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1 2 APRESENTAÇÃO Olá cursista! Bem Vindo ao Curso ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL! A SECTI - Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional por meio do Projeto Qualificar ES oferta cursos de qualificação profissional, possibilitando novas oportunidades e para qualificação do cidadão que procura aperfeiçoar seu conhecimento, com vistas a melhor qualidade de vida. O CURSO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL tem o objetivo de contribuir para a melhoria da formação dos professores e de seus alunos. Nos dias de hoje, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas da sociedade. Há alguns anos, não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse assinar o nome, porque dela, só interessava o voto. O curso foi elaborado para o professor se aperfeiçoar e entender o conceito de alfabetização e letramento, como identificar o nível de letramento, como ensinar ler e escrever, varias sugestões de atividades e muito mais, o ensino da alfabetização e letramento 3 dentro da educação e fora dela é um assunto que não se esgotara facilmente, pois a sociedade vem impondo novos padrões de exigência, mesmo diante de novos paradigmas, métodos, teorias psicológicas precisamos nos adaptar ao novo. É importante que você leia o material, compartilhe as experiências e tire suas dúvidas através nos fóruns e faça todos os exercícios propostos. DESEJO A VOCÊ, BONS ESTUDOS! 4 INTRODUÇÃO A educação é, com certeza, um dos fatores mais importantes para a construção de uma sociedade democrática, desenvolvida e socialmente justa. É condição básica e direito fundamental da cidadania. A educação como ato crítico radical, de conhecer para transformar, será a única garantia de valorização do ser humano. O domínio da língua, nas diferentes vertentes da palavra escrita e falada, da leitura e da oralidade, é crucial nos mais variados domínios da vida individual e coletiva. Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas. Essas mudanças nas práticas de ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico. Hoje o desafio maior é "Como alfabetizar letrando". Os processos de alfabetização e letramento são complexos, mas fundamentais para a inclusão social. O ensino de Letramento rompe barreiras tradicionais que considera a alfabetização como pré-requisito para o domínio da leitura e escrita Não se deve haver uma dicotomia entre a alfabetização e o letramento. São processos que caminham juntos, e devem ser ensinados juntos no âmbito escolar, ou seja, é preciso o educador não penas alfabetize ou 'letre' o educando, e sim 'alfabetize letrando' o aluno, para que possa orientar o mesmo, o ato de ler e de escrever no contexto das práticas sociais. 5 Nos dias de hoje, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas da sociedade. Há alguns anos, não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse assinar o nome, porque dela, só interessava o voto. Hoje, saber ler e escrever de forma mecânica não garante a uma pessoa interação plena com os diferentes tipos de textos que circulam na sociedade. É preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em diferentes contextos. Desde a invenção da escrita 3000 a.C, pelos Sumérios, habitantes da mesopotâmia, vários métodos foram utilizados com a finalidade de alfabetizar, que segundo o dicionário Aurélio significa: Ensinar a ler. Mas surgiu na década de 80, uma nova definição referente ao ensinar a ler que é o chamado Letramento. Em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente sentiu-se a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais do ler e escrever resultantes da aprendizagem, no Brasil a discussão do letramento surge enraizada no conceito de alfabetização. Dissociar alfabetização e letramento é um único equívoco, pois alfabetização o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento, sendo processos simultâneos. Falar em alfabetização e letramento dentro da educação e fora dela é um assunto que não se esgotara facilmente, pois a sociedade vem impondo novos padrões de exigência, mesmo 6 diante de novos paradigmas, métodos, teorias psicológicas precisamos nos adaptar ao novo. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. O indivíduo alfabetizado e letrado além de saber ler e escrever, responde adequadamente as demandas sociais da leitura e da escrita. MÓDULO I – A ORIGEM DA ALFABETIZAÇÃO O CONCEITO DA ESCRITA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE Uma contemplação cuidadosa e criativa sobre o histórico da humanidade e a informação impressa permite deduzir que esta é uma das relações mais estruturadas e antigas entre o homem e um engenho seu. Percebe-se isso ao se considerar que os laços homem-impresso existem desde antes da escrita. E até mesmo antes da comunicação verbal! Uma prova é o fato de que as mais remotas performances protagonizadas pelo homem chegaram até nós principalmente através alguma inscrição: as pinturas rupestres, por um cuidado da natureza, ainda hoje comunicam ao homem – milênios mais tarde – aspectos da vida daqueles ancestrais. Ou seja, na pré história o ser humano já internalizava a necessidade de registros impressos. Pinturas rupestres 7 Esses laços foram atados de tal forma na evolução humana, que até pode-se tecer uma analogia entre a história da humanidade e a aprendizagem da escrita de um indivíduo, pois do Paleolítico ao contemporâneo o homem mantém uma relação com as inscrições de forma semelhante à aprendizagem da escrita na infância. Explicando: assim como a criança mantém seus primeiros contatos com os impressos rabiscando, desenhando e reconhecendo figuras, a raça humana em sua fase “criança” (o homem das cavernas) começou a registrar sua história através de desenhos-rabiscos. E um e outro iniciam sua comunicação verbal com sons não identificáveis facilmente. Assim, na evolução humana, a utilização dos registros impressos, sejam os pictogramas rupestres, sejam os primeiros símbolos literais dos fonemas, tornaram-se indispensáveis às relações sócio-econômico-culturais. (...) Vivemos os séculos da civilização da escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião 8 escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe história que não se funde sobre textos (HIGOUNET, 2003). O LEGADO DO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO Dada a inexistência de organização e padronização nas representações gráficas das pinturas rupestres, estas não são consideradas exatamente escrita, mas criptografias aleatórias que pretendem transmitir sua mensagem, gravadas em um material da natureza. Por isso mesmo, é possível fazer uma analogia entre aquelas gravuras e a escrita: ambos os casos buscam registrar algo, de alguma forma, para determinado grupo, para aquele momento ou para a posteridade. Criptografia do Egito As semelhanças entre as pinturas paleolíticas e a escrita também estão nos instrumentos e suportes para execução de ambas as técnicas, que trazem a mesma ideia principal, em dois momentos 9 distantes entre si cercade milhares de anos: um objeto com o qual se vai desenhar ou escrever (utilizando para isso pedra, materiais inorgânicos e orgânicos à base de tintas vegetais e minerais, e pena, caneta ou lápis) e outro no qual será registrado o assunto pretendido (a rocha ou um papel). Com esses instrumentos, os homens das cavernas foram os primeiros a dispor de um tipo de registro usado até hoje, a ideografia, cujo grande número de símbolos que a compõem permite que seja utilizada e interpretada em qualquer lugar onde seu significado seja correspondente, como os desenhos das placas de trânsito, por exemplo. A arte primitiva é um legado de inscrições em rochas que desafiou o tempo, sobrevivendo há milhares de anos e ainda transmitindo informações sobre uma civilização inexistente, mesmo depois do surgimento da escrita como um marco da História. A escrita causou uma revolução tão significativa nas comunicações, que os historiadores estabeleceram o 10 encerramento da Pré-História e o nascimento da História no período em que o homem começou a escrever. Isso demonstra que por mais de cinco mil anos, a escrita manteve se na vanguarda como um dos marcos iniciais da História. Segundo Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon (1989), o fim da Pré-História ocorreu primeiramente no Oriente Próximo, com o surgimento da escrita ligado à evolução das primeiras civilizações urbanas, na região entre os rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia, cerca de 40 séculos antes da Era Cristã. Com essa reputação, a escrita adquiriu autonomia e independência, tornando-se objeto de necessidade de domínio mundial. Também transcendeu em fama aos seus inventores e aos que a têm aperfeiçoado no processo contínuo da evolução das civilizações. A existência da escrita distingue-se como um marco das formas de expressão, não apenas por sua capacidade de registrar a História, representar a fala ou ideias, ser apreendida e decodificada pelo entendimento humano, mas também por ultrapassar limites geográficos, sobreviver épocas, ajudar a construir ou desconstruir culturas, universalizar religiões, ideias, pensamentos, sofrer mutações pelas mais diversas causas, entre elas as