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5511-10-DIREITOS-REAIS-158

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117
DIREITO CIVIL
DIREITOS REAIS
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO – DIREITO DAS COISAS X DIREITOS REAIS	4
2.	DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS	13
3.	POSSE	14
3.1. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E TEORIAS JUSTIFICADORAS	15
3.1.1. Conceito de posse	15
3.1.2. Natureza jurídica da posse	15
3.1.3. Teorias Justificadoras Da Posse	18
3.2. DIFERENÇAS ENTRE POSSE E DETENÇÃO	20
3.3. PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DA POSSE E SEUS OBJETOS	25
3.3.1. Quanto aos vícios objetivos	25
3.3.2. Quanto aos vícios subjetivos ou quanto à boa-fé	31
3.3.3. Quanto ao desdobramento (paralelismo ou relação pessoa - coisa)	36
3.3.4. Quanto à presença do título (causa representativa da posse, documentada ou não)	38
3.3.5. Quanto ao tempo	39
3.3.7. Composse ou compossessão (art. 1.199)	53
3.4. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE	56
4.	PROPRIEDADE (“GRUD”) – Gozar, Reivindicar, Usar e Dispor	65
4.1. CONCEITO E ATRIBUTOS	71
4.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE	75
4.3. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE	92
4.4. A FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE E A DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL EM POSSE-TRABALHO*	97
4.5. FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL	103
4.5.1. Usucapião imobiliária*	108
5.	ENFITEUSE*	118
6.	CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO*	124
7.	CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA*	126
8.	MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL	128
9.	MODOS DE PERDA DA PROPRIEDADE	131
10.	DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL	132
11.	DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA	133
12.	ARRENDAMENTO RURAL	139
13.	ADENDO: LEI 13.465/2017 E A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA*	139
14.	PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA – PMCMV*	146
15.	JURISPRUDÊNCIA EM TESES- STJ	151
16.	DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	152
17.	BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	152
ATUALIZADO EM 23/08/2020[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados.] 
DIREITO DAS COISAS
1. INTRODUÇÃO – DIREITO DAS COISAS X DIREITOS REAIS
A expressão “Direito das Coisas” significa um ramo do Direito Civil (Livro do CC/02) que tem por objeto as relações de domínio entre pessoas e coisas. Essa relação de domínio pode ser de dois tipos: domínio fático (posse) e domínio jurídico (propriedade). 
Existe uma pessoa que é o sujeito ativo dessa relação de domínio (soberania privada) sobre uma coisa. O sujeito passivo, para Orlando Gomes, é universal, isto é, toda a coletividade. Esse direito, em regra, é oponível a todos (efeitos erga omnes). Todos os doutrinadores aceitam essa ideia.
OBSERVAÇÃO¹: Devemos entender coisa como um bem corpóreo, material, tangível. Para os civilistas não existe posse ou propriedade sobre bens imateriais ou incorpóreos. Portanto, os civilistas não admitem a ideia de propriedade intelectual. Por quê? Primeiro porque você coisifica a pessoa. Segundo porque o regime jurídico é bem diverso (não existe usucapião para tais direitos, por exemplo). Além disso, posse e propriedade devem ser sobre bens passíveis de serem locados.
Nesse sentido, súmula nº 228 do STJ: É inadmissível interdito proibitório para proteção de direito autoral, já que não há posse sobre direitos autorais. Há direitos autorais, mas não posse ou propriedade sobre eles. Essa ideia de propriedade intelectual pode até ser interessante para direito empresarial, mas em provas de direito civil não devemos aceitar. 
OBSERVAÇÃO²: Esse esquema que vimos aqui explica a essência da teoria realista ou clássica: submissão da coisa + sujeito passivo universal. Foi superada a teoria personalista, que afirmava ser a relação de domínio uma relação entre pessoas intermediada por coisas. Apesar disso, veremos, posteriormente, uma tendência de volta dessa teoria, devido a uma aproximação entre os direitos pessoais e o direito das coisas.
a) Teoria personalista – teoria pela qual os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Segundo Orlando Gomes, “a diferença está no sujeito passivo. Enquanto no direito pessoal, esse sujeito passivo – o devedor – é pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, havendo nesse caso uma obrigação passiva universal, a de respeitar o direito – obrigação que se concretiza toda vez que alguém o viola”. Essa teoria nega realidade metodológica aos Direitos Reais e ao Direito das Coisas, entendidas as expressões como extensões de um campo metodológico.
b) Teoria realista ou clássica – o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos (erga omnes). O direito real opõe-se ao direito pessoal, pois o último traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados comportamentos.
Mas, afinal, qual a diferença entre Direito das Coisas e Direitos Reais? Para responder essa pergunta devemos analisar a organização do CC/02. O livro III é “do direito das coisas”, que se subdivide em Título I (Da Posse) e Título II (Dos Direitos Reais).
 
