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(20201000-PT) Revista de Vinhos 371

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6 EDITORIAL
 OPINIÃO
10 Sarah Ahmed
14 Jamie Goode
18 Debra Meiburg
22 José João Santos
26 PROFILE
 Aníbal Coutinho, astronauta do vinho.
 ESCOLHAS DO MÊS 
30 Para a Mesa
32 Para a Cave
34 Altamente Recomendados
36 Boas Compras
38 CASTA
 Touriga Nacional.
40 DICAS
 Tanino, o que é?
42 VINHOS & NÚMEROS
 Direitos de plantação de vinha e a lei do mercado.
44 VINHOS & TURISMO
 Tejo, região a descobrir.
46 AVALIAÇÃO SERVIÇO DE VINHOS NOS RESTAURANTES
 Restaurante Bovino, Quinta do Lago.
48 NOTÍCIAS
 Vindima 2020, Port Wine Day e Douro Wine & Music Valley.
SUMÁRIO
56 CERVEJAS
 Nortada, a Invicta.
58 BARCA-VELHA 2011
 O leão regressa.
68 TEJO
 Fernão Pires na Quinta da Lapa.
76 CAVES S. JOÃO
 100 anos em vinhos.
82 FILIPA PATO
 4 “B’s”: Baga, biodinâmica, Bairrada e Bélgica.
88 DIOGO LOPES
 Os 10 mais do enólogo
94 TOURIGA NACIONAL
 Prova temática que antecipa novos caminhos da casta.
100 MORÁVIA DO SUL
 Vinhos e imperadores.
106 MANTEIGA DAS MARINHAS
 O veludo de leite.
110 MANTEIGA E VINHO
 Casamento improvável? Guilherme Corrêa mostra que não...
114 CRÍTICA GASTRONÓMICA
 Zunzum by Marlene Vieira.
118 NOVIDADES
141 GUIA REVISTA DE VINHOS
154 LEGENDARY CHEFS
 Vítor Sobral.
58
76
110
98@revistadevinhos
A nova linha “Shade of Grey” da Küppersbusch alia elegância e modernidade dando a 
possibilidade de dar um toque pessoal a sua cozinha. A cor cinza torna-se uma 
combinação perfeita com superfícies naturais feitas em madeira, pedra ou betão e até 
mesmo em bancadas brancas.
O cinza é a cor do momento e dá-nos possibilidades infinitas.
ESPECIAL, VERSÁTIL E INTEMPORAL 
www.kuppersbusch.com.pt
A nova linha “Shade of Grey” da Küppersbusch alia elegância e modernidade dando a 
possibilidade de dar um toque pessoal a sua cozinha. A cor cinza torna-se uma 
combinação perfeita com superfícies naturais feitas em madeira, pedra ou betão e até 
mesmo em bancadas brancas.
O cinza é a cor do momento e dá-nos possibilidades infinitas.
ESPECIAL, VERSÁTIL E INTEMPORAL 
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EDITORIAL
A Revista de Vinhos decidiu realizar online a 21ª edição 
do Encontro com Vinhos, em Lisboa. Na expetativa 
do não surgimento de uma segunda vaga da Covid-19 
e da não implementação de medidas de exceção que 
restrinjam a circulação de pessoas, nos últimos meses 
trabalhou-se afincadamente para que o evento fosse 
concretizado presencialmente nas datas previstas, de 
acordo com as medidas de higiene e de prevenção que os 
atuais tempos exigem. Todavia, e infelizmente, não foram 
obtidas as garantias de saúde pública e de circulação de 
visitantes que permitissem a concretização do evento, a 
que acresce o impacto estimado de uma segunda vaga no 
nosso país neste outono.
Após ponderação profunda, a Revista de Vinhos 
optou por concretizar a 21ª edição do Encontro com 
Vinhos através de uma programação online, com provas 
comentadas pelos nossos especialistas, debates, duelos 
de vinhos, harmonizações enogastronómicas e dicas de 
seleção de vinhos (fique atento às nossas redes sociais).
A 22ª edição do Encontro está entretanto marcada 
para os dias 6, 7 e 8 de novembro de 2021. A data já 
está reservada no Centro de Congressos de Lisboa, na 
Junqueira, e a Revista de Vinhos está confiante que a irá concretizar no local de sempre, na data de sempre, com os 
parceiros e o público de sempre mas também atraindo novos públicos.
Quando o mundo e o nosso país pararam, em março, muitas questões automaticamente foram levantadas acerca 
da viabilidade futura de projetos e empresas. Cientes do impacto sem precedentes da pandemia, o grupo Essência do 
Vinho e a Revista de Vinhos não baixaram os braços. Pelo contrário, mantiveram todos os compromissos assumidos 
e, apesar de uma diversidade de constrangimentos, decidiram reforçar a produção de conteúdos editoriais em todos 
os canais onde atualmente estão presentes: na imprensa escrita e no online, na rádio e na televisão.
A Revista de Vinhos esteve sempre em banca com edições nunca inferiores a 132 pags. e diariamente no digital, 
mantendo ininterruptamente o ofício mais nobre do jornalismo – a reportagem. Os programas semanais “A Essência” 
(emitidos na RR e RTP) foram dos poucos a não conhecer qualquer pausa ou repetições de episódios nas grelhas 
das estações. Nas redes sociais reforçamos a interação com os nossos seguidores, nunca os privando de aceder às 
novidades do setor.
Acresce a isto o anúncio de novos projetos no âmbito do grupo Essência do Vinho: o compromisso de relançar 
a revista brasileira Gula no próximo mês de novembro, o ultimar da plataforma a bordo e do novo website TAP 
Wine Experience, o acordo de uma sociedade para a gestão da OnWine, plataforma de venda de vinhos online, o 
lançamento internacional da série televisiva “The Wine Show”, dedicada a Portugal, que dá a conhecer ao mundo os 
nossos vinhos, gastronomia, enoturismo, património e cultura.
Momentos, decisões e vinhos de exceção.
A capa e a reportagem principal deste número da Revista de Vinhos destaca o historial, as curiosidades e a nova 
edição do Barca Velha. O mais icónico vinho DOC português é um hino à enologia e deve, acima de tudo, ser aplau-
dido pelas portas que, desde 1952, tem aberto aos vinhos portugueses pelo mundo. É um vinho excecional, que mostra 
todo o potencial de evolução dos grandes vinhos, que pode ombrear com os mais venerados rótulos internacionais. 
O Blandy’s Bual 1920, do qual foram engarrafados 1.199 exemplares, é outro vinho estrondoso. Um Frasqueira 
monumental, agora engarrafado um século volvido, que nos relembra aquilo que nunca devemos esquecer: o Vinho 
Madeira é dos grandes fortificados do mundo. 
Dois vinhos nota 20, dois vinhos de exceção. Felizes os países que têm vinhos assim.
Nuno Guedes Vaz Pires, diretor
nunopires@essenciadovinho.com
@nunogvpires
EDIÇÃO Nº 371 / OUTUBRO 2020
Momentos, decisões 
e vinhos de exceção
DESCUBRA 
MELGAÇO
A Revista de Vinhos 
produziu a série documental 
“Descubra Melgaço”. Em 
10 episódios, que têm sido 
emitidos no nosso canal You 
Tube e nas redes sociais, 
realçamos o Alvarinho e 
o fumeiro, a diversidade 
de paisagens e desportos 
radicais, património e cul-
tura. A pandemia levou-nos 
a redescobrir o interior do 
país e Melgaço, norte mais 
a norte de Portugal, é dos 
mais fervilhantes lugares 
desse interior. Do que está 
à espera para agendar uma 
visita?
6 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
VINHO DE CAPA
Nesta edição com a
REVISTA DE VINHOS!
VALE DE
DESCONTO
APRESENTAÇÃO OPCIONAL DESTE VALE NO SEU PONTO DE VENDA. 
NÃO ACUMULÁVEL. Seja responsável. Beba com moderação.
6,00€
seu por
LINHA DE APOIO: (+351) 215 918 088
Dias úteis, 9h30-13h e 14h30-18h
—
Stock limitado. Promoção válida na compra da revista + 
garrafa na sua banca habitual, com a apresentação do 
vale de desconto desta página.
Produtor de altos pergaminhos em Santo 
Isidro de Pegões, na Herdade de 
Pegos Claros faz-se vinho de qualidade desde 
há um século. A propriedade, com mais de 500 
hectares, inclui 40 hectares de vinha instalada 
em solos arenosos, dos quais cerca de 20 com 
70 anos e mais. A variedade Castelão é a 
estrela da herdade, sabiamente manejada pelo 
enólogo Bernardo Cabral, que preserva um 
estilo clássico, com pisa a pé e fermentação com 
algum engaço. Longevidade, distinção e 
elegância são marcas destes vinhos.
Pegos Claros 
Vinha 70 Anos 
Reserva 2015
Palmela / Tinto / Herdade 
de Pegos Claros
As uvas de Castelão 
provêm de uma vinha 
com 70 anos, vindimadas 
manualmente. Vinho de 
cor rubi, apresenta notas 
de amoras pretas, groselha 
vermelha e algum mentol, 
ligeiro abaunilhado, 
tostados e tabaco. Na 
boca apresenta taninos 
macios e equilibrados, 
com uma acidez 
agradável. Acompanha 
carnes grelhadas e assados 
de peixe e carne.
6,00€
seu por
vinho
de capa
D
urante a crise da Covid, abundaram 
os títulos dos jornais sobre a alteração 
dos padrões de consumo de vinho. No 
que se refere à prova, a forma como me 
relaciono com o vinhotambém mudou. 
Há um elemento de “troca de papéis” entre consumi-
dores e críticos que, suspeito, tem benefícios poten-
ciais a longo prazo para produtores e retalhistas.
Obviamente que os escritores de vinhos também 
são consumidores, mas a nossa profissão está um 
mundo à parte do crítico de restaurantes, cuja expe-
riência tem muito mais elementos em comum com os 
consumidores regulares. Aqueles não apenas provam 
os pratos mas consomem as refeições. Cuspir seria 
inconcebível! Além disso, jantam no contexto preciso 
que o restaurador pretende (ou seja, num ambiente 
específico, com as perceções sobre o menu, os ingre-
dientes, estilo de cozinha e técnicas). Malditos sejam, 
os críticos de restaurantes chegam até a empurrar o 
jantar com vinho…
Por isso, tendo em vista mentes desanuviadas e 
fígados saudáveis, cuspir é obrigatório quando se trata 
de interação profissional com o vinho. De que outra 
forma poderia alguém navegar por entre provas, pro-
gramas intensivos de visitas a produtores ou painéis 
em concursos, quando facilmente se podem provar 
até 100 vinhos por dia? Isso explica a razão por que 
a revista Monocle tenha legendado um artigo sobre 
o estimado diretor da Revista de Vinhos desta forma: 
“Este jornalista passa os dias a avaliar vinhos; receber 
pessoas é uma forma de apreciá-los”.
