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Projeto político pedagógico

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junho, 2021
CENTRO DE
ATENDIMENTO
SOCIOEDUCATIVO
CASE MOSSORÓ
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
CENTRO DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
CASE - MOSSORÓ
Nova concepção socioeducativa nas unidades de restrição
e privação de liberdade do Rio Grande do Norte.
junho, 2021
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CENTRO DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
CASE - MOSSORÓ.
Pesquisa e redação:
Coordenação: Prof.ª Drª Ilana Lemos de Paiva,
Prof. Dr. Herculano Ricardo Campos
Pesquisadores OBIJUV/UFRN:
Carmem Plácida Sousa Cavalcante, Daniela Bezerra Rodrigues, Fernanda Cavalcanti de
Medeiros, Gabriel Miranda Brito, Jéssica de Morais Costa, Joyce Pereira da Costa, Mariana
Fonseca Cavalcanti, Nathália Potiguara de Moraes Lima, Renata Cibelli Freire Barbosa
Pesquisadores Colaboradores:
Lauriston de Araújo Carvalho, Marlos Alves Bezerra, Shirlenne Nascimento dos Santos
Colaboradores da unidade socioeducativa:
Katia Cilene Cordeiro de Oliveira, Francisco Keles de Morais Lima, Maria Suzana de Souza
Leite, Wilgna de Fátima Fernendes de Oliveira, Andrea Moreira Pires Ferreira, Raysy
Karolina Silva Alves Souza, Jane Cleide da Silva Medeiros
Centro Administrativo do Estado – BLOCO I- SETHAS, BR 101, Km 0. Lagoa Nova, Natal/ RN. CEP:
59.064-901 Telefone: (84) 3232-7001
fundase@rn.gov.br / presidência.fundase@rn.gov.br
mailto:fundase@rn.gov.br
Sumário
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 8
1.1. Aspectos Normativos e Históricos................................................................................................8
2. MARCO CONCEITUAL..............................................................................................................11
PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-FILOSÓFICA DA INSTITUIÇÃO............................................11
2.1 CONCEPÇÃO DE ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE.......................................................................11
2.2 ATO INFRACIONAL................................................................................................................... 13
2.3 CONCEPÇÃO DE SOCIOEDUCAÇÃO..........................................................................................14
2.4 JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO PRESSUPOSTO DA CONCEPÇÃO DE SOCIOEDUCAÇÃO......... 18
3.2 Bases éticas e organizacionais.....................................................................................................20
3.3. Reestruturação organizacional................................................................................................21
3.4. As unidades de internação segundo SINASE................................................................21
3.5 Características do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Mossoró...............23
Caracterização do entorno do CASE Mossoró..........................................................................23
Infraestrutura e recursos materiais...............................................................................................24
3.6 Principais problemáticas do case Mossoró............................................................................ 26
4. MARCO OPERATIVO................................................................................................................... 27
4.1. Metodologia............................................................................................................................. 27
4.2. Eixo GESTÃO..........................................................................................................................27
4.2.1. Subeixo GESTÃO INSTITUCIONAL............................................................................27
4.2.1.1 Dialogicidade e horizontalidade..................................................................................28
4.2.1.2. Articulação permanente.............................................................................................. 30
4.2.1.3. Composição e dinâmica das equipes de acordo com o SINASE.........................31
4.2.1.4. Acompanhamento de egressos................................................................................. 32
4.2.1.5. Relação com a gestão central....................................................................................33
4.2.1.6. Alinhamento de regimento interno entre as unidades de mesma natureza de
medida..........................................................................................................................................33
4.2.1.7. Alinhamento do fluxo de ações ao Projeto Político Pedagógico da unidade.....34
4.2.2. Sub-eixo GESTÃO DE PESSOAS E PROCESSOS DE TRABALHO....................34
4.2.2.1. Efetivação e avaliação periódica do Projeto Político Pedagógico....................... 35
4.2.2.2. Monitoramento e Avaliação sistematizada das ações e práticas.........................36
4.3. Eixo PROCESSOS E ATIVIDADES.................................................................................... 37
4.3.1. GARANTIA DE DIREITOS.............................................................................................37
4.3.1.1. Garantia Integral...........................................................................................................37
4.3.1.2. Nutrição..........................................................................................................................38
4.3.1.3. Inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral...........................................38
4.3.1.4. Atenção integral à saúde............................................................................................ 39
4.3.1.5. Respeito à diversidade................................................................................................39
4.3.1.6. Educação formal e não formal................................................................................... 40
4.3.1.7. Esporte, arte, cultura e lazer...................................................................................... 41
4.3.1.8. Documentação pessoal...............................................................................................41
4.3.1.9. Convivência familiar.....................................................................................................41
4.3.1.10. Acesso ao sistema de justiça...................................................................................42
4.3.1.11. Direito à sexualidade.................................................................................................42
4.3.1.12. Procedimentos não invasivos de revista................................................................42
4.3.2. Sub-eixo ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO.........................................................43
4.3.2.1 Garantia do caráter sociopedagógico do trabalho na unidade, norteado pelo
PPP...............................................................................................................................................43
4.3.2.2. Garantia de atendimento técnico, acompanhamento e articulação com a rede
para adolescentes e famílias....................................................................................................43
4.3.2.3. Garantia da segurança socioeducativa.................................................................... 44
4.3.2.4. Prevalência da ação socioeducativa sobre os aspectos sancionatórios............ 45
4.3.2.5. Melhoria do acolhimento do adolescente na unidade............................................46
4.3.2.6. Alinhamento de ações realizadas por atores externos à proposta
socioeducativa da unidade........................................................................................................46
4.3.2.7. O PIA como elemento orientador das ações da equipe técnica (internação e
semiliberdade).............................................................................................................................46
4.3.2.8. Atendimentoem saúde e o acesso ao SUS............................................................47
4.3.2.9. Acesso à justiça............................................................................................................47
4.3.2.10. Atendimento às famílias............................................................................................48
4.4. FASES DE ATENDIMENTO................................................................................................. 48
4.4.1. Fase 01: Admissão..........................................................................................................49
4.4.2. Fase 02 – Acompanhamento do cumprimento da medida.......................................52
4.4.3. Fase 03 – Conclusão do cumprimento da medida.....................................................53
4.5. Plano de ação..........................................................................................................................54
5. AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO........................................................................................58
6. REFERÊNCIAS...........................................................................................................................62
MENSAGEM AO SOCIOEDUCADOR
“O mundo é isso, revelou: um montão de gente, um mar de foguinhos. Não
existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as
outras. Existem fogos grandes e fogos pequenos, e fogos de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem fica sabendo do vento, e existe gente de
fogo louco, que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não
iluminam nem queimam. Mas outros… Outros ardem a vida com tanta
vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se
incendeia” (O Mundo – Eduardo Galeano).
Prezado socioeducador1,
Sem dúvidas, o trabalho no sistema socioeducativo impõe-se como um dos mais
desafiadores, tendo em vista que são diversos os obstáculos apresentados para seu
desenvolvimento. Diante disso, o Projeto Político Pedagógico (PPP) apresenta-se como uma
ferramenta imprescindível para a atuação nesse campo, uma vez que serve de referência para
seu trabalho, bem como dos demais educadores imersos no cotidiano das unidades de
cumprimento de medida.
O documento que você tem em mãos, base para o trabalho socioeducativo a ser
realizado no nosso estado, é fruto de um esforço coletivo, que contou com a participação de
diversos atores da comunidade socioeducativa, como gestores, socioeducadores, familiares,
adolescentes e membros do sistema de justiça. A construção conjunta é característica que
aumenta a importância do PPP, na medida em que expressa o sincero compromisso de todos
com o aperfeiçoamento das práticas desenvolvidas no contexto da socioeducação,
historicamente marcado pela violação de direitos das mais diversas ordens
O desafio aqui expresso é construir uma prática que contribua para que os
adolescentes em cumprimento de medida encontrem, na socioeducação, um caminho
privilegiado de construção do seu futuro e da sua família, em conjunto com a sociedade, sem
negar as diferenças e as dificuldades para a conquista desse objetivo. Portanto, busca-se, com
este documento, iluminar caminhos, semear a esperança, para colher o crescimento.
1 Deve-se compreender que, nesse documento, “socioeducador” distingue-se de “agente socioeducativo”: o
primeiro refere-se a todos os trabalhadores que atuam nas unidades socioeducativas. Já o segundo remete-se a
uma das ocupações que fazem parte do corpo profissional das unidades, melhor detalhada na lei orgânica da
FUNDASE.
Nessa direção, um ponto de partida fundamental é a compreensão de que os
socioeducandos são, antes de tudo, adolescentes. Como tal, são sujeitos em fase peculiar de
desenvolvimento, buscando um lugar nesse mundo, procurando se afirmar, serem ouvidos,
serem visíveis, a despeito e a partir das histórias de vida reais, em geral marcadas por muitas
dificuldades, sobretudo materiais e de relações sociais. Assim, é muito importante reconhecer
seu potencial para percorrerem outras trajetórias de vida, permeadas pelo crescimento, pelo
respeito, pela dignidade e pelo protagonismo. Para tanto, a qualidade das relações, da
mediação educativa que se dê entre eles e os socioeducadores é decisiva, de modo que é
evidente o papel especial que assume o socioeducador nesse processo. Sem a sua vontade, o
seu compromisso e o seu trabalho qualificado, a efetivação desse documento se mostrará
inviável e ele perderá seu sentido.
