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Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 TUTORIA 4-MÓDULO 2-INTERMEDIÁRIA HIV/AIDS Objetivo 01: Descrever a história natural da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, aspectos clínicos da infecção aguda, latência clínica, fase sintomática e AIDS. (Up to date/ CM USP) FASES DA INFECÇÃO PELO HIV Transmissão viral. Infecção aguda por HIV (Infecção primária por HIV ou síndrome de soroconversão aguda). Infecção crônica por HIV: Infecção crônica, sem AIDS / AIDS, caracterizada por uma contagem de células CD4 <200 células/microL ou a presença de qualquer condição definidora de AIDS / Infecção avançada por HIV, caracterizada por uma contagem de células CD4 <50 células/microL. INFECÇÃO AGUDA E PRECOCE POR HIV: -Usamos o termo "infecção precoce do HIV" para nos referir ao período aproximado de seis meses após a aquisição do HIV. Estágios de infecção precoce: -A detecção da infecção precoce pelo HIV é facilitada por testes de HIV que detectam o antígeno p24 do HIV antes da soroconversão (ou seja, antes do estágio 3 de Fiebig). Apresentação clínica: -A infecção aguda por HIV sintomática é caracterizada por febre, linfadenopatia, dor de garganta, erupção cutânea, mialgia / artralgia, diarreia e cefaleia (frequentemente descrita como uma doença semelhante à mononucleose). No entanto, até 60 por cento dos indivíduos com infecção primária pelo HIV serão assintomáticos. -Sintomas de infecção aguda ocorrem após período de incubação de 2 a 3 semanas e estão presentes em 40 a 90% dos casos. -Os sintomas geralmente persistem por 2 semanas, porém, podem durar por até meses. -O exantema da infecção aguda por HIV caracteriza-se como maculopapular, eritematoso, pode acometer tronco, face e extremidades, inclusive palmas e plantas. Lesões ulceradas aftosas podem ser observadas na boca, no esôfago e na região genital. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 Manifestações neurológicas podem ser diversas, desde cefaléia inespecífica até quadros de meningoencefalite ou meningite asséptica, neuropatia periférica ou radiculopatia, paralisia facial, síndrome de Guillain-Barré, neurite braquial e alterações comportamentais. -Outras manifestações clínicas raras relacionadas à infecção aguda por HIV foram descritas: glomerulonefrite lupus-like, linfoistiocitose hemofagocítica, linfoma de Burkitt e candidíase esofágica. -RNA plasmático muito alto. A contagem de células CD4 pode cair temporariamente. -A presença de uma doença sintomática prolongada (> 14 dias) durante a infecção inicial parece estar correlacionada com uma progressão mais rápida para AIDS. -Dx: quadros mononucleose símiles, como infecções agudas por vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, toxoplasmose e doença de Chagas, sífilis secundária, rubéola e farmacodermia. Soroconversão: -A soroconversão se refere ao desenvolvimento de anticorpos detectáveis contra antígenos do HIV. Estabelecimento do ponto de ajuste viral: -Aproximadamente seis meses após a infecção, a viremia plasmática atingiu um nível de estado estacionário (ponto de ajuste viral); as células CD8 citotóxicas desempenham um papel crítico na obtenção desse equilíbrio e na prevenção do declínio adicional no compartimento das células CD4. -O nível do ponto de ajuste viral está intimamente associado à taxa de progressão da doença na ausência de ART; este nível é altamente variável. INFECÇÃO POR HIV CRÔNICA, SEM AIDS: Período de infecção crônica por HIV que é caracterizado por relativa estabilidade do nível viral e um declínio progressivo na contagem de células CD4. Na ausência de terapia antirretroviral (TARV), o tempo médio desde a aquisição do HIV até uma contagem de células CD4 <200 células / microL é de aproximadamente 8 a 10 anos. Manifestações clínicas: -Alguns pacientes apresentam sintomas e sinais generalizados / inespecíficos, como fadiga, suores ou perda de peso. Além disso, pessoas com HIV neste estágio da doença podem ter linfadenopatia generalizada no exame físico. Isso é referido como "linfadenopatia generalizada persistente" quando os linfonodos aumentados envolvem pelo menos dois locais não contíguos além dos linfonodos inguinais por mais de três a seis meses sem uma explicação alternativa. -Modestamente