Não estou a pedir que o caro leitor tenha pena 
dos escritores de vinho. Acredite, sabemos o quanto 
somos privilegiados, com oportunidades de prova de 
grande amplitude e profundidade. Visitar ou provar 
com produtores fornece-nos tanto o contexto como 
perceções inestimáveis. Creio que é a forma mais 
atraente para alguém se envolver com o vinho e, lide-
rando tours na Austrália e em Portugal, conheço o 
seu impacto nos consumidores. Além das experiên-
cias ‘normais’ de adega, os meus sempre interessantes 
'groupies' valorizam o acesso aos ‘bastidores’ das 
adegas e vinhas, às experiências exclusivas de prova 
e, o mais importante, às pessoas – ‘as estrelas do rock’ 
por trás dos rótulos. Vejamos os irmãos António 
Luís Cerdeira e Maria João Cerdeira, da Quinta 
de Soalheiro que, na sequência de uma prova ‘por 
medida’, ofereceram um longo almoço com os seus 
próprios produtos e vinhos. Tal como adolescentes, 
o meu grupo (em grande parte reformados) vaiava 
quando regressávamos do Soalheiro à Galiza para 
continuar a provar Albarinos. Aplaudindo ruidadosa-
mente aquando do nosso retorno a Portugal, o mar-
cador assinalou Portugal um, Espanha zero.
Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos
Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada
em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective".
OPINIÃO
A pandemia trouxe um elemento de “troca de papéis” que tem benefícios potenciais
a longo prazo para produtores e retalhistas.
Troca de papéis entre
críticos e consumidores
10 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
O valor das provas online
Durante o confinamento, as 
provas online permitiram aos 
produtores atingir um público 
de consumidores muito mais 
vasto (incluindo aqueles sem 
tempo ou orçamento para 
visitar regiões vitivinícolas). 
Quando me juntei à primeira 
degustação via Zoom da Cullen 
Wines, os consumidores ficaram 
entusiasmados em conversar 
sobre vinhos com produtores 
de Margaret River, Austrália. 
Pioneira da biodinâmica e da 
produção sustentável de vinhos, 
Vanya Cullen pode ser uma 
das principais produtoras da 
Austrália mas, ao responder às perguntas, foi calo-
rosa, aberta e generosa com o seu conhecimento e 
tempo. Com as vendas online a subir, planeia conti-
nuar as provas por Zoom quando a oportunidade o 
justificar - por exemplo, novos lançamentos.
O produtor de Vinho do Porto Óscar Quevedo, pio-
neiro dos media sociais, disse-me que a Covid “inten-
sificou essa necessidade de se ligar ao consumidor” 
por parte dos pequenos produtores independentes 
como ele, que se recusam a reduzir preços (ou qua-
lidade) para entrar nas listas dos supermercados. Em 
parceria com Tony Carter, retalhista do Reino Unido 
na Vintage Wine & Port, organizou um evento online 
para 170 clientes, que compraram meia garrafa dos 
seis Vinhos do Porto em prova. Desde então, relata 
Carter, “o Óscar conquistou muitos seguidores”; 
alcançando um público mais jovem, diferente, “as 
vendas de Porto Quevedo aumentaram 600%… O 
número de clientes que repetem a compra é incrível”.
Para Carter, as provas online são “um grande passo 
em frente” porque os vídeos podem ser vistos repe-
tidamente, ajudando a vender mais e, uma vez que 
“a Google gosta de conteúdos de vídeo, também nós 
recebemos um impulso”. Carter vislumbra um futuro 
em que “os enólogos sentam-se junto às vinhas, trans-
mitindo diretamente para o consumidor final, que 
pagará para provar os vinhos e ligar-se ao produto, 
ao produtor e à sua filosofia de produção”.
Outra dinâmica a tomar forma decorre do fecho 
de restaurantes, que contribuiu para aumentar o 
gasto por garrafa nas compras domésticas, colocando 
o vinho na frente e no centro da socialização e das 
refeições em casa. De acordo com a Wine Intelligence, 
o alcance do fenómeno na China 
vai além daqueles já interes-
sados em vinhos, uma vez que 
este grupo incentiva colegas 
menos envolvidos a conecta-
rem-se para beberem vinho 
durante conversas online. 
Como os restaurantes e for-
necedores passaram a vender 
vinho online, tem sido divertido 
partilhar sugestões variadas (e 
dicas de harmonização) com os 
amigos, que se tornaram mais 
aventureiros nos seus hábitos 
de compra (e de cozinha) de 
vinhos, à medida que pro-
curam recriar essas experiências 
gourmet em casa. Alguns fazem 
até anotações detalhadas e pon-
tuam vinhos.
Por outro lado, com o panorama londrino confi-
nado, tenho recebido amostras em casa, o que signi-
fica provar de forma mais seletiva, mas mais intensiva 
– ou seja, mais elaborada e menos instantânea. Os crí-
ticos estão habituados a provar amostras de casco e 
vinhos jovens em pouco tempo (agitar, cheirar, cuspir, 
não engolir), mas ajuda podermos demorar mais 
tempo com vinhos complexos - especialmente novos 
lançamentos icónicos, como o australiano Henschke 
Hill of Grace 2015, que me levou horas, dias até, para 
desvendar. Embora a maior parte do conteúdo de 
uma garrafa seja invariavelmente descartada, provar 
em casa aumentou as oportunidades de experimentar 
os vinhos como o seu criador pretende - com comida 
e, ouso dizer, por vezes até bebendo-os. Aproximar-se 
de uma experiência de consumidor só pode beneficiar 
o meu público-alvo.
Tendo em mente os clientes de restaurantes, Jancis 
Robinson MW previu “um aumento dramático da 
procura por garrafas de menor capacidade” após o 
confinamento. Espero que essa procura seja impul-
sionada também por novos hábitos domésticos de 
consumo e prova. Com preços inferiores, as garrafas 
mais pequenas podem aumentar o acesso dos consu-
midores a provas online e vinhos mais diversificados 
e de maior qualidade, bem como estimular o serviço 
de vinho a copo nos restaurantes. Para os críticos, as 
provas ditas comerciais têm o seu espaço mas, eco-
nomicamente falando, há mais espaço para prova em 
casa com garrafas mais pequenas. E mais espaço, lite-
ralmente falando, se as amostras puderem ser engar-
rafadas em tamanhos reduzidos!
Provar em casa 
aumentou as 
oportunidades de 
experimentar vinhos 
como o seu criador 
pretende - com comida e, 
ouso dizer, por vezes até 
bebendo-os. Aproximar-
se de uma experiência 
de consumidor só pode 
beneficiar o meu público-
alvo.
Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos
OPINIÃO
12 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
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Kopke_WMC_Folgazao_Rabigato_RV_AF.pdf 1 21/09/2020 11:31
OPINIÃO
A
s crianças são ensinadas a não avaliar 
um livro pela capa. Por outras pala-
vras, uma história - ou pessoa, cidade 
ou mercado de vinhos - é mais do que 
se lê na primeira página. Vamos um 
pouco mais a fundo e as personagensrevelam-se, o 
guião dá voltas e reviravoltas.
O mesmo pode ser dito sobre escrever um best-
-seller – é preciso compreender o público, para que 
se possam atrair leitores com uma história que ressoe 
junto deles. O CEO e enólogo da DFJ Vinhos, José 
Neiva Correia, afirmou: “Vender vinho é como vender 
sonhos; temos que contar a história certa ao cliente 
certo”. Em 2013, a sua empresa preparava-se para se 
reposicionar no mercado de vinhos chinês. Aquele 
comentário reconhece que nenhuma marca de vinho 
pode ser tudo para todas as pessoas, especialmente 
quando se trata de mercados internacionais. A chave 
para personalizar a mensagem é conhecer o merca-
do-alvo.
Fatores demográficos, como a idade e o género, são 
ferramentas de segmentação úteis, mas indicadores 
como rendimento, profissão e comportamento do 
comprador são indiscutivelmente mais importantes. 
Em Hong Kong, o mercado de vinhos tem quatro 
segmentos principais e não há remédios milagrosos 
quanto ao planeamento da abordagem e posiciona-
mento a seguir.
Jovens e divertidos
O segmento de entrada em Hong Kong é formado 
principalmente pela geração millennial. Os millen-
nials de Hong Kong, tal como as suas contrapartes 
geracionais em outros países, estão interessados em 
todas as coisas novas e da moda – nem sequer ava-
liam, a menos que seja ‘Insta-digno’. Este grupo tem 
uma exposição considerável aos vinhos australianos 
e franceses, mas quase nenhuma iniciação aos vinhos 
portugueses. O diretor comercial da DFJ Vinhos, 
Luís Gouveia, acredita que Portugal carece de uma 
imagem de marca na área da Grande China.
As viagens e o turismo são os iscos que irão 
engodar este segmento. Os residentes de Hong Kong 
são viajantes ávidos e Portugal, sendo relativamente 
desconhecido pelos habitantes de Hong Kong, pode 
oferecer uma experiência de destino emocionante 
através dos seus vinhos de férias frescos e vibrantes. 
Portugal ainda não emergiu como destino de férias de 
luxo em Hong Kong. A maioria dos seus habitantes 
ficaria surpreendida ao constatar que Portugal está 
consistentemente classificado entre os 15 principais 
destinos turísticos mundiais, conforme o Fórum 
Económico Mundial. O ângulo do estilo de vida, a afi-
nidade com os produtos do mar e a longa presença 
de Portugal em Macau oferecem excelentes oportu-
nidades a explorar.
Debra Meiburg MW
Debra Meiburg é uma californiana radicada há mais de 25 anos em Hong Kong. “Master of Wine”, autora de vários livros, é considerada a mais 
influente líder de opinião sobre vinhos na China. Tornou-se presidente do Comité de Educação do Instituto de Masters of Wine em 2017.
Moldar o mercado
Nenhuma marca de vinho pode ser tudo para todas as pessoas, especialmente 
quando se trata de mercados internacionais. A chave para personalizar a mensagem é 
conhecer o mercado-alvo.
14 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
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OPINIÃO
Vinhos fáceis, preços mode-
rados e rótulos elegantes terão 
um bom desempenho neste 
setor, especialmente se puderem 
ser encontrados em restaurantes 
e bares de Hong Kong vocacio-
nados para o Instagram. Não é 
segredo que os millennials são 
mais influenciados pela garrafa 
e design do rótulo do que outras 
gerações, de acordo com pes-
quisas recentes de Silva e Santos.
A elevação do segmento médio
Este cluster inclui profissionais e expatriados à 
procura de vinhos acessíveis para o quotidiano, que 
possam consumir em casa ou pedi-los em cartas de 
vinhos à hora de almoço. Este grupo de consumidores, 
viajado e educado, conhece Portugal e os seus vinhos 
através do trabalho e de períodos de estudo na Europa.
A chave para alcançar este segmento é tornar os 
vinhos acessíveis e pronunciáveis, com pistas reconhe-
cíveis ou recomendações de fornecedores de vinho. 
