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Desafios conceituais, teóricos e metodológicos para a pesquisa com família

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Thaynara da Cruz Campos - 102270271
Quais são os desafios conceituais, teóricos e metodológicos para a pesquisa em família?
O estudo da unidade familiar perpassou inúmeros caminhos e metodologias ao longo dos anos, devido ao crescente número de pesquisas focados neste contexto e a complexidade de se estudar todas as variáveis envolvidas. Em uma breve contextualização histórica, Dessen (2010) descreveu que as famílias brasileiras nas décadas de 50 e 60 eram chamadas de nuclear, uma vez que a hierarquização das relações familiares era clara e bem definida pelo gênero, assim como as tarefas de cada membro. O pai era detentor do poder e ordem da instituição familiar, e o outros indivíduos o obedeciam. Ao longo dos anos, essa configuração foi se modificando, por exemplo, pelo fato das famílias passarem a ter um número reduzido de filhos e o advento da participação social da mulher, no final da década de 60, que provocou importantes revoluções tanto nas sociedades, como na divisão de afazeres dentro do ambiente doméstico. 
Já nas décadas de 70 e 80, os estudos cujo o objeto de pesquisa eram as relações familiares já apontavam a existência de relações mais igualitárias entre cônjuges e entre a díade pais-filhos (Dessen & Torres, 2002). Foi nessa época também que novas configurações familiares ganhavam espaço na sociedade, como os casais sem filhos, uniões consensuais, monoparentais, canguru, recasadas, homossexuais, entre outras (Dessen & Braz, 2005). 
Tais transformações apontaram para impactos não somente no núcleo familiar, mas também na necessidade da construção de uma rede de apoio social, que serviria como suporte, como por exemplo, para as mães que lidavam com dupla jornada de trabalho. Diante de todo o panorama apresentado, destaca-se que devido à complexidade das relações familiares, os estudos nessa área enfrentam algumas dificuldades nos quesitos conceituais, teórico e metodológicos. 
No que tange ao aspecto conceitual, muitas são as questões que emergem em relação ao microssistema familiar. Primeiramente, há muitas conceituações diferentes sobre o que é família e o que significa cada unidade familiar (Dessen, 2010). Além disso, Parke (2004) também traz apontamentos sobre como os membros familiares se influenciam direta e indiretamente e qual a importância do estudo dos subsistemas, tais como conjugal e fraternal, para as pesquisas. 
Os diversos arranjos familiares da sociedade contemporânea contribuem para que cada vez mais questões quanto as definições de conceitos básicos suscitem. Tais questões vão impactar diretamente na escolha da abordagem teórica e metodológica mais adequadas para as investigações da unidade familiar e seus impactos. Um fator que tem sido muito relevante nas pesquisas atuais se refere a configuração das famílias com filhos com deficiência intelectual, que passa por mudanças na sua dinâmica, e, portanto, devem ser investigadas de acordo com seus aspectos (Crnic, Arbona, Baker & Blacher, 2009).
Na tentativa de organizar os diversos modelos de composição familiar e propor um conceito abrangente, Petzold (1996) sugeriu a existência de 196 tipos de famílias que são moldadas através de uma perspectiva da teoria bioecológica de Bronfenbrenner (1996) e a partir de uma definição ecopsicológica postulou que esse microssistema se refere a um grupo social especial alicerçado nas suas relações íntimas e intergeracionais de seus membros.
Quanto às questões teóricas, a importância das famílias e dos recentes estudos da área surgem da função dessa unidade em ser o primeiro sistema composto por um padrão de atividades, papéis e relações no qual a pessoa em desenvolvimento é inserida (Da Silva, Nunes, Betti e Rios, 2008). Por isso, os modelos teóricos que são empregados na pesquisa da unidade familiar precisam contemplar não somente os membros e o contexto, mas também todas as outras variáveis, sejam elas de risco e/ou proteção, que impactam nas relações e no desenvolvimento dos indivíduos.
