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1 PERÍCIAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO 1 Sumário INTRODUÇÃO................................................................................................. 3 CAUSAS DETERMINANTES NO ACIDENTE DE TRÂNSITO .................... 6 FATORES RELACIONADOS AO HOMEM .................................................. 7 FATORES RELACIONADOS AO VEÍCULO ................................................ 9 FATORES RELACIONADOS AO MEIO ...................................................... 9 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS E DISCUSSÕES ........................... 10 ESTUDOS DE ACIDENTES E BANCO DE DADOS .................................. 12 PERÍCIA TÉCNICA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO .................................. 13 ACIDENTES DE TRÂNSITO: QUESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA .... 14 PERÍCIA PREVENTIVA VERSUS PERÍCIA REATIVA DE LOCAL DE ACIDENTE ........................................................................................................... 14 PERÍCIA PREVENTIVA DE LOCAL DE ACIDENTE (PPLA) – PROPOSTAS E REFERÊNCIAS ................................................................................................. 15 LEVANTAMENTO DE LOCAIS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO ............. 19 TIPOS DE ACIDENTES ............................................................................. 21 CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS VEÍCULOS:............................................. 25 DA CLASSIFICAÇÃO VIAS URBANAS ..................................................... 27 DA CLASSIFICAÇÃO VIAS RURAIS ......................................................... 28 VESTÍGIOS DECORRENTES DE ACIDENTES DE TRÂNSITO ............... 28 INVESTIGAÇÃO E LEVANTAMENTO DE LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO ........................................................................................................... 30 ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO ........................................................................................................... 30 CRITÉRIOS PARA REQUISIÇÃO DE PERÍCIA ........................................ 33 VESTÍGIOS NO LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO ........................... 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 38 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 39 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A sociedade brasileira, em função dos acidentes de trânsito, tem suportado nas últimas décadas um enorme custo social. Seja pelo impacto financeiro nos cofres públicos ou na economia, seja pelo sofrimento causado pela perda de entes queridos, ou pela incapacitação para o trabalho em função de lesões. O Brasil, além do grande avanço de 1997 com a edição do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), fez-se signatário, em 2010, da resolução ONU (ONU) que estabeleceu de 2011 até 2020 como a “Década das Ações para a Segurança no Trânsito”. Avançou ainda editando o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS). Com estes destaques, fica claro o compromisso brasileiro para a redução das causas que fazem do trânsito um dos cinco mais violentos do Planeta Terra (Imprudência no Trânsito). Além destas medidas legislativas adotadas, diversas foram as ações praticadas pela sociedade. Ações no campo da educação para o trânsito, da engenharia, do meio ambiente, da sinalização de vias, do policiamento e fiscalização, e outras, e todas essas ações foram importantes para o salvamento de vidas e redução das lesões decorrentes de acidente de trânsito. AT (Acidente de Trânsito) tem sido uma preocupação mundial em razão do seu número considerado elevado a partir do avanço da indústria automobilística. No início do automobilismo, no final do século XIX, devido ao pequeno número de automóveis e às baixas velocidades desenvolvidas, os acidentes de trânsito eram raros, não provocavam danos de monta e sempre eram atribuídos à fatalidade ou à falha do motorista (IDPVAT, 2008). O desenvolvimento da indústria automobilística permitiu a fabricação de veículos mais velozes e em grande quantidade. Dessa forma, ao longo dos anos os acidentes passaram a acontecer com maior frequência e violência. O elevado número de AT fez com que a segurança viária passasse a ser uma das grandes preocupações mundiais (IDPVAT, 2008). 4 Apesar do esforço já dispendido, percebe-se um esgotamento da capacidade destas ações de continuarem contribuindo eficazmente para a redução da letalidade no trânsito. As estatísticas continuam mostrando o tamanho do desafio a ser enfrentado para que cheguemos a índices suportáveis de letalidade no trânsito, em se comparando com países da Europa, onde o índice médio de óbito no trânsito por 100 mil habitantes é de 9,3 (RSV-Ambev). Basta verificar que, conforme dados da Organização Mundial da Saúde, OMS, entre 2009 e 2016, o total de óbitos no trânsito, no Brasil, subiu de 19 para 23,4 por 100 mil habitantes. Caso sigamos esta tendência, não conseguiremos cumprir a meta da ONU de reduzir pela metade o número de mortes em acidentes de trânsito até 2020, considerando os números de 2010 como referência. Tampouco seremos capazes de cumprir quaisquer metas audaciosas de redução da letalidade no trânsito, assumidas conforme o PNATRANS. Atualmente existem países que possuem as conhecidas autoestradas como na Alemanha, onde os veículos podem atingir uma velocidade de até 200 Km/h, no Brasil a velocidade máxima permitida, quando não houver sinalização regulamentadora no local, de acordo com o CTB é de 110Km/h em rodovias para os veículos: automóveis, caminhonetes e camionetas. A velocidade, elemento físico, é um fator preponderante em AT, e tem mudado consideravelmente a realidade dos casos de acidentes atuais, visto que a velocidade pode tornar os veículos e as pessoas mais frágeis (CTB, 1998). Na esteira desses acontecimentos se encontram os peritos criminais, agentes públicos, que atuam como auxiliares da Justiça nos levantamentos de locais de acidentes de trânsito, com o objetivo precípuo de determinar a dinâmica e estudar a causa determinante dos acidentes de trânsito, gerando ao final um laudo pericial, que chegará ao Juízo e então será avaliado pelo juiz dentro de processo criminal ou civil (ALMEIDA, 2015). Diversas outras personagens no enredo de um acidente de trânsito encontram- se envolvidas. O delegado, o policial militar, os bombeiros, o policial civil, as testemunhas, promotores, advogados, assistentes técnicos, procuradores de Estado, defensores públicos e principalmente as partes envolvidas, que de certo modo tomam contato com o acidente de trânsito e a ele se ligam, cada qual conforme suas 5 necessidades ou sorte, para não dizer infortúnio, como no casodas vítimas (ALMEIDA, 2015). O laudo pericial é muito esperado por todos os envolvidos, uma vez que poderá dirimir as dúvidas, definir os culpados e os inocentes, e ajudar no andamento dos trâmites, desde o inquérito policial até o processo criminal ou civil. O inquérito policial é peça administrativa, devendo todo o rito de oitiva das testemunhas ser repetido no curso do processo. No entanto, o mesmo não se pode dizer do laudo pericial, que foi gerado a partir do local de acidente de trânsito, que não pode novamente ser repetido nas mesmas condições, ainda que seja uma reprodução simulada. Eis aí a importância da perícia criminal nos locais de acidentes de trânsito: perpetuar os vestígios ali existentes, documentar e atribuir juízo técnico de valor aos fatos com fundamentos científicos, servindo como prova nos processos judiciais (ALMEIDA, 2015). Ao se analisar um acidente num contexto geral devemos ter como base alguns conhecimentos como as leis da mecânica, a inércia, força, massa, aceleração, a velocidade em planos inclinados, velocidades