aumentados, móveis, indolores, emborrachados e localizados nas cadeias cervical, submandibular, occipital e axilar. -A foliculite bacteriana, principalmente causada por Staphylococcus aureus, também é comum (S. aureus resistente à meticilina (MRSA) adquirido na comunidade). As manifestações de infecções por vírus herpes simplex, vírus varicela-zóster e vírus do papilomavírus humano costumam ser mais graves. Condições comórbidas devido à ativação imunológica: -Alguns pacientes com infecção crônica por HIV desenvolvem evidências de comorbidades (doença cardiovascular, osteoporose, disfunção cognitiva e certas Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 doenças malignas) em idades mais jovens, em comparação com indivíduos sem HIV. Acredita-se que isso esteja relacionado à inflamação crônica, ativação imune ou imunosenescência. Declínio da contagem de CD4: Tempo médio estimado entre a infecção e a contagem de células CD4 diminuiu para <500 células / microL é 1,19 anos. -O rápido declínio das células CD4 periféricas nos estágios iniciais da infecção pelo HIV pode refletir a destruição das células CD4 ou uma mudança das células CD4 do sangue periférico para o tecido linfático. Após um ano, a taxa de declínio das células CD4 diminui, com média de redução de cerca de 50 células / microL por ano, com uma variação de 30 a 90 células / diminuição microL por ano. -Tal como acontece com o esgotamento das células CD4, a imunidade humoral diminui com o tempo. AIDS E INFECÇÃO AVANÇADA COM HIV: Definição: AIDS é o resultado da infecção crônica pelo HIV e consequente depleção das células CD4. É definido como uma contagem de células CD4 <200 células / microL ou a presença de qualquer condição definidora de AIDS independentemente da quantidade de CD4. -O termo infecção avançada por HIV é frequentemente usado para se referir à infecção quando a contagem de células CD4 é <50 células / microL. Condições definidoras: Estes incluem principalmente infecções oportunistas, mas também certas doenças malignas, bem como condições sem etiologia alternativa clara que se acredita estarem relacionadas à própria infecção não controlada pelo HIV, como debilitação ou encefalopatia. *Certas infecções oportunistas, como M. avium disseminado, doença por citomegalovírus e meningite criptocócica ocorrem predominantemente com uma contagem de células CD4 <50 células / microL. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -O Ministério da Saúde do Brasil (MS) adotou a relação de doenças definidoras de CDC modificada com objetivo de adequá-la ao perfil de morbidade do país. Critério Rio de Janeiro/Caracas: -Atualmente, ambos os critérios são utilizados de forma não excludente. É importante notar que para a utilização de ambos é necessário que o paciente tenha evidência laboratorial da infecção pelo HIV. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 Manifestações na AIDS: Podem ser causadas por agentes oportunistas, neoplasias ou pelo próprio HIV. -ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS: citopenias isoladas (anemia, leucopenia, plaquetopenia) ou combinadas. Descobertas adicionais: -Candidíase, leucoplasia, dermatite seborreica e outras infecções podem se desenvolver com contagens de CD4 mais altas, mas ocorrem com maior frequência e gravidade quando a contagem de CD4 é <200 células / microL. -Achados dermatológicos comuns adicionais na AIDS incluem foliculite eosinofílica, xerose e prurigo nodular. Molusco contagioso,angiomatose bacilar, exacerbação da psoríase e infecções por escabiose também são mais frequentes com imunossupressão avançada e podem ter apresentações atípicas graves. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -As aberrações hematológicas também são comuns no contexto da AIDS. Anemia, leucopenia, linfopenia e / ou trombocitopenia. -A hipergamaglobulinemia policlonal é frequentemente observada. Prognóstico: -A morte por AIDS ainda ocorre em indivíduos com diagnóstico tardio e naqueles que têm dificuldade de se envolver em cuidados ou aderir à TARV. Na ausência de TARV eficaz, a sobrevida média de pacientes com infecção avançada por HIV (contagem de células CD4 <50 células / microL) é de 12 a 18 meses. -Para alguém com contagem de CD4 abaixo de 200 células / microL, e especialmente para uma pessoa com contagem de CD4 abaixo