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Excluídos da sucessão: indignidade e deserdação Prof.ª Lívia Carvalho da Silva Faneco Carvalhoadvocacia.livia@outlook.com Exercício João Maria elabora testamento deixando todos os seus bens para o asilo São João Bosco, situado nesta cidade. O testador falece sem deixar descendentes, ascendentes ou cônjuge. Leonardo, assistido por sua mãe, filho de irmão pré-morto de João Maria, ingressa em juízo pleiteando a redução das disposições testamentárias que extrapolam o limite legal, alegando não observância de sua quota legitimaria. É legítimo o pleito de Leonardo? Leonardo não é herdeiro necessário de João Maria, pois são herdeiros necessários apenas o cônjuge, ascendentes e descendentes. Assim, João Maria pode dispor de 100% de seu patrimônio e o pleito de Leonardo é, portanto, ilegítimo. Indignidade Conceito: “O instituto da indignidade é a privação do direito hereditário cominada por lei, a quem cometeu certos atos ofensivos à pessoa ou aos interesses do antecessor” (Clóvis Bevilácqua). Natureza jurídica: teoria da incapacidade x teoria da exclusão “Para a teoria da incapacidade, o herdeiro indigno não pode suceder por lhe faltar capacidade sucessória. Nem sequer adquire a qualidade de herdeiro, não chegando a integrar a ordem de vocação hereditária. Como nunca foi herdeiro, nada transmite a seus sucessores. Já pela teoria da exclusão, o herdeiro indigno sucede, mas, em face do que fez, perde o direito à herança, é excluído”. (Maria Berenice Dias). Indignidade Exclusão por indignidade Falta de legitimidade A pessoa recebe a coisa e a perde. A pessoa nunca a recebe, pois não tem legitimidade para tanto. É uma pena civil aplicada ao herdeiro ou legatário pela prática de determinados atos de ingratidão. É uma inaptidão para receber a herança. Por motivos de ordem geral, independentemente de seu mérito ou demérito. O indigno existe para a sucessão e perde a herança havida, ou seja, o direito existiu até a declaração de indignidade. O ilegítimo não existe para a sucessão, portanto, não tem direito de suceder. Os descendentes do indigno recebem a parte que lhe caberia, por direito de representação, como se o indigno fosse morto anteriormente ao autor da herança, uma vez que a pena não pode ultrapassar a pessoa do culpado para atingir terceiros, seus herdeiros prejudicando-os. Os herdeiros do não legitimado não recebem em seu lugar, a menos que tenham legitimidade própria. Obstaculiza a conservação da herança. Impede que surja o direito à sucessão. (Giselda Hironaka) Indignidade Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença. Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão. Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. Indignidade e Administração da herança Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos. Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles. Indignidade Sujeito ativo: Herdeiros legítimos e testamentários e os legatários E o cônjuge? Pode ser excluído do seu direito concorrencial, por indignidade. Mas sua exclusão da herança não afeta a meação. Obs.: “ Os efeitos da indignidade não atingem somente sucessores. Quem atenta contra a vida do autor da herança não merece ser contemplado com seu acervo hereditário, seja a que título for. É descabido limitar a indignidade exclusivamente aos atos praticados por herdeiros. Nenhuma pessoa que age contra a vida do de cujus ou seus familiares deve ser beneficiada. Um exemplo basta para evidenciar o equívoco da enumeração legal: nada justifica que o genro que mata o sogro seja beneficiado com os bens da herança, por ocasião do divórcio. Como ele não detém a qualidade de herdeiro, faria jus à metade da herança que a mulher recebeu quando da morte do seu genitor levada a efeito pelo marido”. (Maria Berenice Dias). Indignidade Sujeitos passivos: Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. Indignidade As causas de indignidade são consideradas taxativas. (Entendimento de maior parte da doutrina e do STJ). E no caso de induzimento ao suicídio, eutanásia, infanticídio? A doutrina entende pela extensão da indignidade para abarcar esses crimes também. E se quem cometeu o crime for menor de 18 anos? São considerados civilmente incapazes por parte da doutrina. Mas pode o filho menor concorrer à herança do pai que ele mesmo matou? Efeitos da indignidade Eficácia ex tunc Bens ereptícios: aqueles que o indigno deixou de herdar “Os demais sucessores podem exigir do herdeiro excluído a reposição patrimonial, bem como perdas e danos, eis que possuem o direito à integralidade da herança desde a abertura da sucessão. No entanto, nada podem exigir do terceiro adquirente de boa-fé, porque a lei não concede demanda reivindicatória” (Maria Berenice Dias) Reabilitação Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. Aspectos processuais Prazo decadencial: 4 anos, contados da abertura da sucessão Se os herdeiros forem menores o prazo só irá contar após a maioridade do mais novo deles. Legitimidade: qualquer interessado, inclusive ente público e Ministério Público. E se o herdeiro a ser considerado indigno falecer antes da abertura da sucessão? E se depois? Deserdação Necessária manifestação do de cujus. Condição suspensiva – necessidade de comprovação judicial. Apenas para herdeiros necessários Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar. Pressupostos da deserdação: A) existência de herdeiros necessários; Pressupostos da deserdação Orlando Gomes: A) existência de herdeiros necessários B) testamento válido C) declaração de causa (arts. 1961 a 1963 CC) Causa não existente causa a ineficácia dessa disposição testamentária, mas não afeta o testamento em si. Mas se o testamento é nulo a deserdação também o é – princípio da gravitação jurídica. Deserdação Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão. E o cônjuge? Três correntes: 1ª não pode ser deserdado porque a previsão é taxativa (numerus clausus) 2ª admitem a deserdação do cônjuge nos moldes da dos ascendentes ou descendentes. 3ª admitem apenas nos casos de indignidade. E o companheiro? Equiparação entre cônjuge e companheiro Causas Evidente conteúdo econômico E os direitos da personalidade? Art. 1.962.Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes: I - ofensa física; II - injúria grave; III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. Causas Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I - ofensa física; II - injúria grave; III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta; IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade. Reabilitação Apenas se manifestada expressamente em outro testamento. Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. Apenas Pontes de Miranda aceita a aplicação desse artigo à deserdação. Deserdação *Condicional ou parcial: Sem previsão legal Pontes de Miranda aceita a possibilidade. *Direito de representação: Silêncio legislativo Aplicação analógica da indignidade – posição majoritária e dos Tribunais. Deserdação – aspectos processuais: Não é proposta junto com o inventário. Foro competente o do domicílio do réu. Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador. Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento.
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