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CADERNO DE DIREITO PENAL IV

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DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
 
É sabido que em um Estado Democrático de Direito, a intervenção estatal na vida das 
pessoas deve ser, sempre, racionalmente justificada. Isto é, a atuação do ente público 
deve ser pautada pela necessidade. Dessa forma, o direito penal, medida estatal mais 
extrema de resolução de conflitos, deve ser utilizada apenas para a tutela dos bens 
juridicamente relevantes, tais como a dignidade. 
 
Dessa forma, foi feito uma reforma no título “crimes contra os costumes”, 
proporcionado pela Lei 12.015/2009, pois não há como usar o Direito Penal para 
defender costumes e tradições, já que estes estão relacionados as opções 
comportamentais ligadas á intimidade, mas sim para proteger bens jurídicos de lesões 
diretas. Assim, delimitou-se o elemento do bem jurídico para a dignidade sexual. 
 
A LIBERDADE COMO BEM JURÍDICO PENALMENTE TUTELADO 
 
A liberdade sexual é menor do que a dignidade e diz respeito a capacidade de decidir 
livremente sobre os comportamentos sexuais, isto é, a disponibilidade do próprio 
corpo para fins sexuais. Assim, o objetivo da proteção penal é o de conservar em 
poder do indivíduo não vulnerável a faculdade de decidir, no campo da manifestação 
e do exercício da sexualidade, acerca do que se fazer, com quem, de que modo e 
quando se quer fazê-lo. Exemplo disso são os crimes dos artigos 213, 215 e 215-A, 
pois não houve consentimento ou, se pelo menos, não foi livre e consciente. 
 
ARTIGO 213: ESTUPRO 
 
 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV – AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 
 
 
AMANDA MOULIN 2 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 BEM JURIDICAMENTE TUTELADO: liberdade sexual. Na prática do delito, não 
foi dado a vítima a oportunidade de escolher livremente como, quando e com quem 
seriam praticados os atos de cunho sexual. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: o tipo penal não faz exigência quanto a qualquer 
característica ou atributo pessoal do agente ou da vítima, que apenas não pode 
ser vulnerável. Trata-se, então, de um crime comum. Pode ser cometido por 
qualquer pessoa, sendo absolutamente indiferente o sexo ou a orientação sexual 
dos agentes ativo e passivo. Ressalta-se que não existe estupro de cadáver (artigo 
212, CP) nem de animais (artigo 32, Lei 9605/98). 
 
 TIPO OBJETIVO: constrangem alguém mediante violência ou grave ameaça a ter 
conjunção carnal. 
 
 Constranger: verbo do tipo penal que significa forçar ou obrigar. Só é possível 
qualificar um crime de estupro se ficar comprovado o manifesto claro de dissenso 
da vítima, ou seja, a recusa expressa. Difere-se do conceito popular de mero 
desconforto, motivo pelo qual o caso da ejaculação no ônibus, por exemplo, não é 
configurado como estupro. Ressalta-se que é um delito material, isto é, se 
aperfeiçoa com a realização da conduta esperada. 
 
 Mediante violência: o estupro é um crime naturalmente violento e, embora não seja 
obrigatório o emprego desse modus operandi, quase sempre é uma realidade. 
Dessa forma, quanto as lesões corporais leves, como os arranhões e pequenos 
cortes, entende-se que estão compreendidas pelo tipo e são esperáveis, já 
observadas na fixação da pena abstrata. Contudo, é necessário frisar que apenas 
são absorvidas as lesões ocasionadas antes ou durante o estupro, após o fim do 
ato sexual haverá concurso. Por sua vez, se o uso da violência acarretar na 
causação de lesões graves ou na morte da vítima, será preciso analisar o animus 
do agente. O fato pode constituir estupro qualificado pelo resultado (artigo 213, 
§§1º ou 2º) ou concurso de crimes. 
 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 3 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Mediante grave ameaça: é uma coação de cunho moral, que atua sobre a psique 
da vítima de modo a incutir-lhe fundado medo de mal grave. É a promessa de um 
mal a pessoa ou a terceiro próximo a ela capaz de amedrontar de fato o 
destinatário. Pressupõe o domínio do agente sobre a vítima e para ser 
caracterizada como grave deve ser do mesmo nível do crime ou maior, recaindo 
sobre a vida, integridade física e a liberdade, não excluindo outros casos que 
podem ser aceitos mediante argumentação. 
 
 A ter conjunção carnal: em nossa cultura jurídica, a expressão conjunção carnal 
designa única e exclusivamente, a cópula vagínica ou coito vaginal. Corresponde, 
somente, à introdução, completa ou incompleta, do órgão sexual masculino na 
cavidade vaginal. Nessa parte se exige a heterossexualidade. 
 
 A praticar outro ato libidinoso: esse termo gera dúvidas quando diante do princípio 
da legalidade. A primeira maneira de se interpretar é a literal, segundo a qual o ato 
libidinoso é aquele que vem do desejo sexual ou por ele movido, mas foi superada 
pois o foco não é a excitação do agente e sim a violação da liberdade sexual da 
vítima. Assim, para evitar impunidade, adotou-se a interpretação teleológica, 
sendo ato libidinoso aquele que possui sentido reconhecidamente sexual segundo 
os padrões culturais socialmente dominantes, enquadrando-se, em termos de 
gravidade, à própria conjunção carnal. 
 
Dessa forma, o melhor entendimento é o de que será caracterizado como estupro 
as macroviolações, isto é, todas as formas de coito real (vaginal, oral e anal) ou 
artificial (introdução de objetos na vagina e anus), pois estes são atos mais sérios 
e proporcionais à sanção do crime. Sendo assim, as microviolações (beijo de 
língua e toques passageiros) representariam a importunação sexual, já que são 
violações de menor relevância. 
 
Observação: no estupro não é necessário que tenha um contato sexual direto com 
a vítima, podendo forçá-la a ter com outrem ou com si própria, desde que seu corpo 
entre em jogo de alguma forma, não sendo meramente visual. 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 4 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 TIPO PENAL MISTO ALTERNATIVO: é um crime de ação múltipla ou conteúdo 
variado, de modo que a prática de qualquer dos verbos consuma a infração, sendo 
a realização simultânea ou consecutiva de mais de um desses núcleos um fator 
que, em vez de gerar o tradicional concurso de crimes, somente pode ser levado 
em consideração para fins de dosimetria. Contudo, se tiver um intervalo de tempo 
significante, haverá concurso de crimes. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: o estupro só pode ser cometido com dolo. Não cabe modalidade culposa, 
por ausência de previsão. Isso significa que é preciso estar caracterizado a 
vontade e consciência do agente quanto à natureza sexual do ato e o dissenso da 
vítima. O equívoco do agente em relação a qualquer desses dois aspectos 
configura o erro de tipo (artigo 20, caput, CP). 
 
 Inexistência de um elemento subjetivo especial do tipo (E.S.E.T): é uma finalidade 
específica que, explícita ou implicitamente inserta no tipo penal, deve orientar a 
conduta, no momento da sua execução, para que se verifique a adequação típica. 
É o chamado especial fim de agir. Todavia, esse requisito foi superado pela 
interpretação teleológica, pois é irrelevante que o agente esteja sexualmente 
estimulado, podendo caracterizar estupro a conduta realizada por vingança, por 
exemplo. 
 
 ESTUPRO X SEQUESTRO: não há como estuprar uma pessoa sem pelo menos 
momentaneamente restringir sua liberdade. Assim, se essa restrição for apenas 
necessária para consumar o crime de estupro, o agente não será punido por 
concurso de crimes. Contudo, se o sujeito mantiver a vítima em um local por um 
tempo maior do que o necessário para cometer o estupro, haverá concurso de 
crimes (exemplo: prende uma pessoa de manhã e só a estupra à noite). 
 
 CONSUMAÇÃO: com a prática do primeiro ato sexual (seja ele a conjunção carnal 
ou outro ato libidinoso relevante) com a vítima, pela vítima ou sobre a vítima. O 
 
 
 
AMANDA MOULIN 5 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1)aspecto da relevância é fundamental pois, se entender que o ato libidinoso é 
relevante, o crime está consumado. 
 
 TENTATIVA: é difícil de se configurar, pois qualquer ato relevante praticado já 
consuma o crime. Ocorre quando se tem o início da execução, em que ocorrerá o 
uso da violência ou da grave ameaça, porém a sua continuação é impedida por 
alguma razão. Exemplo: sujeito agride a menina e a arrasta para o beco, mas 
enquanto se despe algum popular a ajuda. 
 
 CONCURSO DE PESSOAS: para ser concurso de pessoas é preciso que a 
segunda saiba do estupro. Exemplo: se o cafetão obrigar a prostituta a transar com 
o cliente e ele não souber que ela não quer fazer o programa ele não responde por 
nada, mas caso tenha essa consciência responderá por estupro em concurso de 
pessoas. 
 
 MODALIDADES QUALIFICADAS: 
 
 Vítima maior de 14 anos e menor de 18 (artigo 213, §1º, CP): a justificativa 
dessa qualificadora está no fato de que, nessa idade, as pessoas ainda estão 
construindo e definindo sua personalidade, além de terem menos capacidade para 
se defender, o que faz com que os traumas psicológicos sejam maiores. Para isso, 
obviamente é preciso que o agente tenha ciência a respeito da idade da vítima, 
sob pena de desclassificação por erro de tipo. 
 
Observação: há um erro de redação no artigo que faz com que a pena para 
estuprar uma adolescente de 17 anos seja maior do que a de estuprar uma de 14 
anos exatos. Isso porque não se enquadra no estupro de vulnerável (menor de 14 
anos), tampouco na qualificadora em questão (maior de 14 anos), motivo pelo qual 
deve ser tipificada pelo caput. Embora seja um absurdo, não se pode fazer uma 
analogia em prejuízo do réu, conforme dispõe o princípio da legalidade. 
 