É por isso que o convidamos, socioeducador, a conhecer esse documento e a adotá-lo
criticamente na sua prática cotidiana, de modo que seus questionamentos possibilitem
aperfeiçoá-lo. Esperamos que ele seja um bom guia para o seu trabalho, bem como um fator
de reflexão sobre o processo socioeducativo. Agradecemos a todos que participaram de sua
construção.
Agora, resta o desafio da sua realização. Mãos-a-obra!
Observatório da População Infanto-Juvenil em Contextos de Violência
(OBIJUV/UFRN)
Fundação de Atendimento Socioeducativo do Estado do Rio Grande do Norte
(FUNDASE-RN)
APRESENTAÇÃO
O presente Projeto Político Pedagógico – PPP – é resultado de uma construção
coletiva em que se avaliou o Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE) de Mossoró,
expondo suas problemáticas e proposições diante da conjuntura que se estabelece e que se
pretende instituir.
Diante desse pressuposto, a partir do contexto em que se encontra imerso, o PPP se
constitui como um instrumento primordial para o desenvolvimento do labor na instituição de
que se trata, estando de acordo com as legislações vigentes, essencialmente o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), o Regimento Interno e o Manual de Segurança da FUNDASE.
Logo, é sabido que inúmeros são os obstáculos que se apresentam à comunidade
socioeducativa, visto que a sua finalidade caminha ao encontro do processo de garantia dos
direitos dos adolescentes, ao passo em que se busca a ocorrência qualificada da socieducação.
Nesse sentido, este projeto pretende expor, a priore, os principais anseios da
instituição, a fim de construir parâmetros para novas experiências e ações de curto, médio e
longo prazo, objetivando cumprir a missão da socioeducação a que nos propomos,
contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e responsáveis, protagonistas de suas
próprias histórias.
Assim, ao longo deste documento, discorreremos acerca de inúmeras categorias,
essencialmente adolescência, direitos humanos, socioeducação, o que compreendemos serem
aspectos relevantes que possamos alcançar os objetivos que orientam este documento,
primordialmente, a parte diagnóstica e de execução de atividades, conforme esclareceremos
adiante.
8
1. MARCO SITUACIONAL
1.1. Aspectos Normativos e Históricos
Apesar de já existir no país uma política consolidada acerca do atendimento a crianças e
adolescentes pauperizados, com elementos específicos para lidar com o adolescente
considerado “infrator”, foi com o movimento militar durante a década de 1960 que a
intervenção junto à infância se tornou uma questão de defesa nacional (Rizzini & Rizzini,
2004). Para efeito, a partir do ano de 1964, uma nova política direcionada para as crianças e
adolescentes que estivessem em “situação irregular” começou a ser pensada no Brasil. Na
esteira de tal movimento, o Rio Grande do Norte também passou a se preocupar com a
problemática do “menor”.
Em meados da década de 1970, as organizações jurídicas do Estado não apresentavam
condições de acompanhar os adolescentes autores de ato infracional, alegadamente por falta
de local adequado para sua institucionalização (Cavalcante, 2014). O então Departamento de
Serviço Social do Estado (DSSE) reafirmava a previsão de abertura de novas vagas para
internação de adolescentes, em 1972. A situação só começou a melhorar quando da
inauguração do Centro de Recepção e Triagem (CRT),destinado ao atendimento inicial de
crianças e adolescentes em situação de risco social, e com a abertura de vagas no Instituto
Estevam Machado (IEM), destinado a internação de adolescentes autores de atos infracionais.
Registra-se que, no ano de 1973, havia quatro estabelecimentos para institucionalização
de crianças e adolescentes no estado do RN, todos com vagas para internato e semi-internato,
bem como para atendimento aberto (quando o adolescente não morava na unidade). Em 19 de
dezembro do mesmo ano, o Diário Oficial do Estado publicou a criação da Fundação
Estadual do Bem-Estar Social – FUNBEAL-, cujos estatutos foram aprovados em maio de
1974, através do decreto Nº 6.331, de 02/05/74. A FUNBEAL, em pouco tempo passou a se
chamar Fundação do Bem-Estar Social do RN – FUNBERN, como permaneceu até 1979. Ao
final deste mesmo ano, a FUNBERN, através do DSSE, tinha como competência os cuidados
em relação às seguintes instituições: Instituto Padre João Maria, Instituto Dom Manoel
Tavares, Abrigo Juvino Barreto, Casa de Menores Mário Negócio e Centro de Recepção e
Triagem (CRT).
Já em 1979, foi implementada uma nova política de atendimento, sob a égide da
Doutrina da Situação Irregular e obedecendo as premissas da Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor – FUNABEM. Em decorrência, o Instituto Estevam Machado (IEM), unidade
de internação, foi fechado, dando lugar ao Centro de Reeducação do Menor (CRM),
9
destinado a receber adolescentes em situação irregular, que estivessem em desacordo com as
normas da sociedade, cometendo “crimes”. Permanecia a categoria “menor em situação
irregular”, bem como permanecia a premissa contraditória dos cuidados com crianças e
adolescentes sob os olhares da repressão e do assistencialismo.
De acordo com a nova política, ainda em 1979 foi instituída a Fundação Estadual de
Bem-Estar do Menor – FEBEM -, substituindo a FUNBERN. Cabia à nova Fundação
promover a assistência aos “menores”, em unidades de internação e de semi-internação, bem
como desenvolver planos e projetos de prevenção e amparo a crianças e adolescentes pobres
do estado. Neste sentido, foram criados os Centros de Integração do Menor, os CIAM´s, que
consistiam em sistemas de creches, cujo objetivo era proporcionar um atendimento integral às
crianças de zero a seis anos de idade, em regime de semi-internato. Ali, o Rio Grande do
Norte chegou a atender cerca de 1.500 crianças, em 14 creches, em todo o Estado.
No ano seguinte foi instituído pela FEBEM o “Plano de Prevenção à Marginalização
do Menor” – PPMM -, que visava desenvolver projetos sociais voltados para crianças e
adolescentes e suas famílias, no sentido de promover o afastamento de situações de
vulnerabilidade social que pudessem colocar em risco sua integridade social. O Plano foi
executado através da própria FUNABEM, que disponibilizou assessoria técnica, treinamento,
pagamento de despesas de voluntários e estagiários, além de equipamentos.
Face às características do atendimento desenvolvido nas instituições afeitas à Política
Nacional do Bem-Estar do Menor – PNABEM -, marcado por situações de extrema violação
de direitos, e à sua denúncia nas mais diferentes mídias, que ecoavam o inconformismo de
educadores e de adolescentes que por elas tinham passado, tem início uma intensa
organização de movimentos sociais em defesa de melhores condições de acolhimento para
crianças e adolescentes institucionalizados. A pressão social cresce na medida em que ganha
apoio de entidades governamentais e não governamentais, locais e internacionais,
oportunizando o surgimento de uma grande mobilização de educadores, crianças e
adolescentes de todo o país, conhecido como o Movimento Nacional de Meninos e Meninas
de Rua (MNMMR).
O Movimento implementou uma metodologia de trabalho que previa o acompanhamento
de crianças e adolescentes nos locais onde se encontravam, denominada Educação Social de
Rua, efetivando um novo modo de resgate deste segmento populacional. O educador social
de rua realizava os atendimentos a estes meninos e meninas no âmbito de suas vivências
próprias, nas ruas e na comunidade, de modo que, ao mesmo tempo, por um lado criticava o
modelo repressor de atendimento no âmbito da PNABEM, e por outro desenvolvia uma nova
10
proposta de acolhimento, fazendo valer o respeito à integridade moral e física dessa
população (Evangelista, 2011).
Na esteira dessa pressão popular, a Constituição de 1988 previu, e em 1990 foi
promulgado, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – lei nº 8069/90), sob a égide da
Doutrina da Proteção Integral. Essa lei inaugurou um novo estatuto jurídico para crianças e
adolescentes, a partir de então considerados sujeitos de direitos, assim evitando que
continuassem a ser tratados como objeto pelo Estado, a exemplo do que ocorria na época dos
Códigos de Menores, sob as Doutrinas do Direito do Menor, da Segurança Nacional e da
Situação Irregular. Em acréscimo, o ECA entende o adolescente como pessoa em condição
peculiar de desenvolvimento, de modo que ficou garantida sua responsabilização por ato
infracional cometido, mas não sua punição, como no caso dos adultos que cometem crime.
No âmbito no Rio Grande do Norte, a FEBEM deu lugar à Fundação Estadual da Criança
e do Adolescente (FUNDAC), inicialmente voltada para a gestão de unidades de privação e
restrição de liberdade e, até 1996, também para as unidades de acolhimento institucional. Em
decorrência, o CRM foi fechado, sendo criado em seu lugar o Centro Educacional Pitimbu;
da mesma forma, o Instituto Pe. João Maria deu lugar ao Centro Educacional Pe. João Maria,
para receber adolescentes do sexo feminino; e outros Centros Educacionais foram instituídos
no interior do estado, como nos municípios de Caicó e de Mossoró. A reestruturação também
contemplou as unidades executoras de medidas socioeducativas de semiliberdade, o CEDUC
Santa Delmira, em Mossoró, e o CEDUC Nazaré, em Natal, além de dois Centros Integrados
de Atendimento ao Adolescente (Unidade de Internação Provisória), um no município de
Natal e outro em Mossoró.
