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Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 Definição e epidemiologia Proliferação incontrolável de células anormais nas mamas, decorrente de alterações genéticas, hereditárias ou adquiridas por exposição a fatores ambientais. Normalmente, a carcinogênese é lenta, podendo levar anos para que uma célula prolifere e dê origem a um tumor palpável. Porém, pode apresentar crescimento rápido e maior possibilidade de disseminação. → Câncer mais incidente em mulheres. → Representa 23% do total de casos de câncer. → 5ª causa de morte por câncer. → Incidência: 49 casos/100 mil mulheres. Taxa de mortalidade: Curva ascendente. → Incidência e mortalidade tendem a crescer progressivamente com a idade. BRASIL: → Câncer mais incidente, depois dos tumores de pele não melanoma. → Mais incidente em mulheres de todas as regiões, exceto Região Norte, onde câncer de colo do útero ocupa 1ª posição. → 1ª causa de morte por câncer em mulheres. → Regiões Sul e Sudeste apresentam as maiores taxas de mortalidade. Quadro clínico → Sinal mais comum: Nódulo palpável, geralmente indolor, duro e irregular. Porém, há tumores de consistência branda, globosos e bem definidos. → Endurecimento da mama. → Descarga papilar, especialmente quando é unilateral e espontânea. A secreção papilar associada ao câncer geralmente é transparente, podendo também ser rosada ou avermelhada devido à presença de hemácias. NÃO confundir com descargas fisiológicas ou associadas a processos benignos (bilaterais, turvas, algumas vezes amareladas ou esverdeadas, e se exteriorizam na maioria das vezes mediante manobras de compressão do mamilo). → Eritema: Coloração avermelhada da pele da mama. → Edema cutâneo semelhante à casca de laranja. → Retração ou abaulamento da mama. → Dor ou inversão no mamilo. → Descamação ou ulceração do mamilo. → Linfonodos palpáveis na axila. Sinais de alerta: → Nódulo ou espessamento diferentes do tecido das mamas. → Mudança no contorno das mamas (retração ou abaulamento). Câncer de Mama Câncer de Mama Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 → Desconforto ou dor persistente em uma única mama. → Mudanças no mamilo (retração ou desvio). → Secreção espontânea pelo mamilo, principalmente unilateral. Fatores de risco → Idade: Mais importante fator de risco. → Menarca precoce: < 12 anos. → Menopausa tardia: > 50 anos. → 1ª gravidez após os 30 anos. → Nuliparidade. → Exposição à radiação. → TRH: Principalmente se prolongada por mais de 5 anos. → Fatores endócrinos: Estímulo estrogênico, endógeno ou exógeno, com aumento do risco quanto maior for o tempo de exposição. → Obesidade. → Ingestão regular de álcool. → Sedentarismo. → História familiar. Dentre as mulheres com câncer de mama, 23% têm história familiar da doença. Embora qualquer história familiar de câncer de mama aumente o risco relativo, não há aumento muito significativo se o diagnóstico da doença foi feito após a menopausa em uma parente em primeiro grau ou mais distante. Se a mãe ou irmã de uma mulher teve câncer de mama unilateral antes da menopausa, o risco cumulativo de desenvolver a doença aproxima-se de 30%, enquanto uma mulher cuja mãe ou irmã teve câncer de mama bilateral antes da menopausa tem um risco cumulativo de 40 a 50%. É provável que a maior incidência nessas mulheres se deva a oncogenes hereditários. Cerca de 5 a 10% dos cânceres de mama têm fundo hereditário. Todos os genes herdados são autossômicos dominantes, mas têm penetração variável; dentre os homens, 50% são portadores do gene. As mutações mais comuns são as deleções gênicas de BRCA1 (cromossomo 17q21) e BRCA2 (cromossomo 13q12-13). As portadoras dessas mutações da linhagem germinativa têm um risco de até 4% ao ano de desenvolver câncer de mama e um risco cumulativo de 35 a 85%. O risco de desenvolver um câncer de mama contralateral é de até 65% nessas mulheres. A mutação de BRCA1 está associada a aumento do risco de câncer do ovário e da próstata, enquanto o BRCA2, embora menos comum, aumenta o risco de câncer da mama masculina e da próstata. As duas mutações são raras na população geral (0,1%), porém são mais comuns em judeus de descendência asquenazi (1 a 2,3%). A realização de determinados exames