Procuram vinhos premium de grande valor - e uma 
forma de comunicar valor e premiumização é através 
dos prémios. “Relacionado com o preço, descobrimos 
que os prémios que conferem credibilidade ao vinho 
são um elemento adicional de vantagem competi-
tiva para o produtor, pois aumentam a qualidade 
do vinho aos olhos do consumidor”, notam Silva e 
Santos. Concursos regionais, como o Cathay Pacific 
Hong Kong International Wine & Spirit Competition, 
são particularmente úteis na consideração dos pala-
dares locais. Em 2019, o Alfaiate Branco de José Mota 
Capitão conquistou o troféu de prata na sua categoria, 
além de dois bronzes na categoria gastronomia e 
vinhos pelos seus acompanhamentos com sashimi de 
atum chutoro e tempura de camarão.
O poder do estudo
Os residentes de Hong Kong valorizam muito a 
educação e os cursos sobre vinho são altamente pro-
curados. A cidade alberga um dos maiores grupos 
mundiais de detentores de certificados e diplomas 
WSET. Não é suficiente para esses consumidores sim-
plesmente beber os vinhos, pois procuram uma com-
preensão mais ampla, para que possam fazer as suas 
escolhas de compra com confiança e discutir o vinho 
em jantares.
Alguns dos cursos mais populares da MWM 
Wine School destacam países com terroirs altamente 
diversos, castas históricas e ampla variedade de estilos. 
Os alunos pedem vagas em programas com tutoriais 
aprofundados sobre vinhos italianos regionais, bem 
como de países menos conhecidos, como Geórgia e 
Áustria. Um programa educa-
cional de nível mundial sobre 
a beleza, a história e os sabores 
luxuriantes de Portugal é apenas 
o bilhete para apelar a este 
grupo. Vinhos portugueses inte-
ressantes, como os Maritávora e 
Howard’s Folly, são valorizados 
por este segmento de consumi-
dores.
Colecionadores
O Douro tem um lugar espe-
cial entre os colecionadores de Hong Kong, conhe-
cedores de vinhos que admiram a elevada estrutura 
e longevidade dos vinhos tintos. A região do Douro 
é reconhecida neste segmento e é, na maioria das 
vezes, citada como berço dos melhores vinhos não 
fortificados de Portugal, sendo que a sua reputação é 
reforçada pelo vasto conhecimento deste grupo sobre 
Vinho do Porto.
Os colecionadores de Hong Kong gastam e parti-
lham generosamente, mas esperam construir amizades 
diretamente com os produtores e proprietários das 
melhores quintas e querem divertir-se ao fazê-lo. Os 
Douro Boys têm tido o sucesso mais evidente em Hong 
Kong junto dos colecionadores de vinho, em parte 
devido a uma engenhosa campanha promocional, mas 
também à camaradagem e entusiasmo propalados por 
estes cinco produtores durante as suas visitas regu-
lares a Hong Kong.
Histórias de origem
Acima de tudo, a chave para o sucesso de Portugal 
em Hong Kong passa por melhorar a perceção geral 
do país e a sua imagem de marca. O país de origem 
é, segundo Silva e Santos, muito valorizado pelos 
clientes, informados e exigentes na tomada de decisões 
de compra, mas tem também potencial para valorizar a 
imagem de Portugal em todos os segmentos. O marke-
ting genérico por institutos de vinhos tem o poder de 
ajudar os países a expandir e fazer crescer no exterior 
as marcas de vinho.
Embora os mercados internacionais pareçam dis-
tantes neste momento, o mundo acabará por reini-
ciar e, quando isso acontecer, será um lugar diferente. 
Recomeçar num mercado de vinhos maduro como é 
o de Hong Kong cria oportunidades; a paisagem será 
remodelada. Os protestos e a pandemia podem ter 
rebentando por agora a ‘bolha’ social, mas Hong Kong 
sabe como recuperar e teremos muitas garrafas para 
abrir quando sairmos do nosso casulo corona. Agora 
é a hora de antecipar qual o caminho a seguir e com 
quem se deseja conectar quando as fronteiras rea-
brirem. Embora os mercados e os clientes variem, o 
nosso amor pela cultura do vinho é universal.
Os prémios que conferem 
credibilidade ao vinho 
são um elemento 
adicional de vantagem 
competitiva para o 
produtor, pois aumentam 
a qualidade do vinho aos 
olhos do consumidor.
Debra Meiburg MW
16 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
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RevistaDeVinhos_220x297_HI.pdf 1 03/12/201917:43
C
omo aconteceu a tantas outras pessoas, 
a minha vida profissional mudou drama-
ticamente nos últimos seis meses. Antes, 
envolvia viagens frequentes e, depois, 
de regresso a Londres, uma agenda 
preenchida de provas. Era também incrivelmente 
social. Isso, é claro, mudou: agora as viagens estão 
preenchidas com restrições de quarentena e já não 
há muitos quem organize eventos, substituídos que 
foram por provas via Zoom, Teams e Instagram Live.
O negócio do vinho depende das provas. Os produ-
tores e agentes querem que os vinhos que produzem 
ou representam sejam avaliados por jornalistas e 
adquiridos por retalhistas e restaurantes. A maneira 
mais simples de fazê-lo é promover grandes provas 
nas principais cidades. Por exemplo, um importador 
pode fazer uma prova de todos os vinhos do seu catá-
logo. Ou uma entidade genérica como a ViniPortugal 
pode realizar uma prova anual de vinhos portugueses 
em Londres. Até à Covid-19, o calendário de provas 
de Londres era movimentado e em qualquer lado de 
Londres haveria uma prova na maioria dos dias da 
semana. Tudo isso parou repentinamente em março.
Recentemente, porém, as provas físicas foram 
retomadas. Tem sido interessante ver como os orga-
nizadores responderam aos desafios de tornar esses 
eventos seguros para todos e, portanto, viáveis.
Retoma lenta
O primeiro evento de vinhos em que participei após 
o confinamento foi, na verdade, um festival interna-
cional. Foi a décima sétima edição do Gerard Bertrand 
Jazz Festival, realizado no Château L'Hospitalet em 
La Clape, Languedoc. Pude provar alguns vinhos, 
mas cara a cara com os produtores. O resto do fim de 
semana envolveu jantares e espetáculos. Em resposta 
à Covid, os jantares não foram em regime de bufete, 
como nos anos anteriores, mas com serviço à mesa. 
E nos concertos estávamos todos de máscara. Foi 
muito estranho entrar novamente num avião, mesmo 
que para um pequeno salto ao sul da França. Mas foi 
muito importante ver as vinhas e provar os vinhos no 
local.
No Reino Unido, a primeira prova de vinhos da 
qual participei foi realizada pela Majestic Wine, 
um retalhista nacional que vende vinhos de preços 
médios a altos em diversos armazéns e lojas. Isso foi 
em julho e os promotores foram devidamente caute-
losos, tendo apenas dois provadores na sala em simul-
tâneo, na sua sede, onde poderiam controlar o acesso 
e instituir um sistema unilateral. Na verdade, é muito 
bom provar num ambiente assim porque é silencioso 
e o nível de concentração é maior. Disponibilizaram 
meios de transporte de e para o local do evento, já 
Provas de vinho
em tempos de corona
As provas de vinhos físicas foram retomadas. Tem sido interessante ver como os 
organizadores responderam aos desafios de tornar esses eventos seguros.
OPINIÃO
Jamie Goode
‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International 
Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e, muito em breve, também na brasileira Gula.
18 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
que os transportes públicos 
eram desencorajados para 
todos, exceto os trabalhadores 
essenciais.
Em agosto, fiz uma segunda 
viagem, desta feita para a 
Alemanha. Foi a prova VDP 
Grosses Gewächs em Wiesbaden. O VDP é uma orga-
nização privada que reúne muitos dos principais pro-
dutores germânicos e a sua prova anual é um ponto 
alto do calendário. Realizada durante três dias em 
agosto, foi brilhantemente organizada e foram postas 
em prática várias medidas especiais para torná-lo 
seguro. Cada provador sentou-se na sua mesa, distan-
ciado de todos os outros. Os vinhos foram servidos 
à mesa por funcionários de luvas e máscara. Havia 
um sistema unilateral em operação para que nin-
guém ultrapassasse ninguém caso tivesse que entrar 
ou sair. Nos momentos em que nós, provadores, não 
estávamos nas nossas ‘estações’ de prova, tínhamos 
também que usar máscara. Houve alguns eventos 
noturnos, mas foram realizados ao ar livre e o distan-
ciamento social foi incentivado. 
E agora, em setembro, a temporada de provas em 
Londres começou de novo, embora provisoriamente. 
Todos os organizadores têm feito um grande esforço 
para tornar as coisas seguras, principalmente res-
tringindo o número e estimulando o distanciamento 
social. Há duas semanas, participei em Londres na 
organização de uma masterclass para vinhos da 
Borgonha, que envolveu três provas comentadas 
sobre diferentes temas, para um grupo de 30 som-
meliers e comerciantes de vinhos. Todos estavam 
sentados à mesa, distantes dos outros provadores, e 
tinham que usar máscaras quando não estavam nas 
suas mesas. Estávamos todos um pouco nervosos 
por nos aproximarmos demais e, no almoço, foram 
entregues refeições individuais que os participantes 
comeram nas suas mesas. Funcionou bem e todos se 
sentiram confortáveis e seguros.
Mais recentemente fiz duas provas num único 
dia, nas quais os organizadores tomaram direções 
ligeiramente diferentes. O Tesco 
é a maior rede de supermer-
cados do Reino Unido e realizou 
a sua prova para a imprensa 
com aquela que terá sido talvez 
a abordagem mais impressio-
nante para a segurança Covid 
que já vi. Eram mais de 100 vinhos, mas como pro-
vadores não precisávamos de nos mover ou tocar nas 
garrafas. Em vez disso, tínhamos um porta-copos que 
ocupava seis copos em posições numeradas e indi-
cava quais os vinhos do ‘line-up’ que queríamos em 
cada um, através de um post-it numerado de 1 a 6. 
Estes eram servidos pela equipa e todos provaram 
na nossa própria ‘estação’, distanciada de todas as 
outras. Se alguém se movimentasse, havia setas no 
chão indicando a direção a seguir. Também nesse dia, 
a The Wine Society realizou a sua prova anual, com 
80 vinhos, que teve lugar numa sala razoavelmente 
grande em Pall Mall 67 e os provadores tiveram inter-
valos de duas horas, com quatro provadores de cada 
vez.
As provas internacionais foram quase todas cance-
ladas: a última vítima foi o Douro Primeira Prova, que 
estava prevista para outubro. Em vez disso, os jorna-
listas de vinho fazem muitas provas via Zoom, junta-
mente com produtores de outros países. Funcionam 
muito bem quando a tecnologia é boa. A maioria 
está em casa e recebemos as garrafas ou as amostras 
cuidadosamente preparadas em garrafas pequenas: 
inovou-se bastante na preparação de amostras de 
menores quantidades, mas mantendo os vinhos 
em boas condições. Mas, recentemente, a Penfolds 
realizou uma prova dos seus melhores vinhos com 
pequenos grupos de provadores no Pall Mall 67, com 
o enólogo-chefe Peter Gago, vindo da Austrália para 
falar sobre os vinhos.
