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Duda Luizeto Livro Sintomas dos distúrbios do trato geniturinário • Durante a anamnese é importante saber não apenas se a doença é aguda ou crônica, mas também se é recorrente, pois os sintomas recidivantes podem representar exacerbações agudas de uma doença crônica 1. Manifestações sistêmicas • Devem ser pesquisados sintomas de febre e perda de peso − A presença de febre associada a outros sintomas de infecção do trato urinário pode ser útil na avaliação do local da infecção − Uma cistite aguda simples é essencialmente uma doença afebril − A pielonefrite ou a prostatite aguda podem manifestar-se com temperaturas altas (até 40 graus), acompanhadas frequentemente de calafrios violentos − Lactentes e crianças com pielonefrite aguda podem apresentar altas temperaturas sem outros sinais ou sintomas de localização − Uma história de surtos de febre inexplicáveis que ocorreram até mesmo anos antes pode representar uma pielonefrite assintomática nos demais aspectos − As vezes, um carcinoma renal causa febre que pode alcançar 39 graus ou mais − A ausência de febre não exclui de forma alguma a presença de infecção renal, pois a regrea é que a pielonefrite crônica não causa febre • Deve-se esperar perda de peso nos estágios avançados do câncer, embora se possa observá-la também quando sobrevém uma insuficiência renal devida a obstrução ou infecção • Em crianças com “retardo do desenvolvimento”, deve-se suspeitar de obstrução crônica, de infecção do trato urinário ou de ambas • Mal estar geral pode ser observado em caso de tumores, pielonefrite crônica ou insuficiência renal 2. Dor local e irradiada • Dois tipos de dor têm suas origens nos órgãos geniturinários: local e referida/irradiada (mais comum) − A dor local é percebida no órgão envolvido ou perto dele A dor proveniente de um rim enfermo (T10-T12) é percebida no ângulo costovertebral e no flanco na região da décima segunda costela e abaixo dela − A dor referida (irradiada) tem origem em um órgão enfermo, mas é percebida a certa distancia desse órgão A cólica ureteral causada por um cálculo no ureter superior pode estar associada a dor intensa no testículo ipsilateral; isso se explica pela inervação comum dessas duas estruturas (T11-T12) Um cálculo no ureter inferior pode causa dor referida na parede escrotal; nesse caso, o testículo propriamente dito não fica hiperestésico A dor em queimação com a micção que acompanha a cistite aguda é percebida na uretra distal nas mulheres e na uretra glandar nos homens (S2-S3) • As anormalidades de um órgão urológico também podem causar dor em qualquer outro órgão que tenha uma inervação sensorial comum a ambos (ex: TGI, ginecológico) a) Dor renal • A dor renal típica é percebida como uma sensação incomoda e constante no ângulo costovertebral lateralmente ao músculo sacrospinal e abaixo da décima segunda costela − Com frequência, essa dor irradia-se ao longo da área subcostal na direção do umbigo ou para o quadrante abdominal inferior A pielonefrite aguda (com seu edema súbito) e a obstrução ureteral aguda (com sua pressão retrógrada renal súbita) causam esse tipo de dor • Muitas doenças renais urológicas são indolores, pois sua progressão é tão lenta que não chega a ocorrer uma distensão capsular brusca (ex: câncer, pielonefrite crônica, cálculo coraliforme, tuberculose, rim polic;istico e hidronefrose devida a obstrução ureteral crônica) b) Dor ureteral • A dor ureteral é estimulada geralmente por obstrução aguda (eliminação de um cálculo ou coágulo de sangue) − Nessas circunstancias, observa-se lombalgia devido a distensão capsular combinada com dor intensa em cólica (devida ao espasmo da pelve renal e do músculo ureteral) que se irradia do ângulo costovertebral para o quadrante abdominal inferior, ao longo do trajeto do ureter. Nos homens, pode ser percebida também na bexiga, no escroto ou no testículo. Nas mulheres, pode irradiar-se para a vulva − A intensidade e a natureza em cólica dessa dor são devidas a hiperperistalse e ao espasmo desse órgão muscular liso quando tenta livrar-se de um corpo estranho ou vencer a obstrução − Se o cálculo