Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Definição Distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de déficit de insulina (absoluto ou relativo) e/ou resistência à insulina, que em longo prazo promove lesões em órgãos-alvo. Resistência à insulina: estado no qual quantidades de insulina maiores do que o normal são necessárias para provocar uma resposta quantitativamente normal. Epidemiologia Importante e crescente problema de saúde em TODOS os países. Está associado a maiores taxas de hospitalizações, maior utilização dos serviços de saúde e cuidados prolongados requeridos para tratar as complicações crônicas como doenças cardiovasculares, cegueira, insuficiência renal e pé diabético; com importante carga nos custos diretos para o sistema de saúde e para a sociedade e indiretos pela mortalidade prematura e incapacitações decorrentes das complicações. Prevalência estimada de 8,8% na população mundial com 20 a 79 anos. 79% dos casos vivem em países em desenvolvimento. Brasil, com 12,5 milhões de casos em 2017, é o 4º na relação dos 10 países com maior nº de pessoas com diabetes, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos da América. A prevalência estimada no Brasil em 2011 foi de 6,2%, com maior taxa em mulheres, indivíduos sem instrução com ensino fundamental incompleto. DM tipo 1: estima-se que o Brasil ocupe o 3º lugar em prevalência no mundo; apenas 5 a 10% de todos os casos de DM, mas na infância é o tipo + comum; + frequente em crianças e adolescentes, mas até 30% ocorre após os 30 anos (LADA - Latent Autoimune Diabetes of adults); afeta = homens e mulheres. DM tipo 2: 90 a 95% de todos os casos de DM; + em > 40 anos, mas nos últimos anos vem ↑ incidência em adolescentes, associada a história familiar e excesso de peso. DMG: prevalência varia de 1 a 14%, dependendo da população e do critério diagnóstico adotado. Fatores relacionados ao aumento da prevalência: rápida urbanização, transição nutricional, obesidade, sedentarismo, crescimento e envelhecimento populacional, maior sobrevida dos indivíduos com diabetes. Outros fatores de risco: baixo ou elevado peso ao nascer; tabagismo; índios. o No Brasil, a prevalência da comorbidade é de 28,2% nos índios Xavante do estado do Mato Grosso. Estima-se que cerca de 50% dos casos de diabetes em adultos não sejam diagnosticados e que 84,3% destes estejam em países em desenvolvimento. Pode permanecer não detectada por vários anos devido baixo desempenho dos sistemas de saúde, pouca conscientização sobre diabetes entre a população geral e os profissionais de saúde e início insidioso dos sintomas do diabetes tipo 2 → oportuniza complicações. O diabetes apresentou taxa de 10,1 por mil habitantes de DALY (Disability-Adjusted Life Years/Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade). Glicemia elevada é o 3º fator de causa de mortalidade prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco. O diabetes é responsável por 10,7% da mortalidade mundial por todas as causas. o Tal mortalidade é subestimada por falta de informação e frequentemente omissão, por ter sido as complicações (principalmente as cardiovasculares) que figurou a causa de óbito. Complicações Categorizadas em distúrbios microvasculares (risco relativo 10 a 20 vezes > do que em indivíduos sem diabetes) e macrovasculares (risco relativo 2 a 4 vezes > do que em indivíduos sem diabetes) que resultam em retinopatia, nefropatia, neuropatia, Diabetes Mellitus (DM) doença coronariana, doença cerebrovascular e doença arterial periférica. O diabetes tem sido responsabilizado também por contribuir para agravos, direta ou indiretamente, no sistema musculoesquelético, no sistema digestório, na função cognitiva e na saúde mental, além de ser associado a diversos tipos de câncer. Comorbidades Frequentemente diabetes está associado a outras morbidades: 26,6% tem 1 morbidade associada; 23,2% tem 2 morbidades associadas; 32% tem 3 ou mais morbidades associadas; Apareceu isolado apenas em 18,1% dos indivíduos; Hipertensão