Para tanto, Parke (2004) destaca que as teorias devem considerar a mudança dos modelos familiares, de unidirecionais para transacionais, que pressupõe que a causalidade do desenvolvimento dos membros e das suas relações são bidirecionais, bem como se atentar para o fato de que a família, como um microssistema, está inserida em um contexto complexo, que inclui sistemas de apoio e culturas, sofrendo influências extrafamiliares. Ademais, reconhecer a importância de se estudar os membros da família de acordo com sua etapa de desenvolvimento e nas mudanças ocasionadas por esse processo, implica em reconhecer a abordagem teórica mais adequada. 
Kreppner (2003) afirma que uma nova perspectiva de estudo da complexidade da unidade familiar envolve novos conceitos advindos da teoria sistêmica e teoria da informação, em conjunto com antigos pressupostos de abordagens já existentes. Em um estudo posterior, Kreppner (2005) aponta quatro pressupostos que devem ser levados em consideração no momento da escolha teórica, a saber: a família é caracterizada por uma estrutura específica que influencia no relacionamento dos seus membros, por isso a importância de estudos para além do foco da maternidade e que priorizem o papel do pai (Azevedo, Cia & Spinazola, 2019); as interações familiares são reguladas por uma organização dinâmica; a família está sempre em busca de encontrar seu equilíbrio interno; e por fim, a regulação dessa unidade se dá a partir de feedbacks dos seus membros. 
Quanto aos aspectos metodológicos, os mesmos deverão estar em consonância com a abordagem teórica pretendida. No caso do estudo familiar, pode-se destacar a Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner, o Modelo Sistêmico de Minuchin e a Abordagem Sistêmica. Nessa questão, os métodos empregados devem ter como objetivo contemplar, da melhor maneira possível diante das adversidades de um estudo da unidade familiar – principalmente quando este é realizado em ambiente doméstico –, os objetivos da pesquisa. Rooke e Pereira-Silva (2019) sugerem a adoção de uma perspectiva multimetodológica em pesquisas cujo o objeto de investigação sejam alguns constructos específicos, como por exemplo, a resiliência familiar.
De uma maneira geral, Kreppner (2003) pontua que o enfoque da pesquisa familiar deve priorizar o estudo da interconexão entre família, cultura e desenvolvimento, assim como as diferentes facetas do funcionamento familiar e a interação dos subsistemas. Além disso, deve-se atentar também para as mudanças ocorridas ao longo do tempo, que revelam informações importantes a respeito desse contexto.
Numa tentava de superar os desafios envolvidos nesse tipo de pesquisa, os pesquisadores devem se adequar quanto aos aspectos conceituais, teóricos e metodológicos, sempre buscando analisar as relações familiares a partir de uma perspectiva qualitativa, lançando mão do método observacional, que pode dar ênfase para além dos aspectos verbais que são considerados. Porém, ainda sendo um recurso muito valioso, a observação pode apresentar dados enviesados, uma vez que a família, frente ao observador ou recursos de gravação, pode apresentar comportamentos que eles imaginam ser esperados. Além disso, o pesquisador deve se planejar, de acordo com a dinâmica familiar, ao escolher os momentos nos quais fará essa observação, dando prioridade para os contextos que já ocorrem rotineiramente. 
Ademais, é importante que a pesquisa entenda a família como unidade mutável, adaptável, produtora de significados e de importante manutenção e transmissão de cultura, portanto torna-se imprescindível que esta esteja contextualizada de acordo com a sociedade na qual ela se encontra e que mais estudos, em que seja possível a utilização de metodologias longitudinais e com um número mais de amostras, sejam realizados. Quanto mais representativa a amostra, melhor poderão ser analisados os subsistemas familiares, que como já supracitado, afetam reciprocamente na unidade familiar e no desenvolvimento dos seus membros, logo, quanto mais ênfase for dada as relações conjugais, fraternais, paternais,mais informações poderão ser obtidas para entendimento desse complexo sistema. Em conjunto com os critérios apontados acima, Pereira-Silva, Dessen e Barbosa (2015) ressaltam a importância da combinação de instrumentos quantitativos e qualitativos, a fim de contemplar a complexidade dos relacionamentos familiares, evidenciando resultados que possam refletir aspectos objetivos e subjetivos, respectivamente. 