 Quando a conduta resulta lesão corporal grave (artigo 213, §1º, CP): é sabido 
que a lesão corporal de natureza leve é comum para a prática do delito em 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
questão, restando absorvida pelo crime. Porém, quando o sujeito não almejou o 
resultado mais gravoso, tendo dolo no antecedente (conduta) e culpa no 
consequente (resultado), este será um crime preterdoloso, aplicando-se a 
qualificadora. Se o resultado era pretendido pelo agente ou este assumiu o risco, 
a solução deve passar pelo concurso de delitos. 
 
 Quando a conduta resulta em morte (artigo 213, §2º, CP): a morte deve ser um 
evento não perseguido e não assumido pelo agente, mas ocasionado 
culposamente pelo emprego exagerado ou mal calculado da violência no contexto 
da agressão sexual. 
 
 QUESTÃO: e se o sujeito começa a ter atitudes com a intenção do ato sexual, mas 
mata a vítima antes de estuprá-la propriamente? 
 
o Primeira corrente (artigo 213, §2º, CP): é o posicionamento majoritário. Crime 
preterdoloso não admite tentativa (o agente não tinha intenção na morte, apenas 
no estupro), então mesmo que o estupro não tenha propriamente se consumado, 
o crime se exaure com a morte da vítima, pois os atos foram praticados com a 
finalidade de estupra-la, caracterizando o estupro qualificado. 
 
o Segunda corrente (artigo 213, §2º c/c artigo 14, II, CP): defendida pelo Rogério 
Greco. Embora os crimes preterdolosos não aceitem tentativa, a solução dada pela 
corrente majoritária é injusta, tratando a situação como se o sujeito tivesse 
estuprado a vítima quando, na verdade, isso não ocorreu. Abre-se mão da parte 
técnica para alcançar uma pena que é mais adequada para a conduta praticada 
pelo sujeito. 
 
o Terceira corrente (artigo 213, caput c/c artigo 14, II, CP c/c artigo 121, §3º, CP): é 
a ideia defendida por Busato. Trabalha com a ideia de desmembramento das 
condutas, separando o crime complexo para não ter uma pena injusta e não ficar 
com defeito técnico. Pune exclusivamente a tentativa de estupro (simples) em 
concurso material com o homicídio culposo. 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 7 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
o Quarta corrente (artigo 213, caput c/c artigo 14, II, CP): é a do professor. Trabalha 
com a ideia de desmembramento das condutas, separando o crime complexo para 
não ter uma pena injusta e não ficar com defeito técnico. Defende que seria um 
concurso material imperfeito, uma vez que há desígnios autônomos para cada fato, 
apesar de apenas uma conduta. Como no estupro tem violência, mesmo que o 
agente não tenha a vontade de matar, ele assume o risco pois quer cometer o 
crime, tendo, no mínimo, um dolo eventual. 
 
 
ARTIGO 215: VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: liberdade sexual. Nesse crime a liberdade é 
protegida contra uma investida mais sútil: a fraude. Aqui, há o consentimento do 
ofendido, mas este é defeituoso, eis que calcado em um equívoco induzido pelo 
autor do crime. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: não se exigem qualidades ou características 
pessoais para que se possa figurar no polo ativo da questão. Pode ser sujeito ativo 
o individuo de qualquer sexo e qualquer idade. O sujeito passivo também pode ser 
pessoa de qualquer sexo, mas não pode ser vulnerável. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Ter conjunção carnal: em regra, deve haver contato sexual direto entre o autor e a 
vítima. Isto é, introdução parcial ou total do órgão sexual masculino na cavidade 
vaginal, razão pela qual, nessa modalidade, exige-se uma relação heterossexual. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Praticar outro ato libidinoso: de acordo com a teoria teleológica, ato libidinoso é 
todo aquele que possui sentido reconhecidamente sexual segundo os acordos 
semânticos culturalmente estabelecidos no meio social. 
 
 Mediante fraude: a fraude é a enganação por meio da qual alguém, ocultando seus 
verdadeiros propósitos, manipula a vontade de outrem para obter ganhos pessoais 
de cunho sexual. A pessoa é enganada para consentir com algo que, se realmente 
soubesse o que é, não consentiria. Pode ser por meio do uso de documentos, mas 
costuma ser verbal através de histórias. Não é preciso que a pessoa perceba que 
está sendo enganada, até porque o comum é que ela só perceba depois. 
 
o Fraude sobre a natureza sexual do ato praticado: quando o agente tenta esconder 
o caráter sexual do ato praticado, ou seja, pratica um ato libidinoso fazendo a 
vítima acreditar que não é. Exemplo: ginecologista toca a menina de forma 
diferente, mas ela não sabe que aquilo não é normal. 
 
o Fraude sobre a identidade do agente: o agente se faz passar por alguém para 
quem a vítima daria seu consentimento para a prática do ato sexual. Exemplo: 
irmão gêmeo. Contudo, caso o agente se passe por alguém bem-sucedido, não é 
possível caracterizar o crime, pois não fraudou a identidade, tampouco a natureza 
sexual. 
 
Observação: se ocorrer fraude e violência/ grave ameaça, haverá progressão 
criminosa (durante a execução do crime o agente realiza atos que configuram outro 
mais grave), o sujeito responderá por estupro. 
 
 Mediante outro recurso que impeça ou dificulte a livre manifestação da vítima: 
antigamente era pacificada a ideia de que, se um homem drogasse uma pessoa 
com o objetivo de fazer sexo com ela, caracterizaria o estupro. Hoje, porém, há 
divergência se ocorreria o crime de estupro de vulnerável ou o em questão. Assim, 
entende-se que quando há prejuízo parcial, mas não a anulação da capacidade, é 
violação sexual mediante fraude. Exemplo: ecstasy, álcool. 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 9 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
Observação: para caracterizar o artigo 215 o agente tem que ter usado do recurso, 
mas no artigo 217-A é irrelevante se ele ou outro criou a situação de 
vulnerabilidade. 
 
 TIPO PENAL MISTO ALTERNATIVO: é um crime de ação múltipla ou conteúdo 
variado, de modo que a prática de qualquer dos verbos consuma ainfração, sendo 
a realização simultânea ou consecutiva de mais de um desses núcleos um fator 
que, em vez de gerar o tradicional concurso de crimes, somente pode ser levado 
em consideração para fins de dosimetria. 
 
 TIPO SUBJETIVO: o delito somente pode ser cometido com dolo. O agente deve 
ter consciência de que os atos praticados são reconhecidos socialmente como 
possuidores de sentido tipicamente sexual. E deve saber, de outro lado, que a 
vítima apesar de haver consentido, assim o fez porque sabia que se encontrava 
em erro. Ressalta-se que o crime pode ser praticado com finalidades diversas, 
dispensando a finalidade específica de obter o prazer sexual. 
 
 CONSUMAÇÃO: se dá com a conjunção carnal (introdução total ou parcial do 
pênis na vagina) ou outro alo libidinoso relevante. O breve contato momentâneo e 
o mero toque não caracterizam este delito. 
 
 TENTATIVA: a tentativa não corre com frequência, pois o crime se consuma com 
o primeiro ato sexual relevante. Aconteceria quando o agente, na execução, 
empregou a fraude, mas por motivo alheio não chegou a praticar nenhum ato 
libidinoso. 
 
 FORMA QUALIFICADA: se a finalidade do agente for especificamente 
econômica, será aplicado como pena, cumulativamente, a multa, conforme 
estipula o parágrafo único. Exemplo: aposta. 
 
 
 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 10 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
ARTIGO 215-A: IMPORTUNAÇÃO SEXUAL 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: liberdade sexual. Foi criado para suprir a 
insegurança da solução punitiva dada a algumas situações que ora caracterizavam 
o estupro, ora caracterizavam mera contravenção penal de importunação ofensiva 
ao pudor. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: a importunação sexual é delito que pode ser 
cometido por qualquer pessoa, independente de atributo ou qualidade individual. 
Quanto ao sujeito passivo, não consta, no tipo, nenhuma exigência especial. Toda 
pessoa pode ser vítima, salvo os vulneráveis. 
 
Observação: o professor faz uma crítica quanto a inaplicabilidade a vulneráveis, 
pois fica faltando um tipo penal mais brando neste setor. Acredita que não fazer 
distinção entre pequena e grande violação nesse caso é um equívoco. 
 
 TIPO OBJETIVO: praticar contra alguém sem sua anuência ato libidinoso. 
 
 Praticar contra alguém: praticar é realizar uma conduta comissiva (ação). 
Excluídos os atos de mera fala. Difere-se do crime de estupro, pois agora o agente 
executa o ato libidinoso e a vítima suporta. Exemplo: agente esfrega seu corpo no 
da vítima dentro do transporte coletivo. 
 
 Sem sua anuência: a vítima não deu seu consentimento. Nos casos em que o 
agente sinceramente supuser que a vítima esteja consentindo, ainda que de modo 
tácito, estaremos diante de um fato atípico por ausência de dolo. Exemplo: 
pessoas que mantenham relação casual. 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 11 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Ato libidinoso: a intenção era a de inserir uma norma voltada a punição de ofensas 
sexuais menos lesivas. Contudo, da maneira como redigido, um mesmo ato 
poderia configurar estupro, violação sexual mediante fraude ou importunação, a 
depender do modus operandi do agente. O critério deveria ser a gravidade da 
conduta e não o modo de agir. 
 
CRIME 
 
ARTIGO 213 
 
 
ARTIGO 215 ARTIGO 215 – A 
CONTEÚDO Conjunção 
carnal ou outro 
ato libidinoso 
 
Conjunção carnal ou 
outro ato libidinoso 
Ato libidinoso 
MODUS 
OPERANDI 
 
Violência ou 
grave ameaça 
Fraude ou outro 
recurso semelhante 
Qualquer outro 
meio de ação 
(por exclusão) 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: é preciso que o agente saiba que o ato por ele praticado é reconhecido como 
possuidor de sentido sexual segundo os valores culturais socialmente dominantes, 
bem como esteja ciente da ausência de consentimento. 
 
