Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 marc 8 – asma OBJETIVO: DISCORRER SOBRE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E TRATAMENTO DA ASMA E DA EXACERBAÇÃO ASMÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES. DEFINIÇÃO - A asma é caracterizada por um tipo especial de inflamação crônica nas vias aéreas inferiores, de etiologia desconhecida, que predispõe a surtos de broncoespasmo reversível, acompanhados de manifestações clínicas estereotipadas (dispneia, sibilos, tosse e aperto no peito). Na ausência de tratamento adequado, pode ocorrer remodelamento brônquico, levando à perda irreversível da função pulmonar. - A asma é uma doença crônica das vias aéreas inferiores, de etiologia desconhecida, e com presença de várias células e elementos celulares. É caracterizada pela inflamação crônica e hiper-reatividade brônquica, além de episódios recorrentes de obstrução generalizada das vias aéreas – que se reverte espontaneamente ou com tratamento. - Na asma ocorrem episódios de obstrução REVERSÍVEL ao fluxo expiratório, os quais variam sua frequência e intensidade de forma espontânea ou em resposta ao tratamento, justificando manifestações clínicas como dispneia, sibilos, tosse e sensação de “aperto no peito”. - Os pacientes podem ser completamente assintomáticos nos intervalos entre as crises, ou podem apresentar sintomas residuais contínuos. O conceito mais importante acerca dessa doença – e que revolucionou sua terapia – é o entendimento de que existe inflamação crônica nas vias aéreas inferiores, mesmo quando o paciente se encontra assintomático. - Trata-se de um tipo especial de inflamação que, por mecanismos ainda pouco compreendidos, gera hipersensibilidade a diferentes tipos de estímulo, os quais desencadeiam broncoespasmo. O processo inflamatório se localiza na parede de toda a árvore traqueobrônquica, predominando nos brônquios de médio e pequeno calibre, mas sem atingir os alvéolos, isto é, não afeta o parênquima pulmonar propriamente dito. - Nos pacientes que não recebem tratamento adequado, a persistência desse processo inflamatório crônico e da resposta regenerativa que o acompanha leva ao fenômeno de remodelamento brônquico, que resulta em alterações estruturais irreversíveis (estreitamento luminal por fibrose, hipertrofia/hiperplasia da camada muscular e das glândulas submucosas, que passam a hipersecretar muco). Como consequência, nestes casos, se estabelece um componente de obstrução FIXA ao fluxo aéreo, tal como na DPOC, e o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes pioram. - Não sabemos ao certo o que causa a asma, mas as evidências indicam que diferentes mecanismos etiopatogênicos podem ser operantes, ou seja, trata-se de uma condição heterogênea. - Doença devia aérea, afeta brônquios e bronquíolos, mas o parênquima pulmonar não é afetado, tendo RX e tomografia normais. EPIDEMIOLOGIA - A asma é uma das doenças crônicas mais comuns, afetando 1-18% da população em diferentes países. Estima-se que existam cerca de 300 milhões de asmáticos no mundo, com algo em torno de 250 mil óbitos anuais pela doença. No Brasil, provavelmente mais de 20 milhões de pessoas têm asma. - Apesar de poder se iniciar em qualquer idade (incluindo idosos), o pico de incidência se dá aos três anos de vida. Na infância, a asma é mais frequente em meninos, porém, em adultos, a prevalência acaba se igualando entre os sexos. É muito comum que a doença desapareça espontaneamente na adolescência, passando anos sem incomodar o indivíduo, para depois retornar na idade adulta, quando, em geral, persiste até o fim da vida. - A prevalência de atopia (uma síndrome idiopática de predisposição às doenças alérgicas) segue o mesmo padrão epidemiológico. De fato, a maioria dos asmáticos é atópica, apresentando a chamada "asma alérgica". - Os principais deflagradores de sintomas nesses pacientes são aeroalérgenos oriundos dos ácaros encontrados na poeira domiciliar (Dermatophagoides pteronyssinus), bem como pólens de plantas e pelos de animais de estimação (cães e principalmente gatos). Às vezes, o alérgeno é uma substância a qual o paciente é exposto apenas no ambiente de trabalho (asma ocupacional). FATORES DE RISCO Atopia - Principal fator de risco, a atopia é uma síndrome que torna o sistema imune propenso à síntese de imunoglobulinas da classe IgE após exposição a certos tipos de antígeno (chamados de alérgenos). Em geral, os alérgenos são proteases não humanas. Tal processo é denominado "sensibilização alérgica", e as IgE sintetizadas ficam ligadas à superfície de mastócitos na mucosa da via aérea, promovendo degranulação imediata dessas células (com liberação de substâncias broncoconstrictoras) caso o indivíduo entre em contato com o alérgeno novamente. - Mais de 80% dos asmáticos são atópicos, porém nem todos os atópicos têm asma, o que significa que fatores adicionais são necessários para o desenvolvimento de asma em portadores de atopia. Genética - A concordância entre gêmeos e a agregação familiar da doença corroboram a importância de fatores hereditários. Estes, no entanto, ainda não foram elucidados, mas tudo indica que a predisposição à doença é poligênica e que conjuntos diferentes de genes podem produzi-la. - A maioria dos genes já identificados se relaciona ao favorecimento da resposta imune Th2, que é a mesma observada na atopia. - O recente aumento na prevalência de asma indica que apenas a predisposição genética não basta: é preciso uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais para o surgimento da doença. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Alérgenos - Além de precipitarem as crises, os aeroalérgenos também podem participar da gênese da doença, principalmente em se tratando de crianças com exposição precoce aos ácaros presentes na poeira de residências acarpetadas, como é comum em países do hemisfério norte. Ocupação - Mais de 300 substâncias cuja exposição geralmente se dá no ambiente de trabalho já foram incriminadas pela "asma ocupacional", que acontece de maneira independente da presença de atopia e melhora com o afastamento das atividades laborativas. Obesidade - Há clara associação entre aumento do IMC (> 30 kg/m2 ) e asma. Fatores mecânicos podem estar envolvidos, assim como fatores metabólicos. A exata etiopatogênese, entretanto, é desconhecida. - Possíveis Fatores de Risco para Asma (controversos): Infecções, dietas deficientes em vitaminas C, D e E, selênio, magnésio e ácidos graxos ômega 3 (óleo de peixe), bem como dietas ricas em sódio e gorduras saturadas, poluição, idade materna muito jovem, baixo peso ao nascer, prematuridade, não realização do aleitamento materno e uso de paracetamol (acetaminofeno) na infância. FATORES DESENCADEANTES DAS CRISES - Diversos fatores podem precipitar crises de broncoespasmo em asmáticos, mas não em pessoas normais. Antigamente recomendava-se que o contato com tais fatores fosse evitado a todo custo, porém, hoje sabemos que muitas vezes isso é impossível. - A ocorrência de crises deve ser encarada como um sinal de mau controle da doença, indicando a necessidade de intensificar a terapia controladora. - Pacientes cuja asma encontra-se bem controlada conseguem permanecer livres de sintomas mesmo quando em contato com desencadeantes. Alérgenos - A presença de certos organismos no ambiente (de forma perene ou sazonal) faz com que alérgenos derivados deles fiquem em suspensão no ar, podendo ser inalados. - Os principais exemplos são ácaros, pólens, pelos de animais, baratas e fungos. Substâncias químicas (ex.: perfumes, produtos de limpeza) também podem exercer o mesmo efeito. - É interessante salientar que os pólens, pelo seu maior tamanho, costumam induzir crises de rinite alérgica, e não de asma (pois são "retidos"na mucosa da via aérea superior). No entanto, durante as tempestades de raios, os pólens podem ser pulverizados em diminutas partículas que chegam até as vias aéreas inferiores, causando crises sazonais gravíssimas de asma. Infecções Virais - As células da mucosa respiratória dos asmáticos secretam menos interferon, o que as torna mais suscetíveis às infecções virais. - Nestes indivíduos, diversos vírus que causam resfriado comum, como Rhinovirus, Coronavirus e o próprio vírus do sincício respiratório invadem não apenas o epitélio das vias aéreas superiores, mas também das inferiores. - Por mecanismos pouco compreendidos (provavelmente relacionados a uma exacerbação aguda do processo inflamatório crônico), isso desencadeia a resposta broncoconstrictora. Acredita- se que as IVAS (Infeções de Vias Aéreas Superiores) representem a principal etiologia de crise asmática. Fármacos - Várias drogas podem desencadear broncoespasmo em asmáticos. As principais são os betabloqueadores e o AAS. Mesmo os betabloqueadores seletivos para o receptor β1 e as preparações tópicas (ex.: colírio de timolol) podem causar sintomas em alguns doentes. - O mecanismo parece ser o desequilíbrio entre os sistemas adrenérgico (broncodilatador) e colinérgico (broncoconstrictor). No caso do AAS (e às vezes outros AINEs) o mecanismo é incerto, mas parece envolver um desvio na metabolização do ácido araquidônico que deixa de ser transformado em prostaglandinas devido ao bloqueio da ciclo-oxigenase tipo 1 (COX-1), sendo então aproveitado pelas lipo-oxigenases para a síntese de leucotrienos. - Os IECA, apesar de aumentarem os níveis de bradicinina (substância broncoconstrictora), não costumam desencadear crises de asma. A tosse por IECA, inclusive, não é mais frequente em asmáticos do que em outros pacientes. ATENÇÃO: betabloqueadores, AAS e AINEs não têm contraindicação absoluta em todos os asmáticos. Deve-se avaliar cada caso individualmente. Pacientes com história de piora dos sintomas após o uso dessas medicações sem dúvida devem evitá- las, porém, muitos asmáticos conseguem tomar essas drogas sem problemas. Exercícios Físicos - A hiperventilação associada ao exercício, principalmente quando o clima está seco e frio, desidrata a camada líquida na superfície da mucosa respiratória, aumentando sua osmolaridade. A hipertonicidade resultante estimula a degranulação dos mastócitos, especialmente aqueles que têm IgE ligada em sua superfície. - Excesso de riso e choro (que em crianças pequenas “equivalem” a fazer exercício), bem como mudanças climáticas abruptas, também podem produzir o mesmo efeito. Dieta - Alguns aditivos presentes nos alimentos industrializados podem desencadear crises de asma, como o metabissulfito (conservante), que libera dióxido de enxofre ao ser metabolizado no estômago. Este gás acaba sendo inalado pelo paciente, causando efeito irritativo sobre a via aérea. Poluição - Dióxido de enxofre ou nitrogênio, ozônio, material orgânico particulado: diversos aeropoluentes comuns nos grandes centros urbanos são desencadeantes bem estabelecidos das crises asmáticas. O mecanismo é o efeito irritativo direto da mucosa brônquica. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Hormônios - Algumas mulheres fazem crises de asma, geralmente graves, no período pré-menstrual (asma catamenial), o que parece estar relacionado à queda dos níveis de progesterona, tanto que essas crises podem melhorar com a reposição de altas doses de progesterona. Disfunção tireoidiana (tanto hipo quanto hipertireoidismo) também pode agravar a asma, mas o mecanismo é desconhecido. DRGE - A DRGE é mais frequente em asmáticos, já que as drogas broncodilatadoras relaxam o esfíncter esofagiano inferior aumentando os episódios de refluxo. No entanto, esses episódios não costumam ter relação direta com os sintomas da asma, e mesmo o tratamento agressivo da DRGE (ex.: cirurgia) por si só não melhora o controle da asma. Estresse - Fatores emocionais se relacionam com as crises em alguns pacientes. O contrário, no entanto, eventualmente é observado: grandes estresses, como o luto, podem transitoriamente melhorar os sintomas asmáticos. FISIOPATOLOGIA - A principal alteração patológica da asma é a existência de um processo inflamatório crônico nas vias aéreas inferiores. Trata-se de um tipo especial de inflamação, marcado pela infiltração mucosa principalmente por linfócitos Th2, eosinófilos e mastócitos. - A intensidade