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Historiografia do Brasil (Livro-Texto Unidade I) - UNIP

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Autora: Profa. Sonia de Deus Rodrigues Bercito
Colaborador: Prof. Vinicius Carneiro de Albuquerque
Historiografia do Brasil
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Professora conteudista: Sonia de Deus Rodrigues Bercito
Doutora em História Econômica pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da Universidade de São Paulo (USP), em 2005, mestre em História Social, em 1991, e graduada em História, 
em 1979, pela mesma universidade. Trabalhou como historiadora do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, 
Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) nas décadas de 1980 e 1990. Foi professora do Ensino 
Básico e Superior em diversas instituições de ensino e de Historiografia Geral e Brasileira no curso de especialização em 
História, Sociedade e Cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Cogeae). É coordenadora pedagógica no Ensino 
Fundamental do Colégio Objetivo, atuando na coordenação de produção de material didático. Na área de pesquisa, 
desenvolveu trabalhos sobre História do Brasil relacionados ao patrimônio histórico, às décadas de 1930 e 1940, e à 
história do corpo do trabalhador industrial em São Paulo.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B485h Bercito, Sonia de Deus Rodrigues.
Historiografia do Brasil. / Sonia de Deus Rodrigues Bercito. – 
São Paulo: Editora Sol, 2016.
140 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-091/16, ISSN 1517-9230.
1. Historiografia brasileira. 2. Evolucionismo. 3. Cientificismo. 
I. Título.
CDU 981
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ana Luiza Fazzio
 Juliana Mendes
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Sumário
Historiografia do Brasil
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX .............................................................................. 13
2 OS INSTITUTOS HISTÓRICOS ENTRAM EM CENA ............................................................................. 14
2.1 O Romantismo e a formação da nacionalidade ...................................................................... 15
2.2 O projeto nacional ............................................................................................................................... 18
2.3 O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) ............................................................. 21
2.4 Forjar a nação: missão do IHGB ..................................................................................................... 22
2.5 A historiografia do IHGB ................................................................................................................... 24
2.6 O legado historiográfico do IHGB ................................................................................................. 30
2.7 Varnhagen, o Heródoto brasileiro .................................................................................................. 31
3 EVOLUCIONISMO, CIENTIFICISMO E A PRODUÇÃO HISTÓRICA 
NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX ................................................................. 33
3.1 A hegemonia da ciência e a ideologia do progresso ............................................................ 33
3.2 O ambiente cultural brasileiro no final do século XIX .......................................................... 35
3.3 A historiografia brasileira, o cientificismo e os determinismos ......................................... 38
3.4 Capistrano de Abreu, o grande historiador................................................................................ 40
4 A IDENTIDADE NACIONAL EM QUESTÃO ............................................................................................... 45
Unidade II
5 A HISTÓRIA DO BRASIL ENCONTRA NOVOS CAMINHOS ................................................................ 51
5.1 O Brasil e a historiografia nas décadas iniciais do século XX ............................................. 52
5.2 O papel da História e da Geografia na construção nacional .............................................. 53
5.3 A historiografia, a questão nacional e o posicionamento dos intelectuais ................. 57
6 O MODERNISMO E O MOVIMENTO DE REDESCOBRIMENTO DO BRASIL ................................. 58
6.1 Somos, enfim, modernos? ................................................................................................................. 58
6.2 Tradição e modernidade .................................................................................................................... 59
6.3 A cultura brasileira, o nacional e o popular .............................................................................. 61
6.4 Retrato de um País triste................................................................................................................... 63
6.5 Pioneiros em caminhos diversos: os intérpretes do Brasil................................................... 64
6.6 Da varanda da Casa-Grande ........................................................................................................... 65
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6.7 Emergem os antagonismos .............................................................................................................. 71
6.8 A cordialidade como padrão ............................................................................................................ 74
Unidade III
7 A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA ENTRE OS AUTORITARISMOS E A DEMOCRACIA ............ 83
7.1 O pensamento autoritário e a historiografia nas décadas de 1930 e 1940 ................. 83
7.2 Oliveira Viana e o pensamento autoritário ................................................................................ 84
7.3 O Estado Novo, os intelectuais e a cultura ................................................................................ 86
7.4 O nacional e a formação de uma cultura histórica ................................................................89
7.5 O Serviço do Patrimônio Histórico Nacional ............................................................................. 93
7.6 A História na universidade ............................................................................................................... 96
7.7 Ressurgem as dissidências e emerge um pensamento radical .......................................... 97
7.8 Novos parâmetros para se entender o Brasil ........................................................................... 98
7.9 O nacionalismo desenvolvimentista ............................................................................................. 99
7.10 Pensar o Brasil em novos termos .............................................................................................101
7.11 Outras possibilidades para pensar o País ................................................................................103
7.12 Em tempos de radicalização ........................................................................................................105
8 A HISTORIOGRAFIA RECENTE ...................................................................................................................107
8.1 As principais influências e questões a enfrentar ...................................................................107
8.2 A repercussão na historiografia ....................................................................................................109
8.3 A questão da História nacional ....................................................................................................111
8.4 Alguns caminhos possíveis ............................................................................................................112
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APRESENTAÇÃO
Este livro-texto pretende acompanhar os caminhos de constituição de um saber histórico no Brasil 
e, ao mesmo tempo, percorrer o pensamento social brasileiro por meio da produção historiográfica 
que o integra. Conhecer os contornos e os aspectos formativos dessa historiografia é de fundamental 
importância para o desempenho do profissional de História. Na docência, auxilia a problematizar as 
narrativas produzidas sobre o passado na bibliografia didática e a discutir de forma crítica a História 
com os alunos. Na pesquisa, fornece a base sobre a qual se podem construir os temas e eleger os pontos 
de reflexão em análises a serem realizadas sobre a História do Brasil.
Partimos das primeiras manifestações da produção histórica encontrada nos cronistas que 
escreveram em tempos de América Portuguesa. Na verdade, somente após a independência é que teve 
início a historiografia brasileira propriamente dita. A pesquisa histórica no Brasil, com metodologia 
e reflexões de cunho científico, anunciou-se no século XIX e tomou corpo em meados do XX. Assim, 
iremos acompanhar os esforços realizados em momentos diferentes desses séculos para se construir 
o conhecimento histórico em nosso País. É forçoso reconhecer que, nesse percurso, o passado a ser 
buscado era fundamentalmente aquele que sustentasse o Estado constituído tendo a ideia de nação 
como substrato: a história nacional. 
Com efeito, nossa tradição intelectual tem feito da nação seu sujeito privilegiado. Desde a produção 
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) no século XIX, passando pelas teorias raciológicas 
e seu impacto nas formas de ver o Brasil, pelos arautos da modernidade dos anos 1920 e ensaístas da 
década de 1930, é sempre a ideia de nação brasileira que se encontra subjacente. As reflexões conduzidas 
tendo como eixo a ideia de nação e identidade brasileira têm tido longo alcance, responsabilizando-se 
pela edificação de matrizes de pensamento histórico, sociológico e político cujos ecos sentimos até hoje. 
Ao se dirigir o foco por muito tempo para aquilo que seria comum a todos e comporia a marca de 
nossa singularidade, produziram-se silêncios e esquecimentos daqueles que não se reconheceram na 
unidade forjada. Precisou-se que novas questões fossem colocadas para o passado por uma historiografia 
mais recente, preocupada em estudar a história de minorias e grupos sociais marginalizados naquela 
produção historiográfica comprometida com a história nacional, muitas vezes, traduzida em história 
das elites. 
Nas tendências historiográficas mais recentes, as diferentes faces do Brasil se sobrepõem à ideia 
de unidade tantas vezes encobridora das desigualdades de fato. Mesmo assim, apesar da evidente 
complexidade da questão identitária, da valorização da diversidade e das singularidades a que 
assistimos atualmente, a nacionalidade continua a funcionar como uma argamassa a cimentar laços de 
pertencimento social contradizendo aqueles que acreditavam no fim da nação na sociedade globalizada. 
Outro aspecto importante da discussão sobre a historiografia brasileira refere-se à sua 
institucionalização como saber socialmente reconhecido. Os institutos históricos desempenharam um 
importante papel para isso no século XIX. Já no século XX, as universidades começaram a se destacar 
como o principal locus de produção historiográfica. Os primeiros frutos da universidade apareceram 
inicialmente na década de 1940, e nas décadas de 1950 a 1980 cujas Ciências Econômicas e Sociais 
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tiveram influência marcante, o saber histórico foi sendo produzido cada vez mais em âmbito acadêmico 
e de acordo com suas regras. Nas décadas seguintes, a ampliação dos temas e das visões sobre o fazer 
historiográfico como resultado, sobretudo, mas não apenas, da influência da nova história francesa, 
conduziram ao caráter plural da produção historiográfica que observamos na atualidade.