 Elemento subjetivo especial do tipo (especial fim de agir): a conduta do agente 
deve estar, necessariamente, dirigida pelo fim de satisfazer seus desejos sexuais 
ou aos apetites carnais de outrem. Gera uma proteção insuficiente, pois deixa de 
fora comportamentos altamente vexatórios que não envolvem excitação. 
 
 CONSUMAÇÃO: como é um crime formal, se consuma com a prática do ato 
libidinoso sobre a vítima, perceba ela ou não. 
 
 TENTATIVA: não há empecilhos teóricos para a tentativa, mas é difícil ocorrer. 
Seria quando o agente começa a praticar o ato, mas é interrompido antes de 
alcançar o propósito de atingir a vítima. 
 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 12 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
ARTIGO 216-A: ASSÉDIO SEXUAL 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: pelo setor que está no Código, fala-se que o bem 
jurídico defendido é a liberdade sexual. Contudo, para o professor (corrente 
minoritária) o bem jurídico em questão é a salubridade do ambiente de trabalho. 
Isso porque como não se exige o contato sexual, o problema é o constrangimento 
passado no ambiente de trabalho. 
 
Observação: o professor defende que esse artigo não deveria existir, pois o direito 
penal é minimalista e sua atuação nesse crime não é necessária, podendo ser 
resolvido por outras esferas. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: é um crime próprio e, por isso, a conduta só pode 
ser realizada por um agente que seja portador das específicas características 
pessoais nele dispostas: superior hierárquico ou ascendente da vítima. Quanto ao 
sujeito passivo, é essencial que ostente a qualidade de subordinado. 
 
Observação: nos casos de pessoas de mesmo nível hierárquico ou quando o 
constrangimento é feito do subordinado para o chefe, não há assédio sexual. O 
mesmo acontece antes que a vítima seja contratada, pois não existe no tempo da 
ação a relação de superioridade e subordinação. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Constranger: o sentido de “constranger” aqui não é o de obrigar a fazer ou deixar 
de fazer algo, mas sim o de envergonhar, causar desconforto. Pra falarmos em 
 
 
 
AMANDA MOULIN 13 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
constrangimento terá que existir a insistência, pressão, o agente deve saber que a 
vítima não está confortável. 
 
 Prevalecendo-se da condição: é preciso que o agente faça uso da sua posição 
privilegiada para, de algum modo, pressionar a vítima. A proposta deve ser feita 
de cima para baixo. Esse crime permite ameaças, desde que a natureza do mal 
eventualmente prometido tenha relação com a atividade laboral. Exemplo: 
ameaçar demitir ou oferecer um acréscimo salarial, pois criam um ambiente não 
saudável no trabalho. 
 
o de superior hierárquico: a doutrina majoritária entende que a expressão “superior 
hierárquico” se aplica apenas entre servidores públicos, sendo a relação de 
autoridade no trabalho entre empresas privadas chamada de “ascendência”. Isso 
porque entre os funcionários públicos não há como discutir a ordem, ele tem que 
executar. 
 
o de ascendência: é ascendente aquele que mantém relação de autoridade sobre a 
vítima no ambiente de trabalho ou nas relações empregatícias, detendo poderes 
efetivos de comando ou controle em relação à atuação e aos afazeres laborais de 
outros funcionários. É a pessoa que pode interferir no destino da vítima a respeito 
do seu trabalho. Preferencialmente é o chefe, mas pode ocorrer quando estão na 
mesma linha horizontal. Exemplo: vendedor que é braço direito do chefe. 
 
Observação: o STJ entende que é perfeitamente possível assédio entre professor 
e aluno, mas o professor discorda. Ressalta-se que majoritariamente entre bispo 
e padre, por exemplo poderia, mas em relação aos fiéis não. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: vontade consciente de constranger alguém valendo-se de sua condição de 
superioridade hierárquica ou ascendência inerente ao exercício do cargo, emprego 
ou função. 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 14 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV–AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Elemento Subjetivo Especial do Tipo (especial fim de agir): finalidade de obter 
favorecimento sexual. Assim, se o ato for praticado com o objetivo de “forçar” a 
pessoa a deixar o emprego ou mesmo de humilhá-la, não restará configurado o 
tipo penal. 
 
 CONSUMAÇÃO: independentemente de qualquer comportamento da vítima, 
considera-se consumada a infração apenas com a investida do agente, 
indiferentemente se bem ou malsucedida. 
 
 TENTATIVA: a tentativa se revela possível, embora seja de difícil verificação na 
prática. Uma hipótese seria a do assédio sexual que, realizado por escrito, não 
chegou ao conhecimento do destinatário por razões alheias à vontade do agente. 
 
 CAUSA DE AUMENTO DE PENA (artigo 218-A, §2º, CP): a pena é aumentada 
“em até um terço” se o fato é praticado contra vítima maior de 14 (quatorze) e 
menor de 18 (dezoito) anos. O fundamento repousa na maior proteção a que fazem 
jus as pessoas inexperientes e mais suscetíveis aos prejuízos psicológicos do 
crime em questão. 
 
 QUESTÃO: e quanto às vítimas menores de 14 anos não existiria um crime mais 
grave no Código Penal? 
 
o Sem contato sexual (artigo 216, A, §2º, CP ou artigo 217-A c/c 14, II, CP): é 
preciso analisar o distanciamento social. Se a proposta é feita no local de 
trabalho, mas não tem como iniciar o ato sexual ali, chamando a vítima para fazê-
lo em um momento posterior, é assédio sexual. Por outro lado, se o contato 
sexual pode ser feito de imediato, é possível configurar tentativa de estupro de 
vulnerável. 
 
o Com contato sexual (artigo 217-A): a prática de ato libidinoso contra vulnerável 
redireciona para este artigo. Se o assédio e o contato acontecerem com um lapso 
temporal considerável, pode-se falar em concurso. Se cometidos no mesmo 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
contexto, o assédio é absorvido pelo estupro de vulnerável (princípio da 
consunção). 
 
 
PARAFILIAS: PREFERÊNCIAS SEXUAIS 
 
Parafilias são transtornos de preferências sexuais ou preferências sexuais distorcidas. 
Diversas parafilias aparecem na lista de doenças mentais pela Organização Mundial 
de Saúde (OMS), como é o caso da pedofilia. Registra-se que não é porque é tratado 
como doença mental que o agente não será responsabilizado penalmente. Doença 
mental é diferente de inimputabilidade. Só é inimputável se, comprovadamente, a 
doença impedia o discernimento do agente por completo naquele momento. Exemplo: 
esquizofrenia. 
 
 Sadismo: excitação sexual por causar dor em outras pessoas. Em um grau leve 
pode ser alimentado por representações de dominação. Em um grau elevado, 
pode levar à morte do parceiro sexual. 
 
 Masoquismo: excitação em sentir dor. Pode ser só uma representação de 
humilhação, mas também sérios castigos sexuais. 
 
 Fetichismo: direcionamento da libido pra um objeto que, para a maioria das 
pessoas, não desperta nenhum interesse sexual. 
 
 Zoofilia/bestialidade: atração sexual por animais. 
 
 Necrofilia: atração sexual por cadáveres. 
 
 Coprofilia: atração sexual por sujeira, dejetos e imundices. Exemplo: feridas. 
 
 Voyerismo: atração sexual por apenas assistir atos sexuais alheios. A pessoa não 
consegue mais ter vida porque só faz isso. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Exibicionismo: excitação sexual em ser vista. 
 
 Pigmalionismo: atração sexual por estátuas e manequins. 
 
 Genontofilia: atração sexual por pessoas idosas já acamadas e doentes. 
 
 Pedofilia: atração sexual por pessoas em fase infantil ou pré púbere. O que atrai o 
pedófilo é a infantilidade. Se é criança, mas não tem aspecto como tal porque o 
corpo já é desenvolvido, não caracteriza pedofilia, mas sim estupro de vulnerável. 
Em regra, todo pedófilo responde penalmente, uma vez que pelo seu modo de agir 
estratégico, como a aproximação e ganho da confiança da criança, entende-se que 
tem capacidade de autocontrole. 
 
 
A DIGNIDADE SEXUAL COMO BEM JURIDICAMENTE TUTELADO 
 
A dignidade está relacionada ao fato de que toda pessoa possui um valor irrecusável 
e, em razão disso, é titular de uma prerrogativa de tratamento condizente com a sua 
dignidade, sendo este um fundamento basilar de todo o ordenamento jurídico 
brasileiro. Em outras palavras, a partir do momento que se reconhece que a pessoa 
humana tem valor individual e merece uma vida digna, são garantidos direitos básicos 
pra que essa vida digna possa ser alcançada. Dentre esses direitos, tem-se: liberdade 
de culto religioso, de ir e vir e sexual. 
 
Levando isso em consideração, a dignidade sexual é um conceito amplo, utilizado nos 
casos em que a vítima não tem dispõe de autonomia para tomar decisões a respeito 
da liberdade sexual (vulneráveis). Logo, toda vez que houver uma coisificação do ser 
humano, transformado em objeto à disposição do arbítrio de outrem, haverá uma 
lesão à sua dignidade. Exemplo disso são os crimes do artigo 217-A a 218-B, segundo 
o qual o agente se vale de uma situação de vulnerabilidade e a utiliza para satisfazer 
seus próprios fins libidinosos. 
 
