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Semiologia renal Anamnese Pode surgir astenia, náuseas, vômitos, anorexia, anemia e irritabilidade neuromuscular. Sinais e sintomas Alterações da micção e do volume urinário Em condições normais de saúde e em clima ameno, uma pessoa adulta normal elimina de 700 a 2.000 mL de urina/dia. A capacidade da bexiga normal é de 400 a 600 mL e o indivíduo tende a esvaziá-la quando a quantidade de urina chega a 200 mL. Uma dieta normalmente requer a eliminação de pelo menos 800 mL de urina pelos rins, como meio de excreção da ureia, eletrólitos e de outros produtos resultantes do metabolismo. Oligúria: diurese <400 mL/dia ou <20 mL/h. Costuma decorrer de redução do fluxo sanguíneo renal (desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca) ou por lesões renais. Urgência: necessidade súbita e imperiosa de urinar. Anúria: volume urinário <100 mL/24 h. Ocorre na obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres, na necrose cortical bilateral e IRA grave. Poliúria: volume urinário >2.500 mL/dia. Maior número de micções, inclusive à noite. ● Existem 2 mecanismos básicos de poliúria: por diurese osmótica, decorrente da excreção de um volume aumentado de solutos (p. ex., diabetes melito descompensada), ou por incapacidade de concentração urinária (p. ex., diabetes insípido, hipopotassemia); ● Na insuficiência renal crônica, quando o comprometimento renal ainda é moderado, também ocorre poliúria, seja por diurese osmótica (em razão de uremia) ou por incapacidade de concentração urinária, quando as lesões comprometem a medula renal, como ocorre na pielonefrite crônica. Disúria: micção associada à sensação de dor, queimor ou desconforto. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturinário, irritantes uretrais e reação alérgica. Polaciúria: aumento da frequência miccional, com intervalo entre as micções <2h e sem que haja concomitante >volume urinário; traduz irritação vesical. Esses sintomas são provocados por redução da capacidade da bexiga, dor à distensão vesical ou por comprometimento da uretra posterior. Hesitação: quando há um intervalo maior para que apareça o jato urinário. Indica geralmente obstrução do trato de saída da bexiga. Para conseguir urinar, o paciente faz um esforço maior que em condições normais. Nictúria ou noctúria: perda da capacidade de concentrar a urina, como ocorre na fase inicial da insuficiência renal crônica, podendo-se observar nos pacientes com insuficiência cardíaca ou hepática que retêm líquido durante o dia, principalmente nos MMII. Retenção urinária: a bexiga distendida é palpável na região supra púbica. A passagem de um cateter para drenagem da urina, seguida de desaparecimento do globo vesical, sela o diagnóstico de retenção urinária. ● Pode ser aguda (o indivíduo passa a sentir a bexiga distendida, tensa e dolorosa) ou crônica (existe gradual dilatação da bexiga, pode não ocorrer dor e o paciente queixa-se de polaciúria, hesitação, gotejamento e não tem consciência da distensão vesical); ● Pode ser completa (o indivíduo é incapaz de eliminar quantidades mínimas de urina) ou incompleta (quase sempre crônica, caracteriza-se pela permanência na bexiga de determinada quantidade de urina depois de finalizado o ato miccional). Incontinência urinária: normal em crianças até 1 ano e meio de idade, ocorrendo também na bexiga neurogênica, nas cistites e aos esforços quando há alteração dos mecanismos de contenção da urina. ● Nos idosos, a hipertrofia prostática grave pode provocar incontinência paradoxal. Nessa situação, a próstata aumentada de volume impede a passagem de urina até que o acúmulo de líquido aumente a pressão intravesical o suficiente para vencer a resistência interposta pela uretra prostática; ● Incontinência por transbordamento ocorre em pacientes com lesão do neurônio motor aferente da bexiga, como na diabetes, causando grande resíduo urinário. Ocorre no limite da distensibilidade