precoce Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Deficiências enzimáticas raras 2. Deficiência de 17a-hidroxilase e 17,20-liase: Mutações no gene CYP17 causam anormalidades nas funções 17α-hidroxilase e 17,20-liase da proteína ativa nas vias esteroidogênicas suprarrenais e gonadais; indivíduos com mutações de CYP17 têm amenorreia primária, ausência de caracteres sexuais secundários, fenótipo feminino, hipertensão e hipopotassemia; os níveis diminuídos de 17α-hidroxilase que caracterizam esse distúrbio reduzem a produção de cortisol, o que, por sua vez, aumenta o nível de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH); assim,são produzidas quantidades excessivas de mineralocorticoide, com consequente retenção de sódio, perda de potássio e hipertensão. Pacientes com deficiência de 17α-hidroxilase têm folículos primordiais, embora os níveis de gonadotrofina estejam elevados, pois a deficiência enzimática impede a síntese de esteroides sexuais Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Deficiências enzimáticas raras 3. Deficiência de aromatase: impede a aromatização de androgênios em estrogênio; pode-se suspeitar dessa síndrome ainda antes do nascimento, pois a maioria das mães de crianças afetadas apresenta virilização durante a gravidez; isso ocorre em razão de a placenta não ser capaz de converter em estrogênio os androgênios fetais, que, então, difundem-se para a circulação materna; Na puberdade, observam-se ausência de desenvolvimento das mamas, amenorreia primária, intensificação da virilização, ausência de estirão de crescimento, atraso da idade óssea e ovários multicísticos. O padrão hormonal diagnóstico é a elevação dos níveis de FSH, LH, testosterona e sulfato de desidroepiandrosterona (DHEAS), com níveis indetectáveis de estradiol 4. Galactosemia: É frequente a associação de galactosemia e insuficiência ovariana primária em meninas; no entanto, esse distúrbio costuma ser detectado por programas de rastreamento neonatais Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipergonadotrófico -Mutações raras do receptor de gonadotrofina 1.Mutação do receptor de LH: A inativação de receptores do LH é identificada em pseudo-hermafroditas XY com amenorreia primária sem caracteres sexuais secundários causada por códon de término prematuro, deleções e mutações missense homozigotos no gene do LRH localizado no cromossomo 2. As células de Leydig são incapazes de responder ao LH e sofrem hipoplasia, causando insuficiência testicular precoce e impedindo a masculinização; indivíduos XX com as mesmas mutações apresentam caracteres sexuais secundários normais, embora tenham amenorreia, com níveis elevados de LH, níveis normais de FSH e ovários císticos 2. Mutação do receptor de FSH: Uma substituição autossômica recessiva de um único aminoá- cido no domínio extracelular do receptor de FSH, que impede a ligação do FSH, foi vista em seis famílias na Finlândia. Esse distúrbio causa amenorreia primária ou secundária precoce, desenvolvimento variável de caracteres sexuais secundários e altos níveis de FSH e LH Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por outras causas de insuficiência ovariana primária -A lesão grave dos ovários antes do início da puberdade pode causar insuficiência ovariana e ausência de caracteres sexuais secundários. É possível a disfunção ovariana estar associada à irradiação dos ovários, quimioterapia com alquilantes (p. ex., ciclofosfamida) ou combinações de radioterapia e outros quimioterápicos. Outras causas de insuficiência ovariana primária (IOP) costumam estar associadas à amenorreia após o surgimento dos caracteres sexuais secundários (hipogonadismo hipogonadrotópico sem caracteres sexuais secundários) Por hipogonadismo hipogonadotrópico -A amenorreia primária causada por hipogonadismo hipogonadotrópico ocorre quando o hipotálamo não secreta quantidades adequadas de GnRH ou em caso de distúrbio hipofisário associado à produção ou liberação inadequada de gonadotrofinas hipofisárias Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por hipogonadismo hipogonadotrópico 1. Atraso fisiológico ou constitucional: manifestação mais comum de hipogonadismo hipogonadotrópico. A amenorreia pode ser consequência da ausência de desenvolvimento físico causada por reativação tardia do gerador de pulsos de GnRH. Há deficiência funcional de GnRH em relação à idade cronológica, mas os níveis são normais em termos de desenvolvimento fisiológico 2. Síndrome de Kallmann: há vários mecanismos de transmissão genética. A insuficiência da secreção pulsátil de GnRH causa deficiências de FSH e