É um novo normal, mas o mundo do vinho está a 
adaptar-se. Pessoalmente, mal posso esperar que as 
viagens internacionais retomem e possa visitar as 
vinhas. Portugal está no topo da minha lista.
OPINIÃO
Na verdade, é muito 
bom provar num 
ambiente com apenas 
dois provadores na sala 
em simultâneo, porque 
é silencioso e o nível de 
concentração é maior.
Jamie Goode
20 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
José João Santos, jornalista e crítico de vinhos
O 
ano de 2019 foi particularmente bon-
doso para os vinhos brancos portu-
gueses. À medida que os provo é difícil 
não lhes enaltecer a frescura, o equi-
líbrio e a profundidade generalizada 
que apresentam, sem diferenças abissais por entre 
as regiões. Nos próximos meses haverá certamente 
oportunidade de conhecer muitos mais vinhos dessa 
vindima, provavelmente com graus superiores de 
complexidade, o que me leva a arriscar um vaticínio – 
2019 poderá afirmar-se como o grande ano de vinhos 
brancos portugueses da última década.
Os vinhos nacionais têm evoluído bastante, ainda 
que nem sempre à velocidade que desejaríamos 
porque, na loucura da voracidade do nosso tempo, 
queremos que tudo aconteça depressa, bem depressa 
e bem. Se há muito Portugal é reconhecido por ela-
borar dos melhores fortificadosdo mundo, desde 
meados de 90 tem convencido crítica e consumidores 
internacionais sobre a qualidade dos tintos, capazes 
de ombrear com qualquer outro exemplar dessa tipo-
logia, de qualquer outro lugar. Mas, a grande (r)evo-
lução a que assistimos nos últimos anos é no elevar 
dos vinhos brancos.
Deixou de fazer sentido ir de cabeça baixa ou 
discurso titubeante no momento da apresentação de 
um vinho branco português perante uma audiência 
internacional. Muitos obrigam a uma explicação 
acrescida, na medida em que é ilusório pensarmos 
que seremos reconhecidos pelos Chardonnay ou 
Sauvignon que elaborarmos. Precisamos trazer essas 
audiências à geografia portuguesa, presencial ou 
mentalmente, explicar-lhes a linha atlântica de fazer 
inveja que possuímos, as vinhas plantadas em locais 
demenciais em ilhas que estão no meio do oceano, 
as vinhas de montanha do interior, sem esquecer as 
cepas velhas e os vinhos de colheitas antigas que resis-
tiram a tudo e que hoje glorificamos. Esqueçamos as 
castas que o mundo sabe de cor e centremo-nos nessa 
geografia e no exotismo de nomes quase impronun-
ciáveis – algum americano pronuncia com rigor o 
nome das castas gregas, cujos vinhos brancos tanto 
têm dado que falar? 
Pela geografia, pelas variações climáticas de ter-
roirs e pelo potencial genético de castas autóctones, 
Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis 
que lhe permitirá afirmar-se igualmente enquanto 
produtor de vinhos brancos de grande qualidade, 
podendo os 2019 ser um relevante cartão de visita 
que o demonstra inequivocamente.
José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita,
da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra".
OPINIÃO
Os grandes brancos
de 2019
Pela geografia, variações climáticas de terroirs e potencial genético de castas 
autóctones, Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis que lhe permitirá 
afirmar-se igualmente enquanto produtor de vinhos brancos de grande qualidade, 
podendo os 2019 demonstrá-lo inequivocamente.
22 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
Acidez, sal e pimenta
Por estes tempos, quando 
falamos de um vinho branco, 
um descritor salta para a dianteira – acidez. Se um 
produtor da Borgonha a tenta controlar e até baixar 
ao mínimo indispensável, dado que os solos e o clima 
aportam uma acidez natural elevada, regiões bem 
mais quentes procuram-na como alguém sedento no 
deserto. 
Cada casta produz naturalmente vários ácidos, 
sendo o ácido tartárico e o ácido málico os principais. 
Os vinhos (brancos e tintos) de climas mais frios e de 
solos de matriz calcária ou granítica têm tendência 
para serem mais acídulos. A acidez poder ser medida 
em pH e, no caso do vinho, habitualmente esse pH 
varia entre 3 e 4. Regra geral, quanto mais baixo for o 
pH maior será a acidez; no oposto, quanto mais alto 
for o pH mais rápida será a evolução oxidativa de um 
vinho.
Ao provarmos um vinho, se ficarmos a salivar bas-
tante é sinal que a acidez será elevada. Se verificarmos 
que existem pequenas partículas que se assemelham 
a cristais na base da garrafa ou na parte de baixo da 
rolha de cortiça de um vinho que esteve no frigorí-
fico durante várias horas ou mesmo dias, sim, é muito 
provável que a acidez desse vinho seja alta. Pelo con-
trário, um vinho com uma acidez menos pronunciada 
será mais redondo e mais sedoso.
Dependendo do vinho que é pretendido elabo-
rar-se, na adega há alguns pozinhos e técnicas que 
permitem suavizar ou incrementar a acidez. A fer-
mentação malotática, por exemplo, consiste em trans-
formar os ácidos málicos (mais ácidos e severos) em 
láticos (mais suaves), fazendo com que o vinho fique 
menos agressivo, por ação do dióxido de carbono. Já o 
acrescento de ácido tartárico irá aumentar artificial-
mente o perfil de acidez natural de um vinho.
A acidez é das peças fundamentais que permite 
aos vinhos evoluírem bem, mas não deve ser nem 
endeusada nem destratada. Não queremos que um 
vinho seja monótono ou monocórdico, tal como não 
nos motivará um vinho apenas ácido e fresco, inócuo 
em aromas e sabores. Equilíbrio é sempre a palavra-
-chave de um vinho.
É esse o alerta que me parece prioritário nesta fase, 
em que os conhecimentos e técnicas de viticultura 
são incomparavelmente mais sólidos e em que a eno-
logia finalmente domina a vinificação – sempre mais 
apurada nos brancos – na adega.
Que um vinho tranquilo aço-
riano, madeirense, de Lisboa, da 
Bairrada, de Setúbal, da Costa 
Vicentina ou do Algarve possua notas salinas evi-
dentes de maresia, nada contra; que um vinho do 
Douro, de Trás-os-Montes, da Beira, do Tejo ou do 
interior alentejano também, sim, posso ter os meus 
fundamentos para o estranhar. Que um vinho de 
uma casta profundamente aromática passe a uma 
matriz de absoluta neutralidade, sim, pode levar-me 
a duvidar, mesmo que o argumento seja o da apanha 
mais precoce da uva para evitar aromas mais expres-
sivos que surgem com a maturação.
Os vinhos brancos não podem perder o ADN 
simplesmente em nome de uma tendência mundial 
de consumo, muito menos pela busca de conceitos 
tantas vezes baralhados como acidez, mineralidade, 
salinidade. Nada contra a vinificação em cubas ovais 
de cimento, de argila ou outro material, aplaudo o uso 
ponderado de madeira, o resgate de barricas usadas 
e a aposta em barricas de maior dimensão, que mar-
quem menos o vinho. Elogio a aposta em tonéis e em 
foudres para vinificar brancos, mas parece-me que 
merece ser questionada a neutralidade, por vezes até a 
aniquilação do perfil natural de castas. Um Alvarinho 
de Monção e Melgaço terá necessariamente de ser 
diferente de um Alvarinho do Alentejo, um Arinto de 
Bucelas terá que ser obrigatoriamente diferente de 
um Arinto dos Açores, o Maria Gomes da Bairrada 
terá um perfil distinto do Fernão Pires do Tejo.
Na perceção dessas diferenças estará a mais-valia 
dos vinhos brancos portugueses no mundo e até 
mesmo inter-regiões. O sentido de lugar, a geografia, 
o microclima, o solo e o subsolo estão em cada pé de 
vinha, não devem ser definidos pelo departamento 
comercial ou pelo enólogo. Os grandes vinhos brancos 
do mundo são os que reconhecidamente mostram 
a origem, os que não a mascaram. No momento em 
que se procura a expressão absoluta de um terroir, a 
expressão de uma casta numa micro-parcela de vinha, 
não faz lá muito sentido artificializar vinhos, trans-
formando-os naquilo que não o são. Se quiser ter 
num copo um líquido incolor, praticamente inodoro, 
estupidamente salgado e de final apimentado não 
peço um vinho (encho um copo com água, junto-lhe 
umas pedras de sal e uns pós de pimenta, “et voilà!”). 
E, pessoalmente, sou dos que gostam de muita acidez 
e picante, imaginem se não o fosse…
OPINIÃO
José João Santos, jornalista e crítico de vinhos
Os vinhos brancos 
não podem perder o 
ADN simplesmente em 
nome de uma tendência 
mundial de consumo, 
muito menos pela busca 
de conceitos tantas vezes 
baralhados como acidez, 
mineralidade, salinidade.
24 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
VINHO FORA DA CAPA
HERDADE DO ROCIM 
INDÍGENA 2018 
Alentejo / Tinto / Herdade do 
Rocim
Mais que um projeto vínico, 
a Herdade do Rocim foi 
o primeiro passo de um 
sonho que arrancou, na 
viragem do milénio, no 
Alentejo. A propriedade, 
sita na Vidigueira, reúne 
cerca de 120 hectares, dos 
quais 70 são de vinha. A 
visão e experimentalismo 
de Catarina Vieira e Pedro 
Ribeiro cedo os impeliu para 
vinhos verdadeiramente sui 
generis, ao dinamizarem o 
ressurgimento dos vinhos de 
talha e ânfora, passando pelos 
exemplares que nascem de 
vinhas em modo biológico, 
como é o caso deste Indígena, 
o primeiro de todos. Conta 
ainda a particularidade de ser 
fermentado e estagiado em 
depósitos de cimento. 
Elaborado com base na casta 
Alicante Bouschet, uma das mais 
representativas do Alentejo, este 
Indígena apresenta cor rubi profunda, 
notas de eucalipto,características da 
casta. Mostra estrutura, concentração 
e acidez, num conjunto fresco e 
energético que lhe permitirão uma boa 
evolução em garrafa.
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PROFILE
texto Nuno Guedes Vaz Pires · foto Fabrice Demoulin
Acabado de chegar aos escaparates, o Guia Popular de Vinhos 2021 de Aníbal Coutinho (com Neil 
Pendock) assenta novo tijolo numa das mais profícuas carreiras no mundo nacional do vinho. Este 
engenheiro civil, formado pelo Instituto Superior Técnico, rumou ao Instituto Superior de Agronomia, 
onde se especializou em Viticultura e Enologia, dado o gosto pelo vinho.
Jornalista, crítico, formador, blogger, produtor de vinhos, júri de concursos nacionais e internacionais, 
membro do Coro Gulbenkian, em Aníbal Coutinho cabem várias dimensões, um verdadeiro ‘one man 
show’ que procura sempre mais, e melhor, para o universo do vinho português.