Em todo esse percurso, a historiografia brasileira foi se encorpando e o saber histórico se construindo 
com contornos cada vez mais próximos do rigor das ciências e das academias, ampliando o entendimento 
sobre o Brasil e os brasileiros.
Para acompanhar as principais vertentes da produção historiográfica brasileira, numa tentativa de 
periodização, podemos definir os seguintes momentos:
I. Primeiros cronistas (1500-1822).
II. Surgimento da História do Brasil e criação dos institutos históricos (1822-1870).
III. Positivismo e cientificismo (1870-1930).
IV. Alargamento dos modelos científicos (1930-1945).
V. Primeiros frutos da universidade (1945-1960).
VI. Triunfo do modelo marxista (1960-1980).
VII. Abertura para novas tendências (1980 em diante).
Inicialmente, estudaremos a produção historiográfica no País, no século XIX, que foi marcada pela 
atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sediado no Rio de Janeiro, e seus correlatos 
regionais. A figura marcante desse período foi Varnhagen – historiador consagrado no Império e conhecido 
como o Heródoto brasileiro. Mais para o final do século, veremos como o evolucionismo e as teorias 
deterministas influenciaram o nosso panorama intelectual repercutindo na historiografia. Destacaremos 
a importância de Capistrano de Abreu, reconhecido como figura maior dentre os historiadores nacionais. 
Em seguida focalizaremos no início do século XX a importância conferida à História e à Geografia na 
construção nacional. Na sequência abordaremos a ideia de que o País estava entrando na modernidade 
e o contraponto que a valorização das tradições culturais significava. Por fim, trataremos das explicações 
seminais e inovadoras oferecidas pela tríade composta por Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado 
Júnior e Gilberto Freyre, os chamados “intérpretes do Brasil”.
Discutiremos a concepção de cultura histórica no Estado Novo e a produção historiográfica no 
período, com destaque para Oliveira Vianna. Tambémanalisaremos a criação do Serviço do Patrimônio 
Histórico Nacional e o surgimento do conhecimento histórico acadêmico. Mais adiante, o assunto é 
o nacional-desenvolvimentismo e a importância do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) 
nas formas com que se pensou o País e sua formação histórica naquele momento. Destaca-se a forte 
presença do marxismo na historiografia a partir dos anos 1960.
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Finalmente, ofereceremos uma breve apresentação dos rumos assumidos pela historiografia brasileira 
nos fins do século XX e início do atual. Em seguida, apresentaremos trechos escolhidos de trabalhos nos 
quais historiadores fazem um balanço de algumas abordagens historiográficas presentes no País.
INTRODUÇÃO
Nunca uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás de 
si sua própria imagem.
Charles Olivier Carbonell
O estudo da Historiografia Brasileira envolve um campo amplo de questões a serem discutidas e 
temas a serem tratados. As abordagens podem variar e, antes de tudo, é preciso que nos situemos em 
relação ao nosso objeto.
Diante das diferentes visões sobre o que vem a ser historiografia – conceito sobre o qual não há 
apenas uma definição, nem consenso – é possível tratá-la de formas diversas. Pode-se, por exemplo, 
colocar em evidência de que forma se dá a elaboração do conhecimento histórico e seu registro escrito. 
Nesse caso, nos aproximamos da teoria da História e de sua epistemologia. 
Também é possível sublinhar sua condição de narrativa, importando, sobretudo, o estatuto do 
texto histórico como artefato linguístico ou, ainda, como será feito aqui, enfatizar o conjunto das 
obras históricas produzidas em determinado contexto, tempo ou local. Nessa última alternativa, a 
historiografia assume um caráter historicizado ensejando a possibilidade de se construir uma história 
da historiografia. 
Com efeito, essa linha de pesquisa, destinada a acompanhar as transformações do conhecimento 
histórico no tempo, tem se ampliado com intensidade nas últimas décadas dando origem a 
relevantes trabalhos.
Cumpre lembrar que a palavra história tem duplo significado. Refere-se ao conjunto das ações 
humanas ocorridas no passado e também aos relatos que são produzidos sobre esse passado que 
compõem a historiografia. O segundo caso enseja a reflexão sobre a natureza do vínculo existente entre 
o passado vivido e o contado. 
A ideia mais aceita hoje é de que a História é uma representação do passado vivido para cuja 
elaboração diferentes variáveis operam, devendo ser considerado o historiador em sua subjetividade 
intrínseca e as condições históricas e sociais de sua produção.
É fato, amplamente aceito, que a tarefa do historiador, como trabalho intelectual, depende de 
condições individuais, mas vincula-se a um determinado contexto social e histórico que o insere em um 
âmbito coletivo. A natureza coletiva do conhecimento faz que, como ressalta Maria de Lourdes Janotti, 
seja interceptada na “mensagem de uma obra ou em seu estilo o resultado do pensamento de um ou 
mais grupos sociais sobre a realidade vivida” (apud FREITAS, 1998, p. 120). 
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Tratar da produção historiográfica, com esse entendimento, faz as reflexões no âmbito da 
história das ideias se vincularem ao estudo do ambiente sociocultural das épocas em que foram 
produzidas, com as necessárias considerações sobre questões econômicas e políticas envolvidas. 
Como afirma a historiadora:
Estudos de historiografia supõem o julgamento da obra de História não 
apenas como trabalho de inspiração individual, mais ou menos bem-sucedido, 
mas também como resultado intelectual do confronto das concepções que 
uma sociedade tem sobre si mesma em um determinado momento vivido 
de seu percurso. Por esta circunstância, as condições históricas sob as quais 
a obra historiográfica foi produzida são tão importantes quanto as citações 
bibliográficas nela contidas (apud FREITAS, 1998, p. 119). 
A História é, como se sabe, escrita e reescrita a cada geração. Assim, a historiografia constitui 
documento de sua época ao mesmo tempo que é reveladora do passado que reconstrói. 
Acresce-se a isso que as obras históricas não são necessariamente superadas pelas que lhe sucedem, 
não podendo ser descartadas sem consideração, até porque se tornam documentos da época em que 
foram produzidas. 
De qualquer forma, o fazer historiográfico e o esforço intelectual do profissional de História na 
reconstrução do passado, seja sob qual aspecto for, implica exame da produção já existente sobre aquele 
momento que irá visitar, ou seja, o ofício do historiador depende do exame crítico da historiografia que 
lhe é anterior. 
Nessa condição, o conhecimento histórico tem caráter autorreflexivo, como ressalta Jurandir Malerba 
ao dizer que:
Devido a uma característica básica do conhecimento histórico, que é sua 
própria historicidade, temos de nos haver com todas as contribuições dos 
que nos antecederam. Essa propriedade eleva a crítica historiográfica a 
fundamento do conhecimento histórico (MALERBA, 2009, p. 11).
As bases da reflexão sobre a necessidade da crítica historiográfica na produção do conhecimento 
histórico estão anunciadas em Benedetto Croce, para quem a historiografia é sempre contemporânea. 
Em suas palavras:
Toda história é contemporânea; prova-o a existência da historiografia. 
O crivo dessa deliberação é o interesse de um historiador ou de uma 
sociedade. [...] sua condição de existência é a inteligibilidade do próprio 
fato “para nós”, “que ele vibre na alma do historiador”, através dos 
documentos; sempre ligado a seu fato haverá um feixe de narrativas, 
de acordo com suas potencialidades para fazer-se sempre vivo e atual 
– e as narrativas (historiografia) que se formam vão se tornando, elas 
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próprias, fatos documentados de outros tempos, a serem interpretados 
e julgados (apud MALERBA, 2009, p. 20). 
A ideia de que a historiografia, ela mesma, seria “fato documentado de outros tempos”, reforça a 
relevância de sua história e está na base dos caminhos escolhidos para este livro-texto, que se insere na 
linha da história da historiografia cujo entendimento ainda se faz de uma última consideração. 
