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Uma Restauração sem Reparação Silvio Dutra NOV/2015 2 Sumário Introdução 3 1 - Restaurando Vidas 6 2 - Oração Espontânea Atendida 17 3 - A Nobreza do Serviço Humilde 25 4 - Vigilância e Oração 30 5 - Bons Líderes Têm o Temor de Deus 42 6 - Traições na Própria Casa 46 7 - Restauração da Cidadania Judaica 50 8 - Restauração da Vida Religiosa dos Judeus 52 9 - Voto de Fidelidade ao Senhor 57 10 - Só a Graça Vence o Pecado 60 11 - Para que Viesse o Messias 63 12 - A Alegria Depois do Choro 66 13 - Disciplina do Povo de Deus 69 3 Introdução Bem-aventurado é todo aquele que topou com o verdadeiro e real sentido da vida. Caminhamos neste mundo com os olhos vendados, cobertos por um espesso véu que nos impede de enxergar não somente o que está fazendo o Grande Criador segundo o seu plano eterno, bem como qual seja a nossa missão em relação àquilo que ele faz. É o Criador por excelência pois tudo o que faz é sempre bom e novo, conforme a Sua própria natureza. Por isso disse ao ter concluído a criação original que tudo era muito bom, e quanto à nova criação que ainda se encontra em curso diz na sua conclusão: “Eis que faço novas todas as coisas”. Isto sucede porque é um restaurador e reformador, ou seja ou que gera nova vida e que traz tudo à sua forma original, conforme Ele havia planejado desde antes dos tempos eternos. Assim, reconstrói sem usar o que é inerente ao velho, pois a partir do que envelheceu ou se estragou, faz tudo novo. Gera de uma velha criatura, uma nova criatura, e não uma criatura reparada. Quando enviou Neemias a Jerusalém, não foi apenas para reconstruir um muro que havia sido destruído por Nabucodonozor, à forma de reparos da estrutura antiga, mas para fazer um novo muro, e mais do que um muro, reconstruir a vida da própria nação de Israel que havia se corrompido com a idolatria antes da sua ida para o cativeiro. 4 Um novo Israel seria criado para recepcionar o Messias prometido que estava prestes a se manifestar ao mundo. O vaso da visão dada a Jeremias não foi reparado pelo oleiro, mas inteiramente destruído para que dele fosse feito um vaso novo. Isto se aplicava à nação de Israel quando do seu retorno do cativeiro, como também a nós, em relação à nova vida que recebemos por meio da fé em Jesus Cristo. O velho homem está sendo despojado, e no seu lugar Deus está construindo um novo homem, do qual nos tem revestido progressivamente. Ele está trabalhando com um vinho novo e uma veste nova. E se houver algum remendo para ser feito na veste nova, a rigor, não é um remendo, mas uma correção, um aperfeiçoamento em maturidade da nova natureza que recebemos do alto. Então, em meio a um mundo que foi arruinado pelo pecado, Deus está produzindo a Sua grande obra prima, ainda maior do que a primeira criação dos seis dias, pois aqui está construindo um edifício espiritual eterno, com pedras vivas e renovadas, a partir de um material velho e estragado pelo pecado. Isto traz grande glória ao Seu nome, e exalta o Seu poder, e a nós dá o grande privilégio de sermos cooperadores desta nova criação, entendendo que é este o grande objetivo da nossa vida, a saber, estarmos empenhados na nossa própria renovação e restauração, como na de muitos. Esta foi a missão de Neemias em Jerusalém – não trabalhou apenas para si mesmo, mas para a glória de Deus e do novo Israel que Ele estava restaurando. Agora, uma nota de destaque deve ser feita, pois se não houve qualquer resistência ou oposição na criação 5 original dos seis dias, ou pelo menos não somos informados disto, todavia, quanto à nova criação que está ainda em curso, há muita oposição e resistência à mesma, especialmente por parte dos espíritos das trevas. E nisto também Deus é glorificado e revela o Seu grande poder, pois dispôs todas as coisas para isto mesmo, de modo a revelar que nada poderá impedir a conclusão perfeita e final da grande obra que Ele está realizando pela nossa associação com Jesus Cristo. A glória do Senhor encherá toda a Terra. A sua lei será estabelecida de uma forma final e perfeita em todos os corações que o amam. Serão criados um novo céu e uma nova terra nos quais habita somente a justiça. Todas as demais coisas passarão, mas a nova criação não apenas não passará como será estabelecida para todo o sempre. Assim, temos muito para aprender com Neemias quanto à forma de liderar sem recuar em face de quaisquer oposições ou perseguições que possamos sofrer; pois importa que seja cumprida a qualquer custo a missão de sermos cooperadores de Deus na obra de restauração que Ele está realizando no mundo. 6 1 - Restaurando Vidas (Neemias 1) Cristãos maduros e fiéis se sentem tal como Neemias se sentia em Susã, onde se encontrava o palácio real persa, como podemos verificar neste primeiro capítulo de seu livro, que estaremos comentando, pelo fato de o povo de Deus em Judá encontrar-se em grande aflição e opróbrio, estando o muro de Jerusalém derrubado e suas portas queimadas (Ne 1.3). Não é incomum que se encontrem muitos cristãos como que vendo suas Igrejas em grande ruína espiritual, com os muros da reverência e temor devidos a Deus derrubados e queimados, e assim, se sentem em grande aflição e opróbrio, por esta ruína espiritual ao seu redor. Esta é uma condição para ser confessada, lamentada, e pela qual devemos jejuar e orar permanentemente, tal como fizera Neemias, até que, pela graça divina, possamos ser os agentes de transformação deste estado de coisas a que nos referimos. Neemias não somente chorou e lamentou por alguns dias, como continuou a jejuar e a orar perante Deus, até que este respondesse as suas orações, movendo-o às ações que deveria empreender. Ele começou sua oração afirmando a majestade celestial de Deus, e o Seu poder, que O tornam inteiramente digno de ser temido. Ele afirmou a fidelidade do Senhor em guardar a aliança que fez com o Seu povo, e de usar de misericórdia para com aqueles que O amassem e guardassem os Seus mandamentos (Ne 1.5). 7 Ele se sente um com o povo do Senhor de todas as épocas, e por isso, ao confessar os pecados deles, confessou-os como se fossem o seu próprio pecado, e suplicou para ser ouvido pelo Senhor, na intercessão que vinha fazendo dia e noite (v. 6). E definiu os pecados com que haviam procedido perversamente contra o Senhor, como sendo a transgressão dos Seus mandamentos, estatutos e juízos que havia ordenado através de Moisés (v.7). Neemias declarou que Deus foi justo em tê-los espalhado pelas nações, por causa da sua transgressão, porque havia proferido este juízo na Sua Lei, (v. 8) mas apresentou argumentos, honrando a própria Palavra e promessa do Senhor, pedindo-Lhe que lembrasse que também havia dito que caso o povo se convertesse a Ele e guardasse os Seus mandamentos e os cumprisse, ainda que fossem rejeitados até a extremidade do céu, de lá os ajuntaria e tornaria a trazê-los para o lugar que havia escolhido para ali fazer habitar o Seu nome (v.9). Ainda que em grande desolação e opróbrio, eram o povo do Senhor, que Ele havia resgatado do Egito, com mão poderosa (v. 10). Finalmente, Neemias pediu a Deus, que ouvisse não somente a sua oração, como também a dos Seus demais servos que estavam orando, e que se deleitavam em temero Seu nome. Também pediu, especificamente, que lhe fizesse prosperar no seu projeto, dando-lhe graça perante o rei persa, de quem era copeiro na ocasião (v.11). Neemias conhecia o temor do Senhor e demonstrou que possuía este temor na oração que fez. O empreendimento para o qual pediu ao Senhor que lhe fizesse prosperar, não estava relacionado aos seus próprios interesses, mas aos do Senhor, que Ele 8 conhecia perfeitamente, porque sabia qual era o Seu caráter, conforme havia aprendido na Sua Palavra. Quando Neemias concluiu sua oração, chamou o rei de “este homem”, porque quando estamos na presença do Senhor todos os grandes da terra não passam aos olhos dEle senão como meros homens limitados, imperfeitos, dependentes do Seu favor e misericórdia. Ele não o fizera por motivo de irreverência para com o rei, mas porque diante do Senhor o temor que temos dos homens se dilui completamente, porque vemos que eles podem se tornar meros instrumentos nas mãos do Deus todo poderoso, para a realização da Sua soberana vontade. Deste modo, a misericórdia que pediu a Deus, que se achasse no rei em relação ao seu empreendimento, não era propriamente a misericórdia do homem, mas a misericórdia de Deus, que moveria o rei a atender o pedido que lhe faria. Esta oração é muito didática, e nos revela que nada ocorre por acaso. Que obstáculos não são vencidos sem que nos esforcemos em lutar com o Senhor em oração. Não pouca oração, e muito menos de pouca intensidade, mas através de oração incessante, prevalecente e perseverante. A grande questão por detrás do choro, da tristeza e do quebrantamento de Neemias e de todos quantos forem chamados efetivamente a realizar alguma obra específica para Deus é que Ele os quebrantará primeiro, antes de poder usá-los. Cristo não usa carvalhos imponentes, mas canas quebradas. 9 Ele não esmagará estas canas quebradas, mas tudo fará para convencê-las de que não são nenhum carvalho diante dEle. Estes que Ele usa são pavios fumegantes, que quando vierem a ser acesos por Ele, saberão qual seria a sua real condição sem o trabalho de Sua graça, capacitando-lhes para toda boa obra. O próprio Salvador e Senhor deixou-se quebrar, para nos ensinar o modo como devemos andar neste mundo. O Espírito Santo veio sobre Ele na forma de uma pomba, para demonstrar a humildade e mansidão que nos convém para andarmos com Deus, e no testemunho da verdade ao nosso próximo. Satanás arremete contra nós, procurando nos destruir, quando estamos enfraquecidos e doloridos. Tal como Simeão e Levi deram sobre os siquemitas, quando estavam abatidos em dores, pela circuncisão (Gên 34.25). Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza, e habita com o quebrantado de coração (Is 61.1). Não desprezemos, portanto, o trabalho de humilhação de nossas almas, pelo qual o Senhor administra a nós a Sua graça em maior medida. Sempre é deixado algo para que os cristãos lutem, de modo que entendamos que necessitamos de Cristo, para que possamos exalar o Seu bom perfume. Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são estes corações quebrados como canas, e estes pavios fumegantes que fazem as orações mais preciosas diante de Deus, por causa da dependência dos gemidos inexprimíveis do Espírito, através deles. Quão preciosas são para o Senhor as orações que fazemos com um coração quebrantado! 10 Assim, ao falarmos de pavio fumegante devemos ter em conta que isto tem o propósito de nos lembrar que a menor fagulha da graça é preciosa. Há uma bênção especial nesta pequena faísca. Jesus não veio salvar justos e sãos, mas pecadores e enfermos. Deus se agrada de que nos alegremos com os humildes começos. Ele se agrada em usar grãos de mostarda e formar grandes arbustos a partir destas pequenas sementes. Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e não Jerusalém, para nos trazer o Salvador. Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis, poderosas, nobres, importantes e nem mesmo com um grande número de seguidores. O Seu método é primeiro provar fidelidade no pouco, para depois conduzir ao muito. O Seu ministério é restaurador e nos deu um exemplo disto na reconstrução dos muros e portas de Jerusalém com Neemias. E muito mais do que muros e portas, Ele está interessado em restaurar vidas. E fará isto principalmente com paciência e amor. Os pastores devem então, ser pessoas simples e humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles, e exporem a verdade de maneira clara, e nunca de forma obscura. A verdade não teme algo tanto quanto o encobrimento, e não deseja algo tanto que seja exposta clara e abertamente à visão de todos. Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou reservadamente aos discípulos deveria ser proclamado de cima dos telhados. 11 Paulo era profundo, no entanto se tornou como ama acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez fraco com os fracos (I Cor 9.22). Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua majestade, para se oferecer a nós, como oferta suave de amor. E não desceremos de nossas elevadas vaidades para fazermos o bem a qualquer alma necessitada de salvação? Devemos, portanto, nos guardar daquele espírito que em vez de exibir paciência, longanimidade, mansidão e misericórdia aos homens, demonstra fúria, exaltação e ira obstinada, ainda que em nome de fazer prevalecer a verdade. Devemos lembrar que não podemos fazer prevalecer a verdade agindo contra a verdade. E devemos nos lembrar sempre que o fruto da justiça é semeado em meio à paz, sobretudo, a paz interior dos nossos corações, enquanto ministramos. No exercício da disciplina na Igreja devemos nos acautelar para não tentar matar uma mosca na testa de alguém com um martelo. O poder que é dado à Igreja é para edificação e não para destruição. O amor cobre uma multidão de transgressões. Não foi exatamente isto que Deus fez conosco ao perdoar todos os nossos pecados, quando nos salvou em Cristo? O Espírito Santo está contente em habitar em almas fumegantes e ofensivas. Que nós pudéssemos reter algo desta mesma disposição misericordiosa! A graça não reside em almas perfeitas neste mundo. Lembremos sempre disto. Como nenhum cristão se encontra em estado de perfeição absoluta deste outro lado do céu, então nós temos que nos exercitar sempre em espírito de misericórdia, de perdão e mansidão. 12 Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo com os nossos sentimentos presentes, porque nas tentações nós veremos muita fumaça desprendendo de pensamentos incorretos. Nós devemos nos precaver do falso raciocínio, porque nosso fogo não é como o dos demais, ou então por parecer que não há qualquer fogo em nós. As portas de Jerusalém estavam queimadas, mas Deus providenciou para que fossem restauradas através de Neemias, de forma que erraram todos aqueles que pensavam que Jerusalém permaneceria sem portas para sempre. Devemos lembrar que estamos na Aliança da Graça, em que nem toda medida é como fogo pleno, pois há muita faísca, que deve ser também vista como chama. Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe 1.1) por meio da qual obtiveram a perfeita justiça de Cristo. Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa. Algumas uvas mostrarão que a planta é uma videira e não um espinheiro. Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa não ter qualquer graça. Deus sabe que nós não temos nada de nós mesmos, então na aliança da graça Ele não requer nada além do que Ele dá, e que sempre nos dá o que Ele requer. Se não pudermos trazer um cordeiro, então permitirá que tragamos duas pombas e uma rola (Lev 12.8). O evangelho é uma moderação misericordiosa, em que a obediência de Cristo é estimada como sendo a nossa (Rom 5.19). A morte na panela da religião católico romana é que eles confundem as duas alianças (a da Lei e a da Graça) e enfraquecem o conforto que há em Cristo, porque não podem distinguir que Ele mitiga em muito as nossas 13 deficiências, em cumprir as exigências da Lei, apesarde não desobrigar-nos do seu cumprimento, e de exigir de nós uma justiça que exceda em muito a dos que se encontravam debaixo do antigo pacto. Muitos cristãos teriam sido destruídos se estivessem aliançados com Deus nas condições da Antiga Aliança, por causa de pecados que cometem, mas em Cristo são corrigidos, e não destruídos. Mas não são somente corrigidos, como também são consolados, depois que acham lugar de arrependimento, em relação aos seus pecados, não pelo mérito do arrependimento, mas por causa dos méritos de Cristo. Temos que nos lembrar, que a graça é muitas vezes, pouco discernível a nós. O Espírito Santo por vezes opera em nós sem que percebamos a Sua ação, mas Cristo sabe. Às vezes, na amargura da tentação, pensamos que Deus está se opondo a nós. Tal como a sunamita estava cheia de amargura em seu espírito, quando procurou Eliseu, e assim, deixamos de ver que Deus está conosco em nossas aflições. E uma alma preocupada é tal qual águas agitadas que não podem estar em repouso. Mas se é a alma de um verdadeiro cristão verá alguma faísca no meio de toda esta fumaça, e por esta pequena fagulha de graça será renovado na sua esperança e permanecerá firme na sua fé e confiança, que pertence a Deus, e que é a Ele que cabe o pleno governo sobre a sua vida. Uma pequena luz santa nos permitirá manter a Palavra de Cristo, e não negar o Seu nome, como sucede com a Igreja de Filadélfia citada em Apo 3.8. Onde este fogo da graça divina estiver, por menor que seja, sempre mostrará a diferença que há entre o ouro e 14 a escória. Fará separação entre carne e espírito, e nos levará a desejar a santidade de Deus. Deus dispôs todas as coisas de modo que Jesus receba toda a glória, e todo homem reconheça que sem Ele nada pode fazer, e nada será quanto ao propósito de Deus traçado para os eleitos. Toda a virtude que houver em qualquer cristão terá procedido de Deus, de forma que se algum deles vem a apostatar da fé, deixando de andar no Espírito, logo verá que as obras da carne prevalecerão completamente, porque todo o bem que houver nele, no que tange a pensar e a agir, segundo Deus, não procede de sua própria natureza, senão do Senhor Jesus. Por isto, todos os cristãos são ordenados a não se gloriarem em si mesmos quando Deus está fazendo algo bom neles, ou através deles, porque todos, sem exceção, são servos inúteis, pessoas que nada poderiam fazer de si mesmas, se não tivessem sido renovadas e capacitadas pela graça de Deus. Nossos desânimos não vêm da parte de Deus, porque Ele entrou em aliança conosco, assim como um pai, que se compadece dos seus filhos (Sl 103.13), e deste modo, nunca agiria no sentido de desanimá-los. Nem vem de Cristo nossos desânimos porque Ele não apagará o pavio que fumega. Nem tampouco vêm do Espírito Santo, porque ele nos ajuda nas nossas fraquezas, e é o Consolador. Não são nossos desânimos e fraquezas que podem quebrar nossa aliança com Deus, assim como está bem tipificado no caso da nação de Israel que se encontrava assolada e em opróbrio em Judá nos dias de Neemias. A aliança que temos com o Senhor é de caráter matrimonial, e por isso Ele nos assiste com Sua 15 misericórdia em nossas fraquezas e não nos desamparará por causa delas. Agora, consideremos o perigo que há naqueles que lançam, eles próprios, água para apagar o pavio fumegante de suas vidas que o próprio Cristo não apagaria. Não é sem razão que o apóstolo nos alerta quanto ao perigo de apagarmos o Espírito, com os nossos pecados deliberados. A Igreja de Laodiceia está sempre pronta a ser vomitada da boca do Senhor porque é morna. Ela tipifica bem, aqueles cristãos que vivem perigosamente provocando sempre a ira de Deus, por um viver deliberado no pecado. Se a graça é fortalecida no seu exercício, como poderão estar fortalecidos com graça aqueles que a rejeitam e confiam nos seus próprios méritos e obras? Como poderemos permanecer nesta graça se não nos santificarmos? Jesus nos convida a ter bom ânimo na aflição porque, como Ele próprio afirmou, jamais apagará o pavio fumegante, mas lembremos que vivendo deliberadamente no pecado, será impossível ter este bom ânimo, que Ele próprio nos concederia pela Sua graça. Não confundamos fraqueza com prática deliberada do pecado, porque isto não é fraqueza, mas rebelião e traição ao Filho de Deus, que morreu por nós, para não vivermos mais praticando o pecado e procurando estar deliberadamente debaixo do seu domínio. Há muitos inimigos a serem vencidos, a carne, o diabo e o mundo, e é importante estarmos conscientes de nossa condição de canas quebradas e pavios fumegantes, para que nunca tenhamos a presunção de tentar vencer estes 16 inimigos na energia da carne, senão por nos fortalecermos na graça, que está em Cristo Jesus e na força do Seu poder. 