Algarvio de gema, foi dos primeiros especialistas a segmentar os vinhos nacionais, não por divisões 
administrativas, mas por terroirs. E, com os vinhos Escondido e Astronauta vai, lentamente, de forma 
discreta, construindo um sólido portefólio. 
Aníbal
Coutinho
26 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
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Para a Mesa
ESCOLHAS DO MÊS
As suaves colinas de S. Lourenço
Foi a primeira peça a corporizar o portefólio da Ideal Drinks, em 2009. A quinta das Colinas de S. Lourenço, 
em S. Lourenço do Bairro, Bairrada, reúne 80 ha. de vinha em solos argilo-calcários das suaves colinas 
típicas da região, que deram origem ao seu nome.
Carlos Dias tem uma história de vida que 
mais parece uma epopeia. Nascido e com 
juventude passada em Portugal, há 46 anos 
vive fora. Em 1995 funda a Manufacture Roger 
Dubuis. Um investimento de 600 mil euros, 
num projeto pensado para entrar no exclusivo 
segmento de luxo e que se iniciou com dois 
colaboradores. O sócio e amigo Roger Dubuis 
era o mestre relojoeiro. Anos mais tarde, em 
2008, Carlos Dias vende a empresa ao grupo 
de luxo Richemont, um negócio estimado em… 
850 milhões de euros.
A paixão pelos vinhos ganha corpo na 
primavera de 2009, quando concretiza a 
aquisição das Colinas de S. Lourenço e, 
acompanhado pelo enólogo consultor Pascal 
Chatonnet, acrescenta ao portefólio o Paço 
da Palmeira, em Braga, a Quinta da Pedra e a 
Quinta dos Milagres (2010), em Monção, e a 
Quinta de Bella, no Dão. Pelo meio reforçou 
a presença na Bairrada, ao comprar a Quinta 
da Malandrona e a Quinta da Curia. O seu 
pendor detalhista reflete-se nos vinhos que 
faz, como este Reserva de 2012, no ponto para 
consumo e grande companheiro de viagens 
gastronómicas.
 17
Colinas Reserva 2012
Bairrada / Tinto / Colinas de 
São Lourenço
—
Rubi, de rebordo atijolado. 
Nariz de caruma e de resina de 
pinheiro, caril, cereja madura, 
tinta da china e balsâmicos. 
Tanino firme e de ADN vegetal, 
estrutura ampla, extensão 
final bem conseguida, com 
mentolados e toque de tabaco. 
Denota boa evolução e está 
no momento acertado para 
consumo. JJS
14,50€ / 16ºC 
Para aMesa
30 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
DOURO PORTO
Memória Futuro
&+
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Noticia.pdf 1 14/04/20 14:45
Para a Cave
ESCOLHAS DO MÊS
Pellada de nervo e tensão
Desde que assumiu os destinos da Quinta da Pellada, em 1980, Álvaro de Castro marcou o 
percurso dos vinhos do Dão. Eis mais um exemplo de nervo e tensão, notável ainda mais se 
pensarmos que 2017 foi um ano extremamente quente.
 18,5
Quinta da Pellada 
2017 
Dão / Tinto / Quinta da 
Pellada
— 
Rubi. Aromas ainda jovens de 
fruto vermelho, cereja, amora, 
bagas pretas de bosque, toque 
vegetal e resinoso, conjunto 
delicado mas vibrante. Na 
boca é seco, texturado, taninos 
firmes de boa qualidade, acidez 
viva, frutados frescos. Um tinto 
de grande qualidade, final 
duradouro e persistente. MB
45,90€ / 16ºC
O Dão de Álvaro de Castro tem uma 
expressão própria, uma identidade e um 
carácter que vêm da vinha e deve ser preser-
vado. Com o tempo de observação e trabalho 
nas vinhas, dividiu os 26 hectares da pro-
priedade de acordo com as características de 
cada parcela. No que o produtor julga ser o 
bloco principal, em vinhas contíguas a norte, 
estão parcelas como Primus, Casa e Alto, 
de onde saem algumas das maiores joias da 
Pellada, entre as quais o vinho que aqui tra-
zemos, oriundo sobretudo da vinha velha da 
propriedade.
As primeiras referências históricas da 
Quinta da Pellada datam de 1570. Muita 
história, portanto. E após tantas vindimas 
(Álvaro começou a produção própria de 
vinhos em 1989), o produtor continua a des-
cobri-la. Entender os vinhos de Álvaro de 
Castro é fácil. Vibrantes, tensos, cheios, múl-
tiplos e ao mesmo tempo leves e frescos. São 
grandes vinhos de uma grande região.
Para aCave
32 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
ESCOLHAS DO MÊS
b 
A escolha de
Nuno Guedes Vaz P ires
b 
A escolha de
Marc Barros
 18
Herdade dos Grous 
Moon Harvested 
2018
Regional Alentejano / 
Tinto / Monte do Trevo
24,90€ / 16ºC
—
Concentrado. O aroma é 
profundo e intenso, em que 
as notas de fruta preta e 
bagas azuis casam com a 
especiaria e a componente 
mentolada, tudo muito 
fresco, a que se junta 
a perceção da madeira 
criteriosa, e chocolate. Seco 
e ainda austero na boca, 
equilibrado pela boa acidez 
e textura. Termina longo, 
frutado e com especiaria 
final. Belo vinho! MB
 18
Passadouro Reserva 
2017
Douro / Tinto / Quinta 
do Passadouro
40,70€ / 16ºC
—
Granada. Nariz rico e 
atrativo, fruto vermelho 
muito fresco, bergamota 
cítrica, balsâmicos 
mentolados e tostados 
de qualidade. Na boca é 
amplo, comprido, mostra 
bom volume e acidez 
equilibrada, taninos finos e 
aveludados, bebe-se já com 
muito agrado.
 18
Passadouro Touriga 
Franca 2017
Douro / Tinto / Quinta 
do Passadouro
21,80€ / 16ºC
—
Violáceo. O nariz é rico 
e profundo, com fruto 
vermelho fresco, de grande 
qualidade, toque floral, 
chocolate. Na prova de 
boca é sumptuoso, bom 
volume, tanino macio mas 
duradouro, sabor dominado 
pelo perfil silvestre, 
persistente e sedutor. MB
 18
Quinta de Saes 
Estágio Prolongado 
Reserva 2015
Dão / Tinto / Quinta da 
Pellada
20,90€ / 16ºC
—
Rubi. Nariz delicado e 
elegante, notas de frutos 
silvestres a surgirem a par 
das notas de sub-coberto, 
pinheiro, algum musgo e 
cogumelo seco. Na boca, a 
mesma linha de delicadeza 
apesar dos taninos vivos, 
boa acidez. equilibrado e 
comprido. Termina com 
frescura.
 17,5
Colecção Privada 
Domingos Soares 
Franco Riesling 
2019
IVV / Branco / José 
Maria da Fonseca
9,90€ / 11ºC
—
Amarelo. Nariz bonito 
e perfumado, citrinos, 
pêssego, maçã verde, 
nuance floral. Seco, bom 
volume de boca, notas 
de maçã, boa acidez e 
mineralidade salivante, final 
glicerinado, fresco e longo. 
MB
34 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
Vinhos de patamar de qualidade muito boa e excelente, com plena garantia de deixar 
de sorriso rasgado qualquer felizardo que tenha oportunidade de os degustar.
Altamente Recomendados
ESCOLHAS DO MÊS
b 
A escolha de
José João Santos
b 
A escolha de
Manuel Moreira
b 
A escolha de
Luís Costa
 17,5
Veuve Clicquot 
Carte Jaune Yellow 
Label Brut 
Champagne / Champagne 
/ Veuve Clicquot
49,90€ / 8ºC
—
Dourado, bolha fina, 
elegante e regular. Notas 
evidentes de pastelaria, 
fruto de caroço, pêra, floral. 
Na boca mostra-se seco, 
mousse delicada, texturada, 
boa efervescência, mineral. 
Termina longoe sedutor. 
MB
 17,5
Explicit 2018
Regional Alentejano 
/ Branco / Sociedade 
Agrícola Jorge Rosa 
Santos e Filhos
15,00€ / 11ºC
—
Amarelo limão. Nariz fino 
de flor de árvore, raspa 
de lima, maçã, fermento 
de pão, algum fumado. A 
nota de barrica surge mais 
evidente na boca, tem 
muito boa untuosidade, 
volume preciso, acidez bem 
conseguida, ligeiro salino. O 
final é amplo, persistente e 
bastante gastronómico.
 17,5
La Rosa Reserva 
2019 
Douro / Branco / Quinta 
da Rosa Vinhos
12,50€ / 11ºC
—
Amarelo. Nariz muito 
delicado e complexo, 
aromas florais e fruta 
elegante, apontamento 
tostado e toque mineral. 
Seco, excelente volume 
e acidez, um branco de 
grande categoria, que 
poderá dar gratas surpresas 
dentro de uns anos e 
seguramente grande prazer 
desde já.
 17,5
Quinta do Cume 
Vinhas Velhas 2016
Douro / Tinto / Quinta 
do Cume
32,00€ / 16ºC
—
Rubi vivo. Aroma 
concentrado mas fresco, 
fruto vermelho maduro, 
bagas pretas, notas 
balsâmicas, baunilha e 
especiarias. Na boca é 
seco, reforça a componente 
especiada, boa estrutura, 
tanino em integração, 
acidez alta e competente 
no equilíbrio de um 
conjunto muito apelativo 
e gastronómico, que irá 
evoluir por uns bons anos 
em garrafa. MB
 17,5
Terra a Terra 
Reserva 2016
Douro / Tinto / Quanta 
Terra
11,29€ / 16ºC
—
Rubi violáceo. Sugestões 
aromáticas a fruta 
preta, cacau, esteva, 
flores violáceas e leve 
apimentado. No ataque de 
boca é suave e elegante, 
mostra equilíbrio, médio 
corpo, boa acidez, taninos 
maduros, integrados e 
pujantes. Final persistente.
outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 35@revistadevinhos
ESCOLHAS DO MÊS
 17
João Portugal 
Ramos Alvarinho 
2019
Vinho Verde / Branco / 
João Portugal Ramos
9,99€ / 11ºC
—
Amarelo limão. Boa 
intensidade aromática, 
citrinos, floral, notas de 
mel, conjunto elegante e 
sóbrio. Na boca é sedutor, 
frutado e fresco, termina 
com nota especiada e 
bom comprimento. Pode 
surpreender dentro de 
alguns anos. NGVP
 17
Pequenos Rebentos 
Tinto Atlântico 
2019
Vinho Verde / Tinto / 
Márcio Lopes
15,00€ / 14ºC
—
Rubi translúcido. Notas 
sinceras de morango e 
cereja fresca, romã e folha 
de tomate. Tanino muito 
suave, estrutura bastante 
fresca e muito leve, final 
subtil mas absolutamente 
delicioso. É daqueles 
vinhos que rapidamente 
desaparece no copo… 
e precisamos de mais 
vinhos destes. Refresque-o 
ligeiramente. JJS
 17
Porta dos 
Cavaleiros Reserva 
2015
Dão / Tinto / Caves São 
João
9,00€ / 16ºC
—
Rubi escuro. Floral elegante 
de violeta e pétala de rosa, 
cereja madura, mirtilo e 
balsâmicos de pinheiro. 