LH. Muitas vezes, a síndrome de Kallmann está associada à anosmia (incapacidade de perceber odores); O hipogonadismo e a anosmia são consequência de falha da migração neuronal durante o desenvolvimento fetal 3. Outras causas de deficiência de GnRH: anormalidades congênitas ou genéticas, processos inflamatórios, tumores, lesões vasculares ou traumatismo. Os tumores do SNC causadores de amenorreia primária (mais comum: craniofaringioma), são massas extracelulares que interferem na síntese e na secreção de GnRH ou na estimulação das gonadotrofinas hipofisárias. Quase todas essas pacientes apresentam distúrbios da produção de LH e FSH Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por distúrbios genéticos 1. Deficiência de 5a-redutase: As pacientes com esse distúrbio têm genótipo XY, muitas vezes apresentam virilização na puberdade, têm testículos (em razão dos cromossomos Y ativos) e não apresentam estruturas müllerianas por causa do hormônio antimülleriano ativo; A 5a-redutase converte a testosterona em seu tipo mais potente, di-hidrotestosterona. A diferença entre pacientes com insensibilidade androgênica e pacientes com deficiência de 5α-redutase é que estas não desenvolvem mamas na puberdade. Elas têm baixos níveis de gonadotrofina em virtude de níveis de testosterona suficientes para inibir o desenvolvimento mamário e possibilitar que os mecanismos normais de feedback permaneçam intactos. Não há diferenciação masculina normal do seio urogenital e dos órgãos externos, pois esse desenvolvimento requer di-hidrotestosterona. Os órgãos genitais internos masculinos normais derivados dos ductos de Wollf estão presentes, uma vez que esse desenvolvimento exige apenas testosterona. O crescimento de pelos em padrão masculino, a massa muscular e a mudança da voz também dependem de testosterona Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por distúrbios genéticos 2. Mutações do receptor de GnRH: as mutações causam diminuição acentuada na ligação de GnRH a seu receptor ou impedem a transdução de sinal do mensageiro secundário – sem a qual o FSH e o LH não são estimulados e, portanto, tornam-se incapazes de promover o crescimento folicular. Todas as pacientes são normossômicas 3. Deficiência de FSH: as pacientes com deficiência de FSH costumam buscar tratamento para puberdade tardia e amenorreia primária associada ao hipoestrogenismo. Elas são distinguidas de outras pacientes hipoestrogênicas por apresentarem níveis diminuídos de FSH e taxas elevadas de LH. Essas pacientes têm baixos níveis séricos de androgênios, apesar da razão LH-FSH anormal, indicando que o desenvolvimento folicular estimulado por FSH é um pré-requisito para a produção de androgênios pelas células tecais; Uma paciente engravidou após indução de ovulação com gonadotrofinas injetáveis Amenorreia sem caracteres sexuais secundários AMENORREIA PRIMÁRIA Por outras disfunções hipotalâmicas/hipofisárias -A deficiência funcional de gonadotrofina é causada por desnutrição, má absorção intestinal, emagrecimento ou anorexia nervosa, exercícios físicos em excesso, doença crônica, neoplasias e uso de maconha, embora esses distúrbios estejam mais frequentemente associados à amenorreia acompanhada de caracteres sexuais secundários desenvolvidos antes do início do problema -O hipotireoidismo, a síndrome do ovário policístico (SOP), a síndrome de Cushing, a hiperprolactinemia e os distúrbios infiltrativos do SNC estão associados mais comumente à amenorreia com caracteres sexuais secundários, embora possam causar amenorreia acompanhada de puberdade tardia -O atraso constitucional sem causas subjacentes é menos comum em meninas que em meninos, e o motivo de não haver desenvolvimento deve ser investigado com afinco Avaliação da amenorreia -A ausência de início do desenvolvimento da mama aos 13 anos justifica a investigação-Em mulheres que têm ciclos regulares, mas apresentam atraso da menstruação – até mesmo de 1 semana –, pode ser indicado o teste de gravidez -É conveniente avaliar mulheres que têm menos de nove ciclos por ano -Com algumas exceções, as causas de amenorreia primária e secundária são semelhantes; Para detectar a causa da amenorreia, convém verificar se a paciente apresenta caracteres sexuais secundários (ausência desses caracteres = a mulher nunca foi exposta a estrogênio) -Os elementos mais importantes no diagnóstico da amenorreia incluem exame físico para avaliação de caracteres sexuais secundários e anormalidades anatômicas, dosagem de hCG para descartar gravidez, dosagem de prolactina e do TSH e avaliação dos níveis de FSH para distinguir entre os tipos