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Ética e Cidadania: Conceitos Fundamentais

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Filosofia
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Andrea Borelli
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Ética e Cidadania
• Introdução
• Os Valores
• A Moral e o Ato Moral
• Ética: Algumas Considerações Filosóficas
• A Questão da Liberdade: Algumas Considerações
 · Vamos finalizar nosso estudo de Filosofia, discutindo um tema muito 
importante no mundo atual: a questão da Ética e da Cidadania.
 · Nesta Unidade, discutiremos alguns aspectos iniciais desse problema 
que sempre aparece nos noticiários.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Ética e Cidadania
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Ética e Cidadania
Introdução
Você é ético?
Vamos fazer um teste?
Leia o texto a seguir e se lembre de que essa é uma situação fictícia, criada com 
o objetivo de promover reflexão.
“Imagine que você é um repórter fotográfico de uma importante Agência de 
notícias. Seu trabalho o leva para todos os lugares do mundo e, em uma dessas 
viagens, você é enviado para cobrir uma das maiores enchentes da história humana.
Num determinado momento, você se depara com um grupo de pessoas ilhadas 
e prestes a serem levadas pela enxurrada. No grupo, você reconhece três pessoas: 
Hitler, responsável pelo Holocausto; Pinochet, ditador chileno que conduziu uma 
das ditaduras mais violentas do mundo (lembre-se de que estamos em uma situação 
fictícia) e seu vizinho, aquele cara que faz da sua vida um inferno.
Você é o único que pode salvá-los...
Contudo, se você não fizer nada, vai tirar uma sequência de fotos que lhe 
garantirão riqueza e fama. Afinal, todos vão querer ver celebridades morrendo.
Considerando todos os princípios da ética, responda a questão.
Você tiraria fotos coloridas ou em preto e branco? ”
Obviamente, isso é uma brincadeira. 
Contudo a discussão da Ética e da Cidadania é de vital importância para o 
mundo moderno e esse é o tema de que trataremos nesta Unidade.
Algumas afirmações tornaram-se lugar comum no mundo atual: “As pessoas 
não têm valores”; “Os jovens não sabem o que é Moral”; “Os políticos não têm 
Ética”; “Temos de lutar pela Cidadania”.
Valores, Ética, Moral, Cidadania... 
Esses conceitos são utilizados de maneira indiscriminada e sem que as pessoas 
tenham noção do que eles realmente significam. É necessário saber o que realmente 
é um Ato Moral, qual o sentido de Ética e de Cidadania.
Vamos discutir esse assunto nesta Unidade.
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Os Valores
Ao entrar em contato com algo, uma árvore, por exemplo, fazemos uma série 
de observações em nossa relação com o objeto: sua cor, seu cheiro ou sua beleza. 
Essas observações são os juízos. 
Observe: 
1º) Realizamos um Juízo de Realidade: quando
partimos do fato de que a árvore existe..
2º) Realizamos Juízos de Valor: quando atribuímos uma
qualidade que mobiliza nossa atração ou repulsa.
Figura 1
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
Atribuímos valor às coisas todo o tempo e isso marca a nossa relação com o 
mundo. Eles podem ser de utilidade, beleza, morais (bem e mal), econômicos.
Importante!
“Desse modo, os valores podem ser lógicos, utilitários, estéticos, afetivos, econômicos, 
religiosos, éticos” (ARANHA & MARTINS, 2013, p. 171).
Trocando ideias...
Contudo, o que é valor?
Valor
Do grego áxios, “valor”.
Axiologia trata da relação entre os
objetos e os seres que os aprecia.
Algo possui valor quando não
nos deixa indiferentes.
Figura 2
Os valores são, em um primeiro momento, herdados do mundo cultural em 
que vivemos, ou seja, aprendemos com os outros o que é belo e o que é feio; 
aprendemos a andar, correr e brincar. Portanto, é importante perceber que os 
valores são construídos coletivamente e variam de acordo com a cultura que os 
gestou. Eentre os diversos tipos de valores, estão os éticos ou morais.