Em âmbito nacional, em 2012 foi instituído o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (SINASE), visando detalhar os princípios do ECA no âmbito do atendimento
ao adolescente autor de ato infracional. Nessa direção, o SINASE prevê como devem ser
desenvolvidas as práticas de caráter pedagógico para o adolescente sob medida
socioeducativa, desde a apuração do ato até a execução da medida determinada pelo juiz. Ao
mesmo tempo em que prevê a responsabilização do adolescente pelo ato infracional cometido,
o SINASE consiste em uma política de proteção dos direitos desse adolescente, colocando a
família e a sociedade como parceiras no processo de construção de um novo projeto de vida,
que rompa com a prática do ato infracional.
No RN, muito embora as unidades de atendimento geridas pela FUNDAC tenham
procurado desenvolver seu trabalho com base nas novas diretrizes, muitos atravessamentos
concorreram para que não tivessem obtido sucesso. Nas Unidades de Internação Provisória,
11
os problemas de ordem administrativa e as denúncias de práticas de violações de toda ordem
se tornaram frequentes de modo que, em março de 2014, a FUNDAC sofreu uma intervenção
judicial, proferida através de uma Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público do
estado. Além da intervenção judicial, uma das unidades de atendimento sofreu interdição
total, sendo fechada para reforma, e as demais unidades sofreram interdição parcial, com
redução das vagas, devido à falta de infraestrutura e de condições sociopedagógica para seu
funcionamento.
Desde esse momento considerado histórico para a instituição, quando foram enfrentadas
as questões que comprometiam o desenvolvimento dos seus objetivos e o trabalho dos seus
funcionários, é notório o aperfeiçoamento das condições de trabalho e das práticas
institucionais. As condições estruturais foram significativamente melhoradas, bem comovárias ações de cunho pedagógico foram revistas e reavaliadas pela instituição, pelo sistema
de justiça e pelo controle social. Nesta perspectiva, o pleno estabelecimento da socioeducação
está em processo de implementação, para o quê visa contribuir este Projeto Político
Pedagógico.
Ainda na perspectiva de melhorias destacamos a promulgação da Lei Complementar nº
614/2018, de 05 de janeiro de 2018, que propiciou a implantação do Plano de Cargos,
Carreira e Remuneração – PCCR – e a reestruturação organizacional da instituição,
alinhando-a aos parâmetros do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).
Nesse processo, a Fundação de Atendimento Socioeducativo – FUNDASE/RN, sucede a
Fundação Estadual da Criança e do Adolescente – FUNDAC.
2. MARCO CONCEITUAL
PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-FILOSÓFICA DA INSTITUIÇÃO
2.1 CONCEPÇÃO DE ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
Em primeiro lugar, cabe destacar que não existe uma adolescência ou uma juventude,
mas que tais fases devem ser tratadas no plural, “adolescências e juventudes”, uma vez que
são vivenciadas de formas distintas de acordo com o tempo histórico, a classe social, o
gênero, a raça, as configurações familiares, os espaços geográficos e as culturas em que os
adolescentes e jovens estão inseridos. Por tal razão, é superficial e inadequado tratar a todos
os socioeducandos como se fossem um só, e a partir de estigmas e estereótipos como
‘aborrecentes’, ‘problemáticos’, etc.
12
A adolescência é um período marcado por uma série de mudanças relacionadas ao
desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. É nessa fase que, na medida em que a
infância vai ficando para trás, acelera-se o processo de crescimento físico, a maturação e o
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, a chamada puberdade, que resulta em
mudanças hormonais, nos padrões de sono e da alimentação. Da mesma forma, também se
constitui um novo entendimento do mundo, em que o sujeito se coloca como protagonista,
como detentor de um entendimento diferenciado. É comum a busca de parceiros de idade
semelhante, a adoção de padrões de vestimenta, de corte de cabelo, de linguagem etc. Nesse
momento, em que a hora para começar e para terminar depende de fatores como educação,
acompanhamento familiar etc., os adolescentes passam a assumir papéis e responsabilidades
distintos dos da infância, seja junto aos amigos e à família, seja em relação à sociedade de
uma forma geral (Leal & Facci, 2014; Bezerra & Campos, 2015).
É fundamental que se olhe para a adolescência de maneira a considerar o contexto no
qual ela vem sendo constituída, pois os componentes sociais e culturais nos quais cada um
está imerso têm importância essencial na constituição do que ele é como adolescente. Não é
mais concebível a compreensão da adolescência que toma por base apenas os princípios
biológicos, sendo necessário pensá-la de forma aberta, a partir da perspectiva de um sujeito
multidimensional e sempre em construção. Portanto, mais do que biológica, a adolescência é
social, cultural e histórica, podendo ou não existir em diferentes momentos, culturas ou
grupos sociais, e assim suas possibilidades de expressão não são limitadas e nem uniformes.
Ademais, outro elemento marcante e que merece muita atenção dos educadores em
geral, a respeito da adolescência e da juventude, consiste em que nesses períodos se
desenvolvem as identidades dos sujeitos, inclusive de gênero e orientação sexual. Em tais
momentos, nos quais a escola e o trabalho se apresentam como veículo para a consecução dos
objetivos de vida que começam a ser definidos, ter que assumir novos papéis e novas
responsabilidades implica em grandes desafios – maiores para uns e menores para outros -,
sendo fundamental o apoio que recebem – ou não – dos pais e da família, dos educadores, do
grupo de referência. Em outras palavras, faz toda a diferença para os adolescentes e para os
jovens se são acolhidos em suas especificidades, que tipo de acolhimento é dado e de quem
parte esse acolhimento; disso depende a força para vivenciar tais processos e para traçar
planos e projetos de vida.
Com base em tal compreensão, quando pensamos mais especificamente nos
adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa, é fundamental atentar para
a história de vida de cada um, que na maior parte das vezes é marcada pela origem em
13
famílias que vivem em condições de pobreza/extrema pobreza, sem acesso a direitos sociais
como habitação, saúde, educação ou outras condições basilares para uma vida com dignidade.
Parte considerável deles compartilha problemas como evasão escolar, exposição precoce à
violência e violações de direitos, uso abusivo de substâncias psicoativas, envolvimento com
organizações criminosas, entre outros. Não se pode perder de vista que, conforme aponta
anualmente o Mapa da Violência (Waiselfisz, 2016), a parcela da população brasileira que é
mais atingida pela violência letal em nosso país é a juventude pobre e negra, sobretudo do
gênero masculino, parcela essa que é também a principal componente do sistema
socioeducativo.
Observar essas peculiaridades do adolescente e do jovem com os quais se trabalha
significa entender que ele ou ela não são o ato infracional; cometeram uma transgressão grave
do regime jurídico no decorrer da sua história, e por isso estão sendo responsabilizados, com
o cumprimento da medida. O trabalho educativo, portanto, requer “chegar junto”, conhecer a
história do socioeducando, refletir com ele o percurso da sua vida, para daí tentar construir
com ele planos alternativos ao mundo do crime, projetos construtivos de vida.
Portanto, é preciso que os trabalhadores da socioeducação possam fazer uma leitura
macroestrutural da sociedade e dos processos nos quais estão inseridos os socioeducandos.
Tal leitura não se propõe a cristalizar esses adolescentes e jovens na posição de vítima, mas,
ao contrário, visa conhecer os processos que contribuem para e que expressam a transgressão,
para então superá-los. É essencial que o foco do trabalho socioeducativo seja desvelar os
potenciais, as habilidades e os interesses de cada adolescente/jovem, seja desmistificar a
realidade aparente e os discursos prontos, da mídia e da sociedade, seja a defesa intransigente
da vida em toda a sua potência.
2.2 ATO INFRACIONAL
O SINASE, instituído através da lei 12.594/12, detalha a execução das medidas
socioeducativas. Estas consistem em processos de responsabilização destinados ao
adolescente2 que cometeu ato infracional. Por sua vez, o ato infracional consiste em uma
conduta análoga à contravenção penal ou crime.
De acordo com o índice de Gini, utilizado para medir a desigualdade social, o Brasil
ocupa a décima posição no que diz respeito aos países mais desiguais do mundo. Trata-se,
2 De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência compreende o período da vida
entre doze e dezoito anos.
14
portanto, não de um país pobre, mas sim de um país desigual, responsável por produzir
periferias urbanas onde habitam homens, mulheres, crianças e adolescentes que têm suas
liberdades cerceadas diante da falta de acesso (ou acesso precário) à educação, saúde,
alimentação e bens de consumo diversos.
Tais fatos não justificam o cometimento de práticas infracionais, contudo, fornecem
elementos para refletirmos o contexto em que elas são geradas e para pensarmos mecanismos
efetivos para o seu enfrentamento. Como esclareceu o pensador alemão Karl Marx, no livro
O 18 de brumário de Luís Bonaparte, “os homens fazem a sua história; contudo, não a fazem
de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as
quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram”.