genéticos deve ser considerada se houver alta probabilidade de que os resultados sejam positivos e de que sejam usados para influenciar decisões a respeito do tratamento clínico da paciente e da família. O aconselhamento genético para teste de BRCA é recomendado em pacientes com três ou mais parentas com câncer de mama ou de ovário com diagnóstico antes dos 50 anos em uma delas, duas parentas em primeiro ou segundo grau com câncer de mama ou de ovário, qualquer parente do sexo masculino com câncer de mama, pacientes cujo câncer foi diagnosticado antes dos 50 anos e qualquer paciente com caso de câncer de mama e ovário na família. As pacientes judias asquenazi devem receber aconselhamento genético em caso de câncer de mama ou de ovário em alguma parenta em primeiro grau, ou em duas parentas em segundo grau do mesmo lado da família. Os testes genéticos são cada vez mais importantes, considerando-se as evidências de que a cirurgia profilática pode evitar novos cânceres e prolongar a sobrevida em alguns casos. Um estudo de coorte multicêntrico prospectivo de 2.482 mulheres com mutações de BRCA1 e BRCA2, entre 1974 e 2008, mostrou que a mastectomia redutora de risco foi associada à diminuição da probabilidade de câncer de mama. A salpingooforectomia redutora de risco foi associada à diminuição da probabilidade de câncer do ovário, primeiro diagnóstico de câncer de mama, mortalidade por todas as causas, mortalidade específica por câncer de mama e mortalidade específica por câncer de ovário. Grupos com risco muito elevado: → História familiar de, pelo menos, um parente de 1º grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico antes dos 50 anos de idade. → História familiar de, pelo menos, um parente de 1º grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária. Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 → História familiar de câncer de mama masculino. → Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ. Classificação Doenças benignas da mama CISTOS A maioria dos cistos mamários forma-se a partir de metaplasia apócrina de ácino lobular. Em geral, são revestidos por uma única camada de epitélio, que varia de plano a colunar. A partir de uma série de necropsias que incluiu 725 mulheres, pesquisadores relataram microcistos em 58% e cistos, 1 cm em 21% (Davies, 1964). A maior incidência ocorreu entre 40 e 50 anos de idade, e a incidência de cistos de mama palpáveis para todo o período de vida foi estimada em 7% (Haagensen, 1986b). Os cistos de mama são diagnosticados e classificados a partir de exame ultrassonográfico. Existem três tipos de cistos: simples, complicado e complexo (Berg, 2003). → Os cistos simples são sonoluscentes, com margem definida e reforço acústico posterior. Essas lesões não exigem tratamento ou monitoramento especial, mas podem ser aspiradas, se forem dolorosas. → Os cistos recorrentes podem ser submetidos a novos exames de imagem e à nova punção com aspiração, mas caso sejam sintomáticos a melhor conduta é sua excisão. → Os cistos complicados apresentam ecos internos à ultrassonografia e algumas vezes não é possível distingui-los de massas sólidas. Em geral, os ecos internos são causados por resíduos proteicos, mas todos os cistos complicados devem ser aspirados. O material aspirado pode ser submetido à cultura, se for purulento, ou à citologia, se houver características clínicas ou imagem preocupantes. Se a anormalidade ultrassonográfica não se resolver por completo com a aspiração, deve-se realizar biópsia por agulha grossa.→ Os cistos complexos apresentam septações ou massas intracísticas ao exame ultrassonográfico. A massa intracística geralmente é um papiloma, mas carcinoma medular, carcinoma papilar e alguns carcinomas ductais infiltrantes podem se apresentar como cistos complexos. Embora alguns autores tenham defendido biópsia por agulha grossa para avaliação de cistos complexos, esse procedimento pode descomprimir o cisto, dificultando sua localização no momento da cirurgia. Além disso, as lesões papilares diagnosticadas por biópsia com agulha terão que ser removidas. Assim, parece razoável recomendar a excisão de todos os cistos complexos. FIBROADENOMA Os fibroadenomas representam uma anormalidade focal no desenvolvimento de um lóbulo