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Psicoterapia Analítico Funcional - Criando relações intensas e curativas (livro capítulo 3)

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Suplementação 
Aumentando a capacidade do terapeuta para identificar CRB’s
O grande foco da FAP é na identificação de CRB’s. Mas nem sempre eles serão facilmente identificados pelo terapeuta, por isso nessa sessão serão mostrados alguns suplementos, ou seja, alguns acréscimos que possam ajudar nessa identificação. São as classificações de comportamento verbal, advinda dos estudos sobre comportamento verbal do skinner e as situações terapêuticas que evocam CRB’s.
A classificação estimula uma observação mais detalhada. 
Ex: uma menina que classifica insetos observa-os com mais cuidado, não apenas “bate os olhos”, mas aprende a contar as patas, descrever outras características etc. 
O mesmo pode ocorrer com os comportamentos clinicamente relevantes. Se aprendermos a classifica-los, somos incentivados a observa-los mais cuidadosamente.
· Descreve o tipo de afirmação do cliente (mando? Tato? Intraverbal?)
· Levanta a hipótese de que qualquer afirmação pode ser um CRB
Por exemplo:
T: Como foi sua semana?
C: A semana passada foi muito ruim, eu tomei uma multa de $ 108 [suspiro] por Licença vencida.
Nosso sistema de classificação verbal me levou a considerar que havia algo na resposta de Karen além do aparente à primeira vista. Baseado no meu conhecimento de Karen, algumas possibilidades me vieram à mente:
1. Ao receber a multa, ela foi pega em flagrante; talvez, seja assim que ela vê a terapia e por conseguinte, reage à mim como se estivesse com o policial.
2. Talvez ela esteja preocupada com o custo da terapia e o pagamento de suas contas.
3. Ela está obviamente aborrecida com a multa e talvez seu comentário realmente indicasse “por favor, ajude-me a me sentir melhor!”
4. Ela pode ter mencionado esse problema por não ter feito a tarefa de casa que eu lhe dei, e o fato de trazer o assunto da multa à tona pode ser um a maneira de evocar solidariedade ou desviar a atenção do assunto temido.
5. Talvez ela tenha visto um policial logo antes da sessão ou notado que havia uma passagem aérea sobre a mesa da recepcionista ao passar por lá.
Apesar de também estarmos falando de “causas ocultas”, não estamos nos referindo a um modo de atuar psicanalítico. Skinner já falava sobre isso no seu livro sobre Comportamento Verbal. 
Não dizemos que a “causa oculta” está no inconsciente, dentro do indivíduo, mas sim em seu ambiente circundante.
Quais são as implicações para a classificação de respostas do cliente na FAP?
Para desenvolver uma boa relação terapêutica que facilite o aparecimento de CRB’s em sessão, há algumas dicas:
1. Reforçar respostas do cliente que tenham relação com o que acontece em sessão;
2. Encorajar e reforçar comparações de eventos que ocorrem na vida cotidiana e também em sessão;
3. Encorajar desejos e pedidos diretos do cliente ao terapeuta;
4. Usar eventos da vida cotidiana do cliente como metáforas para descrever situações que ocorrem em sessão.
Como a FAP classifica as respostas do cliente então?
A FAP se baseia no Comportamento Verbal de Skinner para fazer essas classificações.
Classificando o Comportamento Verbal
Apesar de terem vários tipos de respostas verbais, vamos tomar como principais duas: tato e mando.
Tato: O tato está sob controle de estímulos discriminativos específicos e é reforçado por reforçadores generalizados.
Mando: O mando faz parte de uma demanda, pedido, uma necessidade do cliente. É seguido por um reforço particular.
Intraverbal: Comportamento Verbal controlado por outro Comportamento Verbal, muitas vezes automático, não pode ser classificado como tato por não estar sob controle de estímulos descriminativos.
 