17 2 - Oração Espontânea Atendida (Neemias 2) Cerca de quatro meses haviam passado, de Chisleu - novembro (1.1) a Nisan - março (2.1), desde que Neemias havia começado a jejuar e a orar, até que fizesse o pedido ao rei, que está registrado neste 2º capítulo do seu livro, que estaremos comentando. Ele não se aventuraria a fazer uma viagem para Judá no inverno, porque não seria uma ocasião oportuna para empreender tal viagem. De igual modo, temos que esperar o momento oportuno para agirmos, depois de termos jejuado e orado. Há invernos espirituais que nos impõem este tempo de espera, se queremos ser bem-sucedidos em nossos projetos a serviço de Deus. Além da direção e poder do Senhor, temos que ter inteligência espiritual para discernir o movimento do mundo espiritual, para que não tomemos decisões precipitadas, das quais não somente poderemos nos lamentar posteriormente, como até mesmo vir a frustrar os projetos que Deus havia determinado realizar através de nós. Mas mesmo depois de ter muito jejuado e orado, o coração de Neemias se achava em grande tristeza, por se encontrar assolada a cidade de Jerusalém. E é desta forma que se acharão todos aqueles que estiverem exilados, ainda que dentro de suas próprias igrejas, porque assim como a cidade de Jerusalém estava para os judeus na Antiga Aliança, a Igreja está para os cristãos na Nova. Quão profundas são as dores do exílio. Elas são indescritíveis e muito maiores do que qualquer dor 18 moral ou física, porque são produzidas pela impossibilidade de se adorar a Deus em espírito e em verdade, na comunhão dos santos, por causa das condições prevalecentes na Igreja, quando esta se encontra assolada e em ruínas, por ter sido pisada como sal que perdeu o sabor. É muito mais difícil restaurar uma Igreja caída do que reconstruir os muros de Jerusalém. É com muito maior fúria que Satanás e todo o inferno se opõem a esta restauração da Igreja, do que a que experimentaram Esdras e Neemias em seus dias. Primeiro, porque que a proposta de Deus para a Igreja na dispensação da graça, para que possa andar conforme o Seu agrado é muito maior do que a que se exigia dos aliançados do antigo pacto, pois a justiça da Igreja de Cristo deve exceder em muito a dos escribas e fariseus. Entretanto, há muitas lições que podemos aprender do exemplo de tudo o que Deus fez através de Neemias, para restaurar a vida religiosa de Israel. A primeira é a de que apesar de Neemias saber que necessitaria do apoio do rei e de muitos homens, a sua confiança não estava depositada em nenhum deles, mas somente no Senhor, e demonstrou isto reiteradas vezes, como se vê por exemplo no verso 5, quando não ousou declarar logo ao rei qual era o seu intento, quando este lhe indagou o que desejava dele. Neemias fez uma oração rápida em espírito, entre a pergunta e a resposta que daria, entregando certamente o caso nas mãos de Deus, e declarou logo em seguida o que desejava, mas não sem antes, fazer a introdução em que usou as seguintes palavras: “se teu servo tiverachado graça diante de ti”, como a que dizer que ele 19 atenderia ao que pediria, caso Deus tivesse movido o coração do rei para que achasse graça diante dele. Isto é dependência real de Deus, tal como havia sido demonstrada anteriormente, por Davi em seus dias, que não costumava tomar qualquer decisão sem que tivesse entregado antes o caso nas mãos do Senhor. Não podemos esquecer que Ester havia conquistado totalmente o favor do rei da Pérsia, quando se casou com ele, e isto foi feito estrategicamente por Deus não somente para livrar os israelitas do extermínio intentado por Hamã, como também para que os judeus encontrassem o favor dos persas, na sua estada na Palestina, e nisto nós vemos como o rei foi favorável, tanto nos dias de Esdras, quanto nos de Neemias, e muito disto foi obtido, sem dúvida, pelo modo atencioso como os persas passaram a ver os judeus, por influência da piedosa Ester, que havia assumido o trono, ao lado do rei da Pérsia. Toda esta boa influência estava sendo produzida pelo próprio Senhor. Neemias pediu uma comissão para ir com ele, para reconstruir os muros de Jerusalém, e lá permaneceria um certo tempo aprazado, conforme lhe havia pedido o rei, mas este prazo foi prolongado, porque permaneceu em Jerusalém, cerca de doze anos (5.14). Além desta comissão, pediu também uma escolta (v.7), e um salvo conduto para que os governadores das províncias, não somente permitissem que atravessasse as suas províncias respectivas, como também que o provessem com o que fosse necessário, especialmente, madeira do Líbano, para o trabalho que havia projetado. Quando Neemias entregou as cartas do rei persa aos governantes das províncias (v. 9), Sambalate e Tobias (que viriam a ser instrumentos de Satanás, para se 20 oporem a ele) ficaram sabendo da sua missão, e extremamente irados, pelo fato de que alguém tivesse se levantado para procurar o bem dos israelitas (v. 10). Depois que chegou a Jerusalém, Neemias não declarou o que Deus havia colocado em seu coração (v. 12) a nenhum dos líderes de Israel, por pelo menos três dias (v.11). Homens em verdadeira missão divina, nunca fazem alarde de sua autoridade, e da comissão que receberam da parte de Deus, porque sabem que a obra não é propriamente deles, mas do Senhor (v. 16). Antes de tomar qualquer decisão, Neemias fez uma avaliação da extensão dos danos do muro de Jerusalém, que estava demolido, assim como suas portas, que haviam sido queimadas. E por motivo de prudência, fez isto à noite (v. 13). Foi somente no momento oportuno, que declarou aos judeus, especialmente aos sacerdotes, nobres e magistrados e a todos os que faziam a obra de reconstrução do muro, qual era a obra, para a qual havia sido encarregado por Deus, para fazer em Jerusalém. Daqui, decorre um princípio muito importante, para todos os que têm uma chamada de Deus, para a realização de uma obra específica: ela deve ser reconhecida e apoiada pelos demais líderes que estiverem envolvidos nela. Quando falta este reconhecimento e apoio, será vão tentar nadar contra a correnteza. Por isso Paulo não poderia prosseguir seu ministério juntamente com Barnabé, porque passou a existir discordância entre ambos quanto à forma de condução da obra de evangelização, para a qual haviam sido encarregados pela Igreja de Antioquia, especialmente, por terem um entendimento diverso quanto à 21 participação de João Marcos em seus empreendimentos missionários. Nenhum pastor será bem-sucedido em seu ministério, se não tiver o apoio da Igreja, e especialmente dos seus auxiliares diretos. Quando Neemias fez uma exposição quanto ao modo como a boa mão do Senhor fora com ele, particularmente quanto à comissão que havia recebido do rei persa, os judeus se dispuseram a cooperar com ele na obra que deveria ser realizada (v. 17,18). Mas quando Sambalate, Tobias e Gesem o souberam, começaram a zombar deles e a desprezá-los infamando- lhes e acusando-lhes de estarem se rebelando contra o rei persa. Não é de se admirar que o diabo sempre use o argumento de insurreição contra a autoridade constituída, quando Deus levanta alguém para fazer a Sua vontade. A mesma autoridade que os verdadeiros rebeldes costumam transgredir, especialmente a relativa à da própria Palavra de Deus, que eles não amam e obedecem, é a que eles costumam invocar para tentarem desencorajar os servos fiéis de Deus a prosseguirem adiante na defesa da verdade (v. 20). Satanás sempre projeta manter os cristãos e a Igreja em estado de miséria espiritual, e tudo faz para tentar impedir o avanço de uma verdadeira espiritualidade, que seja baseada no amor e na prática da verdade. Ele tudo apoiará e não perturbará os cristãos, desde que se mantenham na sua carnalidade, e não busquem santificar suas vidas na verdade da Palavra de Deus. Se os cristãos deixarem os muros de suas vidas caídos, em total ruína, Satanás não se levantará contra eles, mas ao menor movimento para tentarem reconstruí-los, 22 ele logo se manifestará apresentando todo tipo de oposição a eles. Mas, em vez de deixarmos que ele nos intimide, devemos fazer como fizera Neemias, que respondeu o seguinte aos seus inimigos, em face das suas acusações: “O Deus do céu é que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos: mas vós não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém.” (v. 20). Isto é o que deve estar sempre bem definido e fixado diante de nós: não podemos permitir que nossos opositores, que são inimigos de Deus, se coloquem ao nosso lado na realização da obra que Ele nos encarregou para fazer. Devemos ter uma firme confiança, somente nEle, que assim como Ele nos chamou, também é poderoso para nos fazer prosperar no que nos tem ordenado. Mas em vez de ficarmos esperando com os braços cruzados, devemos nos levantar e edificar as pedras vivas do edifício espiritual que fomos chamados a construir como seus cooperadores. “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.” (I Cor 3.9). É preciso ter muita prudência e inteligência espiritual, quando estamos encarregados por Deus para uma obra específica, como teve Neemias, para não darmos munição ao Inimigo, de modo que não leve vantagem sobre nós. O diabo acompanha nossos passos e levanta seus instrumentos para espreitar a liberdade que temos em Cristo, de maneira a barrar o nosso progresso com infâmias, perseguições e acusações mentirosas. Se ele não conseguir nos deter de um modo, tentará outros meios para alcançar os seus objetivos, que não 23 são dirigidos propriamente contra as nossas pessoas, mas contra a obra que Deus designou fazer através de nós. Daí se recomendar aos cristãos, e especialmente àqueles que estão à frente de algum trabalho do Senhor, que vigiem e orem em todo o tempo, e que sejam perseverantes, a par de todas as perseguições que possam vir a sofrer. Mas alguém dirá: “E se a perseguição vier exatamente da parte daqueles que foram levantados para liderarem a obra de Deus?”