 
 
 
 
AMANDA MOULIN 17 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
ARTIGO 217-A: ESTUPRO DE VULNERÁVEL 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: dignidade sexual. Isso porque os vulneráveis não 
possuem liberdade sexual, isto é, não possuem capacidade para oferecer 
consentimento válido para a prática dos atos sexuais. Logo, quando tal ato 
acontecer, essas pessoas estarão sendo coisificadas, rebaixadas como objeto 
submetido aos arbítrios de outrem. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo desse delito, 
independentemente do sexo, idade ou qualquer outro atributo pessoal. A única 
observação a se fazer é que, nas hipóteses de conjunção carnal, será preciso que 
haja heterossexualidade. O posto de sujeito passivo do delito reclama uma 
qualidade pessoal denominada “vulnerabilidade”. São legalmente considerados 
como vulneráveis as pessoas menores de 14 anos de idade, portadoras de 
doenças mentais alienantes ou que se encontrem em condição de incapacidade 
de oferecer resistência. 
 
Observação: para o professo é leviandade supor que toda pessoa menor de 14 
anos, ou mentalmente enforma, ou embriagada, seja totalmente incapaz de tomar 
decisões a respeito de suas atividades sexuais. Deve-se sempre analisar o caso 
concreto. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Ter conjunção carnal: introdução total ou parcial do pênis na cavidade vaginal. É 
preciso que, nessa modalidade específica, seja uma relação heterossexual. É 
 
 
 
AMANDA MOULIN 18 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
preciso que seja mantida uma relação entre o sujeito ativo e o sujeito passivo, 
diferente do estupro, cujo comportamento do agente pode constranger a vítima a 
ter conjunção carnal com outrem ou com si própria. 
 
 Praticar outro ato libidinoso: a expressão representa uma ofensa ao princípio da 
legalidade, especificamente no que tange a sua taxatividade, pois não há uma 
maneira segura de delimitar o seu conteúdo e abrangência. A melhor forma seria 
compreender que atos libidinosos são aqueles marcados por sentido 
reconhecidamente sexual segundo os acordos semânticos culturais 
contemporâneos. 
 
Observação: o professor acredita que para a conduta ser reconhecida como ato 
libidinoso nesse crime ele precisa ter relevância, isto é, se aproximar da conjunção 
carnal e da sua gravidade. Dessa forma, pequenas violações, como abraços e 
passadas de mão, seriam enquadrados, por analogia in bonam parte, a 
importunação sexual, pois esta se mostra mais proporcional. 
 
 Com pessoa menor de 14 anos (até 13 anos, 11 meses e 29 dias): 
 
o Primeira corrente: majoritária do STF, STJ e doutrina. Adota um critériopuramente 
objetivo e exclusivamente biológico: todo contato sexual com menor de 14 anos 
de idade, independentemente do seu grau de maturidade emocional ou 
experiência sexual, ou até mesmo de relação afetiva com o sujeito ativo, vai 
configurar estupro de vulnerável. Falta maturidade, por isso todos os menores de 
14 anos são absolutamente vulneráveis. Súmula 593 do STJ. 
 
o Segunda corrente: minoritária. Critério biopisicológico. Não basta o aspecto idade. 
A ele se deve associar, também, o elemento da maturidade e da capacidade de 
compreensão. Analisa caso a caso. Como o ECRIAD determina que é criança a 
pessoa que possui menos de 12 anos, este sempre terá vulnerabilidade absoluta. 
Contudo, se for maior de 12 anos e menor de 14 a sua vulnerabilidade será relativa 
e dependerá do caso concreto. O pensamento é o de que crianças não podem 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
consentir para o ato, mas os adolescentes podem, se possuírem experiência e 
consciência. 
 
o Terceira corrente (professor): é uma corrente solitária. Para os menores de 12 
anos, aplica-se o critério biológico, sendo vulnerabilidade absoluta. Para os 
maiores ou iguais a 12 anos o fato é materialmente atípico, ou seja, falta lesividade 
ao bem jurídico, por força do ECRIAD. Isso porque este já possui idade para ser 
“preso” por um desvio comportamental, podendo também decidir sobre sua vida 
sexual. Critério do princípio da ofensividade. 
 
 TIPO PENAL MISTO ALTERNATIVO: se o mesmo agente praticar contra a vítima, 
simultânea ou consecutivamente, conjunção carnal e outro ato libidinoso relevante, 
haverá crime único, podendo interferir apenas na dosimetria da pena. 
 
 O EVENTUAL EMPREGO DA GRAVE AMEAÇA: a violência ou grave ameaça 
são expressamente posicionadas como meios de execução do estupro. São, 
entretanto, completamente dispensáveis para a caracterização do estupro de 
vulnerável. O contato, mesmo que consentindo, não surtirá nenhum efeito. Quando 
ocorrer, a tipificação da conduta permanecerá exatamente a mesma, embora o 
juízo de reprovação seja mais intenso. Jamais punem em concurso, se praticadas 
em um mesmo contexto, a ameaça e o estupro de vulnerável. 
 
 QUESTÃO: o que acontece se ocorrer lesão leve num crime de estupro de 
vulnerável? 
 
o Primeira corrente (extremista): como a violência não é elementar do tipo, qualquer 
lesão corporal leve, será punida em concurso. Não é um resultado “obvio”. Sua 
produção traduz uma escolha autônoma quanto ao modus operandi que é passível 
de punição específica. 
 
o Segunda corrente (garantista): a lesão leve fica sempre absorvida pois, embora 
não seja elementar, é característica desse tipo de crime e não justifica aumentar 
a pena. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
o Terceira corrente (intermediária): as lesões leves decorrentes do ato em si seriam 
absorvidas, como, por exemplo, as lacerações na cavidade vaginal. Quando a 
lesão vier da execução, pune em concurso. 
 
Observação: se a lesão for grave ou gravíssima, não sendo resultado do ato 
sexual, mas sim do meio para a sua realização, a punição ocorre se houver dolo 
em concurso, e se for a título de culpa na forma qualificada do artigo 217-A, §3º, 
CP. 
 
 OUTROS VULNERÁVEIS (artigo 217-A, §1º, CP): 
 
 Portadores de doenças mentais alienantes: aquela que incapacita a pessoa de ter 
discernimento. Essa pessoa se torna vulnerável porque ela não sabe o que está 
se passando com ela. A ideia é punir quem se aproveita da incapacidade da vítima. 
Contudo, não podemos associar a doença mental com a irresponsabilidade do 
sujeito. Temos que ver o verdadeiro grau da doença, e esta tem que incapacitar 
seu discernimento. Exemplo: esquizofrênicos medicados podem ter vida sexual 
normal, mas se estiver em um período de surto e alguém se aproveitar é crime. 
 
 Pessoas que, por qualquer outra razão, são incapazes de oferecer resistência. Não 
é relevante se o sujeito encontrou a pessoa em condição de vulnerabilidade ou se 
ele colocou a pessoa assim, apenas que este tenha certeza dessa condição. 
Exemplo: álcool, drogas, coma, hipnose. Frisa-se que essa incapacidade tem que 
ser total, pois se for parcial/ reduzida é o crime do artigo 215. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: o delito somente pode ser cometido com dolo. É preciso que o autor tenha 
consciência quanto á natureza reconhecidamente sexual dos atos praticados e da 
vulnerabilidade da vítima. Além disso, deve ter vontade de praticar com a vítima 
ou sobre a vítima os tais atos, ou, pelo menos, de forçá-la a praticá-los ou a tolerá-
los. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Inexistência do elemento subjetivo especial do tipo (especial fim de agir): não é 
preciso que o agente tenha o propósito de obter prazer ou satisfação sexual. Isso 
é irrelevante, pois motivado por vingança, por exemplo, também fere a dignidade 
sexual da vítima e por isso o crime deve ser punido. 
 
 ERRO DE TIPO (artigo 20, CP): desconhecimento da condição de vulnerabilidade 
da vítima. Acontece quando o agente pratica ato sexual com a vítima menor de 14 
anos, mas sem ter consciência da real idade da vítima. Exclui o dolo e, portanto, 
afasta o estupro de vulnerável. Ressalta-se que está sujeito a um regime de 
plausibilidade, não a um regime de prova, mostrando por exemplo como a pessoa 
se comporta e suas características. 
 
o Erro de tipo invencível (inevitável e escusável): afasta o dolo e a culpabilidade. 
Quando não pode ser evitado pelo cuidado do agente, ou seja, qualquer homem 
médio, na situação em que se encontrava o agente, incidiria em erro. Exemplo: 
menina de 13 anos vai em boate, presumindo-se que ela tem mais de 18 anos. 
 
o Erro de tipo vencível (evitável, inescusável): elimina o dolo mas permite a culpa. O 
erro poderia ter sido evitado se o agente tivesse tido mais cuidado. Mesmo assim 
há o defeito cognitivo, motivo pelo qual, definitivamente, não se fala em dolo. Não 
existe estupro de vulnerável na modalidade culposa. 
 
 ERRO DE PROIBIÇÃO (artigo 21, CP): o agente sabe o que está fazendo (a idade 
da vítima), mas acha que é permitido. As circunstancias não indicavam que era 
crime, pois a situação criminosa é tratada com normalidade. Exemplo: menina de 
13 anos que já é desenvolvida/ madura e o agente acha que não tem problema. 
 
o Erro de proibição invencível (inevitável e escusável): é isento de pena porque 
exclui a culpabilidade já que não tem potencial consciência da ilicitude. 
 
o Erro de proibição vencível (evitável e inescusável): é punível, mas com redução de 
pena. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 CONSUMAÇÃO: o delito de estupro de vulnerável se consuma com a prática do 
primeiro ato sexual relevante com a vítima. Por se tratar de um crime de ação 
múltipla, a prática de mais de um ato sexual conduzirá à configuração de crime 
único, que se configurará com o primeiro deles. 
 
 TENTATIVA: por ser um crime de ação múltipla, é difícil falar em tentativa, sendo 
escassos os casos de estupro de vulnerável na modalidade tentada. Exemplo: o 
agente leva a criança para o motel, mas chegando lá a atendente desconfia e 
chama a polícia, que ingressa no quarto no momento em que começavam a tirar a 
roupa. 
 