transliterações e as traduções, e, ainda assim, ter a possibilidade de permanecer como originalmente foi produzida. O desenvolvimento dos métodos de agricultura e do comércio, e as distâncias entre as cidades entre as quais se estabeleciam relações de troca, são tidos como os responsáveis pelos primeiros registros escritos, antes a necessidade de controle administrativo, de registros contábeis e de se saber com exatidão onde se 11 situavam os distantes pontos de abastecimento e quais as rotas a seguir para os alcançar. Consequentemente, se tornou imprescindível o desenvolvimento de sistemas de pesos e medidas, só possíveis com recurso à matemática, – que implica também alguma forma de notação gráfica –, e de mapas e cartas. Além de registrar graficamente os movimentos agro comerciais daquelas civilizações, os símbolos impressos tiveram suas aplicações em outras esferas das atividades do homem, onde diversos conhecimentos começaram a ser desenvolvidos, como a Astronomia, o Direito, a Poesia etc. A escrita abriu um espaço de comunicação desconhecido pelas sociedades orais, no qual tornava-se possível tomar conhecimento das mensagens produzidas por pessoas que se encontravam a milhares de quilômetros, ou mortas há séculos, ou então que se expressavam apesar de grandes diferenças culturais ou sociais (LÉVY, 2000, p. 114). AS ORIGENS DO ALFABETO Segundo Higounet, “o alfabeto pode ser definido como um sistema de sinais que exprimem os sons elementares da linguagem” (2003, p. 59). Este sistema, com suas técnicas e instrumentos, configura outra redefinição no processo da comunicação escrita, que não consiste primeiramente na invenção de uma série de signos gráficos, mas na decomposição da palavra em sons simples, em que cada qual é representado por um só signo. Não mais a pictografia, ou a ideografia, desenhos representando ideias, mas sinais que, evoluindo daqueles 12 desenhos, representam diretamente os sons da fala. Cagliari demonstra algumas evoluções de formas pictográficas que mais tarde se tornariam as letras do alfabeto como as conhecemos hoje: O a era a representação da cabeça de um boi na escrita egípcia. Em grego, o alfa se escreve α. O b era a representação de uma casa egípcia. O d era a figura de uma porta. O m era o desenho das ondas da água. O n era o desenho de uma cobra. O era a figura de um olho. O x representava o peixe, e assim por diante. (CAGLIARI, p. 108). O ALIFATO E SEUS DERIVADOS Uma representação mais próxima de um alfabeto surgiu com o aparecimento do Alifato, que ao contrário dos escritos egípcios, não se restringiu a uma região. O Alifato se configurou na Síria, Fenícia e Palestina, constituído por 28 letras e escrito da direita para a esquerda e também derivou outros sistemas de escrita. Era dividido em dois subgrupos: o fenício, que derivou o alfabeto grego; e o aramaico, derivando o alfabeto hebreu e o árabe. 13 Alfabeto árabe. As vogais não eram totalmente representadas em alguns desses alfabetos. Este sistema de escrita incide decisivamente na história das grandes religiões. Traduzindo os textos sagrados de seus derivados aramaico e hebreu, transcreveu alguns textos dos livros do Antigo Testamento. FENÍCIA, BERÇO DOS ALFABETOS? A Fenícia se situava na planície costeira do que é hoje o Líbano e a Síria, no Mediterrâneo oriental. O historiador grego Heródoto atribui aos fenícios as primeiras inscrições de fato alfabéticas, mas pesquisas atuais têm mostrado 14 vestígios de um alfabeto anterior, chamado escrita proto- sinaítica, utilizado na península do Sinai. O alfabeto fenício, apareceu pela primeira vez em Biblos e é considerado a origem dos alfabetos atuais. Apesar do pretenso pioneirismo fenício, não há literatura ou registros escritos em materiais resistentes ao desgaste do tempo. O que se sabe da sua escrita provém de curtas inscrições em pedra. Com os dados que se apresentam hoje, pode-se entender que a construção das palavras, assim como o alfabeto árabe e o hebraico, não tinham símbolos para representar sons de vogais. Cada símbolo representa uma consoante. As vogais precisavam ser deduzidas no contexto da palavra. Com 22 sinais, esse alfabeto foi utilizado por volta do final do século 12 antes de Cristo. Consistia-se em sinais com precisão de formas, que dispostos ordenadamente em determinada combinação representavam graficamente, cada um, o respectivo som dos fonemas de uma linguagem oral. 15 Alfabeto fenício ALFABETO GREGO: A INOVAÇÃO DAS VOGAIS De qualquer forma, “o mais famoso resultado desse processo é o alfabeto grego, em grande parte devedora da invenção fenícia”. Embora os fenícios sejam considerados os principais precursores do alfabeto grego, há indícios de que os gregos tiveram a origem da sua escrita no Oriente Próximo antes do tempo dos fenícios. Alfabeto grego 16 Os gregos foram um dos primeiros povos a representar graficamente, nem sílabas, mas os próprios sons das letras, a menor parte decomposta de uma palavra. Com os desenhos dessa decomposição, houve um incremento significativo do alfabeto grego em si mesmo e para as escritas dele derivadas, a inclusão das vogais. Junto às consoantes, as vogais compunham ao todo 24 letras. Higounet chama atenção para este fato, comentando que “o modo como se fez a notação das vogais merece um pouco mais de atenção, pois foi com essa inovação que o alfabeto grego se tornou o ancestral de todos os alfabetos europeus modernos” (HIGOUNET, 2003, p. 89). Conclui-se, portanto, queeste alfabeto tem importância singular para a civilização ocidental atual. A inclusão das vogais é apenas um item no currículo deste alfabeto, que transmitiu para outros povos os conhecimentos da cultura grega, a mais rica da Antiguidade, bem como de seus mitos e filosofia; permitiu a difusão do Novo Testamento no mundo até então conhecido, que depois foi traduzido para outras línguas; a Grécia estendeu a produção e comércio de livros, generalizando-se a leitura individual, reforçada com a existência de bibliotecas públicas e privadas; e esse alfabeto “foi também o intermediário ocidental entre o alfabeto semítico e o alfabeto latino, intermediário não apenas histórico, geográfico e gráfico, mas estrutural, pois foram os gregos os primeiros a terem a idéia da notação integral e rigorosa das vogais” (HIGOUNET, 2003, p. 87). Muitas outras escritas surgiram a partir do alfabeto grego, especialmente na Ásia Menor. Através daquele alfabeto, o Egito redefiniu a sua escrita para o copta. A escrita gótica também surgiu a partir dele. Devido a sua grande influência no latim, o 17 grego é origem de muitas palavras e afixos da língua portuguesa e de outras línguas latinas. MIGRAÇÕES E SUAS LÍNGUAS Com as inúmeras migrações entre os continentes, a língua inicial existente acabou subdividida em cinco ramos: o helênico, de onde veio o idioma grego; o românico, que originou o português, o italiano, o francês e uma série de outras línguas denominadas latinas; o germânico, de onde surgiram o inglês e o alemão; e finalmente o céltico, que deu origem aos idiomas irlandês e gaélico. O ramo eslavo, que é o quinto, deu origem a outras diversas línguas atualmente faladas na Europa Oriental. O latim era a língua oficial do antigo Império Romano e possuía duas formas: o latim clássico, que era empregado pelas pessoas cultas e pela classe dominante (poetas, filósofos, senadores, etc.), e o latim vulgar, que era a língua utilizada pelas pessoas do povo. O português originou-se do latim vulgar, que foi introduzido na península Ibérica pelos conquistadores romanos. Damos o nome de neolatinas às línguas modernas que provêm do latim vulgar. No caso da Península Ibérica, podemos citar o catalão, o castelhano e o galego-português, do qual resultou a língua portuguesa. O domínio cultural e político dos romanos na península Ibérica impôs sua língua, que, entretanto, mesclou-se com os substratos linguísticos lá existentes, dando origem a vários dialetos, genericamente chamados romanços (do latim romanice, que significa "falar à maneira dos romanos"). Esses dialetos foram, com o tempo, modificando-se, até constituírem novas línguas. Quando os germânicos, e posteriormente os árabes, invadiram a 18 Península, a língua sofreu algumas modificações, porém o idioma falado pelos invasores nunca conseguiu se estabelecer totalmente. Somente no século XI, quando os cristãos expulsaram os árabes da península, o galego-português passou a ser falado e escrito na Lusitânia, onde também surgiram dialetos originados pelo contato do árabe com o latim. O galego-português, derivado do romanço, era um falar geograficamente limitado a toda a faixa ocidental da Península, correspondendo aos atuais territórios da Galiza e de Portugal. Em meados do século XIV, evidenciaram-se os falares do sul, notadamente da região de Lisboa. Assim, as diferenças entre o galego e o português começaram a se acentuar. A consolidação de autonomia política, seguida da dilatação do império luso consagrou o português como língua oficial da nação. Enquanto isso, o galego se estabeleceu como uma língua variante do espanhol, que ainda é falada na Galícia, situada na região norte da Espanha. As grandes navegações, a partir do século XV d.C. ampliaram os domínios de Portugal e levaram a Língua Portuguesa às novas terras da África (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe), ilhas próximas da costa africana (Açores, Madeira), Ásia (Macau, Goa, Damão, Diu), Oceania (Timor) e América (Brasil). A Evolução da Língua Portuguesa Destacam-se alguns períodos: 19 1) Fase Proto-histórica Compreende o período anterior ao século XII, com textos escritos em latim bárbaro (modalidade usada apenas em documentos, por esta razão também denominada de latim tabeliônico). 