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Uma Restauração sem Reparação

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Uma Restauração 
sem Reparação 
 
 
 
 
 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOV/2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
Sumário 
 
 
Introdução 3 
 
1 - Restaurando Vidas 6 
 
2 - Oração Espontânea Atendida 17 
 
3 - A Nobreza do Serviço Humilde 25 
 
4 - Vigilância e Oração 30 
 
5 - Bons Líderes Têm o Temor de Deus 42 
 
6 - Traições na Própria Casa 46 
 
7 - Restauração da Cidadania Judaica 50 
 
8 - Restauração da Vida Religiosa dos Judeus 52 
 
9 - Voto de Fidelidade ao Senhor 57 
 
10 - Só a Graça Vence o Pecado 60 
 
11 - Para que Viesse o Messias 63 
 
12 - A Alegria Depois do Choro 66 
 
13 - Disciplina do Povo de Deus 69 
 
 
 
 
3 
Introdução 
 
Bem-aventurado é todo aquele que topou com o 
verdadeiro e real sentido da vida. 
Caminhamos neste mundo com os olhos vendados, 
cobertos por um espesso véu que nos impede de 
enxergar não somente o que está fazendo o Grande 
Criador segundo o seu plano eterno, bem como qual seja 
a nossa missão em relação àquilo que ele faz. 
É o Criador por excelência pois tudo o que faz é sempre 
bom e novo, conforme a Sua própria natureza. 
Por isso disse ao ter concluído a criação original que 
tudo era muito bom, e quanto à nova criação que ainda 
se encontra em curso diz na sua conclusão: “Eis que faço 
novas todas as coisas”. 
Isto sucede porque é um restaurador e reformador, ou 
seja ou que gera nova vida e que traz tudo à sua forma 
original, conforme Ele havia planejado desde antes dos 
tempos eternos. 
Assim, reconstrói sem usar o que é inerente ao velho, 
pois a partir do que envelheceu ou se estragou, faz tudo 
novo. 
Gera de uma velha criatura, uma nova criatura, e não 
uma criatura reparada. 
Quando enviou Neemias a Jerusalém, não foi apenas 
para reconstruir um muro que havia sido destruído por 
Nabucodonozor, à forma de reparos da estrutura antiga, 
mas para fazer um novo muro, e mais do que um muro, 
reconstruir a vida da própria nação de Israel que havia 
se corrompido com a idolatria antes da sua ida para o 
cativeiro. 
4 
Um novo Israel seria criado para recepcionar o Messias 
prometido que estava prestes a se manifestar ao 
mundo. 
O vaso da visão dada a Jeremias não foi reparado pelo 
oleiro, mas inteiramente destruído para que dele fosse 
feito um vaso novo. 
Isto se aplicava à nação de Israel quando do seu retorno 
do cativeiro, como também a nós, em relação à nova 
vida que recebemos por meio da fé em Jesus Cristo. 
O velho homem está sendo despojado, e no seu lugar 
Deus está construindo um novo homem, do qual nos 
tem revestido progressivamente. 
Ele está trabalhando com um vinho novo e uma veste 
nova. E se houver algum remendo para ser feito na veste 
nova, a rigor, não é um remendo, mas uma correção, um 
aperfeiçoamento em maturidade da nova natureza que 
recebemos do alto. 
Então, em meio a um mundo que foi arruinado pelo 
pecado, Deus está produzindo a Sua grande obra prima, 
ainda maior do que a primeira criação dos seis dias, pois 
aqui está construindo um edifício espiritual eterno, com 
pedras vivas e renovadas, a partir de um material velho 
e estragado pelo pecado. 
Isto traz grande glória ao Seu nome, e exalta o Seu 
poder, e a nós dá o grande privilégio de sermos 
cooperadores desta nova criação, entendendo que é 
este o grande objetivo da nossa vida, a saber, estarmos 
empenhados na nossa própria renovação e restauração, 
como na de muitos. 
Esta foi a missão de Neemias em Jerusalém – não 
trabalhou apenas para si mesmo, mas para a glória de 
Deus e do novo Israel que Ele estava restaurando. 
Agora, uma nota de destaque deve ser feita, pois se não 
houve qualquer resistência ou oposição na criação 
5 
original dos seis dias, ou pelo menos não somos 
informados disto, todavia, quanto à nova criação que 
está ainda em curso, há muita oposição e resistência à 
mesma, especialmente por parte dos espíritos das 
trevas. 
E nisto também Deus é glorificado e revela o Seu grande 
poder, pois dispôs todas as coisas para isto mesmo, de 
modo a revelar que nada poderá impedir a conclusão 
perfeita e final da grande obra que Ele está realizando 
pela nossa associação com Jesus Cristo. 
A glória do Senhor encherá toda a Terra. 
A sua lei será estabelecida de uma forma final e perfeita 
em todos os corações que o amam. 
Serão criados um novo céu e uma nova terra nos quais 
habita somente a justiça. 
Todas as demais coisas passarão, mas a nova criação não 
apenas não passará como será estabelecida para todo o 
sempre. 
Assim, temos muito para aprender com Neemias quanto 
à forma de liderar sem recuar em face de quaisquer 
oposições ou perseguições que possamos sofrer; pois 
importa que seja cumprida a qualquer custo a missão de 
sermos cooperadores de Deus na obra de restauração 
que Ele está realizando no mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1 - Restaurando Vidas 
 (Neemias 1) 
 