arterial é 2,4x mais frequente naqueles com diabetes; Tuberculose pode induzir intolerância a glicose; e diabetes é fator de risco para tuberculose; Frequência de diabetes é maior em quem tem hanseníase. Prevenção Prevenção efetiva significa atenção à saúde de modo eficaz e compreende: Prevenção Primária/do início: o diabetes tipo 1 não tem base racional que se possa aplicar à população geral; no diabetes tipo 2 alimentação saudável, controle da obesidade, manter atividade física de 150 minutos por semana, rastrear hipertensão arterial, dislipidemia e fatores de risco cardiovascular modificáveis e intervir. Agentes farmacológicos, como metformina, têm diminuído a incidência de diabetes em indivíduos com pré-diabetes; Prevenção secundária/das complicações: fazer o controle metabólico do diabetes; Prevenção terciária/Reabilitação e limitação das incapacidades produzidas pelas complicações. Classificação etiológica DM tipo 1 (DM1) - Tipo 1A: deficiência completa de insulina por destruição autoimune das células β comprovada por exames laboratoriais; - Tipo 1B: deficiência de insulina de natureza idiopática DM tipo 2 Perda progressiva de secreção insulínica combinada com resistência à insulina DM gesta cional Hiperglicemia de graus variados diagnosticada durante a gestação, na ausência de critérios de DM prévio Outros tipos de DM - Monogênicos (maturity-onset diabetes of the Young – MODY); - Diabetes neonatal (diagnóstico nos primeiros 6 meses de vida); - Secundário a endocrinopatias; - Secundário a doenças do pâncreas exócrino; - Secundário a infecções; - Secundário a medicamentos O déficit de insulina e/ou resistência à insulina → resulta em diminuição da utilização periférica e aumento da produção hepática de glicose. Os fatores causais dos principais tipos de DM ainda não são completamente conhecidos. DM1: doença autoimune, poligênica. Subdivide-se em: DM tipo 1A – presença laboratorial de autoanticorpos circulantes; forma mais frequente de DM1. Forte associação com antígeno leucocitário humano (HLA) DR3 e DR4. Fisiopatologia envolve genética e fatores ambientais desencadeantes da resposta imune (ex. infecções virais, componentes dietéticos, composição da microbiota intestinal). Os marcadores conhecidos de autoimunidade são: anticorpo anti-ilhota (islet cell antibody, ICA), autoanticorpo anti-insulina (insulin autoantibody, IAA), anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti- GAD65), anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B e anticorpo antitransportador de zinco (Znt8). Geralmente os autoanticorpos precedem a hiperglicemia por meses a anos e quanto mais autoanticorpos > a chance de desenvolver a doença. Na prática clínica, NÃO se recomenda rotineiramente dosagem de autoanticorpos; DM tipo 1B ou idiopático – ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes. O diagnóstico pode ser confundido com outras formas de DM, mas necessita de insulinoterapia plena precoce. As recomendações terapêuticas e riscos para as complicações crônicas são as mesmas do DM1A. DM2: doença poligênica. Etiologia envolve genética (tem forte herança familiar) e fatores ambientais (principais são dieta e inatividade física que contribuem para obesidade). Fisiopatologia NÃO apresenta indicadores específicos da doença. →Fisiopatologia DM2: a hiperglicemia e resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina ocorrem junto a hiperglucagonemia, ↑ da produção hepática de glicose, disfunção incretínica, ↑ de lipólise → ↑ ácidos graxos livres → ↑reabsorção renal de glicose e deficiência na síntese e secreção de insulina na célula β pancreática. Insulina é responsável pela manutenção dahomeostase da glicose dentro de uma estreita faixa de variação ao longo dos estados alimentados e jejum. Tem efeitos estimulantes sobre a captação de glicose periférica, especialmente pelo músculo e tecido adiposo, e efeitos inibidores sobre produção hepática de glicose. DMG: a gestação é diabetogênica, pois a placenta produz hormônios hiperglicemiantes e enzimas que