2) Fase do Português Arcaico Do século XII ao século XVI, compreendendo dois períodos distintos: a) do século XII ao XIV, com textos em galego-português; b) do século XIV ao XVI, com a separação entre o galego e o português. 3) Fase do Português Moderno Inicia-se a partir do século XVI, quando a língua se uniformiza, adquirindo as características do português atual. A literatura renascentista portuguesa, notadamente produzida por Camões, desempenhou papel fundamental nesse processo de uniformização. Em 1536, o padre Fernão de Oliveira publicou a primeira gramática de Língua Portuguesa, a "Grammatica de Lingoagem Portuguesa". Seu estilo baseava-se no conceito clássico de gramática, entendida como "arte de falar e escrever corretamente". O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA OFICIAL Estima-se que o português terá surgido entre os séculos IX e XII. Existem documentos escritos em português, datados do século XIII, como o Testamento de Afonso II. Foi nesse século que D. Dinis, rei de Portugal, oficializou o português como a língua que deveria ser usada em todos os documentos administrativos do 20 reino, em detrimento do latim. Passa, assim, a haver um português historicamente documentado. Fases do português: Português arcaico: do século XIII ao final do século XIV. Neste período está incluída a realidade galego-portuguesa. Português arcaico médio: da 1.ª metade do século XV à 1.ª metade do século XVI. Português moderno: da 2.ª metade do século XVI ao final do século XVII. Português contemporâneo: do início do século XVIII aos dias atuais. O PORTUGUÊS NO BRASIL Com a expansão marítima portuguesa, o português é levado a todas as colônias portuguesas, chegando, assim, ao Brasil em 1500. Com a presença da língua portuguesa em território brasileiro e com a catequização dos índios pelos jesuítas, várias línguas indígenas perderam força, chegando mesma a desaparecer. Não deixaram, contudo, de influenciar grandemente o português atualmente falado no Brasil, como o tupinambá, da família tupi- guarani. Também as línguas africanas provenientes do tráfico de escravos influenciaram grandemente a língua. No século XVIII, a língua portuguesa foi declarada como a língua oficial do Brasil. 21 O PORTUGUÊS NO MUNDO O português é, atualmente, a língua oficial de nove países: Brasil; Portugal; Angola; Moçambique; Cabo Verde; Timor-Leste; Guiné-Bissau; Guiné Equatorial; São Tomé e Príncipe. Estes países formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que visa à promoção e difusão da língua, bem como à cooperação entre os países falantes de português. Tendo como objetivo unificar a escrita da língua e, consequentemente, preservar a língua portuguesa, foi assinado em 1990 o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Em vigor no Brasil desde 2009, o seu uso passou a ser obrigatório em janeiro de 2016. A ORIGEM DA ALFABETIZAÇÃO HISTÓRIA DOS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL A fim de contribuir para o debate a respeito do tema deste evento, apresento nesta conferência uma síntese de alguns dos resultados de pesquisas que venho desenvolvendo, há mais de duas décadas, a respeito da história do ensino de língua e literatura no Brasil e, em particular, a respeito do ensino da leitura e escrita na fase inicial de escolarização de crianças, ou alfabetização, como esse 22 processo passou a ser denominado, entre nós, a partir do início doséculo XX. Em nosso país, a história da alfabetização tem sua face mais visível na história dos métodos de alfabetização, em torno dos quais, especialmente desde o final do século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e "novas" explicações para um mesmo problema: a dificuldade de nossas crianças em aprender a ler e a escrever, especialmente na escola pública. Visando a enfrentar esse problema e auxiliar "os novos" a adentrarem no mundo público da cultura letrada, essas disputas em torno dos métodos de alfabetização vêm engendrando uma multiplicidade de tematizações, normatizações e concretizações, caracterizando-se como um importante aspecto dentre os muitos outros envolvidos no complexo movimento histórico de constituição da alfabetização como prática escolar e como objeto de estudo/pesquisa. ESCOLA E ALFABETIZAÇÃO Em nosso país, desde o final do século XIX, especialmente com a proclamação da República, a educação ganhou destaque como uma das utopias da modernidade. A escola, por sua vez, consolidou-se como lugar necessariamente institucionalizado para o preparo das novas gerações, com vistas a atender aos ideais do Estado republicano, pautado pela necessidade de instauração de uma nova ordem política e social; e a universalização da escola assumiu importante papel como instrumento de modernização e progresso do Estado-Nação, 23 como principal propulsora do “esclarecimento das massas iletradas”. No âmbito desses ideais republicanos, saber ler e escrever se tornou instrumento privilegiado de aquisição de saber/esclarecimento e imperativo da modernização e desenvolvimento social. A leitura e a escrita — que até então eram práticas culturais cuja aprendizagem se encontrava restrita a poucos e ocorria por meio de transmissão assistemática de seus rudimentos no âmbito privado do lar, ou de maneira menos informal, mas ainda precária, nas poucas “escolas” do Império (“aulas régias”) — tornaram-se fundamentos da escola obrigatória, leiga e gratuita e objeto de ensino e aprendizagem escolarizados. Caracterizando-se como tecnicamente ensináveis, as práticas de leitura e escrita passaram, assim, a ser submetidas a ensino organizado, sistemático e intencional, demandando, para isso, a preparação de profissionais especializados. Desse ponto de vista, os processos de ensinar e de aprender a leitura e a escrita na fase inicial de escolarização de crianças se apresentam como um momento de passagem para um mundo novo — para o Estado e para o cidadão —: o mundo público da cultura letrada, que instaura novas formas de relação dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história e com o próprio Estado; um mundo novo que instaura, enfim, novos modos e conteúdos de pensar, sentir, querer e agir. No entanto, especialmente desde as últimas duas décadas, as evidências que sustentam originariamente essa associação entre escola e alfabetização vêm sendo questionadas, em decorrência das dificuldades de se concretizarem as promessas e os efeitos pretendidos com a ação da escola sobre o cidadão. Explicada 24 como problema decorrente, ora do método de ensino, ora do aluno, ora do professor, ora do sistema escolar, ora das condições sociais, ora de políticas públicas, a recorrência dessas dificuldades de a escola dar conta de sua tarefa histórica fundamental não é, porém, exclusiva de nossa época. Decorridos mais de cem anos desde a implantação, em nosso país, do modelo republicano de escola, podemos observar que, desde essa época, o que hoje denominamos “fracasso escolar na alfabetização” se vem impondo como problema estratégico a demandar soluções urgentes e vem mobilizando administradores públicos, legisladores do ensino, intelectuais de diferentes áreas de conhecimento, educadores e professores. Desde essa época, observam-se repetidos esforços de mudança, a partir da necessidade de superação daquilo que, em cada momento histórico, considerava-se tradicional nesse ensino e fator responsável pelo seu fracasso. Por quase um século, esses esforços se concentraram, sistemática e oficialmente, na questão dos métodos de ensino da leitura e escrita, e muitas foram as disputas entre os que se consideravam portadores de um novo e revolucionário método de alfabetização e aqueles que continuavam a defender os métodos considerados antigos e tradicionais. A partir das duas últimas décadas, a questão dos métodos passou a ser considerada tradicional, e os antigos e persistentes problemas da alfabetização vêm sendo pensados e praticados predominantemente, no âmbito das políticas públicas, a partir de outros pontos de vista, em especial a compreensão do processo 25 de aprendizagem da criança alfabetizada, de acordo com a psicogênese da língua escrita. O que é esse “tradicional”? Quando e por quê se engendra um tipo de ensino de leitura e escrita que hoje é acusado de "tradicional"? O que representava para a(s) época(s) em que ocorre seu engendramento? Qual sua relação com a tradição que lhe é anterior? Quanto desse “tradicional” subsiste nas práticas alfabetizadoras, mesmo nas dos professores que querem superá- las? Como se pode explicar sua insistente permanência? Como dialogam entre si a tradição e os repetidos esforços de mudança em alfabetização? ALFABETIZAÇÃO, LITERATURA INFANTIL E A ESCOLA O “livro da vida” da criança desde pequenas as crianças gostam de ouvir, contar e desenhar histórias das mais diversas formas, seja