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Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. APG 10 – “É COUVE FLOR?” Abertura: 05/03/2021 Devolutiva: 09/03/2021. Objetivos: 1. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DA ENDOCARDITE. características gerais e os tipos de endocardite; etiologia, patogenia, manifestações clínicas e as complicações. 2. REVER A FISIOPATOLOGIA DAS VALVAS CARDÍACAS COM ÊNFASE NO MECANISMO QUE ENVOLVE O SISTEMA IMUNOLÓGICO. etiologia, fisiopatologia, estenose e insuficiência das valvas mitral, aórtica, tricúspide e pulmonar. 3. ENTENDER AS REDES DE ATENÇÃO AO TRABALHADOR RURAL. diretrizes, vigilância, objetivos e conclusões. ➔ INTRODUÇÃO: A lesão típica da endocardite infecciosa, a vegetação, CONSISTE EM UMA MASSA DE PLAQUETAS, FIBRINA, MICROCOLÔNIAS DE MICRORGANISMOS E ESCASSAS CÉLULAS INFLAMATÓRIAS. A infecção geralmente envolve mais as valvas cardíacas, mas também pode ocorrer no lado de baixa pressão de um defeito septal ventricular, no endocárdio mural lesionado por jatos sanguíneos aberrantes ou por corpos estranhos, ou ainda sobre dispositivos intracardíacos. O processo análogo que envolve shunts arteriovenosos, arterioarteriais (ducto arterioso permeável) ou coarctação da aorta é chamado de endarterite infecciosa. A ENDOCARDITE PODE SER CLASSIFICADA SEGUNDO A EVOLUÇÃO TEMPORAL DA DOENÇA, O LOCAL OU A CAUSA DA INFECÇÃO OU CONFORME UM FATOR DE RISCO PREDISPONENTE (P. EX., USO DE DROGAS INJETÁVEIS). Embora cada critério de classificação dê uma noção do prognóstico e do tratamento necessário, nenhum deles é, por si só, suficiente. A endocardite aguda é uma doença febril consumptiva que lesiona rapidamente as estruturas cardíacas, que se dissemina por via hematogênica para locais extracardíacos e que, quando não tratada, evolui em semanas para o óbito. A endocardite subaguda tem uma evolução indolente; causa lesões cardíacas estruturais apenas lentamente, se é que chega a fazê-lo; raramente lança metástases; e evolui de modo gradual, a menos que venha a complicar-se por um evento embólico importante ou pela ruptura de um aneurisma micótico. Nos países desenvolvidos, a incidência de endocardite varia de 4-7 casos por 100 mil habitantes por ano e tem permanecido relativamente estável durante as décadas recentes. Enquanto as doenças cardíacas congênitas permanecem uma predisposição constante, houve, nas outras condições predisponentes típicas dos países desenvolvidos, um deslocamento das doenças cardíacas reumáticas crônicas (que permanece uma predisposição comum nos países em desenvolvimento) para uso ilícito de drogas intravenosas, doença degenerativa das valvas e dispositivos intracardíacos. A INCIDÊNCIA DE ENDOCARDITE É NOTAVELMENTE MAIOR EM IDOSOS. Nos países desenvolvidos, 25-35% dos casos de endocardite das valvas nativas (EVN) estão associados aos cuidados de saúde, e 16-30% de todos os casos de endocardite envolvem valvas protéticas. O risco de infecção protética é maior durante os primeiros 6-12 meses após a substituição da valva, com redução gradual, até alcançar uma taxa baixa e estável; e é semelhante em dispositivos mecânicos ou bioprotéticos. A incidência de endocardite envolvendo dispositivos eletrônicos implantáveis cardiovasculares (DEICs), primariamente marca-passos permanentes e cardiodesfibrilador implantável, varia de 0,5- 1,14 casos por 1.000 receptores do dispositivo e é mais alta entre pacientes com um cardiodesfibrilador implantável do que entre aqueles com um marca-passo permanente. ➔ ETIOLOGIA: Embora muitas espécies de bactérias e fungos causem episódios esporádicos de endocardite, umas poucas espécies bacterianas causam a maioria dos casos. A cavidade oral, a pele e o trato respiratório superior são os respectivos portais primários para os estreptococos viridans, os estafilococos e os microrganismos HACEK (Haemophilus spp, Aggregatibacter spp., Cardiobacterium spp., Eikenella spp. e Kingella spp.). A subespécie gallolyticus do Streptococcus gallolyticus (antigo S. bovis subtipo 1) tem origem no trato gastrintestinal, onde se associa a pólipos e tumores colônicos, e os enterococos entram na corrente sanguínea a partir do trato geniturinário. A EVN associada aos cuidados com a saúde, geralmente causada pelo Staphylococcus aureus, estafilococos coagulase-negtivos (CoNS) e enterococos, possui um início hospitalar (55%) ou na comunidade (45%); esses últimos se desenvolvem em Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. pacientes que tiveram contato extenso com o sistema de cuidados com a saúde nos últimos 90 dias. A endocardite complica 6-25% dos episódios de bacteremia por S. aureus associados ao cateter; as taxas mais altas são detectadas por rastreamento cuidadoso com ecocardiografia transesofágica (ETE). A endocardite de valva protética (EVP) que surge até 2 meses após a cirurgia valvar é geralmente hospitalar, resulta de contaminação intraoperatória da prótese ou de complicação bacterêmica no pós-operatório. ESSA ORIGEM HOSPITALAR SE REFLETE NOS PRINCIPAIS MICRORGANISMOS CAUSADORES: S. AUREUS, CONS, BACILOS GRAM-NEGATIVOS FACULTATIVOS, DIFTEROIDES E FUNGOS. Nos casos que começam > 12 meses após a cirurgia, as portas de entrada e os microrganismos causais são semelhantes aos da EVN adquirida na comunidade. A EVP decorrente de CoNS que surge entre 2 e 12 meses após a cirurgia frequentemente representa uma infecção hospitalar de início tardio. Independentemente do momento do início após a cirurgia, pelo menos 68-85% das cepas de CoNS que causam EVP são geralmente resistentes à meticilina. A ENDOCARDITE RELACIONADA A UM MARCA-PASSO PERMANENTE OU A UM CARDIO DESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL ENVOLVE O DISPOSITIVO OU O ENDOTÉLIO NOS PONTOS DE CONTATO. Ocasionalmente, há infecção aórtica ou da valva mitral simultânea. Trinta e três por cento dos casos de endocardite por DEIC se apresentam em 3 meses após o implante ou a manipulação do dispositivo, outros 33% se apresentam 4-12 meses, e outros 33% em > 1 ano. A maioria é causada por S. aureus e CoNS, ambos geralmente resistentes à meticilina. A ENDOCARDITE QUE OCORRE ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS INJETÁVEIS, especialmente aquela envolvendo a valva tricúspide, é comumente causada por S. aureus, que, em muitos casos, é resistente à meticilina. As infecções das valvas do lado esquerdo em adictos têm uma etiologia mais variada. Além dos casos comuns de endocardite, esses casos podem ocorrer devido a Pseudomonas aeruginosa e espécies de Candida, e casos esporádicos podem ser causados por organismos incomuns, como Bacillus, Lactobacillus e espécies de Corynebacterium. A endocardite polimicrobiana ocorre em usuários de drogas injetáveis. A infecção por HIV nos usuários de drogas não tem influência significativa nas causas de endocardite. De 5-15% dos pacientes com endocardite têm hemoculturas negativas; em 33-50% dos casos, as culturas são negativas por causa de exposição prévia a antibióticos. Os restantes correspondem a pacientes infectados por microrganismos fastidiosos, tais como os estreptococos nutricionalmente variantes (agora designados Granulicatella e Abiotrophia spp.), microrganismos HACEK, Coxiella burnetti e espécies de Bartonella. Alguns microrganismos fastidiosos ocorrem em contextos geográficos característicos (p. ex., C. burnetii e espécies de Bartonella na Europa, espécies de Brucella no Oriente Médio). A Tropheryma whipplei causa uma forma de endocardite indolente, afebril e com hemoculturas negativas. ➔ PATOGÊNESE O endotélio normalé resistente à infecção pela