hiper e hipogonadotróficos de hipogonadismo -As condutas terapêuticas podem incluir tratamentos específicos (clínicos ou cirúrgicos) com o objetivo de corrigir a causa primária de amenorreia assim como de repor hormônio para iniciar e manter os caracteres sexuais secundários e proporcionar alívio sintomático. Além disso, objetivam também aumentar ao máximo e manter a massa óssea com a terapia hormonal, cálcio e vitamina D nos casos de baixos níveis circulantes de estrogênio e induzir a ovulação em pacientes que desejam engravidar Avaliação da amenorreia Fonte: BEREK & NOVAK Avaliação de amenorreia sem caracteres sexuais secundários -O diagnóstico e o tratamento correto da amenorreia primária associada ao hipogonadismo exigem anamnese e exame físico cuidadosos, sendo a utilidade do exame físico ainda mais destacada em pacientes com síndrome de Turner -História de baixa estatura com velocidade de crescimento regular, história familiar de puberdade tardia e achados físicos normais (incluindo avaliação do olfato, discos ópticos e campos visuais) podem sugerir atraso fisiológico - Cefaleias, distúrbios visuais, baixa estatura, sintomas de diabetes insípido e fraqueza de um ou mais membros sugerem lesões do SNC -Pode-se observar galactorreia nos prolactinomas, um distúrbio mais frequentemente associado à amenorreia secundária com caracteres sexuais secundários normais -Resumo da avaliação diagnóstica: 1. O exame laboratorial inicial deve ser a dosagem dos níveis séricos de FSH e LH, exceto se a anamnese e o exame físico sugerirem o contrário, para diferenciar se o hipogonadismo é hiper ou hipogonadotrópico; *Se o nível de FSH estiver elevado, é necessário fazer o cariótipo. Um alto nível de FSH associado a um cariótipo 45,X confirma o diagnóstico de síndrome de Turner. A deleção parcial do cromossomo X, o mosaicismo, a disgenesia gonadal pura e a disgenesia gonadal mista são diagnosticados pelo cariótipo 2. Por causa da associação com coarctação da aorta (até 30%) e disfunção da tireoide, as pacientes com síndrome de Turner devem ser submetidas a ecocardiograma a intervalos de 3 a 5 anos e a provas da função tireoidiana anuais. A RM cardíaca é um importante componente da avaliação cardíaca. As pacientes com síndrome de Turner devem ser submetidas à avaliação de perda auditiva, malformações renais, diabetes e hipertensão 3. Se o cariótipo for anormal e contiver o cromossomo Y, como na disgenesia gonadal, as gônadas devem ser removidas para que se evitem tumores 4. Se o cariótipo for normal e o nível de FSH estiver elevado, é importante considerar o diagnóstico de deficiência de 17-hidroxilase, que pode ser fatal se não tratada *Esse diagnóstico deve ser considerado quando o teste indica níveis séricos elevados de progesterona (> 3,0 ng/ml), baixo nível de 17α-hidroxiprogesterona (0,2 ng/ml) e nível sérico elevado de desoxicorticosterona. O diagnóstico é confirmado pelo teste de estímulo com ACTH. Após administração de ACTH em bolo, os indivíduos afetados apresentam níveis muito aumentados de progesterona sérica em comparação com os níveis iniciais sem haver alteração dos níveis séricos de 17α-hidroxiprogesterona Avaliação de amenorreia sem caracteres sexuais secundários 5. O baixo nível de FSH no exame de rastreamento confirma o diagnóstico de hipogonadismo hipogonadotrópico; as lesões no SNC devem ser excluídas por tomografia computadorizada (TC) ou RM, sobretudo se houver galactorreia, cefaleia ou problemas do campo visual; em craniofaringiomas, é comum encontrar calcificação suprasselar ou intrasselar em sela anormal 6. O atraso fisiológico é um diagnóstico de exclusão e difícil de se distinguir da secreção insuficiente de GnRH; o diagnóstico pode ser respaldado por uma história sugestiva de atraso fisiológico, uma radiografia que mostre atraso da idade óssea e a ausência de lesão do SNC à TC ou RM Avaliação de amenorreia sem caracteres sexuais secundários -Pacientes com amenorreia primária associada a todos os tipos de insuficiência gonadal e hipogonadismo hipergonadotrópico necessitam de tratamento cíclico com estrogênio e um progestágeno para iniciar, amadurecer e manter os caracteres sexuais secundários. A prevenção da osteoporose é outro benefício da estrogenioterapia 1.Em geral, o tratamento é iniciado com 0,3 a 0,625 mg/dia de estrogênios conjugados ou 0,5 a 1 mg/dia de estradiol 2. Se a paciente for baixa, não se devem administrar doses maiores, pois é preciso evitar o fechamento prematuro das epífises 3. O estrogênio pode ser administrado diariamente associado a um progestágeno (acetato de medroxiprogesterona ou mesmo