viscoelástica da bexiga. Esforço: clinicamente, acompanha-se de apneia expiratória, estase jugular, contratura da parede abdominal e eliminação de flatos. Pneumatúria: emissão de gases pelo trato urinário, não necessariamente, mas principalmente ao urinar. Pode aparecer em quadros infecciosos, mais frequentemente em diabéticos e/ou em comunicações anormais entre os tratos digestivo e urinário (fístulas neoplásicas, inflamatórias ou actínicas). Paraurese: incapacidade de urinar diante de pessoas Cistite: disúria, polaciúria, dor suprapúbica, urgência, incontinência, hesitação, hematúria macroscópica. ou em ambientes estranhos. Enurese: micção involuntária, inconsciente, que não deve ser confundida com incontinência. Fisiológica até os 3 a 4 anos de idade, passa a ser considerada anormal a partir dessa faixa etária. Pressupõe ausência de doença do trato urinário, relacionando-se a fatores neuropsicogênicos. Tem caráter hereditário e é atribuída a atraso no processo de mielinização das fibras nervosas envolvidas no arco reflexo da micção. Alterações da cor e aspecto da urina A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia do amarelo-claro ao amarelo- escuro, conforme esteja diluída ou concentrada. Urina avermelhada Hematúria: 1 cm3 de sangue total/1,5L de urina confere- lhe cor avermelhada. ● Pequena quantidade de sangue tinge a urina de marrom- escuro (cor de "Coca-Cola'') quando o pH é ácido. Na urina alcalina, a hemoglobina conserva sua cor vermelha viva por mais tempo; ● Hematúria inicial é mais comumente associada a lesões situadas entre a uretra distal e o colo vesical. Se o local do sangramento for anterior ao esfíncter vesical, pode manchar a roupa íntima, independentemente da micção; ● Hematúria terminal está associada mais comumente a lesões do trígono vesical; ● Hematúria total ocorre em glomerulonefrite aguda, hipertensão arterial maligna, necrose tubular aguda, rins policísticos, infarto renal, leptospirose, malária, anemia falciforme, síndrome de coagulação intravascular disseminada, neoplasias, cálculos e uso de anticoagulantes; ● Sintomas que a acompanham: febre, calafrios e disúria sugerem infecção urinária, enquanto a ocorrência de cólica renal sugere litíase urinária; ● Vários medicamentos, tais como rifampicina e fenazopiridina (Pyridium®), imprimem cor vermelho alaranjada; Hemoglobinúria: ocorrência de hemoglobina livre na urina, condição que acompanha as crises de hemólise intravascular. Mioglobinúria: decorre da destruição muscular maciça por traumatismos e queimaduras, e após exercícios intensos e demorados como maratonas e nas crises convulsivas. Porfirinúria: consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem coloração vermelho-vinhosa da urina, algumas horas depois da micção. Urina turva Algumas horas após emitida e guardada em um vaso, a urina pode apresentar precipitação de cristais (cristalúria), sendo mais frequentes os de ácido úrico, oxalato de cálcio e uratos amorfos, quando a urina é ácida, e, quando a urina for alcalina, carbonatos e fosfatos de cálcio. Este tipo de urina turva pode predispor a urolitíase. Urina turva: formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável, está associada à infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Piúria: quantidade anormal de leucócitos na urina, que pode conferir aspecto turvo a esta. ● Com frequência, os pacientes apresentam piúria e disúria simultaneamente; ● As infecções urinárias são as causas mais comuns; ● O registro de cilindros leucocitários no sedimento urinário sugere infecção dos rins e vias urinárias altas (pielonefrite). É encontrada, também, nos pacientes com glomerulonefrite aguda. Urina com aumento da espuma Decorre da eliminação aumentada de proteínas na urina, presenteem glomerulonefrites, nefropatia diabética, nefrites intersticiais. Mau cheiro O odor característico de urina decorre da liberação de amônia. No entanto, fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela existência de pus ou por degradação de substâncias orgânicas. Dor Os tipos principais são: ● Dor lombar e no flanco: entre a 12ª costela e a crista ilíaca, e, às vezes, com irradiação anterior. - O parênquima renal é insensível, não ocasionando dor. Contudo, a distensão da cápsula renal dá origem a tal dor, que é percebida na região lombar e no flanco; - A dor é descrita como uma sensação profunda, Pielonefrite aguda: febre, calafrios, dor lombar, dor abdominal, manifestações gerais de infecção aguda, sintomas de cistite. pesada, de intensidade variável, fixa e persistente, que piora com a posição ereta e se agrava no fim do dia. Geralmente, não se associa a náuseas e/ou a vômitos; - Na síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda, nefrite intersticial e pielonefrite aguda, pode ocorrer este tipo de dor. A obstrução urinária aguda em razão de cálculo na pelve renal ou de obstrução ureteropélvica que causa dilatação tubular e aumento dos rins provoca também este tipo de dor, especialmente quando a maior ingestão de líquido aumenta o fluxo urinário; - A ocorrência de nítido aumento da dor à movimentação, obrigando o paciente a manter-se imóvel, indica inflamação perinefrética; - Essa inflamação acompanha-se de irritação capsular, séptica ou asséptica, ocorrendo na nefrite intersticial bacteriana, infarto renal, ruptura de cisto renal, quando há hemorragia ou necrose tumoral e no extravasamento de urina; ● Cólica renal ou nefrética: dor decorrente de obstrução do trato urinário, com dilatação súbita da pelve renal ou do ureter, que se acompanha de contrações da musculatura lisa dessas estruturas. - Em seu início, pode haver apenas uma sensação de desconforto na região lombar ou no flanco, irradiando-se vagamente para o QI do abdome do mesmo lado; - Rapidamente, essa sensação de desconforto evolui para dor lancinante, de grande intensidade, acompanhada de mal-estar geral, inquietude, sudorese, náuseas e vômitos; - A dor costuma começar no ângulo costovertebral, acometer a região lombar e flanco, irradiando-se para a fossa ilíaca e região inguinal, alcançando o testículo e o pênis, no homem, e o grande lábio, na mulher; - A dor é tipicamente em cólica, com fases de espasmos dolorosos que podem durar vários minutos, seguindo-se de alívio, geralmente incompleto; - Se a obstrução for na junção ureteropélvica, a dor costuma situar-se no flanco e irradiar-se para o QS do abdome ou mesmo para a região inguinal homolateral; já a obstrução ureterovesical ocasiona sintomas de irritação do trígono vesical, representados por disúria, urgência e frequência, podendo sugerir cistite; - Cálculo obstruindo o final do ureter pode causar dor persistente no testículo e pênis, ou no grande lábio vaginal, do mesmo lado, sem, entretanto, apresentar sintomas de irritação vesical. ● Dor hipogástrica ou dor vesical: originada no corpo da bexiga que geralmente é percebida na região suprapúbica. - Quando ela decorre de irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia-se para a uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor; - Retenção urinária completa aguda acompanha-se de dor intensa na região suprapúbica e intenso desejo de urinar; ● Estrangúria ou tenesmo vesical: perceptível quando há inflamação vesical intensa, podendo provocar estrangúria, que é decorrente de espasmo da musculatura do trígono e colo vesical; ● Dor perineal: decorre normalmente da infecção aguda da próstata, que causa dor perineal intensa, sendo referida no sacro ou no reto. Pode causar também estrangúria. Edema O edema da glomerulonefrite é generalizado, porém mais intenso na região periorbitária pela manhã, quando o paciente acorda. Ao final do dia, se o paciente estiver deambulando normalmente, predomina nos MMII. Em crianças, o aparecimento do edema costuma ser súbito, podendo ser acompanhado de manifestações de insuficiência cardíaca congestiva. O edema da síndrome nefrótica é generalizado e mais