Tanino de porte elegante, 
volume amparado por 
uma acidez que lhe aporta 
frescura. De final fino, 
estendido e persistente. 
Está a crescer com o tempo. 
JJS
 17
Quinta de Santa 
Teresa Avesso 
Unfiltered 2019
Vinho Verde / Branco / 
A&D Wines
10,00€ / 11ºC
—
Amarelo claro. Boa 
intensidade aromática, 
frutado calibrado, elegante 
e de boa compleição. Notas 
citrinas, tropicais e de ervas 
frescas. Corpo moderado 
e estrutura de qualidade, 
formada pela fruta, alta 
e boa acidez e volume. 
Persistência e elegância 
final. MM
 16,5
Encostas de 
Melgaço Único 
Alvarinho 2018
Vinho Verde / Branco / 
Quinta da Pigarra
12,00€ / 11ºC
—
Cor citrina. Nariz elegante e 
contido, com a delicadeza 
das notas de limão a definir 
o carácter. Boca cremosa, 
citrina e longa, com acidez 
desenhada a traço seguro. 
É um vinho de estrutura 
firme, com várias camadas. 
CL
36 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
ESCOLHAS DO MÊS
Prazer garantido a bom preço, já que um bom vinho também pode ser amigo da carteira.
A facilidade de resgate em prateleira também é uma chave desta seleção.
Boas Compras
 16,5
La Rosa 2019
Douro / Branco / Quinta 
da Rosa Vinhos
8,50€ / 11ºC
—
Amarelo. Boa fruta no nariz, 
delicada e fresca, sem 
excessos, apontamento 
floral, ligeira nota tostada. 
Bom volume de boca, 
untuoso e frutado, final 
bem prolongado, fresco e 
saboroso. NGVP 
 16,5
Fresh From 
Amphora 2019
Regional Alentejano / 
Branco / Rocim
8,50€ / 11ºC
—
Amarelo esverdeado. Nariz 
algo austero, fresco, notas 
de pêssego, maçã, fruto 
cristalizado, especiaria. Na 
boca é seco, acidez mineral 
e sápida, bom volume e 
estrutura. Conjunto limpo 
e fresco, final médio, 
gastronómico. MB
 16,5
Quinta do Espírito 
Santo Reserva 2016
Regional Lisboa / Tinto / 
Casa Santos Lima
7,99€ / 16ºC
—
Rubi médio. Aroma cheio, 
fruta madura, notas a 
chocolate e torrefação 
de barrica. Algo de herbal 
a envolver a boa fruta. 
Bom porte na boca, corpo 
médio/alto, taninos largos 
e suculentos. Final fresco, 
persistência com agradável 
complexidade. Um pouco 
consensual mas muito bem 
feito. MM
 16,5
Terras de Santo 
António Encruzado 
2019
Dão / Branco / Sociedade 
Agrícola da Quinta de 
Santo António
8,50€ / 11ºC
—
Amarelo palha. Flor 
delicada, limão, raspa 
de lima, toranja, pedra 
molhada, ligeiro 
apimentado. Acidez mais 
vincada, frescura geral, 
volume preciso. O final é 
estendido e persistente, 
acentuando o perfil 
granítico que demonstra 
durante toda a prova. Para 
levar à mesa ou guardar um 
par de anos. JJS
 16
Perspectiva 2017
Douro / Tinto / Santos 
& Seixo
3,95€ / 16ºC
—
Rubi de bom porte. Aroma 
sugestivo pela elegância da 
fruta, mentolado e algum 
vegetal seco. Especiaria 
subtil. Na boca mostra-se 
fresco, afinado, taninos 
polidos, acomodados no 
corpo médio, estrutura 
fundida, pronto dar 
prazer. Muito bem feito e 
claramente gastronómico. 
MM
outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 37@revistadevinhos
CASTA
Touriga,
a portuguesa
texto Marc Barros / foto arquivo
A mais representativa das castas portuguesas, que hasteia bem alto a valia das castas do 
país nos mercados internacionais, diz-se oriunda do norte de Portugal, nomeadamente do 
Dão, onde teria a designação Preto Mortágua ou Tourigo. Do Dão, onde é responsável pela 
produção de vinhos de imensa finura e elegância, e do Douro, que se encarrega de fazer 
valer os seus taninos delicados, a casta passou rapidamente a ter representatividade nacional, 
fazendo jus ao seu nome.
Conta hoje com 13.000 hectares, ou seja, 7% do encepamento total, sendo a terceira casta 
mais plantada do país, ombro a ombro com a Touriga Franca. Mas já é possível encontrá-la 
dispersa pelo (velho e novo) mundo vitícola.
Sendo uma casta de maturação tardia, é das últimas a ser vindimada. Com boa produtivi-
dade na vinha e regular de ano para ano, adapta-se a todos os tipos de solo, pedindo apenas 
muitas horas de sol e disponibilidade hídrica. Mesmo assim, garante bons níveis de acidez e 
frescura, percetível aromaticamente pelos seus tons florais característicos, mas também pelas 
notas de frutos silvestres e até herbáceas, de cor e complexidade inusitadas. 
Como casta rainha, origina vinhos de enorme qualidade, a solo ou em lote, oferece exce-
lente potencial de envelhecimento, em madeira (onde mostra a sua personalidade forte e 
acrescenta tanino) e na garrafa. É, naturalmente, uma variedade que transporta os vinhos 
portugueses pelo mundo fora, confere notoriedade e qualidade garantida. Mereceria ser 
“portuguesa” na designação?
Dicas
1.
2.
4.
3.
Não sendo uma casta que transmita potência, 
a Touriga Nacional ‘deixa-se’ ser trabalhada 
de diversas formas: por um lado, mantendo 
o perfil aromático típico, delicado e floral, 
que pode ir além da violeta. Quem pretenda 
acrescentar tanino e dimensão à casta, 
encontra na utilização da madeira, com 
diferentes anos e níveis de porosidade e de 
tosta, parceiro dócil e competente.
É, por isso, possível descortinar uma imensa 
variabilidade regional no tratamento da 
casta. Apesar da sua ampla adaptabilidade, 
as Tourigas não são todas iguais. No Douro, 
mais tanino, concentração e fruta; no Dão, 
elegância, finura e aromas do bosque; no 
Alentejo, maciez no corpo e bom volume de 
boca; em Setúbal, frutos vermelhos e pretos, 
compota, tanino macio. E já a vemos plantada 
por esse mundo fora.
Em Bordéus, écasta autorizada, sendo que o 
ciclo de maturação tardia da Touriga Nacional 
indica uma exposição reduzida às geadas da 
primavera e às maturações do verão, quando as 
temperaturas mais altas podem afetar o sabor 
e a qualidade do tanino e elevar os níveis de 
álcool. Na África do Sul, integra os lotes de Port 
Wine Style; na Austrália, dá origem a vários 
monovarietais. Espanha, Califórnia e Brasil 
são outros locais onde pode ser encontrada. 
As possíveis sugestões de prova da casta em 
diversas modalidades (tintos, espumantes, 
rosés) são infindas. Um bom exemplo são os 
vinhos constantes na prova temática que pode 
consultar mais à frente nesta edição. Boas 
provas!
38 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
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AnuncioImprensa_QdP_220x297_2020.pdf 1 18/08/2020 16:34
Taninos e adstringência
DICAS
Os taninos permitem que os bons vinhos envelheçam, por vezes, ao longo de décadas.
texto Manuel Moreira / fotos Arquivo
O copo na medida certa aproxima-se da boca. Já antes lhe apre-
ciámos a generosidade rubi e o nariz fez-nos sorrir ao identificar aqueles 
frutos de cores vermelhas, pretas e azuis. Ao prová-lo, a boca e a gar-
ganta ficam secas de repente, as gengivas e a língua contraem-se, o 
instinto faz-nos de imediato rodar a língua pelas laterais da boca, em 
reação aos taninos do vinho. Sim, é a adstringência a manifestar-se. Mas 
o que é a adstringência? E os taninos? Qual a origem? Servem para quê? 
Qual a razão desta sensação acontecer só quando se bebe vinho tinto 
e não com brancos?
Os taninos são parte de um conjunto de compostos chamados fenó-
licos. A película do bago é muito rica nesses compostos. Os taninos 
existem, também, no engaço e numa fina película que reveste as gra-
inhas. A quantidade em taninos difere de casta para casta. Umas têm 
mais que outras. Difere também se a uva estiver mais ou menos madura. 
Ao beber um vinho tinto sentimos os taninos, por ser vinificado com 
as películas das uvas, das quais se extraem, então, estes compostos 
durante a fermentação e através das operações de maceração. Da 
madeira também se extraem taninos, ao longo do estágio, nas barricas 
novas de carvalho. Os vinhos brancos são mais pobres em taninos 
devido ao menor contacto com as películas. Contudo, o surgimento dos 
vinhos brancos submetidos a maceração pelicular irá provocar a mesma 
sensação de adstringência. 
Haverá mais taninos nos vinhos concebidos para durarem mais tempo 
do que nos vinhos pensados para o consumo imediato. Como conser-
vantes, os taninos permitem que os bons vinhos envelheçam, por vezes, 
ao longo de décadas. Com o passar do tempo, os taninos amaciam e a 
textura do vinho também. Os taninos são relevantes na constituição do 
vinho, importantes na estrutura, a quantidade e a forma influenciam a 
textura e o modo como os sentimos na boca. 
O tanino manifesta-se através de uma sensação tátil, a adstringência. 
Ao combinar e ao coagular com as proteínas da saliva, perde as suas 
propriedades lubrificantes. Surge aquela impressão de secura e rugosi-
dade, em vez da humidade natural quando passamos a língua no palato, 
nas gengivas, nos dentes e nos lábios. Dá lugar a algo como uma resis-
tência, um atrito, como se a língua se tivesse tornado encortiçada, como 
se a boca estivesse ressequida e contraída, a língua e as gengivas já não 
se tocam suavemente. É isto a adstringência. 
Resumindo, os taninos são o ingrediente e a adstringência a sensação.
O tanino manifesta-se através 
de uma sensação tátil, a 
adstringência. Ao combinar e 
ao coagular com as proteínas 
da saliva, perde as suas 
propriedades lubrificantes. 
Surge aquela impressão de 
secura e rugosidade.
40 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
Preservamos o nosso património.
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ANUNCIO_21X29,7.pdf 1 03/09/2020 10:56
VINHOS & NÚMEROS
Os números também contam histórias sobre o mundo do vinho.