mamário e, como tal, não são neoplasias verdadeiras. Histologicamente, são constituídos por estruturas glandulares e epiteliais císticas envolvidas por estroma celular. Os fibroadenomas são responsáveis por 7 a 13% das consultas clínicas em mastologia, e em uma série de necropsias encontrou-se prevalência de 9% (Dent, 1988; Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 Franyz, 1951). Em geral, os fibroadenomas surgem na adolescência, são identificados frequentemente na pré-menopausa e costumam sofrer involução espontânea após a menopausa. Os fibroadenomas classificados como benignos no teste triplo concordante podem ser acompanhados com segurança sem excisão. Em razão de alguns fibroadenomas crescerem bastante e de os tumores filoides benignos frequentemente serem indistinguíveis dos fibroadenomas por exame de imagem ou por biópsia com agulha, um fibroadenoma que esteja crescendo deve ser excisado. TUMORES FILOIDES Histologicamente, os tumores filoides são similares aos fibroadenomas uma vez que os espaços revestidos por epitélio também estão envoltos por estroma celular. No entanto, nos tumores filoides, as células estromais são monoclonais e neoplásicas. Esses tumores são classificados como benignos, intermediários ou malignos, com base em grau de atipia das células estromais, número de mitoses, características das margens do tumor e abundância de células estromais (Oberman, 1965). Os tumores filoides são responsáveis por menos de 1% das neoplasias de mama, e a média de idade por ocasião do diagnóstico é 40 anos (Haagensen, 1986a; Reinfuss, 1996). Os tumores filoides malignos podem produzir metástase para órgãos distantes, e o pulmão é o sítio primário. As radiografias simples ou a tomografia computadorizada do tórax fazem parte dos exames para estadiamento nos casos malignos. É raro os tumores filoides produzirem metástase para linfonodos e, portanto, não há necessidade de estadiamento axilar, exceto se houver linfonodos clinicamente envolvidos (Chaney, 2000). O tratamento consiste na excisão local com margem mínima de 1 cm. A mastectomia pode ser necessária para que se obtenha essa margem, uma vez que o tamanho médio do tumor é 5 cm. As taxas de recorrência local para tumores totalmente excisados variam de 8%, para as lesões benignas, até 36%, para as lesões malignas (Barth, 1999). Doença mamária proliferativa benigna ALTERAÇÃO FIBROCÍSTICA Os componentes teciduais primários da mama são gordura, estroma fibroso e estruturas epiteliais. O componente hormônio-responsivo é o epitélio, mas há comunicação parácrina considerável entre o epitélio e o estroma. O estímulo hormonal pode resultar em um ácino lobular dilatado repleto de fluido, interpretado como microcisto nos cortes histológicos e com frequência acompanhado de relativa abundância de estroma. Em geral, esse quadro é denominado alteração fibrocística. Dependendo do padrão particular das estruturas epiteliais e do estroma associado, a mama pode ter aspecto denso na mamografia, ser percebida como nodular à palpação, ou ambas. A alteração fibrocística costuma ser classificada como proliferativa ou não proliferativa, de acordo com as características epiteliais do processo. HIPERPLASIA DUCTAL E LOBULAR Na maioria das vezes, as alterações proliferativas desenvolvem-se nos ductos terminais e nos ácinos dos lóbulos. Em geral, essas estruturas são revestidas por uma camada interna de células epiteliais luminais cuboides e uma camada externa de células mioepiteliais. A proliferação das células epiteliais luminais resulta em ductos terminais ou em ácinos com várias camadas de células, o que é referido como hiperplasia ductal ou lobular, respectivamente. À medida que esse processo evolui, os ductos terminais ou os ácinos passam a ficar envoltos pelas células, que começam a apresentar atipia nuclear. Essa condição é referida, respectivamente, como hiperplasia ductal atípica (HDA) ou hiperplasia lobular atípica (HLA). Cada vez mais os ductos terminais ou os ácinos ficam envolvidos, e essa condição é reconhecida como carcinoma ductal in situ (CDIS) ou carcinoma lobular in situ (CLIS), dependendo de as células estarem surgindo, respectivamente, dos ductos ou dos ácinos (Ringberg, 2001). Em geral, as mulheres com hiperplasia