 FORMAS QUALIFICADAS: 
 
 Lesão corporal de natureza grave (artigo 213, §3º, CP): a estrutura qualificadora é 
aquela empregada em tipos preterdolosos. Tem dolo no antecedente e culpa no 
consequente. As lesões são efeitos colaterais não queridos e não assumidos da 
força física empregada pelo agente para chegar ao ato sexual pretendido. 
 
 Morte da vítima (artigo 213, §4, CP): a causa da morte deve ser culposa. É um 
crime preterdoloso. 
 
 
ARTIGO218: CORRUPÇÃO DE MENORES 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: dignidade sexual especificamente das pessoas 
menores de 14 anos, entendidas como vulneráveis. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: trata-se de delito comum, o que significa dizer que 
qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Não se exigem quaisquer características 
ou atributos pessoais. Quanto ao sujeito passivo, este deve ser pessoa que possui 
menos de 14 anos de idade, pois a posição dos tribunais é a de que são 
absolutamente incapazes. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Induzir: é um tipo penal extremamente restrito, pois induzir é apenas fazer surgir 
na mente de uma pessoa uma ideia que, até então, era inexistente. Trata-se, 
destarte, de semear aquilo que, um dia, florescerá como a vontade de agir no 
sentido de produzir algo. Esse artigo é problemático, porque se o agente instigar 
ou auxiliar será atípico. Logo o sujeito ativo deve convencer pessoa menor a ficar 
com outrem, apenas se consumando com essa atitude por parte do vulnerável. 
 
Observação: caso o sujeito ative empregue violência ou grave ameaça para forçar 
o menor a atuar no sentido de satisfazer a lascívia alheia, restará configurado o 
estupro de vulnerável. 
 
 Menor de 14 anos (13 anos, 11 meses e 29 dias): só podem ser sujeitos passivos 
do crime as pessoas que contem com menos de 14 anos de idade, sendo 
penalmente irrelevante no caso dos que possuam doença mental alienante ou 
impossibilidade de oferecer resistência, pois é vedado analogia in malam partem. 
 
 A satisfazer a lascívia de outrem: é inquestionável que, para a caracterização 
desse crime, exista uma terceira pessoa que será a beneficiária do induzimento e 
que isso afasta, de plano, a possibilidade da configuração do delito nos casos em 
que o agente induz a vítima a satisfazer sua própria lascívia. A grande questão é 
entender se satisfazer a lascívia de alguém envolve ato sexual, pois se a resposta 
for positiva, aquele que induziu terá pena mais baixa do que a disposta no artigo 
217-A na modalidade de partícipe (teoria monista do artigo 29, CP). 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
o Corrente majoritária: sustenta que responde pelo crime descrito no artigo 218 
quem induz pessoa menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem, desde que 
não sejam praticados atos libidinosos ou conjunção carnal. Alegam que o 
legislador propositalmente não usou o termo “ato libidinoso” com o fulcro de 
destinar esse artigo para coisas menores. Exemplo: sexo por telefone, ensaio 
fotográfico. 
 
 Se houver contato sexual: quem praticou o ato (sabendo a idade) responde pelo 
artigo 217-A como autor e quem induziu comete o artigo 217-A como partícipe. 
 
 Se não houver contato sexual: quem praticou o ato “sexual” não responde por nada 
por ser falto atípico e quem induziu comete o 218 como autor. 
 
o Corrente minoritária: há razão para considerar que a “indução à satisfação da 
lascívia” não deve ter excluído de seu âmbito os contatos de natureza sexual, pois 
entende ser sinônimo ato libidinoso e conjunção carnal com satisfazer a lascívia. 
Isso porque se os atos que configuram o crime não fossem sexuais, o beneficiário 
não teria imposta nenhuma responsabilidade penal. É uma exceção à teoria 
monista, pois dá ao partícipe uma pena menor. 
 
 Se houver contato sexual: quem praticou o ato (sabendo o ato) responde pelo 
artigo 217-A como autor e quem induziu comete o artigo 218 como autor. 
 
 Se não houver o contato sexual: ninguém responde por nada. É um crime material 
e precisa que a sexualidade da criança seja atingida. 
 
 HIPÓTESE EM QUE O AGENTE INDUZ PESSOA MENOR DE 14 ANOS A 
SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTRO VULNERÁVEL: nesse caso o agente 
responderá por dois crimes de estupro de vulnerável (artigo 217-A) como autor 
mediado, pois era a única pessoa que possuía o domínio do fato. Os vulneráveis 
não tinham consciência do ato, mas sim foram instrumentalizados por terceiro no 
sentido de ofender reciprocamente seus bens jurídicos. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: o tipo somente se aperfeiçoa caso se constate o dolo do agente, restando 
definitivamente afastada a possibilidade do cometimento do crime em questão na 
forma culposa, até porque “induzir” é especialmente incompatível com uma 
“assunção de risco”. 
 
 Inexistência do elemento subjetivo especial do tipo: não há especial fim de agir, 
pois basta que o agente atue com o conhecimento acerca da idade da vítima e da 
natureza do contato que será mantido com a terceira pessoa, e que realize a 
conduta propositalmente. É irrelevante se houve excitação sexual. 
 
 CONSUMAÇÃO: 
 
o Paulo Queiroz: defende que o artigo 218 é um crime formal e que, portanto, se 
consuma com a mera indução a fazer sexo. Contudo, se a vítima o fizer, torna-se 
estupro de vulnerável (artigo 217-A). 
 
o Corrente majoritária: o crime é material e se consuma quando a vítima faz o que 
ela foi induzida a fazer, desde que não envolva sexo. 
 
o Corrente minoritária (professor): o crime é material e, portanto, somente se 
consuma diante da constatação de resultado naturalístico. Esse resultado consiste 
na efetiva realização da conduta tendente à satisfação da lascívia por parte do 
vulnerável e envolve contato sexual. É irrelevante se o terceiro chegou a obter 
prazer sexual. 
 
 TENTATIVA: é admissível, embora sua configuração pratica tenda a ser escassa. 
Será preciso constatar que o menor foi alvo de sugestões, mas que não chegou a 
coloca-las em prática. Não basta, apenas, proferir palavras, sem que elas jamais 
tenham sido levadas a sério pelo vulnerável. Exemplo: a criança chegou a 
comparecer ao local em que se daria o contato libidinoso, mas esse não se efetivou 
porque alguém retornou à casa e a presença inviabilizou sua ocorrência. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
ARTIGO 218-A: SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA 
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: a doutrina majoritária defende que é a dignidade 
sexual da criança que está sendo utilizada como uma fonte de prazer. No entanto, 
o professor acredita que é a salubridade do desenvolvimento do comportamento 
sexual da vítima, pois é preciso que o ato tenha o condão de interferir na formação 
da personalidade e da sexualidade da vítima de modo negativo, e que a própria 
vítima esteja suscetível a esses efeitos deletérios. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: o crime é comum, ou seja, admite como sujeito 
ativo qualquer pessoa, independentemente de quaisquer atributos ou 
características individuais. De outro lado, somente as pessoas que possuam 
menor de 14 (quatorze) anos de idade podem ser sujeitos passivos. Vale frisar que 
a conjunção carnal ou outro ato libidinoso são praticados pelo agente com outra 
pessoa (ou sobre si mesmo), mas jamais com a própria vítima pois isso 
configuraria estupro de vulnerável. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Praticar na presença ou induzir a: 
 
o Corrente majoritária: presença é estar de carne e osso naquele momento, ou seja, 
é literalmente estar em um lugar na hora em que algo acontece. Meios digitais não 
configuram em nenhuma hipótese. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
o Corrente intermediária (professor): com a evolução dos meios de comunicação, 
verificou-se que é possível manter um relacionamento com alguém, mesmo se 
essa pessoa estiver longe (transmissões ao vivo). Dessa forma, o termo 
“presença” serve tanto para aquele que está no local com seu corpo, quanto para 
aquele que não está, mas assiste tudo ao vivo e sente as mesmas sensaçõesdaqueles que estão no corpo. Logo, se uma criança for induzida por um adulto a 
assistir uma relação sexual ao vivo, imputa-se o crime do artigo 218-A. Não pode 
ser gravado. 
 
o Corrente minoritária (Marcão): é possível enquadrar a conduta no tipo penal 
mesmo se uma criança estiver assistindo um filme pornô que não seja ao vivo, pois 
é a mesma lesividade. 
 
 Pessoa menor de 14 anos (corruptibilidade): só pode ser vítima da infração em 
estudo quem for efetivamente considerado corruptível. Como não só a prática, mas 
também a exposição prematura aos eventos sexuais pode produzir impactos 
psicológicos eventualmente capazes de corromper o menor, despertando um 
interesse precoce, ou mesmo de traumatiza-lo, este deve possuir intelecto e 
lucidez minimamente suficientes para entender o que se passa. Logo, nem sempre 
menores de 14 anos serão corruptíveis. Exemplo: bebê de 3 meses. 
 
Observação: em relação aos outros vulneráveis o fato é atípico, pois não possuem 
absolutamente nenhuma capacidade de discernimento acerca da natureza sexual 
do ato contemplado. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: não realiza o tipo em questão quem pratica ato sexual sem saber da 
presença do menor no local, ou mesmo acreditando que, embora fisicamente 
presente, ele não esteja prestando atenção ao fato. São hipóteses de erro de tipo. 
 
 Especial fim de agir: a finalidade tem que ser para satisfazer a lascívia própria ou 
de outrem. Em razão da configuração econômica brasileira, entendeu-se que não 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
é crime fazer sexo na presença da criança, mas sim quando a presença da criança 
é a própria razão da prática do ato. É crime a prática do ato por causa da criança. 
 
Observação: o pai levar o filho no prostíbulo não é esse crime, pois não existe a 
satisfação sexual em razão da criança estar presente. 
 
 CONSUMAÇÃO: embora se trate de crime de ação múltipla, há um único momento 
consumativo. É preciso que a conjunção carnal ou outro ato libidinoso chegue a 
ocorrer diante da pessoa menor de 14 anos de idade e esta perceba e 
compreenda. 
 