Diante disto, a medida socioeducativa deverá funcionar como um mecanismo que
possibilite o fortalecimento do adolescente, a fim de que ele tenha mecanismos – como
acesso à educação básica e profissional, ao mercado de trabalho, a acompanhamentobiopsicossocial – para enfrentar as adversidades que lhes são impostas pela sua condição
social.
2.3 CONCEPÇÃO DE SOCIOEDUCAÇÃO
Ao se falar em socioeducação, problematiza-se este conceito permeado pela lógica
prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/90) – e no Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE (Lei nº 12.594/12). Deste modo, é
fundamental a compreensão de que a socioeducação brasileira se organiza a partir do
SINASE, regulamentado em 2012, e composto, de forma integrada, pelas políticas de saúde,
assistência social, educação, habitação, segurança pública, previdência social, trabalho,
esporte e lazer. Este conceito envolve processos dialógicos que potencializam as
possibilidades dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, no sentido de
construírem um projeto de vida exequível, em acordo com sua realidade, junto a sua família e
a sua comunidade. Deste modo, deve ser garantida a intersetorialidade das políticas públicas
que compõem este sistema.
Esta perspectiva de socioeducação é corroborada por Maria de Lourdes Trassi, quando
teoriza sobre o tema, considerando o SINASE como um guia no processo de implementação
das ações socioeducativas, em nível nacional (Teixeira, 2006). Deste modo, percebe-se que a
autora se coaduna com o pensamento de que o SINASE consiste numa orientação às práticas
socioeducativas. Sabe-se que um dos objetivos do SINASE é contribuir para a ruptura do
15
adolescente com a prática do ato infracional, instrumentalizando os programas e unidades
executores de medidas socioeducativas com orientações acerca do atendimento, durante o
cumprimento da medida.
Para efeito deste documento, tendo em vista a realidade concreta e as condições
vigentes hoje no estado do Rio Grande do Norte para o estabelecimento da socioeducação,
será pautada uma concepção a partir da lógica da garantia de direitos, avançando por aspectos
considerados necessários na condução atual da prática socioeducativa. É preciso que a ênfase
desse processo ocorra nas vivências educativas, no diálogo e no acesso aos direitos sociais,
para que seja possível a superação da longa tradição assistencial-repressiva no atendimento
ao(à) adolescente autor(a) de ato infracional.
A socioeducação tem como propósito fomentar possibilidades de convivência e o
exercício da cidadania, de forma que o(a) socioeducando(a) seja responsabilizado(a) pelo ato
infracional que cometeu, mas que possa ressignificar sua vivência infracional através de
ações que promovam autonomia, protagonismo e consciência crítica. Para alcançar esses
princípios, a ação socioeducativa deve ocorrer por meio da escolarização formal, da educação
profissional, de atividades artístico-culturais, do atendimento psicossocial, das práticas
esportivas e da assistência religiosa. Paralelo a isso, todas essas atividades devem ser
mediadas por relações sociais estabelecidas no processo socioeducativo. Diversos atores
institucionais devem ser acionados e articulados, visando à garantia da proteção integral do
adolescente (Costa, 2006; Pinto & Silva, 2014). Assim, fazem-se necessários o envolvimento
e a atuação em parceria de todos os atores que compõem o SINASE, para a garantia dos
direitos dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e para que as vivências
socioeducativas possam apresentar perspectivas de superação do envolvimento com os atos
infracionais.
Para que a socioeducação aconteça, deve-se partir da compreensão de que o
adolescente possui uma história de vida que não se resume ao ato infracional cometido. A
infração deve ser vista não de forma isolada, mas situada em um determinado contexto
(social, histórico, econômico e político). O olhar sobre o adolescente não pode se dar
exclusivamente pela via do ato infracional. A partir disso, é possível acreditar na capacidade
do adolescente de romper com a prática do ato infracional por meio da garantia da proteção
integral (Teixeira, 2006).
Entendemos que a efetivação da socioeducação deve partir do olhar ampliado sobre
o(a) adolescente e da crença na sua capacidade de mudança. Nesse sentido, é fundamental a
construção de uma relação dialógica e acolhedora entre o socioeducador e o(a)
16
socioeducando(a) que se paute no vínculo, no respeito e no diálogo. Assim, é possível
fomentar a transmissão e a assimilação de valores éticos, intelectuais, afetivos, instrumentais,
que contribuam para a formação da convivência respeitosa e democrática entre os(as)
socieducadores(as) e socioeducandos(a), superando a relação hierárquica, disciplinadora e
punitiva.
É fato que os cuidados dispensados ao(à) adolescente autor(a) de ato infracional
devem ser resguardados por equipes e profissionais que estejam envolvidos com uma
concepção de socioeducação coerente com os resultados que se espera do trabalho. O(a)
socioeducador(a) deve apresentar uma atuação mediadora dentro do amplo sistema, bem
como deve considerar seu papel no processo de compreensão intersubjetiva (Salles Filho,
2010; Costa, 2010) que acontece entre ele(a) e o(a) socioeducando(a). Restaurar ou fortalecer
a capacidade humana do jovem implica um conjunto de experiências coerentes, que podem
ser iniciadas ou retomadas nessa relação dentro da instituição, em que o foco não seja
somente o(a) adolescente, mas um projeto de vida exequível para ele e para sua família
(Teixeira, 2006).
Silva (2012) reafirma o papel fundamental do(a) socioeducador(a) quando afirma que
ele(a) deve criar espaços e condições, organizando os meios necessários e produzindo modos
de acontecer a socioeducação. Deste modo, segunda a autora, os(as) socioeducandos(as) se
portarão como parceiros(as) ativos(as) e críticos(as) dos próprios agentes responsáveis pela
promoção do processo socioeducativo, se lhes forem dadas as condições para tal. Ademais,
esta relação deve ocorrer de forma que os processos de planejamento e de organização das
ações e rotinas socioeducativas das unidades de atendimento sejam construídos
democraticamente e articulados com toda a comunidade socioeducativa, incluindo a família e
o(a) adolescente nos processos decisórios. Considera-se comunidade socioeducativa todo o
complexo da unidade, formado por todos os profissionais (gestão, equipe técnica, agentes
socioeducativos, segurança externa), bem como os(as) adolescentes, suas famílias e os
aparelhos de regulação e amparo socioassitencial que atendem à unidade de acordo com as
demandas do trabalho.
Para fomentar a ação socioeducativa é fundamental investir na valorização e na
formação continuada dos operadores do sistema. A qualificação indica, também, o
aprimoramento, enriquecimento e deflagração de novas formas de construir o processo
educacional com os adolescentes (Ferreira & Fernandes, 2000).
Outro ponto fundamental a ser considerado na execução das medidas socioeducativas
consiste na garantia do direito à convivência familiar e comunitária, como um direito pleno a
17
ser respeitado durante toda a execução da medida. Na privação e na restrição de liberdade
esses direitos requerem maior atenção por parte da instituição, que deve contemplar
encaminhamentos para a rede de políticas públicas disponível, de acordo com a situação de
cada família. Ressalta-se, assim, a concepção de socioeducação integradora, que enfatiza o
papel das atividades socioeducativas integradas com a construção do projeto de vida dos(as)
adolescentes.
Diante desta questão, como afirma Antônio Carlos Gomes da Costa:
A natureza essencial da ação socioeducativa é a preparação do jovem para o convívio social. A
escolarização formal, a educação profissional, as atividades artístico-culturais, a abordagem social
e psicológica de cada caso, as práticas esportivas, a assistência religiosa e todas as demais
atividades dirigidas ao socioeducando devem estar subordinadas a um propósito superior e comum:
desenvolver seu potencial para ser e conviver, isto é, prepará-lo para relacionar-se consigo mesmoe com os outros, sem quebrar as normas de convívio social tipificadas na Lei Penal como crime ou
contravenção (Costa, 2006, p. 449).
Deve-se considerar que um retorno à sociedade não será frutífero se ela continua a
enxergar este adolescente como um mero “infrator”. Defende-se que toda ação direcionada ao
adolescente deve ser estruturada de modo que possibilite ou facilite seu retorno à convivência
familiar e comunitária, superando a lógica infracional, mas uma ação ampla de mudança, não
só na forma como ele se vê, mas como é visto pela sociedade.
Face ao exposto, enfatiza-se a construção e execução do Plano Individual de
Atendimento (PIA) como elemento central para a compreensão do contexto de vida do
adolescente e para o estabelecimento de metas visando o rompimento da prática infracional.
O PIA deve ser considerado um pacto firmado entre os socioeducadores, o adolescente e sua
família, de modo que o processo de cumprimento da medida socioeducativa efetivamente
possibilite o cumprimento das metas traçadas.
Deste modo, para o alcance das metas traçadas e para a superação da lógica
infracional, o jovem deve ser inserido em atividades que deem subsídios suficientes para a
construção de projeto de vida exequível e possibilitador de novas vivências subjetivas. As
atividades propostas devem ser construídas de acordo com seu interesse e aptidão,
respeitando seu desenvolvimento e sua inserção no campo social e profissionalizante da sua
preferência. Percebe-se, assim, que o PIA supera o impasse colocado pelas políticas públicas
que pensavam e planejavam uma “boa vida” para o adolescente distante da prática de atos
infracionais. A política deve ser pensada e planejada junto com ele e com a participação
direta de sua família, fortalecendo os vínculos (Teixeira, 2014) e enfatizando a importância
18
do apoio desta tanto durante a execução da medida socioeducativa, como na conquista e
efetivação de um novo projeto de vida.
