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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE ANALISES CLÍNICAS E LABORATORIAIS BAGAÇOSE Muhammad Ibrahim Raúl Clinton dos Santos Santa da Florência Mussagy Silas Cabele Maariya Assane Bahadur Beira 2021 Muhammad Ibrahim Raúl Clinton dos Santos Santa da Florência Mussagy Silas Cabele Maariya Assane Bahadur BAGAÇOSE Docente: Dr. Frederico José Beira 2021 Índice Lista de abreviaturas I 1. INTRODUÇÃO 2 2. OBJETIVOS 3 2.1. Objectivo geral 3 2.2. Objectivos específicos 3 3. METODOLOGIA DE PESQUISA 4 3.1. Pesquisa bibliográfica 4 4. BAGAÇO 4 4.1. História 4 5. DESCRIÇÃO DA DOENÇA 5 6. PATOGENICIDADE 5 7. QUADRO CLÍNICO 6 8. DIAGNÓSTICO 7 9. TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS 7 11. CONCLUSÃO 10 12. BIBLIOGRAFIA 11 Lista de abreviaturas NIOSH- Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional EPI- Equipamentos de proteção individual DPOC- Doenças pulmonares obstrutivas crónicas. I 1. INTRODUÇÃO Bagaçose pertence a um grupo de doenças respiratórias classificadas como doenças intersticiais do pulmão ou pneumonites hipersensíveis. A sua apresentação é semelhante a outras alergias extrínsecas dos alvéolos e chamadas de doenças ocupacionais. Ela se desenvolve em pacientes expostos as poeiras do bagaço-um material fibroso que surge da extração de açúcar da cana-de-açúcar. A Bagaçose é devida à ação sinérgica das fibras do bagaço e da ação de microrganismos (bactérias e fungos), acometendo o organismo, assimiladas pelo sistema respiratório. 2. OBJETIVOS 2.1. Objectivo geral · Compreender a epidemiologia da Bagaçose 2.2. Objectivos específicos · Conhecer a patogenicidade da Bagaçose · Relatar o historial · Descrever o quadro clinico da doença · Explicar o diagnóstico · 3. METODOLOGIA DE PESQUISA 3.1. Pesquisa bibliográfica 4. BAGAÇO O bagaço de cana-de-açúcar é um subproduto fibroso resultante da moagem da cana e que pode ter diversos usos, desde a produção de energia através da queima, até incorporação ao solo ou como parte integrante da dieta bovina. Mesmo após a extração da sacarose e outros nutrientes, o bagaço ainda contém muita matéria orgânica, sendo assim uma possível fonte de mais energia e de outros produtos de química fina. O bagaço é matéria orgânica vegetal rica em polissacarídeos (açúcares complexos), como a celulose e a hemicelulose, compostos comummente encontrados nas paredes celulares das células vegetais. Também está contida nessa massa orgânica a lignina (biomassa lignocelulósica). Esses três materiais juntos compõem mais de 75% da biomassa vegetal e conferem resistência mecânica à planta. O restante da biomassa é composta por substâncias como proteínas, óleos vegetais e minerais. (Soares, 2012). 4.1. História Segundo Savaggio, J. (1969), o primeiro relato de Bagaçose como doença ocupacional data de 1945, mostrando que se trata de uma doença recente. Dados de 1958 mostram que 4 trabalhadores morreram em um grupo de 53 pacientes diagnosticados com essa doença, enquanto em 1969 uma revisão de literatura sobre a matéria apontou 600 casos, sendo 500 dos EUA, onde se concentra a segunda maior produção norte americana de cana-de-açúcar. De acordo com a estimativa do NIOSH a produção exposta ao risco de bagaçose nos EUA, em 1986, era de 5000 trabalhadores. Ate no Japão país não produtor de cana-de-açúcar, foram identificados 11 casos suspeitos de bagaçose em refinarias de açúcar. O relatório publicado pelo NIOSH em 1999 mostra que mais de 50 000 trabalhadores americanos morreram entre 1987 e 1996 vitimados por pneumonia de hipersensibilidade e doenças crónicas obstrutivas dos pulmões, o que significa exposição ocupacional as poeiras vegetais, contendo bactérias, fungos, etc. 5. DESCRIÇÃO DA DOENÇA Segundo Teixeira et.al (2002), é uma doença pulmonar de natureza imunológica decorrente da exposição à poeira do bagaço de cana armazenado, cujo agente implicado é o Thermoactinomycetes sacchari. Doença respiratória de natureza imunológica decorrente da exposição à poeira do bagaço de cana-de-açúcar armazenado após a extração da garapa e cujo agente causal é o actinomiceto Thermoactinomycetes sacchari. Faz parte de um grupo de pneumonias de hipersensibilidade ou alveolites alérgicas extrínsecas em que se incluem o pulmão dos criadores de pássaros, a doença pulmonar devida aos sistemas de ar condicionado e de humidificação do ar, a suberose, o pulmão dos que trabalham com linho, e o pulmão dos trabalhadores do malte. (Guerra, H., 2012). 