críticas em curva, atrito, deformações, efeitos de frenagem e suas relações com a geometria dos freios e outros elementos físicos. Figura 1 Acidente de Trânsito. Fonte: lucenatorres.jusbrasil.com.br 6 CAUSAS DETERMINANTES NO ACIDENTE DE TRÂNSITO Para a ABNT (CHAGAS 2011) acidente de trânsito é “Todo evento não premeditado de que resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma das partes está em movimento nas vias terrestres ou aéreas abertas ao público”. Antes de introduzir as principais causas dos AT deve ser apresentado alguns conceitos e definições. Essas causas podem estar relacionadas a diversos fatores contribuintes e aliadas às circunstâncias aleatórias. Isto torna ainda mais árdua a tarefa de escolher medidas realmente eficazes na redução de acidentes e de seus danos (CHAGAS 2011). Segundo a legislação de trânsito vigente existem os seguintes tipos de veículos: automotores, ônibus elétrico, reboques, semirreboques, ciclomotores, motonetas, motocicletas, triciclos, quadriciclos, tratores de rodas e mistos, tratores de esteiras, utilitários, caminhões-trator e caminhões (CONTRAN - Resolução n. 14/98). São enumeráveis os tipos de AT, destacaremos os seguintes: colisões veiculares com obstáculo fixo, bi veiculares entre veículos semelhantes e diversos, com interceptações dentre outros. É imprescindível conhecermos o tipo de veículo que irá ser estudado, pois como veremos adiante a geometria do veículo influencia relevantemente nos aspectos do acidente. Outro fator importante na análise do acidente é quanto ao porte do veículo envolvido, sendo que eles podem ser de pequeno, médio ou grande porte. Os considerados de grande porte são os veículos de carga com peso bruto total (PBT) superior a 10 toneladas e veículos de passageiros com lotação igual ou superior a 20 passageiros (CTB, 1998). Geralmente a análise de acidente de trânsito tem como principal objetivo encontrar as Causas Determinantes – segundo o Professor Marcos Henrique dos Santos, define-se causa determinante de AT, a que, se afastada, o acidente não ocorreria (Pantoja, 2004, pág. 65 e Santos, 2001). 7 Teoricamente as Causas Determinantes que vão indicar os fatores que influenciaram nos AT, podem ser: mediatas ou circunstanciais e imediatas ou diretas. As causas mediatas ou circunstanciais são de ordem subjetiva, portanto, via de regra, se torna impossível materializá-las. A fadiga, a distração, imperícia, negligência e outros fatores que ocorrem com o motorista e passageiros no interior do veículo e que podem levar a um acidente. As causas imediatas ou diretas são perfeitamente constatáveis, pois, existindo, ficam materializadas pelos vestígios produzidos. Estas podem estar relacionadas ao homem, a máquina ou ao meio (Pantoja, 2004, pág. 66). Para a PRF, o levantamento do sítio de acidente (espécie de perícia direta de local de acidente) consiste na obtenção dos dados necessários ao registro do boletim de acidente e/ou do laudo pericial. Tais registros serão utilizados nos estudos de prevenção de acidentes e, se for o caso, nas reproduções simuladas, atendendo às demandas legais (MPO-015). O que se observa, de forma geral, na produção doutrinária sobre a perícia em acidentes de trânsito (MPAT) é a diferenciação entre perícia direta com levantamento de local (local preservado) e perícia indireta (local desfeito, veículo fora do local do acidente ou análise de laudo e levantamento de terceiros), seja para proveito do direito penal, seja para proveito do direito civil, mas sempre de forma reativa, pós ocorrência do acidente, notadamente para atribuir responsabilidades, sem que o olhar pericial ou o laudo emitido, esteja sobre a causalidade do acidente, para prevenir novas ocorrências de mesma natureza, no mesmo local FATORES RELACIONADOS AO HOMEM Entre as diversas causas podemos citar: imprudência dos condutores, excesso de velocidade, desrespeito à sinalização, ingestão de bebidas alcoólicas, ultrapassagens indevidas, má visibilidade (chuva, neblina, cerração, noite), falta de atenção, defeitos nas vias, falta de manutenção adequada dos veículos, distração interna do condutor (rádio, passageiro, celular, objetos soltos no interior do veículo), 8 ação evasiva inadequada, frente a um fator adverso (buraco, veículo parado, etc.), técnica inadequada ao dirigir veículo (não observar o retrovisor externo e esquerdo, por exemplo), avaliação errada de distância e velocidade de um outro veículo, tanto no mesmo sentido (andar na "cola") como em sentido contrário, falta de cortesia no trânsito, não obediência das normas de circulação e conduta (tanto para condutores como para pedestres), falta de conhecimento e obediência das leis de trânsito (condutores e pedestres), impunidade dos infratores, sensação de onipotência advinda do comportamento inadequado ao dirigir, falta de educação para o trânsito, travessia em locais perigosos e fora da faixa ou semáforo, sonolência, falta de descanso, drogas (remédios, psicotrópicos, tranquilizantes, etc) e fadiga (Portal do Trânsito, 1998 – 2008). A OMS considera que acidentes de trânsito são previsíveis e evitáveis, tendo como principal variável a ser analisada o comportamento humano, tendo em vista que 90% dos acidentes são causados pelo fator humano (RSV-Ambev). Desrespeitar regras de trânsito tem tido resultado trágico: 3,4 mil óbitos diários no mundo. A OMS compila dados e boas práticas em 180 países, sendo fundamental na orientação dos esforços para elevar a segurança viária. A realidade apontada no seu levantamento põe em dúvida o cumprimento da meta, acordada pela ONU de reduzir pela metade, considerando as estatísticas de 2010, o total de óbitos no trânsito até 2020 (RSV-Ambev). Figura 2 Homem sonolento ao volante. Fonte: https://autopapo.com.br/noticia/mais- de-40-dos-acidentes-de-transito-acontece-por-sonolencia-afirma-a-abramet/ 9 FATORES RELACIONADOS AO VEÍCULO As causas relacionadas à máquina (falha mecânica) são de difícil detecção em exames realizados no local, requerendo minucioso exame, a maioria das vezes somente possível após exames com desmonte do veículo em oficinas. A falha do sistema de freios ou pode ser atribuída também a um comportamento perigoso. Mesmo que comprovada a ruptura de determinada peça do sistema de segurança do veículo, deverá ser verificado se ocorreu antes ou depois do acidente (Pantoja, 2004, pág. 68). FATORES RELACIONADOS AO MEIO Existem diversos fatores dentre os quais podemos destacar: irregularidade da via, situação climática, visibilidade do local, condições de tráfego, entre outros. A irregularidade na pista poderá facilitar o sinistro, pois poderá diminuir o atrito o que poderá até influenciar noscálculos físicos, poderá causar muita vibração no veículo, é imprescindível a avaliação para solucionar o caso. Situação climática, quando diante de chuva é bom atentar para a pista escorregadia, pois teremos outro coeficiente de atrito para formular os cálculos físicos (Pantoja, 2004, pág. 69). 