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UNIDADE Ética e Cidadania
A Moral e o Ato Moral
Os conceitos de Moral e Ética são, muitas vezes, utilizados como sinônimos, 
aliás, possuem uma etimologia semelhante, apesar de designarem coisas diferentes. 
“[...] ambos referindo-se a um conjunto de regras de conduta consideradas 
como obrigatórias. Tal sinonímia é perfeitamente aceitável: se temos dois 
vocábulos é porque herdamos um do latim (moral - mos, moris) e outro do 
grego (ética - ethos) duas culturas antigas que assim nomeavam o campo 
de reflexão sobre os ‘costumes’ dos homens , sua validade, legitimidade, 
desejabilidade, exigibilidade” (LA TAILLE, 2006, p. 25).
Moral Ética
Origem Latina Origem Grega
mos, moris ethos
“maneira de comportar regulada pelo costume.” “costume”
Em sentido amplo, a Moral é o conjunto de regras de conduta que um grupo 
admite como ideais numa determinada época e a Ética é a parte da Filosofia que se 
ocupa da reflexão sobre as noções, as quais fundamentam a vida moral.
Observe que a Moral é perpassada por duas importantes dimensões: a pessoal 
e a coletiva, pois os atos humanos são marcados pela dinâmica entre a liberdade 
pessoal e a pressão coletiva; entre a aceitação e a recusa das normas criadas 
socialmente. 
A criação do mundo Moral leva à reflexão sobre os atos cotidianos e levanta a 
problemática do Ato Moral.
Ato Moral
Amoral = foge da norma. Moral = de acordo com a norma.
É normativo
As normas que determinam o “dever ser”.
É obrigatório – cria um dever
A consciência moral obriga a ação – Autonomia (autodeterminação).
É fatual
São os atos humanos que se realizam.
É solidário
Reciprocidade entre os envolvidos.
É responsável
É um momento de ação livre e consciente.
É voluntário e livre
É um ato de vontade que busca um objetivo.
Figura 3
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Estabelecidas as características do Ato Moral e determinado que a Moral é fruto 
da ação coletiva humana, podemos iniciar as considerações sobre a questão da 
Ética, ou seja, as reflexões que a Filosofia propõe sobre a vida moral.
Ética: Algumas Considerações Filosófi cas
Os filósofos antigos consideravam que a vida moral era marcada por um 
constante choque entre os nossos desejos e a nosso razão. Nesse período, a vida 
ética era educar as paixões e orientar a vontade no rumo do bem e da felicidade.
A finalidade da Ética, no mundo antigo, era observar a harmonia entre o caráter 
do sujeito éticoe os valores da sociedade.
Os homens de bem querem o bem de uns e outros, do mesmo modo. E por serem homens de 
bem são amigos dos outros, pelo que os outros são. Esses são assim amigos de uma forma 
suprema. Querem para os seus amigos o bem que querem para si próprios.»
Ética a Nicômaco – Aristóteles.
Ex
pl
or
A Ética expressa não somente os anseios e problemas de cada época, mas 
expressa a organização política, social e religiosa de uma cultura, de um povo. O 
comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, 
isto é, como um ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia.
A Ética filosófica procura orientar e encontrar soluções para os problemas 
básicos das relações entre os homens. Desde a Grécia Antiga até a Contempora-
neidade, a Ética foi discutida e elaborada por muitos filósofos.
Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e 
da areté (da virtude). Com Platão, a Ética ganha espaço na política. Assim como 
Platão, Aristóteles fala do homem político, social, condenado a viver na pólis 
(cidade-estado grega). Para ele, o homem deve cultivar a “justa medida”, que é o 
conjunto das virtudes éticas, pela qual são administrados os impulsos e as paixões. 
A justa medida se traduz em um habitus e, portanto, constitui a personalidade 
moral do indivíduo.