Desse modo, percebemos que, pelo CC/02, posse não é direito real (art. 1.225). Mas é direito das coisas. Direito das coisas é mais amplo. Apesar disso, Maria Berenice Dias, entre outros, tratam direitos reais como sendo o gênero. E a opção do legislador foi por essa diferenciação. Então direitos reais é parte do conteúdo dos direitos das coisas. 
Logo, a expressão “Direitos Reais” significa parte do conteúdo do “Direito das Coisas”. É um conjunto de institutos relacionados à propriedade, seja ela plena ou limitada. Assim, direitos reais remete ao domínio jurídico, não ao domínio fático (posse). 
· Oponibilidade erga omnes, ou seja, contra todos os membros da coletividade;
· Existência de um direito de sequela, que segue a coisa;
· Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real;
· Possibilidade de abandono dos direitos reais, de renúncia a tais direitos;
· Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse;
· Previsão da usucapião como um dos meios de sua aquisição;
· Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos, previstos em lei, o que consagra o princípio da tipicidade dos direitos reais;
· Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da coisa ou tradição (no caso de bens móveis) e pelo registro (no caso de bens imóveis).
O art. 1225 do CC/02 traz os direitos reais. São direitos reais: 
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
* XIII – a laje (incluído pela Lei 13.465 de 2017)
I - a propriedade;
- Direito real sobre coisa própria.
- Aqui é propriedade plena.
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
- Direitos reais da coisa alheia de gozo ou fruição: o terceiro terá a coisa consigo e retirará a utilidade.
*#OUSESABER: O Direito Real de habitação se trata de um direito real de fruição, em que o proprietário confere a um terceiro, denominado habitante, o direito de habitar o imóvel a seu favor e de sua família. O art. 1414, do Código Civil, deixa evidente o caráter personalíssimo do instituto, não sendo possível ceder o direito a terceiros, eis que o instituto visa à moradia específica do beneficiado. Dessa forma, não é admissível o direito real de habitação de segundo grau, ou seja, que o HABITANTE instituaum benefício semelhante em favor de terceiro. Todavia, é possível o direito real de habitação simultâneo, isto é, a possibilidade de o PROPRIETÁRIO instituir o direito real de habitação em favor de mais de uma pessoa.
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ: O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras mesmo que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ Se o cônjuge sobrevivente casar novamente ou constituir uma união estável, ele perderá o direito real de habitação? Ex: João era casado com Maria. Faleceu, deixando quatro filhos e, como herança, um único apartamento, que estava em seu nome e onde morava com a esposa. Diante desse cenário, Maria passou a ter direito real de habitação sobre o imóvel. Suponhamos que 10 anos após a morte de João, Maria passou a viver em união estável com Pedro. Ela perderá o direito real de habitação sobre o imóvel? • Se a morte do autor da herança ocorreu na vigência do CC/1916: SIM. A constituição de união estável superveniente à abertura da sucessão, ocorrida na vigência do Código Civil de 1916, afasta o estado de viuvez previsto como condição resolutiva do direito real de habitação do cônjuge supérstite. • Se a morte do autor da herança ocorreu na vigência do CC/2002: NÃO (posição majoritária da doutrina). O Código Civil de 1916 previa que o direito real de habitação seria extinto caso o cônjuge sobrevivente deixasse de ser viúvo, ou seja, caso se casasse ou iniciasse uma união estável (art. 1.611, § 2º). Como o CC-2002 não repetiu essa regra, entende-se que houve um silêncio eloquente e que não mais existe causa de extinção do direito real de habitação em caso de novo casamento ou união estável. STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.636-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/08/2019 (Info 655).
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
- Compromisso de compra e venda registrado na matrícula.
- Direitos reais da coisa alheia de aquisição.
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ: É juridicamente possível o pedido de alienação judicial de bem imóvel objeto de compromisso de compra e venda. STJ. 3ª Turma. REsp 1.501.549-Rs, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgado Em 08/05/2018 (Info 625).
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese;
- Direitos reais de garantia + (alienação fiduciária)
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; 
XII - a concessão de direito real de uso.
* XIII – A LAJE.
- A Lei nº 11.481/2007 acrescentou esses 2 novos direitos reais sobre a coisa alheia (concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito real de uso).
- Também são direitos reais de gozo ou fruição.
- São dirigidos fundamentalmente ao poder público. São concessões especiais de direito reais de uso feitas pelo Estado, visando regularizar áreas favelizadas: o inciso XI está no MP 2220/01 e o XII no DL 271/1967. Interessam mais ao direito administrativo.
- Intenção é permitir que o poder público através destes dois novos direitos reais assente pessoas, regularizar situações fundiárias. 
Esse rol do art. 1225 é taxativo (numerus clausus) ou exemplificativo (numerus apertus)?
A visão clássica ainda é MAJORITÁRIA, no sentido de que o rol é taxativo. Esse é o posicionamento que devemos adotar em provas de primeira fase. Caio Mário, Orlando Gomes, MHD, Carlos Roberto Gonçalves.
Contudo, há uma visão mais contemporânea que entende que o rol é exemplificativo. Podemos desenvolvê-la em provas de segunda fase ou no exame oral. 
A doutrina que entende ser o rol exemplificativo se divide em duas correntes. 
1ª Corrente: Para o professor Gustavo Tepedino não há taxatividade, mas tipicidade. Em outras palavras, existe possibilidade de criação de outros direitos reais por outras leis (alienação fiduciária em garantia e legitimação da posse no programa “Minha Casa Minha Vida”, por exemplo). É a visão mais segura dessa vertente, e é a preferida do professor Tartuce.
De fato, existem direitos reais previstos em lei que não estão no rol do art. 1225. Ex.: alienação fiduciária em garantia. DL nº 911/69 e Lei nº 9.514/97. Há quem diga que é propriedade resolúvel e estaria incluída no inciso I. Mas já é uma interpretação que se faz.
2ª Corrente: Já os professores Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald entendem que a autonomia privada pode criar novos direitos reais (“direito de laje”, ou de “superfície de segundo grau”).
Segundo o princípio da taxatividade, somente são direitos reais os indicados em lei. Mas não só são direitos reais aqueles constantes no artigo 1.225 supratranscrito, mas também outros disciplinados de modo esparso no próprio Código Civil e os instituídos em diversas leis especiais, ex.: direito de retenção (art. 516), concessão de uso (Lei nº 271/67). As partes não podem criar direitos reais por uma razão simples: prevalecendo os direitos reais erga omnes, seria inadmissível que duas ou três pessoas pudessem, por acordo de vontades, criar deveres jurídicos para toda a sociedade.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer. Assim, é ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por condômino inadimplente e seus familiares como medida coercitiva para obrigar o adimplemento das taxas condominiais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588). STJ. 4ª Turma. REsp 1.699.022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019 (Info 651).
*(Atualizado em 10/05/2020) *#DEOLHONAJURIS #STJ Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco das partes comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da propriedade comum. Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado. Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado imobiliário. Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode sofrer dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento. A multipropriedadeimobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589). 
Vale a pena ler essa complementação citada nos comentários do Dizer o Direito: “Maria Helena Diniz afirmou sobre o instituto: "O sistema time-sharing ou multipropriedade imobiliária é uma espécie condominial relativa aos locais de lazer, pela qual há um aproveitamento econômico de bem imóvel (casa, chalé, apartamento), repartido, como ensina Gustavo Tepedino, em unidades fixas de tempo, assegurando a cada co-titular o seu uso exclusivo e perpétuo durante certo período anual. (...) Trata-se de uma multipropriedade periódica, muito útil para desenvolvimento de turismo em hotéis, clubes e em navios (...) Há um direito real de habitação periódica, como dizem os portugueses, democratizando o imóvel de férias, cujo administrador (trustee) o mantém em nome de um clube, concedendo e organizando o seu uso periódico. Todos os adquirentes são comproprietários de fração ideal, sofrendo limitações temporais e condominiais, sendo que a relação de tempo repartido fica estabelecida em regulamento." (Curso de Direito Civil Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, vol. 4, p. 243.)”
*#DEOLHONAJURIS #STJ Acerca da regulamentação da criação de animais pela convenção condominial, podem surgir três situações: a)Se a convenção não regular a matéria: o condômino pode criar animais em sua unidade autônoma, desde que não viole os deveres previstos no art. 1.336, IV, do CC e no art. 19 da Lei nº 4.591/64. b) Se a convenção veda apenas a permanência de animais causadores de incômodos aos demais moradores: essa norma condominial é válida (não apresenta nenhuma ilegalidade). c) Se a convenção proíbe a criação e a guarda de quaisquer espécies de animais: essa restrição se mostra desarrazoada, considerando que determinados animais não apresentam risco à incolumidade e à tranquilidade dos demais moradores e dos frequentadores ocasionais do condomínio. O impedimento de criar animais em partes exclusivas (unidades autônomas) somente se justifica para a preservação da segurança, da higiene, da saúde e do sossego. Se tais aspectos não estão em risco, não há motivo para a proibição. Assim, é ilegítima a restrição genérica contida em convenção condominial que proíbe a criação e guarda de animais de quaisquer espécies em unidades autônomas STJ. 3ª Turma. REsp 1.783.076-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/05/2019 (Info 649).
*#NOVIDADELEGISLATIVA: Modifica a redação do CC, no art. 1.225, passando a prever como direito real: “XIII - a laje”.
* #DICADOCOACH: Aprofunde o assunto no seguinte artigo escrito pelo doutrinador Flávio Tartuce: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/478460341/direito-real-de-laje-a-luz-da-lei-n-13465-2017-nova-lei-nova-hermeneutica.
* DA LAJE (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1o  O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da construção-base. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2o  O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 3o  Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula própria, poderão dela usar, gozar e dispor. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 4o  A instituição do direito real de laje não implica a atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a participação proporcional em áreas já edificadas. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 5o  Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 6o  O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a instituição de um sucessivo direito real de laje, desde que haja autorização expressa dos titulares da construção-base e das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.510-B. É expressamente vedado ao titular da laje prejudicar com obras novas ou com falta de reparação a segurança, a linha arquitetônica ou o arranjo estético do edifício, observadas as posturas previstas em legislação local. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios edilícios, para fins do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição das partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o titular da laje, na proporção que venha a ser estipulada em contrato. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1o  São partes que servem a todo o edifício: (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
I - os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e todas as partes restantes que constituam a estrutura do prédio; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - o telhado ou os terraços de cobertura, ainda que destinados ao uso exclusivo do titular da laje; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
III - as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade, aquecimento, ar condicionado, gás, comunicações e semelhantes que sirvam a todo o edifício; e (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
IV - em geral, as coisas que sejam afetadas ao uso de todo o edifício. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2o  É assegurado, em qualquer caso, o direito de qualquer interessado em promover reparações urgentes na construção na forma do parágrafo único do art. 249 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.510-D.  Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de trinta dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1o  O titular da construção-base ou da laje a quem não se der conhecimento da alienação poderá, mediante depósito do respectivo preço, haver para si a parte alienada a terceiros, se o requerer no prazo decadencial de cento e oitenta dias, contado da data de alienação. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2o  Se houver mais de uma laje, terá preferência, sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes, assegurada a prioridade para a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.510-E.  A ruína da construção-base implica extinção do direito real de laje, salvo: (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
I - se este tiver sido instituído sobre o subsolo; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - se a construção-base não for reconstruída no prazo de cinco anos. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta o direito a eventual reparação civil contra o culpado pela ruína. 
Os direitos reais podem ser classificados em:
a) Direitos reais sobre coisa própria e direitos reais sobre coisa alheia; 
b) Direitos de gozo ou fruição ou direitos de garantia;
c) Direitos reais mobiliários e direitos reais imobiliários.
De acordo com as classificações acima, os direitos reais enumerados no Livro III do CC/02 recaem sobre coisa própria (propriedade) ou sobre coisa alheia.Os Direitos reais na coisa alheia, que nos interessa por ora, podem ser classificados de acordo com a tabela abaixo:
	Direito real de gozo ou fruição
	DIREITO REAL DA COISA ALHEIA DE GARANTIA
	Direito real A AQUISIÇÃO
	