. “O que devem fazer os cristãos que se encontram debaixo da liderança deles?”. Primeiro, devem orar e jejuar para que saiam do laço do Inimigo, com o qual foram encantados e amarrados. Se as coisas persistirem por longo tempo e se agravarem a ponto de a Igreja se desviar totalmente dos objetivos de Deus traçados para ela, notadamente o que se refere a andar na prática da verdade, então é hora de começar a orar para receber direção do Senhor, para congregar numa Igreja que não tenha apostatado da verdade. D. M. Lloyd Jones, já em 1963 nos alertava sobre o que ocorreria se o movimento ecumênico chegasse a desenvolver “a grande Igreja mundial”, porque a palavra “cisma” seria usada contra todo aquele que se recusar a ser parte integrante desta organização gigantesca, que começava a ser costurada em seus dias, e que tem tomado uma maior dimensão em nossos dias. Ele afirmava que devíamos ter clara percepçãoquanto a isso, e que deveríamos instruir o povo a que servimos sobre esta importantíssima questão, porque cisma é um grande pecado, uma coisa muito grave, da qual ninguém deveria fazer-se culpado, e por isso devemos compreender com clareza o que é exatamente cisma. 24 Muitos cristãos que se encontram exilados em suas próprias Igrejas, seriam muito auxiliados se lessem o tratado que John Owen escreveu sobre cisma. Nós deixamos Neemias no capítulo anterior chorando e orando diante de Deus por causa da miséria em que se encontrava o povo de Deus na Palestina. Mas ele não parou nisso, de modo que nós o encontramos neste capítulo e nos demais, tomando medidas práticas para reparar as coisas que necessitavam ser consertadas e edificadas. Assim deve ser a vida do cristão. Ele não deve simplesmente interceder em favor de todas as pessoas, e chorar pela miséria em que se encontra o mundo de trevas, mas deve se esforçar de modo prático para ser um agente nas mãos de Deus, para a transformação daqueles que têm sido chamados por Ele, do mundo para a salvação em Cristo Jesus, bem como para serem sal e luz num mundo que tende à putrefação e às trevas totais. 25 3 - A Nobreza do Serviço Humilde (Neemias 3) Nós deveríamos refletir sobre o motivo de Deus, em Sua sabedoria, de nos ter dado como revelação da Sua vontade, conforme registrada na Bíblia, no livro de Neemias, o fato e as circunstâncias que envolveram a reconstrução dos muros e das portas da cidade de Jerusalém. A revelação poderia ter passado por alto o registro destas coisas, mas se não o fez, é porque Deus teve propósitos objetivos para a instrução do Seu povo, e especialmente da Igreja, com as lições que podemos e devemos retirar de tudo isto. Nós sabemos que os muros de Jerusalém tinham por função principal defender o povo, o templo e tudo o que havia de precioso das portas para dentro daquela cidade. Deus é quem nos defende dos ataques dos nossos inimigos, principalmente espirituais, mas compete a nós construir, edificar os meios de defesa necessários, para a nossa proteção. Por exemplo, sem oração e meditação diária da Palavra como poderemos ter uma barreira ao redor de nós que impeça sermos atingidos pelos ataques do Inimigo? Como guardaremos o nosso coração incontaminado pelo mal, se não nos exercitarmos em santificação? Do exemplo que temos na história dos empreendimentos de Neemias e do povo de Judá juntamente com ele, nós podemos aprender também que mesmo durante a construção destas barreiras, que visam impedir a destruição de nossas graças, pelos nossos muitos inimigos espirituais, que nós seremos 26 atacados até mesmo no ato da construção propriamente dita, isto é, nós não poderemos orar, meditar na Palavra e fazer tudo o mais que nos é ordenado por Deus, sem que experimentemos alguma resistência destes três inimigos, a saber, a carne, o diabo e o mundo. Mas todos aqueles que se empenharem em edificarem suas vidas com estas barreiras protetoras das graças de Deus, de modo que não sejam furtadas ou destruídas, pelos muitos inimigos que dão contra elas, serão honrados por Deus, pelo seu empenho em diligência, tal como foram honrados aqueles que se levantaram para construírem debaixo da direção de Neemias, por terem tido os seus nomes registrados na Palavra de Deus, para memória e honra eternas, conforme vemos no 3º capítulo de Neemias, que estamos comentando. Nossas boas obras estão sendo registradas pelo Senhor para a nossa honra, em livros que serão abertos quando estas obras forem julgadas. Por isso, somos exortados a remir o tempo e a nos empenharmos o mais possível abundando em boas obras, no período de nossa breve jornada terrena, porque há uma grande recompensa prometida por Deus. “9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. 10 Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.” (Gál 6.9,10). Dizer e fazer são coisas completamente diferentes. Muitos dizem que estão prontos para se levantarem e fazerem a obra de Deus, mas se sentam e nada fazem, tal como o jovem da parábola, que disse a seu pai que iria trabalhar no campo, e no entanto, não foi. 27 Este 3º capítulo de Neemias não fala de promessas que foram feitas por todos estes que têm seus nomes aqui relacionados, mas se diz simplesmente que eles se levantaram, edificaram e repararam. Há muitas coisas para serem feitas na obra de Deus. Para serem feitas e não simplesmente comentadas. Isto exige que nos levantemos, edifiquemos e reparemos o que precisa ser edificado e reparado. Não se fala de nenhum desacordo entre os que edificaram e repararam nos dias de Neemias. Deus era com eles, mas não se permitiram serem divididos por ciúmes, disputas, discórdias e coisas semelhantes a estas, que acabam por impedir que a obra do Senhor seja feita. Esta obra é muito grande e exige que cada um faça fielmente a sua parte, porque tal como aquele muro, a obra é uma só, e o trabalho de uma pessoa está interligado ao de outra. O trabalho é realizado por indivíduos, mas não para um fim individual, porque é trabalho para Deus, e não para uma pessoa ou grupo de pessoas em particular. Até o próprio sumo sacerdote, como se vê no primeiro verso deste capitulo, participou do trabalho comum de reedificação do muro. O risco que os demais trabalhadores correram ele também correu. O elevado ofício de que estava encarregado não configurava um privilégio para não participar de tarefas consideradas comuns e menores. Deste modo, os ministros do evangelho devem dar o exemplo de também fazerem aquelas tarefas que exigem de outros. 28 Este exemplo faltou nos tecoítas (v. 5), cujos nobres não se envolveram no serviço do Senhor, de reconstrução do muro. Isto ficou registrado para desonra deles, porque de ninguém mais se diz o que foi dito destes nobres de Tecoa, que acabaram com isto provando que não eram de fato pessoas nobres, porque é impossível que alguém o seja negando-se a se humilhar para que a vontade de Deus seja feita. Temos um maior exemplo de nobreza do que o que nos deu o próprio Jesus, ao ter se esvaziado da glória celestial que tinha junto ao Pai, para poder consumar a obra que realizou em nosso favor? Ele não realizou seu ministério num castelo, mas junto ao povo, fazendo o bem a todos. Não deveríamos nos dispor, pelo exemplo que Ele nos deixou, a arregaçar as nossas mangas e nos lançarmos efetivamente de coração e alma no propósito de nos gastar por amor ao Senhor e ao nosso próximo? Neste trabalho para Deus, não conta qual seja a nossa posição social, porque trabalharam na reedificação do muro com Neemias, comerciantes, ourives, sacerdotes, governantes e até mesmo perfumistas (v. 7,8,32). Em Sua Providência, o Senhor poderia ter planejado a construção conjunta de algo diferente de um muro, mas a simplicidade da tarefa fala bem alto da natureza do serviço que prestamos para Cristo, que é de grande simplicidade em sua natureza, tal como o muro que Neemias e os judeus reconstruíram. Não afirmamos com isto necessária e propriamente que o trabalho de um ministro do evangelho é o trabalho de um pedreiro, mas é seguramente um trabalho de edificação de almas, e exige muito empenho e diligência em sua realização. 