a progesterona) a fim de se evitar a hiperplasia que poderia ocorrer na estimulação estrogênica do endométrio sem oposição em pacientes com útero 4. Às vezes, indivíduos com mosaicismo e gônadas em fita podem ovular e conceber espontaneamente ou após a instituição de terapia de reposição com estrogênio 5. Se confirmada a deficiência de 17α-hidroxilase, institui-se tratamento de reposição com corticosteroide e estrogênio. O progestágeno deve ser acrescentado para a proteção do endométrio contra hiperplasia Tratamento da amenorreia sem caracteres sexuais secundários -Se possível, objetivo das medidas terapêuticas é corrigir a causa primária da amenorreia 1. Os craniofaringiomas podem ser ressecados por acesso transesfenoidal ou durante craniotomia 2. Os germinomas são muito radiossensíveis, e a cirurgia raramente é indicada 3. Com frequência, os prolactinomas e a hiperprolactinemia respondem aos agonistas da dopamina (bromocriptina ou cabergolina) 4. Terapias específicas tratam a desnutrição, a má absorção intestinal, o emagrecimento, a anorexia nervosa, a amenorreia por exercício físico, a neoplasia e as doenças crônicas 5. Pacientes com síndrome de Kallmann e outras causas de amenorreia hipotalâmica podem ser tratadas com terapia de reposição hormonal 6. Caso haja atraso fisiológico da puberdade, o único tratamento necessário é a tranquilização 7. Pacientes com uma linhagem celular Y (mosaicismo 45,X/46,XY ou disgenesia gonadal pura 46,XY) são predispostas a tumores da gônada em fita, como gonadoblastomas, disgerminomas e tumores do saco vitelino (do seio endodérmico). As gônadas desses indivíduos devem ser retiradas quando o distúrbio é diagnosticado a fim de que se evite transformação maligna Tratamento da amenorreia sem caracteres sexuais secundários Amenorreia com caracteres sexuais secundários Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica Anomalias müllerianas Síndrome de Asherman Hímen imperfurado Septo vaginal transverso Síndrome de Mayer- Rokistansky-K üster- Hauser Hermafroditismo verdadeiro Insensibilidade androgênica Ausência de endométrio Secundária a infecções Secundária à cirurgia uterina ou cervical prévia Curetagem, sobretudo após o parto Doença inflamatória pélvica Conização do colo do útero Excisão eletrocirúrgica por alça Relacionada com dispositivo intrauterino Tuberculose Esquistossomose Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica Anomalias do trato de saída e do ducto de Müller -A amenorreiaocorre em caso de bloqueio do trato de saída, ausência do trato de saída ou ausência de útero funcional. Para haver menstruação, o endométrio deve ser ativo, e o colo do útero e a vagina têm de ser permeáveis. A maioria das mulheres com anormalidades do ducto de Müller apresenta função ovariana normal e, portanto, desenvolvimento normal de caracteres sexuais secundários 1. Bloqueios transversais: Todo bloqueio transversal do sistema mülleriano causa amenorreia. Essas obstruções da saída incluem hímen imperfurado e septo vaginal transverso, bem como hipoplasia e ausência de colo do útero ou vagina. Com frequência, o bloqueio transversal do trato de saída com endométrio intacto causa dor cíclica sem sangramento menstrual em adolescentes. A obstrução ao fluxo sanguíneo pode causar hematocolpo, hematométrio ou hemoperitônio e endometriose Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica Anomalias do trato de saída e do ducto de Müller 2. Anomalias müllerianas: A síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser inclui agenesia vaginal e anormalidades variáveis do ducto de Müller, e, em alguns casos, anormalidades renais, ósseas e auditivas. A agenesia do ducto de Müller é responsável por cerca de 10% dos casos de amenorreia primária. Das pacientes com essa síndrome, 15% têm um rim ausente, pélvico ou em ferradura; 40% têm um sistema coletor urinário duplo; e 5 a 12% têm anormalidades ósseas. A síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser está associada ao metabolismo anormal da galactose 3. Ausência de atividade anormal: Quando os achados ao exame físico são normais, devem-se cogitar anormalidades anatômicas da cavidade uterina. A ausência congênita do endométrio é um achado raro em pacientes com amenorreia primária. A síndrome de Asherman, mais comum na amenorreia ou hipomenorreia secundária, pode ocorrer em pacientes com fatores de risco para sinéquias endometrial ou cervical (que são: história de cirurgia uterina ou cervical, infecções relacionadas com o uso de um dispositivo intrauterino e doença inflamatória pélvica (DIP) grave). Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica Insensibilidade androgênica -Indivíduos com fenótipo feminino com insensibilidade androgênica congênita completa (antes denominada feminização testicular) desenvolvem caracteres sexuais secundários femininos, embora não menstruem. O genótipo é masculino (XY), mas há um defeito que impede a função normal do receptor androgênico, ocorrendo o desenvolvimento do fenótipo feminino. Os níveis séricos de testosterona estão na faixa masculina normal. É possível que não haja vagina ou que ela seja curta; Como o hormônio antimülleriano está presente e tem atividade normal nesses pacientes, não há estruturas femininas (müllerianas) internas como útero, vagina e tubas uterinas. Há testículos, em vez de ovários, no abdome ou em hérnias inguinais em virtude dos genes com atividade normal no cromossomo Y. As pacientes têm fundo de saco vaginal cego e pelos axilares e pubianos escassos ou ausentes. Essas pacientes têm bom desenvolvimento mamário na puberdade; entretanto, as papilas são imaturas, e as aréolãs, pálidas. Não há testosterona durante o desenvolvimento para que se iniba a formação dos tecidos mamários; na puberdade, a conversão de testosterona em estrogênio estimula o crescimento mamário. As pacientes são muito altas, com tendência eunucoide (braços longos, com mãos e pés grandes) Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica Hermafroditismo verdadeiro -O hermafroditismo verdadeiro é um distúrbio raro, que deve ser considerado como possível causa de amenorreia. Esses pacientes têm tecido gonadal masculino e feminino, sendo encontrados genótipos XX, XY e mosaico. Dois terços menstruam, mas nunca houve relato de menstruação em genótipos XY. Em geral, os órgãos genitais externos são ambíguos, e o desenvolvimento mamário é frequente. 15% dos hermafroditas verdadeiros XX têm translocações SRY, e outros 10% têm mosaicismo cromossômico Y na gônada Avaliação de amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica 1. Um hímen imperfurado é diagnosticado quando há uma membrana íntegra que se distende durante a manobra de Valsalva; A ultrassonografia (US) ou RM ajuda a identificar a anomalia mülleriana quando não é possível detectar a anormalidade por exame físico. 2. Apenas ao exame, é difícil diferenciar entre um septo transversal ou ausência completa do colo e do útero em uma mulher e um fundo de saco vaginal cego em um pseudo-hermafrodita masculino. A insensibilidade androgênica é provável quando não há pelos pubianos e axilares. Para a confirmação do diagnóstico, deve-se determinar o cariótipo e verificar se há um cromossomo Y. Em algumas pacientes, o defeito no receptor androgênico não é completo e há virilização 3. A ausência de endométrio é uma anormalidade do trato de saída que não pode ser diagnosticada por exame físico em pacientes com amenorreia primária; A US transvaginal para avaliar a espessura do endométrio pode ser útil, e o espessamento do endométrio indica resposta endometrial ao estrogênio 4. Não é possível diagnosticar a síndrome de Asherman por exame físico. O diagnóstico é feito por histerossalpingografia, histerossonografia ou histeroscopia. Esses exames mostram obliteração completa ou vários defeitos de enchimento causados por sinéquias Tratamento de amenorreia com caracteres sexuais secundários e anormalidades da anatomia pélvica 1. O tratamento do hímen imperfurado é feito por uma incisão em cruz para abertura do óstio vaginal. A maioria dos hímens imperfurados somente é diagnosticada após o surgimento de hematocolpo 2. Se houver septo transverso, é necessário removê-lo cirurgicamente 3. É mais difícil tratar a hipoplasia ou ausência do colo quando há útero funcional do que tratar outras obstruções de saída. É rara a cirurgia bem-sucedida de reparo do colo e comum a necessidade de histerectomia. Os ovários devem ser preservados para que se proporcionem os benefícios do estrogênio e possibilite a procriação no futuro, por meio da retirada de ovócitos maduros para fertilização in vitro e da transferência de embriões para uma doadora temporária de útero 4. Se a vagina estiver ausente ou for curta, a dilatação progressiva costuma ser capaz de torná-la funcional 5. Em pacientes com insensibilidade androgênica completa, os testículos devem ser removidos após a conclusão do desenvolvimento puberal para que se evite degeneração maligna 6. Sinéquias no colo e no útero (síndrome de Asherman) podem ser tratadas por ressecção histeroscópica com tesoura ou eletrocautério Amenorreia com caracteres sexuais secundários Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Insuficiência