Buscar

aula 04

Prévia do material em texto

CONTABILIDADE 
TRIBUTÁRIA
Ramon Alberto Cunha de Faria
Metodologia de cálculo para 
tributos diretos e indiretos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar a forma de metodologia aplicada para apurar tributos 
diretos e indiretos.
 � Reconhecer a metodologia aplicada para apurar tributos diretos 
e indiretos.
 � Exemplificar cada uma destas metodologias.
Introdução
Os tributos diretos, relacionados à renda, e os tributos indiretos, 
vinculados ao consumo, afetam de forma direta e cotidiana a vida das 
empresas e dos consumidores. A carga fiscal do Brasil, uma das mais 
altas do mundo, revela um foco maior em arrecadação sobre o consu-
mo do que sobre a renda, afetando diretamente a competitividade das 
empresas brasileiras. Frente a esta situação, é indispensável que você 
compreenda não apenas os conceitos de tributos diretos e indiretos, 
mas também a metodologia para apuração desses tributos. Assim, 
este texto apresenta dados e informações sobre o assunto em questão.
Análise da tributação sobre o consumo e sobre 
a renda
Você vai ver agora que o Brasil obtém seu foco de arrecadação tributária dire-
tamente sobre o consumo, o que é chamado de tributação indireta. 
Cerca de 21% da arrecadação tributária se dá sobre a renda e, 43%, sobre 
o consumo, demonstrando, portanto, que o Brasil é um país que desestimula 
o livre comércio e mantém com isto a desigualdade social. Conforme exposto 
no gráfico obtido da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nômico (OCDE), na Figura 1, fica claro que o Brasil não conta com a tribu-
tação indireta das contribuições sociais, como o PIS, COFINS e a Contri-
buição Social sobre o Lucro, dando uma margem de 26% de arrecadação com 
esses tributos.
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Se colocarmos no cálculo também as contribuições sociais, o percentual 
de tributação sobre o consumo sobe para 69%. Com esses dados, é possível 
que você tenha uma ideia de como os brasileiros sofrem com a tributação 
sobre o consumo e que seus produtos são os mais caros do mundo.
É importante que você saiba a diferença entre tributação sobre o con-
sumo (indireta) e tributação sobre a renda (direta). Assim, você terá uma 
visão mais ampla de que, para se chegar a uma justiça fiscal, é preciso dis-
tribuir a tributação de forma equilibrada tanto sobre a renda como sobre o 
consumo.
Em países como o Estados Unidos, a tributação sobre o consumo não passa 
dos 30%; seu maior foco é na tributação sobre a renda, em que o percentual 
chega a 38%. É a forma inversa de tributação que o Brasil usa.
No gráfico apresentado na Figura 1, você verá claramente a diferença do 
Brasil em relação a outros países no que diz respeito à tributação sobre o con-
sumo e sobre a renda.
Figura 1. Tributação sobre o consumo e sobre a renda em diferentes países.
Fonte: OCDE – países com mais de 10 milhões de habitantes.
Uma análise simples e simbólica pode demonstrar como a tributação sobre 
o consumo prejudica mais os pobres do que os ricos.
Contabilidade tributária2
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Imagine que uma pessoa dita “rica” ganhe R$ 40.000,00 por mês. Parte 
desse dinheiro ela aplicará, e parte deixará para seu consumo. O que ela 
aplicou irá gerar mais riqueza, não afetando com isso sua renda, já que a 
tributação sobre a renda é de 21%. Então, parte do que ela ganhar poderá ser 
recuperada dessa perda, por ela ter uma capacidade maior de ter seu dinheiro 
investido.
Agora, veja o exemplo de uma pessoa dita “pobre”, que ganhe R$ 900,00 
por mês. O seu dinheiro terá de ir todo para o consumo, ela não terá como 
investir uma parte para sua rentabilidade. Tendo em vista que o Brasil tem 
seu foco de tributação sobre o consumo, que é de 44%, fica claro que o pobre 
suporta uma carga tributária muito maior do que as pessoas ricas.
Esta é uma análise resumida sobre a tributação direta e indireta, e de como 
essa classificação afeta tanto a faixa mais pobre da população.
Metodologia aplicada aos tributos diretos
Por premissa, você considera que as metodologias de cálculos para tributos 
diretos serão sempre por alíquotas fixas e crescentes, de acordo com o valor 
do bem tributável. Por exemplo, no conceito de imposto sobre a renda, você 
utiliza uma tabela progressiva, na qual quanto maior for o rendimento, maior 
será a alíquota efetiva a ser tributada. 
Neste cálculo, inclui-se também os dependentes, a parcela paga de INSS 
e também um valor ao qual o governo permite deduzir do imposto a pagar, 
conforme você pode ver na Tabela 1.
Fonte: Receita Federal do Brasil. 
Base de cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a 
deduzir do IRPF
Até 1.903,98 - -
De 1.903,99 até 2.826,65 7,5 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13
Acima de 4.664,68 27,5 869,36
Tabela 1. Incidência mensal.
3Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Você verá uma simulação para cálculo do IRPF mensal (considerado como 
tributo direto) e como se dá sua incidência em um salário base de R$ 5.000,00, 
em que o contribuinte possua 1 dependente e pague a previdência social um 
valor de R$ 558,94 (11,18% INSS). 
A alíquota de 11,18% de INSS está de acordo com as novas faixas de contribuição de 
