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TURMA 109 UFMA quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 Complicações Agudas da Diabetes Hipoglicemia • Importante causa de morbidade e potencial causa de mortalidade - 2–4% das mortes associadas ao diabetes tipo 1 • Nível plasmático de glicose < 45–50 mg/dL - Limiares de glicose e sintomatologia variam amplamente - Na prática clínica, considera-se hipoglicemia uma glicemia capilar < 70 mg/dL (quando a maior parte dos indivíduos é sintomático) • Fatores associados: - Hiperinsulinismo absoluto ou relativo — álcool, atividade física (diminui a necessidade de insulina devido ao consumo de glicose), iatrogenia (erro na dose de insulina aplicada) - Insuficiência autonômica (redução de sintomas, defeitos contrarregulatórios) — e.g. neuropatia diabética - Doença renal crônica (DRC) — o rim do paciente renal crônico deixa de produzir glicose a partir de substratos não glicídicos (gliconeogênese renal) ↳ Função renal reduzida — ↓clearance renal da insulina (↓ação das insulinases — enzimas que degradam a insulina) - Álcool — bloqueio da gliconeogênese hepática • TRÍADE DE WHIPPLE — características que definem uma crise de hipoglicemia - Sintomas compatíveis - Glicemia baixa - Alívio dos sintomas após aumento da glicemia • Sinais e sintomas de hipoglicemia: • Sintomas autonômicos — sintomas de alarde de hipoglicemia - Níveis de glicose < 70 mg/dL - Relacionado à liberação de adrenalina e acetilcolina • Fase neuroglicopênica — surgem com a queda mais acentuada da glicose - Sofrimento neuronal por deprivação de glicose • A hipoglicemia também pode ser classificada em estágios, sendo um deles o de hipoglicemia grave — quando o paciente não consegue sair da crise sem ajuda de terceiros • Tratamento: - Paciente consciente e com condições de deglutição: Alimento contendo carboidrato de rápida absorção ↳ “Regra dos 15/15” — paciente ingere 15g de carboidrato, espera 15 minutos e repete a glicemia e, se ainda estiver baixa, repete-se o protocolo - Paciente inconsciente e/ou sem condições de deglutição: Glicose parenteral (glucagon 1 mg/mL) ↳ GlucaGen Hypokit® de 1 5 MARIA FERNANDA DANTAS E AMANDA CAMPOS Endocrinologia quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 • Autonômicos - Taquicardia - Sudorese - Fome - Nervosismo - Cefaleia - Tremores - Tonteira • Neurogênicos - Visão turva - Fadiga - Dificuldade de raciocínio - Perda de controle motor - Agressividade - Convulsão - Perda de consciência TURMA 109 UFMA quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 Hiperglicemia (CAD) • Cetoacidose diabética — mais comum na DM1 - Deficiência absoluta de insulina e excesso de hormônios contrarreguladores (glucagon, cortisol e catecolaminas) - Achados: • Fatores precipitantes: - Estresses fisiológicos — infecção aguda (especialmente pneumonia e ITU), IAM, AVE, pancreatite, trauma - Fármacos — corticoides, diuréticos tiazídicos, inibidores do SGLT2, simpaticomiméticos • Fisiopatologia: a) Como a insulina é um hormônio anabólico, sua deficiência favorece processos catabólicos, como lipólise, proteólise e glicogenólise b) O organismo passa a metabolizar triglicerídeos e aminoácidos em vez de glicose para produzir energia c) A lipólise gera liberação de ácidos graxos livres (AGL) e glicerol d) Glicerol e alanina fornecem substrato para a gliconeogênese hepática (que é estimulada pelo excesso de glucagon que acompanha a