estiver alojado no ureter superior, a dor irradia-se para o testículo, pois a inervação desses órgãos é semelhante − Com os cálculos localizados na porção média do ureter direito, a dor é referida ao ponto de McBurney, podendo simular uma apendicite. No lado esquerdo, pode ser semelhante a uma diverticulite ou a outras doeças do colo descendente ou sigmoide • A medida que o cálculo aproxima-se da bexiga, haverá inflamação e edema do orifício ureteral e podem ocorrer sintomas de irritabilidade vesical, como frequência e urgência urinárias • Na obstrução ureteral leve, assim como nas estenoses congênitas, não costuma haver dor renal nem ureteral c) Dor vesical • A bexiga hiperdistendida do paciente na retenção urinária aguda causa dor agonizante na área suprapúbica • A dor suprapúbica constante que não está relacionada com o ato da micção não costuma ser de origem urológica • O paciente em retenção urinária crônica pode ter pouco ou nenhum desconforto suprapúbico • A causa mais comum de dor vesical é a infecção − A dor é referida a uretra disral e está relacionada com o ato da micção − Disúria terminal pode ser a principal queixa na cistite grave d) Dor prostática • Quando existe inflamação aguda da próstata, o paciente pode ter um desconforto vago ou plenitude na área perineal ou retal (S2-S4) • A dor lombossacral não é um sintoma comum da prostatite • A inflamação da glândula pode causar disúria, frequência e urgência e) Dor testicular • A dor devida a traumatismo, infecção ou torção do cordão espermático é muito intensa e é percebida localmente, apesar de poder haver alguma irradiação do desconforto ao longo do cordão espermático para o abdome inferior • Hidrocele não infectada, espermatocele e tumor do testículo não costumam causar dor • A varicocele pode causar um dolorimento incomodo no testículo que aumenta após exercício f) Dor epididimária • A infecção aguda do epidídimo é a única doença dolorosa desse órgão e é bastante comum − A dor começa no escroto, podendo envolver o testículo adjacente − Nos estágios iniciais, a dor pode ser percebida primeiro na virilha ou no quadrante abdominal inferior (Se isso ocorre no lado direito, pode simular apendicite) 3. Sintomas gastrintestinais das doenças urológicas • O paciente com pielonefrite aguda não apresenta apenas dor localizada, sintomas de irritabilidade vesical, calafrios e febre, mas também dor abdominal e distensão • A eliminação de um cálculo renal refere cólica renal e ureteral e, em geral, hematúria, podendo apresentar náuseas, vômitos e distensão abdominal • A distensão excessiva involuntária da pelve (ex: com contraste) pode causar náuseas, vômitos e dor abdominal em cólica a. Causas do mimetismo • Reflexos renointestinais − Resultam das inervações autônoma e sensorial comuns aos dois sistemas − Os estímulos aferentes da cápsula renal ou da musculatura da pelve pode, por ação reflexa, causar pilospasmos (sintomas de úlcera péptica) ou outras alterações no tônus dos músculos lisos do TGI • Relações com outros órgãos − Rim direito: flexura hepático do colo, duodeno, cabeça do pâncreas, colédoco, fígado e vesícular biliar − Rim esquerdo: estomago, pâncreas e baço. Além de estar atrás da flexura esplênica do colo • Irritação peritoneal − As superfícies anteriores dos rins estão cobertas por peritônio, por isso, a inflamação renal pode causar rigidez e hipersensibilidade de rebote 4. Sintomas relacionados com o ato da micção • Infecções de bexiga, inflamação vesical, cistite intersticial, psiconeurose, torção ou ruptura de cisto ovarianoe corpos estranhos na bexiga também podem causar sintomas de cistite • O paciente com cistite crônica não observa sintomas de irritabilidade vesical a. Frequência, nictúria e urgência • Quando a mucosa, a submucosa e muscular ficam inflamadas, a capacidade da bexiga diminui acentuadamente devido a dor da distensão e a perda da complacência vesical (resultado do edema inflamatório) • Na cistite aguda, o paciente pode urinar involuntariamente se a micção não ocorrer imediatamente • Durante infecções agudas muito graves, o desejo de urinar pode ser constante, e cada micção pode produzir apenas