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Princípios do desenvolvimentos vegetal Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Ciências Fisiológicas Fisiologia Vegetal Profa. Dra. Cássia Pereira Coelho Profa. Dra. Silvia Aparecida Martim Roteiro Definições e Conceitos básicos essenciais ao entendimento do processo de desenvolvimento; Morfogênese vegetal; O ciclo celular e ciclo das plantas superiores; Tipos de crescimento; Principais etapas do desenvolvimento Desenvolvimento Vegetal Crescimento Morfogênese Diferenciação O Desenvolvimento é definido como a totalidade dos eventos que progressivamente formam o corpo dos vegetais, envolvendo basicamente os processos de crescimento, diferenciação e morfogênese. O desenvolvimento do vegetal é a conjuntura sequencial de fases irreversíveis que proporcionam a complementaridade do ciclo de vida. Devido sua grande plasticidade os vegetais respondem prontamente à estímulos exógenos e endógenos que atuam como desencadeadores dos distintos processos essenciais a cada fase. Em linhas gerais, fatores externos como luz, temperatura e água, e endógenos como hormônios, açúcares e alguns íons (p.ex. K+, Ca2+) atuam diretamente na indução ou repressão de um determinado processo. Para maior compreensão do desenvolvimento dos vegetais, faz-se necessário a elucidação de uma série de conceitos básicos em nível celular, molecular e genético. E um dos pontos essenciais é a real compreensão do que é crescimento e seus inerentes processos. Crescimento: Definido como o incremento que ocorre em massa seca, volume, comprimento ou área resultantes da divisão, expansão e diferenciação celular. Tem caráter irreversível e quantitativo. Divisão Celular: processo pelo qual uma célula-mãe se divide e forma duas células-filhas idênticas. Proliferação celular. Expansão Celular: Aumento do volume celular, envolve participação da água (potencial de turgor). Diferenciação: Processo pelo qual a célula adquire propriedades estruturais, metabólicas e funcionais distintas da célula meristemática que lhe deu origem Desdiferenciação: Capacidade da célula diferenciada em retornar às características da célula meristemática Todos esses eventos são dependentes da expressão gênica Totipotência: Capacidade genética para que uma célula diferenciada se desenvolva num tecido ou numa planta completa. Isso é um fator determinante para a propagação vegetativa das plantas. Rediferenciação: Diferenciação de uma célula desdiferenciada A proliferação celular é controlada precisamente, por um sistema que assegura que as células se dividam em períodos apropriados com uma fidelidade adequada. Crescimento celular Ciclo celular Divisão celular Replicação do seu genoma e divisão em células filhas Incremento da massa celular pela síntese de proteínas, lipídios e outros elementos essenciais • Aumenta a probabilidade da sua sobrevivência • Perpetua e dissemina a sua informação genética O Crescimento das plantas é o resultado de vários processos previamente estudados como a fotossíntese, a respiração, o transporte a longa distância, as relações hídricas e também a nutrição mineral. Em linhas gerais, o crescimento é resultante de um equilíbrio entre o que é produzido na fotossíntese eo que é consumido na respiração. Uma discussão mais minuciosa sobre crescimento de plantas deve ser bem cautelosa para a contextualização do papel destes distintos processos e em diferentes. Como exemplo, cita-se o caso da divisão celular, que embora seja iniciador do crescimento, é por si só insuficiente para causar o crescimento, que em sequência demanda a expansão celular e a deposição de massa no citoplasma, bem como a parede celular que determina o incremento no volume ou na massa. Assim, é necessário fazer uma breve revisão sobre a parede celular. Parede celular: uma especificidade nos vegetais Características gerais: • Estrutura rígida • Importante papel no fluxo de carbono na natureza • Importante para sustentação e proteção