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OBRIGAÇÃO NATURAL OBRIGAÇÃO MORAL ATOS UNILATERAIS

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DIREITO CIVIL II - OBRIGAÇÕES 
OBRIGAÇÃO NATURAL. OBRIGAÇÃO MORAL. ATOS UNILATERAIS 
 
1. Obrigação Civil 
 
Antes de definirmos tanto a obrigação natural quanto a moral, se faz necessário relembrar o vínculo jurídico estabelecido entre o devedor e o credor através da obrigação civil. 
 
Podemos definir que a obrigação civil é aquela que decorre de vínculo jurídico, de natureza patrimonial, estruturada no direito positivo, cuja prestação é exigível em caso de descumprimento. 
 
Obrigação civil ou perfeita é a espécie de obrigação que conjuga todos os elementos componentes da estrutura obrigacional (sujeitos, objeto e vínculo jurídico), sendo exígível em juízo em caso de inadimplência por parte do devedor. 
 
2. Obrigação Natural 
 
A obrigação natural ou imperfeita, por sua vez, é aquela que, embora originada de relação jurídica, encontra-se desprovida de exigibilidade, facultando ao devedor decidir pelo seu cumprimento ou não, não restando alternativa ao credor para exigir judicialmente. 
 
A Obrigação natural possui todos os elementos de uma relação obrigacional, mais é desprovida de responsabilidade (Debitum sem Obligatio).
 
A dívida natural é uma figura intermediária entre a obrigação moral e a civil: mais do que um dever moral e menos do que um dever jurídico. 
 
Se o devedor decidir cumprir espontaneamente a obrigação judicialmente inexigível, o credor não estará obrigado à repetição do indébito, isto é, ao pedido do devedor para que faça a devolução da importância paga, caso se encontre arrependido e a solicite, em razão do princípio do soluti retentio. 
Do mesmo modo, não se pode recobrar valor voluntariamente pago em razão de dívida de jogo ou aposta, salvo provando que o credor (ganhador) agiu dolosamente ou se o devedor (perdente) é menor ou interdito. 
(CC, Art. 814). As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. 
(CC, Art. 882). Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível. 
São exemplos de dívidas naturais as decorrentes de jogo ou aposta ou relativas às prestações prescritas, dívidas quirografárias (sem garantias) inferiores a 50%, após encerramento do processo de falência (Lei 11.101/2005, art. 158). 
 
3. Obrigação Moral 
 
A obrigação moral constitui mero dever de consciência, não possuindo nenhum dos elementos da relação jurídica obrigacional, sendo cumprida apenas por questão de princípios. 
 
O seu cumprimento é um ato de mera liberalidade da pessoa que se sentir obrigada, já que inexiste débito e responsabilidade. 
 
Todavia, o dever moral, embora não constitua um vínculo jurídico, não deve permanecer totalmente alheio ao Direito, de modo que quem a cumpriu não terá direito de reclamar restituição (soluti retentio), alegando que não estava obrigado ao seu adimplemento. 
 
Podemos exemplificar como obrigações morais a doação cesta básica às pessoas carentes, o pagamento de pensão alimentícia a um sobrinho (o art. 1697 do Código Civil estabelece obrigações de prestar alimentos entre descendentes, ascendentes e irmãos), dízimo, doação a partidos políticos ou a candidatos, etc. Na confundir com às contribuições a sindicatos, partidos políticos, associações, por força de filiação – enquanto durar o vínculo – que são obrigações civis (jurídicas).
 
4. Atos Unilaterais 
 
A declaração unilateral de vontade é uma das fontes das obrigações resultantes da vontade de uma só pessoa, formando-se a partir do instante em que o agente se manifesta com intenção de se obrigar, independentemente da existência ou não de uma relação creditória, que poderá surgir posteriormente, desde que o declarante a emita com intenção de obrigar-se, e desde que chegue ao conhecimento da pessoa a quem se dirige, e seja esta determinada ou pelo menos determinável. 
 
O Código Civil regulamenta quatros tipos de atos unilaterais: 
i) Promessa de Recompensa (arts. 854 a 860);
ii) Gestão de Negócios (arts. 861 a 875);
iii) Pagamento Indevido (arts. 876 a 883);
iv) Enriquecimento sem Causa (arts. 884 a 886).
5. Promessa de Recompensa
 
A promessa de recompensa é a declaração de vontade, feita mediante anúncio público, (rádio, televisão, jornal, revista, cartaz, rede social, etc) pela qual alguém de obriga a gratificar quem se encontra em certa situação ou a praticar determinado ato, independentemente do consentimento do eventual credor, mas os efeitos da promessa de recompensa se darão no momento em que forem cumpridas às condições de sua exigibilidade. (CC, art. 854). 
 