Cristãos maduros e fiéis se sentem tal como Neemias 
se sentia em Susã, onde se encontrava o palácio real 
persa, como podemos verificar neste primeiro capítulo 
de seu livro, que estaremos comentando, pelo fato de o 
povo de Deus em Judá encontrar-se em grande aflição e 
opróbrio, estando o muro de Jerusalém derrubado e 
suas portas queimadas (Ne 1.3). 
Não é incomum que se encontrem muitos cristãos como 
que vendo suas Igrejas em grande ruína espiritual, com 
os muros da reverência e temor devidos a Deus 
derrubados e queimados, e assim, se sentem em grande 
aflição e opróbrio, por esta ruína espiritual ao seu redor. 
Esta é uma condição para ser confessada, lamentada, e 
pela qual devemos jejuar e orar permanentemente, tal 
como fizera Neemias, até que, pela graça divina, 
possamos ser os agentes de transformação deste estado 
de coisas a que nos referimos. 
Neemias não somente chorou e lamentou por alguns 
dias, como continuou a jejuar e a orar perante Deus, até 
que este respondesse as suas orações, movendo-o às 
ações que deveria empreender. 
Ele começou sua oração afirmando a majestade celestial 
de Deus, e o Seu poder, que O tornam inteiramente 
digno de ser temido. 
Ele afirmou a fidelidade do Senhor em guardar a aliança 
que fez com o Seu povo, e de usar de misericórdia para 
com aqueles que O amassem e guardassem os Seus 
mandamentos (Ne 1.5). 
7 
Ele se sente um com o povo do Senhor de todas as 
épocas, e por isso, ao confessar os pecados deles, 
confessou-os como se fossem o seu próprio pecado, e 
suplicou para ser ouvido pelo Senhor, na intercessão 
que vinha fazendo dia e noite (v. 6). 
E definiu os pecados com que haviam procedido 
perversamente contra o Senhor, como sendo a 
transgressão dos Seus mandamentos, estatutos e juízos 
que havia ordenado através de Moisés (v.7). 
Neemias declarou que Deus foi justo em tê-los 
espalhado pelas nações, por causa da sua transgressão, 
porque havia proferido este juízo na Sua Lei, (v. 8) mas 
apresentou argumentos, honrando a própria Palavra e 
promessa do Senhor, pedindo-Lhe que lembrasse que 
também havia dito que caso o povo se convertesse a Ele 
e guardasse os Seus mandamentos e os cumprisse, ainda 
que fossem rejeitados até a extremidade do céu, de lá 
os ajuntaria e tornaria a trazê-los para o lugar que havia 
escolhido para ali fazer habitar o Seu nome (v.9). 
Ainda que em grande desolação e opróbrio, eram o povo 
do Senhor, que Ele havia resgatado do Egito, com mão 
poderosa (v. 10). 
Finalmente, Neemias pediu a Deus, que ouvisse não 
somente a sua oração, como também a dos Seus demais 
servos que estavam orando, e que se deleitavam em 
temero Seu nome. 
Também pediu, especificamente, que lhe fizesse 
prosperar no seu projeto, dando-lhe graça perante o rei 
persa, de quem era copeiro na ocasião (v.11). 
Neemias conhecia o temor do Senhor e demonstrou que 
possuía este temor na oração que fez. 
O empreendimento para o qual pediu ao Senhor que lhe 
fizesse prosperar, não estava relacionado aos seus 
próprios interesses, mas aos do Senhor, que Ele 
8 
conhecia perfeitamente, porque sabia qual era o Seu 
caráter, conforme havia aprendido na Sua Palavra. 
Quando Neemias concluiu sua oração, chamou o rei de 
“este homem”, porque quando estamos na presença do 
Senhor todos os grandes da terra não passam aos olhos 
dEle senão como meros homens limitados, imperfeitos, 
dependentes do Seu favor e misericórdia. 
Ele não o fizera por motivo de irreverência para com o 
rei, mas porque diante do Senhor o temor que temos 
dos homens se dilui completamente, porque vemos que 
eles podem se tornar meros instrumentos nas mãos do 
Deus todo poderoso, para a realização da Sua soberana 
vontade. 
Deste modo, a misericórdia que pediu a Deus, que se 
achasse no rei em relação ao seu empreendimento, não 
era propriamente a misericórdia do homem, mas a 
misericórdia de Deus, que moveria o rei a atender o 
pedido que lhe faria. 
Esta oração é muito didática, e nos revela que nada 
ocorre por acaso. 
Que obstáculos não são vencidos sem que nos 
esforcemos em lutar com o Senhor em oração. 
Não pouca oração, e muito menos de pouca intensidade, 
mas através de oração incessante, prevalecente e 
perseverante. 
A grande questão por detrás do choro, da tristeza e do 
quebrantamento de Neemias e de todos quantos forem 
chamados efetivamente a realizar alguma obra 
específica para Deus é que Ele os quebrantará primeiro, 
antes de poder usá-los. 
Cristo não usa carvalhos imponentes, mas canas 
quebradas. 
9 
Ele não esmagará estas canas quebradas, mas tudo fará 
para convencê-las de que não são nenhum carvalho 
diante dEle. 
Estes que Ele usa são pavios fumegantes, que quando 
vierem a ser acesos por Ele, saberão qual seria a sua real 
condição sem o trabalho de Sua graça, capacitando-lhes 
para toda boa obra. 
O próprio Salvador e Senhor deixou-se quebrar, para nos 
ensinar o modo como devemos andar neste mundo. 
O Espírito Santo veio sobre Ele na forma de uma pomba, 
para demonstrar a humildade e mansidão que nos 
convém para andarmos com Deus, e no testemunho da 
verdade ao nosso próximo. 
Satanás arremete contra nós, procurando nos destruir, 
quando estamos enfraquecidos e doloridos. 
Tal como Simeão e Levi deram sobre os siquemitas, 
quando estavam abatidos em dores, pela circuncisão 
(Gên 34.25). 
Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza, e habita 
com o quebrantado de coração (Is 61.1). 
Não desprezemos, portanto, o trabalho de humilhação 
de nossas almas, pelo qual o Senhor administra a nós a 
Sua graça em maior medida. 
Sempre é deixado algo para que os cristãos lutem, de 
modo que entendamos que necessitamos de Cristo, 
para que possamos exalar o Seu bom perfume. 
Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são estes 
corações quebrados como canas, e estes pavios 
fumegantes que fazem as orações mais preciosas diante 
de Deus, por causa da dependência dos gemidos 
inexprimíveis do Espírito, através deles. 
Quão preciosas são para o Senhor as orações que 
fazemos com um coração quebrantado! 
10 
Assim, ao falarmos de pavio fumegante devemos ter em 
conta que isto tem o propósito de nos lembrar que a 
menor fagulha da graça é preciosa. 
Há uma bênção especial nesta pequena faísca. 
Jesus não veio salvar justos e sãos, mas pecadores e 
enfermos. 
Deus se agrada de que nos alegremos com os humildes 
começos. 
Ele se agrada em usar grãos de mostarda e formar 
grandes arbustos a partir destas pequenas sementes. 
Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e não 
Jerusalém, para nos trazer o Salvador. 
Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis, 
poderosas, nobres, importantes e nem mesmo com um 
grande número de seguidores. 
O Seu método é primeiro provar fidelidade no pouco, 
para depois conduzir ao muito. 
O Seu ministério é restaurador e nos deu um exemplo 
disto na reconstrução dos muros e portas de Jerusalém 
com Neemias. 
E muito mais do que muros e portas, Ele está 
interessado em restaurar vidas. E fará isto 
principalmente com paciência e amor. 
Os pastores devem então, ser pessoas simples e 
humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles, e 
exporem a verdade de maneira clara, e nunca de forma 
obscura. 
A verdade não teme algo tanto quanto o encobrimento, 
e não deseja algo tanto que seja exposta clara e 
abertamente à visão de todos. 
Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou 
reservadamente aos discípulos deveria ser proclamado 
de cima dos telhados. 
11 
Paulo era profundo, no entanto se tornou como ama 
acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez fraco com os 
fracos (I Cor 9.22). 
Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua majestade, 
para se oferecer a nós, como oferta suave de amor. E 
não desceremos de nossas elevadas vaidades para 
fazermos o bem a qualquer alma necessitada de 
salvação? 
Devemos, portanto, nos guardar daquele espírito que 
em vez de exibir paciência, longanimidade, mansidão e 
misericórdia aos homens, demonstra fúria, exaltação e 
ira obstinada, ainda que em nome de fazer prevalecer a 
verdade. 
Devemos lembrar que não podemos fazer prevalecer a 
verdade agindo contra a verdade. 
E devemos nos lembrar sempre que o fruto da justiça é 
semeado em meio à paz, sobretudo, a paz interior dos 
nossos corações, enquanto ministramos. 
No exercício da disciplina na Igreja devemos nos 
acautelar para não tentar matar uma mosca na testa de 
alguém com um martelo. O poder que é dado à Igreja é 
para edificação e não para destruição. 
O amor cobre uma multidão de transgressões. Não foi 
exatamente isto que Deus fez conosco ao perdoar todos 
os nossos pecados, quando nos salvou em Cristo? 
O Espírito Santo está contente em habitar em almas 
fumegantes e ofensivas. Que nós pudéssemos reter algo 
desta mesma disposição misericordiosa! 
A graça não reside em almas perfeitas neste mundo. 
Lembremos sempre disto. 
Como nenhum cristão se encontra em estado de 
perfeição absoluta deste outro lado do céu, então nós 
temos que nos exercitar sempre em espírito de 
misericórdia, de perdão e mansidão. 
12 
Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo com os 
nossos sentimentos presentes, porque nas tentações 
nós veremos muita fumaça desprendendo de 
pensamentos incorretos. 
Nós devemos nos precaver do falso raciocínio, porque 
nosso fogo não é como o dos demais, ou então por 
parecer que não há qualquer fogo em nós. 
As portas de Jerusalém estavam queimadas, mas Deus 
providenciou para que fossem restauradas através de 
Neemias, de forma que erraram todos aqueles que 
pensavam que Jerusalém permaneceria sem portas para 
sempre. 
Devemos lembrar que estamos na Aliança da Graça, em 
que nem toda medida é como fogo pleno, pois há muita 
faísca, que deve ser também vista como chama. 
Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe 1.1) por 
meio da qual obtiveram a perfeita justiça de Cristo. 
Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa. 
Algumas uvas mostrarão que a planta é uma videira e 
não um espinheiro. 
Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa não ter 
qualquer graça. 
Deus sabe que nós não temos nada de nós mesmos, 
então na aliança da graça Ele não requer nada além do 
que Ele dá, e que sempre nos dá o que Ele requer. 
Se não pudermos trazer um cordeiro, então permitirá 
que tragamos duas pombas e uma rola (Lev 12.8). 
O evangelho é uma moderação misericordiosa, em que 
a obediência de Cristo é estimada como sendo a nossa 
(Rom 5.19). 
A morte na panela da religião católico romana é que eles 
confundem as duas alianças (a da Lei e a da Graça) e 
enfraquecem o conforto que há em Cristo, porque não 
podem distinguir que Ele mitiga em muito as nossas 
13 
deficiências, em cumprir as exigências da Lei, apesarde 
não desobrigar-nos do seu cumprimento, e de exigir de 
nós uma justiça que exceda em muito a dos que se 
encontravam debaixo do antigo pacto. 
Muitos cristãos teriam sido destruídos se estivessem 
aliançados com Deus nas condições da Antiga Aliança, 
por causa de pecados que cometem, mas em Cristo são 
corrigidos, e não destruídos. Mas não são somente 
corrigidos, como também são consolados, depois que 
acham lugar de arrependimento, em relação aos seus 
pecados, não pelo mérito do arrependimento, mas por 
causa dos méritos de Cristo. 
Temos que nos lembrar, que a graça é muitas vezes, 
pouco discernível a nós. O Espírito Santo por vezes opera 
em nós sem que percebamos a Sua ação, mas Cristo 
sabe. 
Às vezes, na amargura da tentação, pensamos que Deus 
está se opondo a nós. Tal como a sunamita estava cheia 
de amargura em seu espírito, quando procurou Eliseu, e 
assim, deixamos de ver que Deus está conosco em 
nossas aflições. E uma alma preocupada é tal qual águas 
agitadas que não podem estar em repouso. 
Mas se é a alma de um verdadeiro cristão verá alguma 
faísca no meio de toda esta fumaça, e por esta pequena 
fagulha de graça será renovado na sua esperança e 
permanecerá firme na sua fé e confiança, que pertence 
a Deus, e que é a Ele que cabe o pleno governo sobre a 
sua vida. 
Uma pequena luz santa nos permitirá manter a Palavra 
de Cristo, e não negar o Seu nome, como sucede com a 
Igreja de Filadélfia citada em Apo 3.8. 
Onde este fogo da graça divina estiver, por menor que 
seja, sempre mostrará a diferença que há entre o ouro e 
14 
a escória. Fará separação entre carne e espírito, e nos 
levará a desejar a santidade de Deus. 
Deus dispôs todas as coisas de modo que Jesus receba 
toda a glória, e todo homem reconheça que sem Ele 
nada pode fazer, e nada será quanto ao propósito de 
Deus traçado para os eleitos. 
Toda a virtude que houver em qualquer cristão terá 
procedido de Deus, de forma que se algum deles vem a 
apostatar da fé, deixando de andar no Espírito, logo verá 
que as obras da carne prevalecerão completamente, 
porque todo o bem que houver nele, no que tange a 
pensar e a agir, segundo Deus, não procede de sua 
própria natureza, senão do Senhor Jesus. 
Por isto, todos os cristãos são ordenados a não se 
gloriarem em si mesmos quando Deus está fazendo algo 
bom neles, ou através deles, porque todos, sem 
exceção, são servos inúteis, pessoas que nada poderiam 
fazer de si mesmas, se não tivessem sido renovadas e 
capacitadas pela graça de Deus. 
Nossos desânimos não vêm da parte de Deus, porque 
Ele entrou em aliança conosco, assim como um pai, que 
se compadece dos seus filhos (Sl 103.13), e deste modo, 
nunca agiria no sentido de desanimá-los. 
Nem vem de Cristo nossos desânimos porque Ele não 
apagará o pavio que fumega. 
Nem tampouco vêm do Espírito Santo, porque ele nos 
ajuda nas nossas fraquezas, e é o Consolador. 
Não são nossos desânimos e fraquezas que podem 
quebrar nossa aliança com Deus, assim como está bem 
tipificado no caso da nação de Israel que se encontrava 
assolada e em opróbrio em Judá nos dias de Neemias. 
A aliança que temos com o Senhor é de caráter 
matrimonial, e por isso Ele nos assiste com Sua 
15 
misericórdia em nossas fraquezas e não nos 
desamparará por causa delas. 
Agora, consideremos o perigo que há naqueles que 
lançam, eles próprios, água para apagar o pavio 
fumegante de suas vidas que o próprio Cristo não 
apagaria. 
Não é sem razão que o apóstolo nos alerta quanto ao 
perigo de apagarmos o Espírito, com os nossos pecados 
deliberados. 
A Igreja de Laodiceia está sempre pronta a ser vomitada 
da boca do Senhor porque é morna. Ela tipifica bem, 
aqueles cristãos que vivem perigosamente provocando 
sempre a ira de Deus, por um viver deliberado no 
pecado. 
Se a graça é fortalecida no seu exercício, como poderão 
estar fortalecidos com graça aqueles que a rejeitam e 
confiam nos seus próprios méritos e obras? 
Como poderemos permanecer nesta graça se não nos 
santificarmos? 
Jesus nos convida a ter bom ânimo na aflição porque, 
como Ele próprio afirmou, jamais apagará o pavio 
fumegante, mas lembremos que vivendo 
deliberadamente no pecado, será impossível ter este 
bom ânimo, que Ele próprio nos concederia pela Sua 
graça. 
Não confundamos fraqueza com prática deliberada do 
pecado, porque isto não é fraqueza, mas rebelião e 
traição ao Filho de Deus, que morreu por nós, para não 
vivermos mais praticando o pecado e procurando estar 
deliberadamente debaixo do seu domínio. 
Há muitos inimigos a serem vencidos, a carne, o diabo e 
o mundo, e é importante estarmos conscientes de nossa 
condição de canas quebradas e pavios fumegantes, para 
que nunca tenhamos a presunção de tentar vencer estes 
16 
inimigos na energia da carne, senão por nos 
fortalecermos na graça, que está em Cristo Jesus e na 
força do Seu poder. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
2 - Oração Espontânea Atendida 
 (Neemias 2) 
 