 TENTATIVA: do ponto de vista teórico, não há empecilhos à configuração da 
tentativa, mas é um argumento forçado. Exemplo: o agente induz uma criança a 
assistir sexo entre duas pessoas, mas antes das pessoas tirarem a roupa, o pai da 
criança chega e a leva embora). 
 
 
ARTIGO 218-B: FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA 
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL 
 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: a doutrina entende que é a dignidade sexual, pois 
pressupõe-se aviltante à dignidade a submissão da pessoa desprovida de 
capacidade plena de entendimento e de autodeterminação à exploração sexual. 
Contudo, o professor acredita que na realidade o bem jurídico tutelado é a 
moralidade sexual (um costume que a sociedade não quer que os menores façam) 
e, a única que de fato pode ser tutelada pelo direito penal é a que põe a salvo as 
crianças e adolescentes da exploração sexual. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo 
do delito em questão. O sujeito passivo são as pessoas menores de 18 anos e 
portadores de deficiência mental, desde que comprovado, por perícia médica, a 
existência da doença ou deficiência em si e, simultaneamente, os prejuízos por ela 
efetivamente causados à higidez mental da pessoa explorada. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Submeter, induzir, atrair e facilitar: se referem ao ingresso na prostituição ou em 
qualquer outra atividade que configure exploração sexual. São atitudes que levam 
a pessoa a se prostituir, pois antes não estava nesse meio. 
 
 Dificultar ou impedir: o agente não contribui para o ingresso da pessoa vulnerável 
na vida da prostituição ou da exploração sexual, mas, em contrapartida, age de 
modo a garantir a sua continuidade, não deixando sair. Vale ressaltar que no caso 
de impedimento normalmente o obstáculo posto é tido como insuperável, por meio 
de grave ameaça, ocorrendo concurso de crimes. 
 
 Prostituição: nossa legislação não define seu conceito, pois a prostituição no Brasil 
não é considerada crime. Para responder tal questão, devem-se observar certos 
critérios: ausência de vínculo afetivo, indeterminação do destinatário, disposição 
para receber dinheiro, habitualidade. Assim, a prostituição pode ser entendida 
como “uma contraprestação financeira por ato sexual já definido”. 
 
 Outra forma de exploração sexual: exige-se, nessa modalidade, uma expectativa 
de ganho, seja ele pessoal ou alheio (nunca dá própria pessoa explorada). 
Exemplos: seria a venda de imagem, casa de show que tem stripper. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: somente se configura o delito se o agente atua com dolo direto, seja ele de 
primeiro ou segundo grau. Deve conhecer a característica de vulnerabilidade da 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
vítima, assim como a natureza sexual das atividades que estarão envolvidas nessa 
exploração. 
 
 Inexistência do especial fim de agir: não é preciso que o agente tenha o fim de 
saciar a lascívia própria ou de outrem, e nem mesmo que esteja imbuído do 
proposito de auferir lucro. 
 
 CONSUMAÇÃO: o momento consumativo coincide com aquele em que a pessoa 
vulnerável é explorada, isto é, posta “à disposição” de eventuais clientes ou 
destinatários do ato sexual. Não é preciso que chegue a haver contato físico d 
vulnerável com alguém, ou seja, não se exige que seja efetivamente praticada a 
conjunção carnal ou outro ato libidinoso. 
 
 CONTATO SEXUAL E CONCURSO DE CRIMES: ocorreu uma certa indignação 
na doutrina pois acabaria valendo mais a pena explorar a sexualidade dos 
vulneráveis do que apenas induzi-los a fazer sexo esporadicamente. Isso porque 
se o agente (que não é cafetão) induzisse uma criança a fazer sexo uma vez, a 
pena seria de 8 a 15 anos (artigo 217-A como partícipe), enquanto se o agente 
(cafetão) induzisse o menor a fazer sexo com vários adultos pegaria uma pena de 
4 a 10 anos (artigo 218-B). Diante disso surgiram dois posicionamentos: 
 
o Corrente majoritária: o artigo 218-B surgiu para punir a atividade de cafetão em si, 
isto é, pelo simples fato de disponibilizar a vítima menor de 18 anos para as 
atividades sexuais ele já pode ser acusado desse crime. Caso o ato libidinoso 
efetivamente ocorra e esteja comprovado, sendo a vítima absolutamente 
vulnerável, o crime será do artigo 217-A (partícipe) em concurso com o artigo 218-
B. 
 
o Corrente minoritária (professor): se a pessoa tem à disposição em seu prostíbulo 
uma pessoa vulnerável, ou se a conduz a um ponto de prostituição, só por isso 
responde pelo crime do artigo 218-B. Quando ocorrer a conjunção carnal ou outro 
ato libidinoso, responderá em concurso pelo artigo 218, pois o que se reprime não 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
é a violação do bem jurídico vulnerável, mas o exercício de uma atividade lesiva à 
moralidade sexual/ costumes. 
 
Observação: A funcionalidade do artigo é manter o sujeito (cafetão) em um crime 
permanente, podendo ser preso em flagrante a qualquer momento, enquanto 
estiver oferecendo os serviços da prostituta. 
 
 TENTATIVA: não há óbice teórico, mas é difícil de ocorrer na prática. O agente 
deve ter dado ideia para a pessoa se prostituir, mas não conseguiu efetivá-la, isto 
é, por mais que tenha havido esforço no sentido de convencer e remover 
obstáculos, não se alcançou como resultado a “disponibilização do vulnerável”. 
 
 FORMAS QUALIFICADAS (artigo 218-B, §1º): quando comprovado que o animus 
do agente era o de auferir vantagem econômica, será imposta, cumulativamente, 
a pena de multa. 
 
 FORMAS EQUIPARADAS(artigo 218-B, §2º): 
 
 Quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 
(dezoito) anos e maior de 14 (quatorze): o que se pune nesse caso não é fazer 
sexo com pessoa nessa faixa etária, mas sim o aproveitamento do cliente da 
condição de exploração sexual da vítima. Assim, não ocorreria esse crime se 
adolescentes de 17 anos (por exemplo) resolverem se prostituir por conta própria, 
sem nenhuma supervisão. 
 
 O proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as 
práticas: trata-se de uma modalidade assemelhada ao delito de casa de 
prostituição do art. 229, CP, porém com pena mais severa. Para ser punido, o 
proprietário/gerente/responsável deve ter conhecimento da atividade que é 
praticada em seu estabelecimento. 
 
 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
A IMAGEM, A PAZ PÚBLICA E A PRIVACIDADE COMO BENS 
JURÍDICOS TUTELADOS 
 
O professor entende ser louvável a modificação da antiga denominação “dos crimes 
contra os costumes” em favor de “crimes contra a dignidade sexual”. Contudo, 
entende que o legislador falhou ao, no afã de atender demandas populares de 
criminalização, inserir, absolutamente fora de contexto, os crimes do artigo 216-B e 
218-C. Logo, o que se castiga, destarte, é uma lesão à imagem e privacidade das 
vítimas, que terão sua intimidade devassada da pior maneira possível, mas não a 
dignidade ou liberdade sexual. 
 
 
ARTIGO 216-B: REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE 
SEXUAL 
 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: a imagem da vítima. É equivocada a decisão política 
de situá-lo entre os crimes contra a liberdade ou dignidade sexual, pois a 
realização das condutas descritas de forma alguma tem potencial para lesionar os 
bens jurídicos em questão. Isso porque o que se atinge não é o corpo ou a 
liberdade de decidir livremente sobre o sexo, mas sim a moral. O dano é à imagem 
que a pessoa ostenta perante os outros. O que se tem é alguém ofendido ou 
envergonhado por ter um espaço de sua intimidade indevidamente exposto. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: o crime pode ser cometido por qualquer pessoa, 
independentemente de atributos ou qualidades pessoais. Não importa, também, 
se o próprio agente participa ou aparece nos vídeos ou fotos. O sujeito passivo, 
por sua vez, é a pessoa cuja imagem é registrada, quando isso ocorre sem seu 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
consentimento. Contudo, não se encaixam aqui, de modo geral, as pessoas 
menores de 18 anos, eis que o registro de pornografia infanto-juvenil é tipificado 
de modo específico pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 Fotografar, filmar ou registrar: fotografar é gerar um documento (meio físico) ou 
arquivo (meio digital) com o registro estático de um momento específico de um 
evento do mundo empírico. Filmar é captar imagens animadas que registram um 
evento, no todo ou em parte. Filmagens e fotografias são exemplos de registros, 
de modo que o verbo registrar, lançado na tipificação, é empregado como fórmula 
genérica cujo propósito é permitir a ampliação dos limites do tipo penal. 
 
Observação: o registro em áudio não é suficiente, tampouco por meio de palavras, 
faladas ou escritas, desenhos ou pinturas. Nesse caso, não há propriamente um 
registro, mas um relato, uma narrativa, isto é, a expressão de uma ideia ou 
interpretação sobre o fato. 
 
 Conteúdo com cena de nudez: os vídeos ou fotos devem registrar nudez, isto é, a 
exposição das partes pudendas do corpo (órgão sexuais, nádegas ou seios). Fotos 
de biquini ou vídeos da pessoa com lingerie não expressam nudez e situam-se 
fora dos limites do tipo. 
 
 Conteúdo com cena de ato sexual ou libidinoso: atos reconhecidamente sexuais 
segundo os padrões culturais socialmente dominantes. Sem conteúdo 
efetivamente sexual, não se considera criminoso o registro, ainda que não 
autorizado e de caráter íntimo. Exemplo: registrar beijo lascivo configura ato 
atípico. 
 