Com a decadência das cidades-estado gregas, a reflexão da ética filosófica toma 
novas direções: de uma Moral da pólis, racional, para uma Moral do universo, 
ligada à natureza. Assim, o estoicismo (representado por Sêneca) e o epicurismo 
(por Epicuro) tomam a natureza (a física) como referência para a Moral.
Para o estoicismo, Deus é a “razão final” do Cosmo. Nada acontece que não 
esteja determinado por ele. E é para ele que todo indivíduo é destinado. Portanto, 
o bem supremo é viver de acordo com a natureza. O homem é protagonista de sua 
vida, pois não há determinações divinas em suas ações. Por isso, o “bem viver” se 
resume na procura do prazer espiritual.
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UNIDADE Ética e Cidadania
Na Idade Média, preconizada pela ruína econômica política da sociedade, a 
religião cristã confere coesão social nesse mundo diluído e exerce um poderio 
religioso-moral que irá conduzir à reflexão intelectual dessa época. A filosofia cristã 
se baseia nas verdades reveladas para estabelecer o princípio regulador da Ética. 
Se antes a referência da Moral era a pólis (para Aristóteles), o universo (para os 
estóicos e os epicuristas), agora Deus é a suprema verdade em que tudo é orientado: 
a Moral e a perfeição.
Importante!
Ainda que a Filosofia estivesse a “serviço” da Teologia, como se acreditava, Agostinho e 
Tomás de Aquino resgatam a Filosofia Grega em suas vertentes platônica e aristotélica e 
submetem-na a um processo de cristianização.
Trocando ideias...
A noção dever criada pela ética cristã apresentou um problema interessante 
para os filósofos modernos. Na Modernidade, a Ética se estrutura dentro de uma 
corrente Racionalista. O homem torna-se o centro das reflexões, enquanto que a 
religiosidade perde prestígio diante da Ciência Moderna. Isso nos leva a situar este 
marco no século XVII, resposta da Revolução Científica galileiana e das evoluções 
filosóficas protagonizadas por Descartes e Hobbes.
Na história da Ética, o paradigma mecanicista conduzirá o pensamento ético até 
a filosofia kantiana da moral. A Filosofia e a Ética moderna nascem para pensar a 
constituição e a forma como o sujeito conhece e é capaz de assumir o novo destino 
histórico da razão, de pensar a natureza da realidade”: o dever ser. 
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 Considerando que o Ato Moral deve ser autônomo, como ele pode ser um 
dever? Dois grandes filósofos tentaram responder esse dilema: Rousseau e Kant.
Rousseau defende que o fundamento da moral está na própria natureza humana, 
no coração dos homens, no qual eles encontrarão os critérios do bem e do mal. 
Qualquer homem, que consultar sua consciência, necessariamente vai encontrar 
uma solução para seus dilemas morais.
Figura 4 – Retrato de Jean-Jacques Rousseau
(1753), por Maurice Quentin de La Tour
Fonte: Wikimedia Commons
 · A Consciência Moral e o dever são 
inatos. São a “voz da Natureza” e o 
“dedo de Deus”
 · Nascemos bons e puros, a ação da 
sociedade nos corrompe.
 · A Noção de dever Moral somente nos 
faz lembrar nossa natureza original.
 · Ao obedecer ao dever moral, obe-
decemos a nós mesmos, aos nossos 
sentimentos e emoções, e não obede-
cemos à razão que nos faz perversos.
 · A Razão torna a sociedade perversa
Em Kant, a ética filosófica atinge o seu auge: parte da concepção de um factum da 
oralidade, em que preconiza um sujeito individual, livre e autônomo. A “máxima” 
de seu postulado ético está no imperativo categórico: “Age de maneira que possas 
querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”.
Figura 5 – Retrato de Immanuel
Kant – século XVIII
Fonte: Wikimedia Commons
 · Kant reafirma a importância da razão para uma 
postura Ética.