Como definir historiografia brasileira e o que ela compreende? Há que se escolher entre três 
possibilidades, pois ela pode ser entendida como:
1. Produção sobre História em geral feita por autores brasileiros. 
2. Toda produção sobre a História do Brasil feita tanto por brasileiros como por autores de outros países.
3. Produção sobre História do Brasil feita por autores brasileiros.
A terceira possibilidade nos parece trazer vantagens significativas. Esta também é a visão apresentada pelo 
historiador Fernando Novais em seu livro Aproximações. Para ele, no primeiro caso, estaríamos colocando em 
evidência o “sujeito do discurso” – o historiador – e caberia listar todas as obras de historiadores brasileiros 
independentemente do tema ou do período histórico tratado. No segundo, a ênfase estaria no objeto de estudo 
– Brasil – e caberia incluir todas as obras escritas sobre o País, inclusive por autores estrangeiros, brasilianistas, 
por exemplo. Entretanto, para esse autor, historiografia brasileira stricto sensu deve se referir ao conjunto das 
obras de historiadores brasileiros sobre o Brasil (NOVAIS, 2005, p. 314).
Já afirmava José Honório Rodrigues – pioneiro dos estudos sobre historiografia brasileira – em seu 
trabalho Teoria da História do Brasil, publicado pela primeira vez em 1949:[...] a historiografia brasileira é um espelho de sua própria história. A 
historiografia, como outros ramos do pensamento e da atividade humanos, 
está inegavelmente integrada na sociedade de que é parte. Há, assim, uma 
estreita conexão entre a historiografia de um período e as predileções e 
características de uma sociedade (RODRIGUES, 1969, p. 32). 
Iremos, assim, tratar neste livro-texto, em especial, da produção de intelectuais brasileiros sobre a 
História do Brasil. Por vezes, para auxiliar a composição do panorama que se pretende construir, serão 
citados autores de outras nacionalidades que escreveram sobre a nossa história. 
Mas, sobretudo, vasculhando as formas de pensar de autores brasileiros sobre o nosso passado, 
podemos acompanhar a construção no País de uma massa crítica de conhecimento sobre ele, conhecer 
as diferentes visões produzidas sobre nossa história e, nesse caminho, lançar luz sobre o contexto em 
que as obras foram produzidas.
 Focalizando os autores brasileiros e inserindo a historiografia brasileira em seu contexto de produção, 
podemos, a um só tempo, compreender o Brasil e o pensamento social brasileiro.
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Importante mencionar que a produção historiográfica brasileira esteve, do século XIX para cá, sempre 
pautada por modelos estrangeiros. As referências notadamente europeias balizam as discussões teóricas 
e a definição de métodos e técnicas a serem utilizadas. 
Até 1930, a formação dos historiadores era diversificada; muitos vinham das academias de Direito e 
alguns tiveram acesso a estudos no exterior, em países como França, Portugal ou Alemanha. A produção 
acadêmica de História no Brasil é fenômeno mais recente, perceptível a partir de meados do século XX. 
Vincular a historiografia a seu momento de produção nos leva a discutir suas relações com o 
poder. A seleção dos temas a serem estudados, os aspectos enfatizados e as análises feitas pelos nossos 
historiadores expressam questões relevantes na época e devem ser considerados em suas relações com o 
poder constituído, podendo estar a seu serviço ou a ele se contrapor. O quanto a obra histórica expressa 
a visão de mundo do seu autor, com seus compromissos de classe e suas condições de formação, precisa 
ser ponderado. Imerso em um determinado contexto histórico, expressa uma visão de mundo de sua 
época, embora nem sempre de sua classe social e de forma consciente.
O discurso historiográfico é, também, importante recurso de construção de identidade social. Isso 
se atesta pela frequente recorrência ao passado e às tradições históricas em momentos em que se quer 
sublinhar laços de pertencimento, seja no âmbito das nacionalidades em formação, seja em grupos 
sociais que buscam reconhecimento social. 
Além disso, vale lembrar que a produção historiográfica, na medida em que cristaliza as versões sobre 
o passado, constrói memórias e, no mesmo movimento, produz silêncios e esquecimentos. O acesso ao 
passado passa a significar, nesse contexto, uma questão de poder. A historiografia brasileira tradicional 
expressou isso de forma marcante elegendo a história da elite branca como a história nacional. 
Somente nas décadas mais recentes isso se modificou com o surgimento de trabalhos em que negros, 
indígenas, pobres e mulheres foram incluídos como personagens e protagonistas da história brasileira. 
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Unidade I
1 A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX
Ao considerarmos a historiografia brasileira em seu sentido mais estrito, ou seja, obras de História do 
Brasil elaboradas por historiadores brasileiros, somos levados a fixar seu início apenas com o surgimento 
do estado nacional após a independência política de Portugal, ocorrida em 1822. 
Antes disso, não existia propriamente o Brasil como tal, e os escritos de cronistas dos tempos coloniais 
expressam observações sobre um país ainda em formação, em terras sob domínio do colonizador europeu. 
Desde muito cedo, ainda nos primeiros tempos da ocupação europeia, foram escritos relatos e 
crônicas sobre a história da América Portuguesa. Pero de Magalhães Gândavo, oriundo de Braga, esteve 
no Brasil no século XVI e publicou em Lisboa, em 1576, História da Província de Santa Cruz a que 
Vulgarmente Chamamos Brasil. 
Dali em diante, outros cronistas apresentaram suas versões sobre os primeiros tempos da nossa 
história, como o jesuíta baiano José Vicente do Salvador, autor de História do Brasil de 1627, e o Frei 
Gaspar da Madre de Deus, que publicou, em 1797, as Memórias da Capitania de São Vicente, hoje, 
chamada São Paulo do Estado do Brasil.
 Saiba mais
Você pode encontrar o livro História da Província de Santa Cruz para 
download gratuito no site oficial. Nesse endereço, há muitas publicações 
sobre o Brasil com acesso liberado:
GÂNDAVO. P. M. História da Província de Santa Cruz. Belém: 
Universidade do Amazônia, [s.d.]. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000281.pdf>. Acesso em: 20 
set. 2016.
 Já Memórias da Capitania de São Vicente pode ser encontrada em: 
MADRE DE DEOS, G. Memorias para a Historia da Capitania de S. Vicente; 
hoje chamada de S. Paulo, do Estado do Brazil. Lisboa: 1797. <Disponível 
em: <http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/22443>. Acesso em: 20 
set. 2016.
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Unidade I
As primeiras sínteses sobre a História do Brasil surgiram no início do século XIX, logo após a 
separação de Portugal, o que nos havia alçado à condição de estado soberano em busca da afirmação 
de sua condição de nação independente.
Alguns estrangeiros – destaque para Robert Southey e John Armitage – se dedicaram a reunir 
informações sobre o passado desse novo país, não sem intenções utilitárias para os interesses econômicos 
de suas terras de origem. 
John Armitage (1807 – 1856) foi um comerciante inglês que morou no Rio de Janeiro nas primeiras 
duas décadas do início do século XIX. Escrevendo a partir da concepção da missão civilizacional britânica, 
defendia em seus escritos a extinção da escravidão, que significaria um entrave ao desenvolvimento do 
comércio e também da própria sociedade, indo ao encontro dos valores liberais. Publicou, em 1936, 
sua História do Brasil, na qual pretendia divulgar os negócios políticos e financeiros do Império do 
Brasil que tinham grande interesse naquele momento para seu país. Projetando uma imagem positiva 
da monarquia constitucional brasileira, destacou a singularidade do Brasil ante as nações americanas 
e europeias. Lançou as bases para uma historiografia da nação brasileira, antes mesmo do esforço dos 
institutos históricos que a isso se dedicaram.
2 OS INSTITUTOS HISTÓRICOS ENTRAM EM CENA 
O grande desafio colocado para os historiadores no século XIX era participar dos esforços de 
transformar a ex-colônia portuguesa em uma nação. Antes de 1822, vivíamos em tempos de América 
Portuguesa. Com a independência, a nação começava. Era preciso desfazer os laços com o antigo 
colonizador, construir novos vínculos de pertencimento e cimentar as novas relações políticas e sociais. 
A nação que surgia colocava como tarefa a ser empreendida a construção da nacionalidade brasileira. 
Urgia criar uma identidade nacional e fazer emergir sentimentos nacionalistas. A História se anunciava 
como um poderoso recurso a fim de contribuir com o esforço exigido para alcançar esses objetivos. 
Após a independência e ao longo de todo o século XIX, a historiografia nascente no Brasil se construiu 
como fundamento de sustentação ao estadomonárquico que se constituía – não sem resistências – a 
ele oferecendo um relato sobre o passado da nação e um conjunto de tradições.
Cumpre lembrar que nesse momento de uma história nacional nascente a própria História como 
disciplina científica dava seus primeiros passos, fazendo dessa tarefa algo que passava por equacionar 
questões epistemológicas e metodológicas que se apresentavam. 