epitelial típica apresentam risco relativo de câncer de mama de cerca de 1,5, e aquelas com hiperplasia atípica apresentam risco relativo de quase 4,5 (Dupont, 1993; Sneige, 2002). Essas designações histológicas tradicionais estão aos poucos sendo substituídas por um sistema de índices padronizado, que reflete o risco para câncer de mama subsequente. Com base na célula de origem, na extensão e no grau, as categorias propostas incluem neoplasia intraepitelial ductal (NID) de baixo risco, 1, 2 e 3, e neoplasia intraepitelial lobular (NIL) 1, 2 ou 3 (Bratthauer, 2002; Tavassoli, 2005). Estágios da carcinogênese: Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 1. Iniciação: Genes sofrem ação de fatores cancerígenos. 2. Promoção: Agentes oncopromotores atuam na célula alterada. 3. Progressão: Multiplicação descontrolada e irreversível da célula. Carcinoma Lobular in situ O carcinoma lobular in situ não está associado a quaisquer características mamográficas ou palpáveis específicas, por isso só é diagnosticado incidentalmente. O CLIS clássico tradicionalmente não é visto como precursor direto de câncer de mama, mas sim como um marcador de risco aumentado. Isto porque os cânceres de mama subsequentes desenvolvem-se com frequência quase igual em ambas as mamas (Chuba, 2005). O risco de câncer de mama futuro é de cerca de 1% por ano, mas pode ser maior em função de idade prematura quando do diagnóstico, histórico familiar de câncer de mama e doença extensa (Bodian, 1996). O carcinoma lobular in situ tende a ser multifocal e bilateral. Portanto, a excisão local com margens cirúrgicas livres de doença quase sempre é impossível e desnecessária. Consequentemente, as opções de tratamento incluem acompanhamento com reforço na vigilância, quimioprevenção ou mastectomia profilática bilateral. O acompanhamento deve incluir exames clínicos e mamografia duas vezes ao ano, alternando com imagem por ressonância magnética (RM) de rastreamento. Ainda não há dados demonstrando que a RM de rastreamento reduza a taxa de mortalidade relacionada com câncer de mama entre pacientes com CLIS, mas os cânceres lobulares infiltrantes, que podem se desenvolver, frequentemente não aparecem nas imagens mamográficas. Demonstrou-se que a administração de tamoxifeno por cinco anos reduziu em 56% a incidência do câncer de mama das pacientes com CLIS (Fisher, 1998). O modulador seletivo do receptor de estrogênio, raloxifeno (Evista), é uma opção para as mulheres pós-menopáusicas (Vogel, 2006). A maioria das pacientes com CLIS rejeita a mastectomia profilática bilateral. No entanto, para aquelas com CLIS e história familiar de câncer de mama, ou para aquelas que continuam necessitando de múltiplas biópsias, a opção por mastectomia frequentemente é bem-vinda. Carcinoma Ductal in situ No carcinoma ductal in situ as células cancerosas preenchem porções de um sistemaductal mamário sem invadir sítios além da membrana basal do ducto (Ringberg, 2001). Embora as células do CDIS acumulem muitas das alterações do DNA comuns ao câncer de mama invasivo, elas não possuem certas alterações decisivas que possibilitariam sua permanência fora do ducto (Aubele, 2002). Hoje, o CDIS é classificado como câncer de mama de estádio 0. A incidência do CDIS nos Estados Unidos aumentou em paralelo com a do câncer de mama invasivo nas últimas duas décadas. Mas, de modo semelhante ao que ocorreu com o câncer invasivo de mama, a incidência não se estabilizou nos últimos anos (Virnig, 2010). Atualmente, o carcinoma ductal in situ responde por 25 a 30% de todos os cânceres de mama nos Estados Unidos*. Na maioria das vezes é diagnosticado por mamografia de rastreamento e frequentemente está associado a calcificações pleomórficas, lineares ou ramificadas O carcinoma ductal in situ é classificado em função de tipo morfológico, presença ou ausência de comedonecrose e graduação nuclear. Os tipos morfológicos comuns incluem cribriforme, sólido, micropapilar e comedo. A comedonecrose aparece como um núcleo necrótico eosinofílico abaixo do centro de um ducto envolto com células cancerígenas. De todas as variáveis classificatórias, o grau nuclear é a mais preditiva para câncer invasivo associado, extensão da doença e recorrência após o tratamento (Ringberg, 