maioria das bactérias e à formação de trombos. A LESÃO ENDOTELIAL (P. EX., NO LOCAL DE IMPACTO DE JATOS SANGUÍNEOS DE ALTA VELOCIDADE OU NO LADO DE BAIXA PRESSÃO DE LESÃO ESTRUTURAL CARDÍACA) PERMITE ORA A INFECÇÃO DIRETA POR MICRORGANISMOS VIRULENTOS, ORA A FORMAÇÃO DE UM TROMBO NÃO INFECTADO DE PLAQUETAS E FIBRINA – DISTÚRBIO DENOMINADO ENDOCARDITE TROMBÓTICA NÃO BACTERIANA (NBTE). Esse trombo serve como local de inserção bacteriana durante a bacteremia transiente. As alterações cardíacas que mais comumente resultam em NBTE são insuficiência mitral, estenose aórtica, insuficiência aórtica, comunicações interventriculares e cardiopatias congênitas complexas. A NBTE também pode resultar de estado de hipercoagulabilidade; esse fenômeno dá origem à endocardite marântica (vegetações não infectadas observadas em pacientes com doença maligna ou crônica) e a vegetações assépticas que complicam o lúpus eritematoso sistêmico e a síndrome anticorpos antifosfolipídeos. Os microrganismos que causam endocardite geralmente entram na corrente sanguínea a partir das superfícies mucosas, da pele ou de locais de infecção focal. Exceto pelas bactérias mais virulentas (p. ex., S. aureus), que podem aderir diretamente ao endotélio intacto ou ao tecido subendotelial exposto, os microrganismos presentes no sangue aderem aos Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. locais de NBTE. Os microrganismos que costumam causar endocardite expressam adesinas superficiais, denominadas, em conjunto, componentes da superfície microbiana que reconhecem as moléculas de aderência da matriz (MSCRAMMs), que medeiam a aderência aos locais de NBTE ou ao endotélio lesionado. A aderência é facilitada pelas proteínas de ligação à fibronectina existentes na superfície de muitas bactérias Gram-positivas; pelo fator aglutinante (proteína de superfície que se liga à fibrina ou ao fibrinogênio) presente em S. aureus; pelas proteínas de superfície de ligação ao fibrinogênio (Fss2) e proteína de superfície de ligação ao colágeno (Ace) e Ebp pili (essa última mediando a aderência à plaqueta) no Enterococcus faecalis; e pelas glicanas ou FimA (membro da família das adesinas da mucosa oral) dos estreptococos. AS PROTEÍNAS DE LIGAÇÃO À FIBRONECTINA SÃO NECESSÁRIAS PARA QUE O S. AUREUS INVADA O ENDOTÉLIO INTACTO; DESSE MODO, TAIS PROTEÍNAS DE SUPERFÍCIE FACILITAM A INFECÇÃO DE VALVAS PREVIAMENTE NORMAIS. Na ausência de defesa do hospedeiro, os microrganismos, entremeados na crescente vegetação de fibrinas e plaquetas, proliferam formando densas microcolônias. Os microrganismos também induzem a deposição plaquetária e um estado pré-coagulante localizado, extraindo o fator tecidual do endotélio ou, no caso do S. aureus, também dos monócitos. O depósito de fibrina combina-se à agregação plaquetária e à proliferação de microrganismos, dando origem a uma vegetação infectada. Os microrganismos situados na profundidade da vegetação são inativos do ponto de vista metabólico (não proliferam) e relativamente resistentes à destruição por antimicrobianos. Os microrganismos que proliferam na superfície são continuamente liberados na corrente sanguínea. As consequências fisiopatológicas e as manifestações clínicas da endocardite – outras que não os sintomas constitucionais, que provavelmente resultam da produção de citocinas –, DECORREM DE LESÃO DAS ESTRUTURAS INTRACARDÍACAS; DA EMBOLIZAÇÃO DE FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO, LEVANDO À INFECÇÃO OU AO INFARTO DE TECIDOS DISTANTES; DA INFECÇÃO HEMATOGÊNICA DE LOCAIS A DISTÂNCIA DURANTE A BACTEREMIA; E DE LESÕES TECIDUAIS CAUSADAS PELO DEPÓSITO DE IMUNOCOMPLEXOS CIRCULANTES OU ÀS RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS A ANTÍGENOS BACTERIANOS DEPOSITADOS. ➔ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A síndrome clínica de endocardite é altamente variável e abrange todo um contínuo entre as apresentações aguda e subaguda. A EVN, a EVP e a endocardite provocada pelo uso de drogas ilícitas compartilham manifestações clínicas e laboratorial. O microrganismo causal é o principal responsável pela evolução temporal da endocardite. OS ESTREPTOCOCOS Β-HEMOLÍTICOS, O S. AUREUS E OS PNEUMOCOCOS GERALMENTE DÃO ORIGEM A UMA DOENÇA DE EVOLUÇÃO AGUDA, EMBORA O S. AUREUS ÀS VEZES CAUSE DOENÇA SUBAGUDA. A endocardite causada por Staphylococcus lugdunensis (espécie coagulase-negativa) ou por enterococos pode apresentar-se de forma aguda. A endocardite subaguda é causada por estreptococos viridans, enterococos, CoNS e pelos microrganismos do grupo HACEK. A endocardite causada por espécies de Bartonella, T. whipplei ou C. burnetii é excepcionalmente indolente. Em pacientes com apresentações subagudas, a febre costuma ser baixa e raramente excede 39,4°C; ao contrário, temperaturas de 39,4-40°C são frequentemente observadas na endocardite aguda. A febre pode ser baixa em pacientes idosos, gravemente debilitados ou com insuficiência renal. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS: Embora habitualmente os sopros cardíacos indiquem a presença de lesão cardíaca predisponente e não endocardite, a lesão valvar e a ruptura das cordas tendíneas podem resultar em novos sopros de regurgitação. Na endocardite aguda que acomete uma valva normal, os sopros podem estar a princípio ausentes, mas, no final da evolução, são detectados em 85% dos casos. Em 30-40% dos pacientes, surge a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), geralmente em consequência da disfunção valvar. OCASIONALMENTE, A ICC TAMBÉM É DECORRENTE DA MIOCARDITE ASSOCIADA À ENDOCARDITE OU A UMA FÍSTULA INTRACARDÍACA. A insuficiência decorrente da disfunção da valva aórtica evolui mais rapidamente do que aquela causada pela disfunção da valva mitral. A extensão da infecção para além das cúspides valvares, ou seja, para o interior do tecido anelar ou miocárdico adjacente, resulta em abscessos perivalvares, os quais podem causar fístulas intracardíacas que determinam novos sopros. Os abscessos do anel da valva aórtica podem escavar e progredir por meio do epicárdio, causando pericardite, ou para o interior do septo ventricular superior, onde eles podem interromper o sistema de condução, levando a vários graus de bloqueio atrioventricular. Os abscessos perivalvares que surgem da valva mitral, que geralmente são mais distantes do sistema de condução, raramente causam anormalidades; se tais anormalidades ocorrerem nesse contexto, a via de condução provavelmente será rompida próximo ao nodo atrioventricular ou ao feixe proximal de His. A embolização de uma artéria coronária ocorre em 2% dos pacientes e pode resultar em infarto do miocárdio. ➔ MANIFESTAÇÕES NÃO CARDÍACAS: As clássicas manifestações periféricas não supurativas da endocardite subaguda (lesões de Janeway) estão relacionadas à infecção prolongada; com o diagnóstico e o tratamento precoce, tornaram-se infrequentes. Em contrapartida, a embolização séptica que simula algumas dessas lesões (hemorragia subungueal, nodos de Osler) é comum em pacientes com endocardite aguda por S. aureus. A dor musculoesquelética em geral remite prontamente com o tratamento, mas deve ser diferenciada dos sintomas causados por infecção metastática focal (p. ex., espondilodiscite), que pode complicar 10-15% dos casos. A infecção focal de origem hematogênica ocorre com mais frequência na pele, baço, rins, sistema esquelético e meninges. Os êmbolos arteriais, 50% dos quais precedem o diagnóstico, são clinicamente aparentesem até 50% dos pacientes. A endocardite causada por S. aureus, vegetações com diâmetro > 10 mm (medidas por ecocardiograma) e infecção envolvendo a valva mitral, especialmente a cúspide anterior, estão independentemente associadas a risco aumentado de embolização. Sintomas, dor ou disfunção induzida por isquemia relacionam-se ao órgão ou à área que sofre oclusão arterial (p. ex., rins, baço, intestino, extremidade). A embolia cerebrovascular presente como acidente vascular encefálico (AVE) ou ocasionalmente como encefalopatia complica 15-35% dos casos de endocardite. Novamente, 50% desses eventos precedem o diagnóstico de endocardite. A frequência do AVE é de 8 por 1.000 dias-paciente durante a semana anterior ao diagnóstico; o número cai para 4,8 e 1,7 por 1.000 dias-paciente durante a primeira e segunda semanas de terapia antimicrobiana efetiva, respectivamente. Esse declínio excede aquele que pode ser atribuído à mudança no tamanho da vegetação. Apenas 3% dos AVEs ocorre após 1 semana de terapia efetiva. Os êmbolos que ocorrem mais tarde, durante ou após o tratamento eficaz, não constituem, isoladamente, evidência de falha do tratamento antimicrobiano. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Outras complicações neurológicas incluem meningite asséptica ou purulenta, hemorragia intracraniana causada por infartos hemorrágicos ou aneurismas micóticos rotos e convulsões. (Aneurismas micóticos são dilatações focais das artérias que ocorrem em pontos na parede da artéria que estão enfraquecidos pela infecção dos vasa vasorum ou em que os êmbolos sépticos se alojaram). Microabscessos no cérebro e nas meninges ocorrem comumente na endocardite por S. aureus; abscessos intracerebrais cirurgicamente drenáveis são infrequentes. O depósito de imunocomplexos na membrana basal do glomérulo causa glomerulonefrite difusa com queda dos níveis séricos de complemento e disfunção renal, que geralmente melhora com tratamento antimicrobiano eficaz. Os infartos renais embólicos causam dor no flanco e hematúria, mas raramente produzem disfunção renal. ➔ MANIFESTAÇÕES DE CONDIÇÕES PREDISPONENTES ESPECÍFICAS: Quase 50% dos casos de endocardite associada ao uso de drogas injetáveis é limitado à valva tricúspide e se apresenta com febre, mas com sopro leve ou ausente e sem manifestações periféricas. Os êmbolos pulmonares sépticos, que são comuns com a endocardite tricúspide, causam tosse, dor torácica pleurítica, infiltrados pulmonares nodulares ou ocasionalmente pneumotórax. A infecção das valvas aórtica ou mitral se apresenta com as características clínicas típicas da endocardite, incluindo manifestações periféricas. A endocardite associada à assistência médica tem manifestações típicas se não for associada a dispositivio intracardíaco retido ou mascarada por sintomas de comorbidades simultâneas. A endocardite associada ao DEIC pode estar associada à infecção da bolsa do gerador críptica ou óbvia e resulta em febre, sopro mínimo e sintomas pulmonares devidos aos êmbolos sépticos. A EVP de início tardio apresentase com manifestações clínicas típicas. Nos casos que surgem em até 60 dias após a cirurgia valvar (início precoce) os sintomas típicos podem estar mascarados pela comorbidade associada a cirurgia recente. Tanto na apresentação de início precoce quanto nas apresentações mais tardias, a infecção paravalvar é comum e frequentemente resulta em deiscência parcial da valva, em sopros de regurgitação e ICC, ou em interrupção do sistema de condução. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. 2º OBJETIVO FISIOPATOLOGIA DAS VALVAS CARDÍACAS Durante a FR aguda, lesões inflamatórias focais são encontradas em vários tecidos. Lesões peculiares ocorrem no coração, chamadas de nódulos de Aschoff, consistindo em focos de linfócitos T, às vezes plasmócitos, e macrófagos grandes ativados, chamados de células de Anitschkow (patognomônicas da FR). Esses macrófagos apresentam citoplasma abundante e núcleos centrais com formato arredondado a ovoide (ocasionalmente binucleados), nos quais a cromatina se condensa em uma fita ondulada central e delgada (daí a designação de “células em forma de lagarta”) Durante a FR aguda, a inflamação difusa e os nódulos de Aschoff podem ser encontrados em qualquer uma das três camadas do coração, resultando em pericardite, miocardite ou endocardite (pancardite). A inflamação do endocárdio e das valvas do lado esquerdo normalmente resulta em necrose fibrinoide no interior das cúspides ou cordas tendíneas. Sobrejacentes a esses focos necrosados e ao longo das linhas de fechamento, observam-se pequenas vegetações (1 a 2 mm), chamadas de verrugas. Assim, a CR é uma das formas de doença valvar vegetativa, cada qual mostrando seus próprios aspectos morfológicos característicos. As lesões subendocárdicas, talvez exarcebadas por jatos de regurgitação, podem induzir espessamentos irregulares chamados de placas de MacCallum, geralmente no átrio esquerdo Microscopicamente, as valvas mostram uma organização da inflamação aguda, com neovascularização pós-inflamatória e fibrose transmural que obliteram a arquitetura do folheto. Os nódulos de Aschoff raramente são observados em peças cirúrgicas ou tecidos de necropsia de pacientes com CR crônica, como resultado dos longos intervalos entre a lesão inicial e o desenvolvimento da deformidade crônica. ➔ ESTENOSE MITRAL: ETIOLOGIA E PATOLOGIA: febre reumática é a principal causa da estenose mitral (EM). Outras etiologias menos comuns para a obstrução de saída do fluxo do átrio esquerdo são estenose valvar mitral congênita, cor triatriatum, calcificação do anel mitral com extensão para as cúspides, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, mixoma do átrio esquerdo e endocardite infecciosa com grandes vegetações. A EM pura ou predominante ocorre em aproximadamente 40% dos pacientes com cardiopatia reumática e história prévia de febre reumática. Em outros pacientes com doença cardíaca reumática, graus menores de EM podem ser acompanhados por insuficiência mitral (IM) e doença da valva aórtica. Com a redução na incidência da febre reumática aguda, sobretudo nos países de clima temperado e nos desenvolvidos, observou-se queda considerável na incidência de EM ao longo das últimas décadas. Porém, ela continua a ser um grande problema de saúde pública nas nações em desenvolvimento, especialmente nas de climas tropical e subtropical. NA EM REUMÁTICA, AS CÚSPIDES DA VALVA FICAM DIFUSAMENTE ESPESSADAS POR TECIDO FIBROSO E/OU DEPÓSITO DE CÁLCIO. As comissuras se fundem, as cordas tendíneas se unem e encurtam, as cúspides valvares tornam-se rígidas, e tais mudanças levam ao estreitamento do ápice da valva afunilada (“em boca de peixe”). Embora a agressão inicial à valva mitral seja de caráter reumático, as alterações subsequentes talvez sejam causadas por um processo inespecífico resultante do traumatismo à valva que pode ser provocado pela alteração dos padrões de fluxo consequentes à deformação inicial. A calcificação da valva mitral estenótica imobiliza suas cúspides e estreita ainda mais o orifício. A formação de trombos e a embolia arterial podem se originar na própria valva calcificada, porém, nos pacientes com fibrilação atrial (FA), os trombos surgem com maior frequência no átrio esquerdo (AE) dilatado, particularmente a partir do apêndice atrial esquerdo. FISIOPATOLOGIA: Nos adultos sadios, o orifício da valva mitral possui uma área de 4 a 6 cm2. Na presençade obstrução significativa, ou seja, quando o orifício tem sua área reduzida a menos de aproximadamente 2 cm2, o sangue flui do AE para o ventrículo esquerdo (VE) apenas quando propulsionado por um gradiente de pressão atrioventricular muito elevado, o padrão hemodinâmico