Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- -1 APARELHO LOCOMOTOR TB UNIDADE 1 – COMO O APARELHO LOCOMOTOR É FORMADO? Ricardo Cavalcante Oliveira Santos; Vivian Alessandra Silva - -2 Introdução O movimento do nosso corpo é possível graças ao aparelho locomotor, do qual fazem parte os sistemas esquelético, articular e muscular. A sintonia entre esses três sistemas é fundamental para que o aparelho locomotor funcione de forma equilibrada e saudável. Você já percebeu que, na maioria das vezes, não percebemos o quão importante é esse equilíbrio? Você sabe em que momento o aparelho locomotor inicia sua formação durante a vida embriológica ou quando essa formação é concluída? Essas são algumas perguntas que responderemos ao longo desta unidade. Você entenderá o processo de formação embriológica do aparelho locomotor, seu amadurecimento e regeneração, além de compreender os processos fisiológicos que controlam a contração muscular. Preparado? Então, acompanhe e bons estudos! 1.1 Embriogênese do aparelho locomotor Estudaremos o processo inicial, ou seja, a formação embrionária desse sistema, a fim de compreender de que forma e em que momento cada estrutura do aparelho locomotor começa a se desenvolver e crescer dentro da normalidade. Vamos lá? Clique nas setas e confira! O período embriológico inicia no momento que ocorre a fusão entre o ovócito e o espermatozoide: na fertilização. No momento que isso ocorre, forma-se um embrião de uma única célula, o zigoto. Esse processo ocorre dentro da tuba uterina em uma região chamada de ampola. Após a formação do zigoto, iniciam-se sucessivas mitoses, processo conhecido como clivagem. O embrião passa, então, pela clivagem, passando de uma para duas células e assim sucessivamente até atingir o estágio de 16 células, no qual receberá o nome de mórula. Na mórula, surgirá uma cavidade repleta de líquido, chamada de blastocisto. Todo esse processo ocorrerá dentro da tuba uterina durante a primeira semana de gestação. O blastocisto é o embrião pronto para se implantar no endométrio, a camada interna do útero, que será responsável por nutrir esse embrião enquanto a placenta e o cordão umbilical estão em formação. Durante a segunda semana de gestação, o embrião continua a crescer e as suas células se distribuirão em duas camadas, formando um embrião bilaminar. Ao final da segunda semana de gestação, o embrião já estará maior e terá formado uma terceira camada de células. Nesse estágio, chamaremos o embrião de gástrula, e ao processo de formação do embrião trilaminar denominamos gastrulação. Cada uma das camadas da gástrula também pode ser chamada de folheto embrionário. As camadas da gástrula recebem o nome de ectoderma, mesoderma e endoderma: a ectoderma é a camada mais superficial e será responsável por formar a epiderme e o sistema nervoso; a mesoderma é a camada média e formará o tecido conjuntivo propriamente dito, o tecido ósseo, o tecido cartilaginoso e o tecido muscular; a endoderma é a camada mais profunda de células e formará o epitélio de revestimento das vias aéreas, do sistema digestório e do aparelho urogenital. A gástrula é a figura embrionária com capacidade para formar todos os órgãos do corpo humano, processo denominado como organogênese. O sistema esquelético se desenvolve a partir dos folhetos mesoderma e ectoderma da gástrula. Na maior parte dos ossos, o mesoderma origina um tecido chamado de mesênquima. O mesênquima forma um esqueleto membranoso, que pouco a pouco vai se transformando em cartilagem, formando um esqueleto cartilaginoso. As articulações sinoviais (móveis) começam a se formar com o esqueleto cartilaginoso. No esqueleto cartilaginoso, surgirão centros de ossificação, fazendo com que seja substituído por um esqueleto ósseo. Durante o processo de formação do sistema esquelético, várias anomalias podem surgir e incluem defeitos vertebrais (espinha bífida), craniais (craniosquise e craniossinostose) e faciais (fenda palatina). - -3 A maioria dos nossos músculos tem origem na camada média do embrião, chamada de mesoderma. Os músculos estriados esqueléticos são derivados de uma parte do mesoderma denominada mesoderma paraxial, O mesoderma paraxial se segmenta em somitos, que originam os músculos do esqueleto axial, da parede corporal e dos membros e os somitômeros, que dão origem aos músculos da cabeça. No fim da quarta semana do desenvolvimento, já é possível ver os brotos dos membros superiores e inferiores. Os membros superiores aparecem primeiro, seguidos pelos membros inferiores um ou dois dias depois. O desenvolvimento de cada membro se dá a partir do tronco para as extremidades, de tal maneira que mãos e pés serão os últimos a serem formados. Veja o broto dos membros superiores e inferiores no embrião a seguir. CASO Lúcio e Juliana estão aguardando o nascimento do primeiro filho, Lucas. Durante o pré-natal, o médico diagnosticou pé torto congênito. Ao nascimento, o pediatra examinou Lucas minuciosamente e disse aos pais que o pé torto de Lucas decorre de artrogripose, que é uma má-formação nas articulações O pediatra, Dr. Luís, explicou aos pais que o caso de Lucas se tratava de uma artrogripose distal, na qual apenas os pés ou as mãos estão envolvidos. O médico então explicou que a artrogripose pode ser generalizada e envolver os quatro membros da criança, além de causar limitação de mobilidade na coluna vertebral. Felizmente, esse não foi o caso de Lucas. Para a criança, Dr. Luís indicou início imediato de fisioterapia e o encaminhou para um cirurgião pediátrico e um geneticista para que a necessidade de cirurgia fosse avaliada e o aconselhamento genético realizado. Dr. Luís também tranquilizou os pais e contou a eles a história de Cláudio Vieira que, ao nascer com artrogripose, teve um prognóstico de 24 horas de vida. Aos 40 anos de idade, Cláudio escreveu um livro relatando sua experiência em conviver com a doença (OLIVEIRA, 2016). - -4 Figura 1 - Embrião humano de cinco semanas. Fonte: stihii, Shutterstock, 2019. ID: 180856154. Nos embriões de seis semanas, a parte distal dos brotos dos membros se achata para formar as placas das mãos e dos pés. Para que os dedos das mãos e dos pés se formem, é necessário que as membranas que unem cada dedo desapareçam. Várias deformidades congênitas envolvem os dedos, como o encurtamento (braquidactilia), a existência de dedos extras nas mãos ou nos pés (polidactilia) e a ausência de um dedo (ectrodactilia) e a própria sindactilia. VOCÊ SABIA? Quando as membranas que unem cada dedo nas placas das mãos e dos pés não desaparecem, os dedos do feto estarão unidos ao nascimento. Essa situação é chamada de sindactlia, da qual existem dois tipos mais comuns: a sindactilia cutânea, na qual os dedos ficam unidos apenas pela pele; a sinostose, no qual os dedos estão unidos pelos ossos. Em ambos os casos é necessário separar os dedos cirurgicamente após o nascimento. - -5 Figura 2 - Criança portadora de sindactilia. Fonte: JorgeMRodrigues, Shutterstock, 2019. ID: 1377030308. Como podemos ver na figura anterior, temos um caso de sindactilia. Vamos acompanhar mais conteúdo? Continue conosco! 