da infiltração celular não possui correlação direta com a gravidade da doença, porém, tanto as alterações patológicas quanto os sinais e sintomas clínicos melhoram com o uso de corticoide inalatório. - Apesar de seus exatos mecanismos ainda não terem sido totalmente esclarecidos, sabe-se que esse tipo de processo inflamatório crônico se relaciona com a hiper-reatividade brônquica que caracteriza a asma. - Existe neoangiogênese e vasodilatação na parede brônquica, com aumento da permeabilidade capilar e eritema/ edema local. Há também hipertrofia e hiperplasia das células caliciformes (secretoras de mucoproteínas), das glândulas submucosas e da camada muscular lisa. - Este conjunto de modificações anatômicas contribui para o estreitamento progressivo e irreversível da via aérea nos pacientes que não recebem tratamento anti-inflamatório adequado. - A principal alteração fisiopatológica da asma é a obstrução variável e reversível ao fluxo aéreo, que ocorre de forma predominante na fase EXPIRATÓRIA da respiração. Isso acontece principalmente devido ao broncoespasmo (contração da musculatura lisa brônquica), mas também em consequência ao edema da mucosa e à hipersecreção de muco no lúmen da via aérea. - O parâmetro espirométrico mais afetado é o Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (VEF1), que diminui subitamente. A relação VEF1/CVF (Índice de Tiffenau) se reduz, atingindo a faixa dos distúrbios obstrutivos da ventilação (< 0.75-0.80 em adultos ou < 0.90 em crianças). - A resistência das vias aéreas aumenta, e pode ocorrer hiperinsuflação pulmonar (aprisionamento aéreo), com aumento do volume residual pulmonar. A pletismografia evidencia estas últimas alterações. - Raramente a crise asmática causa insuficiência respiratória aguda. A gasometria arterial do paciente costuma mostrar apenas HIPOCAPNIA, isto é, queda da pCO2, devido à hiperventilação alveolar (alcalose respiratória aguda). Esta alteração é naturalmente esperada em qualquer paciente taquipneico. Por outro lado, se houver normo ou mesmo hipercapnia (pCO2 normal ou aumentada, respectivamente), temos um importante sinal ominoso, indicando que o paciente está entrando num processo de fadiga progressiva da musculatura respiratória, devendo ser intubado e colocado em prótese ventilatória. - A fadiga tende a aparecer de forma mais precoce nas crianças asmáticas com menos de dois anos de idade. - Nas crises muito graves, especialmente aquelas que afetam as pequenas vias aéreas periféricas e comprometem a ventilação alveolar, ocorre HIPOXEMIA. O mecanismo é o desequilíbrio entre ventilação e perfusão (distúrbio V/Q), isto é, o parênquima pulmonar (alvéolos) não recebe ventilação, mas continua sendo perfundido. Assim, o sangue passa pela circulação pulmonar sem ser adequadamente oxigenado, gerando queda da pO2 e da SpO2. QUADRO CLÍNICO - Dispneia + tosse + sibilância. Pode apresentar opressão e desconforto torácico, não dor. - Em período entre as crises, o paciente pode estar assintomático ou oligossintomático, além de ter um exame físico normal. - Já a crise de asma em si pode ser desencadeada, dentre outros, pelo contato com alérgeno, substâncias irritantes, prática de exercício, infecções de vias aéreas, ingestão de ácido acetilsalicílico, mudanças de temperatura, exposições ocupacionaise até mesmo não ter um fator desencadeante identificável. - Ocorrem com mais frequência à noite e pela manhã e melhoram espontaneamente ou com uso de medicamento (corticoides e broncodilatadores). - Os sintomas clássicos incluem: dispneia, tosse, sibilância e sensação de opressão torácica. Como o quadro clínico pode ser muito variável, um ou outro sintoma podem estar ausentes. - Ao exame físico, características comuns são a taquipneia (frequentemente entre 25ipm e 40ipm), taquicardia e pulso paradoxal (queda exagerada da PAS durante a inspiração). A magnitude do pulso se correlaciona com a gravidade da crise. À oximetria de pulso, comumente a saturação se encontra próxima dos 90%. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Ao exame do tórax, encontramos uso da musculatura acessória, hiper-insuflação torácica, fase expiratória prolongada, hipertimpanismo à percussão, frêmito toraco-vocal diminuído ou normal e presença de sibilos à ausculta. Os sibilos costumam ser difusos e polifônicos, sendo que sua ausência constitui sinal de gravidade, indicando obstrução grave das vias aéreas. - Os achados relacionados a crises graves incluem: ansiedade, sudorese, tiragem intercostal ou supraesternal, inquietação, pulso paradoxal, alteração do nível de consciência e “tórax silencioso”. MANEJO DE ADULTOS, ADOLESCENTES E CRIANÇAS > 5 ANOS DIAGNÓSTICO - A confirmação do diagnóstico de asma em pacientes com idade ≥ 6 anos envolve o reconhecimento clínico de um padrão sintomático compatível com a doença ASSOCIADO à demonstração objetiva de obstrução variável e reversível ao fluxo expiratório. - A quantificação da obstrução reversível ao fluxo aéreo REQUER a realização de exames complementares. - Os dois primeiros métodos idealmente devem ser realizados no início da manhã, e podem ser repetidos na vigência de sintomas. - Já a broncoprovocação é reservada aos pacientes que se encontram momentaneamente assintomáticos e com espirometria normal, mas têm forte suspeita diagnóstica em função de uma história clínica sugestiva. Vale ressaltar que este teste só costuma ser realizado em adultos. - Na prova broncodilatadora, ministra-se um agonista β2 - adrenérgico inalatório de curta ação (ex.: salbutamol), medindo-se o VEF1 10-15 minutos depois. Se o paciente já estiver em uso de agonistas β2 -adrenérgicos deve-se suspender a medicação pelo menos 4h antes (no caso dos agentes de curta ação) ou 12h antes (no caso dos agentes de longa ação). - Para cálculo da variação diária média do PFE deve-se medir o PFE duas vezes ao dia (manhã e noite), aplicando a seguinte fórmula: [PFEmáximo - PFEmínimo]/média dos dois valores x 100. Faz-se isso diariamente, e em seguida realiza-se uma média ponderada de todos os valores obtidos ao longo de 1-2 semanas. Recomenda-se