Permitir que uma pessoa tenha consigo os poderes de utilização da coisa.
	
Não terá a coisa consigo. É vedada a utilização da coisa.
Credor tem o direito real.
	- Busca-se através do domínio ser proprietário.
- O exercício dos poderes do domínio viabilizam a aquisição da propriedade.
	
Permitir que terceiro retire as utilidades da coisa.
	ASSEGURAR CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO.
	
	UTILIDADE
	
	
	6 hipóteses
	4 hipÓteses
	1 hipótese (ou 2)
	
1. Enfiteuse (código 16)
2. Superfície
3. Servidão predial
4. Usufruto
5. Uso
6. Habitação
	1. Hipoteca
2. Penhor
3. Anticrese
4. Alienação fiduciária em garantia.
	1. Promessa irretratável de compra e venda
2. Direito de preferência (não unânime)
Os direitos reais de gozo ou fruição são autônomos, enquanto os de garantia são acessórios.
A Renda constituída sobre imóvel é apenas um contrato, não mais um direito real.
2. DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS
	DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS
	DIREITOS REAIS
	Ex.: Contratos
	Ex.: Propriedade.
	
Relações entre pessoas: sujeito ativo e sujeito passivo.
	
Relações entre pessoa e coisa: apenas com sujeito ativo. O sujeito passivo é toda a coletividade.
	
Regido principalmente pela autonomia privada (princípio regente).
	O princípio regente é o da publicidade: registro e tradição.
	