Sobre essas questões, lançaram-se os historiadores pioneiros de nosso País envolvidos em 
controvérsias acerca do escopo do projeto de escrever uma história para a Nação, tarefa cuja necessidade 
era ressaltada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
A necessidade de se construir uma identidade para a nova nação, colocada pela emancipação política, 
se manifestava também na ficção romântica. Importava construir um passado, uma memória nacional 
para forjar a identidade nacional pretendida. As crônicas históricas, a ficção romântica e as biografias da 
nação, embora de natureza diversa, estavam sintonizadas no mesmo movimento.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
2.1 O Romantismo e a formação da nacionalidade
A mais importante discussão no Brasil, ao longo do século XIX, foi a questão nacional. Construir a 
nação e a nacionalidade foi preocupação sempre presente no plano da política e da cultura desde o 
rompimento com Portugal e a promulgação de nossa independência em 1822.
A literatura da época acompanhou esse mesmo movimento de afirmação nacional. No Romantismo, 
surgido no Brasil na década seguinte à da independência, a nacionalidade assumiu uma centralidade 
como categoria primordial de reflexão sobre a sociedade. 
A vinda da Missão Artística Francesa para o Rio de Janeiro, em 1816, havia colocado em voga a 
fórmula do Romantismo daquele país, com ênfase na natureza indomada, nas tradições folclóricas e no 
passado comum do povo. Essa “fórmula” se combinou com as intenções emergentes de se forjar uma 
literatura própria em terras brasileiras na esteira da necessidade de afirmação nacional. 
O importante crítico e professor Antonio Candido, em Formação da Literatura Brasileira, 
trabalho fundamental sobre o assunto, relacionou de forma definitiva o Romantismo brasileiro e 
o projeto nacional. 
A decisão programática desse movimento literário de descrever a nossa realidade e escrever sobre 
coisas locais, para esse autor, estaria de acordo com um verdadeiro projeto nacionalista. Nomes como 
José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Bernardo Guimarães, Castro Alves ou Gonçalves Dias 
fizeram do Brasil e dos brasileiros seu assunto principal.
Poemas épicos, grandiloquentes e patrióticos davam o tom retórico ao espírito romântico da época. 
A retórica romântica ressaltava, sobretudo, a beleza e a magnitude do novo país que se constituía para o 
qual se projetava um futuro brilhante. As representações que produziam deviam impregnar a consciência 
popular de patriotismo, civismo e brasilidade comparecendo em obras de grande sonoridade, como 
Independência do Brasil, de Teixeira e Souza, Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, ou 
Os Timbiras, de Gonçalves Dias.
Para Antonio Candido, os escritores românticos se viam como portadores de uma missão: 
estritamente espiritual e estética para alguns; social para outros. Comum a todos, o fato de exprimirem 
a especificidade da realidade brasileira. De acordo com o autor, esses escritores empreenderam uma 
interpretação social com rigor e eficácia equivalentes aos estudos históricos e sociais. O romance 
romântico significou uma forma de pesquisa e descoberta do País com o inventário de costumes, 
lugares e paisagens que conduziu. A observação realizada pelos ficcionistas e a sua imaginação 
ampliaram a visão da terra e do homem brasileiro. 
O caráter de “exploração e levantamento” deu à ficção romântica a função de tomada de consciência 
da realidade brasileira no plano da arte. Dentre os temas abordados por esses escritores, destacam-se os 
romances regionalistas e de costumes. O respeito pela realidade e o compromisso com a verossimilhança 
na narrativa caracterizaram o romance oitocentista, estilo típico do Romantismo entre os outros 
praticados, como a poesia ou o teatro. 
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Unidade I
Com sua linguagem, prestou-se a efetivar a intenção do ideal romântico de criar uma expressão 
nova para o novo país que surgia. Os escritores românticos esquadrinharam em suas obras a vida 
urbana e também a rural. Realizaram um verdadeiro inventário de costumes, lugares, paisagens e 
convenções eternizados em suas obras. O indianismo ocupou muitas páginas, e o romance histórico 
foi uma das formas destacadas de expressão do romantismo. Em seu conjunto, a literatura romântica 
ajudou a estabelecer um passado heroico e lendário para o País, contribuindo para a construção de 
uma identidade nacional.
Importante destacar que a visão produzida sobre o Brasil e os brasileiros nos vinculava à civilização 
europeia da qual seríamos uma extensão. O índio, na visão romântica, era uma tradução europeia, e 
o negro, o grande ausente. A identidade nacional que se buscava construir deveria demonstrar nossa 
filiação às nações europeias, que ofereciam o parâmetro do que se entendia por civilização àquela época. 
A nacionalidade brasileira que se pretendia evidenciar era aquela que nos ligasse à tradição europeia. 
Reforçava-se a predominância do branco europeu em nossos traços culturais, ofuscando a participação dos 
negros e celebrando, por meio do romantismo, uma peculiar presença indígena. A literatura romântica e os 
pintores acadêmicos tomaram o indígena como símbolo da nacionalidade. No entanto, conforme se vê nas 
pinturas que o retrataram, aparece de pele clara e de feições europeias, guardando enorme distância com seus 
modelos verdadeiros, sendo mais uma tradução do “bom selvagem” do que um retrato fiel. 
 Observação
O contato dos europeus com os índios americanos inspirou reflexões 
divergentes. Para Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), restariam no mundo 
civilizado pequenas ilhas de bons selvagens numa sociedade cujo egoísmo 
e propriedade privada haviam exigido o estabelecimento de um contrato 
social para sua existência. Essa visão idílica associada aos indígenas teve 
longo alcance, chegando até nossos dias. 
 
Figura 1 – O Último Tamoio, pintura em tela de Rodolfo Amoedo
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O “espírito romântico” em que se sobressaem o nacionalismo, o nativismo, a ideia de um espírito 
nacional autêntico, a partir do reconhecimento de origens comuns, alcança também a historiografia. 
Os escritores e os principais historiadores transitam no mesmo campo intelectual; o Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro exerce uma função aglutinadora nesse sentido. Aliás, a entrada de D. Pedro II no IHGB, 
com o mecenato que empreende, impulsiona esse caráter nacionalista do Romantismo brasileiro tornando 
projeto oficial que passa a inventariar o que deveriam ser as “originalidades locais” (SCHWARCZ, 1998). O 
próprio imperador assume o espírito indigenista estudando o tupi-guarani, adornando seu manto imperial de 
penas de tucano e fazendo-se fotografar em cenário tropical.
Figura 2 – O imperador D. Pedro II em foto de Joaquim Insley Pacheco de 1883. O cenário escolhido 
indicava a intenção de ressaltar a natureza verdejante do país
Figura 3 – Fala do Trono. Pintura de Pedro Américo com D. Pedro II, aos 46 anos de idade, vestindo 
a Regalia Imperial do Brasil em 1972. Destaque para o manto com penas de tucano18
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Unidade I
2.2 O projeto nacional
Ao se falar de nação, não se trata apenas de um conceito e de sua definição. Assim como qualquer 
fenômeno social, a nação, tal como entendemos hoje, tem também sua história. Apenas a partir do 
século XVIII a ideia da existência de um território e um conjunto de habitantes, unificado sob um estado 
que os governa, começa a ser identificada. Mas é no século XIX que o conceito de nação se consolida sob 
a égide do Estado. No entanto, não se observa nenhum tipo de consenso sobre o que de fato a define. 
Para capturar a essência de seu significado, recorre-se a critérios diversificados que variam de 
acordo com as condições encontradas nos estados aspirantes a serem identificados como nação. 
Pode ser ressaltado o fato de se ter em comum a língua, o território, a etnia e a combinação desses 
elementos. Recorre-se com frequência à existência de tradições e de um passado comum. Não se 
deixa de lado a consciência ou o sentimento de “pertencimento” a um coletivo. Não raro, a nação se 
define como um projeto.
Isso nos leva à polêmica questão de a ideia de nação estar presente antes, ou não, da constituição do 
estado nacional. Será o Estado que constrói a nação? Afinal, o que forma uma nação? De acordo com 
Maria Clementina Pereira Cunha:
[...] não é apenas de um conceito que se trata: quando nos referimos às 
nações, estamos falando de fenômenos históricos, produtos de situações 
específicas e essencialmente mutáveis. Situações, aliás, que ainda hoje estão 
longe de serem universais e permanentes (CUNHA, 1992, p. 33).
As nações e as nacionalidades foram produzidas em contextos históricos específicos e singulares, 
tendo sido o século XIX um momento marcante do processo de advento do Estado-Nação. No contexto 
de avanço do capitalismo industrial, a nação significava garantia da propriedade e dos negócios com a 
proteção do Estado, a unificação da moeda, das finanças públicas e das taxas e o estabelecimento de 
políticas econômicas a favorecer o capital. 