6. PATOGENICIDADE Segundo Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde (2001), a pneumonite por hipersensibilidade constitui um espectro de doenças pulmonares granulomatosas, intersticiais e alveolares, que resultam de repetidas inalações e da sensibilização a um amplo grupo de poeiras orgânicas e substâncias químicas antigênicas, de baixo peso molecular. Também é conhecida como alveolite alérgica extrínseca ou bronquíolo-alveolite alérgica extrínseca. As partículas menores que 5 µm atingem os bronquíolos terminais, respiratórios e alvéolos. A presença de antígenos fúngicos, bacterianos e proteicos de alto peso molecular desencadeia uma resposta imunológica. A resposta tecidual à agressão vai depender do tamanho da partícula, da sua concentração, do seu potencial antigênico e da reatividade imunológica individual. A intercorrência com infeções pulmonares ou outras exposições tóxicas podem agravar a evolução da doença.Precipitinas séricas estão presentes na maioria dos indivíduos acometidos, principalmente imunoglobulina G e imunocomplexos mediados pela resposta imunológica tipo Arthus (tipo III). Esta é uma reacção mediada por IgG que se liga a um antígeno, formando complexos antígeno-anticorpo que ativam o complemento, provocando fagocitose por macrófagos e monócitos. Alguns elementos do complemento estimulam mastócitos e basófilos a liberarem histamina, provocando aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de outros mediadores, que, por sua vez, atraem neutrófilos e eosinófilos. Estes englobam os imunocomplexos e estimulam macrófagos e monócitos a liberarem enzimas lisossómicas. (Texeira, et al. 2002). 7. QUADRO CLÍNICO Os trabalhadores expostos apresentam dispnéia, sibilos, febre, tosse seca, mal-estar geral e fadiga, de algumas horas até poucos dias após a exposição. Tais episódios são caracterizados como quadro gripal. A exposição continuada leva a crises frequentes de gravidade crescente, com agravamento da sintomatologia e perda de peso. Os sintomas agudos podem não estar presentes, mas a reacção tecidual é desencadeada, levando a consequências da fase crónica. No exame clínico, o paciente apresenta crepitações basais, sibilos nas fases agudas e subcrónica. Na fase crónica, instala-se um quadro irreversível e progressivo da doença, com hipoxia, hipertensão pulmonar. (Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde, 2001). Segundo Alpha Madu (2020), similar a outras pneumonicoses uma complicação severa pode acontecer nesses pacientes, incluindo fibrose pulmonar, DPOC, peumotorax, pleurite, pneumonia intestinal crónica e maligna. 8. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito por meio das histórias clínicas, ocupacionais e achados dos exames complementares. A história ocupacional é de fundamental importância para o levantamento de hipóteses diagnósticas, a exploração clínica e o estabelecimento do nexo causal. Entende-se por “nexo causal” a relação de causa e efeito. História ocupacional é o detalhamento das actividades profissionais do paciente, produtos presentes na sua função e também no ambiente que o cerca, processo produtivo, ritmo de trabalho, carga horária, riscos percebidos, periodicidade de manuseio de substâncias suspeitas. As relações temporais entre a exposição suspeita e o quadro clínico são de fundamental importância para o estabelecimento do “nexo causal”, como nas pneumoconioses, que sãodoenças de largo período de indução (latência). Actividades fora do ambiente de trabalho, como hobbies, também devem ser relacionadas. Não há um “aprendizado formal” em história ocupacional – é necessário ter presente que a simples indagação de “profissão” é insuficiente e pouco informativa em relação a exposições de risco respiratório. Portanto, a curiosidade do profissional que investiga um caso suspeito, o estudo e as vivências práticas são ingredientes básicos para se obter dados de boa qualidade. Ocasionalmente, é necessário que o local de trabalho seja visitado para um correto entendimento da exposição. A radiografia de tórax costuma estar alterada nas fases agudas com infiltrados transitórios. Na fase crónica, há imagens de fibrose irregular, notadamente nos campos superiores. (medicinanet, 2009). 9. TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS Segundo Mendes, R.; Carneiro, A. P. S., (1997), o afastamento da exposição elimina o contacto com o antígeno. Os corticosteróides podem ser utilizados na fase aguda (prednisona: 40 - 60 mg/dia) até a melhora clínica da função pulmonar e dos achados radiológicos. Esta melhora leva de 2 a 3 semanas. A partir daí, o corticosteróide deve ser diminuído gradativamente. Nos casos mais graves, está indicada a internação com oxigenoterapia. Para todas as pneumoconioses existe indicação obrigatória de afastamento da exposição que a causou. As co-morbidades associadas à pneumoconiose devem ter o tratamento em base nos consensos actuais de manejo, como a DPOC, a tuberculose e o câncer de pulmão. Uma percentual variável de pacientes com pneumoconioses fibrogênicas pode evoluir para insuficiência respiratória crónica. O monitoramento regular da oxemia levará à indicação correcta de oxigenioterapia nesses pacientes. Não há indicação de uso de corticosteroides nas pneumoconioses fibrogénicas, mesmo nos casos com evolução progressiva independente do afastamento da