que o mesmo fluxômetro portátil seja utilizado, haja vista que aparelhos diferentes podem fornecer valores significativamente discrepantes (diferenças de até 20% no PFE, se for maior que 20% corrobora o diagnóstico de asma). - Espirometria pós broncodilatador em que o VEF1melhora é praticamente diagnóstico de asma (melhora 7% e 200ml). - Quanto maior a variação do VEF1 ou do PFE, maior a confiabilidade do diagnóstico de asma. - A espirometria é o método de escolha para diagnóstico, devendo ser realizada sempre que possível. Contudo, dado seu maior custo e menor disponibilidade, a OMS recomenda que sistemas de saúde com poucos recursos financeiros priorizem o uso de fluxômetros portáteis para diagnóstico e acompanhamento da asma. - Durante infecções virais e exacerbações graves, a reversibilidade do broncoespasmo pode ser temporariamente perdida, dando resultados "falso-negativos" nos testes respiratórios para asma. Nesta situação, se a suspeita clínica de asma for razoável, pode-se instituir o tratamento da crise com glicocorticoide sistêmico e demais medidas cabíveis (ver adiante) repetindo- -se os testes respiratórios após 1-2 semanas. Se for mesmo asma, a prova broncodilatadora voltará a ser positiva, e o diagnóstico poderá ser definitivamente confirmado. - Teses alérgicos não são obrigatórios. Os testes cutâneos (prick tests) e a dosagem plasmática de IgE total e IgE's específicas para alérgenos comuns são sensíveis e específicos para o diagnóstico de alergia, no entanto, não confirmam, isoladamente, o diagnóstico de asma. A asma pode ser não alérgica. - A comprovação de que o paciente é alérgico à determinada substância pode vir a ser útil: uma anamnese cuidadosa ajuda a estabelecer um vínculo entre exposição ao alérgeno e ocorrência de sintomas respiratórios. Nos casos positivos, sempre que viável, uma estratégia de evitação do alérgeno deve ser recomendada. A decisão de pedir ou não exames para alergia, por conseguinte, deve se basear na suspeita clínica individual. - Métodos radiográficos, como raio X e TC de tórax, costumam ser normais na asma, e também não são capazes de confirmar o diagnóstico da doença. No entanto, podemos solicitá-los caso se suspeite de complicações como pneumotórax, pneumonia ou infiltrados eosinofílicos nos portadores de aspergilose broncopulmonar alérgica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Uma boa anamnese, seguida de exame físico minucioso, em geral, permite o reconhecimento das principais condições que mimetizam a asma. - Nas obstruções de via aérea alta o paciente apresenta estridor, um sinal semiológico mais audível na região cervical lateral e cujas características sonoras são mais intensas na fase inspiratória (no broncoespasmo os sibilos são difusos pelos campos pulmonares e predominantemente expiratórios, acompanhados de aumento do tempo expiratório). - Sibilos localizados sugerem aspiração de corpo estranho ou tumor endobrônquico (em crianças e idosos, respectivamente). A broncoscopia auxilia no diagnóstico de todas essas situações. Todos os diagnósticos diferenciais da asma podem COEXISTIR com a asma. Logo, a fim de afastar em definitivo a presença desta 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 doença, é preciso realizar testes de função pulmonar, de preferência espirometria com prova broncodilatadora. AVALIAÇÃO DA ASMA - Dois domínios diferentes, porém inter-relacionados, devem sempre ser avaliados em todo portador de asma: (1) Grau de controle dos sintomas; (2) Risco de eventos adversos futuros. - A conduta terapêutica inicial será traçada de acordo com esta avaliação, e a cada novo encontro com o paciente os dois domínios precisam ser sistematicamente revistos, de modo que a estratégia em curso seja ajustada (manutenção, aumento ou diminuição na intensidade do tratamento, dependendo da resposta obtida). - Para avaliar o grau de controle dos sintomas, fazemos quatro perguntas simples. GINA Symptom Control Tool (GINA = Global Initiative for Asthma). (* Exclui o uso inalatório de agonista β2 -adrenérgico de curta ação como profilaxia do broncoespasmo induzido por exercício.) - Para avaliar o risco de eventos adversos futuros precisamos da espirometria (quantificação do VEF1). Recomenda-se que, sempre que possível, uma espirometria seja feita antes do início do tratamento (no momento do diagnóstico), repetindo-a após 3-6 meses de tratamento de controle e periodicamente a partir daí. - Essa periodicidade pode variar de acordo com a necessidade clínica, porém, de um modo geral, todos os asmáticos devem repetir a espirometria no mínimo a cada 1-2 anos. Outros exames, se disponíveis, também podem ajudar a avaliar riscos futuros. - O principal fator de risco para exacerbações é estar com a asma não controlada. Outros fatores, independentes do grau de controle (aumentam o risco mesmo no paciente com sintomas controlados), são: - A classificação de GRAVIDADE da asma é feita de forma retrospectiva, quer dizer, ela só pode ser estabelecida apóso paciente estar com a doença sob controle utilizando a menor dose efetiva do tratamento de manutenção. - A gravidade da asma é definida pela INTENSIDADE do tratamento necessário para manter a doença sob controle. Assim, antes de julgar a gravidade da asma, certifique-se de que todas as medidas necessárias para um adequado controle da doença estão sendo corretamente tomadas. - Avalie a técnica de utilização do inalador (responsável por 80-90% dos casos de mau controle da doença): peça para o paciente demonstrar na sua frente como ele utiliza as medicações inalatórias. - Avalie a adesão ao tratamento: pergunte ao paciente, de forma empática e compreensiva (sem preconceitos ou julgamentos morais), em quantos dias da semana ele usa a medicação. Pergunte se é mais fácil esquecer o uso durante o dia ou à noite. Confirme que a medicação fica guardada num lugar visível, a fim de evitar o esquecimento. - Considere explicações alternativas para os sintomas respiratórios: doenças cardíacas, rinossinusite, ansiedade/depressão, apneia do sono, obesidade, falta de condicionamento físico, diagnóstico