É notório que uma nova concepção socioeducativa envolve elementos diversos que
perpassam a prática diária dentro das unidades e nos programas de atendimento
socioeducativo. Deste modo, como a socioeducação, em sua dualidade formal representada
pela responsabilização X educação, preza ainda pelo estabelecimento de uma segurança que
envolva o adolescente e a comunidade socioeducativa, é necessário definir princípios e
parâmetros nos quais a segurança esteja ancorada. Sugere-se que há necessidade de superar a
lógica punitiva e atuar a partir de concepções integradoras na relação do adolescente com os
socioeducadores, com os demais adolescentes e, antes de tudo, com a própria visão do ato
infracional.
Os aspectos de segurança não podem entrar em dissonância com os aspectos
pedagógicos, já citados. A segurança, numa unidade de atendimento socioeducativo, deve ser
executada de modo a dar suporte e viabilizar as atividades pedagógicas. Neste sentido, nunca
deve estar acima da proposta socioeducativa, tendo em vista que consiste num tema
indissociável da garantia de direitos (Konzen, 2013). Vendo desta forma, percebe-se que os
elementos de segurança devem servir de retaguarda no processo socioeducativo. Deve,
portanto, partir do princípio da redução de danos impostos pela restrição de liberdade, em
consonância com a proposta pedagógica vigente, limitando os efeitos nocivos da privação e
da restrição da liberdade (Konzen, 2013).
2.4 JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO PRESSUPOSTO DA CONCEPÇÃO DE SOCIOEDUCAÇÃO
Conhecida como uma técnica de resolução de conflitos que preza pela sensibilidade e
mediação na escuta das vítimas e dos ofensores (CNJ, 2016), a Justiça Restaurativa apresenta
soluções que vão de encontro com o que defende a justiça retributiva que temos hoje no
Brasil. Consiste num processo colaborativo voltado para resolução de um conflito
caracterizado como crime ou ato infracional, envolvendo a participação da vítima, do ofensor
e da comunidade (CNJ, 2016). Valoriza o processo de autonomia dos sujeitos e o diálogo,
dando lugar a espaços de expressão e incentivando o protagonismo desses atores (Aguinsky
& Capitão, 2008).
O SINASE, no seu art.1°, §2°, trata da “responsabilização do adolescente quanto às
consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação”.
A reparação, junto com a reprovação da conduta delitiva, são dois princípios que alicerçam a
19
Justiça Restaurativa (CNJ,2016), no sentido de que ambos objetivam a restauração do
relacionamento entre os atores envolvidos e a comunidade (Terre des hommes Laussane no
Brasil, 2013).
É um desafio a construção de práticas institucionais e sociais que superem a cultura
repressiva que definiu a forma de lidar com o adolescente autor de ato infracional (Aguinsky
& Capitão, 2008). Contudo, a Justiça Restaurativa ou as práticas com enfoque restaurativo
são vistas hoje como possibilidade de desenvolver uma concepção socioeducativa ampla e
plena, avançando além da perspectiva da defesa de direitos e incluindo o adolescente, a
família, a vítima e a comunidade numa ótica de ressignificação da conduta infracional e do
seu contexto social.
Conforme aponta Almeida (2016), em geral os autores que versam sobre a Justiça
Restaurativa mencionam ao menos oito valores fundamentais que a permeiam: participação,
respeito, honestidade, humildade, interconexão, responsabilidade, empoderamento e
esperança. Tais valores evidenciam que a Justiça Restaurativa busca uma mudança na forma
como se enxerga os crimes e conflitos; visa identificar as necessidades, analisar as obrigações
e compreender de que forma cada sujeito envolvido pode participar do processo, de forma
que resulte na reparação ou atenuação do dano (Almeida, 2016). Dentre as práticas
restaurativas destacam-se os círculos restaurativos. Eles buscam aproximar autor, receptor
(ou vítima) e comunidade, oferecendo um espaço para que todos coloquem suas necessidades
e visões sobre o ocorrido, para enfrentar as consequências do dano causado, bem como
decidir o que fazer para modificar a situação. O processo deve ocorrer em três fases: 1) pré-
círculo (preparação para o encontro com os participantes, que envolve o foco do conflito,
quem participará do círculo e como será a logística); 2) o círculo propriamente dito (que
ocorre de modo ordenado, recorrendo a técnicas de comunicação, mediação e resolução de
conflito de modo não violento, e que deve resultar em um plano de ação construído
coletivamente para reparar o dano) e 3) o pós-círculo (quando se averigua o cumprimento do
acordo engendrado no círculo). É imprescindível a voluntariedade de todos, bem como o
sigilo e a confidencialidade (Almeida, 2016; Terre des hommes Laussane no Brasil, 2013).
É preciso ressaltar que o uso de práticas restaurativas pressupõe o estabelecimento do
sistema restaurativo, que nada mais é que as pré-condições necessárias para implementação
das práticas restaurativas, legitimando e oferecendo apoio aos seus resultados. Caso contrário,
a efetivação das práticas restaurativas encontrará maiores limitações, tais como a descrença
da comunidade socioeducativa quanto ao processo restaurativo e precariedade ou mesmo
ausência de mecanismos de monitoramento (Terre des hommes Laussane no Brasil, 2013).
20
3. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
3.1 OBJETIVOS
Objetivo Geral
Oferecer diretrizes para o desenvolvimento da socioeducação na unidade de
cumprimento de medida de internação, CASE Mossoró, de modo condizente ao seu contexto
institucional e social, às normativas legais e a doutrina de proteção integral.
Objetivos Específicos
Orientar as ações desenvolvidas pelos trabalhadores da unidade e parceiros externos
pautadas na garantia dos direitos humanos e enfoque restaurativo;
Servir de base para a implantação dos demais documentos institucionais, tais como
Regimento Interno e Manual de Segurança;
3.2 Bases éticas e organizacionais
O Projeto Político-Pedagógico do CASE PITIMBU tem a função de consolidar uma
propostasocioeducativa, como parte de um processo de reestruturação já descrito – inclusive
na perspectiva da institucionalização da FUNDASE. Nesse sentido, o PPP constitui
importante instrumento orientador do trabalho da unidade, nos seus aspectos organizativos e
pedagógicos.
Com o objetivo de desenvolver uma proposta socioeducativa fundamentada na
Proteção Integral e na garantia de direitos dos adolescentes acusados do cometimento de
prática infracional, a construção dos aspectos que orientarão o processo de implantação do
PPP se deu em conjunto com toda a comunidade socioeducativa.
Nesta perspectiva, apresenta-se, a seguir, a identidade organizacional da FUNDASE,
com definição da missão, da visão e dos valores que deverão subsidiar a consolidação da ação
socioeducativa:
● Missão: Atender adolescentes acusados de ato infracional e em cumprimento de
medida socioeducativa de restrição e privação de liberdade, garantindo a sua proteção
integral.
21
● Visão: Ser uma instituição moderna, de referência nacional no atendimento
socioeducativo adequado aos parâmetros do SINASE, até 2020, com servidores
valorizados e serviço humanizado.
● Valores:
1. Compromisso Social – participar de ações voltadas à preservação dos valores com
responsabilidade entre a sociedade, o Estado e a família.
2. Cultura de Paz – estabelecer uma cultura que prima pelo diálogo e pelo
entendimento do outro.
3. Respeito – estabelecer uma relação de cordialidade e consideração, entendendo e
respeitando a diversidade cultural, religiosa, étnico-racial, de gênero, orientação
sexual e a condição peculiar do socioeducando como pessoa em desenvolvimento.
4. Profissionalismo – atuar com ética e respeito, de maneira íntegra, honesta e solidária
no exercício da profissão, perseguindo a excelência no desempenho de suas atividades.
5. Dinamismo - agir com determinação e ousadia, procurando realizar as suas funções
com iniciativa, criatividade e competência de modo a superar a sua performance.
3.3. Reestruturação organizacional
Tomando por base o reordenamento da FUNDASE, publicado através da Lei 214, de
05 de janeiro de 2018, e o Regimento Interno, as Unidades de Atendimento, em sua estrutura
organizacional, devem compreender:
I. Conselho Gestor;
II. Gerência;
III. Equipe Técnica Especializada;
IV. Equipe de Agentes Socioeducativos;
V. Equipe de Suporte Administrativo;
VI. Conselho de Responsabilização Disciplinar.
3.4. As unidades de internação segundo SINASE
A internação é uma medida socioeducativa privativa de liberdade, prevista no artigo
121 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – (Lei nº 8.069/90). De acordo com a
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/eca-lei-n-8-069-de-13-de-julho-de-1990
22
Lei, tal medida é regida por três princípios fundamentais, quais sejam os da brevidade, da
excepcionalidade e do respeito à condição peculiar do adolescente, de pessoa em
desenvolvimento. Estes princípios visam garantir que o atendimento ao adolescente em
cumprimento de medida socioeducativa de internação seja realizado de maneira humanizada,
de forma que o impacto no socioeducando vise o rompimento com a vivência infracional e a
construção de uma nova história de vida.