Fonte: IVV, IVDP.
texto Marc Barros · infografia Angela Reis
Direitos de plantação de vinha e a lei do mercado
O IVV concedeu 1.927 hectares de novas autorizações de plantação de vinha em 2020. As candidaturas 
submetidas correspondiam a uma área de 2.949 ha. O total de área de vinha em Portugal Continental era, há 
cerca de um ano, de 189.988 ha., ligeira retoma face ao ano anterior, mas incapaz de inverter a tendência de 
diminuição continuada que se verifica desde há três décadas a esta parte. Segundo diretrizes comunitárias, a área 
a distribuir anualmente corresponde a 1% da superfície total de vinha plantada em 31 de julho do ano anterior.
Partindo do princípio que os operadores são agentes económicos racionais e a área a 
concurso supera largamente a atribuída, que papel para a regulação? Esta tem em conta as 
especificidades regionais? No Douro, onde certos operadores estimam que a área de vinha está 
sobredimensionada e fragmentada, levando a que o preço de uva atinja, na melhor das hipóteses, 
1,15 euros/kg., (mas a média cifra-se nos 0,5 euros), será que a reposição do stock de vinha é 
pertinente? Em que medida este regime contribui para a perda de património genético, uma vez 
que é concedido ao viticultor o poder de repor o stock de vinha arrancada?
400 ha.
Vinho Verde, atribuídos 296 ha.
65 ha.
Douro, acima dos 4,3 ha. concedidos
340 ha.
Tejo, atribuídos 262 ha.
107,58 ha.
Beira Interior com 100% aprovados
Nesta ronda, foi pela primeira vez 
atribuída a qualidade de
“Novo Entrante”, que permite a um 
operador iniciar a atividade
de viticultor.
ALENTEJO E LISBOA OUTRAS REGIÕES
Ambas com pedidos superiores a 
700 ha.
Atribuídos
250 ha.
(restrição previamente estabelecida) 
e 552 ha.
(Lisboa teve o maior número de 
candidaturas aprovadas).
Em sentido inverso 
Algarve com maior percentual em área (∆1% crescimento regional)
Candidatou 60 ha. e recebeu 54 ha.
46 %
candidaturas aprovadas 
a Novos Entrantes
36 %
do total atribuído
dos quais 34 % "Jovem" e 66 % "Outros"
42 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
VINHOS & TURISMO
Entre a Lezíria, Campo e Bairro, há um mundo de diversidade para conhecer.
Tejo para descobrir
texto Marc Barros / fotos D.R.
No Tejo encontramos diferentes terroirs em cenários deslumbrantes, bem como 
produtores e quintas ligados à própria história de Portugal.
Quinta do Casal Branco
Na posse da família Lobo de Vasconcellos desde 1775, 
esta belíssima propriedade tem cerca de 1100 hectares, 
dos quais 120 de vinha na margem esquerda do rio Tejo, 
contemplando a vasta imensidão da planície do vale. 
Entre as atividades de enoturismo disponíveis contam-se 
visitas guiadas à adega e à vinha, provas de vinhos comen-
tadas, almoços e jantares vínicos, visitas à Coudelaria de 
Cavalos Puro Sangue Lusitano e aos jardins da Casa Lobo 
de Vasconcellos.
Quinta do Casal Branco
Estrada Nacional 118 Km 69 / 2080-187 Almeirim, Portugal
M. 917 656 683 / S. www.casalbranco.com
Falua
Produtor da nova geração do Tejo, fundada, em 1994, por 
João Portugal Ramos, a Falua passou a ter a sua adega 
em 2004, em Almeirim e recentemente adquirida pelo 
grupo francês Roullier. Entre as suas marcas icónicas 
estão o Conde Vimioso. Na Vinha do Convento da Serra, 
plantada em 1996, desenvolvem-se videiras entre calhau 
rolado, num terroir emblemático que conta uma história 
com mais de 400 mil anos. O moderno centro de vini-
ficação e a sala de barricas dão o entorno para visitas e 
provas de vinhos.
Falua
Zona Industrial Lote 56 / 2080-221 Almeirim
T. 243 594 280 / E. falua@falua.pt
Companhia das
Lezírias
Fundada em 1836, no reinado 
de D. Maria II, é uma das 
maiores manchas agrícolas 
nacionais. Conta hoje com 
um moderno espaço dedicado 
ao enoturismo, onde é pos-
sível realizar provas de vinhos 
comentadas pelos enólogos, 
vindimas e pisa a pé dos vinhos. 
Estão também disponíveis 
bungalows em madeira (com 
piscina exterior) em plena 
Zona de Proteção Especial do 
Estuário do Tejo.
Companhia das Lezírias
Largo 25 deAbril, nº 17 / 2135-318 Samora 
Correia / T. 212 349 016 / 263 650 600
E. loja.vinhos@cl.pt / S. www.cl.pt
Quinta da Lagoalva
de Cima
Localizada na margem sul do Tejo, 
conta longa tradição agrícola e 
vitivinícola, quando D. Maria de 
Noronha de Sampaio casa, em 
1846, com D. Domingos António 
Maria Pedro de Souza e Holstein, 
2.º Duque de Palmela. Além da 
produção de azeite, cortiça, da 
criação de gado e de cavalos puro-
-sangue lusitano, a Quinta da 
Lagoalva possui 45 hectares de 
vinha no conjunto de 600 hec-
tares agrícolas. Passeios de char-
rete, visita à adega e coudelaria, 
prova dos produtos da quinta, 
entre outros, fazem parte do pro-
grama de enoturismo.
Quinta da Lagoalva de Cima
2090-222 Alpiarça / M. 912 252 748
W. www.lagoalva.pt
44 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
WWW.FALUA.NET
VINHOS & RESTAURANTES
Avaliação do serviço de vinhos
Bovino 
Steakhouse
Tal como o nome sugere, aqui podemos encontrar pratos de 
carnes maturadas com diferentes cortes e pesos, como é o caso 
dos bifes do lombo, de alcatra e ribeye. A decoração é cuidada 
e o ambiente fantástico. Antes de chegarmos à sala de jantar 
ou ao terraço, uma paragem no bar é obrigatória, recebeu o 
prémio em 2018, do melhor bar de restaurante no Drinks Diary 
Bar Awards, aqui podemos experimentar uma série de cock-
tails clássicos e originais, e ver e ouvir o mixologista de ser-
viço. Nos vinhos o serviço é exemplar, a cargo do Sommelier 
Miguel Martins, com a atenção e dedicação do gerente do 
Bovino, Pasquale Manganiello. Grande seleção de vinhos dispo-
nibilizados a copo, 61, entre espumantes, champanhes, brancos, 
tintos, generosos e doces, onde podemos provar, por exemplo, 
um Principal Grande Reserva 2011 ou um Château Lynch Bages 
2011 (Coravin 125 ml). A carta de vinhos, bem estruturada e 
criteriosa, apresenta cerca de 300 referências listadas, divididas 
por país, regiões e tipos. Podemos encontrar uma seleção muito 
interessante de champanhes e generosos, os tintos e brancos são 
maioritariamente portugueses, mas marcam presença vinhos de 
França, Itália, Espanha, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, 
EUA, Chile, Argentina e África do Sul. Grandes nomes do vinho 
estão presentes, desde Niepoort, Mouchão, Ferreirinha, José 
Maria da Fonseca, até aos não menos famosos Concha y Toro, 
Fritz Haag, Villa Maria, Château d’Yquem, Latour, Mouton e 
Petrus. Um restaurante reavaliado pela Revista de Vinhos, que 
obteve uma excelente classificação. Parabéns!
cozinha
Lagosta ao vapor ou grelhada, bife tártaro de lombo Angus, hambúrguer de bovino 
com queijo, costela de vitela da Argentina, ribeye, alcatra, New York strip, prime ribe.
classificação
20
19
20
20
carta de vinhos
20
temperatura
de serviço
aconselhamento
de vinhos
copos
qualidade
do serviço vinho a copo
BOVINO STEAKHOUSE
Quinta do Lago, Almancil (virar à direita na rotunda 6), Algarve
T. +351 289 007 863
—
Preço médio/pessoa: 100,00€ (vinho incluído)
Horário: diariamente, das 18h30 às 24h (a cozinha fecha às 22h e o bar às 24h).
Não encerra.
20
19,8
texto Nuno Guedes vaz Pires / fotos D.R.
A classificação obedece a uma escala de 0 a 20, em que cada item tem um peso específico na média final.
Não incide na componente gastronómica, pretendendo afirmar-se como crítica construtiva, estimulando um cada 
vez melhor serviço de vinhos nos restaurantes.
@revistadevinhos
VINDIMA 2020
Os dados avançados pelo Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), no 
início de agosto, apontavam para uma ligeira redução da campanha 
em relação a 2019/2020, em torno dos 3%, ou seja, um volume total 
de 6,3 milhões de hectolitros. Afirmava tratar-se de um ano marcado 
pela “instabilidade meteorológica observada ao longo do ciclo vegeta-
tivo”, com o registo de “focos de míldio” que obrigaram a tratamentos 
intensivos e cuidados redobrados. 
A Revista de Vinhos procurou tomar o pulso à campanha e, sobre-
tudo, à qualidade dos vinhos e mostos, num ano marcado por con-
dições ainda mais difíceis que o habitual, dado o cenário pandémico 
provocado pela Covid-19. O citado documento do IVV reportava que 
as regiões vitivinícolas de Terras de Cister (-35%), Trás-os-Montes 
(-20%), Douro e Porto (-20%), Dão (-20%) e Açores (-15%) seriam 
as principais responsáveis por esta ligeira quebra. Na região da Beira 
Interior não se antecipavam variações. Nas restantes regiões pre-
viam-se aumentos de produção, destacando-se a região do Minho, 
com o maior acréscimo em volume (+73 mil hectolitros) e a região do 
Algarve, com o maior crescimento percentual (+15%).
Vinhos Verdes 
Na região dos Vinhos Verdes a expetativa era para um aumento na 
produção de 9% relativamente ao ano anterior, mesmo tendo em 
conta a forte incidência de focos de míldio, com a produção total a 
ascender a 890 mil hectolitros, 7% acima da média dos últimos cinco 
anos.
A uma semana do término da vindima, António Sousa refere que 
a vindima trará “boas produções” e, no que concerne à quantidade 
obtida, estará em linha com o ano anterior. Algumas castas, como a 
Loureiro, assumem um desempenho surpreendente, apresentando 
“níveis de acidez de 6,5 a 7 gr. de acidez e 12% de álcool provável à 
entrada da adega”. Também as uvas das castas Avesso e Arinto reve-
lam-se satisfatórias. 
O enólogo regista apenas algum “défice de acidez nas uvas mais pre-
coces, colhidas em agosto e início de setembro”, apresentando-se “um 
pouco sobrematuradas”. Já a uva “colhida no período de meados de 
setembro até agora mostra-se muito equilibrada”. Na sub-região de 
Monção e Melgaço, o crescimento será ainda superior, com as uvas 
da casta Alvarinho a apresentarem excelente qualidade fitossanitária.
Douro e Porto
No Douro a quebra da produção de vinho cifrava-se nos 20%, cor-
respondendo a uma diminuição de 8% face à média do período 
2015/2020, superando o volume de 1,35 milhões de hectolitros. 