1.2 Crescimento ósseo e reparação tecidual no aparelho locomotor Agora que já conhecemos como o embrião desenvolve os esqueletos, articulações e músculos, aprenderemos como os ossos e músculos crescem ou se mantém durante a vida. Embora às vezes não pareça, os ossos são tecidos muito vascularizados e inervados, o que lhes permitem grande potencial de adaptação às necessidades da rotina de cada pessoa. Já os músculos estriados esqueléticos crescem bastante, mas apresentam grande limitação na regeneração. De tal maneira que quando fibras musculares são rompidas é muito difícil que o organismo consiga fazer a reposição. Vamos aos estudos? 1.2.1 Crescimento ósseo Os dois tipos principais de tecido que formam o osso são os tecidos ósseo e o cartilaginoso. Ambos são modalidades de tecido conjuntivo e apresentam rigidez, porém o tecido cartilaginoso apresenta maior maleabilidade e elasticidade. Confira no quadro a seguir as célulasque compõem esses tecidos. - -6 - -7 - -8 Figura 3 - Células dos tecidos ósseo e cartilaginoso. Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. A – Tinydevil, Shutterstock, 2019. ID: 645657913. B – Tinydevil, Shutterstock, 2019. ID: 643151362. C – Tinydevil, Shutterstock, 2019. ID: 646969255. D – Tinydevil, Shutterstock, 2019. ID: 641817952. E – Jose Luis Calvo, Shutterstock, 2019. ID: 267094190. O metabolismo das células dos tecidos ósseo e cartilaginoso apresentam grande interação com os hormônios tireoidianos e hipofisários, fazendo com que haja uma sinergia entre suas ações. A formação do tecido ósseo novo, a osteogênese, pode ocorrer por dois processos: a ossificação endocondral e a Frequentemente, muitas academias funcionam irregularmente sem a presença de um profissional responsável. Os alunos são orientados por leigos e cometem muitos excessos, levando a situações de lesão grave de músculos e articulações. No caso de pacientes idosos, essa questão torna-se ainda mais grave, já que a capacidade de regeneração tecidual está naturalmente comprometida por causa da idade e doenças, como a osteoporose e diabetes. Nesta atividade, trabalharemos com sua capacidade de pensar em uma situação hipotética e aplicar os conhecimentos adquiridos neste módulo para resolvê-la. Para tal, consulte os materiais de apoio a seguir: CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA (Confef). Instrução normativa nº 02, de 27 de . Brasília: Confef, 2014. Disponível em: novembro de 2014 http://www.confef.org.br/confef ./legislacao/157 TORTORA, G. J. : fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre:Corpo humano Artmed, 2017. p. 124. Situação problema: Senhora S. S., 63 anos, viúva, menopausada desde os 48 anos, procura a academia mais próxima de casa, pois se sente muito sozinha. O atendente da academia chama o “professor”, um garoto de 19 anos, morador da vizinhança. Dona S. explica ao “professor” que tem osteoporose no quadril e que de manhã sente dor que piora durante o dia, por isso preferirá fazer os exercícios de manhã. Ele, então, faz a lista de exercícios e pesos para a Dona S. Explique como a osteoporose atua na matriz óssea, quais células ósseas teriam sua função alterada e quais os riscos de se fazer exercício com pesos para esta paciente. Além disso, reflita se é ético e está dentro da legislação que um indivíduo não graduado atue como profissional. http://www.confef.org.br/confef/legislacao/157 http://www.confef.org.br/confef/legislacao/157 - -9 A formação do tecido ósseo novo, a osteogênese, pode ocorrer por dois processos: a ossificação endocondral e a ossificação intramembranosa. Na ossificação endocondral, há formação primeiro de um molde cartilaginoso do osso e depois substituição desse molde por tecido ósseo, enquanto na ossificação intramembranosa não há necessidade de se formar inicialmente o molde cartilaginoso. Durante a vida embriológica, os ossos dos membros e as vértebras desenvolvem-se por ossificação endocondral. Os ossos planos do crânio e da face, a mandíbula e a clavícula desenvolvem-se por ossificação intramembranosa. Durante a vida extrauterina, os ossos podem crescer tanto por ossificação intramembranosa (crescimento em espessura, promovido pelo periósteo) quanto por ossificação endocondral (crescimento em comprimento, promovido pela cartilagem epifisial). Vamos compreender melhor como estes dois processos ocorrem? Na ossificação intramembranosa, células mesenquimais situadas na camada osteogênica do periósteo se diferenciam em osteoblastos. Os osteoblastos acumulam-se na periferia do centro de ossificação e sintetizam matriz óssea, formando osso novo. Após a matriz estar mineralizada, os osteoblastos diferenciam-se em osteócitos. Esse tipo de crescimento ósseo é chamado de crescimento aposicional. Veja, na figura a seguir, o osso formado pelo processo de ossificação intramembranosa. Figura 4 - Ossificação intramembranosa. VOCÊ O CONHECE? A Lei de Wolff preconiza que a estrutura óssea se remodela constantemente durante a vida em função das tensões à que os ossos são submetidos. Julio Wolf foi um cientista alemão, que, em 1892, estudou profundamente a relação entre a estrutura e a função óssea. Tal lei afirma que as características ósseas e as divisões das estruturas microscópicas estão relacionadas às tensões a que são submetidas, de forma que em locais com altas tensões mecânicas serão depositados materiais ósseos. Em contrapartida, em locais com baixas tensões existirá uma absorção da matéria óssea. - -10 Figura 4 - Ossificação intramembranosa. Fonte: ANDRADE; FERRARI, 2014, p. 48. A ossificação endocondral se inicia com a diferenciação das células mesenquimais em condroblastos, que passam a produzir matriz cartilaginosa. Os condroblastos que ficam na periferia da cartilagem formam uma região chamada de zona de repouso. A partir daí forma-se um molde, com o formato do futuro osso, de cartilagem halina. Após sintetizar matriz cartilaginosa suficiente, os condroblastos presentes no molde reduzem seu metabolismo e se transformam em condrócitos. Essa região da cartilagem, onde encontraremos os condrócitos, é chamada de zona de proliferação. Os condrócitos na região média do modelo de cartilagem tornam-se hipertróficos (muito grandes) e formam a zona hipertrófica da cartilagem. À medida que os condrócitos aumentam de tamanho, ocorre reabsorção de sua matriz cartilaginosa circundante, formando placas cartilaginosas irregulares e finas entre as células hipertróficas. Os condrócitos hipertróficos começam a calcificar a matriz cartilaginosa circundante, o que reduz a difusão de nutrientes e leva os condrócitos à morte. Com a morte dos condrócitos, responsáveis pela manutenção da matriz cartilaginosa, grande parte da matriz se decompõe, e as lacunas vizinhas se juntam, formando cavidades cada vez maiores. Nessa região, a matriz extracelular é calcificada, fazendo com que seja, obviamente, chamada de zona de cartilagem calcificada. Veja, na imagem a seguir, as diferentes zonas de ossificação endocondral. - -11 Figura 5 - Ossificação endocondral. Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008, p. 145. As células-tronco mesenquimais migram para o interior das cavidades deixadas pelos condrócitos que morreram e diferenciam-se em osteoblastos e começam a sintetizar a matriz óssea, formando a zona de ossificação. Dessa maneira, ocorre a ossificação endocondral, na qual um molde cartilaginonoso com o formato do osso é formado e depois a cartilagem degenera e é substituída por osso. - -12 Muito bem! Agora temos todas as informações sobre o crescimento ósseo em mente e poderemos partir para o estudo da regeneração e reparação dos elementos que compõem o aparelho locomotor. Acompanhe! 1.2.2 Reparação tecidual no aparelho locomotor Após qualquer tipo de lesão, um processo de reparação tecidual será necessário. Há dois tipos de processos de reparação tecidual: a regeneração e a cicatrização. No processo de regeneração tecidual, haverá reposição das células perdidas por células exatamente do mesmo tipo. Porém, para que a regeneração ocorra, a lesão deve ser limitada e deve haver tipos celulares capazes de realizar mitose no tecido. Quando a lesão é mais extensa ou as células do tecido não podem realizar a reparação tecidual, ocorrerá um processo de substituição, no qual o tecido original é substituído por tecido fibroso, e chamaremos o processo de cicatrização tecidual. O processo de reparação tecidual passa por três fases. Conheça-as, clicando nas abas abaixo. Estágio inflamatório (Formação do coágulo) Início imediato após o surgimento da ferida. Indução de um processo inflamatório agudo pela lesão. Fagocitose de restos celulares e micro-organismos. Há formação de coágulo. Regeneração celular local. Estágio de proliferação Responsável pelo "fechamento" da lesão propriamente dita. Forma-se uma matriz extracelular com tecido conjuntivo de granulação que preencherá o espaço da ferida. No tecido de granulação, os fibroblastos não conseguem sintetizar colágeno em formato defibras, mas em pequenos grânulos arredondados, fazendo com que a cicatriz tenha menor resistência à tração. Estágio de reparo e remodelação Ocorre a contração da ferida. Remodelação: dura meses e permite que o tamanho da cicatriz e a vermelhidão diminuam. responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da cicatriz e do eritema. Mais tarde a cicatriz é considerada avascular. Vamos estudar como a reparação tecidual ocorre no tecido ósseo? Durante uma brincadeira ou naquele jogo de futebol com os amigos uma vez por semana, acidentes, quedas, impactos podem acontecer, ocasionando uma fratura óssea. Ao longo deste tópico, compreenderemos quais são os tipos de fraturas e de que forma elas são regeneradas, VOCÊ QUER LER? Os conceitos dos tipos de células do tecido ósseo e cartilaginoso precisam estar bem claros em sua mente para que você compreenda esta unidade. Portanto, sugerimos a leitura de um livro sobre o tema. Acesse os capítulos 7 (Tecido cartilaginoso) e 8 (Tecido ósseo) da obra (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).Histologia básica. Texto e atlas - -13 Ao longo deste tópico, compreenderemos quais são os tipos de fraturas e de que forma elas são regeneradas, bem como as fases específicas e importantes dentro desse processo. Terá o osso recuperado o mesmo aspecto que possuía antes da fratura? Descubra a partir de agora. Fratura é definida como uma descontinuidade óssea, cujos sinais e sintomas característicos são: dor intensa, edema, deformidade, hematomas, formigamento local, alteração de temperatura, incapacidade de movimentação do membro fraturado. É absolutamente contraindicado tentar colocar o osso no lugar após uma fratura sem o auxílio médico, pois isso pode causar danos irreparáveis às estruturas adjacentes ao osso, como ligamentos e nervos. Há muitos tipos de fraturas. Veja os principais abaixo: • transversa: a linha da fratura é horizontal; • longitudinal: a linha da fratura é vertical; • oblíqua: a linha da fratura atravessa o osso em um ângulo de 45º a 60º, causada por alguma compressão no local; • espiral: a linha da fratura está ao redor do osso e o atravessa em alguns pontos, como em uma torção; • galho verde: fratura incompleta em que não há separação entre as partes dos ossos, frequente em crianças; • cominutiva: fratura com mais de dois segmentos ósseos; • fechada: a pele sobre a fratura não é rasgada e não se podem ver os fragmentos ósseos externamente; • aberta ou : a pele sobre a fratura é rasgada e podem-se ver os fragmentos ósseos; exposta • por estresse: fratura em que há uma série de fissuras microscópicas no osso que se formam sem qualquer evidência de lesão em outros tecidos. Podem ocorrer em adultos saudáveis após atividades cansativas e repetitivas. Figura 6 - Tipos de fraturas ósseas. Fonte: Artemida-psy, Shuttertock, 2019. ID: 751354867. Alguns ossos estão mais suscetíveis a fraturas do que outros, sendo que os mais frequentemente fraturados são aqueles localizados no membro superior (como o osso esfacoide no punho e da clavícula), pois, durante uma queda, nos protegemos amparando o corpo com os braços. • • • • • • • • • - -14 Ao redor do osso, temos o periósteo, uma membrana de dupla camada. A camada mais superficial do periósteo é a camada fibrosa, formada por tecido conjuntivo, conferindo proteção e nutrição ao osso, já que é vascularizada. A camada mais profunda é chamada de camada osteogênica e contém osteoblastos e células mesenquimais que, com os vasos sanguíneos, possibilitarão a reparação do tecido ósseo. Para que a fratura seja consolidada para formar novamente o osso normal, os três estágios de reparação tecidual que estudamos anteriormente ocorrerão. Agora que você já sabe como o osso se recupera de uma fratura, vamos estudar como a reparação tecidual ocorre VOCÊ QUER LER? Você tem curiosidade para entender as diferenças entre fraturas, luxações, subluxações, contusões e entorses? Sugerimos a leitura do livro (OLIVEIRA,Traumatologia do desporto 2016), que explica bem essas diferenças. Acesse em: http://www.idesporto.pt/ficheiros/file ./Manuais/GrauII/GrauII_09_Traumatologia.pdf Na vida adulta, o crescimento ósseo ocorre principalmente pela via intramembranosa. No caso de fraturas, o crescimento ósseo serve para reparar a lesão por crescimento intramembranoso e por crescimento endocondral, a partir dos condroblastos que estão na borda da lesão. O novo tecido ósseo formado para substituir o tecido original perdido é desorganizado, podendo até formar estruturas ósseas anômalas, como o calo ósseo. Fatores hormonais, nutricionais e genéticos são fundamentais para que a reparação da fratura ocorra bem. Nesta atividade, treinaremos sua capacidade de observação e análise. Observaremos as fases do crescimento ósseo em uma situação de normalidade e como esse crescimento se desorganiza em casos de fratura. Consulte o material de apoio a seguir: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. . Texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro:Histologia básica Guanabara Koogan, 2018. Situação problema: Dois rapazes, um de 23 e outro de 28 anos, sofreram um acidente automobilístico e tiveram que passar por alguns procedimentos cirúrgicos. Visite o do Departamento de Anatomiasite Patológica da Unicamp, clicando no a seguir e veja como o crescimento ósseo estálink ocorrendo: http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html#encondral. Imagine agora que você é responsável por criar um programa de atividade física para esses rapazes, após a recuperação. Você prescreverá exercícios nos quais os músculos possam tracionar o calo ósseo? Você acha que o osso recém-formado terá a mesma resistência a força de tração que o osso original? Por quê? https://ipdj.gov.pt/documents/20123/123444/GrauII_09_Traumatologia.pdf/d6d3e175-7930-ad06-e344-d25384d49f1a?t=1574941673238 http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Manuais/GrauII/GrauII_09_Traumatologia.pdf - -15 Agora que você já sabe como o osso se recupera de uma fratura, vamos estudar como a reparação tecidual ocorre no tecido cartilaginoso? As superfícies articulares dos ossos são revestidas por cartilagem do tipo hialina que, nesse caso, não apresentam nem pericôndrio e nem são vascularizadas. Esse fator dificulta muito a regeneração e a reparação das lesões de cartilagem. Assim, a nutrição é realizada pelo líquido sinovial existente dentro das cápsulas articulares. Porém a ausência de vasos sanguíneos impede que o processo de reparação tecidual ocorra de maneira adequada. Em relação à regeneração do músculo estriado esquelético, sabemos que as fibras musculares esqueléticas não se dividem. Entretanto, são associadas às fibras musculares esqueléticas, pequenas células, chamadas de células satélites. Após uma lesão ou um exercício físico intenso, as células satélites proliferam, se fundem e formam novas fibras musculares. Bem, já que estamos falando de fibras musculares, vamos estudar como elas se contraem? Acompanhe! 1.3 Unidade motora e características da contração muscular O que é uma unidade motora e qual sua participação na contração muscular? Essa é a pergunta primária a ser respondida neste tópico. Muitos não se dão conta da importância do sistema nervoso na contração muscular. Mas lembre-se de que em todos os movimentos que nosso corpo executa estão envolvidos neurônios e impulsos nervosos para que cada comando possa ser realizado perfeitamente. Tais comandos chegam rapidamente aos músculos para a realização da contração muscular, o que resulta no movimento desejado. Vamos entender melhor esses conceitos a seguir! 1.3.1 Músculo estriado esquelético O é assim chamado por ter como característica funcional a movimentação dotecido muscular esquelético esqueleto. Ele possui estrias transversais visíveis ao microscópio. Por esse motivo, é considerado um tecido estriado, composto de faixas de proteínas claras e escuras alternadas. Funciona de maneira voluntária e é constituído de fibras musculares individuais envoltas por fascículos e três camadas de tecido conjuntivo, sendo bem supridos por nervose vasos sanguíneos. Observe essas características na figura a seguir. - -16 Figura 7 - Fibras do músculo estriado esquelético. Fonte: Jose Luis Calvo, Shutterstock, 2019. ID: 1033566535. Você sabe o que são as estrias encontradas no músculo estriado esquelético? Elas são grupos de proteínas organizadas, as miofibrilas, formando o que chamamos de sarcômeros, os quais são formados por três miofibrilas principais: actina, miosina e troponina. A actina é um filamento fino, enquanto a miosina é um filamento grosso. No local do sarcômero, onde há presença dos filamentos finos, actina, a iluminação do microscópio pode passar mais facilmente, fazendo com que ela fique mais clara e receba o nome de banda (faixa) isotrópica, ou banda I. Já na região do sarcômero que possui sobreposição de filamentos grossos, miosina, e finos, actina, a iluminação VOCÊ SABIA? Os músculos são a parte mais densa do corpo, compondo cerca de 40% do peso corporal e pesando mais do que a gordura. Quando fazemos atividade física, de início perdemos peso devido à queima de gordura, mas, com o passar do tempo, se mantivermos a frequência dos exercícios, começamos a ganhar peso, porém esse peso se deve à massa magra, ou seja, ao músculo que está sendo hipertrofiado. - -17 Já na região do sarcômero que possui sobreposição de filamentos grossos, miosina, e finos, actina, a iluminação do microscópio tem mais dificuldade de passar. Essa região recebe o nome de banda (faixa) anisotrópica ou banda A. A sequência de bandas A e I na fibra muscular conferem a ela o aspecto de estriada. A actina apresenta-se em hélice dupla, torcidas uma sobre a outra. Entre as hélices forma-se um sulco, onde outra miofibrila se encaixa: a tropomiosina. Cada tropomiosina está conectada a uma troponina. A miosina forma um grande bastão com uma saliência globular em uma de suas extremidades: a cabeça da miosina. Na cabeça da miosina, há locais para combinação com ATP, porém a hidrólise desse ATP só ocorre se houver interação entre a miosina e a actina. Veja essas estruturas na imagem a seguir. Figura 8 - Sarcômero. Fonte: Emre Terim, Shutterstock, 2019. ID: 1358589659. O deslizamento entre os filamento grossos, miosina, e finos, actina faz com que cada sarcômero da fibra muscular fique mais curto. Chamamos este encurtamento de contração muscular. Quando o músculo está em repouso, o sistema troponina-tropomiosina impede a interação actina-miosina. Isso porque a tropomiosina está bloqueando a região que impede a ligação entre miosina e actina. Vamos ver como ocorre a liberação da actina para que ela possa interagir com a miosina e causar a contração muscular? 