mililitros de urina • Frequencia diurna sem nictúria e frequência aguda ou crônica que dure poucas horas sugerem tensão nervosa • As doenças que causam fibrose da bexiga (tuberculose, cistite actínica, esquistossomose) são acompanhadas de frequência miccional • A nictúria pode ser um sintoma de doença renal relacionada com uma diminuição no parênquima renal funcional com perda da capacidade de concentração • Um pH muito baixo ou muito alto pode irrita a bexiga e causar frequência e micção b. Disúria • A micção dolorosa geralmente está relacionada com inflamação aguda da bexiga, da próstata ou da uretra − A dor só se manifesta com a micção e desaparece quando está é completada − Dor mais intensa na bexiga ao final da micção indica provável inflamação da bexiga • Com frequência, a disúria é o primeiro sintoma sugestivo de infecção urinária e costuma estar associada a frequência e urgência c. Enurese (urinar na cama a noite) • Fisiológica durante os primeiro 2-3 anos de vida • Pode ser funcional ou secundária a uma maturação neuromuscular retardada do componente uretrovesical, embora possa manifestar-se como um sintoma de doença orgânica (infecção, estenose uretral distal, valvas uretrais posteriores, bexiga neurogênica) 5. Sintomas de obstrução da saída vesical • A hesitação em iniciar o jato urinário é um dos sintomas precoces de obstrução da saída vesical − A medida que o grau de obstrução aumenta, a hesitação é prolongada fazendo com que o paciente force a saída da urina − a obstrução prostática e o estreitamento uretral são causas comuns desse sintoma • A perda de força e diminuição do jato são observados a medida que a resistência uretral aumenta • O gotejamento terminal torna-se mais perceptível a medida que a obstrução progride • A urgência é o desejo intenso e súbito de urinar causado por hiperatividade e irritabilidade da bexiga, resultando de obstrução, inflamação ou doença vesical neuropática • Retenção urinária aguda • Na retenção urinária crônica pode haver gotejamento constante da urina (incontinência paradoxal) • A interrupção do jato urinário pode ser brusca e acompanhada de dor intesa que se irradia ao longo da uretra sugerindo uma complicação de um cálculo vesical • Sensação de urina residual • Os episódios recorrentes de cistite aguda sugerem a presença de urina residual 6. Incontinência • Incontinencia verdadeira: perda de urina sem qualquer aviso, podendo ser um sintoma constante ou periódico − Causas mais comuns: prostatectomia radical prévia, extrofia da bexiga, epispadia, fístula vesicovaginal e orifício uretral ectópio − Doenças neurogênicas congênitas ou adquiridas podem resultar em disfunção da bexiga e incontinência • Incontinência do estresse: causado por fraqueza dos mecanismos esfíncterianos − Comum em mulheres multíparas e em homens submetidos a prostatectomia radical • Incontinência de urgência: ocorre perda involuntária de urina − Com frequência ocorre na cistite aguda − É um sintoma comum de lesão dos neurônios motores superiores • Incontinência por transbordamento (incontinência paradoxal): perda de urina decorrente de retenção urinária crônica ou secundária a bexiga flácida − A pressão intravesical se iguala a resistência uretral causando gotejamento constante da urina 7. Oligúria e Anúria • Causas: insuficiência renal aguda (devida a choque ou desidratação), desequílibrio de líquidos e íons, ou obstrução ureteral bilateral 8. Pneumatúria: presença de gás na urina • Sugere uma fístula entre o trato urinário e o intestino − Mais comum de ocorrer na bexiga e na uretra, mas pode ser observado no ureter e pelve renal − Causas da fístula: carcinoma do colo sigmoide, diverticulite com formação de abscesso, enterite regional e traumatismos − As anomalias congênitas são responsáveis pela maioria das fístulas uretroentéricas 9. Urina turva: pode ser devido a alcalinização (acarreta precipitação do fosfato) ou infecção 10. Quilúria: eliminação de líquido linfático • Eliminação de urina branco-leitosa que significa que há uma fístula entre os sistemas linfáticos e urinário • Causas: obstrução dos vasos linfáticos renais (mais comum), filaríase, traumatismos, tuberculose