insuficiência de insulina) e) O glucagon também estimula a conversão mitocondrial de ácidos graxos livres em cetonas (cetogênese) f) A insulina normalmente bloqueia a cetogênese pela inibição do transporte de derivados de AGL na matriz mitocondrial g) Os principais cetoácidos produzidos, os ácidos acetoacético e β-hidroxibutírico, são ácidos orgânicos fortes que causam acidose metabólica h) Acetona derivada do ácido acetoacético acumula-se no sangue e é eliminada lentamente pela respiração (hálito cetônico) i) A hiperglicemia causada pela deficiência de insulina causa diurese osmótica que provoca perda significativa de água e eletrólitos na urina j) A excreção urinária de cetonas causa necessariamente perdas adicionais de sódio e potássio k) O sódio sérico pode cair em razão da natriurese ou aumentar em virtude da excreção de grandes volumes de água livre l) Ocorre também perda de potássio em grandes quantidades m) Apesar do deficit significativo de potássio corporal total, no início, o potássio sérico inicial está normal ou elevado, devido à migração extracelular do potássio em resposta à acidose n) As concentrações de potássio geralmente caem mais durante o tratamento, à medida que o tratamento com insulina leva o potássio para o interior das células o) Se o potássio sérico não for monitorado e reposto quando necessário, pode haver hipopotassemia potencialmente fatal Hiperglicemia (EHH) • Estado hiperosmolar hiperglicêmico — mais comum na DM2 - Deficiência relativa de insulina — comprometimento da capacidade de cetogênese (exige diminuição significativa dos níveis de insulina) - Achados: • Ocorre após um período de hiperglicemia sintomática com baixa ingestão de líquidos para evitar a desidratação extrema decorrente da diurese osmótica induzida pela hiperglicemia - Mais comum em idosos, devido à baixa percepção da sede e consequente ingesta hídrica insuficiente • Fatores precipitantes: - Infecções graves e outras condições médicas - Fármacos que aumentem a perda de líquidos (diuréticos) ou prejudicam a tolerância à glicose (glicocorticoides) ↳ Hiperglicemia ↳ Acidose metabólica ↳ Cetogênese (formação de corpos cetônicos) ↳ Hiperglicemia ↳ Hiperosmolaridade ↳ Confusão ↳ Desidratação extrema ↳ Ausência de cetose ou cetose pouco pronunciada de 2 5 MARIA FERNANDA DANTAS E AMANDA CAMPOS TURMA 109 UFMA quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 Principais fatores precipitantes • Infecções, especialmente pneumonias e ITU, ou condições agudas, como IAM, AVE, pancreatite, traumas, etc • Insulinoterapia inadequada ou omissão da insulinoterapia • Problemas na bomba de insulina • Fármacos — corticoides, diuréticos, antipsicóticos atípicos • Desconhecimento prévio do DM • Gestação, abuso de substâncias e transtornos alimentares Critérios diagnósticos • Verificar se há acidose com ânion GAP aumentado limita as possibilidades diagnósticas frente à acidose metabólica Características clínicas • Respiração de Kussmaul — tentativa do organismo de normalizar o pH, retirando o CO2 da circulação e gerando uma alcalose respiratória para equilibrar a acidose metabólica • Deficiência absoluta de glicemia — liberação de AGL (substrato para produção de cetoânion) e glicerol (substrato para produção de glicose) — produção de prostaglandinas (causam sensação de mal estar, vasodilatação e dor abdominal) - Padrão de alteração no hemograma: Leucocitose com desvio à esquerda, predomínio