incorreto de asma; - Investigue exposição continuada a alérgenos ou irritantes: em casa ou no trabalho. Não se esqueça de perguntar também se o paciente está fazendo uso de alguma droga capaz de precipitar broncoespasmo (ex.: betabloqueadores, AAS e outros AINEs). TRATAMENTO CRÔNICO DA ASMA (TERAPIA DE CONTROLE) - O tratamento crônico da asma possui dois objetivos principais: (1) Supressão dos sintomas, permitindo ao paciente levar uma vida o mais normal possível; (2) Diminuição dos riscos futuros, que incluem o risco de exacerbações, o risco de desenvolver obstrução fixa ao fluxo aéreo (perda irreversível de função pulmonar) e o risco de efeitos colaterais do tratamento. - Em tal estratégia incluem-se medidas farmacológicas e não farmacológicas. A base é o tratamento farmacológico. As drogas antiasmáticas se enquadram em três categorias: (1) Terapia de controle: Terapia de controle é aquela que deve ser utilizada diariamente, tendo como efeito a redução da inflamação nas vias aéreas inferiores. Propicia o controle dos sintomas e diminui riscos futuros (exacerbações e perda de função pulmonar). A principal droga é o Corticoide Inalatório (CI). (2) Terapia de resgate: deve constar na prescrição de todos os doentes, a fim de combater eventuais sintomas que “escapem” ao tratamento de controle. Constitui também a base terapêutica das exacerbações. O ideal é que o paciente não precise da terapia de resgate em nenhuma circunstância (isto é, que ele tenha um bom controle da doença). A principal droga é o agonista β2 -adrenérgico de curta ação (SABA) inalatório. (3) Terapias adicionais para portadores de asma grave e refratária: consiste de medicamentos especiais cuja prescrição está restrita aos casos em que os pacientes utilizam a terapia de controle em dose máxima e mesmo assim permanecem sintomáticos. É feita de forma individualizada, podendo levar em conta características fenotípicas do 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 paciente (ex.: asma alérgica refratária em paciente com idade ≥ 6 anos e aumento dos níveis séricos de IgE tem benefício com o uso de drogas anti-IgE, como o anticorpo monoclonal omalizumabe, administrado pela via subcutânea). - É interessante salientar que a maioria das drogas antiasmáticas, por serem ministradas pela via inalatória, possui elevado índice terapêutico (quociente entre a dose tóxica e a dose terapêutica), sendo, portanto, incomum a ocorrência de efeitos colaterais sistêmicos. A via inalatória permite que se atinjam elevadas concentrações da droga diretamente em seu sítio de ação (a via aérea), o que aumenta a eficácia terapêutica com baixa probabilidade de efeitos sistêmicos. - A estratégia atual obedece a uma escada terapêutica na qual a intensidade do tratamento de controle é ajustada em função da resposta clínica (observada após 2-3 meses de tratamento). A decisão de "subir" ou "descer" os degraus dessa escada se baseia num ciclo contínuo de: (1) Avaliação da asma (grau de controle dos sintomas e riscos futuros); (2) Prescrição do tratamento no passo adequado; (3) Reavaliação (resposta clínica obtida). - Como a asma é uma doença dinâmica, pode ser necessário modificar a intensidade do tratamento de tempos em tempos, por isso o paciente precisa ser acompanhado pelo médico com regularidade (a cada 3-12 meses, dependendo de cada caso). - CI = Corticoide Inalatório; SABA = Agonista β2 -Adrenérgico de Curta Ação; LABA = Agonista β2 -Adrenérgico de Longa Ação; ARL = Antagonista do Receptor de Leucotrieno. - A não ser que os sintomas sejam muito ocasionais e de pouca importância clínica (merecendo tratamento no passo 1), comece o tratamento de controle pelo passo 2. Somente quando os sintomas forem muito importantes ou houver relato de crises graves comece pelo passo 3. Obs: (1) somente para pacientes > 12 anos; (2) no passo 3, para crianças com idade entre 6-11 anos, prefere-se aumentar a dose da monoterapia com CI (de baixa para média) em vez de associar LABA; (3) crianças com idade entre 6-11 anos que necessitem progredir ao passo 4 já devem ser encaminhadas ao especialista a fim de receber tratamento individualizado; (4) baixas doses de budesonida/formoterol ou beclometasona/formoterol podem ser usadas como terapia de resgate em pacientes que já utilizam estes mesmos medicamentos como terapia de manutenção (isso só é válido para essas combinações). - Não há recomendação específica para tratamento de manutenção no passo 1, ou seja, neste faz-se apenas SABA de resgate conforme a demanda. Atualmente se discute se esses pacientes não deveriam ser também tratados de forma crônica com CI em dose baixa. Mesmo quando a asma é infrequente existe inflamação contínua nas vias aéreas inferiores. A supressão dessa inflamação diminui o risco de exacerbações. - A principal mudança trazida pelo GINA 2019: Por muito tempo, pacientes na etapa 1 não associavam o corticoide inalatório ao beta-agonista no tratamento, cabendo apenas o uso isolado deste. No entanto, evidências mais recentes demonstraram benefícios na associação do corticoide, incluindo menos chances de exacerbações graves. - Step 1 e 2: leve, step 3: moderada, step 4 e 5: grave. 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Em portadores de asma e rinite alérgica comprovadamente sensíveis aos ácaros da poeira domiciliar (ex.: teste cutâneo positivo ou elevados títulos séricos de IgE contra Dermatophagoides pteronyssinus) pode-se lançar mão da imunoterapia sublingual, desde que o VEF1 seja > 70% do previsto e o paciente continue tendo crises a despeito do uso de CI, a fim de induzir tolerância imunológica. - Não se recomenda o uso de SABA isolado. - Teofilina não faz mais parte do tratamento de Asma. - Todo portador de asma, independentemente do passo terapêutico em que se encontre, deve receber informações acerca da doença e seu tratamento, incluindo um plano escrito de automanejo sobre como proceder em casos de crise. - Tratar eventuais comorbidades identificadas que possam contribuir para os sintomas ou dificultar o controle da asma (ex.: obesidade, ansiedade/depressão, tabagismo). - Se a