Recorde-se ainda que o Conselho Interprofissional (CI) do Instituto 
dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) estabeleceu o benefício de 
102.000 pipas, de 550 litros cada, (92.000, mais 10.000 de reserva 
qualitativa) de mosto para produção de Vinho do Porto, numa 
redução de 6.000 pipas face a 2019.
Segundo Carlos Alves, enólogo de generosos da Sogevinus, o ano foi 
“chuvoso até maio, o que possibilitou a reposição natural da água no 
solo para o bom desenvolvimento da videira”. No entanto, “de maio 
a setembro, o tempo foi seco e muito quente, o que provocou algum 
escaldão nas vinhas e, como consequência, uma quebra de produção”. 
Em finais de agosto “tivemos alguma chuva, o que veio acelerar as 
maturações e a vindima”. Por isso, “2020 é uma vindima de menor 
produção quando comparada com 2019”. Ainda a meio da vindima, 
arriscou-se a dizer que “temos na adega grandes Vinhos do Porto, 
com enorme potencial de envelhecimento”.
Relativamente à performance das castas, a Touriga Franca foi aquela 
que registou maior quebra de produção, a rondar os 40%. O enólogo 
mostra-se “satisfeito com os mostos, pois temos teores de açúcares 
na uva elevados, que permitem fermentações mais longas. Por con-
seguinte, conseguimos uma maior extração de cor e taninos. Os pri-
meiros mostos e alguns Vinhos do Porto tintos já elaborados apresen-
tam-se opacos na cor e com aromas a fruta bastante madura. Em boca 
são cheios, com um tanino bem presente e uma acidez alta para anos 
quentes como este. Os Portos Brancos apresentam aromas muito 
limpos e frescos”. Até ao momento, as castas que têm evidenciado um 
melhor desempenho são a Touriga Nacional, o Tinto Cão e o Sousão, 
nas tintas, e Viosinho, Arinto e Malvasia Fina, nas brancas.
Singularidade e qualidade
na vindima de 2020
texto Marc Barros / fotos Arquivo
Este ano ficará para sempre marcado 
pela pandemia, que colocou dificuldades 
inauditas ao setor, extensível aos 
trabalhos na vinha e, por maioria de 
razão, na vindima. Junte-se um ano difícil 
do ponto de vista climático. Porém, os 
dados recolhidos pela Revista de Vinhos 
apontam para um ano de excelente 
qualidadeem várias regiões nacionais, 
apesar da quebra de produção.
48 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
Por sua vez, Tiago Alves de Sousa, da Quinta da Gaivosa, sublinha que 
“2020 será porventura o ano mais desafiante que a nossa geração já 
viveu”. E não apenas pela pandemia: o ano “foi sucessivamente lan-
çando uma série de desafios que culminaram com uma vindima abso-
lutamente fora do normal, com tanto de adversidade como de quali-
dade e, sobretudo, singularidade”, afirma. “O ano foi em geral quente 
desde o seu início, levando a um avanço significativo das várias fases 
fenológicas logo desde o abrolhamento”. Na primavera registou-se 
“precipitação acima da média [que] levou a uma grande pressão de 
míldio, prejudicando também em parte a floração, com consequentes 
quebras numa produção que já à nascença não era demasiado gene-
rosa”. As previsões quantitativas do ano foram desde cedo “modestas 
e agravadas com o escaldão ocorrido de 22 a 24 de junho. Ainda 
assim, os 20-25% de quebra prevista inicialmente viriam mais tarde a 
revelar-se pecar por defeito”, assume. 
O ciclo prosseguia com avanço de cerca de 10 dias em julho mas 
“com uma progressão da maturação ainda assim aparentemente 
normal, inclusive com a maturação fenólica a evoluir muito favora-
velmente face aos açúcares”. Porém, “a entrada no último terço de 
agosto marcou um ponto de viragem brusco - após uma chuva a 20 
de agosto, aparentemente bem-vinda para ajudar a fazer face ao calor 
estival e que numa primeira instância parece ter trazido algum ree-
quilíbrio das reservas hídricas para ajudar a terminar a maturação… 
rapidamente o processo inverteu-se e começa a verificar-se uma desi-
dratação galopante nos bagos em diversas vinhas, com particular inci-
dência na Touriga Franca nas cotas mais baixas da região”.
Tiago afirma não conseguir, em mais de 20 vindimas no Douro, 
encontrar paralelo para tal fenómeno, “e mesmo colegas com 50 anos 
na região tampouco”. Até porque “calor no Douro não é propriamente 
novidade” e “primaveras chuvosas” tinham-no sido mais “em 2016 e 
2018”. E questiona-se se “a chuva de 20 de Agosto, face às condições 
de calor e escaldão anteriores, terá provocado uma reação inesperada 
e, em vez de refrescar e apaziguar, ter criado algum tipo de gradiente 
de potenciais hídricos entre solo / videira / atmosfera motivando a 
saída anormalmente acelerada de água dos bagos? É uma entre várias 
explicações possíveis… mas ainda sem certezas e será sem dúvida 
fundamental debruçarmo-nos sobre o sucedido, estudarmos e apren-
dermos, sobretudo num contexto de fenómenos climáticos cada vez 
mais extremos e aleatórios”. 
Quanto ao resultado da vindima, o enólogo da Quinta da Gaivosa 
estima que “a quantidade sofreu uma quebra dramática, ultrapassando 
em diversas vinhas os 50%, penalizando severamente os viticultores”. 
No conjunto das vinhas das seis quintas da família Alves de Sousa a 
quebra média foi de 35%, mas “com diversas vinhas a apresentarem 
quebras efetivamente superiores a 50% e com o ligeiro equilibrar da 
A variedade Loureiro mostra 
desempenhos surpreendentes, 
com níveis de acidez de 
6,5 a 7 gr. de acidez e 
12% à entrada da adega. 
Também as castas Avesso 
e Arinto apresentam bons 
desempenhos.
outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 49@revistadevinhos
balança a vir sobretudo das cotas mais 
altas em que a quebra foi de ‘apenas’ 
20%”. Porém, se a natureza retirou 
por um lado, deu por outro - a quali-
dade é verdadeiramente excepcional, exclama Tiago.
A concentração e a intensidade são tais que, numa primeira análise 
levantou algumas questões, sobretudo pelo desafio de conseguir efe-
tivamente levar a bom porto as fermentações. Nos vinhos do Douro 
“será naturalmente necessário trabalho na adega para lidar com tal 
intensidade mas a qualidade média é altíssima, assim como os muitos 
picos de qualidade em diversas vinhas e castas”. Nos Vinhos do Porto 
é um ano que apresenta “concentração imensa mas proporcional 
em todas as componentes dos bagos - açúcares, aromas, compostos 
fenólicos, acidez, garantindo intensidade mas também um equilíbrio 
notável”. A Touriga Franca “é uma das castas que marcam o ano, quer 
pela quebra e por ter sido a maior vitima do fenómeno de desidratação 
brusca… quer pela intensidade e qualidade absolutamente magnífica 
dos seus vinhos”, resume.
Na região de Trás-os-Montes, a previsão apontava para um decrés-
cimo na produção de 20% (118 mil hectolitros, mesmo assim 7% acima 
da média das cinco últimas campanhas), que resulta do facto da pro-
dução do ano anterior ter sido acima da média e também devido ao 
míldio, ao oídio e, neste último período, ao escaldão.
Bairrada, Dão e Beira Interior
A Bairrada apontava para um aumento de produção de 10% (175 mil 
hectolitros), mesmo que as “condições climatéricas com temperaturas 
elevadas, precipitação durante vários dias e as recentes humidades 
matinais” tenham sido favoráveis ao desenvolvimento de pontuais 
focos de míldio. A vindima para base espumante decorreu, na generali-
dade das casas, na primeira semana de agosto, o que corresponde a uma 
antecipação de 10 dias face a 2019. Foi o caso de Carlos Campolargo, 
que iniciou a vindima a 6 de agosto, mostrando-se “satisfeito” com a 
qualidade e a acidez das uvas para vinho base. No cômputo geral, com 
a vindima concluída na penúltima semana de setembro, verificou-se 
uma forte quebra quantitativa, em que “as maturações foram afetadas 
pelas condições atmosféricas”, pelo que “a expetativa não é grande, 
mas em todos os anos, mesmo os mais difíceis, há bons vinhos”, asse-
gura.
Osvaldo Amado regista na Bairrada uma quebra na ordem dos 15 a 
20%. O inverno foi “tido como normal, com boa reposição dos níveis 
hídricos. Seguiu-se uma primavera chuvosa, o que requereu atenção 
redobrada em termos fitossanitários. O verão foi quente e seco, o que 
veio a determinar uma antecipação da época de vindima”, concluiu 
Osvaldo. Resumindo, e numa primeira análise, “tudo leva a crer que 
o ano de 2020 será de boa memória”, antecipa. “Os brancos e tintos 
mostram maturação fenólica e alcoólica de qualidade, o que nos leva a 
pensar que este será um ano de excelência”. Quanto às castas Arinto, 
Bical e Maria Gomes “regista-se um equilíbrio quase perfeito”, com 
teores alcoólicos na ordem dos 12 a 13% de volume, com uma acidez 
total e pH bem equilibrados. Quanto à casta Baga, “tirando algumas 
zonas da Bairrada onde foi notória a desidratação, tudo o resto aponta 
para ser um excelente ano” desta “casta identitária desta região”, com 
“distinta maturação e excelente equi-
líbrio”.
Por sua vez, no Dão era antecipada 
uma descida na produção de 20% 
(206 mil hectolitros) resultante de geadas tardias e de ataques de 
míldio que ocorreram em algumas zonas da região. Segundo Beatriz 
Cabral de Almeida, enóloga da Quinta de Carvalhais, “o ano climático 
que passou registou características típicas do Dão, com chuva e frio no 
inverno e calor no verão”. De realçar, contudo, “as geadas em alguns 
dias de inverno que fizeram com que algumas plantas vissem a sua 
produção ameaçada. O verão foi quente e seco, com uma boa chuvada 
a cair em meados de agosto, permitindo às videiras, com sede, adiantar 
a maturação das suas uvas”. 
Com a vindima a decorrer e início de três dias de chuvas a 18 de 
setembro, “a quantidade de uva que foi vindimada tanto na Quinta dos 
Carvalhais como a que foi entregue pelos viticultores com quem traba-
lhamos, foi menor do que estávamos à espera”. Contudo, “a qualidade 
nunca esteve em causa! As uvas chegaram à adega com um aspeto 
muito são, com boa fruta e frescura. A colheita de uva na Quinta dos 
Carvalhais está já a terminar, sendo que estamos a vindimar apenas 
25ha dos 50ha de área total de vinha da propriedade – metade da 
vinha foi replantada depois dos incêndios de 2017. Neste contexto, e 
apesar de ser menor do que o que esperávamos, a quantidade está ali-
nhada com as necessidades identificadas”.
A vindima em Carvalhais

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