Rol exemplificativo
	Ideia de rol taxativo prevalece ainda
	
O patrimônio do devedor responde
	A coisa responde
	
Caráter transitório
	Caráter Permanente
	Efeitos inter partes (em regra)
	Efeitos erga omnes (em regra)
OBSERVAÇÃO¹: Há uma tendência de aproximação entre os direitos pessoais e reais, o que representa uma certa volta à teoria personalista. Seria uma espécie de “contratualização do Direito das Coisas” (Luciano de Camargo Penteano).
Conforme já vimos, os contratos, em alguns casos, geram efeitos perante terceiros (função social do contrato – eficácia externa dos efeitos contratuais). 
Os direitos reais, por sua vez, em alguns casos, também geram efeitos inter partes. Súmula 308 do STJ (a melhor súmula do STJ, para o professor, pois revolucionou o sistema, quebrando paradigmas). A súmula, importante em provas de primeira fase, especialmente da CESPE, diz que “a hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda (registrada!), não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”. 
Em tese, a hipoteca tem efeitos erga omnes e o banco (agente financeiro) teria direito ao imóvel. Contudo, a boa-fé (objetiva) dos adquirentes “vence” a hipoteca, que passa a ter efeitos inter partes. 
OBSERVAÇÃO²: Existem conceitos que são híbridos, estão “no meio” desse quadro comparativo entre direitos pessoais patrimoniais e direitos reais. Como exemplo, temos a “obrigação propter rem”, também chamada de obrigação mista, híbrida, ambulatória ou reipersecutória. Possui ela parte de direito pessoal e parte de direito real. São as chamadas obrigações próprias da coisa, que seguem a coisa com quem quer que ela esteja. Ex.: dívidas de condomínio – art. 1345 do CC: “o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios”.
Atenção!
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: As verbas de sucumbência, decorrentes de condenação em ação de cobrança de cotas condominiais, não possuem natureza ambulatória (propter rem). O art. 1.345 do CC estabelece que o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. A obrigação de pagar as verbas de sucumbência, ainda que sejam elas decorrentes de sentença proferida em ação de cobrança de cotas condominiais, não pode ser qualificada como ambulatória (propter rem), seja porque tal prestação não se enquadra dentre as hipóteses previstas no art. 1.345 do CC para o pagamento de despesas indispensáveis e inadiáveis do condomínio, seja porque os honorários constituem direito autônomo do advogado, não configurando débito do alienante em relação ao condomínio, senão débito daquele em relação ao advogado deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.651-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).
3. POSSE
Defesa de um estado de aparência: sempre que um estado de aparência for juridicamente relevante, existirão normas ou princípios gerais de direito a resguardá-lo. A doutrina tradicional enuncia ser a posse relação de fato entre pessoa e a coisa. Venosa entende ser a posse um estado de aparência relevante. Esse estado de aparência que inicialmente pode surgir sem substrato jurídico pode servir para a aquisição da propriedade. Esse é o sentido da usucapião.
3.1. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E TEORIAS JUSTIFICADORAS
3.1.1. Conceito de posse
A posse é o domínio fático que a pessoa exerce sobre uma coisa. Pelo art. 1.196 do CC, considera-se possuidor aquele que tem, pelo menos, um dos atributos da propriedade. 
Vamos adiantar: são 4 os atributos da propriedade: é o chamado GRUD: Gozar (fruir), Reaver (buscar), Usar (utilizar) e Dispor (alienar). Quem tem todos os atributos tem propriedade plena. Quem tem alguns tem propriedade limitada. Quem tem um deles tem posse. 
“Todo proprietário é possuidor” – CERTO
“Todo possuidor é proprietário” – ERRADO.
CONCEITO: Posse é a situação de fato, regulada pelo direito, na qual o possuidor tem o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes inerentes à propriedade.
3.1.2. Natureza jurídica da posse
Moreira Alves fala do dilema de saber se a posse é fato ou é direito, chegando à conclusão de que a posse é um fato e um direito de natureza especial ou sui generis, não sendo nem direito pessoal nem direito real.
É a posição que prevalece, embora doutrinadores como Clóvis Beviláqua defendam que a posse é direito real, porque intimamente relacionada ao direito de propriedade. 
Podemos chegar à conclusão de Moreira Alves com base também na ideia da teoria tridimensional do direito de Miguel Reale: o Direito é fato, valor e norma. Se a posse entra no mundo dos fatos, ela é componente jurídico, do Direito, sendo também considerado um direito (subjetivo)!
Premissa 1 – A posse é um domínio fático, ou seja, um fato.
Premissa 2 – Direito é fato, valor e norma.
Conclusão – A posse é um direito.
Natureza Jurídica da Posse. Jus Possessionis e Jus Possidendi.
Houve muita discussão, até mesmo entre Ihering e Savigny, sobre a definição de qual é a natureza jurídica da posse; se ela é um FATO ou um DIREITO. 
SAVIGNY: teria natureza jurídica dúplice. Considerada isoladamente, a posse seria um FATO, por independer de regras do direito. Mas, em determinadas condições, atribuem a este fato os efeitos de um DIREITO PESSOAL. É a chamada teoria eclética.
IHERING: conceituando direito subjetivo como um interesse juridicamente protegido, obtém definição que identifica a posse como um interesse legitimo. Tratar-se-ia, portanto, de um DIREITO, porque se trata de um interesse tutelado pela norma. 
Para Cristiano Chaves, a posse é um DIREITO SUBJETIVO dotado de estrutura peculiar. A partir da ideia de que a posse é um direito, surge a discussão se se trata de um DIREITO REAL ou DIREITO PESSOAL. Entretanto, não pode ser enquadrada nas duas modalidades mencionadas pelas seguintes razões:
· A pretensão de classificá-la como direito pessoal esbarra na própria definição deste: relação ou vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de uma prestação; 
· Um argumento que pode tirar da posse qualquer natureza real é o caráter absoluto desses direitos, sendo que a posse não é oponível erga omnes em pelo menos duas situações: 
· (i) ainda que o possuidor possa vencer a demanda possessória contra o proprietário, este acabará reavendo a coisa por meio das vias reivindicatórias, e
· (ii) o direito desequela do possuidor (responde a coisa onde quer que ela esteja) cede ante a boa-fé. 
Assim, “em verdade, no direito moderno, a posse é um instituto jurídico sui generis e, assim sendo, não só não se encaixa nas categorias dogmáticas existentes, mas também não dá margem à criação de uma categoria própria que se adstringiria a essa figura única” (José Carlos Moreira Alves).
Essa discussão importava muito no processo civil, porque se fosse considerada como direito real importaria a participação obrigatória do cônjuge nas ações possessórias. Mas, depois da reforma de 1994, o CPC sanou essa questão ao disciplinar a obrigatoriedade de participação do cônjuge nas ações possessórias somente nas seguintes situações (art. 10):
a) Se há caso de composse ou; 
b) Se se discute ato por ambos praticado.
#NOVOCPC:
Art. 73.  O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo.
Parágrafo único.  A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo.
JUS POSSESSIONIS E JUS POSSIDENDI. O nosso direito protege não só a posse correspondente ao direito de propriedade e outros direitos reais, como também a posse como figura autônoma e independente da existência de um título. Assim, se alguém se instala em um imóvel e nele se mantém, mansa e pacificamente, por mais de ano e dia, cria situação possessória, que lhe proporciona direito à proteção. Tal direito é chamado jus possessionis ou posse formal, derivado de uma posse autônoma, independentemente de qualquer título. É tão somente o direito fundado no fato da posse. Já o direito à posse, conferido ao portador de título devidamente transcrito, bem como ao titular de outros direitos reais, é denominado jus possidendi ou posse causal. Neste caso, a posse não tem qualquer autonomia, constituindo-se em conteúdo do direito real.
GENERALIDADES SOBRE A POSSE: é protegida para evitar a violência e assegurar a paz social, bem como porque a situação de fato aparenta ser uma situação de direito. A posse é o fato que permite e possibilita o exercício do direito de propriedade. Quem não tem posse não pode utilizar-se da coisa, por isso prefere o ordenamento proteger sempre e com maior celeridade e eficácia o que detém o aspecto externo da propriedade.
Nas ações possessórias (interditos), trata-se exclusivamente da questão da posse. Nas chamadas ações petitórias, leva-se em consideração o direito de propriedade. É vedado examinar o domínio nas ações possessórias no bojo de ações petitórias. A decisão que dirime o conflito possessório não inibe nem prejulga o âmbito petitório (art. 1.210, §2º, CC/2002).
Nas ações petitórias, ressalta-se um caráter ofensivo por parte do titular do domínio, que deve provar ser o senhor da coisa. Já na possessória, sobreleva o caráter defensivo. No Brasil, por influência de Rui Barbosa, os interditos possessórios chegaram a ser utilizados para a defesa de direitos pessoais, incorpóreos, como o direito a determinado cargo.
Além das pessoas naturais e jurídicas, os entes despersonalizados podem ser considerados possuidores. Nesse sentido, o Enunciado n.º 236, da III Jornada de Direito Civil, prevendo que se considera possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de personalidade jurídica. Assim, podem ser possuidores o espólio, a massa falida, a sociedade de fato e o condomínio, para aqueles que entendem ainda tratar-se de um ente despersonalizado.
3.1.3. Teorias Justificadoras Da Posse 
São três:
A) Teoria Subjetiva: Savigny. 
P = C + AD – Posse = Corpus (domínio fático) + animus domini (intenção de ser proprietário).
 