10 Figura 3 Buraco na via. Fonte: https://avozdacidade.com/wp/motoristas-denunciam- buraco-na-via-sergio-braga-em-barra-mansa/ ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS E DISCUSSÕES Segundo dados da ONU a violência no trânsito não figurava entre as principais causas de óbito, em 2010, mas assumiu a 10ª colocação em 2015. A previsão, caso mudanças não sejam rapidamente implementadas, é um salto para o 7º lugar até 2030 (RSV-Ambev). O ano de 2015 foi de extrema relevância para a segurança viária, pois foi aprovada internacionalmente a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e um total de 169 metas, e foi anunciada a “Declaração de Brasília”, durante a Segunda Conferência Global de Alto As causas imediatas ou diretas são perfeitamente constatáveis, pois, existindo, ficam materializadas pelos vestígios produzidos. Estas podem estar relacionadas ao homem, a máquina ou ao meio (Pantoja, 2004, pág. 66). Acidente de trânsito é “Todo evento não premeditado de que resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma das partes está em movimento nas vias terrestres ou aéreas abertas ao público”. LEMBRE-SE 11 Nível sobre Segurança no Trânsito. O encontro deu seguimento à Declaração de Moscou, documento emitido quatro anos antes, onde a ONU definiu a “Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011–2020”. Brasília recebeu representantes de 120 países que apoiaram a elaboração de outro documento, reconhecendo a responsabilidade dos governos em prover condições básicas e serviços para garantir a segurança viária, bem como “buscar um mundo livre de mortes e lesões graves no trânsito”. A Declaração de Brasília destaca cerca de 30 medidas, como (RSV-Ambev): 1. desenvolver e implementar planos nacionais sobre segurança no trânsito e aplicar legislação abrangente sobre os principais fatores de risco; 2. incentivar a introdução de novas tecnologias de gestão do trânsito e de sistemas de transporte inteligentes; 3. fomentar o financiamento para segurança no trânsito e para apoiar pesquisas e implementação de políticas em nível global, regional, nacional e local; 4. Aprimorar qualidade da coleta sistemática de dados sobre ocorrência de eventos no trânsito. Já a OMS lançou, recentemente, um pacote técnico de intervenções prioritárias, denominado Save Lives, capazes de ajudar os países a atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (RSV-Ambev). A ação sugere uma abordagem sistêmica, baseada nos principais fatores de risco e em possíveis intervenções a partir de uma perspectiva holística. De acordo com a OMS, a segurança viária é formada por seis componentes; 1) Controle de Velocidade; 2) Liderança na segurança viária; 3) Design e melhoria da Infraestrutura; 4) Padrões de Segurança dos Veículos; 5) Execução da Lei e 6) Sobrevivência após a colisão; acrescidos de vinte e duas intervenções (RSV-Ambev). Dados obtidos via DPVAT mostram uma alta no número de mortes relacionadas ao trânsito no Brasil. Em 2017, foram pagas 41.151 indenizações por morte envolvendo veículos automotores, ante 33.547 indenizações pagas em 2016, alta de 23%, cessando uma sequência de cinco anos na queda da letalidade por acidentes de trânsito no país (Portal do Trânsito). 12 ESTUDOS DE ACIDENTES E BANCO DE DADOS Especificamente em relação à quarta medida destacada, conforme a Declaração de Brasília, qual seja: Aprimorar qualidade da coleta sistemática de dados sobre a ocorrência de eventos no trânsito; percebe-se que os bancos de dados de acidente de trânsito no Brasil, em geral, possuem deficiências severas. Estas deficiências trazem enorme preocupação para a aplicação do segundo componente do Pacote Save Lives, OMS, qual seja: Liderança na segurança viária, onde são apresentadas cinco propostas de “intervenções”, dentre estas: Avaliar o impacto das estratégias de segurança rodoviária e Monitorar a segurança rodoviária através do fortalecimento de sistemas de dados. Tais deficiências se revelam na qualidade dos dados e também na sua incompatibilidade por falta de uma padronização nacional, dificultando a comparação entre dados produzidos, por exemplo, pelo Ministério da Saúde (DATASUS), com os produzidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Mais difícil ainda, é a comparação de dados de acidentes, quando os bancos de dados pertencem a entes federativos diversos. A figura 4 ilustra essa discrepância: Figura 4 Mortos em Acidentes de Trânsito. Fonte: Portal Vias Seguras Outra questão é, segundo a Associação Nacional de Pesquisa em Transporte (CHAGAS 2011), a falta de tradição do Brasil em estudos de acidentes. Estudos desta natureza, para que tenham verdadeiro valor científico, demandam a construção de bancos de dados igualmente confiáveis e a realização de pesquisas sobre as causas 13 de acidentes, bem como a identificação de pontos com grande incidência de acidentes (um verdadeiro: Mapa de Acidentalidade no Trânsito). Uma boa notícia veio recentemente do Ministério das Cidades, em agosto de 2018, de que pretende agrupar, em uma única base de dados, informações de diferentes órgãos municipais, estaduais e federais sobre a segurança nas estradas brasileiras, numa parceria com o Instituto Tellus e a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) que ajudará disponibilizando algumas das metodologias a serem adotadas pelo levantamento (Portal do Trânsito). PERÍCIA TÉCNICA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO Devido ao elevado custo, a perícia de local de acidente tem sido realizada somente quando há ao menos uma vítima fatal, sendo que as informações disponíveis no momento do acidente sem vítima fatal (não periciado) portanto, dificilmente serão encontradas após a remoção dos veículos envolvidos. Daí a importância do agente responsável pelo registro da ocorrência, registrar ao menos os fatores que entende terem contribuído para o acidente, mesmo não sendo qualificado como perito de local de acidente de trânsito. Outra questão é que não há cruzamento dos dados obtidos por peritos criminais quando da perícia de local de acidente, com os registros (boletins) de acidente de trânsito feitos pelas polícias ostensivas (Polícias Militares e Rodoviária Federal) ou guardas municipais; reduzindo ainda mais a riqueza dos dados disponíveis nos bancos de dados. Os órgãos envolvidos fazem o registro, buscando dados relevantes para o cumprimento da sua tarefa institucional específica. As polícias militares e as guardas municipais, registram os dados em obediência as regras do DENATRAN, sem aprofundamento na causalidade do acidente, já que não são, como regra, responsáveis pela perícia do local de acidente. A PRF, por força do Decreto Presidencial n. 1655 de 1995, além do Regimento Interno PRF, RIPRF, (Portaria n. 6/2018 MJSP), tem competência legal para a realização da perícia de trânsito, mas, até este ano (2018), ainda não implementou tal atribuição legal em todas as suas unidades. 14 De um emaranhado de órgãos públicos, resultam diversos registros (além do Registro de Ocorrência, RO, nas delegacias de Polícia Civil), cujos dados não obedecem a uma padronização nacional, tampouco serão objeto de cruzamento de dados em um pretenso sistema unificado de registro nacional de acidentes de trânsito. ACIDENTES DE TRÂNSITO: QUESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA O Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) assevera: violência no trânsito é também violência pública. O tema “violência no trânsito” requer respostas, tanto dos órgãos do Sistema Únicode Saúde (SUS), quanto dos órgãos que compõem o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). O Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS), reportou relevantes atribuições à PRF para o sucesso das políticas públicas de redução da letalidade no trânsito nas rodovias federais, e nas demais vias Brasil afora. Ao analisar o Relatório de Gestão do Exercício de 2016 da PRF (Relatório de Gestão2016), verifica-se que está incluída, no Plano Estratégico, a implantação da perícia de acidentes. Neste contexto, este Artigo propõe que a perícia preventiva de local de acidente seja utilizada, nos três níveis da federação, como uma ferramenta eficaz para a redução da letalidade no trânsito. Notadamente a PRF, que possui competência legal e parte dos seus recursos humanos já qualificados para a perícia de acidentes de trânsito, deveria lançar mão dessa ferramenta para a redução da letalidade no trânsito. PERÍCIA PREVENTIVA VERSUS PERÍCIA REATIVA DE LOCAL DE ACIDENTE A perícia preventiva de local de acidente, objeto desse Artigo, é distinta da perícia reativa de local de acidente, utilizada pelas polícias civis (peritos criminais) ou pela PRF (peritos civis). A primeira tem por intuito analisar a causalidade acidentária a partir da identificação dos pontos de maior incidência de acidentes de trânsito. É produzida para gerar apontamentos