da EM. Quando a abertura da valva mitral se reduz a menos de 1 cm“, situação frequentemente referida como estenose mitral “grave”, é necessário um gradiente de aproximadamente 25 mmHg no AE para manter um débito cardíaco (DC) normal. A elevação da pressão venosa pulmonar Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. e da pressão de oclusão na artéria pulmonar (AP) reduz a complacência do pulmão, contribuindo para a dispneia de esforço. As primeiras crises de dispneia são desencadeadas por situações clínicas que aumentem o fluxo sanguíneo através do orifício da valva mitral, resultando em elevação adicional da pressão no AE. Para avaliar o comprometimento hemodinâmico produzido pela obstrução, devem-se medir o gradiente de pressão transvalvar e a taxa de fluxo sanguíneo. Este último depende não apenas do DC, mas também da frequência cardíaca. O aumento da frequência cardíaca encurta a diástole proporcionalmente mais do que a sístole e diminui o tempo disponível para que o fluxo de sangue atravesse a valva mitral. Por isso, seja qual for o nível de DC, a taquicardia, incluindo aquela associada à FA com frequência acelerada, aumenta o gradiente de pressão transvalvar e eleva ainda mais a pressão no AE. As mesmas considerações se aplicam à fisiopatologia da estenose tricúspide. A pressão diastólica no VE e a fração de ejeção (FE) são normais na EM isolada. Na EM com ritmo sinusal, a elevação da pressão no AE e da pressão de oclusão na AP determinam um padrão de contração atrial intensa (onda a) e declínio gradual da pressão após a onda v e a abertura da valva mitral (deflexão y). Na EM grave, e sempre que a resistência vascular pulmonar aumenta de maneira significativa, a pressão arterial pulmonar (PAP) mantém-se elevada em repouso e aumenta ainda mais durante o exercício, muitas vezes causando elevação secundária da pressão diastólica final e volume ventriculares direitos (VD). DÉBITO CARDÍACO Nos pacientes com EM moderada (orifício da valva mitral entre 1 e 1,5 cm), o DC é normal ou próximo do normal durante o repouso, mas aumenta menos do que deveria durante o esforço. Nos pacientes com EM grave (área valvar < 1 cm“), particularmente quando a resistência vascular pulmonar está muito elevada, o DC encontra-se abaixo do normal durante o repouso e pode não aumentar ou mesmo decair durante a atividade física. ➔ HIPERTENSÃO PULMONAR: As características clínicas e hemodinâmicas da EM são muito influenciadas pelo nível da PAP. A hipertensão pulmonar é causada por (1) transmissão retrógrada passiva da pressão elevada no AE; (2) constrição arteriolar pulmonar (a assim chamada “segunda estenose”), que, presume-se, seja desencadeada por hipertensão no AE e venosa pulmonar (hipertensão pulmonar reativa); (3) edema intersticial na parede dos pequenos vasos pulmonares; e (4) alterações obstrutivas orgânicas no leito vascular pulmonar, no estágio final da doença. A hipertensão pulmonar grave causa aumento do VD, insuficiência tricúspide (IT) e regurgitação pulmonar secundárias, bem como insuficiência cardíaca direita. ➔ INSUFICIÊNCIA MITRAL: ➔ ETIOLOGIA: A IM pode resultar de anormalidade ou processo de doença que afete um ou mais dos cinco componentes funcionais do aparato valvar mitral (cúspides, anel, cordas tendíneas, músculos papilares e miocárdio subjacente). A IM aguda pode ocorrer nos casos de IAM com ruptura do músculo papilar, como consequência de traumatismo torácico fechado ou no curso de endocardite infecciosa. No IAM é muito mais frequente o envolvimento do músculo papilar posteromedial do que do anterolateral em razão do seu suprimento sanguíneo. É possível haver IM aguda transitória durante períodos de isquemia aguda e crises de angina de peito. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. A ruptura das cordas tendíneas pode causar uma IM aguda em uma IM crônica nos pacientes com degeneração mixomatosa do aparato valvar. A IM crônica pode ser causada por doença reumática, prolapso da valva mitral (PVM), calcificação extensa do anel valvar, defeito congênito na valva, miocardiopatia hipertrófica obstrutiva e miocardiopatia dilatada. Os processos reumáticos produzem rigidez, deformidade e retração das cúspides, bem como fusão das comissuras, além de encurtamento, contração e fusão das cordas tendíneas. As IM associadas ao PVM e à CHMO geralmente são de natureza dinâmica. Na CHMO, a IM ocorre em consequência do deslocamento do músculo papilar anterior e do movimento anterógrado, em direção a via de saída estreitado do VE, do folheto anterior da valva mitral durante a sístole. A calcificação do anel tem maior prevalência entre pacientes com doença renal avançada, sendo observada comumente em mulheres > 65 anos de idade com hipertensão arterial e diabetes. A IM PODE OCORRER COMO ANOMALIA CONGÊNITA, MAIS COMUMENTE COMO UM DEFEITO DOS COXINS ENDOCÁRDICOS (DEFEITOS DO COXIM ATRIOVENTRICULAR). UMA FENDA NO FOLHETO ANTERIOR DA VALVA MITRAL ACOMPANHA A COMUNICAÇÃO INTERATRIAL TIPO OSTIUM PRIMUM. A IM crônica frequentemente é secundária à isquemia, podendo ocorrer como consequência do remodelamento ventricular, do deslocamento dos músculos papilares e da imobilização dos folhetos, ou em razão de fibrose dos músculos papilares nos pacientes recuperados de infarto do miocárdio e com miocardiopatia isquêmica. Mecanismos semelhantes de dilatação do anel mitral e remodelamento ventricular contribuem para a IM em pacientes portadores de formas não isquêmicas de miocardiopatia dilatada, quando a dimensão do VE ao final da diástole atinge 6 cm. Seja qual for a causa, A IM CRÔNICA GRAVE É FREQUENTEMENTE PROGRESSIVA, UMA VEZ QUE O AUMENTO DO AE ELEVA A TENSÃO SOBRE A CÚSPIDE MITRAL POSTERIOR, AFASTANDO-A DO ORIFÍCIO VALVAR E, DESTA FORMA, AGRAVANDO SUA DISFUNÇÃO. DE MODO SEMELHANTE, A DILATAÇÃO DO VE AUMENTA A REGURGITAÇÃO, TORNANDO MAIOR O AE E O VE, CAUSANDO RUPTURA DAS CORDAS TENDÍNEAS E GERANDO UM CÍRCULO VICIOSO; DAÍ O AFORISMO: “INSUFICIÊNCIA MITRAL GERA INSUFICIÊNCIA MITRAL” ➔ FISIOPATOLOGIA: A resistência ao esvaziamento do VE (pós-carga do VE) é menor nos pacientes com IM. Em consequência, durante a fase de ejeção há descompressão desta câmara para dentro do AE e, com a redução do tamanho do VE durante a sístole, verifica-se rápido declínio da tensão no VE. A compensação inicial à IM é o esvaziamento completo do VE. Entretanto, o volume do VE aumenta progressivamente à medida que aumenta a intensidade da regurgitação e que se deteriora a função contrátil ventricular. Este aumento no volume com frequência é acompanhado por redução do débito cardíaco, ainda que haja aumento da complacência do VE, e, consequentemente não se observa aumento da pressão diastólica no VE até as fases tardias da evolução. O volume regurgitado varia diretamente em função da pressão sistólica do VE e da dimensão do orifício insuficiente; conforme mencionado, este tamanho é influenciado pelo grau de dilatação do ventrículo e do anel mitral. Como a fração de ejeção (FE) aumenta na IM grave com função VE normal, qualquer redução, mesmo modesta, desse parâmetro (< 60%) reflete disfunção significativa. Durante o início da diástole, à medida que oAE distendido se esvazia, e na ausência de EM concomitante, observa-se uma deflexão y particularmente rápida. É possível haver um breve gradiente de pressão AE-VE protodiastólico [que frequentemente produz um som de enchimento rápido (B3) e um sopro mesodiastólico confundido com EM] em pacientes com IM pura causado pela passagem de fluxo sanguíneo muito rápido através de um orifício mitral de tamanho normal. O eco cardiograma com Doppler fornece estimativas semiquantitativas de fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), DC, pressão sistólica na AP, volume regurgitante, fração regurgitante (FR) e área efetiva do orifício insuficiente. Essas medidas também podem ser obtidas com a RMC. O cateterismo cardíaco direito e esquerdo com ventriculografia com contraste é usado mais raramente. A IM não isquêmica é classificada como grave quando o volume regurgitante é > 60 mL/batimento, a fração regurgitante (FR) é > 50%, e a área efetiva do orifício insuficiente é > 0,40 cm2. A IM isquêmica é dita grave quando a área efetiva do orifício insuficiente é > 0,3 cm . Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ ESTENOSE AÓRTICA (EA) A EA ocorre em cerca de 25% dos pacientes com doença valvar cardíaca crônica; aproximadamente 80% dos pacientes adultos com EA sintomática são do sexo masculino. ➔ ETIOLOGIA E PATOGENIA: A EA em adultos é causada por calcificação degenerativa das cúspides aórticas, e ocorre na maioria das vezes como consequência de doença congênita (valva aórtica bicúspide [VAB]), deterioração crônica das cúspides (tricúspide), ou inflamação reumática prévia. Em um estudo patológico recente de peças retiradas no momento da substituição da valva aórtica para EA demonstrou- -se que 53% delas eram bicúspides e 4% unicúspides. Contrariando os antigos conceitos, o processo de deterioração e calcificação da valva aórtica não é passivo, mas têm em comum diversas características da aterosclerose vascular, incluindo disfunção endotelial, acúmulo de lipídios, ativação de células inflamatórias, liberação de citocinas e sobrerregulação de diversas vias sinalizadoras. Eventualmente, miofibroblastos valvulares sofrem diferenciação em osteoblastos e produzem ativamente proteínas da matriz que permitem o depósito de cristais de hidroxiapatita de cálcio. Os polimorfismos genéticos envolvendo receptor de vitamina D, receptor de estrogênio em mulheres após a menopausa, interleucina 10 e apolipoproteína E4 foram relacionados com o desenvolvimento de EA calcificada, tendo sido relatado uma forte relação familiar em casos no oeste da França. Vários fatores de risco tradicionais para aterosclerose também foram associados ao desenvolvimento e evolução da EA calcificada, incluindo colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína a [Lp(a)], diabetes melito, tabagismo, doença renal crônica e síndrome metabólica. A presença de esclerose valvar aórtica (espessamento focal e calcificação das cúspides não suficientes para causar obstrução) está associada a aumento de risco de morte cardiovascular e IAM entre indivíduos com mais de 65 anos de idade. Aproximadamente 30% dos indivíduos com mais de 65 anos apresentam esclerose de valva aórtica, enquanto 2% evoluem com estenose franca. A doença reumática das cúspides aórticas produz fusão das comissuras, resultando às vezes em uma valva de aparência bicúspide. Tal condição torna as cúspides mais suscetíveis a traumatismos, levando finalmente à fibrose, calcificação e estreitamento. Quando a obstrução ao esvaziamento do VE chega a causar incapacidade grave detectável clinicamente, a valva geralmente já é uma massa rígida e calcificada, podendo o diagnóstico etiológico do processo subjacente ser muito difícil ou até impossível mesmo com exames muito cuidadosos. A EA reumática está quase sempre associada a problemas na valva mitral e a IA. A irradiação do mediastino também pode resultar em fibrose tardia e calcificação das cúspides com EA. DOENÇA DA VALVA AÓRTICA BICÚSPIDE A valva aórtica bicúspide (VAB) é a malformação congênita cardíaca mais comum e ocorre em 0,5 a 1,4% da população com uma predominância de 2 a 4:1 para o sexo masculino. O padrão de herança parece ser autossômico dominante com penetrância incompleta, embora alguns autores tenham questionado um componente ligado ao X sugerido pela Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. prevalência de VAB em pacientes com síndrome de Turner. A prevalência de VAB entre parentes de primeiro grau de um indivíduo portador é de aproximadamente 10%. Não se identificou um defeito genético específico capaz de explicar a maioria dos casos, embora tenha sido descrita uma mutação no gene NOTCH1 em algumas famílias. Anormalidades na óxido nítrico sintetase endotelial e em NKX2.5 também foram implicadas. Coarctação da aorta ou degeneração da lâmina média com formação de aneurisma da aorta ascendente ocorrem comumente entre pacientes com VAB. Os pacientes com VAB apresentam aortas maiores do que pacientes comparáveis com doença valvar aórtica tricúspide. A aortopatia desenvolve-se independentemente da gravidade hemodinâmica da lesão valvar e representa um fator de risco para dissecção. A VAB pode ser componente de uma cardiopatia congênita complexa com ou sem outras lesões cardíacas obstrutivas. FISIOPATOLOGIA: A obstrução do fluxo de saída do VE produz um gradiente de pressão sistólica entre o VE e a aorta. Quando uma obstrução intensa é produzida de forma súbita experimentalmente, o VE responde com dilatação e redução do volume sistólico. Entretanto, em alguns pacientes a obstrução pode estar presente ao nascimento e/ ou aumentar gradualmente ao longo de muitos anos, sendo o desempenho sistólico do VE mantido em razão de hipertrofia concêntrica desta câmara. Inicialmente tal processo serve como mecanismo adaptativo por reduzir o estresse sistólico do miocárdio a níveis normais, conforme prevê a equação de Laplace (S = Pr/h, onde S = estresse sistólico na parede, P = pressão, r = raio e h = espessura da parede). É possível manter um grande gradiente de pressão transvalvar aórtico por muitos anos sem redução do DC ou dilatação do VE; porém, finalmente a hipertrofia excessiva deixa de ser adaptativa, e a função sistólica do VE se deteriora, com anormalidades na função diastólica e evolução para fibrose irreversível do miocárdio. Um gradiente médio de pressão sistólica > 40 mmHg com débito cardíaco normal ou uma área efetiva do orifício aórtico < cerca de 1 cm (ou < 0,6 cm /m de área da superfície corporal em um adulto de tamanho normal) - isto é, menos que aproximadamente um terço da área normal do orifício - geralmente são considerados evidências de obstrução grave da via de saída do VE. A elevação da pressão diastólica final no VE, observada em muitos pacientes com EA grave e FE preservada, significa redução da complacência de ventrículo hipertrófico. Ainda que o DC durante o repouso fique dentro dos limites normais na maioria dos pacientes com EA grave, ele raramente aumenta normalmente durante o exercício. A perda na sintonia com a contração atrial vigorosa, como ocorre na EA ou na dissociação atrioventricular, pode causar progressão rápida dos sintomas. Mais tarde, na evolução da doença, a função contrátil sofre deterioração em razão do excesso de pós-carga, o DC e o gradiente de pressão VE-aorta declinam, e as pressões médias em AE, AP e VD aumentam. O desempenho VE pode ser ainda mais comprometido quando há DACsuperposta. A hipertrofia do VE causa aumento na demanda miocárdica por oxigênio. Além disso, mesmo na ausência de DAC obstrutiva, o fluxo coronariano é prejudicado a ponto de desencadear isquemia sob condições nas quais haja excesso de demanda. O número relativo (densidade) de capilares se reduz em função da espessura da parede, as forças compressivas aumentam e a elevação na pressão diastólica final no VE reduz a pressão propulsora nas coronárias. O subendocárdio é especialmente suscetível à isquemia causada por esse mecanismo. ➔ INSUFICIÊNCIA AÓRTICA: ETIOLOGIA. A IA pode advir de doença primária na valva ou lesão na raiz da aorta. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. DOENÇA PRIMÁTIA VALVAR: A doença reumática resulta em espessamento, deformação e encurtamento das cúspides da valva aórtica, modificações que impedem a adequada abertura durante a sístole e o fechamento durante a diástole. A origem reumática é muito menos comum nos indivíduos com IA pura que não tenham doença valvar mitral reumática associada. Os pacientes com doença da VAB congênita podem desenvolver IA predominante e aproximadamente 20% deles necessitarão de cirurgia de valva aórtica entre 10 e 40 anos de idade. As fenestrações congênitas da valva aórtica ocasionalmente produzem IA leve. A estenose subaórtica membranosa com frequência leva a espessamento e fibrose das cúspides aórticas com IA secundária. O prolapso de uma cúspide aórtica, que resulta em IA crônica progressiva, ocorre em aproximadamente 15% dos pacientes com comunicação interventricular, mas também pode ocorrer como fenômeno isolado ou em consequência de degeneração mixomatosa, algumas vezes associada a envolvimento das valvas mitral e/ou tricúspide. A IA pode resultar de endocardite infecciosa, que se desenvolve sobre uma valva previamente afetada por doença reumática, sobre uma valva congenitamente deformada ou sobre uma valva normal, sendo possível que haja perfuração ou erosão de uma ou mais cúspides. AS CÚSPIDES DA VALVA AÓRTICA PODEM SOFRER FIBROSE E RETRAÇÃO NO CURSO DE DOENÇAS, COMO SÍFILIS E ESPONDILITE ANQUILOSANTE, CONTRIBUINDO PARA A IA QUE, PRIMARIAMENTE, DECORRE DE DOENÇA ASSOCIADA NA RAIZ DA AORTA. Embora a ruptura traumática, ou avulsão da valva aórtica, seja uma causa rara da IA aguda, de fato representa a lesão significativa mais frequente nos pacientes que sobrevivem a traumatismos cardíacos fechados. A coexistência de EA e IA hemodinamicamente significativas geralmente exclui todas as formas mais raras de IA porque tal combinação ocorre quase exclusivamente em pacientes com a doença de etiologia reumática ou congênita. Nos pacientes com IA decorrente de doença valvar primária, pode ocorrer dilatação secundária do anel, levando a aumento da regurgitação. DOENÇA PRIMÁRIA DA RAIZ DA AORTA A IA pode ser decorrente exclusivamente de dilatação da aorta, ou seja, da doença da raiz da aorta, sem envolvimento primário das cúspides valvares; a dilatação do anel aórtico e a separação das cúspides são responsáveis pela IA. Degeneração cística da túnica média da aorta ascendente, que pode ou não estar associada a outras manifestações da síndrome de Marfan; dilatação idiopática da aorta; ectasia anuloaórtica; osteogênese imperfeita; e hipertensão arterial grave podem alargar o anel aórtico e levar à IA progressiva. Ocasionalmente, a IA pode ser causada por dissecção retrógrada envolvendo o anel aórtico. A SÍFILIS E ESPONDILITE ANQUILOSANTE PODEM AFETAR A VALVA AÓRTICA BEM COMO ESTAR ASSOCIADAS À INFILTRAÇÃO CELULAR E CICATRIZAÇÃO DA TÚNICA MÉDIA DA AORTA TORÁCICA, LEVANDO À DILATAÇÃO DESTA ARTÉRIA, FORMAÇÃO DE ANEURISMA E REGURGITAÇÃO GRAVE. Na sífilis da aorta, atualmente uma condição muito rara, o envolvimento da íntima pode estreitar o orifício coronariano, levando à isquemia miocárdica. FISIOPATOLOGIA: O volume sistólico total ejetado pelo VE (ou seja, a soma do volume efetivamente ejetado para a aorta com o volume de sangue que regurgita para o VE) aumenta nos pacientes com IA. Naqueles com IA grave, o volume do fluxo regurgitado pode se igualar ao volume sistólico anterógrado efetivamente ejetado. Ao contrário do que ocorre na IM, na qual uma parte do volume sistólico do VE retorna a um AE com baixa pressão, na IA todo o volume sistólico é ejetado em uma zona de alta pressão, a aorta. O aumento no volume diastólico final do VE (aumento da pré-carga) é a principal compensação hemodinâmica para a IA. A dilatação e hipertrofia excêntrica do VE permitem que esta câmara ejete maior volume sistólico sem que seja necessário aumentar o encurtamento relativo de cada fibra miocárdica. Assim, a IA grave pode cursar com volume sistólico anterógrado efetivo e FE ventricular esquerda [volume sistólico total (anterógrado mais regurgitado)/volume diastólico final] normais. Entretanto, segundo a lei de Laplace, a dilatação do VE aumenta a tensão sistólica necessária para desenvolver qualquer nível de pressão sistólica. Assim, a IA crônica é um estado no qual tanto a pré quanto a pós-carga do VE estão aumentadas. Finalmente, essas medidas adaptativas tornam-se insuficientes. À medida que a função do VE se deteriora, o volume diastólico final se eleva ainda mais, e o volume sistólico anterógrado e a FE declinam. A deterioração da função do VE frequentemente precede o aparecimento de sintomas. Na IA crônica, há espessamento considerável da parede do VE, e nas necropsias os corações desses pacientes estão entre os maiores encontrados, às vezes chegando a pesar mais de 1.000 g. O gradiente de pressão reverso da aorta para o VE, que determina o fluxo de sangue regurgitante, cai progressivamente durante a diástole, o que explica a natureza em decrescendo do sopro diastólico. O equilíbrio entre as pressões na aorta e no VE pode ocorrer próximo do final da diástole nos pacientes com IA crônica grave, particularmente quando a frequência cardíaca for baixa. Nos pacientes com IA aguda grave, o VE não está preparado para a carga de volume Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. regurgitado. A complacência do VE mostra-se normal ou reduzida, e as pressões diastólicas no VE aumentam rapidamente, chegando a níveis superiores a 40 mmHg. A pressão do VE pode exceder à do AE quando se aproxima o final da diástole, e tal gradiente de pressão reverso provoca fechamento prematuro da valva mitral. Nos pacientes com IA crônica grave, o DC anterógrado efetivo geralmente mostra-se normal ou apenas ligeiramente reduzido em repouso, mas frequentemente não aumenta como deveria durante o esforço. A redução da FE é um sinal precoce de disfunção do VE. Nos estágios avançados, pode haver considerável elevação da pressão do AE, da PAP, da pressão capilar pulmonar e da pressão do VD, além de diminuição do DC anterógrado durante o repouso. Pode haver isquemia miocárdica nos pacientes com IA porque a demanda do miocárdio por oxigênio aumenta com a dilatação e a hipertrofia do VE, bem como com a elevação da tensão sistólica levando a comprometimento do fluxo sanguíneo coronariano. Uma grande parte do fluxo sanguíneo coronariano ocorre durante a diástole quando a pressão arterial é baixa, reduzindo, assim, a pressão de perfusão das coronárias. Esta combinação de maior demanda e menor suprimento de oxigênio pode levar à isquemia miocárdica, particularmente subendocárdica, mesmo na ausência de doença arterial coronariana concomitante. INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE:Na maior parte dos casos, a IT é secundária à marcante dilatação do anel tricúspide, causada por aumento do VD em razão de hipertensão arterial pulmonar. A IT funcional pode ser uma complicação de aumento do VD por qualquer causa, incluindo um IM inferior que envolva o VD. É observada com frequência nos estágios finais da insuficiência cardíaca decorrente de cardiopatias reumática ou congênita com hipertensão pulmonar grave (pressão sistólica na artéria pulmonar > 55 mmHg), assim como nas miocardiopatias isquêmica e dilatada idiopática. Será parcialmente reversível se a hipertensão pulmonar puder ser amenizada. A febre reumática pode produzir IT orgânica (primária), frequentemente associada à ET. INFARTO DOS MÚSCULOS PAPILARES DO VD, PROLAPSO