2001). O CDIS sem tratamento completo pode recidivar localmente, e 50% das recorrências estão associadas a câncer de mama invasivo totalmente desenvolvido. O tratamento principal do CDIS é excisão ampla com margem negativa. Para tanto, talvez haja necessidade de mastectomia se o CDIS for extenso ou se houver outras contraindicações à conservação da mama. Quando for possível a conservação da mama, a irradiação pós-operatória da mama reduzirá a taxa de recorrência local de 18 para 9%, sendo este o tratamento adjuvante-padrão (Fisher, 1993). Para as pacientes tratadas com conservação da mama e radioterapia, a taxa de sobrevida específica para câncer de mama é 96% (Solin, 1996). O estadiamento axilar quase sempre não é feito no tratamento do CDIS, embora alguns autores tenham defendido biópsia do linfonodo sentinela para CDIS volumoso, de alto grau, diagnosticado com biópsia por agulha e tratado com quadrantectomia/setorectomia, considerando que em 10% dos casos é feito diagnóstico de câncer invasivo oculto (Wilkie, 2005). A biópsia do linfonodo sentinela (LNS) no cenário de mastectomia é menos polêmica, já que não seria possível voltar e realizar a biópsia do LNS caso seja diagnosticado câncer invasivo oculto. Recomendam-se cinco anos de administração de tamoxifeno para os casos de CDIS positivo para receptor de estrogênio, tratados com conservação da mama (Fisher, 1999). Embora o tamoxifeno não esteja Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 associado a aumento estatisticamente significativo na taxa de sobrevivência geral, ele reduz de forma significativa a incidência de câncer invasivo ipsilateral e também reduz o risco de câncer de mama contralateral. Doença de Paget do mamilo Esse tipo de CDIS apresenta-se como rash eczematoso focal do mamilo. Células do carcinoma ductal, em resposta a substâncias quimioatrativas secretadas por células da derme, migram para a superfície do mamilo provocando rachadura na pele (Schelfhout, 2000). A condição é de fácil diagnóstico histológico após a excisão da ponta do mamilo afetado sob bloqueio anestésico local de aréola/mamilo. A avaliação também deve incluir exame físico cuidadoso, considerando que em aproximadamente 60% dos casos identifica-se uma massa associada (Ashikari, 1970). Entre as pacientes sem anormalidades à palpação, a mamografia revelará densidades ou calcificações suspeitas em 21% (Ikeda, 1993). Identifica- se CDIS subjacente em cerca de dois terços dos casos e câncer invasivo em aproximadamente um terço (Ashikari, 1970). O tratamento inclui excisão ampla com margens negativas. A conservação da mama, que requer ressecção central mamária incluindo o complexo mamilo-aréola e toda a área subjacente identificável como comprometida pela doença, é seguida por radioterapia pós-operatória na mama (Bijker, 2001). O estadiamento axilar por biópsia do LNS não é necessário, exceto se um componente invasivo for identificado ou tiver sido realizada mastectomia total. Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 Classificação - diagnóstico Rastreamento – Diagnóstico Mamografia: Resultados classificados de acordo com o Breast Imaging Reporting and Data System (BI- RADS®). Esse sistema utiliza categorias de 0 a 6 para descrever os achados do exame e prevê recomendações de conduta Ultrassonografia: Indicações: → Diagnóstico diferencial entre lesão sólida e lesão cística. → Alterações no exame físico (lesão palpável), no caso de mamografia negativa ou inconclusiva. Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 → Jovem com lesão palpável. → Alterações do exame clínico no ciclo grávido-puerperal. → Doença inflamatória e abscesso. → Diagnóstico de coleções. → Complementação da mamografia com US: • Lesão palpável sem expressão na mamografia (pela alta densidade do parênquima mamário ou localização em “zonas cegas”). • Nódulos regulares ou lobulados, que possam representar cisto. • Lesões densificantes (assimetria difusa, área densa) que podem representar lesão sólida, cisto ou parênquima mamário. Ressonância magnética: Indicações: → Casos não conclusivos nos métodos tradicionais. → Carcinoma oculto. → Planejamento terapêutico. → Avaliação de resposta à quimioterapia neoadjuvante. → Suspeita de recidiva e avaliação das