Cerca de quatro meses haviam passado, de Chisleu - 
novembro (1.1) a Nisan - março (2.1), desde que 
Neemias havia começado a jejuar e a orar, até que 
fizesse o pedido ao rei, que está registrado neste 2º 
capítulo do seu livro, que estaremos comentando. 
Ele não se aventuraria a fazer uma viagem para Judá no 
inverno, porque não seria uma ocasião oportuna para 
empreender tal viagem. 
De igual modo, temos que esperar o momento oportuno 
para agirmos, depois de termos jejuado e orado. 
Há invernos espirituais que nos impõem este tempo de 
espera, se queremos ser bem-sucedidos em nossos 
projetos a serviço de Deus. 
Além da direção e poder do Senhor, temos que ter 
inteligência espiritual para discernir o movimento do 
mundo espiritual, para que não tomemos decisões 
precipitadas, das quais não somente poderemos nos 
lamentar posteriormente, como até mesmo vir a 
frustrar os projetos que Deus havia determinado realizar 
através de nós. 
Mas mesmo depois de ter muito jejuado e orado, o 
coração de Neemias se achava em grande tristeza, por 
se encontrar assolada a cidade de Jerusalém. 
E é desta forma que se acharão todos aqueles que 
estiverem exilados, ainda que dentro de suas próprias 
igrejas, porque assim como a cidade de Jerusalém 
estava para os judeus na Antiga Aliança, a Igreja está 
para os cristãos na Nova. 
Quão profundas são as dores do exílio. Elas são 
indescritíveis e muito maiores do que qualquer dor 
18 
moral ou física, porque são produzidas pela 
impossibilidade de se adorar a Deus em espírito e em 
verdade, na comunhão dos santos, por causa das 
condições prevalecentes na Igreja, quando esta se 
encontra assolada e em ruínas, por ter sido pisada como 
sal que perdeu o sabor. 
É muito mais difícil restaurar uma Igreja caída do que 
reconstruir os muros de Jerusalém. É com muito maior 
fúria que Satanás e todo o inferno se opõem a esta 
restauração da Igreja, do que a que experimentaram 
Esdras e Neemias em seus dias. 
Primeiro, porque que a proposta de Deus para a Igreja 
na dispensação da graça, para que possa andar 
conforme o Seu agrado é muito maior do que a que se 
exigia dos aliançados do antigo pacto, pois a justiça da 
Igreja de Cristo deve exceder em muito a dos escribas e 
fariseus. 
Entretanto, há muitas lições que podemos aprender do 
exemplo de tudo o que Deus fez através de Neemias, 
para restaurar a vida religiosa de Israel. 
A primeira é a de que apesar de Neemias saber que 
necessitaria do apoio do rei e de muitos homens, a sua 
confiança não estava depositada em nenhum deles, mas 
somente no Senhor, e demonstrou isto reiteradas vezes, 
como se vê por exemplo no verso 5, quando não ousou 
declarar logo ao rei qual era o seu intento, quando este 
lhe indagou o que desejava dele. 
Neemias fez uma oração rápida em espírito, entre a 
pergunta e a resposta que daria, entregando certamente 
o caso nas mãos de Deus, e declarou logo em seguida o 
que desejava, mas não sem antes, fazer a introdução em 
que usou as seguintes palavras: “se teu servo tiverachado graça diante de ti”, como a que dizer que ele 
19 
atenderia ao que pediria, caso Deus tivesse movido o 
coração do rei para que achasse graça diante dele. 
Isto é dependência real de Deus, tal como havia sido 
demonstrada anteriormente, por Davi em seus dias, que 
não costumava tomar qualquer decisão sem que tivesse 
entregado antes o caso nas mãos do Senhor. 
Não podemos esquecer que Ester havia conquistado 
totalmente o favor do rei da Pérsia, quando se casou 
com ele, e isto foi feito estrategicamente por Deus não 
somente para livrar os israelitas do extermínio 
intentado por Hamã, como também para que os judeus 
encontrassem o favor dos persas, na sua estada na 
Palestina, e nisto nós vemos como o rei foi favorável, 
tanto nos dias de Esdras, quanto nos de Neemias, e 
muito disto foi obtido, sem dúvida, pelo modo atencioso 
como os persas passaram a ver os judeus, por influência 
da piedosa Ester, que havia assumido o trono, ao lado 
do rei da Pérsia. 
Toda esta boa influência estava sendo produzida pelo 
próprio Senhor. 
Neemias pediu uma comissão para ir com ele, para 
reconstruir os muros de Jerusalém, e lá permaneceria 
um certo tempo aprazado, conforme lhe havia pedido o 
rei, mas este prazo foi prolongado, porque permaneceu 
em Jerusalém, cerca de doze anos (5.14). 
Além desta comissão, pediu também uma escolta (v.7), 
e um salvo conduto para que os governadores das 
províncias, não somente permitissem que atravessasse 
as suas províncias respectivas, como também que o 
provessem com o que fosse necessário, especialmente, 
madeira do Líbano, para o trabalho que havia projetado. 
Quando Neemias entregou as cartas do rei persa aos 
governantes das províncias (v. 9), Sambalate e Tobias 
(que viriam a ser instrumentos de Satanás, para se 
20 
oporem a ele) ficaram sabendo da sua missão, e 
extremamente irados, pelo fato de que alguém tivesse 
se levantado para procurar o bem dos israelitas (v. 10). 
Depois que chegou a Jerusalém, Neemias não declarou 
o que Deus havia colocado em seu coração (v. 12) a 
nenhum dos líderes de Israel, por pelo menos três dias 
(v.11). 
Homens em verdadeira missão divina, nunca fazem 
alarde de sua autoridade, e da comissão que receberam 
da parte de Deus, porque sabem que a obra não é 
propriamente deles, mas do Senhor (v. 16). 
Antes de tomar qualquer decisão, Neemias fez uma 
avaliação da extensão dos danos do muro de Jerusalém, 
que estava demolido, assim como suas portas, que 
haviam sido queimadas. E por motivo de prudência, fez 
isto à noite (v. 13). 
Foi somente no momento oportuno, que declarou aos 
judeus, especialmente aos sacerdotes, nobres e 
magistrados e a todos os que faziam a obra de 
reconstrução do muro, qual era a obra, para a qual havia 
sido encarregado por Deus, para fazer em Jerusalém. 
Daqui, decorre um princípio muito importante, para 
todos os que têm uma chamada de Deus, para a 
realização de uma obra específica: ela deve ser 
reconhecida e apoiada pelos demais líderes que 
estiverem envolvidos nela. 
Quando falta este reconhecimento e apoio, será vão 
tentar nadar contra a correnteza. 
Por isso Paulo não poderia prosseguir seu ministério 
juntamente com Barnabé, porque passou a existir 
discordância entre ambos quanto à forma de condução 
da obra de evangelização, para a qual haviam sido 
encarregados pela Igreja de Antioquia, especialmente, 
por terem um entendimento diverso quanto à 
21 
participação de João Marcos em seus empreendimentos 
missionários. 
Nenhum pastor será bem-sucedido em seu ministério, 
se não tiver o apoio da Igreja, e especialmente dos seus 
auxiliares diretos. 
Quando Neemias fez uma exposição quanto ao modo 
como a boa mão do Senhor fora com ele, 
particularmente quanto à comissão que havia recebido 
do rei persa, os judeus se dispuseram a cooperar com ele 
na obra que deveria ser realizada (v. 17,18). 
Mas quando Sambalate, Tobias e Gesem o souberam, 
começaram a zombar deles e a desprezá-los infamando-
lhes e acusando-lhes de estarem se rebelando contra o 
rei persa. 
Não é de se admirar que o diabo sempre use o 
argumento de insurreição contra a autoridade 
constituída, quando Deus levanta alguém para fazer a 
Sua vontade. 
A mesma autoridade que os verdadeiros rebeldes 
costumam transgredir, especialmente a relativa à da 
própria Palavra de Deus, que eles não amam e 
obedecem, é a que eles costumam invocar para 
tentarem desencorajar os servos fiéis de Deus a 
prosseguirem adiante na defesa da verdade (v. 20). 
Satanás sempre projeta manter os cristãos e a Igreja em 
estado de miséria espiritual, e tudo faz para tentar 
impedir o avanço de uma verdadeira espiritualidade, 
que seja baseada no amor e na prática da verdade. 
Ele tudo apoiará e não perturbará os cristãos, desde que 
se mantenham na sua carnalidade, e não busquem 
santificar suas vidas na verdade da Palavra de Deus. 
Se os cristãos deixarem os muros de suas vidas caídos, 
em total ruína, Satanás não se levantará contra eles, 
mas ao menor movimento para tentarem reconstruí-los, 
22 
ele logo se manifestará apresentando todo tipo de 
oposição a eles. 
Mas, em vez de deixarmos que ele nos intimide, 
devemos fazer como fizera Neemias, que respondeu o 
seguinte aos seus inimigos, em face das suas acusações: 
“O Deus do céu é que nos fará prosperar; e nós, seus 
servos, nos levantaremos e edificaremos: mas vós não 
tendes parte, nem direito, nem memorial em 
Jerusalém.” (v. 20). 
Isto é o que deve estar sempre bem definido e fixado 
diante de nós: não podemos permitir que nossos 
opositores, que são inimigos de Deus, se coloquem ao 
nosso lado na realização da obra que Ele nos encarregou 
para fazer. 
Devemos ter uma firme confiança, somente nEle, que 
assim como Ele nos chamou, também é poderoso para 
nos fazer prosperar no que nos tem ordenado. 
Mas em vez de ficarmos esperando com os braços 
cruzados, devemos nos levantar e edificar as pedras 
vivas do edifício espiritual que fomos chamados a 
construir como seus cooperadores. 
“Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois 
lavoura de Deus e edifício de Deus.” (I Cor 3.9). 
É preciso ter muita prudência e inteligência espiritual, 
quando estamos encarregados por Deus para uma obra 
específica, como teve Neemias, para não darmos 
munição ao Inimigo, de modo que não leve vantagem 
sobre nós. 
O diabo acompanha nossos passos e levanta seus 
instrumentos para espreitar a liberdade que temos em 
Cristo, de maneira a barrar o nosso progresso com 
infâmias, perseguições e acusações mentirosas. 
Se ele não conseguir nos deter de um modo, tentará 
outros meios para alcançar os seus objetivos, que não 
23 
são dirigidos propriamente contra as nossas pessoas, 
mas contra a obra que Deus designou fazer através de 
nós. 
Daí se recomendar aos cristãos, e especialmente 
àqueles que estão à frente de algum trabalho do Senhor, 
que vigiem e orem em todo o tempo, e que sejam 
perseverantes, a par de todas as perseguições que 
possam vir a sofrer. 
Mas alguém dirá: “E se a perseguição vier exatamente 
da parte daqueles que foram levantados para liderarem 
a obra de Deus?”. “O que devem fazer os cristãos que se 
encontram debaixo da liderança deles?”. 
Primeiro, devem orar e jejuar para que saiam do laço do 
Inimigo, com o qual foram encantados e amarrados. 
Se as coisas persistirem por longo tempo e se agravarem 
a ponto de a Igreja se desviar totalmente dos objetivos 
de Deus traçados para ela, notadamente o que se refere 
a andar na prática da verdade, então é hora de começar 
a orar para receber direção do Senhor, para congregar 
numa Igreja que não tenha apostatado da verdade. 
D. M. Lloyd Jones, já em 1963 nos alertava sobre o que 
ocorreria se o movimento ecumênico chegasse a 
desenvolver “a grande Igreja mundial”, porque a palavra 
“cisma” seria usada contra todo aquele que se recusar a 
ser parte integrante desta organização gigantesca, que 
começava a ser costurada em seus dias, e que tem 
tomado uma maior dimensão em nossos dias. 
Ele afirmava que devíamos ter clara percepçãoquanto a 
isso, e que deveríamos instruir o povo a que servimos 
sobre esta importantíssima questão, porque cisma é um 
grande pecado, uma coisa muito grave, da qual ninguém 
deveria fazer-se culpado, e por isso devemos 
compreender com clareza o que é exatamente cisma. 
24 
Muitos cristãos que se encontram exilados em suas 
próprias Igrejas, seriam muito auxiliados se lessem o 
tratado que John Owen escreveu sobre cisma. 
Nós deixamos Neemias no capítulo anterior chorando e 
orando diante de Deus por causa da miséria em que se 
encontrava o povo de Deus na Palestina. Mas ele não 
parou nisso, de modo que nós o encontramos neste 
capítulo e nos demais, tomando medidas práticas para 
reparar as coisas que necessitavam ser consertadas e 
edificadas. 
Assim deve ser a vida do cristão. Ele não deve 
simplesmente interceder em favor de todas as pessoas, 
e chorar pela miséria em que se encontra o mundo de 
trevas, mas deve se esforçar de modo prático para ser 
um agente nas mãos de Deus, para a transformação 
daqueles que têm sido chamados por Ele, do mundo 
para a salvação em Cristo Jesus, bem como para serem 
sal e luz num mundo que tende à putrefação e às trevas 
totais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
3 - A Nobreza do Serviço Humilde 
 (Neemias 3) 
 