Nessa direção, o SINASE (2006) ressalta, dentre outros aspectos, a importância do
espaço físico como um dos elementos que podem contribuir para o desenvolvimento pessoal,
relacional, afetivo e social do socioeducando durante o cumprimento da medida. Assim, as
instituições devem garantir tanto a capacidade física para o atendimento adequado quanto os
direitos dos adolescentes. Ademais, devem atender aos requisitos de ergonomia, de
humanização, de conforto ambiental, de volumetria e de segurança.
Diante disso, o SINASE (2006) aponta como exigências para a estrutura física das
unidades de internação:
 Condições adequadas de higiene, limpeza, circulação, iluminação e segurança.
 Espaços adequados para a realização de refeições
 Espaço para atendimento técnico individual e em grupo
 Condições adequadas de repouso dos adolescentes
 Salão para atividades coletivas e/ou espaço para estudo
 Espaço para o setor administrativo e/ou técnico
 Espaço e condições adequadas para visita íntima
 Espaço e condições adequadas para visita familiar
 Área para atendimento de saúde/ambulatórios
 Espaço para atividades pedagógicas
 Espaço com salas de aulas apropriadas contando com sala de professores e local para
funcionamento da secretaria e direção escolar
 Espaço para a prática de esportes e atividades de lazer e cultura devidamente
equipados e em quantidade suficiente para o atendimento de todos os adolescentes
 Espaço para a profissionalização (p. 50)
Adicionalmente, no que tange especificamente a iluminação e a estrutura dos
alojamentos, o SINASE (2006) prevê, dentre outras coisas:
23
Prever iluminação artificial em todas as dependências da Unidade, bem como gerador
de emergência que entrará em funcionamento caso ocorra pane na subestação principal ou
falta de energia; e utilizar pisos e outros materiais que sejam laváveis e resistentes,
permitindo uma prática e eficiente conservação e manutenção; e as paredes, sempre que
possível, deverão ser lisas, de pintura lavável, podendo apresentar soluções estéticas com
texturas variáveis, sem prejuízo da segurança física do adolescente. (p. 68)
Além disso, o SINASE prescreve que as unidades devem organizar o espaço físico de
maneira que cada fase do atendimento possua espaço próprio. Assim, cada mudança de fase
deve representar a alternância de espaço, conforme as metas alcançadas no plano individual
de atendimento (PIA). Conforme apontado pelo SINASE (2006), tais fases referem-se a:
a) fase inicial de atendimento: período de acolhimento, de reconhecimento e de
elaboração por parte do adolescente do processo de convivência individual e grupal,
tendo como base as metas estabelecidas no PIA; b) fase intermediária: período de
compartilhamento em que o adolescente apresenta avanços relacionados nas metas
consensuadas no PIA; e c) fase conclusiva: período em que o adolescente apresenta
clareza e conscientização das metas conquistadas em seu processo socioeducativo. (p.
51)
Importa destacar que, a despeito dessas fases, o SINASE salienta a necessidade de
constituição de uma convivência protetora, que nada mais é que um espaço físico específico
para os socioeducandos que tenham sua integridade física e psicológica ameaçada.
Considerando isso, o espaço para tanto pode possuir uma barreira física e visual.
3.5 Características do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Mossoró
Caracterização do entorno do CASE Mossoró
Mossoró situa-se na região oeste do Rio Grande do Norte, e apresenta clima muito
quente e semiárido (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio
Grande do Norte [IDEMA], 2008). Possui a segunda maior população no estado,
apresentando, em 2010, 259.815 pessoas e densidade demográfica de 123,76 hab./km2, de
acordo com o censo do IBGE de 2010. Ainda conforme esses dados, desta população, 23.283
são jovens de 15 a 19 anos, sendo 11.525 pertencentes ao sexo masculino e 11.758 ao sexo
24
feminino. Além disso, o município apresenta um índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) 0.72, o terceiro maior do estado do Rio Grande do Norte, e um índice de
pobreza de 55,2%. A economia da cidade é marcada, dentre outras coisas, pela fruticultura
irrigada e pela indústria salineira (sendo o maior produtor de sal do Brasil) (Castro, 2009).
Especificamente, o CASE Mossoró localiza-se numa área afastada do centro da cidade.
O acesso à unidade dá-se através de uma estrada de barro e, no entorno, não há uma robusta
rede socioassistencial. Destaca-se, contudo, a presença do 12º Batalhão de Polícia Militar e o
Posto de Saúde das Malvinas, situado na comunidade homônima. Contudo, em 2017, ano de
construção deste PPP, havia parcerias estabelecidas com a Unidade Básica de Saúde do Alto
do São Manoel, utilizadapara obtenção de remédios e, em casos de emergência, também
eram utilizadas a UPA Santo Antônio e o Hospital Tarcísio Maia.
Infraestrutura e recursos materiais
No que se refere à infraestrutura, o CASE Mossoró conta com amplo espaço para
atividades diversas. Alguns ambientes são separados por grades e/ou portas (alojamentos e
seus dormitórios; a cozinha do refeitório; entrada e saída da unidade). Os espaços da gestão e
da equipe técnica possuem boa iluminação, saídas para ventilação e mobília básica para o
trabalho.
Na entrada da unidade há duas guaritas, uma para atendimento de portaria e outra
onde atuam os policias, sendo esta de primeiro andar onde permite a visualização interna e
externa da instituição; um amplo estacionamento e o prédio da recepção com espaço para
acolhimento, sala de monitoramento de segurança, banheiro social e sala para revista intima
masculino e feminino com banheiro.
A área administrativa da unidade apresenta a seguinte divisão: sala de reunião,
coordenação, secretaria, apoio administrativo, almoxarifado, arquivo, guarda pertences, copa,
banheiro feminino e outro masculino.
Nesse espaço há ainda um ambiente direcionado para organização dos educadores,
constituído por, uma sala ampla em que estão fixados os armários para guardar os pertences
pessoais, mesas, quadro e materiais de trabalho; cozinha, dois banheiros, dois quartos para
descanso, que contém duas camas e quatro colchões.
Além deste espaço, há o núcleo de atendimento biopsicossocial, que apresenta a
seguinte divisão: um consultório médico com banheiro e outro odontológico, sala de
esterilização de materiais odontológicos, sala de enfermagem com recepção e banheiro, sala
25
de terapia em grupo, psicologia, serviço social, subcoordenação técnica, defensoria pública,
sala de atendimento familiar, banheiro masculino e feminino, e duas salas de arquivo.
A unidade também conta com um anexo da Escola Estadual Alfredo Simonetti. O
espaço é dividido em: sala pedagógica, dos professores, secretária, biblioteca, cinco salas de
aulas, dois banheiros feminino e dois masculino, tele sala e um auditório.
O refeitório tem um banheiro masculino e feminino, um bebedouro, cadeiras e mesas
de plásticos onde socioeducandos e funcionários realizam as refeições. Através de uma porta
pode-se acessar a cozinha da unidade, contendo sala de preparo, almoxarifado e duas
despensas.
A unidade tem seis núcleos que são divididos da seguinte forma: na adaptação têm
dois alojamentos, cada um com três camas e banheiro, além de espaço coletivo de
convivência para os dois alojamentos com dois bancos e uma mesa de alvenaria, assim como
uma lavanderia. Os núcleos I, II, III e VI, apresentam uma estrutura semelhante à adaptação,
contudo seu ambiente tem quatro alojamentos, tendo uma parede que dividi o lado A do B e
um espaço na frente que contem duas salas para atendimento. Já o núcleo Protetora apresenta
a mesma estrutura dos demais, porém não tem divisão entre os lados A e B, assim como o
espaço de convivência coletiva. A unidade conta também com um quarto destinado para as
visitas intimas dos adolescentes, com banheiro e uma cama de casal.
No centro profissionalizante tem uma loja. Nesse espaço se dá a venda os trabalhos
realizados pelo socieducandos. Além disso, ainda há espaço de recepção, sala de marcenaria
com dois banheiros e dois almoxarifados, sala de pintura com um banheiro e um
almoxarifado, salão de beleza e um amplo salão com banheiro e almoxarifado. Já o salão de
ginástica contém dois vestiário e um amplo espaço para atividades.
Os espaços destinados às atividades físicas e de lazer são a quadra poliesportiva que
tem dois vestiários, arquibancada e apresenta-se adequado para as atividades (possui
cobertura, boa iluminação, ventilação, e há equipamentos básicos para a prática de esportes
como futebol e vôlei). E o salão de ginástica contém dois vestiário e um amplo salão para
atividades.
Há lavanderia na unidade, com um espaço em que estão anexadas as pias e as
maquinas de lavar. Apresenta, ainda, dois vestiários, dois almoxarifado, uma sala para guarda
os materiais de manutenção da unidade e amplo espaço aberto destinado para secar as roupas.
Anexado à lavanderia há um local onde encontra-se os cilindros de gás.
Além disso, a unidade conta com diversas áreas verdes e uma praça em condições de
uso.