DA VALVA TRICÚSPIDE, DOENÇA CARCINOIDE, FIBROSE ENDOMIOCÁRDICA, IRRADIAÇÃO, ENDOCARDITE INFECCIOSA E TRAUMATISMO PODEM PRODUZIR IT. MAIS RARAMENTE, A IT RESULTA DE DEFORMAÇÃO CONGÊNITA DA VALVA TRICÚSPIDE, RELACIONADA COM OS DEFEITOS NO CANAL ATRIOVENTRICULAR E COM A ANOMALIA DE EBSTEIN DA VALVA TRICÚSPIDE. A IT também se desenvolve eventualmente nos pacientes com marca-passo apical do VD. Assim como na ET, as manifestações clínicas da IT resultam primariamente da congestão venosa sistêmica e redução do DC. O aparecimento da IT nos pacientes com hipertensão da artéria pulmonar faz os sintomas de congestão pulmonar diminuir, mas as manifestações clínicas de insuficiência cardíaca direita se intensificam. As veias do pescoço se distendem com ondas v proeminentes e deflexão y rápida, com hepatomegalia intensa, ascite, derrame pleural, edema periférico, pulsações sistólicas do fígado e reflexo hepatojugular presente. Um impulso do VD proeminente ao longo da região paraesternal esquerda e um sopro holossistólico aspirativo ao longo da borda esternal esquerda, que pode aumentar à inspiração e diminuir durante a expiração, ou durante a fase de esforço da manobra de Valsalva são achados típicos; em geral, há FA. O ECG pode revelar alterações típicas da lesão responsável pelo aumento do VD que acarreta IT, como, por exemplo, onda Q de IM inferior ou HVD. O ecocardiograma pode ser útil ao demonstrar dilatação de VD e prolapso de cúspides valvares frouxas, fibróticas ou deslocadas; o diagnóstico e a avaliação da IT podem ser feitos com aquisição de imagem do fluxo com Doppler colorido. A IT grave é acompanhada por fluxo sistólico reverso na veia hepática. O Doppler de ondas contínuas para avaliação do perfil de velocidade do fluxo regurgitante pela tricúspide é usado para estimar a pressão arterial sistólica Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. pulmonar. O exame radiográfico geralmente revela aumento do AD e do VD. Nos pacientes com IT grave, o DC costuma estar muito reduzido, e a pressão de pulso no AD talvez não apresente a deflexão x durante o início da sístole, mas sim uma onda c-v proeminente com rápida deflexão y. As pressões diastólicas finais médias do AD e do VD frequentemente se mostram elevadas. DOENÇA DA VALVA PULMONAR: A valva pulmonar é muito menos afetada pela febre reumática do que as demais, e raramente é foco de endocardite infecciosa. O problema adquirido mais comum a afetar esta valva é a regurgitação secundária à dilatação do anel valvar em consequência de hipertensão arterial pulmonar grave. Essa dilatação produz o sopro de Graham Steell, um sopro diastólico, aspirativo, agudo e em decrescendo, audível ao longo da borda esternal esquerda, de difícil diferenciação em relação ao sopro muito mais frequente produzido pela IA. A regurgitação pulmonar geralmente tem pouco significado hemodinâmico; de fato, a remoção cirúrgica ou destruição da valva pulmonar pela endocardite infecciosa não produzem insuficiência cardíaca, a menos que sejam acompanhadas de hipertensão arterial pulmonar grave. A síndrome carcinoide pode causar estenose e/ou insuficiência da valva pulmonar. A insuficiência pulmonar ocorre em todos os pacientes que tenham sido submetidos na infância à correção cirúrgica da tetralogia de Fallot com reconstrução da via de saída do VD. A substituição percutânea da valva pulmonar foi realizada com sucesso em muitos pacientes com IP grave após reparo de tetralogia de Fallot na infância ou com estenose ou atresia de valva pulmonar. Este procedimento foi introduzido na prática clínica antes da substituição percutânea de valva aórtica. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. 3º OBJETIVO: REDES DE ATENÇÃO A SAÚDE PARA OS TRABALHADORES/A RURAIS. Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Art. 2º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), para o desenvolvimento da atenção integral à saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, visando a promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos. Art. 3º Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado são sujeitos desta Política. PARÁGRAFO ÚNICO. A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA ALINHA-SE COM O CONJUNTO DE POLÍTICAS DE SAÚDE NO ÂMBITO DO SUS, CONSIDERANDO A TRANSVERSALIDADE DAS AÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR E O TRABALHO COMO UM DOS DETERMINANTES DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA. CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES Art. 5º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora observará os seguintes princípios e diretrizes: I - UNIVERSALIDADE; II - INTEGRALIDADE; III - PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE, DOS TRABALHADORES E DO CONTROLE SOCIAL; IV - DESCENTRALIZAÇÃO; V - HIERARQUIZAÇÃO; VI - EQUIDADE; E VII - PRECAUÇÃO. Art. 10. São responsabilidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Município, em seu âmbito administrativo, além de outras que venham a ser pactuadas pelas Comissões Intergestores: I - garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde do trabalhador; II - orientar e ordenar os fluxos das ações e dos serviços de saúde do trabalhador; III - monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde do trabalhador; IV - assegurar a oferta regional das ações e dos serviços de saúde do trabalhador; V - estabelecer e garantir a articulação sistemática entre os diversos setores responsáveis pelas políticas públicas, para analisar os diversos problemas que afetam a saúde dos trabalhadores e pactuar uma agenda prioritária de ações intersetoriais; e VI - desenvolver estratégias para identificar situações que resultem em risco ou produção de agravos à saúde, adotando e ou fazendo adotar medidas de controle quando necessário. Art. 13. Compete aos gestores municipais de saúde: I - executar as ações e serviços de saúde do trabalhador; II - coordenar, em âmbito municipal, a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; III - conduzir as negociações nas instâncias municipais do SUS, visando inserir ações, metas e indicadores de saúde do trabalhador no Plano Municipal de Saúdee na Programação Anual de Saúde, a partir de planejamento estratégico que considere a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; IV - pactuar e alocar recursos orçamentários e financeiros para a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, pactuados nas instâncias de gestão e aprovados no Conselho Municipal de Saúde (CMS); V - desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio e fortalecimento da CIST do CMS; Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. VI - constituir referências técnicas em saúde do trabalhador e/ou grupos matriciais responsáveis pela implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; VII - participar, em conjunto com o Estado, da definição dos mecanismos e dos fluxos de referência, contra-referência e de apoio matricial, além de outras medidas, para assegurar o desenvolvimento de ações de promoção, vigilância e assistência em saúde do trabalhador; VIII - articular-se regionalmente para integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde quando da identificação de problemas e prioridades comuns; IX - regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e a prestação de serviços em saúde do trabalhador, no âmbito de sua competência; X - implementar, na Rede de Atenção à Saúde do SUS, e na rede privada, a notificação compulsória dos agravos à saúde relacionados com o trabalho, assim como o registro dos dados pertinentes à saúde do trabalhador