de neutrófilos (idêntico à apendicite aguda) — sempre checar o valor de glicose Cetoacidose diabética Estado hiperosmolar hiperglicêmico Glicemia > 250 > 600 pH arterial < 7,3 > 7,3 Cetonúria Positiva Negativa/fraca Cetonemia Positiva Negativa/fraca Osmolaridade < 320 > 320 Ânion GAP > 10 Variável Nível de consciência Variável Estupor ou coma Cetoacidose diabética Estado hiperosmolar hiperglicêmico Faixa etáriaPopulação mais jovem (crianças e adolescentes) População mais idosa (geralmente > 50 anos) Instalação Rápida (horas) Progressiva (dias) Sintomas “Polis” Pode haver RNC “Polis” RNC é a regra Sinais – Hálito cetônico – Taquipneia – Respiração de Kussmaul Profunda desidratação Peculiaridades – Náuseas, vômitos – Dor abdominal Dificuldade ao acesso de água de 3 5 MARIA FERNANDA DANTAS E AMANDA CAMPOS TURMA 109 UFMA quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 Exames iniciais Diagnósticos diferenciais • Cetoacidose — por inanição ou alcoólica • Acidose com ânion gap elevado: - Lática — e.g. usuários de metformina, maratonistas - Intoxicação — especialmente por salicilato (AAS) ou metanol • Dor abdominal — causas de abdome agudo (pancreatite, apendicite, diverticulite, etc) • Rebaixamento do nível de consciência — AVE, meningites, traumas, etc Tratamento • Identificar fatores precipitantes para tratar a causa do problema (e.g. suspender ou substituir medicamentos) • O que causa da morte é o distúrbio hidroeletrolítico: Hidratação (↓glicemia ↓osmolaridade sérica) • Na cetoacidose, o K+ (íon predominantemente intracelular) tende a sair da célula e ser perdido na diurese osmótica • Em situações de potássio elevado, pode-se fazer tratamento com glicoinsulinoterapia — shift de potássio ↳ Calemia cai abruptamente — paciente pode entrar em assistolia e vir a óbito (deve-se checar o valor de potássio antes de iniciar a insulinoterapia) • Em casos específicos de acidose metabólica grave, pode-se usar o bicarbonato 1. Hidratação • Objetivo: Expansão extracelular, melhora da perfusão tecidual restauração do volume intravascular, ↓glicemia, ↓hormônios contrarreguladores • Fase III (fase posterior, quando a glicose começa a cair): Reposição do soro glicosado — evitar que a glicemia reduza muito antes da reversão do distúrbio hidroeletrolítico 2. Potássio • Embora o potássio sérico esteja geralmente normal ou aumentado nas emergências hiperglicêmicas, elas cursam com déficit corporal de potássio, que é perdido através da urina 3. Insulina • Por que não administrar uma dose maior para promover uma queda mais rápida? - Essa conduta predispõe o paciente a um edema cerebral FASE I (expansão rápida) Soro 0,9% 1000 mL/h (15—20 mL/kg/h) Corrigir a hipotensão ou choque (podem ser necessários vários litros de soro) FASE II (manutenção) Soro 0,9% ou 0,45% 250–500 mL/h (4—14 mL/kg/h) Na+ sérico < 135 mEq/L = Soro 0,9% Na+ sérico 2 135 mEq/L = Soro 0,45% FASE III (evitar hipoglicemia) Soro 0,45% + glicose 5% ou 10% (4—14 mL/kg/h) Preparo: 22 ml de NaCl 20% em 1 litro de SG 5% ou 10% Iniciar quando a glicemia atingir 250—300 mg/dL K+ < 3,3 mEq/L Repor potássio e NÃO iniciar insulinoterapia Repor 20 a 30 mEq de K+ em 1 litro de soro em 1 hora Só iniciar insulinoterapia quando K+ ≥ 3,3 mEq/L K+ 3,3–5,0 mEq/L Iniciar insulinoterapia e solução de potássio Repor 20 a 30 mEq de K+ em cada litro de soro infundido Dosagem sérica de 2/2 a 4/4 horas K+ > 5,0 mEq/L Iniciar insulinoterapia e NÃO