de 50 células / microL, os 6 a 12 meses após o início da TARV podem ser complicados pela síndrome inflamatória de reconstituição imune. FATORES QUE INTERFEREM NA PROGRESSÃO DA DOENÇA A taxa de progressão da infecção pelo HIV mostra uma enorme variação individual de paciente na ausência de terapia anti-retroviral (TARV). Normalmente, os indivíduos com HIV que não tomam ART experimentam uma perda lenta e progressiva de células T CD4 e progridem para AIDS ao longo de 5 a 10 anos. No entanto, alguns pacientes progridem para AIDS de forma relativamente rápida, mesmo dentro de um a dois anos após adquirirem o HIV, enquanto outros raros indivíduos mantêm cargas virais baixas e contagens de CD4 normais por> 10 anos sem tratamento (isto é, "controladores de HIV"). Contagem de CD4 e carga viral: carga viral média é de 30.000 a 50.000 cópias / mL e a taxa média de declínio das células CD4 ("declive de CD4") é de cerca de 50 / microL por ano. Outros fatores virais: HIV tipo 1 leva a uma progressão mais rápida da doença do que o HIV tipo 2 [África Ocidental ou áreas com laços históricos com a África Ocidental, como Portugal, Espanha e Goa, na Índia]. HIV-2 leva a níveis mais baixos de viremia, declínios mais lentos na contagem de células CD4 e um período mais longo de infecção crônica assintomática. Vários subtipos de HIV-1 (clades A a J) dentro do grupo M podem variar em imunogenicidade, cinética de replicação, padrões de transmissão e patogênese, e o subtipo também pode influenciar a progressão da doença. Uso do co-receptor CXCR4 podem ser mais virulentas e levar a uma progressão mais rápida da doença. Fatores imunológicos e genéticos: Números absolutos baixos de células T CD8 + específicas para HIV correlacionam-se com resultados de sobrevivência ruins. A presença do alelo HLA-B57 foi associada a um ponto de ajuste viral inferior após a infecção aguda pelo HIV. Homozigotos CCR5-delta 32 são altamente resistentes à infecção por HIV. Coinfecções: Coinfecção com Mycobacterium tuberculosis acelera a imunodeficiência associada ao HIV e aumenta os níveis de viremia. Infecção por Treponema pallidum, fúngica, infecções helmínticas. Ao contrário de outras infecções, a coinfecção com vírus linfotrópico T humano tipo I (HTLV-I) ou vírus linfotrópico T humano tipo II (HTLV-II) pode aumentar a contagem absoluta de CD4. Demografia: Aumento da idade no momento da infecção pelo HIV está associado a uma progressão mais rápida para AIDS na ausência de TARV. Uso de substâncias: Drogas, como opióides, podem aumentar a replicação do HIV in vitro. Podem dificultar a adesão ao tratamento. Foi demonstrado que o uso de álcool diminui os níveis de contagem de CD4. Objetivo 02: Discutir os aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e quadro clínico da infecção pelo HIV. (CM USP/ Manual CM/ Harrison) EPIDEMIOLOGIA Ocorrem, a cada ano, 4,1 milhões de novas infecções e 2,8 milhões de mortes por HIV/aids. Até o final de 2017, o número estimado de casos de infecção pelo HIV no mundo inteiro era de cerca de 36,9 milhões, dois terços dos quais estão na África https://www.uptodate.com/contents/the-natural-history-and-clinical-features-of-hiv-infection-in-adults-and-adolescents/abstract/94,95 Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 subsaariana; aproximadamente 47% dos casos acometeram mulheres e 2,6 milhões acometeram crianças. Em 2017, houve 1,8 milhões de novas infecções por HIV no mundo todo, e 940.000 milhões de mortes. A maioria das novas infecções concentra-se na África subsaariana; as relações heterossexuais, principal modo de transmissão, respondem por 85% de todas as infecções; a transmissão por uso de drogas intravenosas (UDIV) é concentrada principalmente no leste europeu e nas regiões central e sudoeste da Ásia. A principal característica atual da epidemia é a feminização: 42% das infecções em todo o mundo e 70% na África subsaariana ocorrem em mulheres. Adolescentes do sexo feminino têm risco três a seis vezes mais elevado do que homens de contrair o HIV. A maioria das infecções é transmitida para adultos jovens, com menos de 25 anos. FR: Hábitos sexuais, idade e número de parceiros, infecções sexualmente transmitidas [+carga viral aumentada na infecção aguda e avançada], mobilidade populacional relacionada a guerras e desastres