degradam insulina → ↑ compensatório na produção de insulina e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células β. São fatores de risco p/ DMG: idade materna avançada; excesso de peso ou ganho excessivo de peso na gravidez atual; deposição central excessiva de gordura corporal; história familiar de diabetes em parentes de 1º grau; crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual; antecedentes obstétricos de abortamentos de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG; síndrome de ovários policísticos; baixa estatura (< 1,5 m). O DMG traz riscos para mãe, feto e neonato, esses riscos incluem parto cesáreo, recém-nascido com peso > percentil 90 e hipoglicemia neonatal, dentre outros decorrentes do ↑ dos níveis glicêmicos. O DMG pode ser transitório ou persistente após o parto. Outros tipos de DM: outras formas menos comuns de DM, cuja apresentação clínica é bastante variada e depende da alteração de base que provocou o distúrbio do metabolismo glicídico. Inclui defeitos genéticos que resultam na disfunção das células β (ex. MODY, diabetes neonatal), os defeitos genéticos na ação da insulina, as doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, diabetes induzido por medicamentos (ex.: glicocorticoides, ácido nicotínico, antipsicótico atípico) ou agentes químicos, infecções (ex. rubéola congênita, citomegalovírus), formas incomuns de DM autoimune e outras condições. MODY: 1 a 2% de todos os casos de DM; caracteriza-se por herança autossômica dominante, aparece geralmente em < 25 anos e tem graus variáveis de disfunção da célula β; na maioria das vezes é diagnosticado como DM1 ou 2. É clínica e geneticamente heterogêneo, pelo menos 13 subtipos já foram identificados, mais comuns são mutações nos genes HNF1A (MODY 3) e GCK (MODY 2). Clínica DM1: mais comum em crianças e adolescentes; maioria dos pacientes tem peso normal, mas excesso de peso não exclui o diagnóstico da doença. O início das manifestações é, em geral, abrupto e clássico – poliúria, polidipsia, polifagia e perda ponderal inexplicada (4Ps) –, sendo a cetoacidose diabética a 1ª manifestação em 1/3 dos casos. DM2: mais comum em > 40 anos; em 80 a 90% dos casos se associa a excesso de peso e outros componentes da síndrome metabólica. Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, com diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com < frequência, há sintomas clássicos de hiperglicemia (4Ps). Raramente a cetoacidose diabética é a 1ª manifestação. Mesmo em assintomáticos, se houver os fatores de risco (quadro 3)→ rastrear para diagnóstico precoce. Se investigação normal → repetir rastreamento em 3 anos ou menos (ex. se pré-diabetes, reavaliação anual). *Em >45 anos não é necessário excesso de peso para ser indicado rastrear. **Há questionários que fornecerem escores para decisão de rastreamento, como o Finnish Diabetes Risk Score (FINDRISC) ou o da Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association, ADA). →No rastreamento é utilizado os mesmos testes diagnósticos de DM2. Diagnóstico Pré-diabetes: valores glicêmicos acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM. Se não alterar fatores de risco modificáveis → em geral evolui para DM manifesta. Na maioria dos casos de pré-diabetes e diabetes, a condição é assintomática e o diagnóstico é por exames laboratoriais. Glicemia de jejum: coleta-se o sangue após jejum mín. de 8 horas. OMS emprega valor de corte de 110 mg/dL para normalidade da glicose em jejum. Teste de Tolerância Oral a Glicose (TOTG): previamente à ingestão de 75 g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia; coleta-se outra após 2 horas da sobrecarga oral. Pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de 1ª fase da secreção de insulina. Hemoglobina glicada (HbA1c): medida indireta da glicemia, reflete níveis glicêmicos nos últimos 3 a 4 meses (glicose se liga irreversivelmente a Hb durante o período de vida da hemácia que possui essa duração) e independe do estado de jejum. Casos de anemias, hemoglobinopatias