vegetal • Importância para o mercado do carbono • Composta, de forma geral, de celulose, hemiceluloses e substâncias pécticas. Em muitos casos são encontradas lignina e proteínas estruturais Papéis gerais da parede celular: • Determina o volume da célula • Determina a forma da célula Diretamente relacionadas aos mecanismos de expansão celular = crescimento È extremamente relevante destacar que só ocorrerá crescimento celular enquanto não houver deposição de parede celular secundária. Relembre os conceitos de parede celular primária e secundária, bem como suas composições. Os processos de divisão e expansão celular não são mutualmente independentes, uma vez que a células divide quando alcançam um determinado tamanho. Uma célula alonga após sua divisão para posteriormente dividir novamente, o que acontece antes de seu substancial alongamento. Este é um ponto que limita a fase do desenvolvimento na qual a divisão pode ocorrer, e qualquer processo que reduza a velocidade da expansão celular ocasionará em uma menor quantidade de células por folhas e raízes, e obviamente folhas e raízes menores. Uma vez que a célula passou pela divisão, ela está apta ao alongamento e a expansão, sendo necessária uma pressão de turgescência ( P, Mpa) que exceda um limite de rendimento (, Mpa). Em uma célula em expansão, este limite gira em torno de 15-50% da pressão de turgor sob condições normais. A razão proporcional da expansão pode ser calculada pela equação de Lockhasrt, na qual faz parte o coeficiente de rendimento da parede celular. O coeficiente de rendimento da parede celular é proporcionalmente constante e depende das propriedades bioquímicas e biofísicas da parede. Logo, a expansão celular um processo dirigido pelo turgor e controlado em extensão e direção pelas propriedades da parede celular primária. Fazendo uma análise bastante simplificada, é notória a interferência da parede celular (PC) no crescimento de uma célula e da planta como um todo., o que remete também à análise do papel que a PC exerce nos estágios de desenvolvimento das plantas. Alguns mecanismos fisiológicos são essenciais para que ocorra a extensibilidade da parede celular, podendo ser destacados aqui: a acidificação da parede celular e a redução do cálcio presente nas estruturas. O processo de acidificação será visto com bastante detalhes na aula de auxina, uma vez que este mecanismo é desencadeado por esse hormônio. Recapitule os fatores que são essenciais para que a célula vegetal tenha turgor!!! Esse tema foi abordado na aula de relações hídricas! A diferenciação celular é o processo pelo qual a célula vai adquirir suas propriedades metabólicas, estruturais e funcionais que as distinguirão de sua célula progenitora. Uma característica muito relevante nos vegetais é que as células diferenciadas podem se desdiferenciar. Esta habilidade retrata que uma célula vegetal diferenciada contém toda a informação genética requerida para o desenvolvimento de uma planta completa (Totipotência). Essas características das células vegetais são bastante empregadas na técnica de propagação vegetal denominada cultura de tecidos vegetais ou cultivo in vitro. Para esta prática, apenas um pequeno fragmento de um vegetal denominado de explante é utilizado para a formação de um novo indíviduo. Veja o exemplo no próximo slide. É uma técnica cara pois exige estrutura laboratorial e uso de reguladores de crescimento. http://jxb.oxfordjournals.org/content/vol53/issue374/images/large/erf006f1.jpeg Dando sequência aos processos que fazem parte do desenvolvimento do vegetal, abordaremos agora a MORFOGÊNESE, que é definida como a forma específica que a planta adquire ao longo do seu desenvolvimento.Embriogênese Processo de formação Embrião Organogênese formação órgãos Para que a morfogênese ocorra, dois processos são essenciais: Vejamos agora algumas peculiaridades do início do desenvolvimento dos vegetais: Formação do Embrião com Polaridade Caule Apical Raíz Basal Por determinar