Nós deveríamos refletir sobre o motivo de Deus, em 
Sua sabedoria, de nos ter dado como revelação da Sua 
vontade, conforme registrada na Bíblia, no livro de 
Neemias, o fato e as circunstâncias que envolveram a 
reconstrução dos muros e das portas da cidade de 
Jerusalém. 
A revelação poderia ter passado por alto o registro 
destas coisas, mas se não o fez, é porque Deus teve 
propósitos objetivos para a instrução do Seu povo, e 
especialmente da Igreja, com as lições que podemos e 
devemos retirar de tudo isto. 
Nós sabemos que os muros de Jerusalém tinham por 
função principal defender o povo, o templo e tudo o que 
havia de precioso das portas para dentro daquela 
cidade. 
Deus é quem nos defende dos ataques dos nossos 
inimigos, principalmente espirituais, mas compete a nós 
construir, edificar os meios de defesa necessários, para 
a nossa proteção. 
Por exemplo, sem oração e meditação diária da Palavra 
como poderemos ter uma barreira ao redor de nós que 
impeça sermos atingidos pelos ataques do Inimigo? 
Como guardaremos o nosso coração incontaminado 
pelo mal, se não nos exercitarmos em santificação? 
Do exemplo que temos na história dos 
empreendimentos de Neemias e do povo de Judá 
juntamente com ele, nós podemos aprender também 
que mesmo durante a construção destas barreiras, que 
visam impedir a destruição de nossas graças, pelos 
nossos muitos inimigos espirituais, que nós seremos 
26 
atacados até mesmo no ato da construção propriamente 
dita, isto é, nós não poderemos orar, meditar na Palavra 
e fazer tudo o mais que nos é ordenado por Deus, sem 
que experimentemos alguma resistência destes três 
inimigos, a saber, a carne, o diabo e o mundo. 
Mas todos aqueles que se empenharem em edificarem 
suas vidas com estas barreiras protetoras das graças de 
Deus, de modo que não sejam furtadas ou destruídas, 
pelos muitos inimigos que dão contra elas, serão 
honrados por Deus, pelo seu empenho em diligência, tal 
como foram honrados aqueles que se levantaram para 
construírem debaixo da direção de Neemias, por terem 
tido os seus nomes registrados na Palavra de Deus, para 
memória e honra eternas, conforme vemos no 3º 
capítulo de Neemias, que estamos comentando. 
Nossas boas obras estão sendo registradas pelo Senhor 
para a nossa honra, em livros que serão abertos quando 
estas obras forem julgadas. 
Por isso, somos exortados a remir o tempo e a nos 
empenharmos o mais possível abundando em boas 
obras, no período de nossa breve jornada terrena, 
porque há uma grande recompensa prometida por 
Deus. 
“9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu 
tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. 
10 Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem 
a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.” (Gál 
6.9,10). 
Dizer e fazer são coisas completamente diferentes. 
Muitos dizem que estão prontos para se levantarem e 
fazerem a obra de Deus, mas se sentam e nada fazem, 
tal como o jovem da parábola, que disse a seu pai que 
iria trabalhar no campo, e no entanto, não foi. 
27 
Este 3º capítulo de Neemias não fala de promessas que 
foram feitas por todos estes que têm seus nomes aqui 
relacionados, mas se diz simplesmente que eles se 
levantaram, edificaram e repararam. 
Há muitas coisas para serem feitas na obra de Deus. Para 
serem feitas e não simplesmente comentadas. 
Isto exige que nos levantemos, edifiquemos e 
reparemos o que precisa ser edificado e reparado. 
Não se fala de nenhum desacordo entre os que 
edificaram e repararam nos dias de Neemias. 
Deus era com eles, mas não se permitiram serem 
divididos por ciúmes, disputas, discórdias e coisas 
semelhantes a estas, que acabam por impedir que a 
obra do Senhor seja feita. 
Esta obra é muito grande e exige que cada um faça 
fielmente a sua parte, porque tal como aquele muro, a 
obra é uma só, e o trabalho de uma pessoa está 
interligado ao de outra. 
O trabalho é realizado por indivíduos, mas não para um 
fim individual, porque é trabalho para Deus, e não para 
uma pessoa ou grupo de pessoas em particular. 
Até o próprio sumo sacerdote, como se vê no primeiro 
verso deste capitulo, participou do trabalho comum de 
reedificação do muro. 
O risco que os demais trabalhadores correram ele 
também correu. 
O elevado ofício de que estava encarregado não 
configurava um privilégio para não participar de tarefas 
consideradas comuns e menores. 
Deste modo, os ministros do evangelho devem dar o 
exemplo de também fazerem aquelas tarefas que 
exigem de outros. 
28 
Este exemplo faltou nos tecoítas (v. 5), cujos nobres não 
se envolveram no serviço do Senhor, de reconstrução do 
muro. 
Isto ficou registrado para desonra deles, porque de 
ninguém mais se diz o que foi dito destes nobres de 
Tecoa, que acabaram com isto provando que não eram 
de fato pessoas nobres, porque é impossível que alguém 
o seja negando-se a se humilhar para que a vontade de 
Deus seja feita. 
Temos um maior exemplo de nobreza do que o que nos 
deu o próprio Jesus, ao ter se esvaziado da glória 
celestial que tinha junto ao Pai, para poder consumar a 
obra que realizou em nosso favor? 
Ele não realizou seu ministério num castelo, mas junto 
ao povo, fazendo o bem a todos. 
Não deveríamos nos dispor, pelo exemplo que Ele nos 
deixou, a arregaçar as nossas mangas e nos lançarmos 
efetivamente de coração e alma no propósito de nos 
gastar por amor ao Senhor e ao nosso próximo? 
Neste trabalho para Deus, não conta qual seja a nossa 
posição social, porque trabalharam na reedificação do 
muro com Neemias, comerciantes, ourives, sacerdotes, 
governantes e até mesmo perfumistas (v. 7,8,32). 
Em Sua Providência, o Senhor poderia ter planejado a 
construção conjunta de algo diferente de um muro, mas 
a simplicidade da tarefa fala bem alto da natureza do 
serviço que prestamos para Cristo, que é de grande 
simplicidade em sua natureza, tal como o muro que 
Neemias e os judeus reconstruíram. 
Não afirmamos com isto necessária e propriamente que 
o trabalho de um ministro do evangelho é o trabalho de 
um pedreiro, mas é seguramente um trabalho de 
edificação de almas, e exige muito empenho e diligência 
em sua realização. 
29 
Até mesmo mulheres se alinharam com os construtores 
nos dias de Neemias, conforme se vê no verso 12. 
Paulo cita o nome de duas mulheres (Evódia e Síntique), 
que trabalharam juntamente com ele no evangelho em 
Filipos (Fp 4.3), e várias mulheres fizeram e têm feito 
história na seara do Senhor. 
Alguns judeus edificaram o muro defronte de suas casas 
(v. 10, 23, 28, 29), e isto pode ter sido devido à 
impossibilidade de se afastarem de seus afazeres, e nem 
por isso deixaram de se empenhar nos interesses de 
Deus e do Seu povo. 
A obra do evangelho é primeiro para Deus,mas é 
também uma obra pública, isto é, para o bem do povo 
do Senhor. 
Os que trabalham não trabalham, portanto, para si 
mesmos ou para seus interesses particulares, mas para 
o bem de outros, porque é nisto que consiste a obra de 
Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
4 - Vigilância e Oração 
 (Neemias 4) 
 