com a família ou no grupo de amigos. Quando chegam à escola já trazem consigo uma bagagem imensa de fatos e histórias de vida que podem compor um livro. E este “livro da vida” vem recheado de imaginação, criatividade, curiosidade, fantasia e vontade de descobrir, a cada dia, mais e mais situações que as instiguem a pensar, a criar, a opinar e tomar decisões. Cabe à escola, ao iniciar o trabalho com a alfabetização, conhecer a história de vida da criança, ofertar a riqueza do mundo da literatura infantil por meio do contato com os livros infantis e contação de histórias. Essa atividade tem como objetivo não só um contato afetivo com a criança, diz Rocha (1984), contato este de extrema importância, mas também, a abordagem do desenvolvimento da linguagem, da lógica, da estética e, 26 principalmente, da liberação e do fortalecimento da criatividade, da imaginação e da fantasia nesta fase inicial da alfabetização. É a partir do contato com as histórias infantis que a criança inicia seu processo de letramento, incentivada/motivada a se alfabetizar o quanto antes. Para poder ler, com seus próprios “olhos brilhantes”, todas as aventuras e imensidão de um vasto mundo traduzidas por meio das letras que estão “desenhadas” nos livros. A prática adequada ao conhecimento é aquela que conduz o leitor a realizar este saber e a assimilar em suas práticas sociais internalizando o conhecimento para uso próprio. Já a inadequação da escolarização da literatura infantil pode-se dar no simples fato de limitar o conhecimento em certos autores ou obras simplificando o conhecimento literário. O adequado é chegar ao complexo da compreensão do literário na busca constante da leitura literária, isto é, de formar sujeitos capazes de compreender o diferente e saber buscar o novo. Para que este conhecimento literário se concretize na prática é preciso um ambiente propício que leve os ouvintes à leitura e profissionais que entendam o verdadeiro significado da literatura. Literatura não se aprende, vivencia-se, convive-se, e ensaiar esta troca em um meio escolarizado é dar subsídios a quem não tem acesso à leitura da literatura. LEITURA E ESCRITA: PROCESSOS QUE PERMEIAM A HISTÓRIA ENSINADA O indivíduo que aprende a ler e a escrever torna-se alguém alfabetizado, istoé, alguém que deixou de ser analfabeto, que 27 sabe decodificar o código linguístico. Ser alfabetizado é fazer a aquisição da língua, no sentido de conhecer o alfabeto e conseguir formar e ler palavras. Alguém alfabetizado possui as habilidades básicas de leitura e escrita. Porém para que um indivíduo consiga se relacionar com o mundo através da linguagem escrita é preciso que, além de saber ler e escrever, ele saiba interpretar os textos nos diversos contextos em que estão inseridos. No intuito de melhor definir esta habilidade utilizarmo-nos do termo letramento. Este termo vem sendo utilizado de forma crescente desde a década de 1980 para indicar a prática que ultrapassa o “ser alfabetizado”, a simples decodificação dos textos, englobando a percepção e utilização crítica desses. Ele vem ganhando espaço nos Campos da Educação e das Ciências Linguísticas e, tem como objetivo criar uma diferenciação entre a prática de aquisição do código linguístico, das habilidades de leitura e escrita, que é a alfabetização, e a prática do letramento – que envolve a habilidade de fazer uso da leitura e da escrita. Os processos de alfabetização e letramento são interligados e interdependentes. É durante o processo de alfabetização que as práticas de letramento são inicialmente inseridas na vida do indivíduo, dependendo da evolução desta do processo de alfabetização. Estas práticas são indissociáveis e simultâneas, mas envolvem conhecimentos e habilidades específicas que implicam formas de aprendizagem diferenciadas e procedimentos diferenciados de ensino. Nas palavras de Magda Soares, o que são estes processos e quais as principais consequências de adquiri-los: 28 Tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita, tem consequências sobre o indivíduo e altera seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos; do ponto de vista social, a introdução da escrita em um grupo até então àgrafo tem sobre este grupo efeitos de natureza social, cultural, política, econômica, linguística. O “estado” ou a “condição” que o indivíduo ou o grupo social passam a ter, sob o impacto dessas mudanças, é que é designado por literacy. É no sentido de uma habilidade que transcende as práticas de leitura e escrita que a autora nos trás a palavra letramento, criada a partir da tradução ao pé da letra de literacy, termo em inglês que defina letramento. Para ela letramento significa o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita. Ser letrado é fazer o uso de diferentes materiais escritos, compreendê-los, interpretá-los e extrair deles informações. Inclusive englobando textos escritos no ciberespaço, hipertextos, o que para a autora, colocaria o letramento como um fenômeno plural, historicamente e contemporaneamente, tendo em vista os diferentes meios em que podem se dar a leitura e a escrita. A conceituação sobre leitura e escrita pode-se concluir que a prática da leitura envolve uma série de questões que transcendem o processo de alfabetização. Isso, partindo do pressuposto de que ser alfabetizado significa dominar o código da língua escrita e, que, para a compreensão do significado de um texto é necessário mais do que isso. Entender um texto envolve além da decodificação do código linguístico a mobilização de um campo de 29 competências específico ao tema lido. Envolve a capacidade de compreender e interagir com os diferentes gêneros textuais que estão postos na sociedade contemporânea. O indivíduo letrado consegue entender uma charge, uma piada, um anúncio de jornal, enfim, consegue se relacionar nos mais diferenciados contextos sociais, interagindo com discursos escritos e orais que estão postos no mundo, à nossa volta. ALFABETIZAÇÃO: O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA Para que a aprendizagem da escrita aconteça, existem dois processos que precisam ocorrer simultaneamente: a apropriação do sistema de escrita alfabética e o conhecimento das características da linguagem que se usa para escrever. Por isso, desde o início do trabalho escolar, é importante considerarmos os alunos como escritores plenos, participantes do processo de produção, mesmo que não escrevam convencionalmente. Aprendemos a escrever, enquanto escrevemos. E para que isso aconteça, precisamos propiciar vivências variadas, a fim de que os alunos experimentem e entendam a função de cada tipo de texto em suas vidas. Elas precisam formular hipóteses, confrontá-las, pensar na organização, o que representa, para que serve e quem vai ler. CARACTERIZAÇÃO DAS HIPÓTESES LINGUÍSTICAS http://professoramaria.com.br/blog/?p=61 http://professoramaria.com.br/blog/?p=61 30 Nas sociedades letradas, as crianças estão sempre em contato com a linguagem escrita diversificada no ambiente: revistas, bilhetes, jornais, outdoors, nomes de ruas, placas etc. Esse contato permite que elas pensem, reflitam sobre o funcionamento e características do código linguístico e reconstruam as regras desse sistema complexo. Elas fazem perguntas, deduções e vão aprendendo o significado da escrita. Um aprendiz elabora esses conhecimentos, passando por diferentes hipóteses provisórias até se apropriar de toda a complexidade do sistema. Essas hipóteses dependem do grau de letramento do ambiente social e das vivências sociais de leitura e de escrita que podem ser presenciados numa comunidade. Baseando-se nos estudos e pesquisas da “Psicogênese da linguagem escrita”, bem como na prática pedagógica, usamos a seguinte nomenclatura: – Pré-silábico – Intermediário I – Silábico – Silábico-alfabético – Alfabético Nível 1 – Pré-silábico Desde muito pequenas, as crianças usam lápis e papel para imprimir marcas, imitando a escrita dos mais velhos. No nível pré- silábico, há algumas fases: 1 – Fase pictórica – a criança registra garatujas, desenhos sem figuração e, mais tarde, desenhos com figuração. Normalmente, 31 se ela vive num ambiente urbano, com estimulação linguística e disponibilidade de material gráfico, começa a rabiscar e a experimentar símbolos muito cedo (por volta dos 2 anos). Muitas vezes, ela já utiliza a linearidade, mostrando uma consciência sobre as características da escrita. 