 · Somos egoístas, ambiciosos e cruéis e por isso pre-
cisamos da Razão para escolher uma vida moral.
 · A Razão Prática é a liberdade como instrumento 
de criação de normas e princípios éticos.
 · A noção de dever deve ser aplicada a toda a 
ação moral.
 · O dever é um imperativo categórico. Ordena in-
condicionalmente.
 · A ação moral deve ser pautada por três máximas: 
1) determina o que todo o ser humano deve fazer; 
2) determina que todos os seres humanos sejam o 
objetivo da ação; 3) determina que a ação moral 
criacrie o reino humano dos fins.
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UNIDADE Ética e Cidadania
Os pensadores modernos assumem A tese de que todos os homens possuem, 
em todos os tempos e lugares, a mesma natureza fundamental, ou seja, partilham 
essencialmente, da mesma racionalidade e dos mesmos instintos e interesses 
básicos, portanto a solução apresentada por ambos apresenta semelhanças.
Rousseau Kant
O dever de cumprir o ato mora
 está dentro de nós. É nossa natureza.
Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons
O pensamento de Rousseau e de Kant sobre a questão da Ética foi alvo de duras 
críticas de outro grande nome da Filosofia: Georg Wilhelm Friedrich Hegel. 
Para Hegel, “o Espírito é o indivíduo que constitui um mundo tal como ele se 
realiza na vida de um povo livre”. O ambiente social está constituído por uma 
Consciência que determina seus valores normativos. Esses valores, compreendidos 
na autoconsciência, compõem os elementos “ditos” para um indivíduo, ou seja, o 
Espírito inserido numa dimensão social.
Figura 7 – Retrato de Hegel (1831), 
por Jakob Schlesinger
Fonte: Wikimedia Commons
 · Os seres humanos são históricos e 
culturais e sua moralidade resulta 
da necessidade reguladora da vida 
em comunidade.
 · A vida ética é o acordo e a harmo-
nia entre a vontade do indivíduo e 
a vontade coletiva.
 · Ser ético é portar-se de acordo com 
as regras morais da sociedade em 
que vivemos, internalizando-as. 
Isso é um ato racional.
 · A crise de uma sociedade pode ser 
notada quando suas normas pas-
sam a ser transgredidas.
Os autores que analisamos, até o momento, tratam a Ética com um elemento 
que é fruto da razão humana voltada ao bem geral. Contudo, esses pensadores 
receberam críticas e, entre elas, estão os chamados “mestres da suspeita”, Marx e 
Nietzsche, que põem em relevo a ética filosófica tradicional. A reflexão ética toma 
um novo direcionamento: desenvolvido em uma representação da economia para 
Marx e na cultura para Nietzsche.
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Segundo Nietzsche:
Figura 8 – Retrato de Nietzsche
(1889/1900), por Hans Olde
Fonte: Wikimedia Commons
 · A moral racionalista é fruto do pen-
samento dos fracos e ressentidos 
que temem a vida, os desejos e as 
paixões. É a moral dos fracos que 
pretende escravizar os fortes. 
 · É preciso instituir uma Moral dos 
senhores ou a Ética dos Melhores. 
Essa moral é fundada na vontade 
de potência.
 · O modelo da Vontade de Potência 
é encontrado nos guerreiros bons e 
belos do mundo antigo.
 · A força de potênciagera uma violên-
cia purificadora e nova, além de li-
berar o desejo humano que foi repri-
mido por uma sociedade de fracos.
O pensamento de Nietzsche tem o mérito de apontar a hipocrisia e a violência da 
moral vigente, trazendo de volta um ideal de felicidade que a sociedade dominada 
por preconceitos destruiu. Nietzsche estava convencido de que o homem necessita 
para viver de um sentido para a vida e, por isso, viu a sua tarefa numa reavaliação 
dos valores, segundo a qual os homens deveriam ser o sentido da vida na própria 
vida. Ao invés de obedecer aos valores dados (valores suprassensíveis), o homem 
criaria seus próprios valores.