 Caráter íntimo ou privado dos atos sexuais registrados: relações sexuais que foram 
realizadas com a expectativa de serem mantidas em caráter reservado, sem a 
concessão de autorização de registro por qualquer meio que seja. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 FORMA EQUIPARADA: a pena também se aplica a quem realizar montagem, isto 
é, alterar o conteúdo de uma foto uma filmagem, gravação ou um arquivo digital 
de vídeo ou de áudio, inserindo uma pessoa que não fez parte daquele contexto 
sexual. Isso comprova que não se tutela a liberdade ou a dignidade sexual, mas 
sim a imagem. Vale mencionar que a montagem não pode ser grosseira/ tosca, 
pois não haveria lesividade. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: o agente deve saber que a vítima não deseja ser registrada. Se o agente 
atuar na dúvida, sem saber ao certo se a vítima permite, ou não, o registro da 
nudez ou do ato sexual, não comete o crime em tela. 
 
 CONSUMAÇÃO: a foto, seja ela física ou digital, se consuma quando capturada a 
imagem. Quanto ao vídeo, no caso das câmeras tradicionais, ele se consuma no 
primeiro instante efetivamente gravado. Em se tratado de câmeras digitais, a 
consumação ocorre quando se gera o arquivo de vídeo. No que tange às 
montagens, depende da concretização. 
 
 TENTATIVA: é admissível. Exemplo: o agente iniciou a filmagem, mas a vítima, 
por ter percebido, impediu sua conclusão ou transformação em arquivo. 
 
ARTIGO 218-C: DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE 
ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE 
PORNOGRAFIA 
 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: o professor acredita que o artigo foi mal redigido, 
pois cada uma de suas hipóteses abarcam um bem jurídico diferente, mas 
nenhuma delas diz respeito à liberdade ou a dignidade sexual, tampouco faz 
especificação quanto ao sujeito ativo e passivo, o que conduz à impressão de que 
se aplica, igualmente, a vítimas não vulneráveis. É preciso analisar o artigo por 
partes: 
 
 Primeira parte (vender, divulgar ou compartilhar cenas de estupro ou de estupro 
de vulnerável): o bem jurídico tutelado é a imagem da vítima. Isso porque essas 
cenas geram prejuízos para a mesma, pois trazem vergonha e sofrimento 
emocional, por exemplo. 
 
 Segunda parte (divulgação de fotos ou vídeos que incitam ou fazem apologia do 
estupro ou estupro de vulnerável): o bem jurídico é a paz pública porque o 
enaltecimento dessas ideias subversivas gera uma perturbação social 
 
 Terceira parte (divulgação, venda ou compartilhamento, não autorizado, de algum 
registro audiovisual de encontro sexual, pornografia ou nudez): o bem jurídico é a 
privacidade dado que houve uma revelação indevida de material íntimo que 
deveria restringir-se ao âmbito privado. 
 
 SUJEITO ATIVO E PASSIVO: qualquer pessoa, independentemente de atributos 
ou características individuais, pode ser autora do delito do artigo 218-C. Cabe frisar 
quanto a primeira parte que a conduta não precisa ser praticada pelos próprios 
estupradores, e, se a pessoa que compartilha os registros audiovisuais houver 
tomado parte na violação sexual, em si, haverá concurso de crimes. Quanto ao 
sujeito passivo é preciso analisar de acordo com cada modalidade: 
 
 Primeira parte: como o bem jurídico atingido é a imagem, o sujeito passivo do delito 
é o seu titular. É a pessoa estuprada. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Segunda parte: como é um crime vago, cuja titularidade pertence à coletividade, 
serão sujeitos passivos as pessoas potencialmente perturbadas por essa incitação 
subversiva à prática de crimes graves. 
 
 Terceira parte: o titular da privacidadeque foi indevidamente revelada. É a pessoa 
que aparece nos registros e que não deu autorização para divulgação ou 
compartilhamento desse aspecto de sua intimidade. 
 
 TIPO OBJETIVO: 
 
 “Oferecer”, “trocar”, “disponibilizar”, “transmitir”, “vender”, “expor à venda”, 
“distribuir”, “publicar” ou “divulgar”: é um tipo penal misto alternativo, de modo que 
se tipifica todas as formas de compartilhamento de objeto ou de arquivo, ou de 
facilitação de sua visualização, seja onerosa ou gratuitamente. 
 
 Cena de estupro ou de estupro de vulnerável: a ocorrência de estupro (artigo 213, 
CP) ou de estupro de vulnerável (artigo 217-A, CP) pode ser registrada em 
imagens, em áudio ou em vídeo. A produção desse material está tipificada no 
artigo 216-B. No crime sob análise não se pune a produção, ou seja, o registro, a 
criação do material em si. Punem-se as várias formas de compartilhamento. Se o 
agente filma cena de estupro e depois a divulga, responde apenas pelo artigo 218-
C, ficando o delito do artigo 216-B, menos grave, absorvido. Caso ele tenha 
tomado parte no crime sexual haverá concurso. 
 
 Apologia ou induzimento à prática de estupro ou estupro de vulnerável: o 
induzimento se faz de maneira direta, incutindo-se na mente de outrem a ideia de 
cometer algum desses delitos. A apologia é mais sutil. Corresponde a um elogio 
ou a um enaltecimento que pode levar à banalização dos males e da gravidade de 
certos crimes, ou até mesmo a uma sugestão indireta de sua realização. Ressalta-
se que pode ocorrer também quando a pessoa banaliza o crime com falas 
machistas, culpando a vítima ou desmerecendo o ocorrido. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 Cena de nudez, sexo ou pornografia, sem a autorização dos envolvidos: o tipo se 
aperfeiçoa com o compartilhamento, divulgação, venda e outras condutas afins em 
relação à mera nudez, desde que o arquivo tenha nitidez e qualidade. Vale 
ressaltar que a exigência de ausência de consentimento apenas se refere aos 
registros cujo conteúdo envolva pessoas não vulneráveis. 
 
 TIPO SUBJETIVO: 
 
 Dolo: esse crime é cometido com dolo, não sendo exigida nenhuma finalidade 
específica. Pode ser cometido até mesmo com o intuito de obter lucro, ou de 
humilhar a vítima. 
 
 CONSUMAÇÃO: é um crime formal que dispensa a produção de um resultado 
naturalístico, ficando o momento consumativo atrelado a cada um dos verbos 
nucleares empregados. 
 
 TENTATIVA: não há óbice teórico, mas é difícil de caracterizar. Exemplo: agente 
envia um vídeo com o conteúdo ilícito, mas ele não é recebido pelo destinatário 
porque seu smartphone está desligado. 
 
 FORMA MAJORADA (artigo 218, §1º, CP): é o chamado pornografia de vingança 
e tem especial fim de agir. A primeira hipótese é quando a circunstância em 
questão se refere a uma atual ou pretérita existência de “relação íntima de afeto 
com a vítima”. A segunda é quando a pessoa, mesmo sem ter um relacionamento 
prévio, compartilha pra se vingar/ humilhar a pessoa. Assim, se a finalidade for a 
de se gabar, não incidirá a causa de aumento. 
 
 EXCLUDENTE DE ILICITUDE (artigo 218-C, §2º, CP): afasta-se a antijuridicidade 
se a divulgação dos registros se der para fins informativos, científicos, culturais ou 
acadêmicos. É crucial, no entanto, para que funcione a excludente, que sejam 
adotados cuidados para evitar que se possa identificar a pessoa ofendida, a menos 
que sua identificação seja autorizada, o que não se aplica às vítimas menores de 
18 anos. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 CONFLITO APARENTE DE NORMAS: a produção, a venda, o compartilhamento 
e o armazenamento de material pornográfico envolvendo crianças e adolescentes 
(menores de 18 anos) são ações que constituem crimes descritos no Estatuto da 
Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), artigos 340 a 241-C. 
 
 Artigo 240 do ECRIAD: se refere a produção/criação da pornografia (pessoa que 
filma, contracena, dirige, empresta material). Vale ressaltar que isso não elimina a 
possibilidade de a pessoa responder por estupro de vulnerável (quando menor de 
14), pois os bens jurídicos são diferentes. 
 
 Artigo 241 do ECRIAD: se destina a punir a comercialização do material ilícito 
mencionado no artigo anterior. 
 
 Artigo 241-A do ECRIAD: pune todos os modos de compartilhamento gratuito, que 
serão tratados de modo menos gravoso do que o oneroso. 
 
 Artigo 241-B: reprime, de modo menos intenso, a posse e o armazenamento do 
mesmo material. Tem que ter dolo. 
 
 Artigo 241-C: reprime as montagens, colocando uma pessoa vulnerável que não 
estava naquele contexto sexual. Vale frisar que a montagem deve gerar dúvida 
quanto a sua veracidade. 
 
 
ARTIGO 225: AÇÃO PENAL 
 
 
No Brasil, a ação penal, em sede de delitos que atentam contra a dignidade sexual, 
quase sempre esteve subordinada à decisão político-criminal de deixar a critério da 
vítima a tomada de providências aptas a desencadear a persecução criminal, pois 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
seria muito pior para a vítima reviver os dissabores do acontecimento. Contudo, com 
a reforma imposta pela Lei 13.718/18 os crimes sexuais passam a ser 
incondicionados, com o fulcro de proteger efetivamente a vítima, o que não é de todo 
verdade. 
 
 
ARTIGO 226: MAJORANTE DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE 
SEXUAL 
 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DO CONCURSO DE PESSOAS (artigo 
226, I, CP): 
 
o Corrente majoritária: o concurso de pessoas é uma circunstância que, sempre que 
presente, automaticamente majora as penas dos crimes sexuais, aplicando-se 
indistintamente aos coautores (compartilham dos atos de execução) e aos 
partícipes (concorrem por fora). Interpretação literal. 
 
o Corrente minoritária: só se aplica a coautoria, pois nessa circunstância é possível 
justificar com base na maior dificuldade de a vítima reagir, maior coação, maior 
duração e dano. A majorante é pra penalizar de forma mais dura aqueles que 
cometem crime sexual em conjunto, pois o constrangimento é bem maior. O 
partícipe, que nem vai ao local, embora tenha “colaborado” para o crime, não 
aumentará o sofrimento da vítima, além de já responder por um tipo penal que 
efetivamente não realizou. 
 