1.3.2 Junção neuromuscular e contração Você sabia que a contração muscular começa somente com a ordem que chega do sistema nervoso? E há ainda um importante íon que precisa estar presente para que a contração ocorra: o Ca2+. Acompanhe para saber como tudo acontece. A placa motora é formada por um conjunto de terminações nervosas semelhantes a sinapses, chamadas junções - -18 Acompanhe para saber como tudo acontece. A placa motora é formada por um conjunto de terminações nervosas semelhantes a sinapses, chamadas junções mioneurais, as quais, como o nome diz, comunicam o neurônio à fibra muscular. O impulso nervoso faz com que o neurotransmissor acetilcolina seja liberado na junção mioneural. A acetilcolina se liga a um receptor nicotínico na membrana celular do músculo, o sarcolema, e, a partir daí, se iniciam os eventos da contração muscular. Observe esse processo ocorrendo na imagem a seguir. Figura 9 - Estrutura neuromuscular que possibilita a contração. Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2015, p. 311. No sarcolema, encontramos estruturas chamadas de túbulos T (transversais). Os túbulos T formam uma rede de invaginações da membrana plasmática para o interior da fibra. Esses túbulos ficam ao redor das bandas A e I de cada sarcômero da fibra muscular e permitem que o impulso elétrico chegue a cada sarcômero de maneira rápida e efetiva, fazendo com que todas as actinas e miosinas contraiam simultaneamente. Os túbulos T apresentam ao seu redor projeções do retículo sacoplasmático, chamadas de cisternas terminais. A junção de duas cisternas terminais e um túbulo T recebe o nome de tríade. As cisternas e o retículo sarcoplasmático armazenam grandes quantidades de Ca2+. Veja a tríade na figura A seguir. - -19 Figura 10 - Túbulos T e retículo sarcoplasmático em uma fibra muscular. Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018, p. 195. Quando o sinal de despolarização chega pelos túbulos T, ocorre saída de íons Ca2+ das cisternas do retículo sarcoplasmático para o citoplasma das células musculares, conhecido como sarcoplasma. A contração muscular é um processo bastante complexo, como você já deve ter notado, e muito fatores devem estar presentes para que ela ocorra adequadamente. Você já teve a sensação de que seu músculo estava dando um “nó”? Foi à noite ou durante a realização de exercício físico intenso? Doeu muito? Você deve ter tido uma cãibra. As cãibras acometem os músculos submetidos a trabalho intenso e passam rapidamente. Os cientistas ainda não explicaram completamente o mecanismo fisopatológico dela, mas acredita-se que esteja relacionado com desequilíbrio hídrico-eletrolítico, podendo haver falta de água e de alguns íons como o potássio e o cálcio. Baixas temperaturas e vascularização deficiente também podem levar a ela. A troponina cobre a zona da actina na qual estão os sítios de ligação entre a actina e a cabeça da miosina. A troponina possui grande afinidade ao cálcio e, quando ele é liberado no interior celular pelas cisternas terminais, liga-se à troponina. Com a ligação com o cálcio, a troponina muda a sua conformação, deslocando-se e permitindo que a miosina se - -20 Com a ligação com o cálcio, a troponina muda a sua conformação, deslocando-se e permitindo que a miosina se conecte à actina. A cabeça de miosina se liga à actina e o deslizamento ocorre. Essa sequência de eventos, que vão desde a excitação da membrana até o desencadeamento da contração da fibra muscular, é denominada .acoplamento excitação-contração A contração muscular ocorre por meio de um processo chamado de modelo dos filamentos deslizantes. Com o deslocamento do complexo troponona-tropomiosina pelo Ca2+, o sítio ativo da actina fica livre e as cabeças da miosina se prendem nesse local. O acoplamento da actina com a miosina leva à hidrólise do ATP, liberando ADP, fosfato inorgânico e energia. A energia liberada permite que a cabeça da miosina se dobre, exercendo trabalho, e deslize. Mesmo que os comprimentos de cada filamento de actina e miosina mantenham-se inalterados, o encurtamento atinge o sarcômero, levando ao encurtamento de toda a fibra muscular. Após o mecanismo de contração, é preciso que o músculo volte a relaxar. O relaxamento ocorrerá quando o estímulo nervoso cessar e quando não houver mais cálcio disponível no sarcoplasma. Com isso, a troponina se desliga do cálcio e retorna a tropomiosina ao seu sítio na actina, impedindo a relação actina-miosina e ocasionando um relaxamento da fibra muscular (HEBERT , 2016).et al. Vamos estudar os tipos de contração muscular? Acompanhe com atenção! 1.3.3 Tipos e características da contração muscular O músculo esquelético apresenta dois tipos básicos de contração muscular, a isotônica e a isométrica. A ocorre quando a tensão no músculo permanece constante enquanto seu comprimento secontração isotônica modifica. Ao se contrair, o músculo encurta para poder realizar o trabalho externo. Por ter essa característica, são mais utilizados para mover objetos ou realizar movimentos corporais. Mas esse tipo de contração possui duas subdivisões. Clique e confira! • Contração isotônica concêntrica Se a tensão gerada é suficiente para mover o objeto, o músculo encurtará e recruta outra estrutura, como um tendão, por exemplo, para que seja capaz de movimentar e diminuir o ângulo articular. • Contração isotônica excêntrica Quando o comprimento muscular é aumentado nacontração, de forma que a tensão que é realizada pelas pontes transversas de miosina é oposta ao movimento do peso, há um retardo no processo de alongamento. Por esse motivo, elas são mais danosas ao músculo e causam dor muscular mais tardia do que as concêntricas. Já a ocorre quando as duas extremidades estão fixas e o músculo não muda seucontração isométrica comprimento. Utilizadas na manutenção da postura e para segurar objetos em uma posição fixa, há gasto de energia, pois o peso do objeto necessita que os músculos se contraiam para suportá-lo. É importante também na estabilização de articulações enquanto outras são movimentadas. A maioria das atividades diárias envolve uma mistura de contração isotônica e isométrica. Algumas características da contração muscular merecem atenção em nosso estudo. O abalo muscular como uma resposta básica da contração do músculo equivale a uma única e rápida contração muscular após a chegada de um potencial de ação. Pelo potencial de ação terminar bem antes da contração muscular, é possível que a membrana muscular seja despolarizada; mesmo antes que a descontração ocorra totalmente, o potencial encontrará novamente a fibra muscular não relaxada totalmente e um segundo abalo muscular será acrescentado ao efeito mecânico do primeiro abalo, ocasionando uma contração bem maior. Essa sequência