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Ética Profissional
Ética Empresarial – A Gestão da Reputação
Robert Henry Srour
Resumo do Capítulo 6 – A Dupla Moral Brasileira
Grupo 
A moral brasileira é marcada com clareza pela ambigüidade; de um lado a da integridade, do outro a do oportunismo. As representações mentais, entretanto, vêm sendo redefinidas. Na década 1990, a adoção de um modelo de integração competitiva no mercado mundial gerou diversos efeitos.
Cada vez mais, não subscrever padrões que tornam previsíveis as condutas dos agentes e que são essenciais para o estabelecimento de confiança mútua pode reduzir a competitividade das empresas, uma vez que estas estão mais expostas à competição internacional e a sociedade civil e sua capacidade de retaliar quem não se comporta com lisura se fortalecem.
Para as empresas coibirem desvios de conduta devem ser tomadas sanções que confiram eficácia à observância de padrões de conduta de caráter altruísta, a começar por duas providências a serem tomadas. confiram eficte em identificar s sobre ele. atividade, a eventualA primeira consiste em identificar as situações que propiciam condições favoráveis à venalidade. Estas costumam conjugar monopólio detido por um agente sobre uma determinada atividade, a eventual discricionariedade de que este agente dispõe e a ausência de controles externos eficazes sobre ele. A segunda exige a operação de controles para inibir ou neutralizar a autonomia de áreas sujeitas a pressões espúrias ou a tentações corruptoras. Para que isto seja feito, é preciso romper com paradigmas já assentados, como a utilização ora da moral da integridade, como discurso oficial que imbui todos agentes sociais, ora a do oportunismo, como discurso oficioso que permeia a sociedade por inteiro.
Torna-se fundamental, então, estudar as raízes desta dupla moral brasileira, que residem no contexto histórico do país. A primeira diz respeito à dissociação constrangedora entre o que dizem as escrituras católicas e as práticas clericais, uma vez que, apesar de o catolicismo sempre ter criticado a acumulação de riquezas, nunca foi fiel a este pensamento no que se referia às suas próprias ações. Isto acarretou no formalismo, na permissividade dos costumes e na moralidade casuística. A segunda foi o sistema de colonização de exploração e o transoceanismo, que gerou o vale-tudo predatório, o enriquecimento rápido e fácil; o dualismo social, segmentando a população em “gente distinta”, acima da lei, e “gente simples”, adstritos à obediência de leis; e o patrimonialismo, a confusão entre interesses públicos e privados.
Tem-se ainda a união entre a Igreja e o Estado (padroado), que traz a confusão entre Fé e Império, o sagrado e o profano, uma vez que ser padre era mais uma profissão que um sacerdócio. Soma-se a isso o sincretismo religioso e cultural, que incorpora o conceito da invocação de entidades mediadoras entre os mundos sobrenatural e natural, público e privado, ou seja, um intermediário que sempre existe e é capaz de ser “conversado” e sensibilizado, “agradado” e abrandado, “acertado” e cooptado.
Na atualidade, a moralidade casuística prospera também no terreno da omissão da Justiça, que opera como uma imensa caixa preta que faculta a impunidade aos que mais podem e beneficia aqueles que dispõem de meios para fazer valer sua vontade. Há também as tradições fiscalistas, centralizadoras e cartoriais do Estado absolutista lusitano e de seus sucessores pós-independência. Como conseqüência gera-se o contrabando endêmico, a sonegação fiscal mais desbragada e o recorrente desrespeito à lei, a começar dos mais poderosos, em uma espécie de generalizada desobediência civil.
Portanto, é possível sintetizar as seguintes tradições, essencialmente perversas e que desvirtuam o cumprimento das normas altruístas da moral da integridade (moral oficial brasileira) e ensejam o surgimento da moral oportunista: legalismo detalhista e o abismo entre o país formal e o real; as inclinações para privatizar os recursos públicos, convertendo o Estado em um refém dos interesses privados (patrimonialismo, parasitismo predatório, cartorialismo, tráfico de influência); o culto à personalidade e a crença em soluções mágicas (salvacionismo, voluntariarismo e populismo); os corporativismos empresariais, burocráticos e sindicais; as práticas clientelistas, coronelistas, nepostistas e fisiológicas e as relações pessoais articuladas por múltiplas hierarquias (parentesco, compadrio, amizade) com seus particularismos e sua ênfase na “pessoalidade”, em detrimento da impessoalidade cidadã.