A atitude de Sambalate, conforme se vê nos versos 1 
e 2, deste quarto capítulo de Neemais, que estaremos 
comentando, é bem representativa de todos aqueles 
que odeiam a Reforma, isto é, a restauração do povo de 
Deus, segundo a verdade revelada em Sua Palavra. 
Não importa de onde isto venha, se de dentro ou de fora 
da Igreja, se de cristãos ou de ímpios, se de autoridades 
seculares ou até mesmo de ministros do evangelho 
infiéis, o grande fato é que Satanás sempre achará seus 
instrumentos para se opor ao fortalecimento dos filhos 
de Deus. 
Israel era a nação eleita na antiga dispensação, e foi 
levantada para ser luz no mundo, e por isso Satanás tudo 
faria para manter aquela lâmpada apagada. 
Porventura, deixaria de fazer o mesmo em relação à 
Igreja que é a luz do mundo? 
Ele não fará tudo o que estiver ao seu alcance para pelo 
menos tornar esta luz opaca e obscura, de maneira que 
mantendo os membros de cada Igreja debaixo de trevas 
espirituais, não apenas entristecerá o Espírito Santo, 
como retardará a conversão de muitos, ou então 
manterá os que se converterem, em fraqueza e ruína 
espiritual, pelo desconhecimento da verdade que 
liberta? 
Vejam as palavras que Sambalate proferiu, e reflita se 
não são mais do que simplesmente palavras da carne e 
sangue, senão de principados e potestades: 
“e falou na presença de seus irmãos e do exército de 
Samaria, dizendo: Que fazem estes fracos judeus? 
Fortificar-se-ão? Oferecerão sacrifícios? Acabarão a 
31 
obra num só dia? Vivificarão dos montões de pó as 
pedras que foram queimadas?” (v.2). 
E de igual teor, ainda que breves, mas não menos 
contundentes, foram as palavras proferidas por Tobias, 
o amonita, contra os judeus: 
“Ainda que edifiquem, vindo uma raposa derrubará o 
seu muro de pedra.”. 
Certamente, é este o pensamento que Satanás alimenta 
continuamente contra os cristãos, a saber, que ainda 
que consigam edificar suas vidas na verdade, ele agirá 
como uma astuta raposa para derrubar este muro 
espiritual que lograram edificar. 
Satanás pouco se importa com o fato de o cristianismo 
se espalhar pelo mundo, desde que seja uma forma 
caricata da verdade que há em Cristo, em razão da falta 
de santidade na vida daqueles que alegam serem 
cristãos. 
Daí decorre a ordenança bíblica de vigilância e oração 
contínuas, porque não temos que lutar contra carne e 
sangue, senão contra os principados e potestades 
espirituais da maldade. E isto deve ser feito, conforme 
se vê em Efésios 6, estando revestidos em todo o tempo, 
com toda a armadura de Deus. 
Não há nada que dê mais prazer ao diabo do que desviar 
aqueles que Jesus comprou com Seu sangue, para que 
fossem livres, serem desviados da verdade, porque sem 
conhecerem a verdade em espírito, não podem 
desfrutar desta liberdade, que foi conquistada por tão 
alto preço. 
É possível que alguns dentre os judeus tenham 
considerado Neemias um homem duro, inflexível, sem 
afeto natural por eles, porque estava exigindo deles que 
se expusessem ao ataque de seus inimigos e a terem que 
se empenhar em tão exaustiva tarefa. 
32 
Mas não é este o mesmo ataque que fazem os inimigos 
da Reforma e do evangelho aos pastores fiéis ao seu 
ofício? 
Eles julgam ser falta de amor e de apreço o esforço de 
seus ministros em exigirem que vivam em santidade de 
vida. 
Mas isto é falta de amor? 
Antes não é a confirmação de um verdadeiro amor? 
O fato de se esforçarem por ensinarem a sã doutrina ao 
seu povo é motivo para serem julgados como seus 
inimigos? 
Não é porventura isto o que o Deus de amor tem 
ordenado a eles? 
Seria possível viver no amor de Deus sem a sã doutrina? 
E como amaremos com o amor de Deus se não 
conhecemos os Seus mandamentos? 
Jesus definiu o amor como obediência aos Seus 
mandamentos. 
Não é portanto, justificável, o ataque que muitos fazem 
em nossos dias aos ministros fiéis, que são apegados à 
doutrina, e que a expõem fielmente ao seu povo. 
Não admira que para a ordenação de presbíteros, Paulo 
tenha determinado dentre muitos critérios os que 
vemos em Tito 1.9: 
“retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, 
para que seja poderoso, tanto para exortar na sã 
doutrina como para convencer os contradizentes.”. 
São muitos os que se opõem a uma verdadeira obra de 
Deus, e por isso se exige tais qualificações dos Seus 
ministros. 
E Neemias reunia estas qualidades porque era um 
homem de grande sabedoria, coragem e devoção. 
33 
Nós podemos ver neste capítulo o quanto ele estava 
dotado do preparo e discernimento espiritual para a 
obra que realizou. 
De igual modo, nenhum ministro do evangelho será 
efetivo no trabalho que intentar realizar para Deus, se 
não estiver devidamente preparado. 
Este é o segredo dos puritanos nos trezentos anos que 
influenciaram não somente a Inglaterra, como muitas 
nações da terra, até os dias de hoje, e convém lembrar 
que toda a grandeza dos EUA foi construída debaixo 
desta influência, mas não nos referimos à grandeza 
material e financeira, que acabou por desviá-los da 
verdadeira grandeza, que eles viveram em seus dias 
áureos, sendo o celeiro da verdade e de missionários 
para todas as partes do mundo, com a ministração do 
verdadeiro evangelho, em quase todas as nações. 
A quase totalidade destes empreendimentos foi devida 
à rede preparada de pastores fiéis a Deus e à Sua 
Palavra, que o próprio Deus preparou através do 
espírito puritano, que consiste neste amor à Palavra de 
Deus, muito maior do que o amor à própria vida e 
conforto. 
Este preparo a que nos referimos não é o preparo de 
homens por meros homens, mas um preparo que 
provém da parte de Deus, impulsionado, direcionado e 
construído pelo próprio Espírito Santo, tal como se deu 
com os puritanos em seus dias. 
Eles não eram meros expositores frios da Palavra, mas 
homens que andavam com Deus, tal como Enoque, Noé, 
Daniel, Jó, Neemias, e tantos outros fizeram em seus 
dias. 
Obviamente, Deus levanta instrumentos e agentes de 
grande influência neste preparo, mas até mesmo estes 
instrumentos influenciadores estão debaixo do governo 
34 
soberano do Senhor, do qual dependem para a 
realização do ministério de preparar outros, tal como 
fizeram Paulo e Timóteo na Igreja Primitiva: 
“e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, 
transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para 
também ensinarem os outros.” (II Tim 2.2). 
O que Paulo disse a Timóteo neste texto refere-se muito 
mais do que ao ensino de meras palavras, senão ao 
preparo de pessoas idôneas para pregarem a verdade do 
evangelho. 
Este preparo será sempre necessário, porque, como 
vimos antes, são muitos os inimigos que se levantam 
contra a pregação e o ensino da Palavra, quer dentro ou 
fora da Igreja, porque Satanás não está preso ou 
impedido de agir quer dentro ou fora dos limites da 
Igreja. 
Atos 20.27-31; I Pe 5.2-9 e Ef 6.11, entre outros textos 
bíblicos, demonstram a necessidade tanto de os 
pastores estarem preparados, quanto de vigiarem 
contra as astutas ciladas do diabo, que investirá sempre 
com grande fúria, não propriamente contra pessoas, 
mas contra a verdade do evangelho, de forma a anular 
o testemunho da Igreja na terra. 
Por isso, é necessário construir uma defesa qual grande 
e intransponível muro que nos proteja de sermos 
privados da pregação e ensino da verdade bíblica, por 
causa destas astutas investidas do Inimigo. 
Devemos estar conscientes que não é principalmente 
contra nós que ele está continuamente se opondo, mas 
ao próprio Filho de Deus, para que o Seu nome não seja 
glorificado na terra. 
A Igreja Primitiva demonstrou que estava devidamente 
esclarecida quanto a esta verdade, e isto nós podemos 
35 
inferir daoração que fizeram quando Satanás estava 
conduzindo às prisões e matando a muitos deles: 
“Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades 
ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu 
Ungido.” (At 4.26). 
Satanás usa governos, nações inteiras, para tentar 
impedir o avanço do evangelho. 
Neemias não sofreu apenas a oposição de pessoas 
isoladas, mas daqueles que exerciam governo entre os 
samaritanos. 
Isto ilustra a natureza do ataque que sofremos neste 
mundo: não é propriamente contra nós, mas contra a 
causa de Jesus Cristo, que fomos chamados a proclamar 
e defender. 
Para minar a nossa força, Satanás nos acusa com 
mentiras, tentando nos convencer que somos um povo 
desprezível e fraco. 
Pessoas que estão fora do seu juízo e se dedicando a um 
sonho impossível. 
Ele sopra a dúvida quanto ao caráter da missão de 
pregar o evangelho em todo o mundo. 
Manda cruzarmos os braços porque ou isto já foi feito 
ou outros estão fazendo melhor do que nós. 
Diz que estamos cometendo grande pecado, porque 
estamos dividindo a Igreja com o nosso zelo e 
radicalismo. 
Que estamos perdendo a nossa vida, que estamos 
deixando de desfrutar o que há de melhor nela, por 
causa de nossa atitude deliberada de viver para Deus, 
pregando e ensinando a Sua Palavra. 
Ele tentará nos convencer a todo custo que há muitas 
verdades. 
Que há muitas doutrinas. 
36 
E que cada um tem o direito de escolher a que melhor 
lhe convenha. 
E ainda que o testemunho das Escrituras seja contrário 
a esta mentira diabólica, não é incomum que muitos 
fiquem paralisados em seus esforços, por se deixarem 
persuadir por estes argumentos do inferno. 
Os que promovem divisões no corpo de Cristo não são 
os que se desviam dos que promovem dissensões e 
escândalos contra a doutrina, mas exatamente estes 
que criam dissensões e escândalos contra a doutrina dos 
apóstolos. 
A unidade que se viu no povo de Judá nos dias de 
Neemias foi devida exatamente pelo firme 
convencimento deles de que a causa do cativeiro de seus 
pais e deles em Babilônia, havia sido o fato de se 
desviarem da Palavra de Deus, e agora eles estavam 
desejosos de reconstruírem a sua vida religiosa, e 
sabiam que isto não poderia ser feito senão por uma 
obediência de todos à Palavra do Senhor. 
Como poderá a Igreja ter unidade espiritual se lhe faltar 
esta unidade de fé, que é fé na Palavra de Deus? 
Fé, não em qualquer palavra proferida pelos pastores 
em suas Igrejas, não a palavra de homens, não as 
doutrinas de demônios, mas aquela mesma boa e antiga 
verdade que havia sido pregada pelos apóstolos do 
Senhor. 
Sem a firme convicção de que esta Palavra é 
inteiramente fiel e digna de ser defendida, jamais 
perseveraremos na sua proclamação, porque são muitos 
os inimigos que se opõem a isto. 
Devemos estar convictos que a força e a segurança da 
Igreja serão a aflição e a vergonha dos seus inimigos. 
Em vez de nos abatermos com os ataques dos nossos 
inimigos podemos usar isto, com o auxílio da graça do 
37 
Senhor, para lutarmos ainda mais bravamente pela 
causa do evangelho, sabendo que nossa missão não é 
apenas a de salvar almas do inferno, mas de edificá-las 
na verdade, de modo que Deus possa ser glorificado, 
conforme é da Sua vontade. 
Quando nossos inimigos nos atacarem e zombarem de 
nós, quanto à obra que estamos fazendo para o Senhor, 
devemos fazer tal como Neemias, que orou ao Senhor 
com estas palavras de guerra, tal como haviam feito os 
cristãos nos dias apostólicos, debaixo da perseguição 
das autoridades de Israel, pois clamaram ao Senhor para 
que vindicasse a Sua santidade e poder e subjugasse a 
todos aqueles que estavam se opondo ao Seu Ungido. 
O evangelho é aroma de vida para vida nos que se 
salvam (por lhe darem boa acolhida), mas é também 
cheiro de morte para morte nos que se perdem (por lhe 
resistirem e recusarem). 
Não podemos esquecer disto enquanto estamos 
empenhados na sua proclamação. 
A obra de Deus tem duas faces, a saber, salvação e juízo. 
Não se pode esconder que aqueles que não creem no 
Filho de Deus já estão condenados, tal qual o próprio 
Jesus pregou em Seu ministério terreno. 
É com firmeza e determinação que devem ser 
confrontados os Barjesus, Himeneus, Alexandres e 
todos os que se levantam contra o conhecimento da 
verdade e do Filho de Deus, estando nós, contudo, com 
paz, mansidão, longanimidade e bondade em nossos 
corações. 
E ainda que não oremos propriamente com as mesmas 
palavras de Neemias, que são inteiramente justificadas 
na Antiga Dispensação do olho por olho, dente por 
dente, nós temos muito que aprender do vigor e firmeza 
com que devemos resistir ao diabo e a todos os 
38 
instrumentos que ele usa para tentar impedir o avanço 
do evangelho. 
Não amaldiçoaremos os que nos amaldiçoam, não 
deixaremos de orar pelos nossos perseguidores, não 
deixaremos de amar os nossos inimigos, mas não 
permitiremos que eles nos façam decair da nossa 
firmeza em Cristo. 
Não deixaremos de lutar com as armas espirituais da 
verdade contra tudo o que se levanta contra o 
conhecimento de Deus. 
Não podemos confundir a longanimidade que nos é 
ordenada para com todos (I Tes 5.14), com falta de 
convicção, e tibieza de vontade. 
Nós devemos ser firmes na defesa da verdade tal como 
o próprio Deus nos ordena: 
“Desde os dias de João Batista até agora, se faz violência 
ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Mt 
11.12). 
Como disse Thomas Watson: “A terra será herdada 
pelos mansos (Mt 5.5); mas o céu, pelos que batalham. 
A vida cristã é semelhante à vida militar. Cristo é nosso 
Capitão; o evangelho, nossa bandeira; as graças do 
Espírito, nossa artilharia espiritual. E o céu somente 
pode ser conquistado por meio da força. Ninguém vai ao 
céu, exceto os que batalham por ele.”. 
Deste modo, quando debaixo de grandes oposições e 
perseguições, por causa da verdade que defendemos, 
devemos nos guardar da tentação de entrar em debates 
e controvérsias inúteis, e muito mais de abrigarmos ira, 
rancor ou qualquer outro sentimento negativo em 
nossos corações, contra aqueles que nos perseguem, 
porque nos é ordenado orar por eles, e vencermos o mal 
com o bem. 
39 
Estas cruzes nos estão impostas e devemos carregá-las 
com paciência e gratidão a Deus em nossos corações, 
por permitir que soframos por amor a Ele, de modo que 
através destas aflições, nos ensine em que consiste a 
perseverança cristã e o amor perdoador que está no Seu 
próprio coração, e que nos foi revelado em Cristo. 
Nossos inimigos nos atacam por todos os lados, e por 
isso devemos também montar guardar contra eles em 
todos os lados; mas lembremos que Neemias orou 
primeiro a Deus, antes de tomar qualquer providência. 
Esta é a ordem correta. Não devemos agir e depois orar 
pedindo que Deus abençoe as nossas ações e os nossos 
projetos. 
Oração e vigilância devem sempre caminhar juntos. 
Se nós orarmos sem vigilância nos tornamos indolentes 
e tentamos a Deus; e se vigiamos sem orar, ficamos 
orgulhosos e fracos, e de alguma maneira viremos a 
perder a proteção de Deus. 
Sabendo que o Inimigo anda em derredor, buscando a 
quem possa tragar, isto é, que estiver com suas defesas 
vulneráveis, pela falta de vigilância, o melhor antídoto 
contra os Seus ataques é permanecermos firmes em 
nossas posições, de forma que não encontre brechas 
para nos atacar, por observar o quanto estamos ligados 
ao Senhor, de modo que todo ataque que desferir contra 
nós, será para o próprio dano e prejuízo dele, e não 
propriamente nosso. 
Por isso, Neemias dispôs o povo armado de espadas, 
arcos e lanças em posições estratégicas do muro, e 
especialmente naquelas em que o muro ainda se 
encontrava aberto (v. 13). 
E uma vez tendo feito isto, não convocou o povo a 
confiar na própria força deles ou na sua sábia direção, 
40 
senão totalmente no Senhor, grande e terrível, 
enquanto pelejassem contra os seus inimigos (v.14). 
Os inimigos de Neemias, quando viram que o conselho 
deles havia sido dissipado, porque os judeus foram 
avisadospela providência de Deus, com a devida 
antecedência, desistiram de atacá-los, e assim a obra de 
reconstrução pôde ter prosseguimento (v. 15). 
Neemias fez bem em lembrar aos judeus que não 
deviam temer os seus inimigos mas ao Deus grande e 
terrível, porque aqueles que temem a Deus, não temem 
o que lhes possa fazer o homem. 
É importante também aprendermos do exemplo 
deixado por Neemias, que não é pelo fato de não 
estarmos sendo atacados por nossos inimigos 
espirituais, que vamos relaxar na nossa vigilância, 
prudência e defesa. 
Ele não permitiu que a vigilância cessasse até que a obra 
fosse completada, e certamente esta prosseguiu, 
mesmo depois da reconstrução do muro ter sido 
concluída. 
Nunca devemos deixar de vigiar por um só instante, 
porque o Inimigo tomará vantagem sobre nós, se o 
fizermos. 
Não devemos jamais deixar de estarmos revestidos com 
toda a armadura de Deus, de todas as armas espirituais, 
quer de ataque, quer de defesa. 
O combate da fé em que estamos envolvidos é 
permanente, e demanda tal cuidado da nossa parte. 
Relaxar na defesa implicará em ser enfraquecido na fé. 
Enquanto realizamos as nossas tarefas de paz, seja 
estudando, trabalhando, ou o que for, lembremos 
sempre que estamos em estado permanente de guerra 
contra as forças espirituais da maldade, de modo que ao 
41 
lado da ferramenta que edifica, esteja a espada do 
Espírito e o escudo da fé. 
Neemias teve também o cuidado de manter ao seu lado 
um trompetista, de forma a convocar o povo para onde 
fosse necessário, para que se juntando como um só 
homem, pudessem fazer face a possíveis ataques de 
seus inimigos, uma vez que estavam bem distanciados 
uns dos outros, no trabalho que faziam no extenso muro 
que circundava a cidade de Jerusalém. 
Neemias supervisionava a obra com intensa vigilância, 
de forma a garantir não apenas a sua defesa, como 
também o seu prosseguimento, e de igual modo devem 
fazer todos os que estão encarregados de pastorear o 
rebanho do Senhor. 
Eles devem ser diligentes em garantir que tudo seja feito 
na Igreja, conforme nos tem sido ordenado por Deus. 
Nunca devemos negociar a verdade pela falsa unidade e 
falsa paz. Afinal qual é a comunhão que pode existir 
entre luz e trevas? Entre o a verdade e a falsidade? 
Como podemos dar a destra de companhia àqueles que 
negam a verdade? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
5 - Bons Líderes Têm o Temor de Deus 
 (Neemias 5) 
 