Por essa teoria, o locatário, o comodatário, o depositário, entre outros, não são possuidores (seriam detentores). Por esse motivo, essa teoria não foi adotada no Brasil, nem pelo CC/16 nem pelo CC/02, que considera os sujeitos acima como possuidores.
Para essa teoria, os mesmos têm DETENÇÃO, ou seja, uma posse sem o elemento subjetivo, situação na qual está presente somente o elemento objetivo. Assim, não teriam direito a utilizar ações possessórias, nem contra o locador e outros, nem contra terceiros.
Contudo, essa teoria é importante, no Brasil, para fins de usucapião, pois aqui a intenção de ser proprietário é relevante. Veremos melhor quando estudarmos usucapião. 
B) Teoria Objetiva: Ihering
P = C – Posse = Corpus (domínio fático, que inclui uma intenção de explorar a coisa economicamente).
Dentre as clássicas, foi a teoria adotada pelas codificações civis brasileiras. No CC/02, está nos arts. 1.196 e 1.197. 
#ATENÇÃO: Não obstante o CC/02 adote a Teoria Objetiva, por vezes traz aspectos subjetivos. Ex.: usucapião (posse com animus domini). 
Enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil: 492: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais econômicos e sociais merecedores de tutela. 
C) Teoria Sociológica ou da Função Social Da Posse
Defendida por Saleilles, Perozzi e Hernandez Gil.
P = C + FS – Posse = Corpus + Função Social. 
Se não houver função social, não há posse. A sociedade aceita a situação, já que o sujeito dá uma função social à propriedade.
Essa teoria foi adotada implicitamente pelo CC/02, ao valorizar a chamada “posse-trabalho”. Ex.: art. 1238, p.ú. do CC: o prazo da usucapião extraordinária cai de 15 para 10 anos se houver posse-trabalho. Já pelo art. 1242, p.ú., o prazo da usucapião ordinária cai de 10 para 5 anos se houver posse-trabalho. Além desses, o art. 1228, §§ 4º e 5º traz um instituto que é uma verdadeira jabuticaba jurídica (porque só existe no Brasil), que é a desapropriação judicial privada por posse-trabalho. Estudaremos depois. 
O importante é fixar o destino econômico da coisa. O animus está integrado ao conceito de corpus. O possuidor comporta-se como faria o proprietário. É o ordenamento jurídico que discrimina a seu arbítrio sobre as relações possessórias, criando, assim, artificialmente, a separação da chamada detenção jurídica relevante de outras situações não protegidas. Quando não houver proteção legal da relação com a coisa, o que existe é mera detenção, portanto, a detenção nada mais é do que espécie de posse cujo ordenamento jurídico não concede proteção.
Aplicada a teoria objetiva, o locatário e os outros são possuidores, porque têm a imagem do domínio, parecem ser proprietários, já que têm poderes inerentes ao mesmo. Na medida em que têm posse, têm acesso à via de proteção possessória que pode ser exercida contra terceiros ou contra o locador e outros. O conceito de DETENÇÃO, para essa teoria, consiste em uma escolha discricionária pelo legislador: a rigor, seriam situações de posse, mas que o legislador decidiu atribuir efeito de detenção. Seria posse, mas por força da lei deixou de ser, sendo conceituada como detenção.
 
Assim, pelo nosso sistema civil, têm posse: locatário, comodatário, depositário, etc. Podem, portanto, exercer a defesa de sua posse até mesmo contra o locador, o comodante ou depositante, como atesta o artigo 1197, jáque são possuidores diretos.
A superioridade desta teoria repousa na maior facilidade de distinguir-se a POSSE da DETENÇÃO. Para Ihering a detenção seria uma posse desqualificada pelo ordenamento jurídico. 
O CC/2002, nesse entrechoque de posições, se inclinou no artigo 1196, a toda evidência, pela teoria objetiva. Mas o CC/02 faz concessões à teoria subjetiva, como, por exemplo, ao tratar da usucapião, já que o CC exige posse com animus domini.
3.2. DIFERENÇAS ENTRE POSSE E DETENÇÃO
A detenção também é chamada de fâmulo da posse, ou servidor da posse.
O detentor tem a posse não em nome próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e instruções (art. 1198).
O detentor exerce sobre o bem não uma posse própria, mas uma posse em nome de outrem. Como não tem posse, não lhe assiste o direito de invocar, em nome próprio, as ações possessórias. O art. 1.208, primeira parte, do CC acrescenta que não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância.
 
Dentro da teoria objetiva ocorre a degradação do estado de posse, ou seja, uma causa detencionis. O detentor não usufrui do sentido econômico da posse, que pertence a outrem. O art. 1.198 do novo CC, parágrafo único, ressaltou que quem inicia a posse como mero fâmulo ou detentor não pode alterar por vontade própria esta situação e tornar-se possuidor, portanto, há necessidade de um ato ou negócio jurídico que altere a situação de fato.
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, CONSERVA A POSSE EM NOME DESTE e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
Enunciado 493 da V Jornada de Direito Civil: O detentor (art. 1.198) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder. 
O detentor tem contato físico, mas não é possuidor. É o “fâmulo da posse” ou “gestor da posse”. 
É aquele que apreende a coisa por força de relação subordinativa com terceiro. Ex.: caseiro, motorista particular; administradores da propriedade imóvel; os empregados em relação aos equipamentos e ferramentas; o soldado em relação às armas e à cama do quartel.
O CC menciona, em mais dois dispositivos, hipóteses em que aquele exercício de fato não constitui posse, mas mera detenção:
Art. 1.208 - Não induzem a posse os atos de mera permissão ou de mera tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Assim, os aludidos atos impedem o surgimento da posse, sendo aquele que os pratica considerado mero detentor, sem qualquer relação de dependência com o possuidor. O dispositivo em apreço trata da hipótese da denominada detenção independente. Todavia, uma vez cessada a violência ou a clandestinidade, os mencionados atos passam a produzir o efeito de qualificar como injusta – com os efeitos daí decorrentes – a posse que a partir de então surge. Atente-se, apenas, que a injustiça da posse fica circunscrita ao esbulhado e ao esbulhador. 
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
Até que o não-presente tenha notícia do esbulho e se abstenha de retomar a coisa, ou não logre êxito em retomá-la, o ocupante é mero detentor.
DETENÇÃO: como dito, a detenção, pela teoria objetiva, é uma posse desqualificada pelo ordenamento. Assim, no silêncio do ordenamento, quem apreende a coisa é possuidor.
#SELIGA! É possível que o ato de mera detenção se torne posse, quando houver o seu convalescimento. A conversão da mera detenção em posse se dará com a ruptura da relação jurídica originária. O convalescimento, também chamado de interversão, ocorrerá quando cessada a causa que lhe originou ou quando passado ano e dia. 
Enunciado 301 da IV Jornada de Direito Civil: É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios.
#SELIGA2! Os atos de violência/clandestinidade não caracterizam posse, senão depois de cessada a violência/clandestinidade. Têm natureza de mera detenção. 
#SELIGAAINDAMAIS! Em relação a terceiros, a posse violenta ou clandestina já nasce com natureza de posse!
ATENÇÃO! A ocupação irregular de áreas públicas não induz posse, mas detenção.
· A concessão de uso de bem público não gera posse, mas detenção.
· O detentor não tem direito a usucapião, e nem a indenização por benfeitorias ou acessões. 
*#SÚMULANOVA #SAINDODOFORNO: enunciado de súmula nº 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
#AJUDAMARCINHO:
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção. 2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1296964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623) #IMPORTANTE
*#NOVIDADE #DEOLHONASÚMULA: Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio.
Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590).
APROFUNDANDO[footnoteRef:2]: [2: Fonte: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e2c4a40d50b47094f571e40efead3900?categoria=4&subcategoria=175&assunto=739] 
Realmente, o STJ possui inúmeros julgados afirmando que a ocupação irregular de bem público dominical não caracteriza posse, mas mera detenção, hipótese que afasta o reconhecimento de direitos em favor do particular com base em alegada boa-fé.
Esse entendimento, porém, não se aplica para o caso de um particular que está defendendo seu direito de usar um bem público de uso comum do povo. Aqui a situação é diferente.
No caso de bens públicos de uso comum do povo, podemos sim falar em posse e o particular poderá defendê-la em juízo. Nesse sentido: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Procedimentos Especiais – vol. III, Rio de Janeiro: Forense, 2014, p.122).
Desse modo, podemos concluir que:
· O ordenamento jurídico não permite a proteção possessória em caso de particular que ocupe bens públicos dominicais, sendo esta situação caracterizada como mera detenção;
 