eixo estrutural do corpo: componente chave Embriogênese – formação do embrião Padrão apical-basal – eixo principal Padrão radial – arranjo concêntrico dos sistemas de tecidos; Embriogênese A embriogênese é o processo que transforma um zigoto unicelular em uma planta embrionária multicelular e microscópica, uma vez que o embrião completo tem todo o corpo básico de uma planta madura, bem como diversos tipos de seus tecidos (ainda que em uma forma rudimentar). Enquanto a formação do embrião ocorre no saco embrionário do óvulo, a junção do óvulo a estruturas associadas forma a semente. Lembrem-se que o desenvolvimento do embrião e do endosperma ocorrem paralelamente ao desenvolvimento da semente. O desenvolvimento de ambos, embrião e semente, são processos altamente ordenados e integrados que são iniciados pela dupla fertilização. Quando possuem seu desenvolvimento finalizado, tanto o embrião como a semente entram em dormência e podem sobreviver por longos períodos desfavoráveis ao crescimento. Na embriogênese das angiospermas acontece a formação do corpo rudimentar da planta o qual é constituído basicamente pelo eixo embrionário e o cotilédone. É fundamentalmente importante destacar que durante a embriogênese são estabelecidos a POLARIDADE e os dois padrões básicos que irão persistir na planta adulta denominados de PADRÃO DE DESENVOLVIMENTO AXIAL e PADRÃO RADIAL. Polaridade – uma extremidade diferente da outra “O estabelecimento da polaridade é a primeira etapa essencial no desenvolvimento de todos os organismos superiores, pois ele fixa o eixo estrutural do corpo vegetativo, a espinha dorsal sobre a qual os apêndices laterais estarão dispostos. Em algumas angiospermas a polaridade já está estabelecida na oosfera e no zigoto. O padrão axial é caracterizado por uma disposição linear dos tecidos e dos órgãos ao longo de um eixo polarizado. Nesse padrão, o meristema apical compõe uma extremidade do eixo e o meristema radicular a outra extremidade do eixo. O padrão radial é caracterizado pelo arranjamento em um padrão preciso de diferentes tecidos dentro de um órgão. Em tecidos caulinares e radiculares os tecidos são acomodados em um padrão radial que se estende do lado mais externo para o mais interno. Ao analisar um corte transversal de raíz é possível observar três anéis de tecidos dispostos ao longo do eixo radial: o mais externo que é a epiderme; o intermediário que é o córtex e o mais interno que é a endoderme. Padrão axial Padrão radial Taiz and Zeiger, Dando continuidade aos conceitos e processos que fazem parte do desenvolvimento vegetal vamos abordar a Ontogênese (Ontos= ser, ente; Génesis = criação): que em sua clássica definição significa a série de transformações sofridas pelo indivíduo que percorre desde a fecundação do óvulo até a morte. Em linhas gerais, são todas as fases que compõem o ciclo de vida do vegetal, cujas as principais etapas são: Germinação Fase Juvenil Fase Adulta Vegetativa Fase Adulta Reprodutiva (frutos: embriogênese, semente) Senescência Germinação: retomada do crescimento do embrião inicia com a absorção de água termina quando parte do embrião penetra e trespassa os tecidos que o envolvem Epígea Kerbauy, Crescimento Primário Divisão celular seguida por progressiva expansão Um dos principais mecanismos propulsores do alongamento celular envolve ação hormonal Células em crescimento e Não especializadas: Paredes celulares primárias Possível porque Teoria do crescimento ácido Durante o crescimento vegetativo ocorrerão as etapas que darão origem a novos órgãos e a forma básica das plantas, constituindo assim o denominado crescimento primário. Regiões de crescimento primário da planta Folhas Nó Internódio Gema lateral Meristema apical caule Meristemas laterais Meristema apical da raiz Crescimento lateral = Ramificação O crescimento e o desenvolvimento das raízes ocorrerá pelas suas extremidades distais, e ainda que os limites não sejam muito bem definidos podem ser distinguidas quatro