29 Até mesmo mulheres se alinharam com os construtores nos dias de Neemias, conforme se vê no verso 12. Paulo cita o nome de duas mulheres (Evódia e Síntique), que trabalharam juntamente com ele no evangelho em Filipos (Fp 4.3), e várias mulheres fizeram e têm feito história na seara do Senhor. Alguns judeus edificaram o muro defronte de suas casas (v. 10, 23, 28, 29), e isto pode ter sido devido à impossibilidade de se afastarem de seus afazeres, e nem por isso deixaram de se empenhar nos interesses de Deus e do Seu povo. A obra do evangelho é primeiro para Deus,mas é também uma obra pública, isto é, para o bem do povo do Senhor. Os que trabalham não trabalham, portanto, para si mesmos ou para seus interesses particulares, mas para o bem de outros, porque é nisto que consiste a obra de Deus. 30 4 - Vigilância e Oração (Neemias 4) A atitude de Sambalate, conforme se vê nos versos 1 e 2, deste quarto capítulo de Neemais, que estaremos comentando, é bem representativa de todos aqueles que odeiam a Reforma, isto é, a restauração do povo de Deus, segundo a verdade revelada em Sua Palavra. Não importa de onde isto venha, se de dentro ou de fora da Igreja, se de cristãos ou de ímpios, se de autoridades seculares ou até mesmo de ministros do evangelho infiéis, o grande fato é que Satanás sempre achará seus instrumentos para se opor ao fortalecimento dos filhos de Deus. Israel era a nação eleita na antiga dispensação, e foi levantada para ser luz no mundo, e por isso Satanás tudo faria para manter aquela lâmpada apagada. Porventura, deixaria de fazer o mesmo em relação à Igreja que é a luz do mundo? Ele não fará tudo o que estiver ao seu alcance para pelo menos tornar esta luz opaca e obscura, de maneira que mantendo os membros de cada Igreja debaixo de trevas espirituais, não apenas entristecerá o Espírito Santo, como retardará a conversão de muitos, ou então manterá os que se converterem, em fraqueza e ruína espiritual, pelo desconhecimento da verdade que liberta? Vejam as palavras que Sambalate proferiu, e reflita se não são mais do que simplesmente palavras da carne e sangue, senão de principados e potestades: “e falou na presença de seus irmãos e do exército de Samaria, dizendo: Que fazem estes fracos judeus? Fortificar-se-ão? Oferecerão sacrifícios? Acabarão a 31 obra num só dia? Vivificarão dos montões de pó as pedras que foram queimadas?” (v.2). E de igual teor, ainda que breves, mas não menos contundentes, foram as palavras proferidas por Tobias, o amonita, contra os judeus: “Ainda que edifiquem, vindo uma raposa derrubará o seu muro de pedra.”. Certamente, é este o pensamento que Satanás alimenta continuamente contra os cristãos, a saber, que ainda que consigam edificar suas vidas na verdade, ele agirá como uma astuta raposa para derrubar este muro espiritual que lograram edificar. Satanás pouco se importa com o fato de o cristianismo se espalhar pelo mundo, desde que seja uma forma caricata da verdade que há em Cristo, em razão da falta de santidade na vida daqueles que alegam serem cristãos. Daí decorre a ordenança bíblica de vigilância e oração contínuas, porque não temos que lutar contra carne e sangue, senão contra os principados e potestades espirituais da maldade. E isto deve ser feito, conforme se vê em Efésios 6, estando revestidos em todo o tempo, com toda a armadura de Deus. Não há nada que dê mais prazer ao diabo do que desviar aqueles que Jesus comprou com Seu sangue, para que fossem livres, serem desviados da verdade, porque sem conhecerem a verdade em espírito, não podem desfrutar desta liberdade, que foi conquistada por tão alto preço. É possível que alguns dentre os judeus tenham considerado Neemias um homem duro, inflexível, sem afeto natural por eles, porque estava exigindo deles que se expusessem ao ataque de seus inimigos e a terem que se empenhar em tão exaustiva tarefa. 32 Mas não é este o mesmo ataque que fazem os inimigos da Reforma e do evangelho aos pastores fiéis ao seu ofício? Eles julgam ser falta de amor e de apreço o esforço de seus ministros em exigirem que vivam em santidade de vida. Mas isto é falta de amor? Antes não é a confirmação de um verdadeiro amor? O fato de se esforçarem por ensinarem a sã doutrina ao seu povo é motivo para serem julgados como seus inimigos? Não é porventura isto o que o Deus de amor tem ordenado a eles? Seria possível viver no amor de Deus sem a sã doutrina? E como amaremos com o amor de Deus se não conhecemos os Seus mandamentos? Jesus definiu o amor como obediência aos Seus mandamentos. Não é portanto, justificável, o ataque que muitos fazem em nossos dias aos ministros fiéis, que são apegados à doutrina, e que a expõem fielmente ao seu povo. Não admira que para a ordenação de presbíteros, Paulo tenha determinado dentre muitos critérios os que vemos em Tito 1.9: “retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes.”. São muitos os que se opõem a uma verdadeira obra de Deus, e por isso se exige tais qualificações dos Seus ministros. E Neemias reunia estas qualidades porque era um homem de grande sabedoria, coragem e devoção. 33 Nós podemos ver neste capítulo o quanto ele estava dotado do preparo e discernimento espiritual para a obra que realizou. De igual modo, nenhum ministro do evangelho será efetivo no trabalho que intentar realizar para Deus, se não estiver devidamente preparado. Este é o segredo dos puritanos nos trezentos anos que influenciaram não somente a Inglaterra, como muitas nações da terra, até os dias de hoje, e convém lembrar que toda a grandeza dos EUA foi construída debaixo desta influência, mas não nos referimos à grandeza material e financeira, que acabou por desviá-los da verdadeira grandeza, que eles viveram em seus dias áureos, sendo o celeiro da verdade e de missionários para todas as partes do mundo, com a ministração do verdadeiro evangelho, em quase todas as nações. A quase totalidade destes empreendimentos foi devida à rede preparada de pastores fiéis a Deus e à Sua Palavra, que o próprio Deus preparou através do espírito puritano, que consiste neste amor à Palavra de Deus, muito maior do que o amor à própria vida e conforto. Este preparo a que nos referimos não é o preparo de homens por meros homens, mas um preparo que provém da parte de Deus, impulsionado, direcionado e construído pelo próprio Espírito Santo, tal como se deu com os puritanos em seus dias. Eles não eram meros expositores frios da Palavra, mas homens que andavam com Deus, tal como Enoque, Noé, Daniel, Jó, Neemias, e tantos outros fizeram em seus dias. Obviamente, Deus levanta instrumentos e agentes de grande influência neste preparo, mas até mesmo estes instrumentos influenciadores estão debaixo do governo 34 soberano do Senhor, do qual dependem para a realização do ministério de preparar outros, tal como fizeram Paulo e Timóteo na Igreja Primitiva: “e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.” (II Tim 2.2). O que Paulo disse a Timóteo neste texto refere-se muito mais do que ao ensino de meras palavras, senão ao preparo de pessoas idôneas para pregarem a verdade do evangelho. Este preparo será sempre necessário, porque, como vimos antes, são muitos os inimigos que se levantam contra a pregação e o ensino da Palavra, quer dentro ou fora da Igreja, porque Satanás não está preso ou impedido de agir quer dentro ou fora dos limites da Igreja. Atos 20.27-31; I Pe 5.2-9 e Ef 6.11, entre outros textos bíblicos, demonstram a necessidade tanto de os pastores estarem preparados, quanto de vigiarem contra as astutas ciladas do diabo, que investirá sempre com grande fúria, não propriamente contra pessoas, mas contra a verdade do evangelho, de forma a anular o testemunho da Igreja na terra. Por isso, é necessário construir uma defesa qual grande e intransponível muro que nos proteja de sermos privados da pregação e ensino da verdade bíblica, por causa destas astutas investidas do Inimigo. Devemos estar conscientes que não é principalmente contra nós que ele está continuamente se opondo, mas ao próprio Filho de Deus, para que o Seu nome não seja glorificado na terra. A Igreja Primitiva demonstrou que estava devidamente esclarecida quanto a esta verdade, e isto nós podemos 35 inferir daoração que fizeram quando Satanás estava conduzindo às prisões e matando a muitos deles: “Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido.” (At 4.26). Satanás usa governos, nações inteiras, para tentar impedir o avanço do evangelho. Neemias não sofreu apenas a oposição de pessoas isoladas, mas daqueles que exerciam governo entre os samaritanos. Isto ilustra a natureza do ataque que sofremos neste mundo: não é propriamente contra nós, mas contra a causa de Jesus Cristo, que fomos chamados a proclamar e defender. Para minar a nossa força, Satanás nos acusa com mentiras, tentando nos convencer que somos um povo desprezível e fraco. Pessoas que estão fora do seu juízo e se dedicando a um sonho impossível. Ele sopra a dúvida quanto ao caráter da missão de pregar o evangelho em todo o mundo. Manda cruzarmos os braços porque ou isto já foi feito ou outros estão fazendo melhor do que nós. Diz que estamos cometendo grande pecado, porque estamos dividindo a Igreja com o nosso zelo e radicalismo. Que estamos perdendo a nossa vida, que estamos deixando de desfrutar o que há de melhor nela, por causa de nossa atitude deliberada de viver para Deus, pregando e ensinando a Sua Palavra. Ele tentará nos convencer a todo custo que há muitas verdades. Que há muitas doutrinas. 