de eventos é conhecida como somação temporal. Se esse processo for repetido várias vezes, com frequências maiores, aumentando o grau de contração e diminuindo o grau de relaxamento, atingirá o chamado tétano completo, que é um período em que não há relaxamento das fibras musculares, com manutenção e estabilidade da contração e magnitude. Isso ocorre • • - -21 diminuindo o grau de relaxamento, atingirá o chamado tétano completo, que é um período em que não há relaxamento das fibras musculares, com manutenção e estabilidade da contração e magnitude. Isso ocorre quando o músculo é estimulado por uma série de potenciais de ação. Se tivermos estímulos adequados que levem aos abalos musculares, em seguida sendo aplicados novamente e, imediatamente depois do relaxamento, teremos uma segunda contração de magnitude aumentada. Esse é o princípio do fenômeno da escada, também conhecido como fenômeno (escada, em alemão): basicamenteTreppe significa que, quando realizamos uma atividade muscular de forma repetida, teremos mais sucesso na terceira repetição do que na primeira, isso porque o músculo estará mais bem preparado para o exercício. O músculo, entretanto, tem um limite máximo de contrações. Não adianta, por exemplo, realizar exercícios em dez séries de 20 repetições, porque ele não vai suportar essa carga. Quando ele não responde mais aos estímulos, ocorre uma fadiga muscular, sendo que, quanto mais alto for o estímulo, mais precoce será a fadiga. Esse mecanismo pode ocorrer de duas formas: a mais comum é quando a ATPase da miosina impede que ocorra uma hidrólise do ATP, não ocorrendo uma interação actina-miosina, mesmo com o estímulo presente; outra situação, menos comum, é a fadiga da placa motora. Por causa da alta frequência de estímulos, o neurônio perde a capacidade de sintetizar neurotransmissores suficientes para gerar uma resposta muscular. Se a estimulação é interrompida por um período, o músculo é capaz de se recuperar e contrair novamente, por isso que é importante o descanso entre as atividades físicas. Em situações que o indivíduo permanece insistindo na alta frequência de estímulos, ocorrerá um gasto de ATP acima do seu fornecimento, e esse déficit de ATP fará com que o músculo permaneça contraído mesmo na ausência do estímulo, causando uma contratura muscular. Vimos, então, que existem diferentes tipos de contração muscular. Agora vamos estudar as fibras musculares esqueléticas no que tange às suas características fisiológicas. Siga abaixo! • Velocidade de contração: refere-se à velocidade com a qual a fibra é capaz de se contrair e de relaxar. • Velocidade da reação da miosina: taxa com que é capaz de degradar as moléculas de ATP durante o ciclo de contração. • Perfil metabólico: capacidade de produção de ATP por fosforilação oxidativa ou glicólise. O funcionamento muscular depende de diversos fatores, e a realização repetitiva de um determinado movimento pode ser positiva em um primeiro momento, pois melhora sua execução, mas, após algumas repetições, o efeito pode ser contrário, levando o músculo à fadiga. Nesta atividade, treinaremos sua capacidade de aplicar seus conhecimentos em situações da vida diária. Observaremos como a repetição dos movimentos pode gerar a fadiga muscular. Consulte o material de apoio a seguir: FONG, A. S. S. . 13. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017.Estruturas e funções do corpo Situação problema: Contaremos quanto movimentos repetidos com a mão você consegue fazer em 30 segundos. Prepare o cronômetro do seu celular. Você pode contar o maior número de sinais de joia que pode fazer nesse tempo. Apoie a palma da mão e o punho em uma mesa. Faça o sinal de joia sucessivas vezes, sem tirar o punho da mesa e sempre retornando a palma da mão na posição inicial. Anote o número de joias. Repita o procedimento três vezes. O número de joias aumentou ou diminuiu? Ficou mais ou menos coordenado? Você sentiu dores? Reflita sobre seus achados e explique-os com base na fisiologia muscular. • • • - -22 • Perfil metabólico: capacidade de produção de ATP por fosforilação oxidativa ou glicólise. Fibras com metabolismo oxidativo apresentam grandes quantidades de mioglobina e mitocôndrias. A mioglobina é uma proteína que contém ferro e atua como ligante de oxigênio. Assemelha-se à hemoglobina presente nos eritrócitos e é encontrada em várias quantidades nas fibras musculares. Dessa maneira, a mioglobina atua no armazenamento de oxigênio nas fibras musculares e proporciona uma fonte rápida de oxigênio para o metabolismo muscular. Há três tipos diferentes de fibras musculares. Clique nas abas, para conhecê-las. Fibras do tipo I (Oxidativas lentas) São curtas, vermelhas quando observadas ao microscópio devido à presença de grande quantidade de mioglobina e com grande quantidade de mitocôndrias no citoplasma. Essas características estruturais permitem que as fibras do tipo I façam contração lenta e sejam resistentes à fadiga, já que a hidrólise do ATP ocorrerá mais lentamente. A grande quantidade de mitocôndrias no citoplasma destas fibras garantirá a sua resistência à fadiga. Os músculos eretores da espinha, situados no dorso, apresentam grande proporção dessas fibras, já que garantem nossa postura ereta durante todo o dia. Fibras do tipo IIa (Glicolíticas oxidativas rápidas) Diferem das fibras tipo I devido ao comprimento da fibra, um pouco maior que as fibras do tipo I. As fibras tipo II apresentam grande estoque de glicogênio, mitocôndrias e mioglobina. Esses elementos são essenciais para a contração rápida e resistência à fadiga, já que elas realizam glicólise anaeróbica. Utilizamos as fibras do tipo II em corridas de velocidade, como as de 100 metros, e em caminhadas. Fibras do tipo IIb (Glicolíticas rápidas) São fibras grandes, rosadas e com menor quantidade de mioglobina e mitocôndrias, apresentam alta atividade anaeróbica e armazenam quantidade considerável de glicogênio. Fazem contração rápida e são mais propensas à fadiga, apresentam máxima velocidade de reação da miosina atpase. Produzem ácido láctico. Os três tipos de fibras musculares são encontrados em quase todos os músculos do corpo e, de maneira geral , metade das fibras musculares de uma pessoa é do tipo oxidativa lenta (tipo I). No entanto, lembre-se de que isso varia de acordo com o treinamento que ela realiza e a função muscular que é exigida em sua rotina diária. Dentro de uma unidade motora, todas as fibras musculares são do mesmo tipo. As diferentes unidades motoras do músculo são recrutadas para a realização de um movimento de acordo com a necessidade que será exigida. Todo músculo tem um tônus muscular, que é o estado de tensão muscular que ele apresenta,mesmo em repouso. Isso mesmo: em repouso, o músculo está passando por contrações involuntárias de suas unidades motoras, mesmo que sejam fracas. Para que essas contrações ocorram, é necessário que haja uma ativação de acetilcolina para liberar impulsos nervosos por neurônios localizados no encéfalo e na medula espinal. Se esse neurônio estiver com alguma dificuldade de comunicação, estando danificado ou seccionado, chamamos de hipotonia, ou seja, o músculo é flácido, com um estado de fraqueza muscular e uma hipermobilidade articular. Para sustentar o tônus muscular, unidades motoras são acionadas para realizarem constantes e alternadas ativações e desativações. Dessa forma, o tônus é mantido, mas sem força suficiente para realização de um movimento. Por outro lado, se o tônus muscular estiver aumentado, temos uma hipertonia, que é expressa de duas formas: espasticidade e rigidez. Na hipertonia espástica, há um intenso tônus muscular, o que ocasiona um endurecimento muscular com reflexos aumentados. Na hipertonia rígida, também ocorre uma alteração excessiva do tônus muscular, mas sem modificar os reflexos. A hipertrofia é o aumento da massa muscular como uma resposta a um estresse decorrente do aumento da tensão gerada no tecido muscular. Um treinamento de força muscular intenso ocasiona uma elevação na síntese proteica, o que resulta em um aumento de proteínas de contração, levando à hipertrofia muscular. • - -23 1.4 Planos e eixos de movimento Antes de iniciarmos a apresentação dos planos de eixos nos quais o movimento ocorre, queremos que sua reflexão: como você define o movimento? O movimento é caracterizado por mudanças de posição no espaço em relação a um ponto de referência. Desse modo, sempre que não houver mudanças de posição, podemos dizer que o corpo se encontra em repouso, certo? 1.4.1 Posição anatômica e planos do corpo humano Para o estudo da anatomia, uma terminologia especializada é utilizada para identificar posições e direções corporais no espaço. A posição anatômica caracteriza-se pelo indivíduo em posição ereta, com a cabeça voltada para a frente, o olhar dirigido ao horizonte, os membros superiores estendidos ao longo do corpo, palma das mãos voltadas para a frente, membros inferiores unidos e pontas dos pés voltadas para a frente. A partir da posição anatômica, foi possível delimitar-se o corpo humano por planos imaginários, chamados de planos de delimitação: são os planos anterior e posterior, superior e inferior e lateral direito e lateral esquerdo. Entretanto, para estudar o corpo humano, precisamos também cortá-lo. Veja, na figura a seguir, os planos que cortam o corpo humano, chamados de planos de secção e depois acompanhe a descrição de cada um deles. Figura 11 - Os três planos de referência. Fonte: HALL, 2016, p. 51. - -24 Fonte: HALL, 2016, p. 51. • Plano sagital mediano: secciona o corpo humano em duas metades, direita e esquerda. • Plano sagital paramediano: secciona o corpo humano paralelamente aos planos laterais. • Plano frontal: secciona o corpo humano paralelamente aos planos anterior e posterior. • Plano horizontal: secciona o corpo humano paralelamente aos planos superior e inferior. No contexto apresentado, alguns termos direcionais específicos são utilizados para descrever as partes corporais em relação a determinado ponto de referência. Abaixo, são apresentados os termos direcionais mais frequentemente utilizados. Confira! • Superior: para cima, mais próximo da cabeça. Os termos proximal e cranial são utilizados como sinônimos, porém o termo proximal só pode ser utilizado para estruturas situadas nos membros, e o termo cranial para estruturas relacionadas ao neuroeixo. Por exemplo: a coxa é proximal em relação à perna. • Inferior: para baixo, mais afastado da cabeça. Os termos distal e caudal são considerados sinônimos, porém o termo distal só pode ser utilizado para estruturas situadas nos membros, e o termo caudal para estruturas relacionadas ao neuroeixo. Por exemplo: a mão é distal em relação ao antebraço. • Anterior: para frente. O termo ventral é considerado sinônimo. Por exemplo: a região abdominal é ventral em relação ao dorso. • Posterior: para trás. O termo dorsal é sinônimo. Por exemplo: a região da coluna vertebral é dorsal. • Médio: localizado entre duas estruturas. Por exemplo: o coração é médio em relação ao esterno e à coluna vertebral. • Medial: localizado próximo ao plano mediano. Por exemplo: o pulmão é medial em relação ao coração. • Intermédio: localizado entre uma estrutura medial e outra lateral. Por exemplo, O III dedo é intermédio entre o polegar e o V dedo. • Lateral: localizado na direção lateral do corpo. Por exemplo: a orelha é lateral em relação ao olho. • Superficial: utiliza-se esse termo para órgãos que apresentam camadas, considera-se superficial a região mais próxima da superfície do corpo. • Profundo: utiliza-se esse termo para órgãos que apresentam camadas, considera-se profundo a região mais afastada da superfície do corpo. Agora que já conhecemos os planos de delimitação e de secção e entendemos o conceito relacionado ao movimento, iniciaremos o estudo sobre os planos e eixos do movimento. Clique nas abas abaixo e veja quais são eles. • Eixo horizontal ou latero-lateral Eixo imaginário que une os planos lateral direito ao lateral esquerdo, permite os movimentos de flexão e • • • • VOCÊ QUER VER? O documentário , produzido pela National Geographic (2015), aborda oEu, humano funcionamento de todos os tecidos e órgãos corporais. Nele, fica clara a interdependência dos segmentos corporais e a necessidade de manter a harmonia entre todas as partes do corpo. O conteúdo apresentado contribui para uma visão holística do profissional de saúde, ou seja, inclui a ideia de que é essencial tratar o indivíduo em sua totalidade, e não apenas o segmento lesionado. • • • • • • • • • • • - -25 Eixo imaginário que une os planos lateral direito ao lateral esquerdo, permite os movimentos de flexão e extensão. Ao realizar esse movimento, o segmento corpóreo desloca-se perpendicularmente ao eixo do movimento, no plano sagital. • Eixo sagital ou ântero-posterior Eixo imaginário que une o plano anterior ao posterior, permite os movimentos de abdução-adução. Ao realizar esse movimento, o segmento corpóreo desloca-se perpendicularmente ao eixo do movimento, no plano frontal. • Eixo longitudinal ou supero-inferior Eixo imaginário que une o plano superior ao inferior, permite os movimentos de rotação. Ao realizar esse movimento, o segmento corpóreo desloca-se perpendicularmente ao eixo do movimento, no plano horizontal. Logo, na posição anatômica, todos os segmentos corporais encontram-se em movimento neutro, sendo esse o ponto considerado com posição de zero grau