ovariana primária Lesões hipofisárias e hipotalâmicas Etiologia cromossômica Pré-mutação de FMR 1 Causas iatrogênicas: radiação, quimioterapia, lesão cirúrgica do suprimento sanguíneo ovariano Anormalidades que alteram a liberação de GnRH Síndrome do ovário policístico Hiperprolac tinemia Lesões hipofáriasTumores hipotalâmicos Craniofaring iomas Hipofisite linfocítica Germinoma Granulomas sarcoide/ tubercular Adenomas secretores de hormônios (prolactina, doença de Cushing, acromegalia) Infarto Adenomas inativos Infecções Galactosemia Síndrome de Perrault Idiopática Autoimune - ooforite autoimune linfocítica Cisto dermoide Síndrome de Sheeran Ablações Vasculite diabética Transtornos alimentares Emagrecimen to e dieta Exercício físico Obesidade Estresse Doenças crônicas Desnutrição Hiperprolacti nemia Obesidade Tumores Disfunção da tireoide Idiopático Hiper- Andro genis mo Pseudociese Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Síndrome do ovário policístico -Distúrbio associado a hiperandrogenismo,disfunção ovulatória, e ovários policísticos -Os critérios de 2003 de Rotterdam exigiram dois dos três elementos a seguir para o diagnóstico de SOP: hiperandrogenismo, oligomenorreia ou amenorreia, demonstração de ovários policísticos por US *Embora seja observada em mulheres com SOP, a resistência à insulina não é incluída em nenhum dos critérios diagnósticos; são comuns também obesidade e subfertilidade -Embora geralmente ocasione sangramento irregular em vez de amenorreia, a SOP ainda é um dos motivos mais comuns de amenorreia. A causa de SOP é, em grande parte, desconhecida -Em pacientes hirsutas e amenorreicas, que parecem ter SOP, devem-se cogitar as hipóteses de tumor suprarrenal secretor de androgênio e hiperplasia suprarrenal congênita. Uma história de hirsutismo de início rápido é sugestiva de tumor Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Hiperprolactinemia -A hiperprolactinemia é uma causa comum de anovulação em mulheres. A elevação da prolactina leva à secreção anormal de GnRH, que, por sua vez, pode acarretar distúrbios menstruais -Os níveis de prolactina podem ser elevados por adenomas hipofisários produtores de prolactina, por outras lesões do SNC que perturbam o transporte normal de dopamina (a liberação de dopamina inibe a secreção de prolactina) ao longo do pedículo hipofisário e por medicamentos que interferem na secreção normal de dopamina (como antidepressivos, antipsicóticos, incluindo risperidona, metoclopramida, alguns anti-hipertensivos, opiáceos e bloqueadores dos receptores de H2) -Caso haja elevação simultânea dos níveis de TSH e prolactina, deve-se tratar o hipotireoidismo antes do tratamento da hiperprolactinemia. Muitas vezes, o nível de prolactina é normalizado com o tratamento do hipotireoidismo, pois o hormônio liberador de tireotropina, cujo nível está elevado no hipotireoidismo, estimula a secreção de prolactina Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Insuficiência ovariana primária -”Menopausa precoce”, é caracterizada quando há amenorreia por 4 meses ou mais em uma mulher com menos de 40 anos, acompanhada por dois níveis séricos de FSH na faixa correspondente à menopausa. A atividade pode ser retomada mesmo após a mulher estar aparentemente na menopausa. A IOP pode ser causada por diminuição da população folicular ou aceleração da atresia folicular. Geralmente há sintomas intermitentes, entre eles fogachos, sudorese noturna e labilidade emocional. -Se o ovário não se desenvolver ou interromper sua produção de hormônio antes da puberdade, a paciente não desenvolve caracteres sexuais secundários sem terapia hormonal exógena. Se a insuficiência ovariana se iniciar mais tarde, há caracteres sexuais 2º normais. -Causas de IOP após o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários: Etiologia cromossômica (como mosaico da Síndrome de Turner), pré-mutação de FMR 1, causas iatrogênicas (radiação, quimioterapia, lesão cirúrgica do suprimento sanguíneo ovariano), infecções, doenças autoimunes (ooforite autoimune linfocítica), galactosemia, síndrome de Perrault e idiopática (80-90% dos casos) Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Lesões hipofisárias e hipotalâmicas -Tumores hipotalâmicos: Para haver menstruação normal, o hipotálamo deve secretar GnRH, e a hipófise precisa responder com produção e liberação de FSH e LH. Os tumores do hipotálamo ou da hipófise – como craniofaringiomas, germinomas, granulomas tuberculares ou sarcoides, bem como cistos dermoides – podem impedir a secreção hormonal apropriada -Lesões hipofisárias: O hipopituitarismo é