repor potássio Dosagem sérica de 2/2 a 4/4 horas Só iniciar a reposição quando K+ ≤ 5,0 mEq/L de 4 5 MARIA FERNANDA DANTAS E AMANDA CAMPOS • Gasometria arterial • Hemograma • Urina tipo 1 • Cetonemia ou cetonúria • Eletrólitos — K+, Na+, Cl—, Mg2+ e P • Radiografia de tórax • Outros — ECG, culturas, TC de crânio, amilase, lipase, enzimas hepáticas, beta HCG TURMA 109 UFMA quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 • Soro glicosado para manter a glicemia entre 150 e 200 mg/dL • Mantém-se a insulina — responsável pela correção do distúrbio do potássio e diminuição das concentrações de glicose — para reverter o distúrbio hidroeletrolítico • Iniciar insulina basal e prandial subcutânea no mínimo 1 hora antes de desligar a BIC (bomba de infusão contínua) 4. Bicarbonato • A reposição de bicarbonato de sódio raramente é necessária e só está indicada na cetoacidose diabética com pH < 7,0 — pode aumentar a chance de edema cerebral (alcalose refratária) CAD leve a moderada — insulina SC • Nesses casos, é possível (se o potássio estiver normal), fazer uso da insulina subcutânea Complicações 1. Quando a hiperosmolaridade se instala de forma lenta, os neurônios conseguem se proteger do edema acumulando solutos de modo a equilibrar sua osmolaridade — se a hiposmolaridade for corrigida rapidamente o líquido extracelular (LEC) ficará hipoosmolar em relação ao neurônio provocando crenação neuronal 2. Uso de bicarbonato — Na2HCO3 reage com os prótons, gerando água e CO2, que se difunde com facilidade para o SNC — o acúmulo de CO2 no SNC gera uma acidose paradoxal (causa de vasodilatação e maior chance de evolução para edema cerebral) Pontos importantes: pH ≥ 6,9 e < 7,0 Na2HCO3 a 8,4% 50mL* + água destilada 50ml IV em 1h Medir o pH arterial após a infusão Manter reposição até obter pH ≥ 7,0 pH < 6,9 Na2HCO3 a 8,4% 100mL* + água destilada 400mL IV em 2h Medir o pH arterial após a infusão Manter reposição até obter pH ≥ 7,0 *1 ml de Na2HCO3 a 8,4% = 1 mEq de Na2HCO3 CAD LEVE CAD MODERADA CAD GRAVE pH arterial 7,25 – 7,3 7,0 – 7,24 < 7,0 HCO3— (mEq/L) 15 – 18 10 – 14,9 < 10 PROTOCOLO 1 (Insulina SC) • Sob glicemia > 250 mg/dL: Insulina UR (lispro/asparte) dose de ataque 0,3 U/kg, seguida por 0,1 U/kg a cada 1h • Quando glicemia ≤ 250 mg/dL: Insulina UR 0,05 U/kg a cada 1h* PROTOCOLO 2 (Insulina SC) • Sob glicemia > 250 mg/dL: Insulina UR (lispro/asparte) dose de ataque 0,3 U/kg, seguida por 0,2 U/kg após 1h e a cada 2h • Quando glicemia ≤ 250 mg/dL: Insulina UR 0,1 U/kg a cada 2h* *Mudar para soro 0,45% + 5% de glicose para manutenção da glicemia ≈ 200 mg/dl até a resolução da CAD ‣ CAD e EHH são duas graves complicações do diabetes ‣ Deve-se sempre buscar e tratar o fator para a descompensação ‣ Hidratação, passo inicial e mais importante no tratamento, seguido de gasometria, eletrólitos e fator precipitante ‣ Infusão de insulina — deve ser orientada pela calemia e glicemia ‣ Bicarbonato — indicado apenas em situações especiais ‣ A hiperglicemia é mais facilmente corrigida do que a cetoacidose: Isso implica em cuidados durante e no momento da interrupção do manejo das emergências hiperglicêmicas de 5 5 MARIA FERNANDA DANTAS E AMANDA CAMPOS • Hipoglicemia (principal) • Hipocalemia • Embolia pulmonar • Acidose paradoxal • Edema cerebral (raro): • Congestão pulmonar • Dilatação gástrica aguda • Mucormicose rinocerebral • SARA
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