2 – Fase gráfica primitiva – ocorre o registro de símbolos, pseudoletras, misturadas com letras e números. Já demonstra linearidade e utiliza o que conhece do meio ambiente para escrever (bolinhas, riscos, pedaços de letras). Nesse momento há um questionamento sobre os sinais escritos. Ela pergunta muito aos adultos sobre as representações que vê em sua comunidade. http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/04.jpg http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/01-3.jpg 32 3- Pré-silábica propriamente dita – a criança começa a diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos e reconhece o papel das letras na escrita. Percebe que elas servem para escrever, mas não sabe como isso ocorre. Neste momento, a criança apresenta as seguintes concepções: – Falta de consciência da correspondência entre pensamento e palavra escrita. – Falta de correspondência entre grafema e fonema. Não há reconhecimento do valor sonoro convencional, isto é, não observa a relação que existe entre o que se fala ou pensa e as letras utilizadas para isso. – Impressão de que a ordem das letras não é importante. Podem ser quaisquer letras, em qualquer ordem, pois a escrita não é estável. A mesma palavra pode mudar de significado numlugar diferente, porque ela corresponde ao que o sujeito desejou escrever. Por exemplo: a escrita LTUVXJEAX pode significar “girafa”, “macarronada” ou qualquer outra palavra. – Impressão de que só existe a possibilidade de escrever substantivos, pois eles têm significado. Geralmente a criança não escreve verbos ou artigos. – Ideia de que a leitura e a escrita só são possíveis se houver muitas letras (sempre mais de três) e letras diferentes e variadas e que as letras ou sílabas não se repetem na mesma palavra. http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/03-2.jpg http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/03-2.jpg 33 Quando questionada se a palavra SOL pode ser lida, a criança diz que não, porque tem poucas letras. O mesmo ocorre quando se mostra a sequência LALALALA (porque é tudo igual). É comum também a criança dizer que para escrever ELEFANTE, por exemplo, ela precisa de muitas letras, porque “elefante” é grande, e para escrever “formiguinha”, ela precisa de poucas letras, porque “formiga” é pequena. Nível 2 – Intermediário I Essa fase caracteriza-se por um conflito. A criança foi provocada a repensar a certeza do nível pré-silábico e fica sem saída, pois não consegue ainda entender a organização do sistema linguístico. Geralmente há negação da escrita, pois o aluno diz que “não sabe escrever”. É importante que o professor ou adulto apoie e incentive a continuidade da busca de respostas a respeito do funcionamento da escrita. As características desse nível são: – Ligação difusa entre pronúncia e escrita. A criança já conhece e usa alguns valores sonoros, além de alguns trechos da palavra. Ao http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/05-2.jpg 34 ser solicitada a escrever “elefante”, por exemplo, ela escreve EXTATEUSE. Já é capaz de justificar: começa com E e termina com E; – Início de uma certa estabilidade exterior das palavras, dependendo da autoridade de alguém que especifica as letras e a sua ordem. A criança sabe, por exemplo, que a palavra ‘Rodrigo’ tem dois erres, mas não sabe onde colocá-los. Nível 3 – Silábico Quando a criança chega ao nível silábico, sente-se confiante porque descobre que pode escrever com lógica. Ela conta “os pedaços sonoros”, isto é, as sílabas, e coloca um símbolo (letra) para cada pedaço. Essa noção de que cada sílaba corresponde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional. A criança pode, por exemplo, escrever “fita” assim: IA (com valor sonoro) ou LX (sem valor sonoro). Aqui, o aluno acredita que resolveu o problema de escrita, mas a leitura ainda continua problemática, porque os adultos não conseguem ler o que ele escreveu. http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/06.jpg 35 As características da hipótese silábica são: – Aceitação de palavras com uma ou duas letras, mas ainda com uma certa hesitação. Algumas vezes, depois de escrever a palavra, coloca mais letras só para ficar “mais bonito”. Exemplo: UALXTO (uva); – Possibilidade de convivência com a hipótese de quantidade mínima de letras por um bom tempo; – Utilização de uma letra para cada palavra ao escrever uma frase; – Falta de definição das categorias linguísticas (artigo, substantivo, verbo etc.). – Maior precisão na correspondência som/letra, o que não ocorre necessariamente sempre. É frequente que numa frase algumas palavras sejam registradas com recorte silábico. O essencial da hipótese silábica é a sonorização da escrita, inexistente em fases anteriores. Nível 4 – Silábico-alfabético http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/07-2.jpg 36 Por se tratar de uma hipótese intermediária, é mais uma vez um momento conflitante, pois a criança precisa negar a lógica do nível silábico. Ninguém consegue ler o que ela escreve e, nesse momento, ela se vê sem saída. Isso acontece principalmente quando ela usa só as vogais, porque a mesma combinação de letras serve para escrever uma porção de palavras. É justamente isso que pode indicar o caminho para o professor: propor atividades que levem a criança a observar a distância entre a sua escrita (AO) e a escrita do adulto (“sapo”). É o momento em que a criança começa a acrescentar letras, principalmente na primeira sílaba da palavra. Exemplo: TOAT (“tomate”). Neste nível, o aprendiz está a um passo da escrita alfabética. Nível 5 – Alfabético Quando a criança reconstrói o sistema linguístico e compreende sua organização, ela transpõe a porta do mundo e das coisas escritas. Nesse momento, já consegue ler e expressar graficamente o que pensa ou fala. Essa hipótese apresenta as seguintes características: http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/10.jpg 37 – Compreensão da logicidade da base alfabética da escrita. Exemplo: a criança sabe que os sons G e A são grafados GA e que T e O são grafados TO, e que, juntos, significam GATO. – Conhecimento de todas ou de grande parte das letras, juntando-as para que se formem sílabas e palavras; – Distinção entre letra, sílaba, palavra e frase. Às vezes, contudo, não se divide a frase convencionalmente, e sim de acordo com o ritmo frasal. Exemplo: omininu comidoci. (O menino come doce.) É importante destacar que nesse momento a criança escreve foneticamente (faz a relação entre som e letra), mas não ortograficamente. O desafio agora, é caminhar em direção à convencionalidade, em direção à correção ortográfica e gramatical. VALOR SONORO CONVENCIONAL Conhecer os valores sonoros é conhecer o nome da letra, saber o som, associá-lo à sua grafia e concluir, no decorrer do processo, que a junção de dois ou mais sons forma uma sílaba (pedaço falado) ou até uma palavra. http://professoramaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/09.jpg 38 Duas vertentes desse processo podem ser manifestadas até que seja alcançada a fase alfabética: o valor sonoro quantitativo, no qual a criança percebe, por exemplo, que a palavra SAPO possui quatro letras, porém não consegue ainda relacionar as letras à fala e escreve a palavra utilizando quatro letras quaisquer; e o valor sonoro qualitativo, no qual a criança não consegue ainda perceber que a palavra SAPO possui quatro letras, mas a escreve utilizando suas vogais ou suas consoantes. Exemplo: AO (SAPO) – fase silábica com valor sonoro de vogal. SP (SAPO) – fase silábica com valor sonoro de consoante. Ressalta-se que o tempo de transição de cada uma das fases do processo de alfabetização varia de criança para criança. Cabe ao professor propiciar constantemente situações que favoreçam o avanço dessas hipóteses e anotar o desenvolvimento de cada aluno dentro do processo. Por isso, uma metodologia de trabalho é apresentar todo o alfabeto e permitir que os alunos pensem, comparem, analisem textos e palavras para que percebam o funcionamento do sistema linguístico e possam compreender a relação entre fonemas e grafemas, analisando as partes (letras e palavras) no todo (texto) e o todo (texto) com suas partes (letras e palavras). SONDAGEM DAS HIPÓTESES DE ESCRITA A melhor forma de acompanhar as hipóteses sobre a escrita das crianças é realizar, regularmente, sondagens. A sondagem não é uma avaliação. É uma observação das características do pensamento dos alunos. O objetivo é verificar o nível de conhecimento real (pré-silábico, intermediário I, silábico, 39 silábico-alfabético e alfabético), para poder planejar as atividades e acompanhar o desenvolvimento e progresso da criança. Para realizar a sondagem, escolhe-se quatro ou oito palavras do mesmo campo semântico, isto é, do mesmo assunto: uma (ou duas) polissílaba, uma (ou duas) trissílaba, uma (ou duas) dissílaba e uma (ou duas) monossílaba, nessa ordem, alémde uma (ou duas) frase (na qual apareça uma das palavras utilizadas). Exemplos: 1 – Campo semântico “comidas”: macarronada, salada, arroz, pão. Todo os dias eu como arroz e feijão. 2 – Campo semânticos “brinquedos”: escorregador, balança, balde, pá. Os meninos gostam de brincar no escorregador. Depois, entrega-se uma folha com linhas e pede-se que as crianças escrevam do jeito que souberem. É bom não dizer que é um ditado ou exercício, mas que é uma brincadeira de escrever. As palavras e frases devem ser pronunciadas inteiras, não silabadas. É interessante solicitar que ao lado da palavra e frase seja feito o desenho, que servirá como índice de leitura. Quando o professor ou adulto encontra dificuldade para realizar a leitura da escrita da criança, é importante pedir para que ela leia, apontando as letras e sinais correspondentes à fala. A sondagem pode ser coletiva (facilita a organização do tempo) e/ou individual (o que permite enxergar a maneira de pensar da criança, à medida que escreve). Outro elemento importante que pode servir como sondagem é a escrita de textos espontâneos (escrever uma história como 40 souber). Nesse caso, a análise da escrita pode ser feita a partir dos seguintes parâmetros: – não alfabético; – nível silábico alfabético; – alfabético. A partir do material investigado em uma sondagem, pode-se refletir sobre o pensamento da criança. Isso permite a formação de grupos heterogêneos e propostas de atividades diversificadas que objetivem a desestruturação da hipótese provisória e da reelaboração de uma nova hipótese, caminhando para a apropriação da escrita convencional, culminando na reconstrução do código linguístico e tornando-se alfabético. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO É da tradição pedagógica brasileira considerar a alfabetização como uma etapa escolar anterior ao ensino da língua portuguesa. Estudos e pesquisas dos últimos vinte anos têm mostrado que as práticas que centram a alfabetização apenas na memorização das correspondências entre sons e letras empobrecem a aprendizagem da língua, reduzindo-a a um conjunto de sons a serem representados por letras. Em função disso, essa visão mais tradicional da alfabetização vem sendo questionada. Isso não significa que não seja necessário aprender as letras e os sons correspondentes. Significa que isto é apenas uma parte do conteúdo da alfabetização. A alfabetização é uma aprendizagem mais ampla e complexa do que o “bê-a-bá”. Esta concepção ampliada do conteúdo da alfabetização acabou por levar a uma orientação pedagógica na 41 qual, além de aprender sobre as letras, os alunos aprendem sobre os diversos usos e as formas da língua que existem num mundo onde a escrita é um meio essencial de comunicação. Para ensinar os usos e as formas da língua para se escrever em português, é necessário, sempre que possível, fazê-lo em situações comunicativas. Significa ter como unidade de ensino a unidade funcional da língua: o texto. LÍNGUA E ENSINO DA LÍNGUA A língua é um sistema que tem como centro a interação verbal, que se faz através de textos ou discursos, falados ou escritos. Isso significa que esse sistema depende da interlocução (inter+locução = ação lingüística entre sujeitos). Partindo dessa concepção, uma proposta de ensino de língua deve valorizar o uso da língua em diferentes situações ou contextos sociais, com sua diversidade de funções e sua variedade de estilos e modos de falar. Para estar de acordo com essa concepção, é importante que o trabalho em sala de aula se organize em torno do uso e que privilegie a reflexão dos alunos sobre as diferentes possibilidades de emprego da língua. Isso implica, certamente, a rejeição de uma tradição de ensino apenas transmissiva, isto é, preocupada em oferecer ao aluno conceitos e regras prontos, que ele só tem que memorizar, e de uma perspectiva de aprendizagem centrada em automatismos e reproduções mecânicas. Por isso é que uma adequada proposta para o ensino de língua deve prever não só o desenvolvimento de capacidades necessárias às práticas de leitura e escrita, mas também de fala e escuta compreensiva em situações públicas (a própria aula é uma situação de uso público da língua). 42 CONCEITUANDO ALFABETIZAÇÃO Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou ao ensino-aprendizado da “tecnologia da escrita”, quer dizer, do sistema alfabético de escrita, o que, em linhas gerais, significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais gráficos, transformando-os em “sons”, e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos. A partir dos anos 1980, o conceito de alfabetização foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita, particularmente com os trabalhos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas (a decodificação e a codificação), mas se caracterizaria como um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação. Para Val (2006, p. 19), pode-se definir alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e ouras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita. Já para Perez (2002, p. 66) a alfabetização é um processo que, ainda que se inicie formalmente na escola, começa de fato, antes 43 de a criança chegar à escola, através das diversas leituras que vai fazendo do mundo que a cerca, desde o momento em que nasce e, apesar de se consolidar nas quatro primeiras séries, continua pela vida afora. Este processo continua apesar da escola, fora da escola paralelamente à escola. Progressivamente, o termo passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita. É diante dessas novas exigências que surge uma nova adjetivação para o termo – alfabetização funcional – criada com a finalidade de incorporar as habilidades de uso da leitura e da escrita em situações sociais e, posteriormente, a palavra letramento. Com o surgimento dos termos letramento e alfabetização (ou alfabetismo) funcional, muitos pesquisadores passaram a preferir distinguir alfabetização e letramento. Passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido restrito, para designar o aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e do funcionamento do sistema de escrita. Passaram, correspondentemente, a reservar os termos letramento ou, em alguns casos, alfabetismo funcional para designar os usos (e as competências de uso) da língua escrita. Outros pesquisadores tendem a preferir utilizar apenas o termo alfabetização para significar tanto o domínio do sistema de escrita quanto os usos da língua escrita em práticas sociais. Nesse caso, quando sentem a necessidade de estabelecer distinções, tendem a utilizar as expressões “aprendizado do sistema de escrita” e “aprendizado da linguagem escrita”. 44 LETRAMENTO E o que vem a ser isso de “letramento”? Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: Letramento, aqui, é entendido enquanto produto da participação em práticas sociaisque usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas, ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler ou escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas modernas, não existe grau zero de letramento pois nelas é impossível não participar, de alguma forma, de algumas dessas práticas. Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais, é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita. ENSINO DA LÍNGUA ESCRITA A língua é um sistema que se estrutura no uso e para o uso, escrito e falado, sempre contextualizado. No entanto, a condição básica para o uso escrito da língua, que é a apropriação do sistema alfabético, envolve, da parte dos alunos, aprendizados muito específicos, independentes do contexto de uso, relativos aos componentes do sistema fonológico da língua e às suas inter- relações. 45 Explicando e exemplificando: as relações entre consoantes e vogais, na fala e na escrita, permanecem as mesmas, independentemente do gênero textual em que aparecem e da esfera social em que circule; numa piada ou nos autos de um processo jurídico, as consoantes e vogais são as mesmas e se inter-relacionam segundo as mesmas regras. Mas o que é isso de “gênero”? Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: Os gêneros são determinados historicamente. As intenções comunicativas (…) geram usos sociais que determinam os gêneros, os quais dão forma aos textos. É por isso que, quando um texto começa com “era uma vez”, ninguém duvida de que está diante de um conto, porque todos conhecem esse gênero. Diante da expressão “senhoras e senhores”, a expectativa é ouvir um pronunciamento público ou uma apresentação de espetáculo, pois sabe-se que nesses gêneros o texto, inequivocamente, tem essa fórmula inicial. Do mesmo modo, podemos reconhecer outros gêneros como: cartas, reportagens, anúncios, poemas etc. O estágio atual dos questionamentos e dilemas no campo da educação nos impõe a necessidade de firmar posições consistentes, evitando polarizações e reducionismos nas práticas de alfabetização. Algumas questões relacionadas aos métodos de alfabetização podem tornar mais acessíveis essas ponderações. A opção pelos princípios do método silábico, por exemplo, contempla alguns aspectos importantes para a apropriação do código escrito, mas supõe uma progressão fixa e previamente definida e reduz o 46 alcance dos conhecimentos lingüísticos, quando desconsidera as funções sociais da escrita. Da mesma forma, os métodos de base fônica, embora focalizando um ponto fundamental para a compreensão do sistema alfabético, que é a relação entre fonema e grafema, restringem a concepção de alfabetização, quando valorizam exclusivamente o eixo da codificação e decodificação pela decomposição de elementos que se centram em fonemas e sinais gráficos. Por sua vez, os métodos analíticos orientam a apropriação do código escrito pelo caminho do todo para as partes (de palavras, sentenças ou textos para a decomposição das sílabas em grafemas/fonemas). Apesar de procurarem situar a relação grafema/fonema em unidades de sentido, como palavras, sentenças e textos, os métodos analíticos tendem a se valer de frases e textos artificialmente curtos e repetitivos, para favorecer a estratégia de memorização, considerada fundamental. Essas três tendências podem ser consideradas perseverantes e coexistentes no atual estado das práticas escolares em alfabetização e da produção de livros e materiais didáticos em geral. As práticas fundamentadas no ideário construtivista, ao longo das últimas décadas, trazem como ponto positivo a introdução ou o resgate de importantes dimensões da aprendizagem significativa e das interações, bem como dos usos sociais da escrita e da leitura, articulados a uma concepção mais ampla de letramento. Mas, em contrapartida, algumas compreensões equivocadas dessas teorias têm acarretado outras formas de reducionismo. 