· É possível, no entanto, que particulares exerçam proteção possessória para garantir seu direito de utilizar bens de uso comum do povo, como é o caso, por exemplo, da tutela possessória para assegurar o direito de usode uma via pública.
*#NOVIDADE #DEOLHONASÚMULA #STJ
Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio. STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/11/2019.
São casos de detenção previstos expressamente no CC: 
1º hipótese: FÂMULO DA POSSE (gestor da posse): artigo 1198 – É aquele que apreende a coisa por força de uma relação subordinativa para com terceiro, ou em razão de uma dependência jurídica. É aquele que apreende a coisa em nome de outrem. Ex.: CASEIRO
2º hipótese: ATOS DE MERA TOLERÂNCIA: artigo 1208 – Os atos de mera tolerância não induzem posse por conta do abuso de confiança. Evita-se com isso que a posse precária convalesça. Ex.: empréstimo. 
Atenção: ato de tolerância ou permissão pode induzir posse quando rompida a relação jurídica base. Ex.: quando o comodatário não restitui a coisa no dia certo, passa a haver esbulho, rompendo a relação jurídica base, e induzido a posse do esbulhador. 
3º hipótese: PERMISSÃO e CONCESSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO. A permissão e concessão de uso de bem público não induz posse, mas mero ato de detenção. 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #IMPORTANTE: Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode reter o bem por falta de pagamento do serviço. STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017 (Info 610). O direito de retenção é uma das raras hipóteses de autotutela permitidas no ordenamento jurídico pátrio, em que o particular pode exercer pessoalmente a tutela de seus interesses, sem a necessidade da intervenção do Estado-Juiz. Por se tratar de medida excepcionalíssima, o direito de retenção somente pode ser exercido nos estritos termos da lei. Pela simples leitura do art. 1.219, percebe-se que o direito de retenção somente pode ser exercido pelo possuidor de boa-fé. No caso concreto, a oficina mecânica em nenhum momento exerceu a posse do bem. É incontroverso que o veículo foi deixado na empresa pelo proprietário somente para a realização de reparos. Isso não conferiu posse à oficina, pois esta jamais poderia exercer poderes inerentes à propriedade do bem, relativos à sua fruição ou mesmo inerentes ao referido direito real (propriedade), nos termos do art. 1.196 do Código Civil. Dessa forma, a oficina teve somente a detenção do bem, que ficou sob sua custódia por determinação e liberalidade do proprietário, que, em princípio, teria anuído com a realização do serviço. Assim, a posse do veículo não foi transferida para a oficina, que jamais a exerceu em nome próprio, mas sim em nome de outrem, cumprindo determinações do proprietário do bem, numa espécie de vínculo de subordinação. Em suma, a oficina não poderia exercer o direito de retenção sob a alegação da realização de benfeitoria no veículo, pois, nos termos do art. 1.219 do Código Civil, tal providência é permitida ao possuidor de boa-fé, mas não ao mero detentor do bem. 
#OLHAOGANCHO: Qual a ação judicial que deverá ser proposta pelo proprietário do carro? Ação de reintegração de posse. Qual a ação judicial que deverá ser proposta pela oficina? Ação de cobrança.
PERGUNTA – Tença: a pessoa tem a coisa em situação totalmente precária. Mini-detenção. Ex.: pega um peixe para tirar uma foto e depois devolve ao mar.
Por fim, a posse e a detenção não se confundem com a tença, sendo a última “uma mera situação material de apreensão física do bem, sem qualquer consequência jurídica protetiva”.
#OLHAOLINKCOMOPROCESSOCIVIL: CPC/73 Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.
No NCPC a nomeação à autoria deixa de existir e vira uma espécie de incidente de saneamento dentro da contestação:
Art. 338, NCPC.  Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único.  Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.
Art. 339.  Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.
§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ É inadequada a discussão acerca da tradicionalidade da ocupação indígena em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda antes de completado o procedimento demarcatório. Assim, não cabe produção de laudo antropológico em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda ocupada por grupo indígena. STJ. 2ª Turma. REsp 1.650.730-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/08/2019 (Info 655).
3.3. PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DA POSSE E SEUS OBJETOS
3.3.1. Quanto aos vícios objetivos
a) Posse justa: É aquela sem vícios objetivos (violenta, clandestina e precária). É limpa. 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
b) Posse injusta: Apresenta-se com pelo menos um dos vícios objetivos.
b.1) Posse violenta – vis – violência física ou psicológica. Seria o roubo da posse. É a posse esbulhada. A violência é aquela cometida contra pessoas e não contra a coisa e pode ser tanto a vis compulsiva (coação moral) como a vis absoluta (coação física).
b.2) Posse clandestina – clam – “na calada da noite”. Seria o furto da posse. Para a clandestinidade da posse, é bastante que o possuidor esbulhado não o saiba, embora seja do conhecimento do resto das pessoas.
*#OUSESABER: A transferência a terceiro e veículo gravado como propriedade fiduciária à revelia do proprietário (credor), constitui ato de clandestinidade, incapaz de produzir posse. Certo ou errado?
✔CORRETO!
Questão interessante diz respeito à possibilidade de usucapião do bem dado em alienação
fiduciária. Seria possível? O entendimento prevalente caminha no sentido negativo, pois, a priori, na alienação fiduciária não há posse com animus domini. Ademais, se houver transferência ilícita do bem a um terceiro, haverá ato de clandestinidade, incapaz de ocasionar a posse, pois gera mera detenção, nos termos do art. 1.208 do CC/2002. O Superior Tribunal de Justiça (REsp 881270/RS) já manifestou entendimento no sentido de que a transferência a terceiro de veículo gravado como propriedade fiduciária, à revelia do proprietário (credor) constituía ato de clandestinidade, incapaz de induzir posse. Por essa razão, não seria possível a aquisição do bem por usucapião. De fato, em contratos de alienação fiduciária em garantia, sendo o desdobramento da posse e a possibilidade de busca e apreensão do bem inerentes ao próprio contrato, conclui-se que a transferência da posse direta a terceiros deve ser precedida de autorização, porque modifica a essência do contrato, bem como a garantia do credor fiduciário.
b.3) Posse precária – precário – abuso de confiança. Estelionato ou apropriação indébita. É o esbulho pacífico. Ex.: Quando cessa o comodato, a locação e o depósito.
Obs.: Atenção. Questões controvertidas. PROVA OBJETIVA – REDAÇÃO DO 1.208.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
· Lembre-se da possibilidade de convalescimento do vício (interversãoda posse). 
Há sempre o fator da relatividade em relação ao exame da posse justa ou injusta, pois a posse somente será viciada em relação a alguém. A posse pode ser justa em relação a um sujeito e injusta em relação a outro. Assim sendo, a posse injusta pode ser protegida pelos interditos contra terceiros que a ameacem e pretendam-na para si. Enquanto perdurar a violência ou a clandestinidade, não haverá posse. Cessadas, surge a posse, porém injusta em relação a quem a perdeu. No entanto, em relação à comunidade, esse antigo detentor terá posse justa. Trata-se da dualidade de configuração da posse. 