INSS para os trabalhadores, que passaram a valer a partir de 01/03/2020. Com a reforma 
da previdência de 2019, as alíquotas do INSS passaram a ser aplicadas a cada faixa do 
salário progressivamente, semelhante ao que já ocorria no IRPF. Você pode ler mais 
sobre isso no texto “Muda cálculo para pagar INSS; fica mais caro ou barato conforme 
salário”, de Ricardo Marchesan, publicado no portal do Uol (BRASIL, 2020).
Figura 2. Simulação para cálculo do IRPF mensal.
Fonte: Receita Federal – Simulador de IRPF.
(Continua)
Contabilidade tributária4
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Figura 2. Simulação para cálculo do IRPF mensal.
Fonte: Receita Federal – Simulador de IRPF.
(Continuação)
Para fazer o cálculo do IRPF, utilize a Simulação de Alíquota Efetiva de 2020, disponível 
no site da Receita Federal.
Na simulação, você verá que o valor do imposto de renda é de R$ 320,45, 
descontado em folha no momento do pagamento. A alíquota efetiva do IRPF 
corresponde a 6,41% do salário base. Portanto, você verá que o Brasil tem a 
tendência de tributar mais o consumo do que a renda. Esse método servirá de 
análise para que você entenda este mecanismo próprio do governo brasileiro. 
Como você pode observar, o método de cálculo direto sobre a renda (sa-
lário, aluguel, aplicação financeira) para calcular o imposto de renda obedece 
aos princípios da capacidade contributiva, a progressividade do rendimento, 
ou seja, quanto maior a renda, maior será alíquota efetiva. 
O conceito de método progressivo de tributação direta é também utilizado 
para apurar o IPTU. 
5Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Metodologia aplicada aos tributos indiretos
As metodologias para calcular os tributos indiretos variam de acordo com a 
espécie tributária e também dependem de seu regime tributário (simples na-
cional, lucro presumido ou lucro real). 
Os tributos indiretos são:
 � ICMS;
 � IPI;
 � PIS;
 � COFINS;
 � CIDE – Combustível;
 � ISS, entre outros.
A metodologia de cálculo para incidência do ICMS obedece a princípios 
constitucionais tributários, ao quais o legislador observou ao fazer incidir tal 
tributo sobre os consumos, como: não cumulatividade, valor para base de cál-
culo, fato gerador, contribuinte passivo, responsável tributário, entre outros 
aspectos materiais, espaciais e temporais. 
No exemplo do ICMS (imposto indireto de maior incidência sobre o con-
sumo), credita-se o seu valor decorrente da compra de mercadoria, e debita-
-se o valor do ICMS referente a venda. A diferença será o ICMS a pagarou 
recuperar (se o resultado for credor, será lançado em conta a recuperar, e se o 
resultado for devedor, seu lançamento será em conta de recolhimento). Este 
método é bem resumido e simplificado, não ensejando o cálculo por completo, 
apenas para elucidar de forma didática sua sistemática de apuração.
Entre outros tributos indiretos temos também o IPI, como estudado an-
teriormente, que obedece ao mesmo princípio e regra do ICMS. Somente no 
caso do PIS/COFINS é que a base de cálculo será o resultado (receita bruta) 
de determinado negócio, ensejando a aplicação da alíquota sobre a base de 
cálculo apurada. 
Os consumidores finais, ao consumirem seus produtos e serviços, não 
percebem o quanto estão pagando de impostos, pois os tributos indiretos não 
aparecem no preço final dos produtos e serviços adquiridos. Foi por isso que 
a sociedade se moveu e criou uma medida sócio educativa chamada “De Olho 
no Imposto”, que depois virou a Lei nº 12.741/2012, que obriga as empresas a 
destacarem em documento fiscal os valores dos tributos indiretos, conforme 
modelo de um documento fiscal exposto a seguir:
Contabilidade tributária6
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
Figura 3. Cupom fiscal com descriminação da carga tributária.
O Instituo Brasileiro de Pesquisas Tributárias (IBPT) criou este mecanismo 
para que os consumidores ficassem atentos aos impostos indiretos que incidem 
sobre o consumo dos produtos e serviços adquiridos e repassados a eles. 
Este instrumento ainda precisa ser aperfeiçoado, porque os valores dos tri-
butos indiretos são difíceis de serem obtidos, pois é sobre a cadeia produtiva 
que recaem esses impostos, ou seja, começa pelos fabricantes a repassarem 
esses tributos aos varejos, e eles aos atacados, e eles aos comércios, e por úl-
timo, ficando com todo o ônus dos tributos indiretos os consumidores finais.
7Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1
BRASIL. Novas alíquotas da Previdência entram em vigor em março. Brasília: Ministério da Eco-
nomia, 2020. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/2020/02/novas-aliquotas-da-
-previdencia-entram-em-vigor-em-marco/. Acesso em: 9 abr. 2020.
KMPG. Tributos indiretos no Brasil: abordagem da gestão de risco e criação de valores nos ne-
gócios. [São Paulo: KPMG], c2010. Disponível em: <http://www.kpmg.com.br/publicacoes/
tax/impostos_indiretos/Tributos_Indiretos_no_Brasil.pdf>. Acesso em: 13 set. 2016.
MACHADO SEGUNDO, H. B. Direito tributário e financeiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
Leitura recomendada
CARVALHO, P. B. Curso de Direito Tributário. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Contabilidade tributária8
Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1

Continue navegando