e turmores retroperitoneais 11. Hematúria • É um sinal de alerta • É importante saber se a micção é dolorosa ou não, se a hematúria está associada a sintomas de irritabilidade vesical e se o sangue é observado em todo ou apenas parte do jato urinário • A hemoglobinúria que é característica das síndromes hemolítica também pode tornar a urina avermelhada a. Hematúria relacionada com sintomas e doenças • Associada a cólica renal sugere um cálculo ureteral, mas um coágulo devido a um tumor sangrante pode causar o mesmo tipo de dor • Não está comumente associada a uma infecção inespecífica, tuberculosa ou esquistossomática da bexiga • O sangramento é mais frequente terminal (colo vesical ou próstata) • Um cálculo na bexiga costuma causar hematúria, mas, em geral, há presença de infecção e sintomas de obstrução do colo vesical, de bexiga neurogênica ou de cistocele • Pode formar-se veias dilatadas na altura do colo vesical secundárias ao aumento de volume da próstata que podem romper durante o esforço para urinar • Sangramento indolor é comum com a glomerulonefrite aguda • Corredores e pessoas que participam de esportes vigorosos desenvolvem proteinúria transitória e hematúria macro ou microscópica • A hematúria sem outros sintomas (hematúria silenciosa) deve, até prova em contrário, ser vista como um sintoma de tumor da bexiga ou do rim. Causas menos comuns: cálculo coraliforme, rins policísticos, doença falciforme e hidronefrose • Saber se a hematúria é parcial (inicial, terminal) ou total (presente ao longo de toda micção) ajuda a identificar o local do sangramento − Hematúria inicial: lesão ureteral anterior (uretrite, estreitamento, estenose do meato em meninos) − Hematúria terminal: lesão ureteral posterior, do colo vesical ou do trígono. Entre as causas mais comuns estão uretrite posterior e pólipo e tumores do colo vesical − Hematúria total: lesão na altura ou acima da bexiga (cálculo, tumor, tuberculose, nefrite) 12. Outras manifestações objetivas • Secreção uretral − É uma das queixas mais comum em homens − Organismo causador: Neisseria norrhoeae ou Chlamydia trachomatis A secreção é acompanhada de queimação local ao urinar ou de uma sensação pruriginosa na uretra • Lesões cutâneas de genitália externa − Cancro sifilítico, cancroide, herpes-vírus simples ou carcinoma de células escamosas podem se apresentar como um ulceração na glande ou do corpo peniano • Massas visíveis ou palpáveis − Localizada no abdome superior: tumor renal, hidronefrose ou rim policístico − Linfonodos aumentados no pescoço podem conter tumor metastático de próstata ou do testículo − Caroços na virilha: disseminação de um tumor de pênis, linfadenite de cancroide, sífilis ou linfogranuloma venéreo − Massas indolores no conteúdo escrotal: hidrocele, varicocele, espermatocele, epididimite crônica, hérnia e tumor testicular • Edema − De membros inferiores: compressão das veias ilíacas por metástases linfáticas de CA de próstata − De genitália: filariose, ascite crônica ou bloqueio linfatico devido radioterapia na regiãopélvica • Hematospermia pode ser causada por inflamação da próstata ou das vesículas seminais • Ginecomastia − Mais frequentemente idiopática − Mais comum em homens idosos que tomam estrogênio para controle de câncer de próstata − É observada em associação com coriocarcinoma e tumores de células intersticiais e de células de Sertoli do testículo 13. Queixas relacionadas a problemas sexuais • Diferenciar de queixa puramente psicológica/emocional de um sintoma orgânico • Nas mulheres, deve-se determinar a relação das menstruações com a dor ureteral ou com as queixas vesicais, apesar de a menstruação poder exacerbar as dificuldades renais e vesicais • É comum ocorrer cistite após um episódio de tensão e ansiedade • Principais sintomas sexuais dos homens: qualidade precária da ereção, perda precoce da ereção, ausência de ejaculação com o orgasmo, ejaculação precoce e ausência de desejo • Dificuldades sexuais nas mulheres − Síndrome de cistite psicossomática: frequência ou dor vaginal-ureteral 1 dia após o ato sexual incompleto
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