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Precursores no estudo da inteligência

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Galton, Cattell e Binet. Os dois primeiros autores concebem a capacidade intelectual dos
sujeitos como a manifestação das suas aptidões simples, nomeadamente as capacidades
discriminativas sensoriais. Binet, por outro lado, coloca a tónica na sua manifestação
através das funções complexas ou superiores do comportamento, mensuráveis em si
mesmas. Enquanto os dois primeiros enfatizam a estabilidade das características
intelectuais, Binet refere explicitamente a sua educação.
Como pontos de aproximação entre os autores, podemos citar a concepção da inteligência
como um todo, seja como uma capacidade mental unitária, seja como um produto que
integra diferentes capacidades. O segundo liga-se à preocupação comum na avaliação da
inteligência. Aspectos metodológicos e a elaboração de instrumentos aparecem nos três
autores. Nos dois primeiros essa avaliação centra-se em índices fisiológicos, enquanto
Binet valoriza parâmetros da realização dos indivíduos em tarefas envolvendo memória,
aprendizagem e resolução de problemas.
-Sir Francis Galton
"Toda a informação que nos chega dos acontecimentos eternos passa através dos nossos
sentidos; e quanto maior for a percepção das diferenças pelos sentidos, mais amplos serão
os campos em que o nosso julgamento e inteligência podem atuar"
Galton concebeu uma das primeiras tentativas de medida das diferenças intelectuais dos
indivíduos, colocando ênfase na medida ou quantificação dos fenômenos psíquicos, que
prende-se com a sua crença expressa de que qualquer fenômeno apenas é científico
quando mensurável. Traz forte influência da teoria da Evolução das Espécies de Darwin.
Galton falava sobre as diferenças intelectuais entre os sujeitos, entre famílias e raças,
defendendo a sua origem hereditária. Galton pensava ser possível que, através do
conhecimento dos indivíduos mais inteligentes, pudéssemos implementar um programa
para promover as capacidades intelectuais das gerações futuras (programa eugênico).
Em sua escala métrica, Galton incluiu vários traços físicos, testes de acuidade sensorial,
força muscular e outras funções sensório-motoras simples. Galton partiu do pressuposto de
que, quanto mais baixo fosse o nivel de aptidão intelectual de um indivíduo, menor seria a
sua capacidade de discriminação sensorial e coordenação motora. Estas duas capacidades
constituíam um bom índice das capacidades intelectuais dos sujeitos.
Esta concepção terá a ver com a influência empirista e associacionista. Tais concepções
acentuam o papel dos sentidos no ato do conhecimento. Assim, as capacidades intelectuais
estariam constrangidas pelo espaço que o discernimento sensorial lhes permitia.
-James Mckeen Cattell
"Não existe problema científico mais importante do que o estudo do desenvolvimento do
homem, nem problema prático mais urgente do que a aplicação desse conhecimento na
orientação deste desenvolvimento"
Cattell prosseguiu a medida das capacidades sensoriais, perceptivas e motoras. Utilizando
um conjunto de 10 testes, cobriu uma área diversificada de capacidades: tempos de reação,
velocidade do movimento, nomeação de cores, comparação de pesos, etc. Na seleção
destes testes, Cattell seguiu a perspectiva de Galton, segundo a qual a medida das funções
intelectuais seria possível através de testes de discriminação sensorial e coordenação
motora.
A análise das correlações entre as medidas sensoriais-motoras e outras medidas da
capacidade intelectual por um lado , e com o aproveitamento escolar por outro, contrariam
as suas concepções fazendo diminuir progressivamente a utilização das suas escalas para
tais fins. Apesar de limitações inerentes à constituição da amostra (muito homogênea) e às
medidas utilizadas no estudo, os resultados das baixas correlações encontradas são bem
ilustrativos da ausência de uma relação importante entre as capacidades medidas por esses
testes e a sua realização escolar. Tais conclusões terão contribuído para explicar a
importância das posições de Binet e a grande aceitação da sua escala de inteligência nos
EUA.