No décimo quinto versículo deste 5º capítulo de 
Neemias, este apresenta um contraste entre ele e os 
governantes, que haviam governado os judeus antes 
dele. 
Tudo o que nós vemos de práticas injustas neste capitulo 
foi decorrente principalmente do mau governo daqueles 
homens infiéis. 
Um mau líder poderá levar todo um povo a se perder. 
A estes maus líderes bem se aplica a condenação do 
apóstolo Tiago que lemos em Tg 2.1-9. 
Tal como Davi, que havia governado no temor de Deus 
(II Sm 23.3), Neemias declarou o motivo porque não 
havia governado como os demais governantes, que 
haviam procedido injustamente antes dele, no verso 15 
deste capítulo: 
“Porém eu assim não fiz, por causa do temor de Deus.” 
(v. 15). 
Veja que é o mesmo motivo que havia sido declarado 
anteriormente por Davi. 
Então o que podemos concluir disso quanto a um 
governo justo da parte dos pastores sobre suas 
respectivas Igrejas? 
Que eles devem ter o verdadeiro temor de Deus para 
que possam presidir com justiça. 
 Quando qualquer pastor ou líder perde este temor, o 
que se pode esperar então deles? 
A resposta não é mais do que óbvia, por melhores que 
sejam as suas intenções? 
43 
Afinal, não é com boas intenções que se vence as obras 
da carne, mas por um verdadeiro andar no Espírito, 
mediante o temor devido ao Senhor. 
Quando colocamos Deus diante dos nossos 
pensamentos, dos nossos olhos, dos nossos 
julgamentos, então nós pesamos as nossas decisões e 
palavras. 
Todavia, quando isto falta podemos agir por impulsos 
carnais, movidos por orgulho, cobiça, inveja, ciúme ou 
qualquer outra obra da carne. 
Se deixarmos de andar humildemente com o Senhor, 
como poderemos ser achados agindo como um Moisés, 
um Noé, um Daniel, um Paulo, um Pedro, e outros 
líderes, que agiram segundo o coração de Deus? 
 É digno de nota, neste capitulo de Neemias, que Deus 
trouxe um juízo de carência sobre a terra de Judá, que 
em vez de produzir arrependimento no povo, e 
principalmente, nos magistrados de Israel, quanto aos 
seus pecados, ensejou a exploração dos pobres pelos 
abastados, cujas terras tomaram para si, e de quem 
fizeram também escravos e a quem emprestaram 
dinheiro a juros, contrariando a proibição da Lei de 
Moisés relativa a tais práticas. 
A Lei permitia a venda de propriedades (Lev. 25. 14-16), 
mas essa venda não podia ser permanente (v. 10, 13). 
No entanto, os ricos tinham transgredido a Lei, porque 
tinham o dever de socorrer a seus irmãos mais pobres 
em tempos de dificuldades econômicas, mas não de 
oprimi-los (v. 14, 17). 
Neemias, seus parentes próximos e seus seguidores 
tinham ajudado aos pobres até onde tinham podido (Ne 
5.10, 15). Mas os ricos tinham enriquecido ainda mais às 
expensas de seus compatriotas. 
44 
Deus havia trazido os judeus do cativeiro em Babilônia 
para que fossem agora escravizados pelos seus próprios 
compatriotas, sendo trazidos novamente debaixo de 
escravidão? (Gál 5.1; I Cor 7.23). 
E o que fez Neemias? 
Ficou somente orando? 
Fez vistas grossas para o problema esperando que eles 
se resolvessem entre si? 
Não. Ele exigiu restituição e eliminação da prática da 
exploração sob a ameaça de pena de ser despojado de 
sua casa e de seus bens, todo aquele que se recusasse a 
se submeter à ordem que havia sido dada, em comum 
acordo com os sacerdotes e o povo (v. 12,13). 
Assim, as consequências danosas trazidas pela escassez 
de recursos, cooperou para o arrependimento do 
pecado e o retorno à prática da justiça em Judá, porque 
havia um governante temente a Deus sobre eles, na 
pessoa de Neemias. 
Mas quanto aos maus governantes, deve ser dito que 
nada expõe mais a religião ao escárnio dos seus inimigos 
do que o mundanismo e o endurecimento de coração 
dos seus líderes. 
O mau exemplo dos líderes faz com que muitos 
descaiam de sua firmeza na fé, nem tanto pelo mau 
exemplo que conseguem observar neles, mas por não 
serem suas vidas e prática exemplares para o rebanho, 
de modo que possam aprender a maneira pela qual 
convém andar na casa de Deus. 
Nos versos 14 a 19 Neemias fala da sua generosidade 
para com o povo nos 12 anos do seu governo. Ele 
destaca que não cobrou impostos para a sua provisão e 
dos que governavam com ele. 
Como ele possuía o temor de Deus, por isso não oprimiu 
o povo, e não lhes fez qualquer coisa cruel ou injusta. E 
45 
não fizera isto para receber o louvor ou a aprovação dos 
homens, mas por dever de consciência, por causa do 
temor do Senhor. 
 Ele havia se compadecido no exílio da assolação e 
aflição dos judeus na sua própria terra, e não seria agora 
como governador que deixaria de estar compadecido 
deles. 
Ele era sensível o suficiente para perceber o grande 
sofrimento do povo e não ousaria aumentar o fardo 
deles. Ao contrário, tudo faria para minorar a sua ruína. 
Neemias não procurou a recompensa dos homens, 
senão somente do Senhor, e isto ele expressou na curta 
oração que fez no verso 19: “Lembra-te de mim para 
meu bem, ó meu Deus, e de tudo quanto tenho feito em 
prol deste povo.”. 
Ele não se dirigiu deste modo a Deus em oração porque 
pensasse ter qualquer merecimento diante de Deus, 
como se o Senhor tivesse uma dívida para com ele, mas 
para mostrar que não estava buscando qualquer 
recompensa dos homens pela sua generosidade, ou para 
recompor o que ele havia gasto para honrá-lo, porque 
considerava o favor de Deus a maior e melhor 
recompensa que poderia ter. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
6 - Traições na Própria Casa 
 (Neemias 6) 
 