No século XIX, assistimos aos esforços dos países europeus de consolidarem seus estados nacionais. 
Cada qual recorrendo a características entendidas como capazes de criar o sentimento necessário de 
pertencimento e de identidade. Se na Alemanha e na Itália o movimento nacionalista recorria à “língua 
culta”, em face da profusão de dialetos regionais, para cimentar a identidade nacional pretendida, na 
França o importante era a adoção da cidadania francesa apesar das diferenças de língua ou etnia.
Isso posto, é possível considerar que “não são as ‘nações’ que formam os Estados, mas, ao contrário, 
são os Estados que engendram e desenham a ideia e o formato das nações” (CUNHA, 1992, p. 33). 
Decorre disso o fato de que a nação, em muitos casos, é um “vir a ser”, e sua criação é produto de 
um projeto nacional para efetivação no qual se engajam as forças políticas nele interessadas e que são 
por ele favorecidas. Esse movimento visa cimentar a coesão social sob a égide da Nação, o que exige um 
intenso investimento simbólico. 
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Forjar a identidade nacional, ou seja, transformar o “povo” – uma categoria vaga e indistinta – em 
“brasileiro”, “francês” ou “alemão” implica criar uma ideia de pertencimento a uma Nação para além das 
diferenças e diversidades. O nacional é a dissolução do diferente em uma unidade comum. Procede-se, 
no campo simbólico, à homogeneização do povo ignorando suas diferenças e as desigualdades sociais 
existentes. Resulta, disso, a predominância dos interesses das forças políticas elitistas envolvidas nesse 
projeto, colocado a serviço do controle e da dominação social. 
Nesse sentido, o conceito de nação tem um caráter opressivo e dissolvente ao apresentar como iguais 
as diferenças existentes. Esse conceito opera como recurso de legitimação de uma dada construção social 
da realidade e, ao criar laços afetivos de pertencimento, solidifica a harmonia social sobrepondo-se às 
diferenças e às contradições existentes. O conteúdo autoritário do conceito de Nação fica evidenciado 
no trecho a seguir:
A nação apresentada, ao nível das representações simbólicas, como síntese 
da sociedade, orienta-se para a totalidade, passando necessariamente pelo 
desconhecimento das diferenças e desigualdades sociais, revestindo-se de 
inequívoco conteúdo autoritário. A nacionalidade, vista sob a perspectiva 
da construção da identidade social no contexto da nação, ao eleger um 
denominador comum que, por definição, envolveria todos os componentes 
da sociedade num plano universalizante, contém um caráter artificial e 
dissimulador, desfazendo as identidades culturais particulares e diluindo 
as desigualdades sociais. Nesse sentido, contém igualmente um conteúdo 
autoritário e de dominação social (BERCITO, 1991, p. 37).
A nação e a nacionalidade significaram, pois, no século XIX, uma espécie de solução para inserção 
dos indivíduos no meio social conferindo-lhes identidade própria. Atribuir-se à nação “uma identidade 
original, um espírito próprio e irredutível ao das demais, serviria de fundamento para a historiografia 
romântica e nacionalista dos oitocentos” (OLIVEIRA, 2011, p. 20).
O investimento simbólico no nacional inclui cerimônias cívicas, elementos oficiais, como 
monumentos, hinos e bandeiras e, com grande importância, a construção de um passado comum 
para o qual a historiografia é peça fundamental. É na existência de tradições e de um conjunto de 
acontecimentos e personagens históricos comuns que os padrões e os valores sociais, a clivagem social 
e a composição do poder são justificados. A História comparece nesse contexto como legitimadora das 
condições encontradas no presente.
Não por acaso, na esteira de constituição dos estados nacionais na Europa, a partir do final 
do século XVIII prolongando-se pelo XIX, dá-se especial relevo à História e aos “lugares de 
memória”, como os arquivos históricos nacionais e os museus nacionais. Urgia gerar sensação 
de pertencimento às nações criadas a partir do reconhecimento de tradições e de um passado 
comum. A História é colocada em primeiro plano como área de investimento intelectual nesse 
sentido, e assistimos a intenso esforço de constituí-la como disciplina científica. A criação dos 
institutos históricos deve ser entendida nesse contexto.
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No Brasil, dada a ausência de uma língua única, com a diversidade de línguas indígenas e 
africanas concorrentes com o português, e de um passado que apontasse para uma homogeneidade 
étnica ou linguística, a construção da identidade nacional dependeu de um esforço de imaginação 
das elites (CUNHA, 1992, p. 33). Além disso, para transformar a ex-colônia portuguesa em nação 
com identidade própria, os historiadores engajados nesse projeto, assim como políticos, literatos 
e artistas na mesma situação, tinham de equacionar o que se pretendia e o que não se pretendia 
que o Brasil fosse. 
Apelou-se, de imediato, na visão romântica, para uma simbologia calcada na exuberância dos 
trópicos, com suas florestas verdejantes e, no elemento indígena, exotismo a nos singularizar. Mas 
a ligação com a civilização europeia deveria ser mantida, ainda que estivéssemos politicamente 
separados de Portugal, ou seja, não se pretendia a ruptura com a tradição portuguesa, ainda que 
desligados politicamente. 
Na verdade, se a ideia mestra era apresentar a nova nação como continuidade da civilização nos 
trópicos, essa seria garantida por meio do reforço da origem portuguesa,o liame a não nos distanciar 
das luzes, do progresso e da razão que a definiam. Essa escolha nos afastou decisivamente do indígena, 
do negro, da república, do estado laico e da América Latina, o que marcou por muito tempo as definições 
de identidade nacional que assumimos, com reflexos até nossos dias.
A isso se pode acrescentar a necessidade de consolidação da unidade nacional colocada em pauta 
desde a independência e reforçada com as instabilidades que antecederam e em alguma medida 
acompanharam a consolidação do Estado monárquico no Segundo Reinado.
A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro deve ser entendida nesse contexto de 
afirmação da nacionalidade brasileira em momento crucial da consolidação do Estado Nacional, que 
foi o período das regências. Para legitimar os contornos dessa nação pretendida, importava reunir 
conhecimentos sobre a origem da sua gente e a terra que ocupava, daí a reunião da História e da 
Geografia na mesma instituição. 
A missão do Instituto seria forjar a História pátria como fundamento da existência do Estado 
nacional, que almejava consolidar e reforçar a ideia da unidade política e territorial como um 
valor a ser preservado. A justificativa para isso deveria ser buscada no passado, em nossas origens. 
Urgia, a partir do reconhecimento dessas origens, proceder à definição dos limites territoriais, 
da composição do povo e das tradições comuns, ou seja, dos componentes principais da nação. 
Para isso, o conhecimento a ser produzido pelos membros do Instituto ou a seu encargo seria de 
enorme importância. 
Não é inédita a relação, muitas vezes, observada na História entre historiografia e poder. No 
Brasil dos oitocentos não foi diferente. A aproximação entre o Estado e os historiadores foi intensa, 
especialmente a partir de 1850, quando a estabilização política do regime monárquico reforçou 
o projeto centralizador do Império. Ressalta-se, nesse sentido, o papel do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro.
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2.3 O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
Figura 4 – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi a instituição de maior importância para a 
construção inicial de uma historiografia brasileira. Sua fundação ocorreu em 1838, na cidade do Rio de 
Janeiro, já tornada capital cultural do Império, com apoio direto do Estado. A criação desse Instituto deve 
ser entendida pela convergência entre influências europeias e necessidades do contexto histórico local. 
Após o turbulento período regencial, a maioridade do imperador, em 1845, trazia a mensagem da 
unidade territorial e do reforço da instituição monárquica que deveria garanti-la. A centralização política 
veio acompanhada, a partir de 1850, de um período de prosperidade econômica com o crescimento da 
economia cafeeira. É nesse momento de consolidação do Império brasileiro que deve ser entendida a 
produção historiográfica do IHGB. 
O IHGB inspirou-se no Institut Historique de Paris, criado em 1834, um pouco antes de seu congênere 
carioca. A ligação dos historiadores brasileiros com o instituto francês foi sempre muito intensa, e diversos 
deles participaram dessa agremiação, assim como do seu correlato local. A influência cultural francesa já 
era intensa, vinda desde antes da formação do estado nacional brasileiro, e se intensificou. Os modelos 
europeus serviam de parâmetros para os nossos intelectuais, e a França assumia progressivamente papel 
destacado como referência de civilização e padrão cultural europeu. 