47 Isso se verifica quando essas práticas negam os aspectos psicomotores ou grafomotores, desprezando seu impacto no processo inicial de alfabetização e descuidando de instrumentos e equipamentos imprescindíveis a quem se inicia nas práticas da escrita e da leitura. Essa postura prejudica sobretudo as crianças que vivem em condições sociais desfavorecidas e que, por isso, só têm oportunidade de contato mais amplo com livros, revistas, cadernos, lápis e outros instrumentos e tecnologias quando ingressam na escola. Outra questão controversa diz respeito à oposição do construtivismo ao ensino meramente transmissivo, que limita o aluno a apenas memorizar e reproduzir conceitos e regras. O problema é que, em nome dessa crítica, algumas interpretações equivocadas do construtivismo têm recusado a apresentação de informações relevantes ao avanço dos alunos, como se todos os conhecimentos pertinentes à apropriação da língua escrita pudessem ser construídos pelos próprios alunos, sem a contribuição e a orientação de um adulto mais experiente. Mais um problema resultante de interpretações errôneas do construtivismo tem sido a defesa unilateral de interesses e hipóteses das crianças, o que acaba limitando a ação pedagógica ao nível dos conhecimentos prévios dos alunos. Essa limitação gera fracassos, porque compromete a proposição e a avaliação de capacidades progressivas e acaba sendo usada, pela própria ação pedagógica, como justificativa para o que não deu certo. Do mesmo modo que as opções por métodos e práticas, algumas orientações inadequadas fundadas no conceito de letramento podem produzir distorções. 48 Há propostas pedagógicas e livros didáticos que valorizam de forma parcial importantes conquistas como o prazer pelo ato de escrever e a inserção nas práticas sociais da leitura e da escrita, mas não garantem o acesso da criança ao sistema alfabético e às convenções da escrita, deixando em segundo plano a imprescindível exploração sistemática do código e das relações entre grafemas e fonemas. Como conseqüência, dissociam, equivocadamente, o processo de letramento do processo de alfabetização, como se um dispensasse ou substituísse o outro. NÍVEL DE LETRAMENTO Este, é determinado pela variedade de gêneros de textos escritos que a criança ou adulto reconhece. A criança que vive em um ambiente em que se leem livros, jornais, revistas, bulas de remédios, enfim, e qualquer outro tipo de literatura (ou, em que se conversa sobre o que se leu, ou mesmo, em que uns leem para os outros em voz alta, leem para a criança enriquecendo com gestos e ilustrações), o nível de letramento será superior ao de uma criança cujos pais não são alfabetizados e não teve o privilégio de conviver com pessoas que pudessem favorecer este contato com o mundo letrado. Entende-se letramento como o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo). 49 Considerando-se que os alfabetizandos vivem numa sociedade letrada, em que a língua escrita está presente de maneira visível e marcante nas atividades cotidianas, inevitavelmente elesterão contato com textos escritos e formularão hipóteses sobre sua utilidade, seu funcionamento, sua configuração. Excluir essa vivência da sala de aula, por um lado, pode ter o efeito de reduzir e artificializar o objeto de aprendizagem que é a escrita, possibilitando que os alunos desenvolvam concepções inadequadas e disposições negativas a respeito desse objeto. Por outro lado, deixar de explorar a relação extra-escolar dos alunos com a escrita significa perder oportunidades de conhecer e desenvolver experiências culturais ricas e importantes para a integração social e o exercício da cidadania. Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que contempla, de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento. Tanto os textos como as atividades são apenas amostras e sua função é dar ao alfabetizador uma idéia das possibilidades de trabalho. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Acreditamos que a aprendizagem da leitura e da escrita depende de duas portas de entrada, distintas, mas indissociáveis e que necessitam ser trabalhadas ao mesmo tempo: ALFABETIZAÇÃO e LETRAMENTO. A alfabetização é a aquisição do código da escrita e da leitura. Segundo Magda Soares, está se faz pelo domínio de uma técnica: grafar e reconhecer letras, usar o papel, entender a direcionalidade da escrita, pegar no lápis, codificar, estabelecer 50 relações entre sons e letras, de fonemas e grafemas; a criança perceber unidades menores que compõem o sistema de escrita (palavras, sílabas, letras). Letramento é a utilização desta tecnologia em práticas sociais de leitura e de escrita. Como diz Soares (2003), não adianta aprender uma técnica e não saber usá-la. Diante dessas afirmativas, não podemos perder o foco e desconsiderar a especificidade da aquisição do sistema de escrita (ensinar a técnica), sem perder de vista as práticas sociais de leitura e escrita. Dessa forma, além de trabalharmos com uma diversidade de textos que circulam socialmente, devemos levar os educandos a construir o sistema de escrita alfabético, cabendo à escola pensar em considerações tão importantes como: Alfabetizar letrando e letrar alfabetizando. FORMAS DE AGRUPAMENTO Quando pensamos em agrupar os educandos de forma produtiva, pensamos em organizar duplas ou pequenos grupos, em que umas crianças possibilitem proporcionar, através de ideias e questões, aprendizagens às outras. Para que isso aconteça, devemos ficar atentos a algumas questões: • O educador precisa saber: entender e dominar o que seus educandos sabem, analisando se grafa e reconhece as letras; Têm capacidade de refletir sobre os sons da fala (consciência fonológica); Entendem a função da leitura e da escrita; Percebem as unidades menores que compõem o sistema de escrita, dentre outras. 51 • O nível de escrita do educando: devemos agrupar os educandos por níveis próximos. Educandos pré-silábicos com educandos silábicos, silábicos com silábico-alfabéticos e silábico-alfabéticos com alfabéticos. Como nem sempre em uma sala de aula estes agrupamentos são possíveis, às vezes não temos tanta diversidade de escrita, e pensamos em outras possibilidades: os que sabem letras com os que não sabem; os que grafam letras com os que não grafam; os que já refletem sobre os sons das palavras, com os que ainda não refletem, e assim por diante. • O comportamento dos educandos: não adianta formarmos uma dupla em que as crianças são muito tímidas ou muito agitadas. Isso impossibilitará o trabalho e não proporcionará momentos de aprendizagens significativas. COMO SE APRENDE A LER E ESCREVER A criança e seu processo de alfabetização. As pesquisas sobre o processo de alfabetização vêm mostrando que, para poder se apropriar do nosso sistema de representação da escrita, a criança precisa construir respostas para duas questões: 1. O que a escrita representa? 2. Qual a estrutura do modo de representação da escrita? A escola considera evidente que a escrita é “um sistema de signos que expressam sons individuais da fala” (Gelb, 1976) e supõe que também para a criança isso seja dado a priori. Mas não é. No início 52 do processo toda criança supõe que a escrita é uma outra forma de desenhar as coisas. Vamos ao exemplo que o professor pode reconhecer, na sua prática diária, mas não tinha até então como interpretar. Pediu-se a uma criança, que aprendeu a reproduzir a forma escrita do nome de sua mãe (Dalva), que escrevesse a palavra “mamãe”, cuja forma ela não conhecia. Ela escreveu, com convicção, “Dalva”. E, questionada em relação à inadequação da sua escrita, ficou perplexa com a incapacidade adulta de compreender uma coisa tão evidente, isto é, que Dalva e mamãe são a mesma pessoa e, portanto, a mesma escrita. O que a criança não compreende é que a escrita representa a fala, o som das palavras, e não o objeto a que o nome se refere com uma criança cursando pela primeira vez a 1ª série. NOME PRÓPRIO Trabalhar o nome próprio no início da alfabetização é ter uma valiosa fonte de informação disponível para outras indagações e aprendizagens, que servirão para produzir outras escritas e leituras, além de ter estreita relação com a construção da identidade da criança. A escrita do nome próprio é uma importante conquista da criança que se alfabetiza. Além de ter um valor social muito grande, favorece a reflexão sobre o sistema. Trabalhamos bastante o nome próprio e dos colegas no início do processo da alfabetização, para que essas palavras tão 53 significativas se tornem referência para as crianças, em variadas situações: • Ao escrever seu nome e o dos colegas, as crianças vão aprender a traçar letras. • Aprendendo a letra inicial dos colegas, elas aprendem a nomear as letras do alfabeto (M, de Maria; P, de Pedro). • Esses nomes podem servir de consulta para escrever e ler outras palavras. “Como se escreve macaco? Já sei! Começa com ‘ma’, de Maria”. “Descobri onde está escrito gato porque começa com Gabriel”. • É uma ótima fonte de