Observação: com a alteração oriunda da Lei 13.718/18, a interpretação majoritária 
é que nos casos de participação no estupro ou estupro de vulnerável se aplica o 
artigo 226, I e na coautoria se aplica o artigo 226, IV. A corrente minoritária 
desconsidera a participação, devendo ser aplicado o artigo 226, I para todas as 
hipóteses de coautoria nos crimes sexuais, exceto nos casos supramencionadas. 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DE PARENTESCO/ AFETIVIDADE OU DE 
AUTORIDADE (artigo 226, II, CP): aplica-se nos casos em que o agente é 
ascendente (pai, mãe, avó, bisavó), padrasto e madrasta (vínculo afetivo), tio, 
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador (salvo caso 
de assédio). Isso porque leva em conta a reprovabilidade da conduta daqueles que 
deveriam cuidar e respeitar a vítima. Quanto aos demais títulos de autoridade 
sobre a vítima é preciso que seja uma relação prévia, um vinculo real e concreto, 
ou seja, não é por se tratar de autoridade, mas sim por exercer a autoridade. 
Exemplo: policial enquanto tem sob sua custódia aquele que foi pego em flagrante. 
 
Observação: com base na argumentação é possível encaixar cuidador, empregado 
doméstico e enfermeiro, por exemplo, que são responsáveis por cuidar dos 
incapazes (menores ou enfermos). É uma autoridade física. 
 
 QUESTÃO: aplica-se à omissão imprópria? Não, pois seria bis in idem. Exemplo: 
se a mãe tomaconhecimento de que o marido abusa sexualmente da filha e nada 
faz ela responde pelo artigo 217-A, caput, c/c artigo 13, §2º, “a” do Código Penal, 
já respondendo por ser garantidora. 
 
 ESTUPRO COLETIVO (artigo 226, IV, A, CP): é preciso que o crime seja 
executado em coautoria, isto é, dois ou mais indivíduos exerçam, no mesmo 
contexto, sucessiva ou conjuntamente, atos típicos de autoria, sejam eles 
referentes à realização da parte sexual do delito, ou, pelo menos, ligados à 
realização dos elementos típicos da violência ou da grave ameaça, atuando 
diretamente no constrangimento da vítima. 
 
 A QUESTÃO DA MULTIPICIDADE DE CONTATOS SEXUAIS NOS CASOS DE 
COAUTORIA: Rogério Greco acredita que serão tantos crimes quantas forem as 
pessoas que tiverem contato sexual com a vítima. Para ele, se A e B se ajudam, 
mutuamente, e ambos tem relação sexual com a vítima, os dois responderiam 
por concurso de dois crimes de estupro (artigo 213, caput), cada um majorado 
pelo artigo 226,I, CP. Contudo, o professor defende que o concurso aqui não é 
 
 
 
AMANDA MOULIN 41 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
determinado pelo número de agentes, mas sim pela quantidade de bem jurídico 
atingido, respondendo A e B por estupro (artigo 213, caput) + artigo 226, I. 
 
 ESTUPRO CORRETIVO (artigo 226, IV, B, CP): é feito para controlar o 
comportamento social ou sexual da vítima. Nesses casos, a violência sexual estará 
sendo usada como forma de punição, com o intuito de moldar o comportamento 
social ou sexual da vítima a algum padrão arbitrariamente imposto pelo agente. 
Exemplo de comportamento social seria o local que frequenta e atos de dança, 
enquanto sexual seria a orientação sexual. 
 
 
ARTIGO 234-A: MAJORANTE DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE 
SEXUAL 
 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DA GRAVIDEZ RESULTANTE (artigo 234-
A, III, CP): uma das possibilidades de aborto permitido no Brasil ocorre nos casos 
de gravidez resultante de estupro (art. 128, II, CP), pois é um transtorno para 
mulher engravidar dessa forma. Não é razoável que a mulher passe por este 
constrangimento, motivo pelo qual o legislador colocou a gravidez como aumento 
de pena nos crimes sexuais. 
 
Observação: o professor defende o aumento da pena nos casos em que a própria 
estupradora engravida, pois causaria transtornos para o homem enquanto vítima 
do crime, dentre eles financeiros. 
 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DE DOENÇA SEXUALMENTE 
TRANSMISSÍVEL (artigo 234-A, IV, CP): é preciso ter em mente que esse inciso 
se aplica às doenças sexualmente transmissíveis curáveis. Quanto a isso, tem-se 
que a DST é uma doença que se transmite pela via do contato sexual, mas 
comporta exceções como a candidíase. Para aplicar a majorante, é preciso que o 
agente saiba ou deva saber que está acometido pela doença, pois se ela for 
assintomática, por exemplo, não responderá por nada. 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
Observação: o professor entende que a expressão “deva saber” acontece quando 
o agente não sabe que está infectado, mas tem várias razões para sabê-lo, 
remetendo-se a uma ideia de “ausência do dever de cuidado” que designa culpa, 
motivo pelo qual o agente responderá por estupro em concurso com lesão corporal 
culposa. 
 
 E SE A DOENÇA TRANSMITIDA FOR INCURÁVEL? Primeiramente, é válido 
ressaltar que doença sexualmente transmissível incurável seria aquelas em que 
você consegue controlar os sintomas, mas não a erradica do organismo. 
Exemplo: AIDS e sífilis. Caso tenha sido transmitida por dolo, o agente 
responderá pelo crime em concurso com lesão corporal gravíssima ou homicídio 
qualificado. Caso tenha sido a título de culpa, será o crime + a qualificadora 
presente no mesmo (se houver) ou o crime + lesão corporal culposa (não tem 
qualificadora). 
 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DA VÍTIMA SER IDOSA (artigo 234-A, IV, 
CP): é uma causa de aumento objetiva, em razão da fragilidade da vítima. Porém, 
se o reconhecimento da vulnerabilidade for, especificamente, a perda da lucidez 
ou a fraqueza física típica da idade avançada, não terá lugar a aplicação da 
majorante referente à condição de vítima de pessoa idosa, sob pena de 
caracterizar-se o bis in idem. Exemplo: idosa de 70 anos completamente 
embriagada poderia caracterizar, pois sua vulnerabilidade se deu pela 
enfermidade mental incapacitante. 
 
 A CAUSA DE AUMENTO EM RAZÃO DA VÍTIMA SER PORTADORA DE 
DEFICIÊNCIA FÍSICA (artigo 234-A, IV, CP): se a deficiência física ou mental é a 
razão da incapacidade total de compreensão ou defesa e, consequentemente, da 
caracterização como vulnerável, não se aplica esse inciso porque seria bis in idem. 
Exemplo: uma pessoa com doença mental e deficiência física poderia ser usado, 
pois um configuraria uma incapacidade e o outro uma causa de aumento. 
 
 
 
 
 
 
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CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
(ARTIGOS 312 a 337 – A) 
 
 BEM JURÍDICO TUTELADO: levado em consideração que é um crime funcional, 
cuja credibilidade, honestidade e probidade dos agentes do Estado está em jogo, 
o bem jurídico relevante tutelado é a Administração Pública. Ressalta-se que essa 
tutela pretende abranger dois aspectos distintos: a entidade (faz uma alusão à 
personalidade jurídica/ entes federativos) e a atividade de administrar (boa gestão 
pública). 
 
 Patrimônio: de modo geral, os crimes contra a administração são praticados por 
pessoas que usam o cargo para se favorecer moralmente (buscando ascensão) 
ou financeiramente, como nos casos de obra superfaturada, peculato ou 
corrupção. 
 
 Funcionalidade: esse aspecto diz respeito ao obstáculo ao bom andamento da 
prestação dos serviços pela administração pública. Exemplo: quando o servidor 
vai realizar um ato funcional e você impede a sua realização. É o crime de 
resistência. 
 
 Moralidade: é sabido que o direito penal não tutela, via de regra, a moral. Contudo, 
nesse caso, protege-se não um conjunto de preceitos que guiam as condutas 
sociais, mas sim a moralidade administrativa (sentido técnico/ jurídico) prevista no 
artigo 37 da Constituição Federal. Exemplo: corrupção. Embora o agente de 
trânsito, ao deixar de aplicar uma multa de 200 reais não faz com que a União 
perca dinheiro, essa conduta é altamente imoral e merece reprimenda. 
 
 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (súmula 599 do STJ): a doutrina majoritária 
entende que não cabe este princípio nos crimes cometidos contra a Administração 
Pública em razão do fato de que não tutelam apenas o patrimônio, como também 
outros interesses que envolvem a coletividade. Todavia, esse é um pensamento 
 
 
 
AMANDA MOULIN 44 
 
CADERNO DE DIREITO PENAL IV– AMANDA MOULIN MACATROZZO (2020/1) 
arcaico e equivocado, uma vez que é extremamente desproporcional e irrisório o 
agente público responder por peculato pelo furto de uma caneta “bic”, por exemplo. 
 
Além disso, a sua não aplicação acabaria por escancarar a seletividade penal dado 
que na realidade os crimes de colarinho branco, que geram rombos econômicos 
milionários para o ente público, dificilmente são punidos. Assim, a doutrina 
minoritária busca aplicar essa súmula quando a conduta levar a um pequeno 
prejuízo no âmbito patrimonial, funcional e moral. Exemplo: pegar um grampeador 
do estágio e levar pra casa é diferente de pegar um cartucho da impressora e o 
escritório parar de funcionar porque não tinha mais tinta, tendo prejuízo funcional. 
 
 SUJEITOS ATIVOS: 
 
 Crimes funcionais (artigo 312-327): cometido por funcionário público durante o 
exercício da função ou em razão dela. São crimes próprios, pois exigem do sujeito 
ativo a qualidade/ característica de ser funcionário público. Isso não quer dizer que 
um particular não poderá em hipótese

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