e uremia interferem e então é preferível diagnosticar DM com medidas diretas. Deve-se utilizar técnica laboratorial certificada pela National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP). Possui faixa de normalidade de 4 a 6%. A fração A1c é a que se mostra relacionada ao risco cardiovascular. A confirmação diagnóstica requer repetição dos exames alterados em 2ª amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia, tais como polidipsia, polifagia e emagrecimento. Os pacientes com estes sintomas devem ser submetidos à dosagem de glicemia ao acaso, independente do jejum, sem precisar confirmar com 2ª dose se glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL. →O DM1 tem critérios semelhantes, porém, as manifestações clínicas são mais evidentes que no DM2. →No DMG sugere-se rastreamento na 1ª consulta pré-natal, se algum dos critérios acima (incluindo os valores de referência) presente → diagnóstico de DM; se sem diagnóstico de DM, mas glicemia de jejum ≥ 92 mg/dL → diagnóstico de DMG OU glicemia de jejum < 92 mg/dL → outra investigação (por TOTG) entre 24 e 28 semanas. Tratamento Objetiva o bom controle metabólico (o + próximo possível do normal), ↓ riscos de complicações micro e macrovasculares. Medidas de estilo de vida (MEV) Indicadas para o DM 1 e 2. Outro critério p/ diagnóstico de DM adotado pela SBD Glicose ao acaso (mg/dL) ≥ 200 mg/dL com sintomas inequívocos de hiperglicemia Orientação alimentar: ideal é ser feito por um nutricionista, com composição da dieta individualizada, considerando inclusive preferências pessoais. O plano alimentar é o mesmo que deveria ser seguidos por todos, com diabetes ou não: evitar açúcares refinados (sacarose) e alimentos de absorção rápida, e instituir uma alimentação equilibrada com carboidratos (50 a 60%), proteínas (15%) e gorduras (30%). A preferência deve ser para os alimentos com baixo índice glicêmico (de absorção + lenta, menor ↑ da glicemia pós- prandial), como o arroz integral, feijão e fibras solúveis (aveia, cereais, grãos). No DM1 geralmente são magros → manter aporte calórico suficiente para peso ideal. →Associação de um plano alimentar à contagem de carboidratos facilita cálculo da dose de insulina a ser administrada antes de cada refeição e propicia > precisão na prescrição. Atividade física regular: determinante na prevenção do DM2 e no tratamento (tto) de todas as formas de DM. Auxilia no aspecto emocional, bem-estar físico e melhora do equilíbrio metabólico. Em geral, 150min/semana, mas individualização do plano de exercício é fundamental para o sucesso terapêutico. Aumenta sensibilidade à insulina, facilita entrada da glicose na célula muscular → ↓ níveis glicêmicos. Atenção deve ser dada ao risco de hipoglicemia: a monitorização pela glicemia capilar ou a CGM e ajustes da bomba de insulina 90 minutos (min) antes de iniciar o exercício podem auxiliar a ↓ o medo. Sugestão de conduta quando glicemia pré- exercício: <90mg/dL, ingerir carboidratos de ação rápida antes do início do exercício; 90-150mg/dL consumir carboidratos a partir doinício do exercício e por hora de exercício; 150-250mg/dL iniciar exercício e atrasar o consumo de carboidratos até glicemia <150mg/dL; >250mg/dL adiar exercício. Perda de peso: nos com DM2 com excesso de peso, a manutenção de perda de peso em torno de 5% do peso inicial tem demonstrado bons resultados no controle glicêmico e na redução da necessidade de medicamentos antidiabéticos. Ainda, pode retardar progressão de pré-diabetes para DM 2. O manejo da obesidade inclui: Dietoterapia Prática de exercícios físicos Terapia comportamental Medicamentos Cirurgia metabólica. →Medicamentos e cirurgia são prescritos para pacientes cuidadosamente selecionados como tratamentos adjuvantes aos demais. Tabagismo: tratar para cessar, pois aumenta o risco de desenvolver DM2, influencia negativamente o controle da doença já estabelecida e contribui para complicações. DM tipo 1 Caracterizada por produção insuficiente de insulina → tto é a reposição desse