naturais, uso de álcool e drogas recreacionais e prevalência do HIV na população são fatores que explicam parcialmente os riscos de aquisição do agente. A transmissão do HIV em mulheres em idade fértil traz, adicionalmente, o risco da transmissão vertical (TV). -AIDS NO BRASIL: Calcula-se que haja 593.787 pessoas, entre 15 e 49 anos, infectadas pelo vírus em nosso meio. A prevalência atual da infecção é de 0,6% da população geral, 0,8% da população masculina e 0,4% da população feminina [velocidade de transmissão de HIV para mulheres é mais elevada]. A epidemia, inicialmente concentrada nas regiões sudeste e sul, atingiu todos os estados brasileiros. Estabilização iniciada na região sudeste em 1998, alcançou a região sul em 2003; as demais regiões mantêm taxas de incidência crescentes até hoje. A transmissão por UDIV, particularmente intensa no centro-oeste, sul e sudeste do país, tem sido uma forma eficaz para atingir as mulheres, por meio das relações heterossexuais e, com menor importância, da transmissão sanguínea. A cobertura nacional de sorologia para o HIV em gestantes é de 63%, com grandes disparidades regionais, variando de 31% na região norte para 75% nas regiões sul, sudeste e centro-oeste. Adicionalmente, observam- se disparidades sociais, com coberturas de 25% entre mulheres analfabetas e 82% entre universitárias. Desde 2000 ocorrem 6,4 óbitos/100 mil habitantes anualmente. Entretanto, esta queda não atinge toda a população: a proporção de óbitos por aids entre negros e pardos, em ambos os sexos, entre 1998 e 2004, teve crescimento persistente, resultante das iniquidades de acesso aos serviços de saúde. O ganho em sobrevida obtido com o TAR é de 160 meses/pessoa. PREVENÇÃO DA INFECÇÃO POR HIV Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 As medidas essenciais para a prevenção da transmissão do HIV englobam: estratégias que atuam nos mecanismos de transmissão; programas de prevenção e tratamento do HIV e doenças sexualmente transmissíveis (DST); prevenção do HIV na comunidade; novas estratégias e pesquisas sobre prevenção; desenvolvimento de vacinas preventivas. PROGRAMA DE PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE HIV E DST: Na identificação de qualquer DST, o diagnóstico de HIV deve ser sempre considerado, da mesma forma que os pacientes vivendo com HIV/aids devem ser avaliados para outras DST. PREVENÇÃO DO HIV NA COMUNIDADE: “ABC” da prevençãoA [abstinência sexual até o casamento e/ou adiamento do início da vida sexual] / B [fidelidade e/ou testagem para o HIV] / C [condom-Preservativo]. -Para elevar a taxa de diagnóstico deHIV, é necessário desestigmatizar o processo de testagem e interligar clínica e prevenção. Papel da UBS. PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO SEXUAL E EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: -Violência sexual, como estupro e outras agressões, como acidental, na qual a fonte é sabidamente HIV positiva, ocorrência relativamente frequente em casais soro-discordantes. -Profilaxia deve ser iniciada preferencialmente em um prazo de 72 horas. Para a profilaxia, são recomendados esquemas com três drogas, com duração de 28 dias. -O profissional exposto deve realizar sorologia para diagnóstico da infecção por HIV prontamente, com o objetivo de conhecer sua situação de base. Nos casos negativos, a sorologia deve ser repetida em 6, 12 e 24 semanas. -A sorologia do paciente- fonte deve ser realizada sempre que possível, mesmo após o início da profilaxia, para suspendê-la nas situações em que a sorologia da fonte for negativa. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 NOVAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO: -Circunsição: homens circuncidados têm redução de risco de aquisição de HIV, em relações heterossexuais, da ordem de 60%. A superfície perfície interna do prepúcio é uma região menos queratinizada, sujeita a lesões traumáticas durante o intercurso sexual e rica em células de Langerhans, sendo mais vulnerável à infecção por HIV. -Supressão de herpes simples: supressão de HSV-2 com aciclovir como forma de reduzir a infecção do HIV. -Microbicidas: compostos a serem aplicados na vagina ou no reto para a proteção de infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV. -Profilaxia pré-exposição: administração profilática