36 E que cada um tem o direito de escolher a que melhor lhe convenha. E ainda que o testemunho das Escrituras seja contrário a esta mentira diabólica, não é incomum que muitos fiquem paralisados em seus esforços, por se deixarem persuadir por estes argumentos do inferno. Os que promovem divisões no corpo de Cristo não são os que se desviam dos que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina, mas exatamente estes que criam dissensões e escândalos contra a doutrina dos apóstolos. A unidade que se viu no povo de Judá nos dias de Neemias foi devida exatamente pelo firme convencimento deles de que a causa do cativeiro de seus pais e deles em Babilônia, havia sido o fato de se desviarem da Palavra de Deus, e agora eles estavam desejosos de reconstruírem a sua vida religiosa, e sabiam que isto não poderia ser feito senão por uma obediência de todos à Palavra do Senhor. Como poderá a Igreja ter unidade espiritual se lhe faltar esta unidade de fé, que é fé na Palavra de Deus? Fé, não em qualquer palavra proferida pelos pastores em suas Igrejas, não a palavra de homens, não as doutrinas de demônios, mas aquela mesma boa e antiga verdade que havia sido pregada pelos apóstolos do Senhor. Sem a firme convicção de que esta Palavra é inteiramente fiel e digna de ser defendida, jamais perseveraremos na sua proclamação, porque são muitos os inimigos que se opõem a isto. Devemos estar convictos que a força e a segurança da Igreja serão a aflição e a vergonha dos seus inimigos. Em vez de nos abatermos com os ataques dos nossos inimigos podemos usar isto, com o auxílio da graça do 37 Senhor, para lutarmos ainda mais bravamente pela causa do evangelho, sabendo que nossa missão não é apenas a de salvar almas do inferno, mas de edificá-las na verdade, de modo que Deus possa ser glorificado, conforme é da Sua vontade. Quando nossos inimigos nos atacarem e zombarem de nós, quanto à obra que estamos fazendo para o Senhor, devemos fazer tal como Neemias, que orou ao Senhor com estas palavras de guerra, tal como haviam feito os cristãos nos dias apostólicos, debaixo da perseguição das autoridades de Israel, pois clamaram ao Senhor para que vindicasse a Sua santidade e poder e subjugasse a todos aqueles que estavam se opondo ao Seu Ungido. O evangelho é aroma de vida para vida nos que se salvam (por lhe darem boa acolhida), mas é também cheiro de morte para morte nos que se perdem (por lhe resistirem e recusarem). Não podemos esquecer disto enquanto estamos empenhados na sua proclamação. A obra de Deus tem duas faces, a saber, salvação e juízo. Não se pode esconder que aqueles que não creem no Filho de Deus já estão condenados, tal qual o próprio Jesus pregou em Seu ministério terreno. É com firmeza e determinação que devem ser confrontados os Barjesus, Himeneus, Alexandres e todos os que se levantam contra o conhecimento da verdade e do Filho de Deus, estando nós, contudo, com paz, mansidão, longanimidade e bondade em nossos corações. E ainda que não oremos propriamente com as mesmas palavras de Neemias, que são inteiramente justificadas na Antiga Dispensação do olho por olho, dente por dente, nós temos muito que aprender do vigor e firmeza com que devemos resistir ao diabo e a todos os 38 instrumentos que ele usa para tentar impedir o avanço do evangelho. Não amaldiçoaremos os que nos amaldiçoam, não deixaremos de orar pelos nossos perseguidores, não deixaremos de amar os nossos inimigos, mas não permitiremos que eles nos façam decair da nossa firmeza em Cristo. Não deixaremos de lutar com as armas espirituais da verdade contra tudo o que se levanta contra o conhecimento de Deus. Não podemos confundir a longanimidade que nos é ordenada para com todos (I Tes 5.14), com falta de convicção, e tibieza de vontade. Nós devemos ser firmes na defesa da verdade tal como o próprio Deus nos ordena: “Desde os dias de João Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Mt 11.12). Como disse Thomas Watson: “A terra será herdada pelos mansos (Mt 5.5); mas o céu, pelos que batalham. A vida cristã é semelhante à vida militar. Cristo é nosso Capitão; o evangelho, nossa bandeira; as graças do Espírito, nossa artilharia espiritual. E o céu somente pode ser conquistado por meio da força. Ninguém vai ao céu, exceto os que batalham por ele.”. Deste modo, quando debaixo de grandes oposições e perseguições, por causa da verdade que defendemos, devemos nos guardar da tentação de entrar em debates e controvérsias inúteis, e muito mais de abrigarmos ira, rancor ou qualquer outro sentimento negativo em nossos corações, contra aqueles que nos perseguem, porque nos é ordenado orar por eles, e vencermos o mal com o bem. 39 Estas cruzes nos estão impostas e devemos carregá-las com paciência e gratidão a Deus em nossos corações, por permitir que soframos por amor a Ele, de modo que através destas aflições, nos ensine em que consiste a perseverança cristã e o amor perdoador que está no Seu próprio coração, e que nos foi revelado em Cristo. Nossos inimigos nos atacam por todos os lados, e por isso devemos também montar guardar contra eles em todos os lados; mas lembremos que Neemias orou primeiro a Deus, antes de tomar qualquer providência. Esta é a ordem correta. Não devemos agir e depois orar pedindo que Deus abençoe as nossas ações e os nossos projetos. Oração e vigilância devem sempre caminhar juntos. Se nós orarmos sem vigilância nos tornamos indolentes e tentamos a Deus; e se vigiamos sem orar, ficamos orgulhosos e fracos, e de alguma maneira viremos a perder a proteção de Deus. Sabendo que o Inimigo anda em derredor, buscando a quem possa tragar, isto é, que estiver com suas defesas vulneráveis, pela falta de vigilância, o melhor antídoto contra os Seus ataques é permanecermos firmes em nossas posições, de forma que não encontre brechas para nos atacar, por observar o quanto estamos ligados ao Senhor, de modo que todo ataque que desferir contra nós, será para o próprio dano e prejuízo dele, e não propriamente nosso. Por isso, Neemias dispôs o povo armado de espadas, arcos e lanças em posições estratégicas do muro, e especialmente naquelas em que o muro ainda se encontrava aberto (v. 13). E uma vez tendo feito isto, não convocou o povo a confiar na própria força deles ou na sua sábia direção, 40 senão totalmente no Senhor, grande e terrível, enquanto pelejassem contra os seus inimigos (v.14). Os inimigos de Neemias, quando viram que o conselho deles havia sido dissipado, porque os judeus foram avisadospela providência de Deus, com a devida antecedência, desistiram de atacá-los, e assim a obra de reconstrução pôde ter prosseguimento (v. 15). Neemias fez bem em lembrar aos judeus que não deviam temer os seus inimigos mas ao Deus grande e terrível, porque aqueles que temem a Deus, não temem o que lhes possa fazer o homem. É importante também aprendermos do exemplo deixado por Neemias, que não é pelo fato de não estarmos sendo atacados por nossos inimigos espirituais, que vamos relaxar na nossa vigilância, prudência e defesa. Ele não permitiu que a vigilância cessasse até que a obra fosse completada, e certamente esta prosseguiu, mesmo depois da reconstrução do muro ter sido concluída. Nunca devemos deixar de vigiar por um só instante, porque o Inimigo tomará vantagem sobre nós, se o fizermos. Não devemos jamais deixar de estarmos revestidos com toda a armadura de Deus, de todas as armas espirituais, quer de ataque, quer de defesa. O combate da fé em que estamos envolvidos é permanente, e demanda tal cuidado da nossa parte. Relaxar na defesa implicará em ser enfraquecido na fé. Enquanto realizamos as nossas tarefas de paz, seja estudando, trabalhando, ou o que for, lembremos sempre que estamos em estado permanente de guerra contra as forças espirituais da maldade, de modo que ao 41 lado da ferramenta que edifica, esteja a espada do Espírito e o escudo da fé. Neemias teve também o cuidado de manter ao seu lado um trompetista, de forma a convocar o povo para onde fosse necessário, para que se juntando como um só homem, pudessem fazer face a possíveis ataques de seus inimigos, uma vez que estavam bem distanciados uns dos outros, no trabalho que faziam no extenso muro que circundava a cidade de Jerusalém. Neemias supervisionava a obra com intensa vigilância, de forma a garantir não apenas a sua defesa, como também o seu prosseguimento, e de igual modo devem fazer todos os que estão encarregados de pastorear o rebanho do Senhor. Eles devem ser diligentes em garantir que tudo seja feito na Igreja, conforme nos tem sido ordenado por Deus. Nunca devemos negociar a verdade pela falsa unidade e falsa paz. Afinal qual é a comunhão que pode existir entre luz e trevas? Entre o a verdade e a falsidade? Como podemos dar a destra de companhia àqueles que negam a verdade? 42 5 - Bons Líderes Têm o Temor de Deus (Neemias 5) No décimo quinto versículo deste 5º capítulo de Neemias, este apresenta um contraste entre ele e os governantes, que haviam governado os judeus antes dele. Tudo o que nós vemos de práticas injustas neste capitulo foi decorrente principalmente do mau governo daqueles homens infiéis. Um mau líder poderá levar todo um povo a se perder. A estes maus líderes bem se aplica a condenação do apóstolo Tiago que lemos em Tg 2.1-9. Tal como Davi, que havia governado no temor de Deus (II Sm 23.3), Neemias declarou o motivo porque não havia governado como os demais governantes, que haviam procedido injustamente antes dele, no verso 15 deste capítulo: “Porém eu assim não fiz, por causa do temor de Deus.” (v. 15). Veja que é o mesmo motivo que havia sido declarado anteriormente por Davi. Então o que podemos concluir disso quanto a um governo justo da parte dos pastores sobre suas respectivas Igrejas? Que eles devem ter o verdadeiro temor de Deus para que possam presidir com justiça. Quando qualquer pastor ou líder perde este temor, o que se pode esperar então deles? A resposta não é mais do que óbvia, por melhores que sejam as suas intenções? 43 Afinal, não é com boas intenções que se vence as obras da carne, mas por um verdadeiro andar no Espírito, mediante o temor devido ao Senhor. Quando colocamos Deus diante dos nossos pensamentos, dos nossos olhos, dos nossos julgamentos, então nós pesamos as nossas decisões e palavras. Todavia, quando isto falta podemos agir por impulsos carnais, movidos por orgulho, cobiça, inveja, ciúme ou qualquer outra obra da carne. Se deixarmos de andar humildemente com o Senhor, como poderemos ser achados agindo como um Moisés, um Noé, um Daniel, um Paulo, um Pedro, e outros líderes, que agiram segundo o coração de Deus? É digno de nota, neste capitulo de Neemias, que Deus trouxe um juízo de carência sobre a terra de Judá, que em vez de produzir arrependimento no povo, e principalmente, nos magistrados de Israel, quanto aos seus pecados, ensejou a exploração dos pobres pelos abastados, cujas terras tomaram para si, e de quem fizeram também escravos e a quem emprestaram dinheiro a juros, contrariando a proibição da Lei de Moisés relativa a tais práticas. A Lei permitia a venda de propriedades (Lev. 25. 