Assistia-se, naquele momento, a uma crença inabalável no progresso humano, partilhado pelos dois 
institutos, nos quais a História assumia uma função importante para garantir essa continuidade com o 
espírito ilustrado presente na civilização europeia, da qual a França era a maior representante. A ligação 
com a cultura europeia seria o antídoto necessário para a barbárie que nos ameaçava nos trópicos.
D. Pedro II, patrono do Instituto desde os 12 anos, cedeu inicialmente salas do Palácio Imperial, 
antes de o Instituto ter sede própria para a realização das reuniões às quais ele era assíduo e 
muitas das quais presidiu. O patrocínio imperial, inclusive financeiro, vinculava o Instituto ao 
Estado. O imperador teve participação ativa no IHGB propondo temas de pesquisa, dando apoio 
financeiro a projetos e criando prêmios. 
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O imperador manifestava expectativas muito claras com relação ao IHGB no que se refere não apenas 
a forjar uma história e um passado para o País, mas também a enaltecer o Império que governava. Em 
1849, dirigindo-se aos integrantes do Instituto, cobrava deles uma atitude coerente com essa intenção:
[...] é de mister que não só reunais os trabalhos das gerações passadas, ao 
que vos tendes dedicado quase que unicamente, como também pelos nossos 
próprios, torneis aquela a que pertenço digna, realmente dos elogios da 
posteridade: não dividi, pois, as vossas forças, o amor da ciência é exclusivo, 
e concorrendo todos unidos para tão nobre, útil e já difícil empresa, erijamos 
assim um padrão de glória à civilização da nossa pátria (RIHGB, n. 12, 1849, 
apud GUIMARÃES, 2011, p. 79).
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro se tornou espaço de projeção pessoal e intelectual no 
Império. O perfil de seus membros os situava na elite da sociedade da época. Eram sócios do Instituto 
basicamente políticos, proprietários de terras e escritores renomados, e alguns deles figuravam em mais 
de uma dessas posições. Não causa surpresa o fato de que o discurso ali produzido fosse marcado por 
uma visão elitista.
2.4 Forjar a nação: missão do IHGB
No século XIX, o Brasil estava em sintonia com a Europa. Naquele continente, a História vinha se 
constituindo como ciência procurando sublinhar suas diferenças em relação aos romances históricos 
e às narrativas ficcionais, esforçando-se por construir metodologia e epistemologia próprias. Nesse 
percurso, delineava os contornos de histórias nacionais, verdadeiras “biografias” das nações a serem 
formadas, como a Itália e Alemanha, ou consolidadas, como a França. Observa-se um nexo fundamental 
entre a constituição da História como disciplina científica e a questão nacional. A história científica do 
século XIX esteve a serviço da Nação, contribuindo para cimentar laços de nacionalidades que buscavam 
no passado as razões de sua presença em territórios com limites em busca de definição. 
A História ali produzida pelos historiadores assumia progressivamente um papel de destaque 
como recurso de reconstrução do passado e avançava na definição de seus métodos e fundamentos 
teóricos. À intenção de alcançar a verdade histórica, comprovada por meio de documentos que 
a testemunhavam, somava-se um novo estatuto conferido ao relato histórico. Ambicionava-se 
transcender os relatos particulares em uma narrativa totalizante, entendendo-se o singular como 
parte de um todo. A abrangência alcançada pela narrativa histórica no século XIX deveria abarcar 
o máximo possível do curso dos acontecimentos, nele integrando os eventos singulares que seriam, 
assim, dotados de sentido.
O IHGB forjou um modelo de escrita de história e contribuiu para delinear os contornos da nação 
pretendida. Intentava fundar a historiografia nacional que servisse à pátria gloriosa em formação. 
A convergência com ideais românticos era flagrante, e a exaltação nacional assumia um tom de 
patriotismo. Escritores como Gonçalves Dias e Joaquim Manoel de Macedo eram participantes do 
Instituto (SCHWARCZ, 1993).
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
A sustentação ao projeto político unificado e centralizador do Imperador contou com certa 
militância intelectual por parte de membros do IHGB, pertencentes à elite, que se dedicaram a construir 
uma memória para o país que a favorecia. Nessa construção, ressaltava-se a continuidade do estado 
monárquico brasileiro com o Império Ultramarino Português e, ao mesmo tempo, a unidade territorial 
e política contrastante com a fragmentação das repúblicas espanholas na América. Sob uma pretensa 
imparcialidade, assistia-se a uma seleção parcial dos fatos consoante um verdadeiro pacto de não 
divulgar episódios históricos incompatíveis com o projeto centralizador e unificador, como os registros 
sobre as rebeliões regenciais que são minimizadas (GUIMARÃES, 2011).
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro se esforçou para compor uma imagem de D. Pedro II em 
que se sobressaíssem suas maiores qualidades e seu reinado figurasse como uma época de apogeu do 
País. Por sua origem, era apresentado como descendente das mais ilustres linhagens nobres europeias, 
sem que se deixasse de valorizar que ele havia nascido no Brasil. Sua juventude, ao assumir a chefia do 
governo, era comparada ao país, também jovem, com a antevisão de um futuro brilhante para ambos.
 D. Pedro II era apresentado como homem culto, intelectual, afeito às artes e às ciências. Sua própria 
ligação com o Instituto contribuía para reforçar essa visão. Seu conhecimento de várias línguas, seu 
trabalho como tradutor, sua dedicação aos estudos combinavam com a visão de “rei filósofo” que se 
queria passar.
Dentre as suas virtudes, a tolerância era destacada, e o fato de não ter precisado usar as armas 
para consolidar seu poder era prova disso. Escamoteava-se, dessa forma, a instabilidade nas províncias 
contida a duras penas no período regencial, e enaltecia-se a unidade do Império que se queria ressaltar.
Figura 5 – D. Pedro II
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 Lembrete
Ao final do conturbado período regencial (1831-1840), no qual as 
rebeliões nas províncias ameaçavam não apenas a estabilidade do Império, 
mas também sua integridade territorial, foi antecipada a maioridade de 
D. Pedro II. As rebeliões foram, aos poucos, sufocadas, e dava-se início ao 
longo reinado desse monarca no qual se investiu na consolidação da nação 
brasileira independente.
O IHGB pretendia ser a instância legítima para desempenhar a tarefa de escrever a História 
do Brasil cuja importância e necessidade a independência havia levantado e o Segundo Reinado 
colocava em destaque, originando expectativas nesse sentido, como se observa em manifestação de 
uma revista da época:
Uma história geral e completa do Brasil resta a compor e, se até aqui nem nos 
era permitido a esperança de que tão cedo fosse satisfeito esse desideratum, 
hoje assim não acontece, depois da fundação do Instituto Histórico cujas 
importantíssimas pesquisas no nosso passado deixam esperar que esta 
ilustre corporação se dê à tarefa de escrever a história nacional, resultado 
final para que devem convergir todos os seus trabalhos (apud GUIMARÃES, 
2011, p. 121).
2.5 A historiografia do IHGB
Não duvidamos, senhores, que as melhores lições que os homens podem 
receber lhes são dadas pela história.
Januário da Cunha Barbosa, no discurso de inauguração do IHGB
Os objetivos do IHGB estavam, pois, estreitamente relacionados à escrita de uma história vinculada 
à construção da nação independente, e isso se reflete em sua produção historiográfica. A História, 
conhecimento que acompanhava a humanidade há muito tempo com finalidades diversas, no século 
XIX, em meio ao processo de consolidação ou mesmo de construção dos estados nacionais europeus, 
vinha recebendo novos significados. Naquele momento, tornava-se poderoso recurso de legitimação 
dos estados que se formavam, dotando territórios e populações de tradições comuns e um passado 
único. Não se pode esquecer que o crescimento da imprensa e a ampliação do número de leitores 
naquele momento potencializavam a disseminação das ideias e acentuavam o caráter político do 
discurso histórico.
Nesse contexto, caberia aos historiadores do Instituto cumprir uma missão fundamental e que 
poderia ser sintetizada como: “construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos 
de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos” 
(SCHWARCZ, 1993). 
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A intenção de construir um passado e uma história para a nação independente que se constituía 
deixava marcas na visão histórica do período em que se sobressaía um discurso marcado pelo seu 
conteúdo político. Nas palavras da historiadora Maria de Lourdes Janotti:
A historiografia brasileira surgiu no momento da Independência, 
comprometida definitivamente com a questão nacional. História e 
historiografia, ação e pensamento. Estado nacional e suas subsequentes 
representações são componentes de um mesmo momento pleno de 
historicidade (JANOTTI apud FREITAS, 1998, p. 122).