Para Cristiano Chaves a posse precária não convalesce, exceto se houver modificação da relação jurídica originária. Trata-se da quebra do Princípio da Continuidade do Caráter da Posse. 
1. Pode haver posse injusta? SIM. Para alguns doutrinadores a posse injusta, não é posse, mas detenção (César Fiúza, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald). Porém, essa afirmação nega a classificação da posse em justa e injusta. MAJORITÁRIA – Pode-se afirmar que o possuidor injusto é possuidor, pois tem ação possessória contra terceiro. Porém, o possuidor injusto não tem ação possessória contra o possuidor justo (pela análise da melhor posse).
2. Posse precária pode ser convalidada? NÃO. Segundo entendimento MAJORITÁRIO, somente as posses violenta e clandestina podem ser curadas, sanadas ou convalidadas, passando a ser justas (interversio possessionis – alteração do caráter da posse). A precária não, pois não está na lei. Enunciado 237 do CJF: “Art. 1203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini”. Em outras palavras, posse precária pode ser convalidada – MINORITÁRIO.
3. Segundo entendimento MAJORITÁRIO, a posse injusta passa a ser justa depois de um ano e dia, por interpretação do art. 924, do CPC (parâmetro para saber se cabe ação de força velha ou nova – cabe liminar). Para Marco Aurélio Bezerra de Melo o parâmetro deve ser a função social do contrato. Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório. No Novo CPC, esse artigo corresponde ao 558. Art. 558.  Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único.  Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
#NOVOCPC
CAPÍTULO III
DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
Seção I
Disposições Gerais
Art. 554.  A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1o e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.
Art. 555.  É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único.  Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.
Art. 556.  É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Art. 557.  Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único.  Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.
Art. 558.  Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único.  Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
Art. 559.  Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente.
Seção II
Da Manutenção e da Reintegração de Posse
Art. 560.  O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.
Art. 561.  Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.
Art. 562.  Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único.  Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
Art. 563.  Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.
Art. 564.  Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único.  Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.
Art. 565.  No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e 4o.
§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2o a 4o deste artigo.
§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.
§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
§ 5º Aplica-se o disposto nesteartigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.
Art. 566.  Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.
Seção III
Do Interdito Proibitório
Art. 567.  O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.
Art. 568.  Aplica-se ao interdito proibitório o disposto na Seção II deste Capítulo.
*#OUSESABER: Reintegração de posse e a desnecessidade de notificação extrajudicial dos invasores.
Amigos, de acordo com o STJ, a notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória (STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594). Em outras palavras, não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha reintegração de posse. Os requisitos para a propositura da ação de manutenção ou de reintegração de posse estão previstos no art. 561 do CPC/2015. O inciso III exige que o autor comprove "a data da turbação ou do esbulho". Isso é importante para que o juiz possa identificar se a turbação ou o esbulho ocorreram há menos de 1 ano e 1 dia (hipótese em que a ação será de "força nova"). Em virtude dessa exigência de ter que se comprovar a data da turbação ou do esbulho, tornou-se comum, na prática forense, que os autores, antes de ajuizarem a ação, enviem notificação extrajudicial aos invasores com o objetivo de, posteriormente, juntarem este documento no processo e, assim, demonstrem que a posse dos esbulhadores é "nova" (menos de 1 ano e 1 dia), conseguindo que a demanda tramite sob o rito mais célere. Ocorre que essa notificação prévia não é expressamente exigida pela legislação, razão pela qual não pode o magistrado extinguir o feito, sem resolução do mérito, pelo simples fato de o autor não ter adotado esta providência.
*#DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO: POSSE. Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência no local? 1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção. 2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
Quais as consequências da presente classificação?
· Usucapião: somente o possuidor justo (pode ter se tornado justo depois de um ano e um dia) pode obter propriedade por usucapião
· Possessórias: o possuidor justo sempre tem ação possessória. O possuidor injusto só tem contra terceiro e não contra o possuidor justo.
 A justiça ou injustiça da posse é conceito de exame objetivo. Não confunde com posse de boa ou má-fé, que exigem exame subjetivo (vontade do agente). Há sempre o fator da relatividade em relação ao exame da posse justa ou injusta, pois a posse somente será viciada em relação a alguém. Como consequência desta relatividade, a posse injusta pode ser protegida pelos interditos contra terceiros que a ameacem e pretendam-na para si. A posse pode ser justa com relação a um sujeito e injusta em relação a outro. O vício não é erga omnes, a posse sim. A posse se transmite com os mesmos caracteres aos sucessores (art. 1203, 1206 e 1207 CC). Este é o princípio da continuidade do caráter da posse.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp 1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019 (Info 642) #IMPORTANTE
 Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Enunciado 237 da Jornada de Direito Civil: É cabível a modificação do título da posse - interversio possessionis - na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.
O artigo 1.200 não esgota as hipóteses em que a posse é viciosa. Aquele que esbulhou a céu aberto, sem empregar violência, ou sem abusar da confiança, também torna viciosa a posse que adquiriu se inexistente ato de permissão ou tolerância.
No que se refere à cessação da clandestinidade, não se exige a difícil prova de que a vítima tomou conhecimento do esbulho, mas apenas de que tinha condições de tomar, porque o esbulhador não mais oculta seus atos de posse.
OBS.: Em relação aos seus efeitos, os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade não influenciam na questão dos frutos, das benfeitorias e das responsabilidades. Para tais questões, leva-se em conta se a posse é de boa-fé ou má-fé.
3.3.2. Quanto aos vícios subjetivos ou quanto à boa-fé
Aqui se tem a boa-fé subjetiva ou intencional, em regra. O justo título pode estar relacionado à boa-fé objetiva do contrato, por exemplo.
	