exposição. (Thurlbeck W.M., Churg A.M., 1995) 10. PREVENÇÃO Segundo Vieira J. (2016), a prevenção das pneumonites de hipersensibilidade devidas a poeiras orgânicas relacionadas ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos para a saúde. O controle da exposição às poeiras orgânicas pode contribuir para a redução da incidência da doença nos grupos ocupacionais sob risco. As medidas de controle ambiental visam à eliminação ou à redução dos níveis de concentração das poeiras orgânicas próximos de zero ou dentro dos limites estabelecidos, por meio de: · Enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho; · Humidificação dos processos onde haja formação de poeiras; · Uso de sistemas hermeticamente fechados, na indústria; · Adoção de normas de higiene e segurança rigorosas com sistemas de ventilação exaustora adequados e eficientes; · Monitoramento ambiental sistemático; · Mudanças na organização do trabalho que permitam diminuírem o número de trabalhadores expostos e otempo de exposição; · Medidas de limpeza geral dos ambientes de trabalho e facilidades para higiene pessoal, recursos parabanhos, lavagem das mãos, braços, rosto e troca de vestuário; · Fornecimento, pelo empregador, de EPI adequados, em bom estado de conservação, nos casos indicados, de modo complementar às medidas de proteção coletiva. Segundo Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde (2001), as máscaras protetoras respiratórias devem ser utilizadas como medida temporária, em emergências. Quando as medidas de protecção colectiva forem insuficientes, deverão ser cuidadosamente indicadas para alguns sectores ou funções. Os trabalhadores devem ser treinados apropriadamente para sua utilização. As máscaras devem ser de qualidade e adequadas às exposições, com filtros químicos ou de poeiras, específicos para cada substância manipulada ou para grupos de substâncias passíveis de ser retidas pelo mesmo filtro. Os filtros devem ser rigorosamente trocados conforme as recomendações do fabricante. Segundo Mendes et .al. (1997), exame médico periódico visa à identificação de sinais e de sintomas para a detecção precoce da doença e adoção de medidas para prevenção de seu agravamento. Além de um exame clínico completo, recomenda-se utilizar instrumentos padronizados, como os questionários de sintomas respiratórios já validados nacional ou internacionalmente e exames complementares, incluindo: · Radiografia de tórax no padrão OIT (1980), na admissão e anualmente; · Medidas de promoção da saúde e controle do tabagismo também devem ser implementadas. Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho, deve-se: · Informar ao trabalhador; · Examinar os expostos, visando a identificar outros casos; · Notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde dotrabalhador), por meio dos instrumentos próprios. · Orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação oucontrole dos fatores de risco. 11. CONCLUSÃO A Bagaçosose constitui um espectro de doenças pulmonares granulomatosas, intersticiais e alveolares, que resultam de repetidas inalações e da sensibilização a um amplo grupo de poeiras orgânicas e substâncias químicas antigênicas, de baixo peso molecular. Também é conhecida como alveolite alérgica extrínseca ou bronquíolo-alveolite alérgica extrínseca. Os trabalhadores expostos apresentam dispnéia, sibilos, febre, tosse seca, mal-estar geral e fadiga, de algumas horas até poucos dias após a exposição. Tais episódios são caracterizados como quadro gripal. A exposição continuada leva a crises frequentes de gravidade crescente, com agravamento da sintomatologia e perda de peso. Os sintomas agudos podem não estar presentes, mas a reacção tecidual é desencadeada, levando a consequências da fase crónica. O seu diagnóstico é feito por meio das histórias clínicas, ocupacionais e achados dos exames complementares. 12. BIBLIOGRAFIA 1. Mendes, R.; Carneiro, A. P. S. (1997), Doenças respiratórias ocupacionais. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, , p. 807-835. 2. Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde (2001), Doenças relacionadas ao trabalho. 3. Savaggio, J., Arquembourg, P., Seabury, J., Bagassosis, (1969): Precipitins Against extracts of ThermphilicActnomycets in Patiens with Bagassosis. American Jornal of medicin, v46. 4. Soares, L. C. S. R. (2012.) Destoxificação biológica do hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar para utilização em processos fermentativos. 5. Texeira, M.F.A., Assis P.G., Lazzarini-de-Oliveira, L.C., (2002), Pneumonia de hipersensibilidade crónica: análise de 8 casos e revisão da literatura. J. Pneumologia, vol. 28 n.3, pp167-167. 6. Thurlbeck WM & Churg AM. (1995). Pathology of the lung. 2 th ed. Thieme Medical Publishers, New York, 1178 p, 7. Vieira, J. Higiene ocupacional, (2016). 8. https://www.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/2245/4_recomendacoes.htm?ancor=150080