-Alfred Binet
"Se não se faz nada, se não se intervém ativa e útilmente, ela (criança com dificuldades
intelectuais) vai continuar a perder o seu tempo e, constatando a inutilidade do seu esforço,
acabará por se desencorajar".
Inicialmente, Binet terá tentado avaliar a inteligência através da mensuração dos traços
físicos, aspectos sensoriais e análise de caligrafia. Inicialmente, considera o termo
inteligência como referente, por um lado, à percepção de mundo exterior e, por outro, à
memorização e evocação dessas percepções ou meditações nelas. No entanto, a análise
dos resultados alcançados levaram-no a defender, progressivamente, uma medida direta da
capacidade intelectual e a não aceitar que funções psicológicas superiores ou complexas
pudessem ser atingidas a partir de funções simples.
Em 1896, Binet e Henri criticam o tipo de testes mentais desenvolvidos por Galton e Cartell
para a avaliação das capacidades intelectuais. Progressivamente as suas críticas acentuam
a incidência dessas provas no funcionamento sensorial e processo psicológicos simples e,
no fato, das mesmas não conterem uma amostra suficiente e variada de medidas que
cobrisse as várias faculdades mentais, nomeadamente as de nível superior.
Encontramos outro ponto de discórdia na valorização excessiva que é dada à resposta em
si mesma, sem a inserção conveniente do sujeito que responde. Trata-se de uma alusão ao
esforço de "dessubjetivação" na observação do comportamento humano, defendido pela
Escola Alemã.
Para Binet, mesmo na resposta mais simples a um estímulo, não podemos isolar apenas
um único processo psicológico. Trata-se sempre de uma resposta personalizada, pois
suscita sempre a atividade do sujeito como ser inteiro, com todas as suas faculdades, pode
entrar em ação segundo as circunstâncias.
➢Noção de Inteligência:
No sentido de uma definição clara, pode-se dizer que elas não foram demasiadamente
desenvolvidas por Binet, que estava mais preocupado com os aspectos práticos da
elaboração e utilização de um instrumento de medida das capacidades intelectuais infantis.
No entanto, também refere que o pensamento não é explicável por meros mecanismos de
associação de ideias, antes supõe constantes operações de escolha e de direção,
concepção que afasta Binet das perspectivas bio-mecanicistas de adaptação, ao mesmo
tempo que deixa em aberto a possibilidade de uma intervenção educativa orientada para a
sua promoção.
Assim, a inteligência é fundamentalmente ação e como tal comporta etapas: compreensão,
invenção, direção e censura. Perante um problema específico, o sujeito mostra que é
inteligente:
1. Compreendendo de que se trata o problema, a sua natureza e os dados existentes;
2. inventando uma ou mais alternativas à resolução do problema apresentado;
3. tento sempre claramente presente no seu espírito este fim ou a direção a seguir ao
longo das tentativas, reais ou mentais, de resolução, e;
4. avaliando os seus processos e os seus resultados, prováveis ou reais, assegurando
uma ligação entre os meios utilizados e o objetivo a atingir durante todo o processo.
Dessa forma, os itens mais adequados a tal avaliação seriam os que pressupunham um
maior número desses componentes para a sua correta solução, aspecto este que permite
diferenciar a inteligência da criança e do adulto.
➢Escalas de inteligência:
A escala permitiria diferenciar os atrasos escolares diretamente ligados a deficiências
intelectuais dos atrasos associados a condições ambientais desfavoráveis ou a problemas
de índole afetiva. No seu conjunto, a escala era constituída por 30 situações, organizadas
por ordem crescente de dificuldade, tendo como base os resultados de 50 crianças normais
dos 3 aos 13 anos.