de possíveis soluções a serem implementadas 15 no campo da engenharia, da sinalização de vias ou do policiamento e fiscalização, para evitar novas ocorrências acidentárias nos locais periciados; A segunda é realizada, pós ocorrência de um dado acidente de trânsito, ou por um perito criminal da Polícia Civil, para a busca de autoria e materialidade de um possível crime de trânsito ou por um perito civil (um policial rodoviário federal, por exemplo), que busca os dados sobre a causalidade e a monta dos danos decorrentes daquele evento em específico. PERÍCIA PREVENTIVA DE LOCAL DE ACIDENTE (PPLA) – PROPOSTAS E REFERÊNCIAS A perícia preventiva de local de acidente –PPLA- tem por escopo periciar locais de grande ocorrência de tipos específicos de acidente de trânsito, com o objetivo de prevenir outros acidentes de mesma natureza, contribuindo, de forma preventiva, para a redução da letalidade no trânsito. Já a perícia reativa de local de acidente tem por escopo periciar uma dada ocorrência de acidente de trânsito, para viabilizar a aplicação da justiça civil e/ou criminal. A perícia reativa torna-se viável reduzindo a sua atuação para os casos que envolvem óbito. Já a perícia preventiva se viabiliza por reduzir a sua atuação para os locais com alto índice de acidentes. Podemos então definir a perícia preventiva de local de acidente como: “O segmento especializado da perícia técnica civil, que faz uso das técnicas periciais em local sabidamente de grande incidência de tipos específicos de acidente de trânsito, no intuito de gerar laudo pericial indicativo seja das razões prováveis que concorreram para fazer daquele local um ponto de grande incidência acidentária, seja para evidenciar possíveis ações a serem implementadas para evitar, no todo ou em parte, que novos acidentes de trânsito venham a se dar no local periciado”. Para que se atinja o “estado da arte” com o uso da perícia preventiva de local de acidente, necessário é que metodologicamente sejam observadas as fases abaixo: • Identificação dos repositórios de informação: Como discutido anteriormente, são diversos os órgãos que podem ter registro de acidentes. É preciso identificar 16 esses órgãos e coletar as informações resolvendo os problemas de formatação e incompatibilidade de dados; • MAT - Mapa de acidentalidade no trânsito: a partir dos repositórios identificados, as informações devem ser correlacionadas identificando-se os tipos de acidente e sua localização. Isso permitirá a elaboração do mapa de acidentalidade correlacionando diversos parâmetros que poderão servir como elementos para a PPLA. Local, vítimas, custos, quantidade de acidentes, tipo de veículo, tipo de acidente, etc são parâmetros que podem ser identificados e correlacionados. Deverão ser utilizadas técnicas estatísticas para correlacionar os dados. Vários problemas relacionados a integração, semântica e confiabilidade dos dados poderão ser encontrados e devem ser equacionados para que esse mapa seja construído com confiabilidade; • Definição dos locais a serem periciados: A partir dos dados da fase anterior devem ser escolhidos os locais a serem periciados utilizando critérios apropriados a serem definidos a partir da fase anterior; • Realização da PPLA: Realizar a perícia nos pontos definidos na fase anterior, checando em cada local a correção das informações do MAT, emitindo laudo descrevendo as possíveis vertentes que concorreram para fazer daquele ponto um local crítico de ocorrência de acidente de trânsito e as possíveis soluções de engenharia, de policiamento e fiscalização, de educação para o trânsito e/ou outras, que possam reduzir ou eliminar os acidente; • Alimentação de um sistema de gestão da acidentalidade no trânsito (SIGAT) com as informações do MAT, com os laudos periciais de cada local crítico e a capacidade de realizar diagnósticos ou aconselhamento baseado em técnicas de inteligência artificial; • Emitir relatórios, sugestões ou determinações a partir de um Comitê de Gestão da Acidentalidade no Trânsito (COGAT) para inclusive acompanhar a implementação das ações propostas além de controle e análise dos resultados obtidos. 17 A metodologia de confecção do laudo de perícial da PPLA deve observar as peculiaridades da entidade pública com circunscrição sobre o local periciado, indicando soluções adequadas à competência de cada componente do sistema nacional de trânsito. Por exemplo, se o laudo de PPLA for produzido para a Polícia Rodoviária Federal, a indicação de ações a serem implementadas deverão privilegiar as soluções ligadas ao policiamento, à fiscalização ou à educação para o trânsito, já que as soluções afetas à intervenção de engenharia e sinalização na via são de competência do DNIT ou da ANTT, conforme o caso, valendo a mesma regra se o trabalho for realizado sob encomenda de entidade estadual ou municipal. O responsável pelos laudos de PPLA deve possuir qualificação específica, na área de engenharia, preferencialmente, com especialização em levantamento de local de acidente. O laudo da PPLA deve tecnicamente completo, abordando as variadas vertentes que concorrem para tornar aquele ponto um ponto crítico de determinado tipo de acidente, indicando possíveis soluções que potencialmente demandarão conhecimentos multidisciplinares para ações no campo da engenharia, da sinalização de trânsito, do policiamento e fiscalização, da educação para o trânsito e outras possíveis, adequadas à redução da letalidade no trânsito. O perito responsável pelo laudo de PPLA deve ter liberdade para indicar as melhores soluções para a solução dos problemas no local periciado. Já a entidade responsável pela encomenda do laudo de perícia preventiva, caso não seja a competente legal para parte ou para o todo das soluções indicadas no laudo, deve interagir com as entidades tematicamente responsáveis, em busca da solução de segurança viária necessária, dentro de uma verdadeira interação multiagências. De pouca valia serão os laudos de PPLA se não existir um sistema de gestão da acidentalidade no trânsito, capaz de armazenar e consolidar estes laudos e promover o acompanhamento sistemático das ações indicadas. Se efetivamente implementadas, qual o resultado obtido? Se não implementadas, por que não o foram ainda e por quem? O ideal é que esse sistema seja multiagências, para que, mesmo gerido por uma única agência pública (o CONTRAN, por exemplo), possa ser objeto de consulta 18 e inserção de dadospor parte de diversas agências tematicamente relacionadas ao trânsito e/ou segurança viária. Não se trata de um sistema que seja apenas um repositório de dados sobre acidentes de trânsito e suas causas, de acordo com os registros existentes e para atender requisitos legais. O Sistema Multiagências de Gestão da Acidentalidade no Trânsito vai além disto, para perseguir a aplicação do segundo componente do Pacote Save Lives, OMS: Liderança na segurança viária, onde destacamos duas das cinco propostas de “intervenções”, especialmente relacionadas ao proposto sistema: A) Avaliar o impacto das estratégias de segurança rodoviária e B) Monitorar a segurança rodoviária através do fortalecimento de sistemas de dados. Merecem destaque duas referências em que parte da metodologia da PPLA foi utilizada de forma eficaz. Essas iniciativas encontram-se detalhadas na referência (RSV-Ambev). A primeira referência, implementada em São Paulo, denominada “Movimento Paulista de Segurança no Trânsito”, tem a meta de reduzir a metade as vítimas fatais nos acidentes até 2020. Possui banco de dados de acidentes de trânsito de diversas fontes, permite identificar o perfil do caso, da vítima e da frota. Mapeia os óbitos em acidentes de trânsito no Estado e compila dados de 645 municípios, incluindo perfil do acidente, da vítima e localização geográfica. A segunda referência, lançado em agosto de 2016, o projeto Brasília Vida Segura é uma iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF) para diminuir o número de mortes no trânsito em 70% até 2020. Participam, também, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada (CLP, 2018). Os resultados são animadores e Brasília superou em 40% a meta de 2017, de redução do número de mortes em acidentes de trânsito, estando perto de atingir a meta da ONU até 2020. O GDF realizou estudo analisando dados e mapeando locais mais frequentes de acidentes no DF. As ações adotadas envolvem um núcleo de engenharia trabalhando na adequação das vias, iluminação e sinalização; um núcleo de educação e comunicação e um terceiro núcleo, o de fiscalização, focado em pontos críticos com maior recorrência de acidentes. 