A crítica de Marx à Moral é parte integrante da que faz ao Capitalismo e pode 
ser localizada na crítica que o autor estabelece à ideologia burguesa. Sua natureza 
ética compreende-se melhor se nos lembrarmos do seu conceito de ideologia.
Marx define ideologia como falsa consciência ou representação falsa da realidade. 
Segundo ele, numa sociedade na qual vivem exploradores e explorados, é a Moral 
da classe dominante que predomina. Os valores, como liberdade, racionalidade 
e felicidade, são hipócritas, porque são irrealizáveis numa sociedade fundada na 
divisão do trabalho.
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UNIDADE Ética e Cidadania
Figura 9 – Karl Marx – John Jabez Edwin Mayall - 
International Institute of Social History
Fonte: Wikimedia Commons
 · A ideologia representa as crenças 
de uma determinada classe social. 
Pode ser utilizada como instrumen-
to de dominação que age pelo con-
vencimento, alienando a consciência 
humana e mascarando a realidade.
 · Os valores éticos vigentes – liberda-
de, igualdade, racionalidade, busca 
pela felicidade etc. – são irrealizá-
veis na sociedade vigente.
 · A sociedade atual é baseada na 
violenta exploração do trabalho e a 
maioria das pessoas não tem condi-
ções concretas de atingir esses ideias.
 · Somente a mudança da sociedade 
permitirá que a Etica se realize.
A Questão da Liberdade: Algumas 
Considerações
Um dos conceitos éticos mais conhecidos e discutidos é a liberdade. Trata-se de 
um conceito utilizado e discutido por vários pensadores ao longo da História e por 
nós, o tempo todo. 
A questão central da primeira concepção de liberdade é a centralidade do indivíduo.
Ex
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or
Contudo, o que é Liberdade? 
Vamos buscar alguns sentidos desse termo. Liberdade é uma palavra originária 
do latim “liberare”, que significa a pessoa que pode dispor de si mesma, que não 
está sujeita a ninguém. A questão da liberdade relaciona-se a várias dimensões do 
ser humano: a sua racionalidade, do seu todo psicológico, social, cultural e político. 
O conceito de liberdade foi entendido e utilizado de maneiras muito diferentes 
e nos mais diversos contextos da literatura filosófica dos gregos até o presente. A 
primeira grande teoria sobre a liberdade foi apresentada por Aristóteles em sua obra 
“Ética a Nicômaco” e muitas das suas concepções foram retomadas por Sartre.
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Figura10
Fonte: Wikimedia Commons
 · A liberdade se opõe ao que é con-
dicionado externamente e ao que 
acontece sem escolha voluntária.
 · É considerado livre aquele que tem 
em si mesmo o princípio para agir 
ou não.
 · A liberdade é o poder absoluto da 
vontade para se determinar.
 · A liberdade é a ausência de cons-
trangimentos externos ou internos.
“Nas coisas de fato, nas quais o agir depende de nós; e quando estamos 
em condições de dizer não, podemos também dizer sim. De forma que se 
cumprir uma boa ação depende de nós, dependerá também de nós não 
cumprir uma ação má” (Ética a Nicômaco, III).
Figura11 – Jean Paul Sartre –
Foto do jornal argentino Clarín (1983)
Fonte: Wikimedia Commons
 · A liberdade é uma escolha incondi-
cional que o próprio homem faz de 
seu ser e seu mundo.
 · Conformar-se, ceder, aceitar ou lutar 
são escolhas do indivíduo.
 · Estamos condenados à liberdade.
 · Somos agentes livres e respon-
sáveis para criar ou perder nossa 
própria felicidade.
“Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de 
seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e 
única temporaliza-se como liberdade (...) Assim, minha liberdade está 
perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade 
sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente 
a textura de meu ser [...] (SARTRE, 1998, p. 542/543).
A questão central dessa concepção de liberdade é a centralidade do indivíduo. 