Como todo ato jurídico, é necessário observar o preenchimento dos seguintes requisitos: i) Capacidade do promitente (CC, art, 104, I); ii) Licitude e possibilidade do objeto; iii) Publicidade da Promessa. 
 
Os efeitos da promessa de recompensa se dão no instante em que o promitente realiza a promessa de oferta ao publico. A partir dai o credor que satisfazer ou realizar as condições exigidas terá o direito a recompensa (CC, art. 855). 
 
Caso haja pluralidades de credores na concorrência da recompensa, o primeiro que executar a tarefa será recompensado (CC, art. 857). Se houver execução simultânea, cada credor terá direito ao seu quinhão igual na recompensa, mas, sendo esta indivisível, a sorte decidirá o premiado (CC, art. 858). 
 
É possível a revogabilidade da promessa, desde que pelos mesmos meios de publicidade utilizada na oferta e antes dos serviços prestados ou preenchida as condições. 
 
Se houver fixado prazo à execução da tarefa entender-se-á que renuncia o arbítrio de retirar, durante ele, a oferta (CC, art. 856). 
 
Com a revogabilidade da oferta o promitente se isenta de qualquer responsabilidade ou pretensões de indenizações por quem tenha efetuado a tarefa, mas o candidato de boa fé terá direito à reembolso. 
 
A obrigatoriedade da oferta se estende aos herdeiros se o promitente falecer ou se tornar incapaz, cabendo a estes revogá-la por meios públicos se lhes for conveniente. 
 
6. Gestão de Negócios 
 
A gestão de negócios é a intervenção, não autorizada, de uma pessoa (gestor de negócio) na direção dos negócios de uma outra (dono do negócio), feita segundo o interesse, a vontade presumível e por conta desta última. 
 
O Código Civil, no disposto do art. 861, in verbis: 
 
(CC, Art. 861. Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar. 
 
É possível aferir da redação do dispositivo a ausência de acordo de vontades, mas de uma intervenção oficiosa de um gestor de negócio alheio, que age conforme uma vontade presumível do dono, cuja responsabilidade perante a este e outrem, lhe recai. 
 
Para que se configure a gestão de negócios, são imprescindíveis os seguintes requisitos: i) ausência de acordo ou obrigação legal a respeito do negócio gerido, uma vez que o instituto caracteriza-se por voluntariedade, interferência espontânea no negócio alheio; ii) inexistência de proibição ou oposição do dono, pois a gerência do negócio pelo gestor é presumida conforme a vontade do dono; 
 
iii) Vontade do gestor em gerir negócio alheio, não tendo a intenção de pura liberalidade entre as partes; iv) Necessidade de gerir, pois a intervenção de terceiro em negócio alheio deve ser uma necessidade e não mera utilidade, devendo também ser proveitosa e de seu interesse (o gestor deve realizar o que o dono faria se não estivesse ausente); v) Licitude e fungibilidade do objeto de negócios, não contrário a lei e suscetível de realização por um terceiro; vi) Atos de natureza patrimonial, uma vez que os atos do gestor não de mera administração. 
 
O gestor deve agir com zelo e diligência, tentando fazer o melhor, podendo ser reembolsado das despesas feitas na administração da coisa alheia, reaver importâncias pagas com despesas de enterro, bem como restituição doque gastou com alimentos devidos a uma pessoa, na ausência do obrigado a prestá-los. 
 
7. Títulos de Crédito 
 
Título de Crédito é um documento formal, representativo de dívida líquida e certa, com força executiva, de circulação desvinculada do negócio original. 
 
(CC, Art. 887). O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
 
Além das regras gerais estabelecidas pelo Código Civil (arts. 887 a 926), existem regras específicas, a exemplo da Convenção de Genebra (Deecreto 57.363/1966), da Lei da Duplicata (Lei 5.474/1968) e Lei do Cheque (Lei 7.357/1985). Duplicada (Lei 5.474/1968). 
 
Não obstante a natureza empresarial dos títulos de crédito, estes são largamente utilizados nas negociações de natureza civil, em perfeita consonância com as regras do Direito das Obrigações. Ainda que haja a participação de várias pessoas (emitente, avalista e endossante), podemos classificar os títulos de crédito como espécies de atos unilaterais, em razão da autonomia entre os intervenientes, pois cada um responde pela consignação de sua assinatura no instrumento creditício.

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