asma não tiver sido "controlada" (após se confirmar adesão ao tratamento e uso correto do inalador) a conduta é intensificar o tratamento, partindo para o passo subsequente (step up). Uma vez atingido o controle, devemos manter o tratamento e observar o paciente por um período mínimo de três meses. - Se a asma continuar "controlada", deve-se tentar reduzir a intensidade do tratamento (step down), a fim de determinar a menor dose efetiva. Tal estratégia reduz os custos e o risco de efeitos colaterais. - Portadores de asma devemser anualmente vacinados contra Influenza (gripe). A vacina anti-Influenza inativada (tri ou tetravalente) não precipita crises, tampouco diminui, por si só, sua frequência. Tem como função específica reduzir a incidência de infecção por esse vírus e sua morbimortalidade. - A base do tratamento antiasmático em obesos é o corticoide inalatório. A perda ponderal melhora os sintomas e facilita o controle da asma, permitindo reduzir doses dos medicamentos inalatórios. Grande benefício é visto após a cirurgia bariátrica, porém, perdas de 5-10% do peso já podem melhorar bastante a qualidade de vida do paciente. - Portadores de alergia alimentar têm chance aumentada de possuir asma. Nestes, a crise asmática pode aparecer como parte do quadro sistêmico de anafilaxia, com grande risco de óbito, neste caso a administração precoce de epinefrina intramuscular é imprescindível para salvar a vida do paciente. - Se as crises só se relacionarem ao exercício, na ausência de fatores de risco para exacerbação, a única conduta preconizada é a profilaxia pré-exercício com SABA inalatório, complementando com SABA inalatório conforme a necessidade. Em geral, os sintomas se iniciam logo após o término da atividade, mas às vezes aparecem durante a prática da mesma (resolvendo-se espontaneamente em até 60min). - As crises tendem a ser mais frequentes durante o 2º trimestre de gravidez, e devem ser agressivamente tratadas com SABA inalatório, suplementação de O2 e corticoide sistêmico, a fim de evitar a hipóxia fetal. O descontrole da asma aumenta muito a incidência de parto prematuro, baixo peso ao nascer e mortalidade perinatal em geral. Para a mãe, aumenta o risco de pré-eclâmpsia. TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES - Exacerbações da asma são episódios de piora progressiva dos sintomas e da função pulmonar em relação ao estado prévio do paciente importantes o bastante a ponto de justificar mudanças imediatas na conduta terapêutica. - A evolução das exacerbações pode ser mais ou menos rápida, manifestando-se, portanto, dentro de um espectro de gravidade, o 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 que permite individualizar a estratégia terapêutica. Quanto mais precoce for seu reconhecimento e início do tratamento, melhores tendem a ser os desfechos. - Assim, as exacerbações podem ser tratadas: (1) por pacientes/cuidadores bem instruídos em seu próprio domicílio (seguindo um plano escrito de automanejo); (2) pelo médico assistente, em nível ambulatorial; (3) dentro do hospital, nos serviços de emergência ou centros de terapia intensiva. - É muito importante que toda pessoa que recebe o diagnóstico de asma seja periodicamente avaliada quanto à existência de fatores de risco para asma fatal. Se um ou mais desses fatores estiver presente, ao menor indício de exacerbação o paciente deve estar orientado a procurar auxílio médico urgente. Tratamento Domiciliar com Plano Escrito de Automanejo - Pacientes bem instruídos e engajados que realizam automonitorização dos sintomas e da função pulmonar (ex.: diário de sintomas, confecção de gráficos com os valores de PFE), em geral, são guarnecidos com planos escritos sobre como identificar e proceder diante de uma exacerbação da doença. Neste plano estão contidas orientações quanto ao uso de drogas de resgate e critérios para aumento da terapia de controle, bem como recomendações acerca de quando o paciente deve ir ao hospital. - O primeiro passo é lançar mão da terapia de resgate (SABA inalatório) conforme a demanda. Se doses repetidas forem necessárias por mais de 1-2 dias, o paciente está autorizado a aumentar por conta própria o tratamento de controle. Este também pode ser aumentado se o paciente julgar que os sintomas estão interferindo de forma significativa com suas atividades diárias, ou se o PFE cair > 20% em relação ao basal por mais de dois dias. - O aumento da terapia de controle pode ser feito dobrando-se ou quadruplicando-se a dose do corticoide inalatório por um período de 7-14 dias, dependendo da faixa de dose que vinha sendo utilizada. O objetivo é passar o CI (ou a combinação de CI + LABA) para a faixa de dose considerada “alta” daquela medicação. Se iniciada precocemente, tal conduta pode evitar a progressão da exacerbação e a necessidade de corticoide oral/internação hospitalar. Evidentemente, a terapia de resgate deve continuar sendo feita conforme a necessidade, até que a intensificação da terapia de controle produza seu efeito. - Se o PFE estiver < 60% do basal, além das medidas citadas, deve- se associar corticoide oral. O corticoide oral também deve ser iniciado caso não haja resposta clínica após 48h de intensificação do tratamento de controle. O esquema consiste de prednisona (ou prednisolona) 1 mg/kg/dia, máx. 50 mg/dia, por 5-7 dias para adultos e adolescentes, ou 1-2 mg/kg/dia, máx. 40 mg/dia, por 3-5 dias para crianças com idade entre 6-11 anos. Sempre que o corticoide oral for iniciado, é mandatório contactar o médico assistente. - Por fim, os critérios para ir ao hospital imediatamente são: (1) deterioração progressiva a despeito das medidas tomadas; (2) desconforto respiratório súbito e intenso. - Se o plano de automanejo der certo, mesmo assim o paciente precisa ver seu médico dentro de 1-2 semanas. Este decidirá se o tratamento de controle pode retornar à intensidade prévia após melhora da exacerbação. Tratamento Ambulatorial - É realizado quando o paciente chega à consulta apresentando sinais e sintomas de exacerbação, mas obviamente sem critérios de gravidade que demandem o pronto