complicações dos implantes. OBS: Os resultados do exame ultrassonográfico e da ressonância magnética são também classificados de acordo com o Sistema BI-RADS®, com categorização e condutas na mesma linha da mamografia. Métodos invasivos: Diagnóstico final é feito por meio do achado histopatológico. A biópsia cirúrgica (excisional) é considerada “padrão ouro”, porém, o tipo de procedimento de investigação diagnóstica complementar depende da lesão encontrada nos achados clínicos (lesões palpáveis e lesões não palpáveis) e/ou dos resultados radiológicos. → Biópsia cirúrgica: Pode ser incisional, quando há retirada de parte da lesão, e excisional, quando ocorre retirada total da lesão. → Biópsia percutânea com agulha grossa (PAG): Procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira fragmento de tecido mamário por meio de dispositivo automático para biópsia (pistola). Tem menor custo, não necessita internação, causa menor trauma local, com mínimo de lesões cicatriciais. → Punção por agulha fina (PAAF): Procedimento ambulatorial, de simples realização e baixo custo. Cistos só podem ser abordados, se necessário, por meio da PAAF. → Biópsia percutânea a vácuo (mamotomia): Utiliza sistema de aspiração a vácuo em conjunto com um sistema de corte. Tem custo elevado e a pequena disponibilidade. Prevenção → Mamografia de rastreio: de 50 a 64 anos deve ser feita a cada 2 anos → Teste para avaliação de risco Obesidade e vida sedentária são dois fatores de risco modificáveis que devem ser abordados com mulheres com alto e baixo risco. A atividade física regular está diretamente associada à redução do risco de câncer de mama. As mulheres com alto risco para câncer de mama têm três opções principais: (1) Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 acompanhamento assíduo, (2) quimioprevenção ou (3) cirurgia profilática. Em regra, o acompanhamento assíduo consiste em exame clínico a cada seis meses, alternando mamografia com RM da mama ou ultrassonografia de rastreamento. Esse acompanhamento pode iniciar-se 10 anos antes da menor idade de diagnóstico de câncer de mama na família. A FDA aprovou o uso de tamoxifeno para quimioprevenção do câncer de mamaem mulheres pré ou pós- menopáusicas, com 35 anos ou mais, que tenham risco em cinco anos 1,7% no modelo de Gail. O uso de tamoxifeno por cinco anos está associado à redução de 49% na incidência de câncer de mama, incluindo câncer de mama invasivo e CDIS (Fisher, 1998). Entretanto, o tamoxifeno está associado a aumento na incidência de câncer endometrial em mulheres pós-menopáusicas e a aumento no risco de doença tromboembólica, inclusive trombose venosa profunda, embolia pulmonar e acidente vascular encefálico. O raloxifeno é outro modulador seletivo do receptor de estrogênio que reduz a incidência de câncer de mama invasivo na mesma proporção que o tamoxifeno, mas não reduz o risco de CDIS na mesma proporção (Vogel, 2006). O raloxifeno está associado a risco menor de câncer endometrial e de complicações tromboembólicas em comparação com o tamoxifeno. O raloxifeno, ao contrário do tamoxifeno, ainda não foi avaliado em mulheres na pré-menopausa. A cirurgia profilática costuma ser reservada para as mulheres com risco muito elevado de câncer de mama. Nesse grupo estão as mulheres com mutações hereditárias nos genes de predisposição ao câncer de mama e algumas com CLIS, em especial se for extenso ou estiver associado à história familiar de câncer de mama. A ooforectomia bilateral profilática, realizada em mulheres na pré-menopausa com mutações no gene BRCA, reduz o risco de câncer de mama em 50% e o risco de câncer de ovário em mais de 90% (Eisen, 2005; Kauf, 2002; Rebbeck, 2002). A menopausa cirúrgica precoce frequentemente é acompanhada por sintomas de abstinência de estrogênio, capazes de causar impacto significativo na qualidade de vida. A terapia de reposição hormonal nesse cenário não parece reduzir os benefícios da ooforectomia no que se refere à redução no risco de câncer de mama (Rebbeck, 2005). A mastectomia bilateral profilática em geral é realizada com preservação de pele e reconstrução imediata. O procedimento reduz o risco de câncer de mama em mais de 90%, mas ainda não está claro se produz aumento na taxa de sobrevivência