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro surgiu nesse contexto como um recurso valioso para fazer 
avançar o projeto nacional que mobilizava amplamente os políticos e intelectuais brasileiros, inserindo 
os seus historiadores nesse mesmo movimento. Com suas obras, eles colaboraram no esforço simbólico 
de construir a nação produzindo um passado conveniente para esse propósito. Sobre a vinculação do 
IHGB ao projeto nacional, pode-se considerar que: 
[...] o processo de construção da ideia de nação brasileira deve ser 
compreendido como um “autêntico projeto de Estado”, em que a elite 
letrada e os agentes estatais (que, na maior parte das vezes, confundiam-se) 
mobilizam uma série de recursos políticos, econômicos, culturais e 
simbólicos a serviço de sua criação. O apoio ao IHGB, que se torna um dos 
braços intelectuais desse propósito, ordenando as evidências e os vestígios 
do passado nacional, faz parte dessa lógica [...] (KNAUSS; CEZAR apud 
GUIMARÃES, 2011, p. 12-3).
Com relação à produção historiográfica propriamente dita, é forçoso reconhecer que os trabalhos 
produzidos no contexto europeu inspiraram os emergentes historiadores brasileiros que ali tiveram uma 
fonte de teorias e conceitos. Como explica a historiadora Maria da Glória de Oliveira, ao tratar da 
importância das biografias no projeto do Instituto:
Na formulação do projeto histórico-biográfico do IHGB observa-se a 
preocupação com os procedimentos que passariam a conferir um caráter 
mais científico à operação historiográfica: o compromisso com a cronologia, 
a constituição de arquivos e o uso metódico dos documentos, visando à 
exatidão no estabelecimento dos fatos do passado. Desse modo, os letrados 
acreditavam disciplinar o gênero biográfico, fixando-lhe critérios de 
fidedignidade, com o intuito de torná-lo, enfim, historiográfico (OLIVEIRA, 
2011, p. 22). 
Ao longo do século XIX, em que avançaram os estudos históricos na Europa, buscou-se dar 
credibilidade a essa área de conhecimento aproximando-a de parâmetros científicos, conforme a visão 
da época. Para atingir patamares considerados próprios de uma ciência, o saber histórico precisou 
passar por esforços de metodização. A operação historiográfica passava a exigir comprovações a partir 
de documentos que funcionavam como fundamentos de um relato verdadeiro, linear, construído de 
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acordo com uma sequência cronológica. Daí a valorização intensa dos arquivos como repositórios dos 
valiosos – quase sagrados – documentos históricos, considerados como os testemunhos fundamentais 
da veracidade dos fatos. 
O IHGB assumia essa visão historiográfica do período que valorizava a reunião compulsiva de 
documentos para compor a reconstituição do passado pretendida. A principal preocupação do Instituto 
em seu início era reunir grande quantidade de documentos e produzir as bases de uma história nacional. 
Os historiadores que circulavam em sua órbita publicaram nas páginas da revista do Instituto, ou em 
volumes avulsos, coletâneas de documentos encontrados em arquivos nacionais ou estrangeiros. Com 
isso, fizeram um valioso trabalho de reunião de fontes históricas possibilitando seu uso por inúmeros 
pesquisadores desde então. Em seu estatuto, publicado já no primeiro número da Revista do Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro, o Instituto propunha-se a:
[...] coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para 
a história e geografia do Império do Brasil; e assim também promover os 
conhecimentos destes dois ramos filológicos por meio do ensino público, 
logo que seu cofre proporcione esta despesa (RIHGB, n. 1, 1839 apud 
GUIMARÃES, 2011, p. 53).
A visão de História do Instituto era a de que os ensinamentos do passado serviriam de guia para 
o futuro, especialmente em se tratando de uma nação que se formava. Imperava a noção de História 
magistra vitae pela qual a experiência das gerações passadas, trazidas à luz pelos historiadores, deveria 
orientar a ação de todos no presente e a atuação política dos homens de estado. Com essa finalidade, o 
historiador teria um papel destacado:
Com os sucessos do passado ensinará à geração presente em que 
consiste a sua verdadeira felicidade, chamando-a a um nexo comum, 
inspirando-lhe o mais nobre patriotismo, o amor às instituições 
monárquico-constitucionais, o sentimento religioso e a inclinação aos 
bons costumes (RIHGB, 1847, p. 286).
Não causa surpresa, nessa visão, a importância conferida pelo Instituto às biografias. As vidas de 
pessoas ilustres do passado seriam modelos a serem seguidos. Dava-se curso, com a publicação de séries 
de biografias na revista do Instituto, ao “projeto historiográfico que ambicionava salvar da voragem do 
tempo não somente os fatos memoráveis como os nomes e feitos dos que serviram à nação” (OLIVEIRA, 
2011, p. 27).
Ao gosto da época, os estudos sobre medalhas, comendas e moedas ocuparam muitos. As 
biografias das personalidades ilustres forneciam o exemplo a ser seguido. O destaque aos estudos 
de genealogia e nobiliarquias tinha sua função. O Império brasileiro, surgido com o desligamento de 
Portugal, carecia de nobreza local. Para compor a corte, importava demonstrar tradições familiares 
da elite autóctone para legitimar a nobreza tropical inventada pelo imperador agraciando membros da 
população que aqui viviam.
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Dentre os temas tratados pelos historiadores do Instituto predominavam os estudos sobre o 
período colonial, até porque o Império era condição recente. A intenção principal era proceder à 
busca sobre as origens da pátria, demarcar o nascimento da nação ainda no período de domínio 
português. O tema do “descobrimento do Brasil”, com a polêmica sobre sua intencionalidade, ou não, 
recebeu grande ênfase. A atenção a esse momento não causa surpresa. O projeto de História que era 
seguido, ao gosto dos historiadores oitocentistas, visava construir a “biografia” nacional destacando 
o momento em que esta havia surgido e em quais circunstâncias. 
Conhecer as nossas origens assumia destaque e relevância ímpar para atender aos objetivos 
pretendidos. Fixar nossas origens no descobrimento nos ligava de forma decisiva com a tradição europeia 
e deixava de lado a população indígena preexistente. 
Um tópico de grande interesse do Instituto, já presente em sua sessão de fundação, era a 
necessidade de definir uma periodização da história brasileira. Essa tarefa era revestida de grande 
interesse, pois, a partir dela, seria possível procurar e classificar os documentos necessários para 
escrever nossa história. Ao lado disso, caberia ao Instituto erigir um plano a partir do qual fosse 
escrita a História do Brasil, de forma global e em sua totalidade. Fazia parte do projeto histórico 
do Instituto garantir a lembrança dos fatos marcantes da história nacional pela publicação de 
documentos em sua revista. 
 Saiba mais
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi criada em 
1839 e vem circulando regularmente desde então. 
Para conhecer a coleção completa, que encontra-se disponível na 
página do Instituto, acesse: 
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO. Rio 
de Janeiro: IHGB, [s.d.]. Disponível em: <https://ihgb.org.br/publicacoes/
revista-ihgb/itemlist/filter.html?category=9&moduleId=147>. Acesso em: 
20 set. 2016.
Definir os parâmetros da história a ser escrita conduziu à criação de um concurso pelo IHGB 
vencido pelo naturalista alemão Karl Friedrich Philipp von Martius com Como se Deve Escrever a 
História do Brasil publicado na revista do Instituto em 1845. Nele, são lançadas as bases de um 
programa pragmático de estudo pautado pela consideração da importância das três raças (brancos, 
negros e indígenas) na formação brasileira. Ainda que a supremacia branca não fosse descartada, com 
destaque dado à preponderância portuguesa nessa formação, von Martius lembrou a participação 
dos outros grupos a ser analisada. Em suas palavras: 
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Do encontro, da mescla, das relações mútuas e mudanças dessas três raças, 
formou-se a atual população cuja história por isso mesmo tem um cunho 
muito particular [...].
[...] disso necessariamente se segue que o português que, como descobridor, 
conquistador e senhor, deu as condições e garantias morais e físicas para um 
reino independente, que o português se apresenta como o mais poderoso 
e essencial motor. Mas também de certo seria um grande erro para todos 
os princípios da historiografia pragmática se se desprezassem as forças dos 
indígenas e dos negros importados, forças estas que igualmente concorreram 
para o desenvolvimento físico, moral e civil da totalidade da população. 