raro, pois é preciso destruir grande parte da glândula para a diminuição da secreção hormonal causar problemas clínicos. A hipófise pode ser destruída por tumores (inativos ou secretores de hormônio), infarto ou lesões infiltrativas, como hipofisite linfocítica, lesões granulomatosas e ablações cirúrgicas ou radiológicas. Se o hipopituitarismo ocorrer antes da puberdade, não haverá menstruação nem desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. A síndrome de Sheehan está associada à necrose pós-parto da hipófise causada por um episódio hipotensivo que, em seu tipo grave (apoplexia hipofisária), causa choque; sintomas: cefaleia retro-orbital intensa e localizada e anormalidades dos campos visuais e da acuidade visual; pacientes com um tipo leve de necrose hipofisária pós-parto não conseguem amamentar e apresentam perda dos pelos pubianos e axilares, além de não menstruarem após o parto. Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Alteração da secreção de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) hipotalâmico -Quando a diminuição da pulsatilidade do GnRH é intensa, ocorre amenorreia. Em alterações menos acentuadas da pulsatilidade do GnRH, pode haver anovulação e oligomenorreia. A diminuição dos níveis de leptina está associada à amenorreia hipotalâmica -Causas: 1. Com estado estrogênico viável: anorexia nervosa, induzido por exercícios ou estresse, pseudociese, desnutrição, doenças crônicas (diabetes melito, distúrbios renais, distúrbios renais, distúrbios pulmonares, hepatopatia, infecções crônicas, doença de Addison, hiperprolactinemia, disfunção da tireoide) 2. Com estados euestrogênicos: obesidade, hiperandrogenismo (síndrome do ovário policístico, síndrome de cushing, hiperplasia suprarrenal congênita, tumores suprarrenais secretores de androgênios, tumores ovarianos secretores de androgênios), tumor de células granulosas, idiopático Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Transtornos alimentares -Anorexia nervosa: A amenorreia pode preceder o emagrecimento, coincidir com ele ou sucedê-lo. Há alteração de vários padrões hormonais. Os critérios para seu diagnóstico são recusa em manter o peso corporal acima de 15% abaixo do normal, medo exagerado de engordar, percepção alterada da própria imagem corporal (i. e., as pacientes consideram-se obesas apesar de estarem abaixo do peso) e amenorreia -Compulsão alimentar periódica: associada à bulimia, que consiste em vômitos, uso abusivo de laxantes e uso de diuréticos para controlar o peso. Os sinais de bulimia incluem cáries dentárias, hipertrofia das parótidas, hipopotassemia e alcalose metabólica. Emagrecimento e dieta -O emagrecimennto pode causar amenorreia, mesmo que o peso não diminua abaixo do normal. A perda de 10% da massa corporal em 1 ano está associada à amenorreia. Algumas dessas mulheres têm um transtorno alimentar subjacente. O prognóstico do retorno da menstruação é bom se a paciente recuperar o peso. A dieta sem emagrecimento e alterações da dieta podem causar amenorreia Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Exercício Físico -Em pacientes com amenorreia induzida por exercício, há diminuição da frequência dos pulsos de GnRH, avaliada pela detecção de uma menor frequência de pulsos de LH. O treinamento de grande intensidade, a desnutrição, o estresse da competição e os transtornos alimentares associados aumentam o risco de disfunção menstrual em atletas. A osteoporose pode acarretar fraturas de estresse durante o treinamento e aumento vitalício do risco de fratura Estresse -A amenorreia relacionada com o estresse pode ser causada por anormalidades na neuromodulação da secreção hipotalâmica de GnRH, semelhantes às que ocorrem com o exercício e a anorexia nervosa. O excesso de opioides endógenos e as elevações da secreção de CRH inibem a secreção de GnRH Amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal Obesidade -Na maioria das vezes, o distúrbio menstrual é o sangramento uterino irregular com anovulação, e não a amenorreia. Muitas vezes, tais pacientes são classificadas como portadoras de SOP. Alterações na secreção de endorfinas, cortisol, insulina, hormônio do crescimento e IGF-1 podem interagir com o feedback anormal de estrogênio e androgêniopara o gerador de pulso de GnRH, bem como causar anormalidades menstruais. Outros fatores hormonais -A secreção de neuromodulares hipotalâmicos pode ser alterada por feedback de níveis anormais de hormônios periféricos. Excessos ou deficiências de hormônio tireoidiano, glicocorticoides, androgênios e estrogênios são capazes de causar disfunção menstrual. A