19 LEVANTAMENTO DE LOCAIS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO O levantamento de dados e coleta de vestígios de um local de acidente de trânsito é de suma importância para o perfeito entendimento das condições em que ocorreu um acidente. O levantamento de local de acidente de trânsito para posterior redação do laudo pericial efetuado por perito é instrumento imprescindível nos processos judiciais envolvendo ocorrências dessa natureza, uma vez que a partir do trabalho inicial de levantamento é que resultará a definição da causa determinante para um acidente. Cabe ao perito responsável pelo levantamento um cuidado especial no uso dos termos técnicos referentes a esse tão importante procedimento, para que nos laudos periciais se evite ambiguidade de termos, termos inexistentes ou até mesmo ausência de dados que possam ser ignorados por não se conhecer a maneira adequada de se relatar. A seguir encontram-se os objetivos instruir ou servir de roteiro para levantamento de locais de acidente de trânsito e também servir de instrumento para posterior confecção do laudo pericial. Trânsito: é a utilização das vias (trajetos definidos) por pessoas, veículos e animais, isolados ou grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga. Tráfego: é o movimento de pedestres, veículos e animais sobre vias terrestres, considerando-se cada unidade individual. 20 Via: superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central. São vias terrestres urbanas ou rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que tenham seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas. Pista: corresponde à parte da via normalmente utilizada para a circulação de veículos, possuindo elementos separadores (linha de bordo nas rodovias por exemplo) ou por diferença de nível em relação às calçadas, canteiros ou ilhas (meiofio por exemplo), assim chamada de pista de rolamento. Faixa de trânsito: cada um dos trechos carroçáveis de uma pista de rolamento. Unidade de tráfego: são assim considerados todos os veículos automotores (caminhões, automóveis, motocicletas, ônibus), os de tração animal (carroças), os de tração ou propulsão humana (bicicletas), pedestres, animais de porte arrebanhados ou montados. Acidente de trânsito: é qualquer acidente onde se acha envolvido uma ou mais unidades de tráfego onde pelo menos uma das unidades deve estar em movimento no momento do acidente, sendo que tal acidente deve ter ocorrido em via terrestre do qual resulte morte, lesões ou danos materiais. 21 TIPOS DE ACIDENTES Como já foi dito alguns tipos de acidentes nos capítulos anteriores, existe uma certa regularidade na maneira como os acidentes acontecem. Pode-se dessa forma dividir os acidentes da seguinte forma: Colisão - Podendo esta ainda ser dividida em: Colisão entre veículos: normalmente envolve dois ou mais veículos, estando incluso nesta modalidade de tipo de acidente aquele em que se envolve ciclista sobre a bicicleta. Nota: quando um ciclista se encontra empurrando sua bicicleta o mesmo é tratado como pedestre. Nota - Os acidentes envolvendo ciclistas devem ser tratados como colisão entre veículos caso o condutor da bicicleta esteja montado na bicicleta. Caso a pessoa envolvida no acidente esteja apenas empurrando a bicicleta, o acidente deve ser tratado como atropelamento. Atropelamento (Colisão veículo x corpo flácido): ocorre envolvendo veículo automotor (automóveis, motocicletas e caminhões) e um ou mais pedestres, podendo também ocorrer contra um animal (semoventes, cães, etc). 22 Choque Mecânico (Colisão veículo x obstáculo fixo): envolve pelo menos um veículo e um obstáculo fixo como poste, árvore, muro, parede ou guarda- corpo. Choque Mecânico (Colisão veículo x corpo rígido): envolve pelo menos um veículo e um corpo rígido não fixo (containeres de lixo, lixeiras, material de depósito no leito da via ou na margem dela), podendo ser o objeto atingido um outro veículo que se encontra estacionado. TOMBAMENTO - Nestes casos o veículo experimenta uma rotação de cerca de 90 graus em torno de seu eixo longitudinal horizontal. CAPOTAMENTO - Nestes casos o veículo sofre um giro ou semi-giro em torno do seu eixo longitudinal ou do eixo- transversal. O veículo capotado se encontra no local de acidente com o teto voltado para a superfície asfáltica. Pode ocorrer também situações em que o veículo sofreu tombamento ou capotamento e tenha voltado para sua posição convencional. Nesses casos o tombamento ou capotamento se evidencia pelos danos presentes no teto e nas laterais do veículo pelo contato com a superfície asfáltica ou de terra. ABALROAMENTO - O embate entre os dois veículos envolvidos no acidente ocorre com um veículo em movimento atingindo lateral x lateral de veículo que está parado. O termo é emprestado da área naval, cujo significado corresponde ao contato entre duas embarcações. 23 SAÍDA DE PISTA - O veículo sai da pista sem ter contato com outro veículo ou obstáculo além do meio-fio ou desnível da pista, podendo ocorrer também precipitação quando o veículo passa a desenvolver queda livre por ação da gravidade ao se desprender do leito da via para um precipício ou vale. É evidente que um acidente na maioria das vezes ocorre de forma complexa, podendo dentro de um mesmo acidente ocorrer diversas formas de colisões e de embates em uma sequência de fatos que cabe ao perito de local informar em uma sugestão de dinâmica provável. Outros importantes elementosdos levantamentos de locais de delitos de trânsito estão relacionados com as unidades veiculares. Na captação dos dados relacionados aos veículos cabe aqui uma descrição das partes constituintes dos veículos tipo automóveis. AUTOMÓVEL - veículo automotor destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para até oito pessoas, excluindo-se o condutor. A identificação das regiões ou sede de impacto nos veículos deve ser feita considerando o gráfico abaixo, onde as siglas representam o seguinte: 24 Para a altura considere o seguinte: Quando se fizer necessário descrever ou posicionar sedes de impacto no veículo considerando a posição da referida sede de impacto em relação à altura do veículo deve-se considerar a seguinte nomenclatura: terço superior, terço médio e ter inferior. A nomenclatura utilizada acima pode ser usada para qualquer veículo. Veja as figuras abaixo, onde aparecem as localizações dos flancos de uma motocicleta. 25 CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS VEÍCULOS: 1. QUANTO À TRAÇÃO: automotor; elétrico; de propulsão humana; de tração humana; de tração animal; reboque ou semirreboque; Nota: A diferença entre reboque e semirreboque. Reboque corresponde a veículo sem propulsão própria, sendo este destinado a ser engatado atrás de um veículo automotor, como por exemplo uma caminhonete que transporta um trailer. Semirreboque é um veículo sem propulsão própria com um ou mais eixos que se apoia na sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de articulação, como por exemplo, carroceria de carga de caminhão trator. 2. QUANTO À ESPÉCIE: A - DE PASSAGEIROS: automóvel, bicicleta, bonde, charretes, ciclomotor, motoneta, motocicleta, triciclo, quadriciclo, microônibus, reboque, semireboque, ônibus. Nota: A diferença entre motocicleta, motoneta e ciclomotor. Motocicleta veículo de duas rodas onde o condutor pilota montado. 