14-16), mas essa venda não podia ser permanente (v. 10, 13). No entanto, os ricos tinham transgredido a Lei, porque tinham o dever de socorrer a seus irmãos mais pobres em tempos de dificuldades econômicas, mas não de oprimi-los (v. 14, 17). Neemias, seus parentes próximos e seus seguidores tinham ajudado aos pobres até onde tinham podido (Ne 5.10, 15). Mas os ricos tinham enriquecido ainda mais às expensas de seus compatriotas. 44 Deus havia trazido os judeus do cativeiro em Babilônia para que fossem agora escravizados pelos seus próprios compatriotas, sendo trazidos novamente debaixo de escravidão? (Gál 5.1; I Cor 7.23). E o que fez Neemias? Ficou somente orando? Fez vistas grossas para o problema esperando que eles se resolvessem entre si? Não. Ele exigiu restituição e eliminação da prática da exploração sob a ameaça de pena de ser despojado de sua casa e de seus bens, todo aquele que se recusasse a se submeter à ordem que havia sido dada, em comum acordo com os sacerdotes e o povo (v. 12,13). Assim, as consequências danosas trazidas pela escassez de recursos, cooperou para o arrependimento do pecado e o retorno à prática da justiça em Judá, porque havia um governante temente a Deus sobre eles, na pessoa de Neemias. Mas quanto aos maus governantes, deve ser dito que nada expõe mais a religião ao escárnio dos seus inimigos do que o mundanismo e o endurecimento de coração dos seus líderes. O mau exemplo dos líderes faz com que muitos descaiam de sua firmeza na fé, nem tanto pelo mau exemplo que conseguem observar neles, mas por não serem suas vidas e prática exemplares para o rebanho, de modo que possam aprender a maneira pela qual convém andar na casa de Deus. Nos versos 14 a 19 Neemias fala da sua generosidade para com o povo nos 12 anos do seu governo. Ele destaca que não cobrou impostos para a sua provisão e dos que governavam com ele. Como ele possuía o temor de Deus, por isso não oprimiu o povo, e não lhes fez qualquer coisa cruel ou injusta. E 45 não fizera isto para receber o louvor ou a aprovação dos homens, mas por dever de consciência, por causa do temor do Senhor. Ele havia se compadecido no exílio da assolação e aflição dos judeus na sua própria terra, e não seria agora como governador que deixaria de estar compadecido deles. Ele era sensível o suficiente para perceber o grande sofrimento do povo e não ousaria aumentar o fardo deles. Ao contrário, tudo faria para minorar a sua ruína. Neemias não procurou a recompensa dos homens, senão somente do Senhor, e isto ele expressou na curta oração que fez no verso 19: “Lembra-te de mim para meu bem, ó meu Deus, e de tudo quanto tenho feito em prol deste povo.”. Ele não se dirigiu deste modo a Deus em oração porque pensasse ter qualquer merecimento diante de Deus, como se o Senhor tivesse uma dívida para com ele, mas para mostrar que não estava buscando qualquer recompensa dos homens pela sua generosidade, ou para recompor o que ele havia gasto para honrá-lo, porque considerava o favor de Deus a maior e melhor recompensa que poderia ter. 46 6 - Traições na Própria Casa (Neemias 6) Os governantes que estiveram em Judá, antes de Neemias, nos quase sessentaanos depois de Zorobabel, nada haviam feito para tirar o povo de Deus do estado de assolação e aflição em que se encontrava. Quando Deus dispôs o coração de Neemias para fazer o que nenhum deles havia feito, como é comum ocorrer toda vez que alguém é levantado por Ele para o bem do Seu povo, Satanás também se levanta imediatamente, e move todos os instrumentos que estiver ao seu alcance para se lhe opor. O diabo estava usando a estratégia de tentar intimidar Neemias, sob a falsa acusação de que queria constituir rei a si mesmo, para rebelar-se contra a Pérsia, conforme vemos neste 6º capítulo de Neemias, que estaremos comentando. Ele fez isto com Neemias, através dos governadores Sambalate, Tobias e Gesem (v. 1), quando souberam que Neemias já havia reconstruído o muro. A obra que Deus lhe designara já havia sido concluída, mas o diabo continuaria com os seus ataques, para matar Neemias e assim trazer grande intranquilidade aos judeus. Dissimuladamente, Sambalate e Gesem convidaram Neemias, por cinco vezes consecutivas, para que viesse lhes fazer uma visita de cortesia, mas Neemias discerniu que intentavam lhe fazer mal (v.2), e se limitou a lhes responder que não poderia abandonar os seus afazeres (v. 3). Como receberam a mesma resposta de Neemias, por quatro vezes; na quinta, Sambalate lhe enviou um 47 mensageiro com uma carta lhe infamando, e lhe acusando de que queria se revoltar fazendo-se rei dos judeus, e que para tanto havia constituído profetas em Jerusalém para proclamá-lo rei (v. 7). Neemias se limitou a lhe responder que estava mentindo, e dizendo coisas que havia inventado (v. 8). E como viu que apertavam contra ele com insinuações satânicas, para atemorizá-lo, também orou a Deus que fortalecesse as suas mãos para prosseguir na realização da obra, para a qual havia sido comissionado (v. 9). Não tendo conseguido intimidar Neemias por esta maneira, avançaram com suas estratégias por inspiração diabólica, subornando um profeta chamado Semaías, que estando com Neemias em sua casa, o convidou a ser refugiar com ele no interior do templo de Jerusalém, porque soube que havia um plano para matá-lo naquela noite. Pela natureza da mensagem propriamente dita, Neemias concluiu, segundo o conhecimento que possuía da Lei de Moisés, que a profecia era falsa, e que o profeta havia permitido ser subornado pelos inimigos de Deus, a saber, por Sambalate e Tobias, para fazer a vontade do diabo (v.10-12). O propósito deste ataque através de Semaías foi discernido por Neemias, que afirmou que eles lhe haviam subornado para atemorizá-lo, e que agindo por medo e precipitadamente, entrando na área sagrada do templo, o seu nome seria infamado e vituperado (v. 13). Mas qual seria o ganho do Inimigo com isto? Total, porque ele seria acusado de não respeitar a Lei de Moisés e de não ter o temor do Senhor, e assim tudo o que ele vinha fazendo em Judá seria desacreditado. Não foi somente o profeta Semaías que se deixou corromper, como também uma profetisa de nome 48 Noadis e outros profetas, que debandaram para o lado de Tobias e Sambalate (v. 13,14). Todavia, a par de toda oposição que Neemias havia sofrido, concluiu a obra de reconstrução do muro em apenas 52 dias, o que fez com que todos os povos inimigos viessem a temer e a se abater, porque viram que a mão miraculosa do Senhor estivera naquilo (v. 15,16). A recompensa que Neemias teve é a mesma que têm todos os que perseveram e permanecem firmes na fé, no cumprimento da visão que Deus lhes deu, em meio a todo o tipo de oposição do inferno que possam vir a sofrer. E para finalizar, quanto a esta não incrível nem surpreendente coincidência que há entre a oposição que Neemias sofreu e a que sofrem todos aqueles que estão fazendo efetivamente uma obra debaixo de comissão divina, porque será sempre esta a regra e nunca a exceção, nós vemos nos versos 17 a 19, que os próprios nobres judeus, que estavam cooperando com Neemias no governo, simulavam diante dele que havia bondade em Tobias, porque estava aparentado com os judeus, por ter casado com a filha do sacerdote Secanias, e o filho de Tobias também havia se casado com uma judia (v. 18). O argumento do laço familiar e de amizade estava sendo invocado para sobrepujar o laço da verdade e da manutenção da obediência à vontade de Deus. Neemias não se deixou persuadir pelo argumento deles porque bem sabia o que é a natureza humana, que sempre considera as coisas segundo os homens e nunca segundo Deus. 49 O próprio Pedro foi repreendido por Jesus quando permitiu que Satanás o influenciasse, como vemos em Mt 16.23. Deste modo, não foram poucas as cartas que os nobres de Judá enviaram a Tobias, e este enviou muitas cartas a eles. Contudo quais eram as “boas ações” de Tobias às quais Neemias se referiu ironicamente no verso 19? O nome Tobias significa Bondade de Jeová. Por isso Neemias usou de uma ironia usando o próprio nome dele, porque qual é a bondade que pode haver nas palavras, quando o intento do coração é o de nos intimidar e atemorizar, tal como se dava no caso de Tobias em relação a Neemias? (v. 19). Não importa, pois, quão doces sejam as palavras de elogio que nos dirigem, se isto tem por alvo encobrir a verdadeira intenção do coração de quem as profere de não somente nos ferir, e dissimular a ferida, mas sobretudo, infamar o nosso bom nome, de modo que a obra que Deus intentava fazer através de nós venha a ser prejudicada por conseguirem nossos inimigos nos infamarem e desacreditarem diante das pessoas, levando-as a crer que somos traidores, pessoas desleais e rebeldes. 