hormônio. Sem insulina → expectativa de vida muito curta. A insulinoterapia é por toda a vida. É feita a manutenção da insulina basal ao longo de todo o dia + 3 ou 4 doses de insulina (bolus de refeição). A insulinoterapia em esquema intensivo (basal- bolus), seja com múltiplas aplicações ao dia ou com o sistema de infusão contínua (SICI) é a terapêutica fundamental. Para mimetizar efeito da insulina basal (aquela que se mantem em níveis constantes ao longo do tempo), pode ser usado insulinas de: o Ação prolongada: Glargina (Lantus ®, Basaglar ®), Detemir (Levemir ®) e Degludeca (Tresiba ®). São as melhores opções de insulina basal, pois se mantem por período médio de 24h (aplicada 1x/dia; ainda, a Degludeca ultrapassa 24h, criando efeito de proteção caso atrase próxima tomada) e não tem picos significantes (↓ risco de hipoglicemia). o Ação intermediária: Insulina protamina neutra Hagedorn (neutral protamine Hagedorn, NPH). Tem efeito por 12h (aplicação mín. 2x/dia, 1 de manhã e 1 a noite) e possui pico significante (diferente da insulina basal fisiológica), porém, é a única opção de insulina basal disponibilizada pelo SUS → assim, é a + utilizada no Brasil. Insulina prandial prandial (aquela que faz picos após refeições e depois cede) deve ser administrada antes de cada refeição principal. Podem ser utilizadas as insulinas: o Ação mais ultrarrápida: Fiasp. Aplicada 2min antes das principais refeições ou até 20min após o término delas. o Ação ultrarrápida: Lispro (Humalog ®), Aspart (Novorapid ®), Glulisina (Apidra ®). Aplicadas 15min antes da refeição ou logo ao término delas, com tempo de ação mais curto → forma pico semelhante ao fisiológico. O uso destes é superior na diminuição dos episódios hipoglicêmicos. o Ação rápida/curta: Regular. Aplicada 40min antes da refeição e tem tempo de ação mais longo, formando picos mais alargados e, portanto, diferentes do fisiológico. Contudo, é a única disponível pelo SUS → assim, é a + utilizada no Brasil. →Apesar das desvantagens das opções medicamentosas disponíveis pelo SUS (NPH e Regular), é um tto eficaz no controle da DM. →A aplicação pode ser feita por meio de seringa, caneta ou sistema de infusão contínua de insulina (SICI). →A dose diária total de insulina varia de 0,5 a 1 U/kg/dia e depende de diversos fatores como idade, peso, estadiamento puberal, duração do diabetes, estado do local de aplicação da insulina e rotina diária. SICI: uma bomba de infusão injeta de maneira constante a insulina através de cateter colocado pelo próprio paciente no tecido subcutâneo, substituído a cada 3 dias. Utiliza insulina ultrarrápida e pode ser programado para liberar dose basal e através de um toque antes das refeições liberar um bolus. É o meio + fisiológico de administração de insulina. As desvantagens são o elevado custo do aparelho, risco de infecção no local de inserção do cateter e risco de obstrução do cateter levando a cetoacidose diabética. O controle glicêmico deve ser rígido, contanto que não eleve significativamente risco de hipoglicemia → ↓ complicações crônicas microvasculares e ↓ progressão das complicações já estabelecidas. Automonitorização é necessária para verificar eficácia e segurança do tto. Feita pelo paciente com um glicosímetro, idealmente 4x/dia (antes das refeições principais e antes de dormir) e para alguns, mais vezes. As doses de insulina podem ser ajustadas conforme os valores mensurados; a modificação é obrigatória quando as metas (tabela 3, pág. 6) não são atendidas ou glicemias muito baixas. A HbA1C é o padrão-ouro p/ avaliar o controle na DM1, reflete a média das glicemias em um período, não substituindo a medida das glicemias capilares, que fornecem informação da glicemia atual, pois paciente pode ter hiperglicemia e hipoglicemia no período permanecendo Hb glicada na faixa normal → devem ser utilizadas em conjunto. Pré-diabetes Orientar quanto as MEV é o principal. Em obesos grau II (IMC>35), história de DM gestacional e/ou HbA1c > 6% mesmo com MEV → também é iniciado Metformina (único medicamento comprovado p/ redução do desenvolvimento de DM). DM tipo 2 Depende da sintomatologia e nível glicêmico: Quando paciente é assintomático ou tem apenas sintomas leves e glicemia <200mg/dL, provavelmente só resistência insulínica, mas ainda consegue compensar isso → iniciar monoterapia com Metformina. Se intolerância à metformina, utilizar pioglitazona, gliptinas (inibidores da DPP4), inibidores de SLGT2 ou mimético do GLP-1. o Metformina (1.000 a 2.550mg, 2 a 3x/dia), uma biguanida, ↓ produção hepática de glicose com < ação sensibilizadora da ação da insulina. o Pioglizatona (15 a 45mg, 1x/dia), aumenta sensibilidade à insulina em músculo, adipócito e hepatócito. Quando glicemia entre 200-300mg/dL e sem manifestações graves, provável que além da resistência, esteja começando a reduzir produção de insulina → Metformina + secretagogo (ex. sulfonilureia, glinida). Pode ser necessária a combinação de outras classes de medicação antidiabética oral, como inibidor da DPP-4, os análogos do GLP-1 e os inibidores de SGLT2. o Sulfonilureias disponíveis no SUS: Glibenclamida (2,5 a 20mg, 1 a 2x/dia) e Glicazida (40 a 320mg, 1 a 2x/dia). Quando glicemia > 300mg/dL e manifestações graves (ex. perda significativa de peso, cetonúria) → insulinoterapia. Monitorização: é necessário observar o controle dos níveis glicêmicos e a titulação dos diferentes fármacos a cada 2 a 3 meses, durante o ajuste terapêutico do paciente com DM. Se iniciada terapia e não houver compensação → associar outras drogas. Quando atingir 3 hipoglicemiantes → pensar em introduzir insulina. Insulinoterapia no DM2 deve ser introduzida de forma gradual, em 3 etapas: 1. Inicia-se com 1 insulina Basal (0,1-0,3UI/kg/dia – NPH, Detemir, Glargina ou Degludeca), mantendo hipoglicemiante(s) oral(is). 2. Insulina Basal-Plus: iniciada no paciente que se manteve descompensado após 1ª etapa. Consiste em associar uma ou mais doses de insulina prandial (Regular, Lispro, Asparte ou Glulisina) à basal em uso, podendo optar por manter (exceto os secretagogos) ou ↓ os hipoglicemiantes orais. 3. Insulina Basal-Bolus: se paciente continuar descompensado após 2ª etapa → insulinização plena (= DM1, dose de insulina de ação longa/ultralonga + 3 ou 4 doses de insulina de ação rápida/ultrarrápida por dia). Monitorização Para monitorar o controle glicêmico, encontram-se disponível a HbA1c, as glicemias capilares diárias (permitem o cálculo da glicemia média estimada), o desvio-padrão da média da glicemia (ilustra a variabilidade glicêmica) e o tempo no alvo (tempo em que o paciente esteve dentro da faixa recomendada de glicemia). As doses de insulina podem ser ajustadas, pelos pacientesou familiares em associação com a equipe multiprofissional, conforme os valores mensurados. HbA1c recomenda-se que seja realizada a cada 3 a 4 meses em crianças e adolescentes e 2 medidas/ano em adultos. *Apesar dos alvos, sempre é importante individualizar o tto, em alguns casos a meta pode ser mais rígida (< que a recomendada), desde que seguro ao paciente, pois foi evidenciado ↓ risco microvascular assim. *Em condições predisponentes a hipoglicemia (como insuficiência renal ou hepática), idosos, paciente com baixa expectativa de vida ou complicações micro ou macrovasculares → o alvo glicêmico pode ser + elevado. Também aqueles com longa duração do DM com controle inadequado por longos períodos. *HbA1c igual a 7% interpreta-se como correspondente a uma glicemia média estimada de 154 mg/dL, e não 163 mg/dL como antes. Porém, HbA1c de 7% corresponde a glicemia que varia de 122 a 184 mg/dL, portanto, outras ferramentas devem servir de parâmetro p/ controle metabólico como o tempo alvo e o coeficiente de variação. Automonitorização diária da glicemia capilar: maioria é realizada com glicosímetro, que permite upload dos dados para a nuvem, com glicemias expostas conforme horário, dia e tendência ao longo do mês, média e desvio padrão no período, a menor e a maior glicemia do período e índices com risco de hipo ou hiperglicemia, ainda, alguns