[...] o sangue português, em um poderoso rio, deverá absorver os pequenos 
afluentes das raças índia e etiópica (RIHGB apud RODRIGUES, 2007, p. 5). 
A maneira como o IHGB tratou a questão da participação das “três raças formadoras” foi de acordo 
com os parâmetros de um país escravocrata, que buscava distanciar-se da presença negra e reafirmar 
sua origem europeia. Nessa visão, o predomínio na composição do povo brasileiro, ainda que se parta 
da consideração do amálgama racial, é conferido ao branco português, visto como fator de civilização. 
Para esse instituto, o negro era concebido como inassimilável e incivilizável. Quanto aos indígenas, as 
opiniões variavam. Sua eleição como símbolo da nacionalidade demonstra as voltas do pensamento da 
elite brasileira na época comportando visões de valorização e desqualificação desse grupo. Vale destacar 
que a temática indígena ocupou várias páginas da revista do Instituto.
Essa visão sincrética da composição da população teve longo alcance, tendo sido levada adiante 
por nomes, como Francisco Adolpho de Varnhagen (História Geral do Brasil, 1855) ou Sílvio Romero 
(História da Literatura Brasileira, 1888). Conheceu nova angulação com Gilberto Freyre, na década de 
1930 (Casa-Grande & Senzala), e mantém forte presença ainda hojeno senso comum, muitas vezes, 
sem a devida consideração das tensões e questões políticas envolvidas com a sujeição histórica a que 
foram submetidas as populações negras e indígenas.
A ideia de nação anunciada ressaltava uma unidade racial e cultural resultante do cruzamento de 
três raças. Com isso, estabeleciam-se os parâmetros da identidade brasileira definindo-se as alteridades 
e as singularidades que a delimitavam. 
No processo de construção da identidade brasileira declarava-se o que o País não queria ser, 
transformando o negro considerado “incivilizável” no “outro” a se distanciar. Celebrando-se a supremacia 
do branco europeu, inseria-se a nação brasileira na tradição e no progresso da civilização europeia. 
Ao mesmo tempo, fincava-se nossa singularidade como povo na particular composição da população, 
produto de um amálgama racial. À medida que o século avançava, assumia-se progressivamente um 
projeto de depuração racial por meio do “branqueamento”, como será visto posteriormente.
De qualquer forma, sob os auspícios do IHGB inaugura-se a ideia de formação da população 
brasileira a partir do “amálgama de três raças” que teve longo alcance dando substância à concepção 
da harmonia racial na sociedade brasileira, mito muitas vezes combatido quando se consideram 
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as tensões existentes na realidade. Ao se colocar a questão nos termos de “contribuição” de 
brancos, negros e índios se oblitera “toda trama de dominação, exploração e conflito que forma 
exatamente o contexto de nascimento da nação” (NOVAIS, 2005, p. 316).
O IHGB também tinha seus compromissos com a geografia, o que estava manifestado já na sua sigla. 
Também no âmbito dessa outra área, compreendida pelo Instituto, a questão primordial a ser focalizada 
era a construção da nação brasileira. Assegurar a definição dos limites do território por meio do seu 
reconhecimento, situar cidades, vilas, rios e demais acidentes geográficos era necessário para garantir a 
unidade e a identidade da nação. 
A questão de definição dos limites do Império recebeu bastante investimento de D. Pedro II, 
exigindo um grande esforço diplomático para isso. Importava, para fundamentar as tratativas, um bom 
conhecimento das terras brasileiras, tarefa assumida também pelo Instituto. Muitos relatos de viagens, 
descrições das áreas visitadas, comentários sobre as condições do transporte, dados demográficos, 
entre outros assuntos que poderiam contribuir para a unidade territorial e a integração regional, foram 
publicados nas páginas da revista do Instituto. Expedições foram realizadas por membros do Instituto 
para conhecer áreas inexploradas com a finalidade de possibilitar a exploração econômica e a integração 
política das regiões.
Além daquele inicial, vários outros concursos foram realizados pelo Instituto. Em 1848, por 
exemplo, foram premiados trabalhos escritos sobre os seguintes temas propostos: “A história dos 
Jesuítas no Brasil”, a “História da Cidade do Rio de Janeiro” e “Quais vestígios confirmam a tese 
de que o Brasil já teria sido descoberto antes de 1500 por europeus?” O próprio imperador chegou 
a propor temas, como o da elaboração de um dicionário de línguas indígenas e o estudo de sua 
cultura (GUIMARÃES, 2011, p. 137).
Outros institutos congêneres ao IHGB foram criados no Brasil. Em Pernambuco, o Instituto 
Arqueológico e Geográfico Pernambucano (1862) dedicou-se a fazer uma história de cunho 
regional a serviço do enaltecimento de uma elite açucareira em declínio. Já o Instituto Histórico 
e Geográfico de São Paulo (1894) se tornou a voz autorizada de uma elite cafeeira ascendente. 
Ali se produziu uma história marcadamente paulista, mas com aspiração nacional, pois a história 
da província de São Paulo, no entendimento daquele instituto, seria a própria história do Brasil 
(SCHWARCZ, 1993, p. 127). 
O bandeirismo foi tema caro aos historiadores paulistas. O bandeirante, apresentado como desbravador 
valente, logo se tornou o símbolo do perfil vitorioso do estado e da sua gente que interessava à elite 
cafeicultora ressaltar. A questão racial também teve espaço na produção do instituto paulista logo 
engajada na tese do branqueamento, tão cara ao projeto imigrantista de São Paulo. 
Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) foi historiador ligado ao instituto paulista. Filho do 
Visconde de Taunay, romancista e político, estudou engenharia antes de se notabilizar como historiador. 
Autor das antológicas História Geral das Bandeiras Paulistas (1924-1950), em 11 volumes, e História 
do Café no Brasil, em 15 volumes (1939-1943), é acusado de não demonstrar poder de síntese e de 
colecionar fatos e documentos em profusão, sem seleção ou análise. 
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Ao final do século XIX, o crescimento econômico da Província de São 
Paulo relacionado à cafeicultura ressaltava o interesse em conhecer o 
território paulista, que se colocava em paralelo ao de se forjar sua história. 
Isso ensejou a criação da emblemática Comissão Geográfica e Geológica 
(CGG), que percorreu a região de 1886 a 1931 fazendo levantamentos e 
pesquisas sobre seus aspectos geológicos e geográficos. 
Para saber mais acerca dessa instituição, acesse: 
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Comissão Geográfica 
e Geológica (CGG). São Paulo, [s.d.]a. Disponível em: <http://mugeo.sp.gov.
br/comissao-geografica-e-geologica/>. Acesso em: 20 set. 2016.
2.6 O legado historiográfico do IHGB
A criação do IHGB levantou novas preocupações e abriu caminhos para colocar a produção historiográfica 
brasileira em novas bases, para além das crônicas e dos relatos de base histórica. Preocupou-se em discutir 
métodos e fontes, dando início à pesquisa sistemática sobre a História do Brasil. Inaugurou a institucionalização 
dessa prática e lançou as bases para a profissionalização da História no País. 
O historiador Manoel Luiz Salgado Magalhães considera que a historiografia iniciada sob os auspícios 
do Instituto:
“[...] contribuiu, em primeiro lugar, para determinado modelo de escrita da história, ainda com 
elementos de uma história iluminista, e, em segundo lugar, para afirmar um modelo indiscutível de nação” 
(GUIMARÃES, 2011, p. 54).
Nesses primeiros tempos, forjaram-se os contornos da história oficial, tributária da vinculação dessa 
disciplina com a construção nacional que adentrou o século XX. Foi marcante até a década de 1930, 
perdurando na longa duração até nossos dias, ainda que em caráter residual. A produção historiográfica 
característica desse período foi aquela em que imperavam a narrativa biográfica, com seus mártires e 
heróis, e a história factual de marcado conteúdo político. 
Os historiadores vinculados ao Instituto dedicaram-se a estabelecer as bases da “biografia da nação”. 
Para isso, selecionaram e sistematizaram fontes nos inventários que realizaram e consolidaram fatos que 
acabaram por compor as referências principais da historiografia tradicional. 
Ainda que a produção do Instituto tenha sido objeto de críticas e revisões historiográficas, não se 
pode negar sua importância. As obras produzidas, além de fornecerem interpretações inaugurais sobre 
a história brasileira, podem ser tomadas como fontes de pesquisa pela documentação volumosa que 
reuniram e compilaram. Foram os primeiros autores em busca de documentos sobre a História do Brasil 
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a visitar arquivos que recém se organizavam, dado que arquivos nacionais públicos eram novidade

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