diária de ARV (tenofovir e tenofovir + emtricitabina) para indivíduos soronegativos com alto risco de exposição ao HIV (UDIV, HSH e mulheres com alto risco) na redução da transmissão do HIV. Limitações: custo e o potencial de desenvolvimento de resistência aos ARV. FISIOPATOLOGIA ASPECTOS VIROLÓGICOS DO HIV: -O HIV classifica-se entre os retrovírus, no gênero Lentivírus. Variantes genômicas: HIV-1 e HIV-2. -De sua superfície, projetam-se espículas compostas de glicoproteínas, responsáveis pela interação do vírion com receptores localizados na membrana celular das células-alvo da infecção. No interior da partícula, localiza-se o material genético viral, composto de duas fitas simples de RNA. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -O genoma viral com cerca de 9.000 pares de bases compreende vários segmentos gênicos, responsáveis pela codificação de proteínas estruturais do core e do envelope, das enzimas imprescindíveis ao ciclo replicativo, como transcriptase reversa, integrase e protease viral, e, ainda, das proteínas reguladoras. -A infecção humana por HIV inicia-se pela invasão das células-alvo, após interação de glicoproteínas do envelope viral com moléculas da superfície celular. Após interiorização da partícula, sucedem-se as várias etapas do ciclo replicativo. *Ocorrem assim, sucessivamente, a liberação citoplasmática do RNA viral, a síntese da molécula de DNA complementar (DNAc) por transcrição reversa, a translocação nuclear do DNAc e a integração deste ao genoma da célula do hospedeiro uma vez estimulado por ativação celular, expressar as proteínas virais, possibilitando a montagem de novos vírions e sua conseqüente liberação da célula por mecanismo de brotamento. -Os vírus HIV-1 são divididos em três grupos: M, N e O. Atualmente, são conhecidos nove subtipos do HIV-1 e várias formas que resultam da recombinação genética de dois ou mais subtipos. O subtipo C é responsável por até 60% de todas as infecções por HIV no mundo. No Brasil, apesar de o subtipo viral B ser predominante, verifica-se participação também dos subtipos F e C. PATOGENIA: -A transmissão sexual do HIV-1 pode ocorrer por exposição das mucosas do trato genital e gastrointestinal a sêmen, fluido pré- seminal, secreção cervicovaginal ou sangue contaminados [Esses vírus são transmitidos por contato sexual; por transfusão de sangue ou hemoderivados contaminados, por agulhas e seringas contaminadas e compartilhadas por usuários de drogas IV; no intraparto ou período perinatal da mãe para o lactente; ou pelo leite materno]. As DSTs aumentam a concentração do HIV-1 nas secreções mucosas, elevando o risco de transmissão do vírus. -Transmissão sexual resulta em infecção de número restrito de linfócitos T CD4+, macrófagos e células dendríticas da lâmina própria. A gp120 do HIV tem a capacidade de se ligar à molécula de CD4, a receptores de quimiocinas e a lectinas. -Os receptores de quimiocinas são expressos na superfície de linfócitos T, macrófagos e células dendríticas. -O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) desempenha um papel no estabelecimento da infecção e na depleção precoce das células T CD4+ de memória. -As lectinas permitem que o HIV infecte outros tipos celulares que não expressam o receptor CD4, como espermatócitos, astrócitos, oligodendrócitos e células epiteliais. A gp120 é altamente glicosilada, possibilitando escape da resposta imune. -O vírus tem maior tropismo pelo co-receptor de entrada na célula CCR5 da linhagem macrofágica. Vírus com tropismo para o co- receptor CXCR4 surgem em estágios tardios da infecção. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -O vírus pode infectar as células de Langerhans ou aderir a receptores de sua superfície (CD4, moléculas MHC classes I e II, CCR5, DC-SIGN, ICAM-1, receptor de Fc e de complemento). Assim, a célula de Langerhans pode apresentar o HIV-1 para linfócitos T CD4+ da lâmina própria da mucosa ou de linfonodos periféricos, culminando com ativação e infecção desses linfócitos. -A infecção por HIV afeta todas as funções do sistema imune do hospedeiro, envolvendo tanto linfócitos T como linfócitos B, células apresentadoras de antígeno, células “Natural Killer” (NK) e neutrófilos. ->Progressão da doença -A destruição dos linfócitos T CD4+ na infecção crônica resulta