50 7 - Restauração da Cidadania Judaica (Neemias 7) Depois de ter concluído a restauração do muro, Neemias organizou e restaurou o serviço de adoração com a designação de porteiros, cantores e levitas conforme vemos no 7º capítulo do seu livro (v.1). E por prefeitos da cidade de Jerusalém nomeou seu irmão Hanâni, e um outro Hananias de quem declarou ser homem fiel e temente a Deus, mais do que muitos (v.2). Homens piedosos têm o cuidado de nomear líderes também piedosos, para conduzir o povo do Senhor. Este mesmo critério foi observado pelos apóstolos (II Tim 2.2; I Tim 3.1-13; At 6.3). De homens que são designados para cargos seculares exige-se honestidade, mas isto não é suficiente para quem é designado para o serviço de Deus, pois importa que seja santo e irrepreensível. A Igreja sempre demandou ser dirigida por uma rede de pastores preparados, homens segundo o coração de Deus, que apascentem o Seu rebanho, com conhecimento e com inteligência (Jer 3.15). Porque se o Senhor não estiver efetivamente no comando da vida destes pastores, de que adiantará vigiarem a cidade espiritual de suas vidas e dos que estão debaixo do seu governo, se o Senhor não guardá- la? Não serão sentinelas inúteis já que o Senhor não é com eles? Daí o conselho dado a Josué para meditar na Palavra dia e noite, para que prosperasse nos projetos de Deus, designados para o Seu povo. 51 Esta regra não mudou para os ministros do evangelho. Se a palavra do Senhor não habitar ricamente neles, de quem eles serão representantes? De si mesmos? De suas ideias pessoais e particulares? A citação do verso 4: “Ora, a cidade era larga e grande, mas o povo dentro dela era pouco, e ainda as casas não estavam edificadas.”, não significa que não houvesse nenhuma casa em Jerusalém. Significa que, em proporção com o tamanho da cidade, tinham sido reconstruídas, comparativamente, poucas casas e ainda havia muito espaço desocupado, no qual podia se construir. Quando Neemias chegou a Jerusalém, encontrou o templo restaurado, mas a maior parte da cidade ainda estava em ruínas. O novo Estado era basicamente um país agrícola e tinha prosseguido sem uma verdadeira capital. Agora a cidade tinha muros e era um lugar seguro para residir e apropriado para ser capital do país.O problema que enfrentava Neemias era duplo: induzir o povo a viver na cidade e lhe proporcionar ali moradias. Para povoar a cidade, Deus pôs no coração de Neemias que fizesse um censo, para conhecer a população da cidade e do campo. E ele deu o primeiro passo neste sentido consultando o livro de genealogias dos que haviam subido com Zorobabel, cujo registro se encontra nos versos 6 a 73, que corresponde à relação registrada em Esdras 2.1-70. 52 8 - Restauração da Vida Religiosa dos Judeus (Neemias 8) Nós vemos no oitavo capítulo de Neemias, o solene ajuntamento dos israelitas no primeiro dia do mês sétimo (o de Tisri), no templo em Jerusalém (v. 2), o qual era ordenado pela Lei de Moisés, conforme se vê em Lev 23.24,25. No décimo dia deste mesmo sétimo mês estava ordenado pela Lei o dia da expiação, no qual o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos pecados do povo, para cobertura destes pecados, por mais um ano. Em hebraico o nome desse dia é Yom Kippur, e hoje é chamado de Dia do Perdão, como se lê em Lev 23.27. A Festa dos Tabernáculos começava no 15º dia deste mesmo sétimo mês, e durava uma semana, conforme vemos em Lev 23.34-36; 39-43. As festas fixas religiosas de Israel (Sábado, Páscoa, Primícias, Pentecostes e Tabernáculos) eram anúncios proféticos das coisas que se realizariam por meio de Cristo, especialmente em relação à Igreja, e por isso eram designadas como santas convocações (v.2). Elas apontavam para a reunião de Cristo com o Seu povo. O sábado (v. 3) representava o descanso dos cristãos no Seu Deus. E profeticamente sinalizava para aquele grande dia em que o Senhor descansará do trabalho da nova criação, que está realizando por meio de Cristo, e especialmente pela conversão dos pecadores, para habitarem com Ele num descanso que adentrará a eternidade. 53 Como veremos adiante, é interessante observar que há uma conexão entre todas estas festas instituídas pelo Senhor. A festa das primícias, em que deveriam ser apresentados no tabernáculo um molho da primeira colheita de trigo feita na terra de Canaã (Êx 34.22). E esta primeira colheita deveria ser consagrada ao Senhor para que os israelitas fossem aceitos por Ele. Evidentemente isto aponta em figura para Cristo, porque Ele é a primícia da nova criação, e particularmente do povo de Deus. Sem que Ele se oferecesse ao Pai como representante de toda a colheita, ninguém poderia ser aceito como filho de Deus. E é importante frisar que esta oferta deveria ser feita num domingo (v. 12), que foi o dia em que Jesus ressuscitou como sinal da aceitação pelo Pai da Sua obra de redenção dos pecadores (I Cor 15.20, 23). Evidentemente, este primeiro fruto da terra de Canaã seria apresentado no ano em que os israelitas entrassem na terra e a cultivassem, e isto aponta também de modo muito específico para o sacrifício de Jesus, que seria uma única oferta, feita num determinado dia, e que determinaria para sempre a aceitação do Seu povo pelo Pai (Hb 9.28; 10.14). Mas, para representar a primeira colheita que seria feita pelo Espírito Santo, que seria derramado no dia de Pentecostes, iniciando a Sua obra de salvação dos pecadores em todo o mundo, a partir daquele primeiro domingo em Jerusalém, quando veio revestir de poder os primeiros discípulos, para começarem a ganhar pessoas em todo o mundo para Cristo a partir deles e daquele dia, foi designada a festa de Pentecostes, que caía sempre num domingo (Lev 23.15-21), que tinha o 54 nome de festa das semanas (Êx 34.22; Dt 16.10; II Cr 8.13) ou da sega dos primeiros frutos (Êx 23.16). A celebração do Pentecostes seria feita cinquenta dias após a Páscoa. Contando-se sete semanas a partir do domingo em que havia sido oferecida a oferta das primícias. O Pentecostes caía então também num domingo e deveria ser celebrado todos os anos num domingo, contado a partir do de Páscoa. Em Lev 23.24,25 é ordenado que no primeiro dia do sétimo mês deveria ser feita uma solene convocação da nação com sonidos de trombeta, e nenhuma obra deveria ser feita neste dia, ou seja, ele seria um feriado nacional, pela importância da expiação que se faria naquele mês no décimo dia, e a festa dos tabernáculos a partir do décimo quinto dia, que seria celebrada durante sete dias. E é a obediência a estas ordenanças da Lei que nós temos relatado aqui no livro de Neemias. Foi feita uma exposição da Lei por Esdras e pelos levitas relacionados neste capítulo de Neemias (v.7), desde a aurora até o meio dia do primeiro dia da festa dos tabernáculos (v.3) e é dito que a leitura foi feita em forma de exposição da Palavra, isto é, como uma pregação em que o sentido da Lei era explicado ao povo, de maneira que a pudessem entender (v. 8, 12). Deus havia dado habilidade e autoridade a Esdras para expor as Escrituras, e o povo não somente reconheceu esta habilidade e autoridade, como também lhe deram a oportunidade de ler para eles o livro da Lei durante os sete dias da festa dos tabernáculos (v. 18). Esdras era escriba e sacerdote, mas a sua autoridade não decorria meramente destes ofícios, mas da sua comunhão com Deus que era resultante, por sua vez, da sua aplicação em meditar, honrar e praticar a Palavra. 55 Quando foi feita a exposição da Palavra por Esdras, o povo começou a chorar, porque a Lei mostra aos homens os seus pecados, a sua miséria e o perigo a que estão expostos, por causa do pecado, e há maldições contra todos os que não cumprirem tudo o que a Lei ordena. Então eles choraram ao pensarem no quanto tinham ofendido a Deus, pela transgressão voluntária da Sua Lei, e por se verem culpados diante dEle. Mas a própria Lei ordenava que na festa das trombetas do primeiro dia do sétimo mês, e durante todos os dias da festa dos tabernáculos, houvesse somente alegria e não tristeza perante o Senhor. Por isso Esdras, Neemias e os levitas que estavam com eles exortaram o povo a se alegrar em vez de chorar de tristeza. No segundo dia do mês sétimo, que não era um dia sagrado, as pessoas procuraram Esdras para continuarem meditando na Lei com ele, e revelaram o seu desejo de celebrarem a festa dos tabernáculos, porque viram que ela era exigida pela Lei. Eles demonstraram desta forma que não somente tinham ouvido a Lei, mas que estavam dispostos a honrarem ao Senhor mediante cumprimento da Sua Palavra. Desta forma, este capitulo e os seguintes do livro de Neemias nos ensinam que depois de enfrentarmos duras oposições para estabelecer a obra específica que Deus tenha colocado em nossas mãos, haverá um período de paz para adorarmos o Seu nome com grande comunhão e alegria, porque o próprio Senhor ordenará esta alegria e paz a nosso respeito, conforme está ilustrado na Lei relativamente à festa dos tabernáculos. 56 A nossa festa dos tabernáculos que adentrará pela eternidade, em que teremos somente pura alegria juntamente com o Filho de Deus, nas muitas moradas que ele nos preparou, se apressa a chegar e não falhará. 57 9 - Voto de Fidelidade ao Senhor (Neemias 9) Depois de terem concluído todas as ordenanças da Lei relativas às festividades do sétimo mês, os israelitas separaram o 24º dia daquele mês, para jejuarem e se vestirem de sacos e com terra sobre suas cabeças, para demonstrarem a sua pública humilhação perante o Senhor, conforme vemos no nono capítulo de Neemias (v. 1). Eles haviam se apartado das iniquidades e dos costumes pagãos das nações ao seu redor para confessarem os pecados e as iniquidades de seus pais, que tanto haviam ofendido ao Senhor no passado, e que deu ocasião ao seu cativeiro (v. 2). Durante uma quarta parte do dia leram a Lei de Moisés, e numa segunda quarta parte fizeram confissão de pecados e adoraram ao Senhor (v. 3). No passado, os judeus dividiam o dia em quatro partes, sendo que cada uma das quais tinha três horas. Nós vemos
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