secreção excessiva de GH, TSH, ACTH e prolactina pela hipófise pode levar à inibição por feedback anormal da secreção de GnRH, com consequente amenorreia. O excesso de hormônio do crescimento causa acromegalia, que pode estar associada a anovulação, hirsutismo e ovários de aparência policística em virtude de estimulação do ovário por IGF-1. A doença de Cushing é causada por um tumor hipofisário secretor de ACTH. Avaliação de amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal -Deve-se fazer o teste de gravidez (hCG urinária ou sérica) em mulheres em idade reprodutiva com amenorreia, caracteres sexuais secundários normais e exame pélvico normal. Se os resultados do teste de gravidez forem negativos, a avaliação da amenorreia deve ser feita da seguinte maneira: 1. Avaliação clínica do estado estrogênico 2. TSH sérico 3. Prolactina sérica 4. Nível sérico de FSH 5. É possível considerar a US vaginal para avaliação do número de folículos antrais nos ovários (pode ajudar a fazer o diagnóstico de SOP ou sugerir IOP) 6. Exame por imagem da hipófise e avaliação hipotalâmica se houver elevação da prolactina ou suspeita de amenorreia hipotalâmica (sobretudo se houver sintomas relativos ao SNC ou se não houver explicação clara para a amenorreia hipotalâmica). Avaliação de amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal -Critérios de Ferriman-Gallwey para avaliação de hirsutismo (diagnóstico: 8 pontos ou mais) Fonte: NEJM 2005 Tratamento de amenorreia com caracteres sexuais secundários e anatomia pélvica normal -O tratamento de causas não anatômicas de amenorreia associada a caracteres sexuais secundários normais varia muito de acordo com a causa. Sempre que possível, deve-se tratar o distúrbio subjacente -Anormalidades da tireoide: administrar hormônio tireoidiano, iodo radioativo ou fármacos antitireoidianos, conforme apropriado -Hiperprolactinemia: interrupção dos medicamentos parcialmente responsáveis, a administração de agonistas da dopamina, como bromocriptina ou cabergolina, e, raramente, a cirurgia em caso de tumores hipofisários muito grandes -Quando a IOP causa amenorreia, pode-se considerar a reposição hormonal para reduzir os sintomas da menopausa e evitar a osteoporose. É indicado aconselhamento sobre os riscos e benefícios da terapia de reposição hormonal. -A gonadectomia é necessária quando há uma linhagem de células Y -Defendem-se a retirada cirúrgica, a radioterapia ou uma combinação de ambas para tratamento de outros tumores do SNC que não os prolactinomas -O tratamento da amenorreia hipotalâmica depende da causa Possibilidades reprodutivas -Para as mulheres em amenorreia que não conseguem ovular, há a possibilidade de doação de gametas ou embriões, a depender do caso, além de gestação de substituição (cessão de útero) -Resolução CFM nº 2.168/2017: Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida *IV: Doação de gametas ou embriões 1.A doação não poderá ter caráter lucrativo ou comercial. 2. Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa. 3. A idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e de 50 anos para o homem. 4. Será mantido, obrigatoriamente, sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores. *VII: Sobre a gestação de substituição (cessão temporária do útero) 1. A cedente temporária do útero deve pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau (1º – mãe/filha; segundo grau – avó/irmã; terceiro grau – tia/ sobrinha; quarto grau – prima) 2. A cessão temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial Referências -BEREK & NOVAK. Tratado de Ginecologia. Grupo GEN, 2014. 978-85-277-2398-5. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-277-2398-5/. Acesso em: 14 Nov 2020 -Cornforth, T., Sadaty, A. Body Changes During the Menstrual Circle. Very Well Health, 2019. Disponível em: https://www.verywellhealth.com/the-menstrual-cycle-3520919. Acesso em: 15 Nov 2020 -Chen, Z.-J., Shi, Y., Sun, Y., Zhang, B., Liang, X., Cao, Y., … Legro, R. S. (2016). Fresh versus Frozen Embryos for Infertility in the Polycystic Ovary Syndrome. New England Journal of Medicine, 375(6), 523–533. doi:10.1056/nejmoa1513873 -Rosenfield, R. L. (2005). Hirsutism. New England Journal of Medicine, 353(24), 2578–2588. doi:10.1056/nejmcp033496 -Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica, Resolução CMF nº 1.931/09, de 17 de setembro de 2009 -Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 2.168/2017. Publicada no D.O.U. de 10 nov. 2017, seção 1, p. 73 https://www.verywellhealth.com/the-menstrual-cycle-3520919
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