intenso que o da glomerulonefrite, podendo chegar à anasarca, especialmente em crianças. Quando o estado geral do paciente é bom e ele deambula, é comum observar-se, pela manhã, intenso edema facial. No fim do dia, são as pernas que estão edemaciadas. Na pielonefrite, o edema é de pequena intensidade, quase sempre restrito à região periorbitária pela manhã. Na IRA, o edema decorre geralmente da hiper- hidratação. Febre e calafrios Nas infecções agudas que acometem o trato urinário, a febre costuma ser elevada e vir acompanhada de calafrios, dor lombar ou suprapúbica. As principais causas são pielonefrite, cistite e prostatite. Nas infecções crônicas, a temperatura está discretamente aumentada ou com elevações intermitentes, às vezes acompanhadas de calafrios. Tumor Em adultos, os tumores mais frequentes do trato urogenital são cistos, cânceres renais e hidronefroses. Aumento no volume da bolsa testicular pode decorrer de hidrocele, de varicocele, de orquiepididimite e de tumores. Exame físico Exame dos rins Deve começar pela inspeção do abdome, dos flancos e das costas, com o paciente sentado. Em seguida, deve-se fazer a palpação e a compressão dos ângulos costovertebrais. Posteriormente, efetua-se a percussão com a face interna da mão fechada, chamada "punho- percussão". Deve ser realizada ausculta abdominal. A palpação dos rins é feita com o paciente em decúbito dorsal da seguinte maneira: enquanto uma das mãos procura explorar os QS do abdome, a outra mão, espalmada, "empurra'' o flanco correspondente de baixo para cima (palpação bimanual): método de Guyon. Em pessoas magras, o polo inferior do rim direito (normal) pode ser palpado na inspiração. Rins facilmente palpáveis denotam, em geral, aumento de volume (hidronefrose, neoplasia ou cistos) ou pelo fato de serem anormalmente móveis (ptose renal), ou, ainda, por estarem deslocados por neoplasias retroperitoneais. Em geral, o aumento de ambos os rins decorre de doença policística ou de hidronefrose bilateral. Durante a palpação dos rins, é necessário avaliar a sensibilidade renal. Muitas vezes, a compressão com as pontas dos dedos pode ser suficiente para despertar dor. É necessário lembrar-se de fazer a punho-percussão do ângulo costovertebral, formado pela borda inferior da 12ª costela e apófises transversas das vértebras lombares superiores. O aparecimento de dor à compressão ou à punho-percussão sugere infecção renal, mas pode ser de origem musculoesquelética. Exame dos ureteres Pela palpação profunda da parede abdominal anterior, é possível determinar dois pontos dolorosos quando existe infecção ou obstrução dos ureteres. O superior fica na parte média dos QSD e QSE, e o inferior, nas FID e FIE, próximos à região suprapúbica. Exame da bexiga A bexiga vazia não é palpável, porém pode haver hipersensibilidade na área suprapúbica ao se fazer a palpação. Se houver retenção urinária, observa-se reação dolorosa intensa e ocorrência de um abaulamento no hipogástrio. À palpação, observa-se massa lisa e firme na linha média (globo vesical). Em mulheres, o esvaziamento vesical por cateterismo poderá ser necessário para o diagnóstico diferencial com cisto do ovário. Sinais e métodos Sinal de Giordano: manobra realizada com o paciente sentado e inclinado para frente, o médico faz uma súbita punho-percussão, com borda ulnar da mão, na região de fossa lombar do paciente, na altura da loja renal (flancos). Manobra positiva – dor aguda, em pontada, referida pelo paciente. Ocorre em casos de pielonefrite aguda e litíase renal. Método de Goelet: com opaciente em ortostase, flete-se o joelho do lado que se deseja palpar, apoiando-se sobre uma cadeira. A seguir, faz-se uma tração anterior com uma das mãos, enquanto a outra é usada na tentativa de palpar o polo anterior do rim. Método de Israel (bimanual em DLE): com o paciente em decúbito lateral, tente palpar o rim anterior duas mãos em pinça.
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