Os governantes que estiveram em Judá, antes de 
Neemias, nos quase sessentaanos depois de Zorobabel, 
nada haviam feito para tirar o povo de Deus do estado 
de assolação e aflição em que se encontrava. 
Quando Deus dispôs o coração de Neemias para fazer o 
que nenhum deles havia feito, como é comum ocorrer 
toda vez que alguém é levantado por Ele para o bem do 
Seu povo, Satanás também se levanta imediatamente, e 
move todos os instrumentos que estiver ao seu alcance 
para se lhe opor. 
O diabo estava usando a estratégia de tentar intimidar 
Neemias, sob a falsa acusação de que queria constituir 
rei a si mesmo, para rebelar-se contra a Pérsia, 
conforme vemos neste 6º capítulo de Neemias, que 
estaremos comentando. 
Ele fez isto com Neemias, através dos governadores 
Sambalate, Tobias e Gesem (v. 1), quando souberam que 
Neemias já havia reconstruído o muro. 
A obra que Deus lhe designara já havia sido concluída, 
mas o diabo continuaria com os seus ataques, para 
matar Neemias e assim trazer grande intranquilidade 
aos judeus. 
Dissimuladamente, Sambalate e Gesem convidaram 
Neemias, por cinco vezes consecutivas, para que viesse 
lhes fazer uma visita de cortesia, mas Neemias discerniu 
que intentavam lhe fazer mal (v.2), e se limitou a lhes 
responder que não poderia abandonar os seus afazeres 
(v. 3). 
Como receberam a mesma resposta de Neemias, por 
quatro vezes; na quinta, Sambalate lhe enviou um 
47 
mensageiro com uma carta lhe infamando, e lhe 
acusando de que queria se revoltar fazendo-se rei dos 
judeus, e que para tanto havia constituído profetas em 
Jerusalém para proclamá-lo rei (v. 7). 
Neemias se limitou a lhe responder que estava 
mentindo, e dizendo coisas que havia inventado (v. 8). 
E como viu que apertavam contra ele com insinuações 
satânicas, para atemorizá-lo, também orou a Deus que 
fortalecesse as suas mãos para prosseguir na realização 
da obra, para a qual havia sido comissionado (v. 9). 
Não tendo conseguido intimidar Neemias por esta 
maneira, avançaram com suas estratégias por inspiração 
diabólica, subornando um profeta chamado Semaías, 
que estando com Neemias em sua casa, o convidou a ser 
refugiar com ele no interior do templo de Jerusalém, 
porque soube que havia um plano para matá-lo naquela 
noite. 
Pela natureza da mensagem propriamente dita, 
Neemias concluiu, segundo o conhecimento que possuía 
da Lei de Moisés, que a profecia era falsa, e que o 
profeta havia permitido ser subornado pelos inimigos de 
Deus, a saber, por Sambalate e Tobias, para fazer a 
vontade do diabo (v.10-12). 
O propósito deste ataque através de Semaías foi 
discernido por Neemias, que afirmou que eles lhe 
haviam subornado para atemorizá-lo, e que agindo por 
medo e precipitadamente, entrando na área sagrada do 
templo, o seu nome seria infamado e vituperado (v. 13). 
Mas qual seria o ganho do Inimigo com isto? 
Total, porque ele seria acusado de não respeitar a Lei de 
Moisés e de não ter o temor do Senhor, e assim tudo o 
que ele vinha fazendo em Judá seria desacreditado. 
Não foi somente o profeta Semaías que se deixou 
corromper, como também uma profetisa de nome 
48 
Noadis e outros profetas, que debandaram para o lado 
de Tobias e Sambalate (v. 13,14). 
Todavia, a par de toda oposição que Neemias havia 
sofrido, concluiu a obra de reconstrução do muro em 
apenas 52 dias, o que fez com que todos os povos 
inimigos viessem a temer e a se abater, porque viram 
que a mão miraculosa do Senhor estivera naquilo (v. 
15,16). 
A recompensa que Neemias teve é a mesma que têm 
todos os que perseveram e permanecem firmes na fé, 
no cumprimento da visão que Deus lhes deu, em meio a 
todo o tipo de oposição do inferno que possam vir a 
sofrer. 
E para finalizar, quanto a esta não incrível nem 
surpreendente coincidência que há entre a oposição que 
Neemias sofreu e a que sofrem todos aqueles que estão 
fazendo efetivamente uma obra debaixo de comissão 
divina, porque será sempre esta a regra e nunca a 
exceção, nós vemos nos versos 17 a 19, que os próprios 
nobres judeus, que estavam cooperando com Neemias 
no governo, simulavam diante dele que havia bondade 
em Tobias, porque estava aparentado com os judeus, 
por ter casado com a filha do sacerdote Secanias, e o 
filho de Tobias também havia se casado com uma judia 
(v. 18). 
O argumento do laço familiar e de amizade estava sendo 
invocado para sobrepujar o laço da verdade e da 
manutenção da obediência à vontade de Deus. 
Neemias não se deixou persuadir pelo argumento deles 
porque bem sabia o que é a natureza humana, que 
sempre considera as coisas segundo os homens e nunca 
segundo Deus. 
49 
O próprio Pedro foi repreendido por Jesus quando 
permitiu que Satanás o influenciasse, como vemos 
em Mt 16.23. 
Deste modo, não foram poucas as cartas que os nobres 
de Judá enviaram a Tobias, e este enviou muitas cartas 
a eles. 
Contudo quais eram as “boas ações” de Tobias às quais 
Neemias se referiu ironicamente no verso 19? 
O nome Tobias significa Bondade de Jeová. 
Por isso Neemias usou de uma ironia usando o próprio 
nome dele, porque qual é a bondade que pode haver nas 
palavras, quando o intento do coração é o de nos 
intimidar e atemorizar, tal como se dava no caso de 
Tobias em relação a Neemias? (v. 19). 
Não importa, pois, quão doces sejam as palavras de 
elogio que nos dirigem, se isto tem por alvo encobrir a 
verdadeira intenção do coração de quem as profere de 
não somente nos ferir, e dissimular a ferida, mas 
sobretudo, infamar o nosso bom nome, de modo que a 
obra que Deus intentava fazer através de nós venha a 
ser prejudicada por conseguirem nossos inimigos nos 
infamarem e desacreditarem diante das pessoas, 
levando-as a crer que somos traidores, pessoas desleais 
e rebeldes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
7 - Restauração da Cidadania Judaica 
 (Neemias 7) 
 