26
ASPECTOS FÍSICOS ENCONTRADOS CASE MOSSORÓ
Condições adequadas de higiene, limpeza, circulação, iluminação
e segurança
Contempla Parcialmente
Espaços adequados para a realização de refeições Contempla
Espaço para atendimento técnico individual e em grupo Contempla
Condições adequadas de repouso dos adolescentes Contempla
Salão para atividades coletivas e/ou espaço para estudo Contempla
Espaço para o setor administrativo e/ou técnico Contempla
Espaço e condições adequadas para visita íntima Contempla
Espaço e condições adequadas para visita familiar Contempla
Parcialmente
Área para atendimento de saúde/ambulatórios Contempla
Espaço para atividades pedagógicas Contempla
Espaço com salas de aulas apropriadas contando com sala de
professores e local para funcionamento da secretaria e direção
escolar
Contempla
Espaço para a prática de esportes e atividades de lazer e cultura
devidamente equipados e em quantidade suficiente para o
atendimento de todos os adolescentes
Contempla
Espaço para a profissionalização Contempla
Tabela 1 - Aspectos encontrados na unidade, de acordo com os parâmetros do SINASE.
3.6 Principais problemáticas do case Mossoró
Durante a construção do PPP do CASE Mossoró, foram identificadas algumas
problemáticas que serviram de embasamento para a condução do plano de atuação que se
apresentará mais a frente. Assim, apontamos a fragilidade da comunicação entre os setores
que constituem a unidade, esclarecendo a necessidade de se garantir o alinhamento da
atuação dos profissionais, ao passo em que se estabelece o objetivo fundamental que orienta o
trabalho na unidade CASE Mossoró.
Observa-se também a necessidade de maior oferta de atividades de cunho pedagógico
para os adolescentes, possibilitando que estes apreendam, além da educação básica,
conhecimentos universais acerca da sociedade em que eles se encontram imersos, assim
como a preparação para o mercado de trabalho.
27
Além disso, também foi identificada frágil articulação com a rede intersetorial de
atendimento, tanto no que diz respeito às políticas públicas, quanto às instituições de terceiro
setor.
Por fim, compreende-se a necessidade de instituir um conselho disciplinar atuante,
que se adéque as prerrogativas regimentais, assegurando a participação do adolescente, assim
como de seu defensor.
4. MARCO OPERATIVO
4.1. Metodologia
Para efetivação de uma nova concepção socioeducativa no CASE Mossoró, orientada
para a proteção integral e a garantia de direitos, a metodologia deve ter como pilares centrais
as práticas restaurativas, bem como os demais aspectos abordados no marco conceitual.
Levando isso em consideração, os eixos, sub-eixos e seus respectivos parâmetros buscam
oferecer saídas para as problemáticas identificadas e potencializar as atividades que já se
coadunam com o SINASE. Por sua vez, tais eixos desembocam nas fases de atendimento e
nos planos de ação, que visam concretizá-los na prática cotidiana da unidade.
4.2. Eixo GESTÃO
4.2.1. Subeixo GESTÃO INSTITUCIONAL
As reflexões a respeito da gestão de instituições socioeducativas têm em vista
contribuir para o exercício de uma das mais importantes tarefas junto a equipes de trabalho
responsáveis pelo atendimento a adolescentes privados de liberdade, e que representa um
grande desafio para os educadores chamados a assumi-la. Tal contribuição parte do
entendimento de que, nesse contexto, a gestão requer, necessariamente, ser exercida
considerando a relação entre os socioeducadores e os adolescentes internos na unidade.
Assim, o desafio maior do gestor é consolidar práticas que contribuam para que sua equipe,efetivamente, supere os limites impostos pelo assistencialismo e pela repressão - marcas
históricas em tal contexto e que em geral resultam na violação de direitos dos adolescentes -
adotando as diretrizes pedagógicas preconizadas em lei. Nessa direção, a gestão orientada por
práticas que contemplem a participação democrática dos socioeducadores, e que respeitem
28
opiniões e reivindicações dos adolescentes, é um ponto de partida para a proposta aqui
preconizada.
A participação democrática é coerente com a transparência da gestão, que na medida
em que possibilita identificar os limites e as possibilidades da realidade institucional,
possibilita, da mesma forma, a sinergia de esforços com vistas à prática educativa.
Em que pese à breve avaliação crítica, da qual decorre essa orientação, não se
desconhece e tampouco desconsidera a contradição que permeia a prática pedagógica em
instituição na qual o adolescente se encontra privado de liberdade, entendendo-se que aí se
configura o cerne do desafio a ser enfrentado cotidianamente. Se, por um lado, orienta-se no
sentido da garantia dos direitos dos quais os adolescentes são titulares, e assim preconiza-se
uma orientação educativa para as ações com eles desenvolvidas, por outro se observa que, de
modo geral, espaços institucionais de privação de liberdade carregam a marca do poder, do
controle e da segregação sobre os mesmos.
Em decorrência, este eixo de “Gestão Institucional” aponta alguns parâmetros
necessários para efetivação de uma gestão democrática, de modo que seja possível uma
incidência direta sobre a garantia de direitos dos adolescentes. São eles:
4.2.1.1 Dialogicidade e horizontalidade
Estabelecer o diálogo e a horizontalidade na tomada de decisões, como parâmetros de
gestão institucional, significa ampliar a experiência democrática daqueles (as) que compõem
a comunidade socioeducativa. Neste sentido, é necessário que se priorize um processo de
composição da gestão feito de forma participativa, alinhando os aspectos estabelecidos no
SINASE com a participação da comunidade socioeducativa.
A materialização do diálogo e da horizontalidade nas práticas cotidianas da unidade se
dá por meio dos seguintes procedimentos:
 Realização de reuniões de planejamento e avaliação, com calendário pré-definido e
garantia de participação de membros da gestão, da equipe técnica, de agentes
socioeducativos, de familiares, de adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa, de professores e dos demais profissionais que desenvolvam atividades na
unidade e que estejam dispostos a participar. É recomendado que tais reuniões ocorram
com periodicidade mínima de quinze dias. Tal como nas assembleias3, a coordenação da
3Conforme preconiza o SINASE, as assembleias são espaços dedicados àdiscussão e tomada de decisões quanto
a questões gerais da unidade. Deve ser composta por toda a comunidade socioeducativa.
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reunião deverá ser rotativa, garantindo sua condução por um representante distinto
daquele que conduziu a última reunião;
 A constituição de Conselho Gestor, com Gerente, Subgerente Técnico, Subgerente
Administrativo e representação da equipe de agentes socioeducativos, dos
socioeducandos e da família. Cada um destes grupos deverá definir seu próprio
representante no Conselho. Os adolescentes e os familiares são imprescindíveis para o
funcionamento do referido mecanismo participativo. As reuniões do Conselho Gestor
deverão ocorrer com intervalo de, no máximo, trinta dias, e um dos pontos de pauta
deverá ser a avaliação das ações executadas na unidade nos dias anteriores, procurando
aperfeiçoar os mecanismos de atuação;
 A constituição de Conselho de responsabilização disciplinar, com representação da gestão,
da equipe técnica e da equipe de agentes socioeducativos, e deve respeitar o que é
prescrito no Regimento Interno. Dentre outras coisas que são abordadas no regimento,
assinala-se que a gestão e a equipe técnica deverão definir seus próprios representantes
titular e suplente no Conselho. Em relação aos agentes socioeducativos, o representante
será a referência do plantão do dia, que deverá, através do diálogo com os demais agentes,
aglutinar o maior número de informações possíveis sobre os eventos que serão tratados no
Conselho. O grupo deve ser renovado anualmente, e a sua reunião deve se dá em função
de situação disciplinar, sendo registrada em ata pela Gerência da unidade. Ademais, seu
funcionamento deve estar embasado nos princípios da Justiça restaurativa;
 A realização das assembleias, com ampla participação dos familiares e dos adolescentes,
deve se configurar como um espaço de representação legítima destes segmentos.
 Como possíveis estratégias para auxiliar a participação das famílias nos mecanismos,
recomenda-se:
o Elaboração de cartilhas sobre os mecanismos democráticos;
o Encontro com as famílias, organizado pela FUNDAC junto com as unidades, na
região onde há cumprimento de medidas, como objetivo de apresentação dos
mecanismos democráticos;
o Articulação com os equipamentos socioassistenciais, para que estes auxiliem na
divulgação, junto as famílias com adolescentes no sistema socioeducativo, sobre
os mecanismos democráticos;
30
o A seleção destas ou de outras estratégias deve ser feita de acordo com o perfil dos
familiares e das condições da unidade para tanto.
 Além dessas recomendações, na mesma perspectiva do diálogo e da horizontalidade,
incentiva-se os profissionais a criarem mecanismos de comunicação interna, entre si e
com os adolescentes e seus familiares.
4.2.1.2. Articulação permanente
Considerando o princípio de incompletude institucional, a gestão central e as unidades
deverão estar em constante processo de articulação com o sistema de saúde, de ensino –
profissional, técnico, básico e superior –, bem como com o sistema de justiça, organizações
da sociedade civil, grupos religiosos e demais instituições que possam contribuir para a
garantia de direito dos adolescentes por meio de ações consoantes com o Projeto Político
Pedagógico da unidade.