incluem o coeficiente de variação. Cada vez menos necessário: logbook (livrinhos de anotação de glicemias, sujeitos a valores fictícios). Naqueles com DM1, a automonitorização ↓ risco de complicações aguda (ex. cetoacidose, hipoglicemia). *O alvo de adultos com DM1 é o mesmo para DM2. *As metas para crianças e adolescentes tem níveis glicêmicos + elevados pelo > risco de hipoglicemia e > dificuldade em reconhecer sinais e sintomas da hipoglicemia impedindo de tomar atitudes necessárias. Em adultos com DM2, em uso de insulina basal ou hipoglicemiantes orais, há poucas evidências sobre qtde de testes necessários, é sugerido mín. 4 medidas/dia: antes das refeições principais, ao deitar e, idealmente, 2h após refeições para ajuste da insulina bolus (portanto 6 vezes/dia). A frequência de monitorização está associada a melhora da HbA1c. Instruir aos pacientes: • Efetuar medição em situações especiais, como: antes e depois de exercício intenso p/ ajuste da insulina e da ingestão de carboidratos; ↑ a frequência de medição durante doenças para prevenir crises hiperglicêmicas, principalmente em crianças. • Intensificar medidas capilares 3 dias antes da consulta médica para se obter mais dados p/ intervir na conduta da insulina. Desvio-padrão da média da glicemia: medida obtida por upload do glicosímetro, avalia a variabilidade glicêmica, que idealmente deve ser < 50 mg/dL ou no máximo, 1/3 da média das glicemias. Quanto > o desvio-padrão → + instável é a glicemia, muitas vezes produzindo HbA1c próxima dos valores ideais às custas de muita hipoglicemia. Coeficiente de variação (desvio padrão ÷ média da glicemia x 100): quando ≥ 36% → > risco de hipoglicemia e > instabilidade glicêmica. Mais usado naqueles com que fazem monitorização contínua de glicose. Tempo no alvo (time in range, TIR): medida obtida ao realizar upload do glicosímetro, resulta da incorporação do uso de sensor contínuo de glicose. Indica por quanto tempo (no período selecionado) paciente permaneceu com glicemias entre 70 e 180mg/dL. Cada vez mais valorizado, tendo correlação com complicações microvasculares (ex. retinopatia, nefropatia) e com a HbA1c (Tab. 5). Monitorização contínua de glicose (continuous glucose monitoring, CGM): realizada por sensor no interstício que faz a leitura da glicose a cada 5 minutos. O sensor pode fazer parte do conjunto da bomba de infusão de insulina – como a bomba da Medtronic MiniMed® (indisponível no Brasil) – ou apresentar-se isoladamente, como nos aparelhos Dexcom® (indisponível no Brasil) ou FreeStyle® Libre, da Abbott (comercializado recentemente no Brasil). É muito útil, em especial, em paciente com hipoglicemia assintomática → possibilita programar alarmes para quando determinado limite de glicemia for atingido. Pode substituir glicemias capilares de rotina em adultos com DM1 e bom controle metabólico, sem risco de hipoglicemia grave. O CGM é mais vantajoso que a automonitorização de glicemia tradicional: mede glicemia a cada 5 minutos em tempo real, informa sobre tendência de glicemias (para cima, estável ou para baixo), dá visão geral da glicemia na madrugada, conta com alarmes, é seguro e eficaz na população pediátrica. o Lembrar que há um lag time (em média 10minutos) entre a medida da glicemia capilar e a intersticial [ex. glicemia de 76 mg/dL indicada pelo sensor (com uma seta para baixo) pode corresponder, na realidade, a uma glicemia capilar de 50 mg/dL] → paciente deve estar atento às setas de tendência mais do que aos valores de glicemia. Monitorização de cetonas na urina e/ou no sangue: paciente deve ser alertado a fazer na vigência de doença intercorrente. Não é rotina no Brasil, pela dificuldade de conseguir fitas para cetonas na rede pública e falta de sistematização do seu uso. A medida de β- hidroxibutirato (β-OHB) no sangue tem sido + efetiva que a medida de cetonas na urina para prevenir internações por cetoacidos. Referência Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2019-2020. São Paulo: Clannad; 2019.
Compartilhar