comparação e questionamento. “Por que meu nome tem sete letras e o seu quatro?” • Ajuda a perceber a ordem não aleatória dentro de um conjunto de letras (não vale colocar qualquer letra, além de existir uma ordem obrigatória). • Possibilita a reflexão sobre as unidades que compõem a palavra: como as sílabas e as letras. • Ajuda na construção da consciência fonológica. “Paula e Pedro começam com P”. “Olha! Mariana rima com Ana!” Diante disso, percebemos que se o educador levar os educandos a refletirem sobre os nomes, com intervenções que as crianças compreendam, melhora o funcionamento do sistema alfabético. SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA TRABALHAR O NOME PRÓPRIO COM CRIANÇAS: 54 Familiarizar-se com o nome, escrevendo-o nos materiais do educando. Unir fotos dos colegas ao crachá correspondente. Comparar nomes maiores e menores. Concurso entre os educandos para verificar quem sabe identificar o maior número de nomes dos colegas, através da ficha. Formar o nome próprio com letras móveis. Bingo com a ficha do nome. Descobrir as letras do nome em um texto. Forca com os nomes próprios. Caça-palavras com os nomes da turma. Os educandos deverão procurar e circular os nomes encontrados. Bingo com a assinatura dos educandos. Jogo da memória com os nomes dos educandos e letra inicial. Nomes mágicos: com as fichas dos nomes, o grupo tenta formar palavras trocando as letras de lugar. Acróstico: o educador escreve o nome de um educando na lousa ou em uma folha de papel na vertical. As crianças, em duplas ou em grupos, descrevem palavras positivas sobre a criança, de cujo nome estão sendo usadas as letras iniciais. Classificaras fichas da turma de várias formas: > Letra inicial > Número de letras > Nomes compostos 55 > Nomes dos meninos > Nomes das meninas Adivinhar os nomes próprios através de pistas. Apresentar, em uma folha ou na lousa, nomes parecidos e pedir aos educandos que identifiquem as diferenças e semelhanças: Diogo – Diego, Márcio – Márcia, Daniel – Daniela etc. Construir nomes compostos: o educador apresenta uma folha com o nome de toda a turma. Em grupo, os educandos vão unir alguns nomes, formando nomes compostos. O educador escreve os nomes dos educandos na lousa e pede para a classe observar. Em seguida, pede aos educandos que abaixem a cabeça e apaga um ou mais nomes. O grupo tentará descobrir quais os nomes que desapareceram. Jogo da memória (foto e nome): as crianças devem relacionar a imagem a cada nome disposto em uma mesa. Fichas com nomes embaralhados: cada criança deve sortear uma ficha e entregá-la ao respectivo dono. Agrupar os crachás pela letra inicial. Pedir, a cada dia, a um educando para fazer a distribuição do crachá. Fazer um calendário com os nomes de todos os meses do ano na sala. Pedir para a turma fixar o seu crachá no mês de seu aniversário. Agrupar os nomes que terminam com as mesmas letras. Fazer cartelas de bingo, baralho, dominó, com a assinatura dos educandos. 56 O educador mostra fichas com as letras dos nomes invertidas. Os educandos recompõem os nomes na ordem certa. Quebra-cabeça com nomes próprios. Recortar de jornais e revistas as letras dos nomes dos colegas do grupo e colar no caderno. Baralho com os nomes da turma X a letra inicial. O educador dita os nomes dos educandos para todos. Eles escrevem apenas a letra inicial do nome ditado. Classificar as fichas dos nomes pelo número de letras dos mesmos. As fichas (ou crachás) com os nomes devem ficar disponíveis na sala de aula, em um local de fácil acesso e visibilidade. Dicas para confeccionar a ficha (ou crachás) dos educandos: • Escreva apenas o primeiro nome das crianças (ex.: Joana – João Pedro). • As fichas devem ter o mesmo tamanho. • Todas devem estar escritas com letra de imprensa maiúscula do mesmo tamanho. • A folha escolhida deve ser da mesma cor para todos os educandos, assim como a cor da letra. Essas iniciativas são importantes para que os educandos não tenham pistas para identificar os nomes através de tamanho, cores, etc., mas, sim, por causa das letras que o compõem. CONHECER O ALFABETO 57 Com as 26 letras do alfabeto podemos escrever todas as palavras da língua portuguesa. A importância da aprendizagem do alfabeto na fase inicial da alfabetização está, sobretudo, na necessidade de o aluno identificar e saber os nomes das letras. Além disso, um conhecimento básico a ser trabalhado nesse momento é a regra geral de que o nome de cada letra tem relação com pelo menos um dos “sons” da fala que ela pode representar na escrita. Estamos sempre colocando entre aspas a palavra som, porque, embora cômoda e fácil de entender, não é a expressão mais exata para falar daquilo que o alfabeto representa. A rigor, os elementos do alfabeto representam fonemas, isto é, unidades fonológicas abstratas que não correspondem, de forma estável, aos segmentos sonoros particulares na fala. Por exemplo: na palavra “cama”, o “som correspondente à letra A na primeira sílaba não é igual a nenhum dos sons que pronunciamos em outras palavras com a letra A, como na palavra “lata”. Isso significa que o fonema /a/ não é apenas um som, mas uma “classe de sons”, que abrange diferentes sons que efetivamente pronunciamos e ouvimos. Essa relação entre nomes de letras e sons é observada na maioria dos casos (a, bê, cê, dê, ê, efe, etc.); as exceções são poucas e de uso menos frequente (h, y, w, por exemplo). Consequentemente, o domínio do nome das letras pode auxiliar na leitura, na compreensão da grafia das palavras. Isso significa que o professor ou a professora deve apresentar aos alunos o alfabeto e promover situações que lhes possibilitem a descoberta de que se trata de um conjunto estável de símbolos – as letras, sejam consoantes ou vogais – cujo nome foi criado para indicar um dos fonemas que 58 cada uma delas pode representar na escrita, representando os sons das palavras que falamos. É bom que o estudo do alfabeto se faça com a apresentação de todas as 26 letras, preferencialmente seguindo a ordem alfabética, visto que muitos dos nossos escritos se organizam pela ordem alfabética. É importante que todas as letras estejam visíveis na sala de aula, para que os alunos, sempre que for necessário, tenham um modelo para consultar. Esse é mais um exemplo de como trabalhar simultaneamente na direção da alfabetização e do letramento. Com o sombreamento e as letras do Quadro, estamos sugerindo que o aluno comece a se familiarizar com a natureza e o funcionamento do alfabeto logo no 1º ano e que as capacidades relativas a esse conhecimento sejam abordadas sistematicamente no 2º. Se necessário, esses conhecimentos poderão ser retomados no 3º ano. SONS E LETRAS Adquirir os valores sonoros convencionais é perceber a correspondência entre grafema e fonema, isto é, apropriar-se do conhecimento de que existe uma relação entre o som /A/ e a letra A, o som /B/ e a letra B, e assim por diante, com todas as letras, que naturalmente estão inseridas em palavras, frases e textos. Um dos pontos fundamentais em relação à aquisição dos valores sonoros convencionais é a ordem de complexidade. Ela é crescente, não-linear, é parcial e com diversos ramos. Isso quer dizer que a aquisição pode ocorrer em diferentes ordens e até 59 simultaneamente, e não há possibilidade de se controlar esse processo. O fato de se organizar um processo apresentando as letras numa determinada ordem não garante a aprendizagem nessa ordem. O professor pode ficar desenvolvendo durante um mês a “família” ba-be-bi-bo-bu e as crianças podem estar adquirindo várias letras, inclusive o B com outras letras, exceto o B propriamente. A compreensão desse fato leva a uma mudança em relação à prática pedagógica. Se o professor sabe que a organização e a sequenciação do processo não levam à aprendizagem nessa ordem, por que organizar e levar seis meses ou mais para regular a apresentação de todas as letras para as crianças? Mais real é apresentar o alfabeto (campo de trabalho) e permitir que as crianças adquiram na sua ordem natural e em muito menos tempo! Quando se desenvolve essa prática, há a “liberação” da criança para reconstruir o sistema linguístico no seu tempo e, na maioria das vezes, esse tempo é pequeno em comparação com o método tradicional organizado. Interessante ainda ressaltar é o fato de que, apesar do método tradicional organizado pelo professor, grande parte dos alunos reorganiza e reconstroi o sistema linguístico, mas não se manifesta até ser liberados por seu professor. Um exemplo disso é um garoto que, diante de um pote de geléia, leu “Cica”. Em seguida, disse: “Só que eu não posso ler, porque minha professora disse que o “ci” eu ainda não aprendi”. SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O TRABALHO DE ALFABETIZAÇÃO COM MÚSICAS Cantar a letra da música, acompanhando com o dedo. Procurar e listar no caderno palavras do texto que comecem com a mesma letra. 60 Apagar algumas palavras que compõem cada verso e pedir aos educandos para completar, escrevendo a palavra que falta. Completar as letras que faltam nas palavras ou sentenças tiradas da música. Exemplo: a) Procurar e listar palavras do texto com a mesma quantidade de letras. b) Procurar e listar palavras da música que terminam com o mesmo som. c) Formar novas palavras a partir