encaminhamento para o hospital. - "Tórax silencioso" = Taquidispneia intensa com murmúrio vesicular universalmente reduzido/abolido e ausência paradoxal de sibilos (indica broncoespasmo muito grave, sem ventilação eficaz). - Enquanto se providencia a transferência desses pacientes (ex.: chamar ambulância), todas as medidas terapêuticas cabíveis e disponíveis devem ser aplicadas (ex.: SABA inalatório, corticoide sistêmico precoce, O2 suplementar, monitorização contínua dos sinais vitais). - Exacerbações asmáticas que não apresentem os critérios citados podem ser classificadas como leves ou moderadas. Se o paciente estiver no consultório/ambulatório e for possível fazê-lo, a conduta inicialmente tomada deve ser idêntica àquela que seria adotada frente a este grau de exacerbação caso o paciente estivesse no hospital, isto é: SABA inalatório em doses repetidas na 1a hora, início precoce de corticoide oral (dentro da 1a hora) e, se disponível e necessário, suplementação de O2. 9 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Na consulta de retorno, devemos avaliar por quanto tempo a intensificação da terapia de controle será mantida. A regra é: (1) curto prazo (mais 2-4 semanas) para pacientes que vinham com a asma controlada antes da exacerbação; (2) longo prazo (mais 3 meses) para pacientes que vinham sem controle da doença antes da exacerbação, isto é, nestes apenas aproveitamos para fazer o step up convencional da escada terapêutica. Tratamento no Serviço de Emergência - Pacientes com exacerbação asmática que procuram o serviço de emergência, em geral, são aqueles que apresentam crises graves. A gravidade da crise é facilmente determinada por meio de uma rápida avaliação clínica (anamnese + exame físico) com ênfase nos sinais vitais (incluindo a saturação periférica de O2). - SpO2 < 90% em ar ambiente é um sinal ominoso tanto em adultos quanto em crianças, sinalizando a necessidade de tratamento agressivo. - O ideal é que exames complementares capazes de quantificar a função ventilatória sejam sempre realizados assim que o paciente chega, antes de começar o tratamento, por exemplo: medida do PFE, com fluxômetro portátil, ou medida do VEF1, com espirometria convencional. - A gasometria sóestará indicada se: (1) PFE ou VEF1 < 50% do predito; (2) ausência de resposta ao tratamento inicial; (3) piora clínica progressiva. A coleta deve ser realizada na vigência de O2 suplementar. Uma pO2 < 60 mmHg e/ou uma pCO2 normal ou aumentada (especialmente quando > 45 mmHg) indicam insuficiência respiratória aguda e necessidade de intubação traqueal com ventilação mecânica invasiva. - O RX só deve ser feito se suspeitarmos de complicações do broncoespasmo (ex.: pneumotórax) ou diagnósticos alternativos (ex.: insuficiência cardíaca, aspiração de corpo estranho, pneumonia). - Após a alta do serviço de emergência ou internação hospitalar o paciente deve ter uma consulta com seu médico assistente dentro de 2-7 dias. MANEJO DE CRIANÇAS COM IDADE ≤ 5 ANOS DIAGNÓSTICO - Crianças com idade ≤ 5 anos não possuem maturidade suficiente para compreender e colaborar com as manobras necessárias à realização das provas de função pulmonar (ex.: espirometria, medida do PFE). Desse modo, o diagnóstico de asma nesta população não pode contar com dados objetivos e confiáveis de quantificação da obstrução ao fluxo aéreo e demonstração de reversibilidade da mesma. - Assim, o diagnóstico de asma em crianças com idade ≤ 5 anos é "empírico" e está baseado somente em informações clínicas. Uma eventual decisão de iniciar a terapia de controle neste grupo deve ser encarada, inicialmente, como um "teste terapêutico", isto é, uma boa resposta ao tratamento será apenas mais um dado a favor do diagnóstico de asma. - Para complicar ainda mais, episódios de sibilos expiratórios difusos são bastante frequentes nas crianças pequenas, em geral aparecendo no contexto de infecções virais inespecíficas das vias aéreas superiores (IVAS). As IVAS podem acontecer até 6-8 vezes por ano nos primeiros anos de vida. Logo, crianças que sibilam, mesmo que de forma recorrente, não necessariamente são portadoras de asma. - Os critérios a seguir devem ser observados a fim de se considerar o diagnóstico clínico de asma numa criança ≤ 5 anos. Quanto maior o número de critérios presentes, maior a probabilidade de realmente se tratar de asma. 1. Padrão de sintomas compatível (mais de um sintoma concomitante: dispneia, sibilos, tosse). 2. Os sintomas persistem de forma prolongada (> 10 dias) durante um episódio de IVAS. 3. Ocorrem > 3 episódios por ano, ou os episódios são graves e/ou apresentam piora noturna. 4. Os sintomas também acontecem na ausência de IVAS, sendo desencadeados por atividades físicas, choro, riso, exposição ao tabaco, poluição ambiental e/ou aeroalérgenos comuns. 5. História pessoal ou familiar de outras manifestações atópicas (rinite e/ou dermatite alérgica). 6. História familiar de asma em parente de 1º grau. 7. Melhora em resposta ao tratamento de controle empírico; piora após a suspensão do mesmo. AVALIAÇÃO DA ASMA - Os mesmos domínios já citados na avaliação de pacientes mais velhos também se aplicam à avaliação de crianças pequenas com asma, quais sejam: (1) grau de controle dos sintomas; (2) risco de eventos adversos futuros. - A conduta terapêutica inicial será traçada de acordo com esta avaliação, e a cada novo encontro com o paciente os dois domínios precisam ser sistematicamente revistos, de modo que a estratégia em curso seja ajustada (manutenção, aumento ou diminuição na intensidade do tratamento, dependendo da resposta obtida). - Em primeiro lugar, deve-se avaliar o grau de controle dos sintomas. Para tanto, em geral, conta-se mais com a contribuição dos pais/ cuidadores do que com o relato do próprio paciente. Logo, pode haver imprecisões nesta avaliação, uma vez que os pais/cuidadores podem não perceber o grau de sintomas que as crianças experimentam em toda a sua plenitude. 