Depois de ter concluído a restauração do muro, 
Neemias organizou e restaurou o serviço de adoração 
com a designação de porteiros, cantores e levitas 
conforme vemos no 7º capítulo do seu livro (v.1). 
E por prefeitos da cidade de Jerusalém nomeou seu 
irmão Hanâni, e um outro Hananias de quem declarou 
ser homem fiel e temente a Deus, mais do que muitos 
(v.2). 
Homens piedosos têm o cuidado de nomear líderes 
também piedosos, para conduzir o povo do Senhor. 
Este mesmo critério foi observado pelos apóstolos (II 
Tim 2.2; I Tim 3.1-13; At 6.3). 
De homens que são designados para cargos seculares 
exige-se honestidade, mas isto não é suficiente para 
quem é designado para o serviço de Deus, pois importa 
que seja santo e irrepreensível. 
A Igreja sempre demandou ser dirigida por uma rede de 
pastores preparados, homens segundo o coração de 
Deus, que apascentem o Seu rebanho, com 
conhecimento e com inteligência (Jer 3.15). 
Porque se o Senhor não estiver efetivamente no 
comando da vida destes pastores, de que adiantará 
vigiarem a cidade espiritual de suas vidas e dos que 
estão debaixo do seu governo, se o Senhor não guardá-
la? 
Não serão sentinelas inúteis já que o Senhor não é com 
eles? 
Daí o conselho dado a Josué para meditar na Palavra dia 
e noite, para que prosperasse nos projetos de Deus, 
designados para o Seu povo. 
51 
Esta regra não mudou para os ministros do evangelho. 
Se a palavra do Senhor não habitar ricamente neles, de 
quem eles serão representantes? 
De si mesmos? 
De suas ideias pessoais e particulares? 
A citação do verso 4: “Ora, a cidade era larga e grande, 
mas o povo dentro dela era pouco, e ainda as casas não 
estavam edificadas.”, não significa que não houvesse 
nenhuma casa em Jerusalém. 
Significa que, em proporção com o tamanho da cidade, 
tinham sido reconstruídas, comparativamente, poucas 
casas e ainda havia muito espaço desocupado, no qual 
podia se construir. 
Quando Neemias chegou a Jerusalém, encontrou o 
templo restaurado, mas a maior parte da cidade ainda 
estava em ruínas. 
O novo Estado era basicamente um país agrícola e tinha 
prosseguido sem uma verdadeira capital. 
Agora a cidade tinha muros e era um lugar seguro para 
residir e apropriado para ser capital do país.O problema que enfrentava Neemias era duplo: induzir 
o povo a viver na cidade e lhe proporcionar ali moradias. 
Para povoar a cidade, Deus pôs no coração de Neemias 
que fizesse um censo, para conhecer a população da 
cidade e do campo. 
E ele deu o primeiro passo neste sentido consultando o 
livro de genealogias dos que haviam subido com 
Zorobabel, cujo registro se encontra nos versos 6 a 73, 
que corresponde à relação registrada em Esdras 2.1-70. 
 
 
 
 
 
52 
8 - Restauração da Vida Religiosa dos 
Judeus 
 (Neemias 8) 
 
Nós vemos no oitavo capítulo de Neemias, o solene 
ajuntamento dos israelitas no primeiro dia do mês 
sétimo (o de Tisri), no templo em Jerusalém (v. 2), o qual 
era ordenado pela Lei de Moisés, conforme se vê em Lev 
23.24,25. 
No décimo dia deste mesmo sétimo mês estava 
ordenado pela Lei o dia da expiação, no qual o sumo 
sacerdote oferecia sacrifícios pelos pecados do povo, 
para cobertura destes pecados, por mais um ano. 
Em hebraico o nome desse dia é Yom Kippur, e hoje é 
chamado de Dia do Perdão, como se lê em Lev 23.27. 
A Festa dos Tabernáculos começava no 15º dia deste 
mesmo sétimo mês, e durava uma semana, conforme 
vemos em Lev 23.34-36; 39-43. 
As festas fixas religiosas de Israel (Sábado, Páscoa, 
Primícias, Pentecostes e Tabernáculos) eram anúncios 
proféticos das coisas que se realizariam por meio de 
Cristo, especialmente em relação à Igreja, e por isso 
eram designadas como santas convocações (v.2). 
Elas apontavam para a reunião de Cristo com o Seu 
povo. 
O sábado (v. 3) representava o descanso dos cristãos no 
Seu Deus. E profeticamente sinalizava para aquele 
grande dia em que o Senhor descansará do trabalho da 
nova criação, que está realizando por meio de Cristo, e 
especialmente pela conversão dos pecadores, para 
habitarem com Ele num descanso que adentrará a 
eternidade. 
53 
Como veremos adiante, é interessante observar que há 
uma conexão entre todas estas festas instituídas pelo 
Senhor. 
A festa das primícias, em que deveriam ser 
apresentados no tabernáculo um molho da primeira 
colheita de trigo feita na terra de Canaã (Êx 34.22). E esta 
primeira colheita deveria ser consagrada ao Senhor para 
que os israelitas fossem aceitos por Ele. 
Evidentemente isto aponta em figura para Cristo, 
porque Ele é a primícia da nova criação, e 
particularmente do povo de Deus. 
Sem que Ele se oferecesse ao Pai como representante de 
toda a colheita, ninguém poderia ser aceito como filho 
de Deus. E é importante frisar que esta oferta deveria 
ser feita num domingo (v. 12), que foi o dia em que Jesus 
ressuscitou como sinal da aceitação pelo Pai da Sua obra 
de redenção dos pecadores (I Cor 15.20, 23). 
Evidentemente, este primeiro fruto da terra de Canaã 
seria apresentado no ano em que os israelitas entrassem 
na terra e a cultivassem, e isto aponta também de modo 
muito específico para o sacrifício de Jesus, que seria uma 
única oferta, feita num determinado dia, e que 
determinaria para sempre a aceitação do Seu povo pelo 
Pai (Hb 9.28; 10.14). 
Mas, para representar a primeira colheita que seria feita 
pelo Espírito Santo, que seria derramado no dia de 
Pentecostes, iniciando a Sua obra de salvação dos 
pecadores em todo o mundo, a partir daquele primeiro 
domingo em Jerusalém, quando veio revestir de poder 
os primeiros discípulos, para começarem a ganhar 
pessoas em todo o mundo para Cristo a partir deles e 
daquele dia, foi designada a festa de Pentecostes, que 
caía sempre num domingo (Lev 23.15-21), que tinha o 
54 
nome de festa das semanas (Êx 34.22; Dt 16.10; II Cr 
8.13) ou da sega dos primeiros frutos (Êx 23.16). 
A celebração do Pentecostes seria feita cinquenta dias 
após a Páscoa. Contando-se sete semanas a partir do 
domingo em que havia sido oferecida a oferta das 
primícias. O Pentecostes caía então também num 
domingo e deveria ser celebrado todos os anos num 
domingo, contado a partir do de Páscoa. 
Em Lev 23.24,25 é ordenado que no primeiro dia do 
sétimo mês deveria ser feita uma solene convocação da 
nação com sonidos de trombeta, e nenhuma obra 
deveria ser feita neste dia, ou seja, ele seria um feriado 
nacional, pela importância da expiação que se faria 
naquele mês no décimo dia, e a festa dos tabernáculos 
a partir do décimo quinto dia, que seria celebrada 
durante sete dias. 
E é a obediência a estas ordenanças da Lei que nós 
temos relatado aqui no livro de Neemias. 
Foi feita uma exposição da Lei por Esdras e pelos levitas 
relacionados neste capítulo de Neemias (v.7), desde a 
aurora até o meio dia do primeiro dia da festa dos 
tabernáculos (v.3) e é dito que a leitura foi feita em 
forma de exposição da Palavra, isto é, como uma 
pregação em que o sentido da Lei era explicado ao povo, 
de maneira que a pudessem entender (v. 8, 12). 
Deus havia dado habilidade e autoridade a Esdras para 
expor as Escrituras, e o povo não somente reconheceu 
esta habilidade e autoridade, como também lhe deram 
a oportunidade de ler para eles o livro da Lei durante os 
sete dias da festa dos tabernáculos (v. 18). 
Esdras era escriba e sacerdote, mas a sua autoridade não 
decorria meramente destes ofícios, mas da sua 
comunhão com Deus que era resultante, por sua vez, da 
sua aplicação em meditar, honrar e praticar a Palavra. 
55 
Quando foi feita a exposição da Palavra por Esdras, o 
povo começou a chorar, porque a Lei mostra aos 
homens os seus pecados, a sua miséria e o perigo a que 
estão expostos, por causa do pecado, e há maldições 
contra todos os que não cumprirem tudo o que a Lei 
ordena. 
Então eles choraram ao pensarem no quanto tinham 
ofendido a Deus, pela transgressão voluntária da Sua 
Lei, e por se verem culpados diante dEle. 
Mas a própria Lei ordenava que na festa das trombetas 
do primeiro dia do sétimo mês, e durante todos os dias 
da festa dos tabernáculos, houvesse somente alegria e 
não tristeza perante o Senhor. 
Por isso Esdras, Neemias e os levitas que estavam com 
eles exortaram o povo a se alegrar em vez de chorar de 
tristeza. 
No segundo dia do mês sétimo, que não era um dia 
sagrado, as pessoas procuraram Esdras para 
continuarem meditando na Lei com ele, e revelaram o 
seu desejo de celebrarem a festa dos tabernáculos, 
porque viram que ela era exigida pela Lei. 
Eles demonstraram desta forma que não somente 
tinham ouvido a Lei, mas que estavam dispostos a 
honrarem ao Senhor mediante cumprimento da Sua 
Palavra. 
Desta forma, este capitulo e os seguintes do livro de 
Neemias nos ensinam que depois de enfrentarmos 
duras oposições para estabelecer a obra específica que 
Deus tenha colocado em nossas mãos, haverá um 
período de paz para adorarmos o Seu nome com grande 
comunhão e alegria, porque o próprio Senhor ordenará 
esta alegria e paz a nosso respeito, conforme está 
ilustrado na Lei relativamente à festa dos tabernáculos. 
56 
A nossa festa dos tabernáculos que adentrará pela 
eternidade, em que teremos somente pura alegria 
juntamente com o Filho de Deus, nas muitas moradas 
que ele nos preparou, se apressa a chegar e não falhará. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
57 
9 - Voto de Fidelidade ao Senhor 
 (Neemias 9) 
 
Depois de terem concluído todas as ordenanças da Lei 
relativas às festividades do sétimo mês, os israelitas 
separaram o 24º dia daquele mês, para jejuarem e se 
vestirem de sacos e com terra sobre suas cabeças, para 
demonstrarem a sua pública humilhação perante o 
Senhor, conforme vemos no nono capítulo de Neemias 
(v. 1). 
Eles haviam se apartado das iniquidades e dos costumes 
pagãos das nações ao seu redor para confessarem os 
pecados e as iniquidades de seus pais, que tanto haviam 
ofendido ao Senhor no passado, e que deu ocasião ao 
seu cativeiro (v. 2). 
Durante uma quarta parte do dia leram a Lei de Moisés, 
e numa segunda quarta parte fizeram confissão de 
pecados e adoraram ao Senhor (v. 3). 
No passado, os judeus dividiam o dia em quatro partes, 
sendo que cada uma das quais tinha três horas. 
Nós vemos

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