Essa concepção afirma que todo o indivíduo é racional, assim como a sociedade, e 
que é livre quando age em conformidade com a Lei e para o bem comum.
A segunda concepção de liberdade foi inicialmente desenvolvida na Grécia 
Clássica pelo Estoicismo (século IV a.C.), ressurgindo no século XVII, com Espinoza, 
e no século XIX, com os filósofos alemães Hegel e Marx. 
Nela é conservada a ideia aristotélica de que a liberdade é a autodeterminação, 
assim como a ideia de que é livre aquele que age sem ser forçado nem constrangido 
por nada ou por ninguém e, portanto, age impulsionado espontaneamente por 
uma força interna ao seu próprio ser.
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UNIDADE Ética e Cidadania
No entanto, diferentemente de Aristóteles e de Sartre, esses filósofos não situam 
a liberdade no ato de escolha realizado pela vontade individual. Eles a colocam 
na atividade de cada um como parte de um todo necessário. Necessário, aqui, é 
aquilo que age apenas pela força interna de sua própria natureza. O todo pode ser 
a natureza (no caso dos estoicos), a substância (no caso de Espinosa) ou o espírito 
como história (no caso de Hegel). 
Em qualquer dos casos, natureza, substância e espírito são a totalidade como 
poder absoluto de ação. Como nada exterior obriga a natureza, a substância ou 
o espírito agir, eles são livres, pois agem, apenas por seu poder interno. Essa 
concepção considera que a liberdade do indivíduo é tomar parte ativa da sociedade 
e isso significa conhecer as condições e causas que determinam a nossa ação e não 
ser um fantoche dessas condições.
Uma terceira grande concepção 
filosófica de liberdade afirma que não 
somos um poder incondicional de 
escolha, mas que nossas escolhas são 
condicionadas pelas circunstâncias 
naturais, psíquicas, culturais e históricas 
em que vivemos, pela totalidade natural 
e histórica que estamos situados. Não 
se trata de liberdade de querer alguma 
coisa e sim de fazer algo, agir para 
mudar as circunstâncias. 
A noção de liberdade como possibi-
lidade objetiva (Merleau-Ponty) consiste 
na capacidade para perceber tais possi-
bilidades e no poder para realizar aque-
las ações que mudam o curso das coisas, 
dando-lhe outra direção, outro sentido. Figura 12 – Merleau-Ponty
Fonte: Wikimedia Commons
Com o seguinte quadro: “O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo 
tempo nascer do mundo e nascer no mundo. O mundo está já constituído, 
mas também não está nunca completamente constituído. Sob o primeiro 
aspecto, somos solicitados, sob o segundo, somos abertos a uma infinidade 
de possíveis.” (ARANHA & MARTINS, 2013, p. 199)
O possível, portanto, é aquilo que nós criamos por nossa própria ação. A liberdade 
é, simultaneamente, a consciência das circunstâncias que nos cercam e as ações que 
realizamos no intuito de superar essas circunstâncias e chegar à felicidade.
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Cidadania: Uma Possibilidade de Felicidade e Liberdade?
A liberdade sempre é associada à cidadania. Contudo, do que trata a cidadania? 
Na obra Política, Aristóteles discute o que se pode entender por cidadania e a 
define assim:
“Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nem nada menos 
que pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas, algumas 
destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo 
que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma 
pessoa, ou somente podem sê-lo depois de certos intervalos de tempo 
prefixados; para outros encargos não há limitações de tempo no exercício 
de funções públicas (por exemplo, os jurados eos membros da assembleia 
popular).” (ARISTÓTELES. Política. 3.ª ed. Brasília: UnB, 1997. p. 78).
Ainda pensando sobre a concepção de cidadania, observe o quadro de Eugène 
Delacroix, A Liberdade guiando o povo, pintado em 1830.
Figura 13 – A liberdade segundo Delacroix
Fonte: Wikimedia Commons
O quadro foi pintado, em 1830, para comemorar o aniversário da Revolução 
Francesa, que é considerada um marco da construção da cidadania no mundo 
contemporâneo.