no conjunto dos sistemas de informação em saúde, alimentando regularmente os sistemas de informações em seu âmbito de atuação, estabelecendo rotinas de sistematização, processamento e análise dos dados gerados no Município, de acordo com os interesses e necessidades do planejamento da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; XI - instituir e manter cadastro atualizado de empresas classificadas nas diversas atividades econômicas desenvolvidas no Município, com indicação dos fatores de risco que possam ser gerados para os trabalhadores e para o contingente populacional direta ou indiretamente a eles expostos, em articulação com a vigilância em saúde ambiental; XII - elaborar, em seu âmbito de competência, perfil produtivo e epidemiológico, a partir de fontes de informação existentes e de estudos específicos, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações de atenção à saúde do trabalhador; XIII - capacitar, em parceria com as Secretarias Estaduais de Saúde e com os CEREST, os profissionais e as equipes de saúde do SUS, para identificar e atuar nas situações de riscos à saúde relacionados ao trabalho, assim como para o diagnóstico dos agravos à saúde relacionados com o trabalho, em consonância com as diretrizes para implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, bem como estimular a parceria entre os órgãos e instituições pertinentes para formação e capacitação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, em consonância com a legislação de regência; e XIV - promover, no âmbito municipal, articulação intersetorial com vistas à promoção de ambientes e processos de trabalho saudáveis e ao acesso às informações e bases de dados de interesse à saúde dos trabalhadores. De acordo com Fernandes (2015) é visto que a promoção da saúde tem enfrentado diversos problemas com relação a vários setores do meio ambiente, urbanização, segurança alimentar e nutricional, ao desemprego, moradia, ao uso de drogas lícitas e ilícitas e entre outros. Constituindo ainda um ambiente único para a realização de ações em educação para a saúde, devido ser um espaço onde o trabalhador rural pode passar a maior parte do dia e assim torna-se um local onde tais colaboradores possam obter informações que os instruam sobre a proteção a sua saúde. É de extrema relevância que o trabalhador também reflita sobre as suas condições de saúde e qualidade de vida, que irá envolver assim a promoção de saúde estimulando as melhorias nas condições de trabalho e de vida satisfatória, seguras, estimulantes e agradáveis. Contudo os trabalhadores rurais desenvolvem atividades muito arriscadas e insalubres, os quais desempenham atividades em diversos ambientes que estão propícios a vários fatores de riscos ocupacionais. Podendo então incluir os riscos físicos devido ao trabalho ser realizado em locais abertos na maioria das vezes, sujeitos às intempéries e às radiações ionizantes; os químicos devido ao emprego de diversos produtos agrícolas, sendo elas a poeira do solo levantada pelos ventos; os ergonômicos pelo fato dos pesos que os trabalhadores transportam e dos vários desenhos dos equipamentos e ferramentas, que geralmente podem não ser adaptados aos seus dados antropométricos; os biológicos devido a presença de animais que podem causar ferimentos durante a realização do seu trabalho e outros (FERRAZ, et. al., 2012). OS TRABALHADORES RURAIS QUANDO ESTÃO EXECUTANDO SUAS FUNÇÕES, ESTÃO EXPOSTOS HÁ DIVERSAS SITUAÇÕES QUE PODEM ASSIM TRAZER COMPLICAÇÕES DE SAÚDE, RISCOS DE ACIDENTES, E OUTROS, COMO COM VEÍCULOS MOTORIZADOS, FERRAMENTAS, OBJETOS CORTANTES, NÍVEL DE RUÍDO EXCESSIVO, RAIOS ULTRAVIOLETA QUE PODEM CAUSAR CÂNCER DE PELE, PREDISPOSIÇÃO À ARTRITE, DOENÇAS RESPIRATÓRIAS, ZOONOSES (BRUCELOSE, LEPTOSPIROSE, TÉTANO, TUBERCULOSE, RAIVA, ENCEFALITE, MICOSES, MALÁRIA ETC.), exposição a gases tóxicos, picadas de animais peçonhentos, choques elétricos, raios, incêndios e exposição a substâncias químicas (DUARTE, et. al., 2016). Contudo a fim de promover a prevenção contra estes problemas que o trabalhador está expondo sua saúde todos os dias, há uma legislação com o intuito de regular e promover a saúde do trabalhador rural. Atualmente há uma grande preocupação com a saúde dos trabalhadores rurais, focando bastante no manuseio e o contato direto com os produtos químicos. Assim devido a este contato intenso com agrotóxicos concentrados, os trabalhadores rurais podem apresentar grandes riscos de intoxicação, devido à pele fica extremamente exposta durante o manuseio deste produto químico, limpeza do equipamento de pulverização e durante o descarte de embalagens vazias (DUARTE, et. al., 2016). Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. O mesmo autor ainda relata que há também uma enorme necessidade de averiguar sobre o uso dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), onde os mesmo tem a capacidade de proteger o trabalhador contra riscos ocupacionais, porém estes equipamentos de proteção devem ser usados de forma correta para que assim possam diminuir os riscos de acidentes e adoecimentos no trabalho. Pode ser utilizado também para melhorar a saúde dos trabalhadores rurais, o cuidado com a alimentação, envolvendo plantas medicinais, verduras e frutas que podem ser benéficas na alimentação. Assim também pode ser indicado o uso de calçados adequados para andar no ambiente rural e roupas apropriadas para a exposição ao sol e ao calor (RUCKERT; CUNHA; MODENA, 2018). Então é certo dizer que é preciso que haja a adoção de métodos voltados para a ampliação da oferta de ações e também para a sensibilização dos trabalhadores rurais terem o autocuidado com a saúde (FERRAZ, et. al., 2012). CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao fim desta pesquisa nota-se a necessidade de promoverem políticas públicas que influenciem na qualidade da saúde dos trabalhadores rurais, devido aos mesmos estarem expostos e vulneráveis ao adoecimento de sua saúde porcondições inadequadas de trabalho. Com isso há uma grande necessidade do gestor em saúde pública conhecer o ambiente rural e as condições de vida e saúde destes trabalhadores, com o intuito de analisar os mesmos para promover a estes trabalhadores reflexões com relação a sua saúde individual, coletiva e ambiental. Observou a necessidade de haver mais estudos que possam contribuir para a construção de estratégias que ajudem na redução dos riscos ambientais dos trabalhadores rurais e na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, tendo ainda a efetivação de políticas que possam beneficiar a agricultura para que assim a mesma possa oferecer saúde e cidadania a estes trabalhadores. Assim percebe-se que é de extrema relevância a promoção de estratégias preventivas com o intuito de impactar para a melhoria da qualidade de vida e saúde dos trabalhadores rurais, tanto aqueles que manejam diretamente os agrotóxicos quanto os que têm exposição a outros tipos de produtos e riscos de acidentes. Por fim é de grande importância que o gestor de saúde pública esteja sempre ligado na saúde do trabalhador rural, o qual deve então priorizar a produção de serviços de qualidade que possam atender as necessidades destes trabalhadores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1) MEDICINA CARDIOVASCULAR DE HARRISON 2ª EDIÇÃO; 2) MEDICINA INTERNA DE HARRISON; 3) PORTARIA Nº 1.823 DE 23 DE AGOSTO DE 2012. INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E TRABALHADORA; 4) PEDRO FRANCO NOLETO NETO. POLÍTICA DE SAÚDE PARA TRABALHADORES RURAIS. 11/05/2020
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