Por fim, contextualizando com a minha área de pesquisa, o estudo da dinâmica familiar de famílias com crianças com deficiência intelectual torna-se de extrema importância, uma vez que ambos os aspectos estão intimamente relacionados, influenciando-se mutuamente (Pereira-Silva & Dessen, 2006). Portanto, o estudo de todos os aspectos, com ênfase em todos os subsistemas e na maneira como eles relacionam, podem trazer mais clareza de dados nessa área, quando empregadas as teorias e metodológicas mais adequadas a esse arranjo, como por exemplo, utilizando o recurso metodológico de comparação desses subsistemas entre si ou com famílias de crianças com desenvolvimento típico; ou observando a interação familiar dentro do ambiente doméstico.
REFERÊNCIAS
Azevedo, T. L., Cia, F., & Spinazola, C. C. (2019). Correlação entre o relacionamento conjugal, rotina familiar, suporte social, necessidades e qualidade de vida de pais e mães de crianças com deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial, 25, 205-218.
Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados (M. A.Veríssimo, trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1979).
Crnic, K. , Arbona, A.P., Baker, B. & Blacher, J. (2009). Mothers and fathers together: contrast in parenting across preschool to early school age in children with developmental delays. In L.M. Glidden, & M.M. Seltzer, International review of research in mental retardation: families, Vol. 37 (pp. 3-30). San Diego: Elsevier
Da Silva, N.C.B., Nunes, C.C., Betti, M.C.M. & Rios, K.S.A. (2008). Variáveis da família e seu impacto no desenvolvimento infantil. Temas em Psicologia, 16, 215-229.
Dessen, M.A. (2010). Estudando a família em desenvolvimento: desafios conceituais e teóricos. Psicologia: Ciência e Profissão, 30, 202-219.
Dessen, M.A. & Braz, M.P. (2005). A família e suas inter-relações com o desenvolvimento humano. Em M.A. Dessen & A.L. Costa Júnior (Eds.), A Ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 113-131). Porto Alegre: Artmed.
Dessen, M. A., & Torres, C. (2002). Family and socialization factors in Brazil: An overview. In W. J. Lonner, D. L. Dinnel, S. A. Hayes & D. N. Sattler (Eds.), On line readings in psychology and culture (Unit 13, Chapter 2). Bellingham, Washington: Western Washington University, Center for Cross-Cultural Research.
Kreppner, K. (2003). Social relations and affective developmen in the first two years in family contexts. In J. Valsiner & K. J. Connolly (Eds.), Handbook of developmental psychology (pp.194-214). Londres: Sage.
Kreppner, K. (2005). Family Assessment and Methodological Issues. European Journal of Psychological Assessment, 21, 249–254.
Parke, R. D. (2004). Development in the family. Annual Review Psychology, 55, 365-399.
Pereira-Silva, N., & Dessen, M. (2006). Famílias de crianças com síndrome de Down: sentimentos, modos de vida e estresse parental. Interação em Psicologia, 10(2).
Pereira-Silva, Nara Liana, Dessen, Maria Auxiliadora e Barbosa, Altemir José Gonçalves. Ajustamento Conjugal: Comparação entre Casais com e sem Filhos com Deficiência Intelectual. Psico-USF [online]. 2015, v. 20, n. 2.
Petzold, M. (1996). The psychological definition of “the family”. In M. Cusinato (Ed.), Petzold, M. (1996). The psychological definition of “the family”. In M. Cusinato (Ed.), Research on family: Resources and needs across the world (pp. 25-44). Milão: LED-Edicioni Universitarie.
Rooke, M.I. & Pereira-Silva, N.L. (2019). O estudo da resiliência no contexto familiar. In M.A. Dessen (Ed.), Família no Curso de Vida - Volume 1 - Compreendendo a Família e seus Desafios na Contemporaneidade (pp. 241-271).

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