geral ou específica para câncer de mama (Hartmann, 2001; Lostumbo, 2004; McDonnell, 2001; Peralta, 2000). Os cânceres de mama podem se desenvolver após mastectomia profilática se houver tecido mamário residual (em geral no quadrante superior externo ou no prolongamento axilar). Também podem se desenvolver na pele de um retalho da mastectomia. Tratamento Importantes avanços na abordagem do câncer de mama aconteceram nos últimos anos, principalmente no que diz respeito a cirurgias menos mutilantes, assim como a busca da individualização do tratamento. O tratamento varia de acordo com o estadiamento da doença, suas características biológicas, bem como as condições da paciente (idade, status menopausal, comorbidades e preferências). O prognóstico do câncer de mama depende da extensão da doença (estadiamento), assim como das características do tumor. Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. Quando há evidências de metástases (doença a distância), o tratamento tem por objetivos principais prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida. As modalidades de tratamento do câncer de mama podem ser divididas em: Medicina - UNAERP Larissa Rosa de Rezende T1 • Tratamento local: cirurgia e radioterapia (além de reconstrução mamária) • Tratamento sistêmico: quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica → Estádios I e II A conduta habitual consiste em cirurgia, que pode ser conservadora, com retirada apenas do tumor ou mastectomia, com retirada da mama e reconstrução mamária. A avaliação dos linfonodos axilares tem função predominantemente prognóstica. Em algumas situações, como relação tumor/mama desfavorável para cirurgia conservadora, mesmo que tumores em estágios iniciais, o tratamento neoadjuvante pode ser indicado na tentativa de se fazer um downstaging da doença e permitir uma cirurgia conservadora. Essa indicação deve levar em consideração o subtipo tumoral. Nos últimos anos, a oncoplastia mamária (cirurgias oncológicas associadas a técnicas de cirurgia plástica) vêm ganhando terreno. As mastectomias com preservação de pele e mamilo também vem ganhando espaço como tratamento, principalmente nas doenças iniciais, quando não é possível um tratamento conservador, caso de microcalcificações extensas, por exemplo. Após a cirurgia, o tratamento complementar com radioterapia pode ser indicado em algumas situações. Já a reconstrução mamária deve ser sempre considerada nos casos de mastectomia. O tratamento sistêmico será determinado de acordo com o risco de recorrência (idade da paciente, comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação), assim como das características tumorais que ditarão a terapia mais apropriada. Esta última baseia-se principalmente na mensuração dos receptores hormonais (receptor de estrogênio e progesterona) - quando a hormonioterapia pode ser indicada; e também de HER-2 (fator de crescimento epidérmico 2) - com possível indicação de terapia biológica anti-HER-2. → Estádio III Pacientes com tumores maiores, porém ainda localizados, enquadram-se no estádio III. Nessa situação, o tratamento sistêmico (na maioria das vezes, com quimioterapia) é a modalidade terapêutica inicial. Após resposta adequada, segue-se com o tratamento local (cirurgia e radioterapia). A neoadjuvância permite não só tornar um tumor inoperável em operável, como também aumentar o número de cirurgias menos agressivas, diminuindo o número de mastectomias e linfadenectomias. Além disso, possibilita avaliar a resposta do tumor à quimioterapia ou hormonioterapia in vivo, o que fornece informações sobre o prognóstico do paciente. → Estádio IV Nesse estádio, é fundamental que a decisão terapêutica busque o equilíbrio entre a resposta tumoral e o possível prolongamento da sobrevida, levando-se em consideração os potenciais efeitos colaterais decorrentes do tratamento. A modalidade principal nesse estádio é sistêmica, sendo o tratamento local reservado para indicações restritas. Atenção à qualidade de vida da paciente deve ser preocupação dos profissionais de saúde ao longo de todo o processo terapêutico. REFERÊNCIAS: LIVRO GINECOLOGIA WILLIAMS 2ªEDIÇÃO, INCA E BEREK E NOVAK – TRATADO DE GINECOLOGIA 15ª EDIÇÃO
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