zonas de crescimento: coifa, zona meristemática, zona de alongamento e zona de maturação. coifa zona meristemática zona de alongamento zona de maturação Taiz and Zeiger, 2010 Importante fazer uma breve recapitulação de o que são células meristemáticas e qual seu papel para o crescimento. Meristema lateral: crescimento secundário (em espessura) Câmbio vascular: Xilema e Floema Felogênio: Periderme (substitui a epiderme) Meristema apical caulinar O destino de cada célula é determinado pela sua posição Este meristema dá origem a internós, folhas e flores O perfil de distribuição de folhas no caule está sob o controle hormonal Meristema sub-apical da raiz Este meristema dá origem a todas as estruturas da raiz Resumindo: Os meristemas dão origem a tecidos adultos Órgãos vegetativos das Plantas Raízes Caule Folhas Órgãos reprodutivos das Plantas Inflorescências Flores Frutos Sementes Em vias gerais, o crescimento dos vegetais é dividido em dois tipos: Determinado e Indeterminado. Determinado Folhas, flores e frutos Florescimento único e morte InDeterminado Caules e Raízes Mais de um ciclo de florescimento Generalizando, os vegetais possuem ao longo de seu ciclo de vida três fases bem definidas Juvenil Adulta Vegetativa Adulta Reprodutiva Qual a principal distinção ente Juvenil e Vegetativa?? Capacidade para formação de estruturas reprodutivas Agora que os conceitos básicos foram explorados, é necessário entender quais são os fatores que comandam o desenvolvimento dos vegetais, e implicitamente, controlam as mudanças de fases que acontecem durante o ciclo de vida dos vegetais. As plantas por serem organismos sésseis possuem uma elevada plasticidade, i.e., uma grande capacidade de se adaptar a distintas condições às quais elas são submetidas. Obviamente que o fator preponderante para esta plasticidade é a perpetuação do individuo e sobrevivência da espécie. Para que a plasticidade vegetal seja eficiente é necessário uma elevada coordenação de respostas precisas e rápidas a fatores endógenos e exógenos que atuaram como elicitores dos mecanismos envolvidos. Endógenos: Expressão diferenciada de genes e sinalizações hormonais Exógenos: Luz, água, temperatura, estresses As mudanças de fase centralizam-se meristema apical caulinar vegetativo floral e de inflorescência Quando da indução de florescimento Regulação da transição do florescimento COMPLEXA E ENVOLVE Sinais múltiplos Vias múltiplas E A LUZ, só atua diretamente na Fotossíntese??? DIRETAMENTE ENVOLVIDA NA ONTOGÊNESE VEGETAL EVIDENTEMENTE QUE NÃO Processos denominados: FOTOMORFOGÊNESE FOTOPERIODISMO FOTOTROPISMOS As respostas que os vegetais apresentam em cada etapa de sua vida bem como a cada fator que atua como elicitor são bem diversificadas. Em vias gerais, todas as respostas vão envolver alterações iônicas, expressão de genes específicos e alterações hormonais. Não é passível de explorarmos todas dentro da disciplina básica de Fisiologia Vegetal. Mas considerando o fato de que os hormônios podem ser considerados os grandes maestros do desenvolvimento vegetal, e que estão presentes na grande maioria destas respostas, nas próximas aulas serão abordados os cinco hormônios que classicamente atuam nos distintos processos essenciais ao desenvolvimento dos vegetais. Aindana proposta mais básica do entendimento do funcionamento das plantas e de como é a atuação dos fatores que controlam o desenvolvimento das plantas abordaremos em sequência a atuação da luz em alguns destes processos. Cabe relembrar que a importância da luz para o desenvolvimento vegetal reside em primeira instancia no processo da fotossíntese, o qual já foi bem explorado na disciplina. Todavia, a luz possui atuação direta em outros processos também essenciais ao desenvolvimento do vegetal. Outro ponto relevante a se destacar é que, será possível nas próximas aulas perceber nitidamente que os fatores que controlam os processos inerentes ao desenvolvimento vegetal, em grande parte, atuam em conjunto.