articular. Sempre que um segmento corporal sair da posição anatômica, teremos um movimento articular, que poderá ser identificado em relação à direção do movimento realizado. Os planos e eixos imaginários são utilizados para avaliação física do corpo humano, sob diversos aspectos. Tal avaliação é realizada atualmente por diferentes métodos, sendo que os mais descritos na literatura são: inspeção; palpação; goniometria; fotogrametria; ; fio de prumo; simetrógrafo; videogrametria.softwares Muito bem! Agora você já está preparado para estudar os movimentos realizados por cada parte do nosso corpo! Síntese Finalizamos esta unidade. Nela, iniciamos nosso estudo do aparelho locomotor com princípios básicos sobre esse importante aparelho que permite a nossa locomoção e a realização de nossas atividades da rotina diária. O aparelho locomotor contribui com a homeostase do organismo e é responsável por funções muito diversas. Por isso, há tantos profissionais que atuam na promoção da saúde dos órgãos que o formam e na prevenção e tratamento das doenças que o afetam. São eles: médico, educador físico, fisioterapeuta, enfermeiro, quiropraxista, podólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, entre outros. Nesta unidade, você teve a oportunidadede: • compreender a embriogênese do aparelho locomotor, desde a fecundação e as etapas que formam os ossos, os músculos e as articulações de nosso corpo; • aplicar os conhecimentos de embriologia na compreensão das más-formações mais frequentes do aparelho locomotor; • analisar a composição do tecido ósseo, sua formação, desenvolvimento e crescimento e comparar as ossificações endocondral e intramembranosa; • sintetizar como é o processo de reparação e regeneração das estruturas do aparelho locomotor e conhecer as três fases da reparação tecidual (inflamatória, proliferativa, remodelação e maturação); • classificar as fraturas ósseas; • analisar todos os elementos necessários para que a contração muscular ocorra, além de classificar os tipos de contração e fibras musculares que atuam nesse processo; • relacionar os planos e eixos do movimento. • • • • • • • • • - -26 Bibliografia ANDIA, D. C.; CERRI, P. S.; SPOLIDORIO, L. C. Tecido ósseo: aspectos morfológicos e histofisiológicos. Revista de , Araraquara, Unesp, v. 35, n. 2, p. 191-98, 2006.Odontologia da Unesp ANDRADE, F. G.; FERRARI, O. . Londrina: UEL, 2014.Atlas digital de histologia básica BEU, C. C. L.; GUEDES, N. L. K. O.; QUADROS, Â. A. G. . Cascavel,Tecido conjuntivo propriamente dito Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2017. BUCCI, M. Efeitos do treinamento concomitante hipertrofia e endurance no músculo esquelético. et al. Revista , Brasília, UCB, v. 13, n. 1, p. 17-28, 2005.Brasileira de Ciência e Movimento CAEL, C. . Barueri: Manole, 2013.Anatomia palpatória e funcional CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA (Confef). Instrução normativa nº 02, de 27 de novembro de . Brasília: Confef, 2014. Disponível em: . Acesso em: 5 ago.2014 http://www.confef.org.br/confef/legislacao/157 2019. CRUZ, I. B. M. Potencial regenerativo do tecido cartilaginoso por células-tronco mesenquimais: atualização,et al. limitações e desafios. , São Paulo, v. 52, n. 1, p. 2-10, jan.-fev. 2017.Revista Brasileira de Ortopedia DE CARLI, M. C. L. et al. Cicatrização do tendão patelar após retirada do enxerto para reconstrução ligamentar do joelho: participação dos fatores de crescimento. , Campinas, PUC-Campinas, v. 13,Revista de Ciências Médicas n. 2, p. 153-160, abr.-jun. 2004. DOUGLAS, C. R. . 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,Tratado de fisiologia aplicada as ciências médicas 2006. DUGANI, S. integrada com exame físico e técnicas de imagem. Rio de Janeiro: Guanabaraet al. Anatomia clínica - Koogan, 2017. FERREIRA, A. T. Fisiologia da contração muscular. , São Paulo, v. 13 n. 3, p. 60-63, jul.-set.Revista Neurociências 2005. FONG, A. S. S. . Estruturas e funções do corpo 13. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017. HANKIN, M. H. : uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: Artmed, 2015.Anatomia clínica HEBERT, S. K. : princípios e prática. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.et al. Ortopedia e traumatologia JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. . 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.Histologia básica JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. . Texto e atlas. 13 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018Histologia básica . MARIEB, E. N.; HOEHN, K . 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.. Anatomia e fisiologia MOORE, K. L. . 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.Anatomia orientada para a clínica MOORE, K. L.; PERSAUD, P. V. N.; TORCHIA, M. G. . 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.Embriologia clínica NATIONAL GEOGRAPHIC. . 2015. 120 min. [Documentário].Eu, humano OLIVEIRA, C. V. . São Paulo: Bella, 2016.O mundo está ao contrário OLIVEIRA, R. . Instituto Português do Desporto e Juventude - Programa Nacional deTraumatologia do desporto Formação de Treinadores, v. 1, 2016. Disponível em: http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Manuais/GrauII . Acesso em: 21 jan. 2019./GrauII_09_Traumatologia.pdf PORTH, C. M.; GROSSMAN, S. : fisiopatologia. Porth 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. SADLER, T. W. L. . 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.Embriologia médica SIMON, R. R.; SHERMAN, S. C. . 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.Emergências ortopédicas TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. . 12. ed. Rio de Janeiro: GuanabaraPrincípios de anatomia e fisiologia Koogan, 2015. TORTORA, G. J. : fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 124.Corpo humano http://www.confef.org.br/confef/legislacao/157 http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Manuais/GrauII/GrauII_09_Traumatologia.pdf http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Manuais/GrauII/GrauII_09_Traumatologia.pdf Introdução 1.1 Embriogênese do aparelho locomotor 1.2 Crescimento ósseo e reparação tecidual no aparelho locomotor 1.2.1 Crescimento ósseo 1.2.2 Reparação tecidual no aparelho locomotor 1.3 Unidade motora e características da contração muscular 1.3.1 Músculo estriado esquelético 1.3.2 Junção neuromuscular e contração 1.3.3 Tipos e características da contração muscular Contração isotônica concêntrica Contração isotônica excêntrica 1.4 Planos e eixos de movimento 1.4.1 Posição anatômica e planos do corpo humano Eixo horizontal ou latero-lateral Eixo sagital ou ântero-posterior Eixo longitudinal ou supero-inferior Síntese Bibliografia
Compartilhar