26 Motoneta veículo de duas rodas onde o condutor pilota sentado. Ex: Honda Bizz. Ciclomotor se diferencia pela sua cilindrada, que não pode ser acima de 50 cm3 e pela sua velocidade que não pode exceder a 50 km/h. B - DE CARGA: carroça, caminhão, caminhonete, carro de mão, motoneta, motocicleta, triciclo, quadriciclo, reboque ou semi-reboque. Nota: A diferença entre charrete e carroça. Charrete: de tração animal destinado a transporte somente de passageiros. Carroça: de tração animal destinado ao transporte de carga. C - MISTO: caminhonhete, camioneta, utilitários e outros. Nota: A diferença entre caminhonete e camioneta Caminhonete: possui compartimento de carga separado do espaço destinado ao transporte de passageiros (cabine). Camioneta: veículo que se particulariza por transportar carga e passageiros em um mesmo compartimento. Exemplo de camioneta é a Kombi da VW. Outra importante observação está relacionada às caminhonetes. Segundo o CTB, os veículos do tipo caminhonete com carga acima de 3700kg, adquirem o status de caminhões, ou seja, seu condutor deve ser habilitado com CNH letra C, e mais importante ainda é que na condição de caminhão as regras de circulação para essas caminhonetes devem ser as mesmas dos caminhões. D - DE COMPETIÇÃO E - DE TRAÇÃO: caminhão-trator, trator de esteira, trator misto, e trator de rodas. F - ESPECIAL: aqueles que sofrerão modificações em seu modelo de fábrica. 27 G - DE COLEÇÃO: veículo com 20 anos ou mais com as mesmas características de fábrica. 3. QUANTO À CATEGORIA: OFICIAL: placas de identificação com letras pretas e fundo branco; PARTICULAR: placas de identificação com letras pretas e fundo cinza; DE ALUGUEL: placas de identificação com letras pretas e fundo vermelho; DE APRENDIZAGEM: placas de identificação com letras vermelhas em fundo branco. REPRESENTAÇÕES DIPLOMÁTICAS. DA CLASSIFICAÇÃO VIAS URBANAS VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO: são aquelas que não possuem cruzamentos diretos nem passagem direta para pedestres. O acesso é feito por pistas paralelas, as quais consentem a entrada na via já com uma velocidade compatível da via. Velocidade máxima permitida: 80 km/h. VIA ARTERIAL: via de ligação entre as regiões da cidade com cruzamento com vias secundárias normalmente controladas por semáforo. Velocidade máxima permitida: 60 km/h. VIA COLETORA: é via de trânsito localizada nos perímetros urbanos, que permite o acesso a vias de maior porte. Velocidade máxima permitida: 40 km/h. VIA LOCAL: é a via de trânsito, cujos cruzamentos, em geral não possuem semáforos, normalmente se localizam nos bairros nos setores residenciais. Velocidade máxima permitida: 30 km/h. 28 DA CLASSIFICAÇÃO VIAS RURAIS RODOVIAS: via rural pavimentada. Velocidade máxima permitida: - 110 km/h para automóveis e camionetas. - 90 km/h para ônibus e microônibus. - 80 km/h para os demais veículos. ESTRADAS: via rural não pavimentada. Velocidade máxima permitida: 60 km/h. Nota: As velocidades máximas referidas acima prevalecem somente onde não houver sinalização regulamentadora, devendo-se respeitar a sinalização das placas indicativas das velocidades máximas onde elas existirem independente das características da via. VESTÍGIOS DECORRENTES DE ACIDENTES DE TRÂNSITO Conhecidos os critérios para se identificar uma via e os seus elementos, a definição de sua velocidade máxima, os critérios para se classificar os veículos envolvidos em um acidente, a topografia dos veículos para a localização das sedes de impacto e os tipos de colisão mais comuns, passemos à definição dos vestígios relacionados aos acidentes de trânsito. FRENAGEM: consiste em marca pneumática impressa na superfície asfáltica, caracterizada pelo desprendimento de material dos pneumáticos devido ao aquecimento quando da aplicação dos freios no processo de parada dos veículos. Pode ocorrer em vias de terra batida, onde não se observa o desprendimento de material dos pneumáticos, mas fica evidente o revolvimento de terra no trecho em que o veículo percorreu no processo de desaceleração. Atualmente devido aos sistemas de freios do tipo ABS, a frenagem em superfície asfáltica, nos casos em que envolvem veículos com esses dispositivos não ficam tão evidentes. 29 DERRAPAGEM: consiste em marca pneumática impressa na superfície asfáltica, caracterizada pelo desprendimento de material dos pneumáticos devido ao aquecimento quando da aplicação dos freios no processo de parada dos veículos. A derrapagem se diferencia da frenagem pelo seguinte aspecto: quando da derrapagem o veículo se encontra sob ação de dois movimentos, sendo um na direção longitudinal da unidade veicular e outro movimento na direção transversal, o que resulta em movimento oblíquo. FRICÇÃO: a fricção se caracteriza por marcas de contato entre as partes metálicas de um veículo e uma superfície dura, asfalto ou concreto. SULCAGEM: a sulcagem é decorrente do contato violento entre as partes metálicas de uma unidade veicular e a superfície asfáltica ou de concreto, caracterizada pela retirada de parte da camada da superficial da pista. A sulcagem demarca na pista um sulco, bem característico o que a diferencia das marcas de fricção, pelo aspecto de sua maior violência no contato entre a unidade veicular e o trecho da via. FRAGMENTOS: peças desprendidas dos veículos quando de uma colisão. Diversos são os fragmentos encontrados em um local de acidente: fragmentos de vidro, partes de farol, para-choques, partes metálicas, fragmentos de partes plásticas entre outros. Definir as posições de tais fragmentos auxiliam na definição da trajetória dos veículos envolvidos, bem como são elementos que auxiliam no cálculo da velocidade dos veículos pela projeção dos fragmentos. LÍQUIDOS: após a colisão, devido aos danos, os veículos podem derramar óleo, combustível ou mesmo água, que ficam depositados na pista. Os vestígioscomo os líquidos auxiliam na definição da trajetória dos veículos envolvidos. MATERIAL ORGÂNICO: manchas de sangue, pêlos, desprendimento de pele e até mesmo ossos são encontrados em locais de acidentes de trânsito. Tais fragmentos, conforme os outros vestígios devem ser catalogados, identificados e localizados nos croquis quando do levantamento. Havendo necessidade, dependendo do tipo de acidente, tais vestígios devem ser coletados para posterior identificação da origem do material orgânico. 30 CARGAS: veículos que portam carga, após um acidente podem ter seu conteúdo espalhados pela pista ou ainda ter todo ou parte do conteúdo dentro do compartimento de carga. Em tais condições, a carga de um veículo é importante item de análise de um acidente, mas também deve ser elemento relevante quanto à segurança daqueles que estão envolvidos no levantamento do local. Cargas explosivas, tóxicas ou cargas instáveis são motivos para se redobrar os cuidados com a segurança. Cuidados que trataremos mais à frente. INVESTIGAÇÃO E LEVANTAMENTO DE LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO O local de acidente de trânsito possui diversas peculiaridades. O levantamento dos dados deve ser feito em uma sequência lógica que permita ao responsável pelo levantamento criar uma rotina de trabalho, objetivando que o levantamento seja feito no menor tempo possível e com melhor qualidade. A sequência a seguir é uma sugestão que se deve procurar seguir para que se evitem transtornos, aborrecimentos, esquecimentos ou perdas de informações durante o levantamento do local. ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO A equipe pericial, via de regra, chega ao local de acidente de trânsito depois que outras equipes policiais já chegaram ao local. Via de regra, primeiramente a Polícia Militar, em seguida equipes do Corpo de Bombeiros ou da Defesa Civil, posteriormente a Polícia Civil e por último a equipe da Perícia Oficial. Nas rodovias federais quem primeiro atende as ocorrências são os policiais rodoviários federais. Nessas condições é imprescindível primeiramente a preservação do local seguido de um bom isolamento. Preservar é manter o estado das coisas conforme foi encontrado. A simples presença da Polícia Civil ou Militar em um local de acidente de trânsito não é garantia da preservação do local. O trânsito de populares, a passagem de veículos, a parada de veículos com condutores curiosos na pista interferem 31 sobremaneira no local de acidente de trânsito, deslocando vestígios, apagando outros e criando também falsos vestígios, devido a sobreposição de marcas pneumáticos dos que passam pelo local. O responsável direto pela preservação do local é a autoridade policial (Delegado de Polícia) que deverá estar presente no local para que sejam feitas as devidas correções quanto ao isolamento. Antes do isolamento propriamente dito a viatura policial deve ser equipada com giroflex, pintada com faixas de tinta reflexiva. Deve estar equipada com cones, fitas zebradas, trenas, lanternas, inclinômetros e máquinas fotográficas para efetuar tal trabalho. Aconselhável também que o agente policial (investigador) esteja devidamente identificado no local com colete, portanto faixa reflexiva, indicando sua função e sua Delegacia de origem, uma vez que em locais dessa natureza há grande concentração de populares e o investigador pode ser confundido com aqueles, dificultando a comunicação entre os membros do local de acidente. Igualmente o Perito Criminal deve se identificar no local por meio de colete apropriado onde conste sua identificação e origem assim como faixas reflexivas. O isolamento do local de acidente de trânsito deve ser feito da seguinte forma: 1. Percorra toda a pista para que se possa observar a extensão do acidente. O isolamento do local não deve se concentrar apenas na região onde os veículos se encontram em repouso. 2. Caso se faça necessário posicione ou reposicione os cones de modo que a distância destes ao local do acidente permita que os veículos que transitem pela pista tenham condições de frear antes do local do acidente ou dele se desviar. O procedimento em questão deve ser praxe principalmente no período da noite quando as condições de visibilidade diminuem sensivelmente. Nas rodovias tal atenção deve ser redobrada, uma vez que os veículos trafegam com maior velocidade. Nos locais onde houver um fluxo muito grande de veículos se faz necessário pessoal de apoio (Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal ou Estadual) para o controle do trânsito evitando-se dessa forma novos acidentes. Em nenhum momento podemos nos esquecer que o perito de local concentra a atenção 32 no seu trabalho, o que por certo o deixa de certa forma desprotegido diante da possibilidade de novos acidentes em uma mesma via. 3. Fragmentos diversos, tais como partes de pára-choques, de faróis, de latarias, entre outros, devem ser deixados na pista do modo como foram encontrados, ou seja, o isolamento deve compreender também os fragmentos decorrentes do acidente. 4. Onde houver grande concentração de populares é aconselhável o uso de fitas zebradas para delimitar a área. Também nesses casos a presença de pessoal de apoio (PM, PRF e PRE) é de fundamental importância, ou seja, os policiais militares devem de preferência se manter no local durante os levantamentos. 5. Nos locais onde existir a possibilidade de se fazer desvio, tal procedimento dever ser adotado, pois diminuí o fluxo de veículos pelo local aumentando dessa forma a segurança durante o trabalho. 6. Importante item de segurança se relaciona às cargas dos veículos. Ao se aproximar de locais onde houver cargas voláteis ou inflamáveis a segurança deve ser redobrada. O levantamento só deve ter prosseguimento quando todas as condições de segurança forem asseguradas, como por exemplo: não se aproximar do local com cigarros, evitar inalar substâncias desconhecidas, evitar inalar fumaça, não percorrer o trecho do acidente transpondo escombros sem o devido calçado, evitar descer ribanceiras sem equipamentos adequados, evitar movimentar cargas que se encontram instáveis nos veículos. Quando se fizer necessário, deve-se acionar o Corpo de Bombeiros para movimento de cargas e proceder a limpeza do local. Tal procedimento é aconselhável também ao final dos levantamentos quando os fragmentos, deposição de óleos e combustíveis se encontram na pista sem sinalização. 7. Nos casos onde houver cadáver ou cadáveres, se faz necessário que se evite o trânsito de pessoas pelo local. O isolamento deve ser feito de tal modo que os populares e curiosos se encontrem o mais distante possível. 33 Nota: Nos casos em que houver vítima e que esta tenha sido removida do local, a autoridade policial ou investigador deverá indicar a posição em que se encontrava a vítima em relação ao veículo e em relação à via. Importante tópico a ser discutido se relaciona à Lei N° 5.970, de 11 de maio de 1973, que exclui da aplicação do disposto nos artigos 6º, inciso I, 64 e 169, do Código de Processo Penal, os casos de acidente de trânsito, e, dá outras providências: Art 1º Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local, a imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego. Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial lavrará boletim da ocorrência, nele consignado o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade. CRITÉRIOS PARA REQUISIÇÃO DE PERÍCIA Estabelecido o isolamento conforme seqüência acima, a autoridade policial procederá, caso necessário, a requisição de perícia parao local de acidente trânsito seguindo o seguinte critério: 1. Perícia de Acidentes com vítima fatal. Nos acidentes em que se observa a ocorrência de vítima fatal é indiscutível a necessidade da requisição para o referido local de acidente de trânsito. 2. Perícia de Acidentes com vítima - lesão grave. Definir ou determinar se uma vítima sofreu lesões graves ou leves não é tarefa das mais fáceis para a autoridade policial que se encontra no local de acidente de trânsito, posto que tal avaliação de forma regular deve ser feita por um médico. Acrescido das condições de tumulto, engarrafamentos e presença de populares e curiosos a decisão por acionar a Perícia Criminal Oficial fica apertada, associado ao fato de em muitos casos a vítima ter sido socorrida e ter sido levada para o pronto atendimento. Nessas condições, entendemos que a 34 autoridade policial tem como ferramenta as informações das condições da vítima pelo pessoal de atendimento direto, as informações do Pronto Socorro, associadas ao relato de testemunhas no local do acidente e o vulto do acidente de trânsito propriamente. Verificadas todas essas informações, que levam a crer que a vítima se encontra em condições grave, entendemos que a autoridade policial deve requisitar a perícia de trânsito. 3. Perícia de Acidentes envolvendo veículos viaturas oficiais. Os critérios de requisição de perícia onde se encontra envolvida viatura oficial é de conformidade a cada Estado, não existindo uma regulamentação geral. No Estado de Mato Grosso, conforme lei complementar estadual n° 210, de 12/05/2005: Art. 1° - A Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso ... tem as seguintes atribuições: inciso V realizar outras perícias ou serviços que necessitar a Administração Pública Estadual, no âmbito de ação da Perícia Oficial. Entendendo-se como viaturas oficiais os veículos identificados como sendo do Estado. Portanto, em Mato Grosso, a Perícia Criminal Oficial atende os acidentes de trânsito onde se encontram envolvidas as viaturas oficiais. Perícia de acidente de trânsito sem vítima, onde se encontra envolvida viatura oficial federal (União) é atribuição da Polícia Federal, conforme Art. 144, parágrafo 1°, inciso I da Constituição Federal que trata das atribuições da Polícia Federal: “apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas...”