Ainda que seja responsabilidade da gestão central a realização da intersetorialidade,
realizando a contínua articulação com as instituições externas, a gestão e a equipe técnica da
unidade devem operacionalizar as articulações necessárias, estando também aptos a propor
parcerias para o fortalecimento da execução da medida socioeducativa. É importante destacar
que tais articulações devem se constituir como parcerias institucionais, e não troca de favores.
Neste sentido, algumas iniciativas constituem exemplos de como esta articulação permanente
pode ser efetivada:
 Buscar articulação com setores da saúde, educação, cultura, esporte e lazer, e demais
âmbitos que apresentem potencial contribuição para a socioeducação. Destacam-se como
possibilidades, buscar parcerias dentro dos cursos de Direito e Medicina da Universidade
Federal Rural do Semiárido – UFERSA, bem como da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, nos cursos de Direito, Educação Física e Música. Estas são
apenas sugestões, de modo que outros cursos e instituições de ensino superior podem ser
contatados na medida em que apresentarem propostas que sejam proveitosas para o
desenvolvimento da socioeducação na unidade. Além dessas, as instituições do sistema S
constituem-se em outras instituições que possuem o potencial de contribuir com cursos de
profissionalização para os socioeducandos, contribuindo na construção de seu projeto de
vida;
 Construir de um cronograma de visitas da equipe técnica às unidades de saúde, defensoria
pública ou outros órgãos públicos/organizações da sociedade civil, a fim de apresentar as
31
demandas da unidade socioeducativa e aproximar estas instituições da execução da
medida;
 Estreitar laços com o sistema de justiça, facilitando e demandando aproximação com este,
inclusive para visitas frequentes na unidade de atendimento;
 Fortalecer a aproximação com os serviços de assistênciasocial dos municípios de origem
dos adolescentes, de modo a possibilitar articulações;
 Promover fóruns, seminários e palestras para todas as equipes de profissionais da unidade
de atendimento socioeducativo e para a rede intersetorial, no sentido de integrá-la ao
sistema;
 Articular outras redes de apoio na comunidade, buscando desmistificar preconceitos que
persistem sobre adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
4.2.1.3. Composição e dinâmica das equipes de acordo com o SINASE
O SINASE define que, para unidades que comportem até 40 adolescentes, a equipe
mínima deverá ser composta por um (a) diretor (a), um (a) coordenador técnico (a), dois/duas
assistentes sociais, dois/duas psicólogos (as), um (a) pedagogo (a), um (a) advogado (a), além
dos (as) profissionais responsáveis por atividades de cunho administrativo e aqueles (as)
necessários (as) para o desenvolvimento de atividades de escolarização, arte, cultura, lazer e
profissionalização. No que diz respeito ao número de agentes socioeducativos, o SINASE
prevê uma relação que varia, de dois agentes socioeducativos para cada adolescente – nas
situações em que se observe alto risco de fuga, de autoagressão ou de agressão a terceiros -,
até um agente socioeducativo para cada cinco adolescentes. Aqui, considerando-se o SINASE,
o processo participativo de construção do PPP e a realidade institucional da FUNDASE,
deverá haver, no mínimo, 50 agentes socioeducativos por unidade de internação com até
quarenta adolescentes, de modo que cada equipe de plantão seja composto por, no mínimo,
104agentes.
Ainda que o corpo de profissionais da unidade seja composto por servidores das mais
diferentes áreas e que ocupam os mais diversos cargos, todos compartilham o mesmo
objetivo: trabalhar em prol do desenvolvimento da medida socioeducativa. Portanto, ainda
que o trabalho nas diferentes esferas da administração, da equipe técnica e da equipe de
agentes socioeducativos seja especializado, é necessário que haja integração de objetivos e de
4Conforme preconiza o SINASE, as assembleias são espaços dedicados àdiscussão e tomada de decisões quanto
a questões gerais da unidade. Deve ser composta por toda a comunidade socioeducativa.
32
metodologia. Em decorrência, reitera-se a necessidade, conforme já exposto no parâmetro
sobre dialogicidade e horizontalidade, que:
 As ações desenvolvidas na unidade sejam construídas de modo coletivo, tendo sempre
como meta a socioeducação;
 A unidade estabeleça mecanismos de comunicação constante entre todos os profissionais,
sobretudo gestão, equipe técnica e equipe de agentes socioeducativos, de modo a integrar
as práticas desenvolvidas;
 A equipe composta por pedagogos (a), assistentes sociais e psicólogos (a) trabalhe de
maneira integrada, tendo como estratégia a construção de vínculo com os adolescentes e a
execução de um atendimento visando a integralidade do (a) adolescente.
4.2.1.4. Acompanhamento de egressos
O sucesso da execução de uma medida socioeducativa transcende o processo
desenvolvido durante o cumprimento da medida e a dimensão individual do adolescente. Ou,
em outros termos, ao finalizar a medida socioeducativa, o adolescente poderá retornar para
um ambiente social em que a falta de oportunidades e a pressão de grupos locais terminem
por coagi-lo a reincidir no cometimento de ato infracional. É por isto que, a fim de
potencializar as possibilidades de ruptura com a trajetória infracional, deverá ser construída
uma política de acompanhamento de egressos, para aqueles adolescentes que desejarem e
tiverem seu processo de execução extinto, conforme preconiza o SINASE. Para tanto, é
preciso que esta se constitua não apenas em uma política institucional, configurada em um
programa de acompanhamento de adolescentes após o cumprimento da medida de internação,
mas principalmente em uma política que signifique orientação cotidiana da prática
profissional dos socioeducadores, entendidos como aqueles (as) que desenvolvem atividade
com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
O esperado é que a efetivação de uma política com essas características se dê tanto
pela equipe técnica, quanto pela gestão central da FUNDASE, que devem manter
comunicação quanto ao planejamento e às atividades realizadas por cada âmbito.
Nesta direção, deve-se:
 Executar a medida tendo como referência o PIA, notadamente em relação à perspectiva
de futuro sinalizada pelo socioeducando, e contribuir para sua inserção na escola e em
programas de capacitação profissional;
33
 Acompanhar as famílias dos socioeducandos, no sentido de contribuir para sua inserção
em programas como profissionalização, redistribuição de renda, combate à dependência
química;
 Manter articulação permanente com as instituições executoras de medidas
socioeducativas em meio aberto e com as unidades que executam medidas de
semiliberdade;
 Através da progressividade para a realização das atividades externas, conforme diretriz do
SINASE, ir reconstruindo os vínculos comunitários dos adolescentes e preparando-os
para o processo de desligamento.
4.2.1.5. Relação com a gestão central
A unidade de atendimento socioeducativo e a entidade à qual está vinculada – a
FUNDASE – devem atuar em constante diálogo, a fim de otimizar o processo de
socioeducação. É imprescindível o estabelecimento de um fluxo de comunicação que permita
à gestão central se inteirar das ações da unidade com o menor lapso de tempo possível, para
assim acompanhar a constituição das demandas e poder atendê-las com celeridade, evitando
comprometimentos ao processo socioeducativo. Assim, ao mesmo tempo em que é esperado
que a unidade comunique à gestão central suas necessidades, como aquisição de produtos
variados, é também esperado que a gestão central atenda às demandas, observadas
particularidades como quantidade e tamanho – no caso de roupas, calçados etc.
Não obstante um bom fluxo de comunicação buscar dar conta de demandas dessa
ordem, o mínimo de autonomia financeira deve ser garantida à unidade, de modo que esta
possa resolver demandas urgentes e imprevistas, em que qualquer espera pela iniciativa da
gestão central signifique aumento do problema, como é o caso de pequenos reparos em
equipamentos ou na estrutura física. Para tanto, deve-se efetivar o dispositivo de suprimento
de fundos nas unidades.
4.2.1.6. Alinhamento de regimento interno entre as unidades de mesma natureza de medida
A execução de ações socioeducativas dentro das unidades da FUNDASE deve seguir
um alinhamento, mantendo as especificidades de cada região administrativa, orientado pelo
Projeto Político Pedagógico Institucional. As unidades que executam medidas
socioeducativas semelhantes devem alinhar suas ações e normas, previstas em seus
regimentos internos, quanto a alguns procedimentos de ordem pedagógica e de garantia de
direitos. Nessa direção, reuniões periódicas entre as unidades de mesma medida e a gestão
34
central podem se constituir importantes espaços de discussão sobre dificuldades enfrentadas,
algumas das quais comuns às unidades-, bem como sobre práticas que auxiliam na realização
da socioeducação.
4.2.1.7. Alinhamento do fluxo de ações ao Projeto Político Pedagógico da unidade
Tendo em vista que o projeto pedagógico deve ser o documento alicerce das ações na
unidade, considera-se importante que:
 O planejamento das atividades da unidade o considere como ponto de partida, a fim de
conferir maior sintonia entre os diversos setores da unidade;
 Sejam realizadas reuniões de avaliação a fim de verificar como o projeto pedagógico tem
se efetivado, bem como os limites e as possibilidades de sua efetivação no cotidiano da
unidade;
 Os novos funcionários se apropriem do conteúdo do projeto da unidade, como forma de
assegurar a continuidade das ações realizadas naquele espaço.
4.2.2. Sub-eixo GESTÃO DE PESSOAS E PROCESSOS DE TRABALHO
A consolidação de um projeto político-pedagógico no âmbito da socioeducação

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