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
A) Posse de boa-fé[footnoteRef:3] [3: CAIU NO TJRS/2016: a boa-fé que qualifica a posse é a SUBJETIVA. ] 
Quando o possuidor ignora um obstáculo para aquisição da propriedade (Boa-fé real) ou tem o justo título (boa-fé presumida). Ex.: justo título. Contratos válidos e eficazes. Locação, comodato, compromisso de compra e venda.
A transmissão derivada da posse por instrumento público ou particular gera presunção relativa de boa-fé.
Enunciado 303 – Art.1.201. Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse. Ex.: compromisso de compra e venda registrado ou não para aquisição da propriedade. 
O último enunciado doutrinário está prevendo que a função social da posse, antes estudada, é fator fundamental para a determinação da posse de boa-fé e da caracterização do justo título. Sendo assim, a existência de instrumento, seja público ou particular, não é fator essencial. O tecnicismo e o formalismo exagerado são substituídos pela funcionalização do instituto da posse.
B) Posse de má-fé
A pessoa sabe que não pode ser proprietária e não tem o justo título.
CUIDADO! Em regra, há equivalência entre posse justa e posse de boa-fé. Posse injusta e posse de má-fé. Ou seja, quem tem posse justa geralmente está de boa-fé e vice-versa, mas não necessariamente. Ex.: comprar Iphone roubado. A posse é injusta (só passa a ser justa com um ano e um dia), mas de boa-fé, se ignora o fato do roubo. Por outro lado, terá posse justa, mas de má-fé, o locatário que pretende adquirir o bem por usucapião, na vigência do contrato.
Posse justa e injusta – critérios objetivos. Efeitos para usucapião e ações possessórias.
Posse boa e má-fé – critérios subjetivos. Efeitos: frutos, benfeitorias e responsabilidades (1.214 a 1.220).
	POSSE DE BOA-FÉ
	POSSE DE MÁ-FÉ
	Tem direito aos frutos percebidos.
	Responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
	Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
	Responde por todos os frutos colhidose percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
	Não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
	Responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
	Direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis.
	Serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas.
	Direito de levantar a benfeitorias voluptuárias.
	Não tem direito de levantar as voluptuárias.
	Direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
	Não lhe assiste o direito de retenção.
	O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de boa-fé, indenizará pelo valor atual.
	O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo
#ATENÇÃO:
- O STJ entende que, caso o possuidor deseje exercer o direito de retenção, deverá fazê-lo na contestação ou na petição inicial. Isso se dá para que o juiz, no cumprimento de sentença, já reconheça o direito à retenção. 
- Para evitar que o possuidor de boa-fé realizasse benfeitorias úteis somente para o fim de retenção, a jurisprudência estabeleceu que as benfeitorias úteis realizadas após a notificação para restituição da coisa não geram direito de retenção, mas apenas de indenização. 
#DESAPROPRIAÇÃO: No caso das benfeitorias úteis realizadas após o decreto expropriatório, só serão indenizadas caso haja prévia autorização do poder expropriante. As benfeitorias necessárias serão sempre indenizadas. 
Decreto-Lei 3.365/41
Art. 26. No valor da indenização, que será contemporâneo da avaliação, não se incluirão os direitos de terceiros contra o expropriado
§ 1º Serão atendidas as benfeitorias necessárias feitas após a desapropriação; as úteis, quando feitas com autorização do expropriante. 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
- INFO. 564, STJ – 2015: No contrato de parceria agrícola, é possível a previsão de uma cláusula por meio da qual o outorgado (que irá trabalhar a terra) renuncia ao direito às benfeitorias que realizar? NÃO. Nos contratos agrários, é NULA a cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis. Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado, como por normas de caráter público e social, de observância obrigatória e, por isso, irrenunciáveis, tendo como finalidade principal a proteção daqueles que, pelo seu trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas, conferindo efetividade à função social da propriedade. Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem o direito comum, o contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão de sua importância para o Estado, do protecionismo que se quer emprestar ao homem do campo, à função social da propriedade e ao meio ambiente, fazendo com que a máxima do "pacta sunt servanda" não se opere em absoluto nestes casos. A legislação dos contratos de parceria agrícola preconiza o direito à indenização pelas benfeitorias como sendo uma cláusula obrigatória. Logo, não pode o contrato de parceria agrícola prever a renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer disposição nesse sentido. STJ. 4ª Turma. REsp 1.182.967-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/6/2015 (Info 564). Tanto o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/1964) como a Lei º 4.947/1966 e o Decreto º 59.566/1966 (que os regulamenta) preveem, como uma de suas diretrizes, o princípio fundamental da irrenunciabilidade de cláusulas obrigatórias nos contratos agrários, consagrando, assim, um dirigismo contratual destinado a proteger e dar segurança às relações ruralistas. 
- INFO. 585, STF: O ex-mutuário de imóvel dado em garantia hipotecária em financiamento do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) não tem direito à retenção pelas benfeitorias realizadas no bem antes da adjudicação. Quanto às benfeitorias realizadas após a adjudicação, deve-se analisar se há boa-fé ou má-fé na posse. Havendo má-fé do ex-mutuário possuidor (o que é a regra), ele não tem direito de retenção pelas benfeitorias realizadas no imóvel após a adjudicação, mas poderá ser indenizado pelas benfeitorias necessárias (art. 1.220 do CC). STJ. 3ª Turma. REsp 1.399.143-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/6/2016 (Info 585).
Indenização dos prejuízos. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (arts. 1217 e 1218, do NCC/2002)
Boa-fé: somente se tiver dado causa (Silvio Rodrigues entende que só se tiver agido com dolo ou culpa grave na perda ou deterioração);
Má-fé: responde em todos os casos, mesmo em razão de força maior ou caso fortuito. Somente pode eximir-se caso comprove que a perda ou deterioração dar-se-ia da mesma maneira se estivesse nas mãos do retomante.
Para ilustrar, na situação do comodatário (possuidor de boa-fé), este somente responderá pela perda da coisa havendo dolo ou culpa. Não pode responder, por exemplo, pelo assalto do veículo à mão armada, levando o criminoso o bem consigo. Já o criminoso que leva a coisa (possuidor de má-fé) responde por ela, se for atingida por um objeto em local onde não estaria o proprietário ou possuidor.
OBS.1: Possuidor de boa-fé tem direito também aos produtos? Entendimento MAJORITÁRIO é que não, pois o regime é diferente (Orlando Gomes e Francisco Loureiro). Os produtos diminuem a coisa principal.
Repise-se que os frutos não se confundem com os produtos, pois enquanto os frutos não geram a diminuição do principal, isso não ocorre com os produtos.
Surge questão controvertida relativa à aplicação desses efeitos para os produtos. Orlando Gomes responde negativamente, pois quanto aos produtos há um dever de restituição mesmo quanto ao possuidor de boa-fé. Ademais, se a restituição tornou-se impossível, o possuidor deverá indenizar a outra parte por perdas e danos.
OBS.2: Na locação admite-se a renúncia às benfeitorias por força do contrato (art. 35, Lei nº 8.245/91). Súmula 335 STJ. Contudo, se a locação for contrato de adesão, a renúncia é nula (Enunciado nº 433, IV Jornada de Direito Civil)
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Cumpre destacar que, no tocante à locação de imóvel urbano, há regras específicas relativas às benfeitorias previstas nos arts. 35 e 36 da Lei n.º 8.245/1991. De início, dispõe o art. 35 da Lei de Locação que, salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas, são indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que a sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel (art. 36 da Lei n.º 8.245/1991).
OBS.3: O tratamento dado às benfeitorias inclui as acessões – incorporações introduzidas no imóvel sem a ação do proprietário, possuidor ou detentor (construções e plantações)? Sim, de acordo com o Enunciado nº 81, I Jornada de Direito Civil (TJSSP, APC, 531.9974/00).
Cessa a boa-fé no momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
O conceito de justo título é empregado não como documento ou instrumento, mas como fato gerador do qual a posse deriva. Configura estado de aparência que permite concluir estar o sujeito gozando de boa posse. Justo título é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício. Ex.: Escritura de compra e venda devidamente registrada é um título hábil para transmissão de imóvel, embora possa ser anulada se o vendedor não era o verdadeiro dono.
O art. 1212 do CC preceitua que “O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era”. Do

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