10 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Existem pequenas diferenças em relação ao sistema utilizado em pacientes mais velhos. - Existem escores formais, comercialmente patenteados, que possuem este mesmo intuito, porém a maioria deles só foi validada para pacientes com idade > 4 anos. - Uma análise dos riscos futuros também deve ser incluída na avaliação da criança asmática com idade ≤ 5 anos, contando apenas com informações clínicas. - A menor dose de CI necessária para controle dos sintomas e diminuição das exacerbações deve ser descoberta e utilizada. A criança pequena é mais suscetível a possíveis efeitos colaterais sistêmicos dos CI. Uma alteração naturalmente esperada é a diminuição na velocidade de crescimento nos primeiros 1-2 anos de tratamento. Logo, a estatura deve ser cuidadosamente monitorada nesses pacientes. O referido atraso no crescimento, em geral, não repercute na altura final atingida na vida adulta. TERAPIA DE CONTROLE - Os objetivos do tratamento da asma nas crianças com idade ≤ 5 anos são idênticos aos de pacientes mais velhos: (1) supressão dos sintomas, permitindo ao paciente levar uma vida o mais normal possível; (2) diminuição dos riscos futuros, que incluem o risco de exacerbações, o risco de desenvolver obstrução fixa ao fluxo aéreo (neste caso pela interferência no desenvolvimento pulmonar normal) e o risco de efeitos colaterais do tratamento. - Também envolve medidas farmacológicas e não farmacológicas, sendo o tratamento medicamentoso a base da terapia. Utiliza-se uma escada terapêutica na qual a intensidade do tratamento de controle é ajustada em função da resposta clínica (observada após três meses de tratamento). - Como a asma em crianças com menos de cinco anos de idade costuma entrar em remissão com razoável frequência, o paciente precisa ser acompanhado pelo médico com mais regularidade do que os outros grupos etários (a cada 3-6 meses, no máximo). Se optarmos por tentar suspender o tratamento, uma consulta de revisão deve ser marcada para no máximo 3-6 semanas depois. - A escada terapêutica para crianças com idade ≤ 5 anos é bem mais simples, possui apenas 4 passos em vez de 5. Não se recomenda o uso de LABA em crianças ≤ 5 anos. - Crianças com idade ≤ 5 anos também apresentam limitações no tocante ao tipo de dispositivo inalatório que pode ser utilizado. Dispositivos que necessitem de coordenação não devem ser prescritos neste grupo etário, pois não serão eficazes. Apenas os dispositivos que conseguem “entregar” a medicação para a via aérea do paciente através do volume corrente espontâneo é que possuem eficácia e podem ser usados. - Existem dois principais: (1) nebulização convencional; (2) pMDI com espaçador ou “aerocâmara” (pMDI = pressurized Metered- Dose Inhaler ou “inalador dosimetrado pressurizado”). - Os estudos mostram que o método mais custo-eficaz de administração de qualquer medicamento inalatório em crianças pequenas com asma consiste no uso de pMDI + espaçador. Quando o pMDI é acionado, uma dose predeterminada de medicação é liberada sob pressão na forma de um certo volume de aerossol. O pMDI deve estar acoplado ao espaçador, possui duas finalidades: (1) Armazenar o volume de aerossol de modo que a criança consiga inalá-lo por completo utilizando seu volume corrente espontâneo; (2) Reter as partículas de maior peso que se depositam sobre a superfície interna do espaçador, evitando que isso aconteça na cavidade oral do paciente (efeitos colaterais). - De um modo geral, são necessárias cinco a dez incursões respiratórias para que toda a dose de aerossol liberada dentro do espaçador consiga ser inalada pelo paciente. - Crianças muito pequenas, imaturas demais para colaborar (0-3 anos), necessitam de uma máscara facial, que deve ser bem adaptada ao nariz e à boca pelo parente/cuidador. O problema da máscara facial é que ela aumenta a área de contato da pele do rosto com a medicação, o que pode trazer problemas como o já mencionado “rash do corticoide inalatório” (deve-se lavaro rostinho do bebê após o uso). Crianças mais capazes de colaborar (4-5 anos) podem usar uma peça bucal, em vez da máscara facial. 11 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES - O reconhecimento de uma exacerbação da asma em crianças muito pequenas nem sempre é fácil, visto que, não raro, as manifestações iniciais são inespecíficas, e os parentes/cuidadores devem ser orientados quanto a isso, mantendo um elevado grau de suspeição. - As principais alterações que denunciam o início de uma exacerbação em crianças com idade ≤ 5 anos são: Aumento agudo ou subagudo da sibilância e da dispneia; Aumento da tosse, especialmente a tosse noturna com a criança dormindo; Letargia ou diminuição da tolerância ao exercício; Redução nas atividades diárias, incluindo a alimentação; Diminuição da resposta habitual ao SABA inalatório - Assim como nos pacientes mais velhos, a abordagem da exacerbação em crianças ≤ 5 anos pode ser iniciada no próprio domicílio do paciente, utilizando um plano escrito de automanejo. No entanto, é preciso destacar as situações que indicam urgência em procurar o hospital. - A base do tratamento domiciliar da crise é o uso de SABA inalatório. Ministra-se 2 puffs de salbutamol via pMDI + espaçador, podendo- -se repetir essa mesma dose a cada 20min, por mais 2x. Na ausência de resposta satisfatória (necessidade de > 6 puffs em 1-2h), a criança deve ser levada ao serviço de emergência. - Em geral, não se recomenda o início domiciliar de corticoide oral pelos parentes/cuidadores, sem que a criança seja avaliada antes pelo médico. - O papel do sulfato de magnésio como adjuvante terapêutico nas crises graves não está bem estabelecido em pacientes com idade ≤ 5 anos. Não obstante, alguns autores recomendam seu uso como diluente da solução de nebulização para crianças com idade ≥ 2 anos que apresentam crise de asma grave, durante a 1a hora do atendimento. Outros recomendam seu uso intravenoso, na dose de 40-50 mg/kg em infusão lenta (20-60min). - Crianças com idade ≤ 5 anos que iniciaram corticoide oral devem manter este tratamento por 3-5 dias apenas, podendo interrompê- lo abruptamente, sem necessidade de desmame. 12 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1
Compartilhar