. Nos locais onde devido às circunstâncias se fez necessário retirar os veículos dos locais onde efetivamente ocorreu o acidente, o exame pericial de local acidente de trânsito já não se faz possível (local inidôneo). A autoridade policial nessas condições poderá requisitar: 4. Perícia de danos em veículo, caracterizando apenas crime contra o patrimônio. No entanto, caso se constate posteriormente que um local de acidente de trânsito, que foi desfeito, produziu vítima fatal ou com lesão grave, a 35 autoridade policial então poderá requisitar perícia oficial seguindo os seguintes critérios: 5. Perícia de danos, constando histórico do veículo e do acidente em questão, com quesitos orientando o exame, como por exemplo: - existe impregnação de tinta de coloração diversa no veículo objeto de perícia?; - existe impregnação de sangue, pêlos ou de pele no veículo? Caso exista, identificar sua origem, se humano ou animal; - o veículo apresenta danos característicos de colisão com outro veículo?; - o veículo apresenta danos característicos de ter atropelado corpo flácido?; - efetuar levantamento de impressões papiloscópicas nos casos em que o veículo foi encontrado abandonado após um acidente; - levantar condições do veículo para se averiguar se este sofreu modificações recentes em sua lataria, pintura, vidros e de outros elementos constituintes pertinentes. Os quesitos sugeridos acima são apenas para nortear as requisições, posto que é sabido que cada caso de acidente de trânsito oferece um histórico e evidentemente deve ser tratado de forma particularizada, ou seja, com quesitos que sejam pertinentes ao caso (ocorrência) em questão. Nos casos de acidentes de trânsito onde não houver necessidade de perícia oficial no levantamento do local, o boletim de ocorrência e o relatório final será executado pela autoridade policial. 36 VESTÍGIOS NO LOCAL DE ACIDENTE DE TRÂNSITO Os vestígios comumente encontrados em um local de acidente são os seguintes: marcas pneumáticas de frenagem: produzidas pelos veículos que se encontram com os pneumáticos travados. marcas pneumáticas de derrapagem: produzidas quando o veículo se desloca em processo de rodagem, mas em curva, com deslocamento transversal, normalmente são mais largas que os pneus e mais escuras. marcas pneumáticas por rolamento: o veículo por movimentação de terra, por impressão em terra mole, por deposição de algum material define sua trajetória. fragmentos: peças desprendidas dos veículos quando de uma colisão. fricções: quando do contato de peças metálicas retira superficialmente pequena camada da superfície pavimentada. sulcagens: quando do contato de peças metálicas retira profundamente camada da superfície pavimentada. líquidos: derramamento de óleo, combustível e água na pista. Material orgânico : pêlo, pele, sangue. Destacamos: mais importante que catalogar os vestígios em um local de acidente de trânsito é fazer a correlação desses vestígios entre os veículos envolvidos, com as vítimas e com a via. Por exemplo, é fundamental definir no local a que veículo pertence determinada frenagem, a que veículo pertence um fragmento de farol, ou ainda, qual dos veículos envolvidos em um acidente teve contato com este ou aquele obstáculo da via. Por óbvio, tais definições só podem ser feitas no local do acidente. Não pode um perito a partir de fotografias ou a partir de lembranças do local fazer ilações quanto à dinâmica de um acidente se não tem elementos comprobatórios para tal. O princípio físico da ação e da reação pode ser aqui utilizado para lembrar que aquele toca também é tocado, e que a busca por vestígios em local de acidente de trânsito deve ser feita norteada por esse princípio. 37 Sítio de colisão: Dentro desse conjunto de vestígios que podemos encontrar em um local de acidente de trânsito necessariamente devemos destacar o sítio de colisão. Consiste o sítio de colisão em área na pista de rolamento, ou mesmo fora dela, onde ocorreu o contato ou impacto entre dois veículos ou entre um veículo e um ou mais pedestres. O sitio de colisão é um vestígio secundário, ou seja, a sua determinação é feita a partir de outros vestígios. A área onde se constata desvio abrupto de marcas de frenagem, áreas onde se observa superposição de marcas de frenagem, presença de marcas de fricção e sulcagens concentradas juntamente com marca de frenagem possuem elementos que auxiliam na determinação de um sítio de colisão. Desaconselhamos o uso do termo ponto de colisão, uma vez que entendemos ser impossível demarcar na pista o exato ponto onde houve uma colisão, sendo então a nomenclatura sítio de colisão como sendo a mais adequada, por tratar a região como sendo uma área onde houve a colisão. Podendo ainda ser demarcada na pista uma área de colisão com seu respectivo ponto central. 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS A evolução histórica tem demonstrado a necessidade dos conhecimentos físicos relacionados com os AT, este vem se tornando cada vez mais complexo, desta forma, exigindo uma crescente especialização nesta área para soluções deste emergente problema. Os conhecimentos analisados mostraram de forma geral que cada AT exige um alto conhecimento de perícia física e cada caso específico depende de diversos fatores, entretanto existem algumas propriedadesfísicas que são comuns a todos. Observando os dados de mortes e lesões no trânsito no Brasil dos últimos 7 anos desta década (2011 até 2020), resta evidente que, apesar da redução do número de acidentes de trânsito, houve o esgotamento das ações implantadas entre 2011 e 2016 para a manutenção do ritmo mais acentuado de redução da letalidade no trânsito. Por isto é importante que os três setores da sociedade brasileira revisitem os manuais de boas práticas da Década para a Segurança no Trânsito, ONU, e estabeleçam ações que possam se somar àquelas já postas em prática, sem o quê não será possível, para a nação brasileira, o desejado alcance das metas de redução da violência no trânsito, estabelecidas conforme o PNATRANS. A PPLA - perícia preventiva de local de acidente, apresentada neste Artigo, a partir da identificação dos pontos com maior ocorrência de acidentes de trânsito, é potencialmente uma ferramenta eficaz, além de economicamente viável, para se somar às demais medidas implementadas, no intuito de contribuir para a redução dos índices de letalidade no trânsito. A Polícia Rodoviária Federal deve exercer papel de destaque na implantação, em todo o Brasil, da perícia de trânsito, nos seus aspectos preventivos (locais de grande incidência de acidente de trânsito) e reativos (local do acidente de trânsito com vítima), fomentando as mesmas boas práticas (perícia de trânsito) por parte dos diversos órgãos e entidades afetos ao trânsito e à segurança viária, notadamente nas polícias militares e guardas municipais. 39 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. L. Manual de Perícias em Acidentes de Trânsito. 2ª Edição. Jan. 2015. BASTOS, C. A. M.; PEREIRA, M. L. A. Perícia Preventiva de Local de Acidente: Uma ação inovadora e eficaz para a redução da letalidade no trânsito. In: II CISD Congresso Internacional de Segurança e Defesa, 2018, Salvador. Anais do II Congresso Internacional de Segurança e Defesa, 2018. v. 1. p. 1-33. CHAGAS, DM. Estudo sobre fatores contribuintes de acidentes de trânsito urbano. 2011. Dissertação de Mestrado em Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. CLP & Brasília Vida Segura, 2018. Disponível em: <http://www.clp.org.br/Show/CLP-e-parceiros-lancam-projeto-de-seguranca-viaria-- BrasiliaVida-Segura-?=CmsJw4q8DQni01D06Hg7/A CLP & Brasília Vida Segura, 2018. Disponível em: <http://www.clp.org.br/Show/CLP-e-parceiros-lancam-projeto-de-seguranca-viaria-- BrasiliaVida-Segura-?=CmsJw4q8DQni01D06Hg7/A CTB, Código de Trânsito Brasileiro, Brasília 1998. CTB, Código de Trânsito Brasileiro Lei n° 9503 de 23 de setembro de 1997. 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