de interação entre o vírus e o sistema imune que afeta os mecanismos de homeostasia celular, havendo destruição de linfócitos T CD4+ de memória específicos contra o HIV e limitação da produção de linfócitos T CD4+ naive. Os linfócitos T CD4+ são destruídos por citotoxicidade celular dependente de anticorpos, auto-imunidade, efeito citopático viral, formação de sincícios aglutinando células infectadas e não infectadas, e por apoptose. -Dentre os efeitos citopáticos diretos do HIV temos: lesão da membrana plasmática (partículas e proteínas virais), alteração de permeabilidade da membrana plasmática (Vpu), herniação da carioteca e aumento de permeabilidade da membrana mitocondrial (Vpr). -HIV induzindo apoptose: os linfócitos ativados expressam mais as proteínas Fas e Fas-L; a protease do HIV inativa a proteína celular anti-apoptótica Bcl-2; a proteína Tat diminui a expressão da proteína Bcl-2 e aumenta a expressão de proteínas pró-apoptóticas em células infectadas e em células vizinhas; as proteínas Nef e Vpu também induzem a apoptose celular em células infectadas e em células vizinhas; a proteína Vpr prolonga a fase G2 celular; a ligação da gp120 aos receptores de quimiocinas pode induzir células não infectadas à apoptose. -Além do aumento da destruição de linfócitos T CD4+, a ação supressora da proteína Tat e a infecção de células do estroma da medula óssea pelo HIV diminuem a produção de novos linfócitos T CD4+. -O HIV causa destruição de linfócitos T CD8+ por citotoxicidade direta. A apoptose igualmente se mostra importante, uma vez que o aumento da expressão de Fas-L na superfície de linfócitos T CD4+ leva-os a interagircom receptores Fas dos linfócitos T CD8+, e as glicoproteínas do envelope viral interagem como receptor de quimiocina CXCR4 de linfócitos T CD8 não infectados, induzindo a apoptose T CD8+ apresentam redução de sua ação citotóxica havendo menor produção de perforinas, expressão de Fas-L e indução de apoptose de células infectadas. -A infecção por HIV leva à redução do número e à alteração da função de células dendríticas, com diminuição de sua produção de interferon-alfa e de sua capacidade de estimular os linfócitos T a iniciar uma resposta imune. Além disso, a disfunção de linfócitos T CD4+ também diminui a capacidade das células dendríticas ativarem os linfócitos T CD8+. -Células da linhagem macrofágica são ricas em receptores de quimiocinas, sendo infectadas pelo HIV-1, principalmente por meio do receptor CCR5, embora outros receptores como CCR3, CCR2b e CXCR4 também possam ser utilizados. As células infectadas apresentam deficiência de migração, fagocitose e de mecanismos de lise de parasitas intracelulares, além de desregulação na produção de citocinas e quimiocinas. -A infecção por HIV está associada à hipergamaglobulinemia e hiperativação inespecífica de linfócitos B, embora sua habilidade de responder a antígenos esteja reduzida. Essa disfunção provavelmente é responsável pelo aumento de infecções bacterianas observado em fases avançadas da aids em adultos e pela morbidade e mortalidade de infecções bacterianas em crianças infectadas pelo HIV. -A diminuição da capacidade proliferativa dos linfócitos B deve-se a reduzida expressão de receptores de IL-2 de alta afinidade (CD25) e a hiporresponsividade ao CD40L. Como o linfócito T CD4+ amplifica a resposta imune humoral, sua deficiência também acarreta disfunção de linfócitos B. -A imunidade inata também é acometida na infecção pelo HIV. As células natural killers (NK) apresentam diminuição numérica e deficiência em sua citotoxicidade direta e dependente de anticorpos, com menor capacidade de secretarem interferon-gama e quimiocinas. -Os neutrófilos apresentam menor capacidade fagocítica, estresse oxidativo, degranulação, lise de bactérias intracelulares, produção de interleucina-8 e expressão de seus receptores na superfície celular. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -Os receptores para frações do complemento na superfície de linfócitos T, linfócitos B, monócitos, macrófagos e células dendríticas foliculares facilitam a infecção pelo HIV. O vírus opsonizado também tem maior facilidade de interação com linfócitos B do sangue periférico. Com a ativação do complemento, há liberação das anafilotoxinas (C3a, C4a e C5a). A fração C5a ativa monócitos e macrófagos, tornando-os mais suscetíveis ao HIV, provavelmente devido à secreção de citocinas como TNF e IL-6. QUADRO CLÍNICO INFECÇÃO AGUDA: -Corresponde ao período que se segue após o estabelecimento da infecção primária. Nessa fase, ocorre a disseminação do vírus pelos linfócitos T infectados ou das partículas virais livres para vários órgãos-alvo como trato gastrintestinal, medula óssea, linfonodos, baço e sistema nervoso central. Observa-se, nesse período, pico de viremia resultante de altas taxas de replicação viral. FASE LATENTE: -Oscilação do nível de T CD4+ e da carga viral, com depleção lenta e progressiva das células T CD4+, até atingir a fase de imunodeficiência estabelecida. -Alguns fatores influenciam na progressão mais precoce para aids: presença de manifestação clínica de infecção aguda, menor nível de T CD4+ antes da estabilização na fase de latência (set point) e soroconversão tardia durante a fase da infecção primária. AIDS: -Caracteriza-se pela manifestação de doenças secundárias à deterioração imunológica. O paciente pode apresentar infecções por agentes oportunistas, doenças neoplásicas e quadros clínicos causados pela infecção crônica do próprio HIV. -Condições definidoras, critérios, contagem de CD4. Objetivo 03: Conhecer a abordagem do paciente infectado pelo HIV quanto as manifestações iniciais, exame físico e exames complementares no diagnóstico e segmento desse paciente. (CM USP/ Manual CM/ Harrison) DIAGNÓSTICO DO PACIENTE Depende da demonstração de anticorpos anti-HIV e/ou detecção do vírus ou um de seus componentes. O exame de rastreamento-padrão da infecção pelo HIV consiste na detecção de anticorpos anti-HIV por imunoensaio enzimático (EIA). Esse teste é altamente sensível (> 99,5%) e muito específico. O Western blot detecta anticorpos contra antígenos do HIV de pesos moleculares específicos. Os anticorpos anti-HIV começam a aparecer em 2 semanas de infecção, e o período de tempo entre a infecção inicial e a produção de anticorpos detectáveis raras vezes é > 3 meses. Os níveis plasmáticos do antígeno p24 aumentam durante as primeiras semanas após a infecção, antes do aparecimento dos anticorpos anti-HIV. O material genético do HIV pode ser detectado utilizando PCR da transcriptase reversa (RT-PCR), ensaio do DNA ramificado (bDNA) ou ensaio baseado na sequência do ácido nucleico (NASBA). Esses testes mostram-se úteis em pacientes com EIA positivo ou indeterminado e Western blot indeterminado. A. Algoritmo incluindo o uso de um Western blot. *Um Western blot indeterminado estável 4-6 semanas depois torna improvável a infecção por HIV. Porém, ele deve ser repetido duas vezes a intervalos de 3 meses para descartar infecção por HIV. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 De modo alternativo, pode-se testar para o antígeno do HIV-1 p24 ou para o RNA do HIV. EIA, imunoensaio enzimático. B. Algoritmo do CDC sem incluir o uso de Western blot. ABORDAGEM DO PACIENTE COM HIV Médicos não especialistas são, frequentemente, responsáveis pelo diagnóstico e pela conduta inicial para esses pacientes, e devem ser capazes de: (1) aconselhar pacientes quanto à prevenção da infecção; (2) reconhecer as diferentes apresentações da infecção por HIV, diagnosticar e dar cuidados iniciais ao paciente recém- diagnosticado; (3) estar familiarizado com os cuidados básicos para atender adequadamente pacientes sem acesso à assistência especializada. Uma vez confirmado o diagnóstico de infecção por HIV/aids, a avaliação inicial do paciente envolve o estadiamento clínico da infecção, o diagnóstico e o tratamento de comorbidades associadas ou não à infecção por HIV, a avaliação da indicação de tratamento anti-retroviral e de profilaxias para infecções oportunistas, a avaliação das necessidades do paciente quanto a aconselhamento, educação e apoio psicológico e social, o planejamento de imunizações e do seguimento clínico do paciente, e o desenvolvimento de estratégias para prevenir a transmissão do HIV. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO: -É importante que o médico compreenda o que motivou o paciente a procurar assistência. História clínica completa, exame físico e testes laboratoriais são necessários para o estadiamento da infecção. -A história clínica inicial deve incluir informações sobre o diagnóstico do HIV e história médica completa com atenção especial para a investigação de sintomas e sinais comuns associados à infecção por HIV/aids; doenças passadas que, retrospectivamente, podem ser relacionadas ao HIV, doenças de transmissão sexual, herpes-zoster, hepatites virais, infecções bacterianas, tuberculose, alergias, diabetes, hipertensão arterial, história de imunizações e uso de medicamentos, incluindo automedicação e terapias alternativas. -Devem ser investigados comportamentos associados à transmissão do HIV. -Aconselhamento sobre comportamentos de risco, sexo seguro, e sobre a necessidade detriagem sorológica dos parceiros sexuais e indivíduos que compartilham seringas e agulhas deve ser feito em linguagem acessível ao paciente. Os pacientes devem ser encorajados a revelar o diagnóstico para seus parceiros sexuais e o profissional de saúde deve estar preparado para auxiliá-los nessa difícil tarefa. -Abordagem de questões psicológicas. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 -Exame físico completo deve ser realizado em todos os pacientes no início do acompanhamento, com especial atenção para sinais de condições associadas à infecção por HIV/aids. EXAMES COMPLEMENTARES: -É sempre adequado repetir o teste sorológico em pacientes que não têm comprovação do teste ou que foram testados anonimamente. -Juntos, a contagem de linfócitos T CD4 e a quantificação do RNA do HIV (carga viral) são úteis na avaliação do prognóstico do paciente. -Deve-se estar atento tanto para o número absoluto de células como para a porcentagem de células T CD4+; em algumas situações, como leucocitose ou linfocitose, a porcentagem de células T CD4+ é mais representativa do estado imunológico do paciente do que seu número absoluto; contagens de T CD4+ de 200 e 500 células/mm3 correspondem, respectivamente, a 14 e 29%. -Doenças intercorrentes e vacinação recente podem resultar em aumento transitório da carga viral e, portanto, sua avaliação deve ser postergada nessas situações. -O tratamento anti-retroviral, em particular esquemas contendo inibidores de protease, pode causar alterações metabólicas que incluem dislipidemia (aumento de triglicérides, do colesterol total e do LDL-colesterol e redução do HDL-colesterol, perfil reconhecidamente aterogênico), aumento da resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, aumento de enzimas hepáticas (esteatose hepática) e acidose lática. -É importante, também, a avaliação dos fatores de risco cardiovascular clássicos, não relacionados à infecção por HIV (hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, hábitos alimentares, sedentarismo e antecedente familiar para doença cardiovascular) com o objetivo de identificar e corrigir fatores de risco modificáveis. -A realização de testes sorológicos deve ser feita para a avaliação de risco de doenças oportunistas e para o manejo clínico adequado de infecções frequentes em pacientes com infecção por HIV/aids. NOTIFICAÇÃO DE HIV/AIDS: (portaria 05/SVS, de 21/02/2006), obrigatória em nosso meio, é importante para o conhecimento da epidemia e para a sustentabilidade da política de acesso universal aos anti-retrovirais. Manuelli Antunes da Silva- Tutoria p8 SEGUIMENTO DO PACIENTE A frequência de avaliações depende em parte do estadiamento da infecção por HIV: pacientes assintomáticos, com contagem de células T CD4+ alta e carga viral (CV) baixa, sem indicação de tratamento anti-retroviral, podem ser reavaliados a cada 3 a 6 meses. Como a introdução da terapia anti-retroviral é baseada na clínica e na contagem de linfócitos T CD4+, não há necessidade de repetição seriada da carga viral para pacientes que não iniciaram tratamento. A CV deve ser realizada no momento em que se considera a introdução do tratamento, para auxiliar na decisão (pacientes com CD4 entre 200 e 350 células/mm3) e como parâmetro basal para aqueles que irão iniciar o tratamento. Uma vez iniciado o tratamento anti-retroviral, é necessária a avaliação de tolerância e adesão, 1 a 2 semanas após o início do tratamento, e a avaliação da resposta ao tratamento com repetição da carga viral 4 a 8 semanas após o início do tratamento. Pacientes em uso de TAR estável devem ser reavaliados a cada 3 a 6 meses.
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