A tarefa do terapeuta é também identificar se a fala do cliente é um fato, mando ou intraverbal.
Mando disfarçado: Não dá pra identificar um tato ou mando somente pela sua forma. Um “Está muito frio hoje” pode ser um tato (estar sob controle do clima) ou um pedido encoberto para que o ouvinte feche a porta ou desligue o ar condicionado.
“Eu vou me matar” pode ser um tato (estar sob controle da real vontade de suicídio) ou ser um pedido encoberto de ajuda, atenção e afins. Ou mesmo pode ser os dois.
Causas múltiplas: Às vezes o cliente pode emitir um comportamento verbal com múltiplas causas. Por exemplo, quando ele comenta em sessão que o dentista dele o deixou irritado, mas na verdade ele gostaria de dizer que está irritado com o terapeuta. É uma causa inconsciente no sentido de que a pessoa não tem consciência das causas que a levam a se comportar desse modo, mas as causas continuam ali afetando o que ela escolhe falar em terapia. Mas não nos referimos a mecanismos internos inconscientes para falar sobre isso, nos referimos a variáveis sutis. 
Por exemplo, se o cliente está falando sobre um a relação de amizade, quais elementos da relação terapêutica estão presentes também na relação exterior e que podem ser responsáveis por ele mencionar o assunto neste momento? Se o cliente descreve seus sentimentos em relação a outra pessoa, pode-se aventar a hipótese de que há similaridade com o que ele sente por você. Se o cliente descreve um evento ocorrido na semana, o que poderia haver em comum entre a relação terapêutica e o fato? Usar o sistema de classificação da FAP ajudará a criar hipóteses sobre as variáveis sutis que podem influenciar os comentários do cliente. Levantada a hipótese, outras informações podem ser coletadas para ajudar em sua legitimação ou rejeição.
Exemplos de como a Classificação pode ajudar na identificação dos CRB’s:
· Alguns clientes não se observam e nem descrevem seus sentimentos e isso pode prejudicar suas relações. Quando você pede para o cliente associar sua vida com a sessão está ajudando na emissão de possíveis CRB’s, uma vez que ele terá que se observar, descrever e fazer relações. 4.Classificar as respostas do cliente leva o terapeuta a um melhor contato com o contexto total do comportamento do cliente. Ao invés de aceitar os comentários do cliente ao pé da letra, o sistema de classificação pode ajudar o terapeuta a ver as respostas como resultado de variáveis óbvias e sutis que refletem a história do cliente, bem como os efeitos da relação terapeuta-cliente. Enxergar esse “quadro maior” aumenta a sensibilidade ao CRB e ao papel do reforçamento nas sessões.
Situações terapêuticas que podem evocar CRB’s:
• O tempo da sessão
• Férias do terapeuta 
• Encerramento
• Contas
• Erros do terapeuta
• Silêncios 
• Expressão de afeto
• Sentir-se bem, estar bem
• Feedback positivo e demonstração de afeto do terapeuta
• Características do terapeuta 
• Eventos incomuns: Alguns exemplos desses eventos idiossincráticos podem ser. encontrar o terapeuta com outra pessoa fora do consultório; a terapeuta engravidar, quebrar um a perna, ou ter que viajar por causa de um a emergência na família. Eles podem servir como estímulos aversivos muito fortes que provocam comportamentos tais como sentimentos intensos de posse, rivalidade, dependência, desamparo e mortalidade.
• Sentimentos do próprio terapeuta em relação ao cliente
Em resumo, as situações terapêuticas que foram analisadas são representativas das diversas maneiras pelas quais os estímulos associados à terapia podem evocar CRB no cliente. O sistema de classificação do comportamento verbal apresentado na primeira parte deste capítulo pode ajudar a aumentar a consciência do CRB através da focalização da atenção do terapeuta nas causas sutis das verbalizações do cliente. As auto-observações dos clientes no aqui e agora, e também suas comparações dos eventos na terapia com a vida cotidiana, são descrições que podem ajudar na generalização dos ganhos obtidos na terapia.

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