Em complemento ao que foi dito anteriormente pela definição de Aristóteles, o 
jurista brasileiro Dalmo Dallari1 define cidadania da seguinte forma:
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a 
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. 
Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e 
da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do 
grupo social”.
1. DALLARI, Dalmo. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998, p.14.
19
UNIDADE Ética e Cidadania
Figura 14 – Esta imagem produzida na França, nos 
anos de 1790, ilustra como a população via a sua 
condição. Nela, podemos perceber o povo carregando 
a nobreza e o clero nos ombros
Fonte: Wikimedia Commons
No final da Idade Moderna, come-
çam a surgir diversos questionamentos 
entre os intelectuais sobre os privilégios 
que a nobreza e clero insistiam em man-
ter sobre o povo.
Nesse momento, começam a des-
pontar pensadores que marcariam a 
luta pela conquista da cidadania, como 
Rousseau, Montesquieu, Diderot, Vol-
taire e outros. O novo paradigma polí-
tico elaborado na Modernidade rompeu 
com os modelos tradicionais da Antigui-
dade e da Idade Média. Com base em 
uma postura realista, deram destaque 
ao sistema de forças que atuam de fato 
na sociedade e no poder.
Esses pensadores defendiam o fim dos privilégios e os ideais de liberdade e 
igualdade como direitos fundamentais do homem e tripartição de poder. Essas 
ideias dão o suporte definitivo para a estruturação do Estado Moderno. 
Deve-se observar que a cidadania encontra-se em permanente construção, trata-
se de um objetivo perseguido por aqueles que procuram liberdade, mais direitos, 
melhores garantias individuais e coletivas. O exercício da cidadania plena pressupõe 
diversos fatores.
Cidadania signi�ca:
Ter consciência que todo
direito envolve um dever.
Promover dignidade, para todos.
Ter liberdade de opinião, e assumir
a responsabilidade por seus atos.
Ter liberdade de ir e vir, e por
dever defendê-la para todos.
Votar de forma consciente e ser votado.
Fiscalizar a ação do estado, de forma
a promover o bem comum.
Ter participação ativa na comunidade.
Figura 15
Fonte: Wikimedia Commons
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Portal Direitos Humanos
Esse site reúne um conjunto de serviços e informações sobre o tema no Brasil e no mundo.
http://www.dhnet.org.br
Núcleo de estudos da cidadania, conflito e violência urbana – UFRJ
Site acadêmico que tem textos, mapas e estatísticas sobre o tema, com destaque para a 
questão da violência urbana.
http://necvu.tempsite.ws
Cartilha de Educação para cidadania -– Assembleia Legislativa de MG
Este site tem um conjunto de textos simples e bem escritos sobre o tema.
https://goo.gl/BCe7d1
Programa Ética e cidadania – MEC
Esse site apresenta um programa de educação para a cidadania. Existe um conjunto de 
textos sobre ética, inclusão e outros temas que podem ser salvos em pdf.
https://goo.gl/Ir1ehn
Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento -– PNUD Brasil
Site institucional do programa da ONU para o desenvolvimento humano. Destacam-
se os dados sobre a cidadania no nosso país.
https://goo.gl/MPKGUc
Biblioteca Virtual de direitos humanos da USP
Trata-se de um site institucional que reúne documentos importantes sobre o tema e 
apresenta links para diversos sites oficiais sobre o tema.
https://goo.gl/4JJ3y
 Leitura
A ética dos antigos e a ética dos modernos
BERTI, Enrico. A ética dos antigos e a ética dos modernos
https://goo.gl/6rgowv
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UNIDADE Ética e Cidadania
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. 5.ed.ª Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco; Poética/Aristóteles; seleção de textos de José 
Américo Motta Pessanha. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Os pensadores 
; v. 2). Disponível online: <http://portalgens.com.br/portal/images/stories/pdf/
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