Os itens cobrem uma grande quantidade de funções: memória, atenção, compreensão e
raciocínio, incluindo-se itens sensoriais e de coordenação motora. Tal fato sugere que, para
Binet, a inteligência seria algo global ou unitário, um produto de muitas aptidões. A
natureza composta da escalateria a ver com o fato de a nossa inteligência ser, em si
mesma, um feixe de tendências.
Os testes deveriam ser constituídos de modo a proporcionar um índice único, a partir da
combinação de uma pluralidade de itens. Esse princípio foi seriamente contestado pelos
estudos fatoriais, que levaram, a partir dos anos 30, à inclusão de provas específicas
quanto ao conteúdo e quanto à operação cognitiva avaliada.
Outro pormenor com implicações na elaboração da escala foi a noção de desenvolvimento
mental. Binet reconhece uma relação entre o crescimento etário dos sujeitos e a sua
capacidade de resolução das situações. Assim, na revisão de 1908, os itens aparecem já
agrupados por escalões etários dos 3 aos 13 anos.
Reporta-se ainda a esta versão a introdução do conceito de Idade Mental ou nível de
desenvolvimento mental. Para o cálculo, reconhecia a flutuação na resolução correta dos
itens pelos vários níveis etários, a Idade Mental resultaria da soma da Idade Base (nível
etário em que todos os itens eram convenientemente resolvidos) com as bonificações em
meses resultantes da resolução de itens respeitantes a níveis etários posteriores.
Com base na diferença entre a Idade Mental e a Idade Cronológica é possível ver se uma
criança apresenta um desenvolvimento mental normal ou se caracteriza um avanço ou
atraso.
➢O trabalho pioneiro de Binet:
Vale ressaltar o corte com a ciência psicológica da época, dominada pela corrente
experimentalista alemã. Traz a novidade da conceptualização da inteligência como um
processo psicológico complexo ou de nível superior, a que não se pode chegar com base
nas funções simples sensório-motoras. A inteligência pode ser objeto de avaliação em
condições objetivas e seguras tomando as suas manifestações mais diretas através da
resolução pela criança de problemas envolvendo a compreensão, a memória, a
comparação, o raciocínio, etc.
Paralelamente, refira-se a divergência em relação a esses trabalhos laboratoriais que
facilmente ignoravam a especialidade do sujeito ou as suas características individuais nos
comportamentos avaliados. Binet sempre ressaltou o componente motivacional ou
direcional do comportamento humano por oposição às concepções demasiado mecanicistas
de adaptação então em voga. Decorre assim a sua maior valorização da orientação clínica
e da componente intuitiva no uso do seu instrumento.
A obra de Binet foi continuada através de duas vias. A primeira está relacionada com o
instrumento elaborado, com o seu aperfeiçoamento e utilização-corrente psicométrica. A
segunda, traduzindo mais as suas preocupações de observação e avaliação do
comportamento "in loco" no sentido de sua compreensão mais que medida, aparecerá mais
tarde com Piaget.
Para Binet, a constatação de um nível intelectual não tem qualquer interesse se não se fizer
acompanhar de uma interpretação das causas que o produziram. Esse esforço pressupõe a
inserção dos resultados no seu contexto e uma preocupação globalizante e compreensiva
por parte do psicólogo. Também encontra-se em Binet uma proposta de intervenção
psicológica no desenvolvimento dos indivíduos, o que também pode ser aproveitado como
mais um ponto de referências no paralelismo estabelecido entre as duas vias apresentadas.
Por um lado, não valoriza a base genética da inteligência e, por outro, acentua o papel da
educação no desenvolvimento da inteligência.
Atribui-se a Binet a designação "ortopedia mental" como designando uma intervenção tendo
em vista aumentar a facilidade dos sujeitos em certos componentes de aptidão ou melhorar
as funções intelectuais. O conceito de facilidade tem relação com a sua noção de debilidade
mental. Para Binet, esta não consiste em um estado ou nível mental imutável, mas tem a
ver com uma certa velocidade de desenvolvimento caracterizada por uma maior lentidão.

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