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Luíza Barreto – Medicina 2020.1 PRODUÇÃO DE HEMÁCIAS: Eritropoese se refere à produção de hemácias. Após o nascimento, as hemácias são produzidas na medula óssea vermelha. Até 5 anos de idade, quase todos os ossos as produzem para atender às necessidades de crescimento de uma criança. Depois dessa idade, a atividade da medula óssea cai gradualmente. Após 20 anos de idade, a produção de hemácias ocorre principalmente nos ossos membranosos das vértebras, esterno, costelas e pelve. Com essa redução de atividade, a medula óssea vermelha é substituída por medula óssea amarela ou gordurosa. As hemácias derivam de células precursoras chamadas eritroblastos, que são continuamente formados a partir das células estaminais pluripotentes da medula óssea. A síntese de hemoglobina começa nos primeiros estágios de desenvolvimento dos eritroblastos e continua até a célula se transformar em uma hemácia madura. Durante a transformação de eritroblasto para reticulócitos, as hemácias acumulam hemoglobina à medida que o núcleo se condensa até que seja finalmente perdido. O período entre a fase de células estaminais até o surgimento de reticulócitos na circulação normalmente dura quase 1 semana. A maturação de reticulócitos em hemácias demora em torno de 24 a 48 h. Durante esse processo, as hemácias perdem as mitocôndrias e os ribossomos, juntamente com a capacidade de produzir hemoglobina e se envolver no metabolismo oxidativo. A maioria das hemácias em processo de maturação entra no sangue como reticulócitos. Aproximadamente 1% da contagem total de hemácias é gerada diariamente a partir da medula óssea, e a contagem de reticulócitos, portanto, serve como um indicador da atividade eritropoética da medula óssea. Em grande parte, a eritropoese é regulada pelas necessidades de oxigênio do tecido. Qualquer condição que provoque uma diminuição na quantidade de oxigênio transportado pelo sangue dá origem a um aumento na produção de hemácias. O conteúdo de oxigênio no sangue não atua diretamente sobre a medula óssea para estimular a produção de hemácias. Em vez disso, a redução no teor de oxigênio é detectada pelas células peritubulares nos rins, que então produzem um hormônio chamado eritropoetina. Normalmente, cerca de 90% de toda a eritropoetina é produzida pelos rins, com os restantes 10% produzidos pelo fígado. Embora a eritropoetina seja o regulador fundamental para a estimulação da eritropoese, diversos fatores de crescimento estão envolvidos nas fases iniciais do processo, como o fator estimulador de colônias de granulócitos, (GCSF); fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos, (GM)CSF, e fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF1). A eritropoetina atua principalmente nos estágios mais avançados da eritropoese para induzir as unidades formadoras de colônias de hemácias a proliferar e amadurecer, passando do estágio de normoblasto para reticulócitos e hemácias maduras. Quando não há eritropoetina, do mesmo modo que em caso de insuficiência renal, a hipóxia tem pouco ou nenhum efeito sobre a produção de hemácias. Como as hemácias são liberadas para a corrente sanguínea na forma de reticulócitos, a porcentagem dessas células é maior quando existe um aumento acentuado na produção de hemácias. Em algumas formas graves de anemia, os reticulócitos (que normalmente representam cerca de 1%) podem representar até 30% da contagem total de hemácias. Em algumas situações, a produção de hemácias é tão acelerada que aparecem numerosos eritroblastos na corrente sanguínea. DESTRUIÇÃO DAS HEMÁCIAS: As hemácias maduras têm uma vida útil de aproximadamente 4 meses, ou 120 dias. À medida que envelhecem, ocorre uma série de alterações: a atividade metabólica da célula diminui, a atividade enzimática fica reduzida e a quantidade de adenosina trifosfato (ATP) é menor. A quantidade de lipídios se reduz e a membrana celular se torna mais frágil, provocando a autodestruição da célula ao passar por lugares estreitos na circulação e nos pequenos espaços trabeculares do baço. A destruição das hemácias é facilitada por um grupo de grandes células fagocíticas encontradas no baço, fígado, medula óssea e linfonodos. Essas células fagocíticas são capazes de reconhecer hemácias senescentes e defeituosas para ingeri-las e destruí-las em uma série de reações enzimáticas. Durante essas reações, os aminoácidos das cadeias de globulina e o ferro das unidades heme são recuperados e reutilizados. No processo de destruição, a porção heme da molécula de hemoglobina é convertida em bilirrubina. A bilirrubina, que é insolúvel no plasma, se liga a proteínas plasmáticas para ser transportada na corrente sanguínea. É removida do sangue pelo fígado e conjugada em uma forma solúvel em água, e assim pode ser excretada pela bile. Quando a destruição das hemácias ocorre na circulação, como nos casos de anemia hemolítica, a hemoglobina permanece no plasma. O plasma contém uma proteína ligadora de hemoglobina chamada haptoglobina. Outras proteínas plasmáticas como a albumina também podem se ligar à hemoglobina. Quando sucede uma grande destruição intravascular de hemácias, os níveis de hemoglobina podem exceder a capacidade da haptoglobina de se ligar à hemoglobina e outras proteínas plasmáticas. Quando isso acontece, aparece hemoglobina livre no sangue (hemoglobinemia) que é excretada através da urina. Como pode ocorrer destruição excessiva das hemácias em reações transfusionais hemolíticas, devem ser testadas amostras de urina para verificar se há hemoglobina livre após uma reação transfusional. OBS: As hemácias, que não têm mitocôndrias, dependem da glicose e da via glicolítica para suprir suas necessidades metabólicas. O produto final da via glicolítica, 2,3DPG, aumenta a liberação de oxigênio para os tecidos em condições de hipóxia, reduzindo a afinidade da hemoglobina com o oxigênio. DEFINIÇÃO: A anemia é definida como uma redução significativa da massa eritrocitária circulante. Como resultado, a capacidade de ligação de oxigênio do sangue é diminuída. Como o volume sanguíneo é normalmente mantido em um nível quase constante, os pacientes anêmicos têm uma diminuição na concentração de eritrócitos ou hemoglobina no sangue periférico. A anemia é mais frequentemente diagnosticada com base em exames laboratoriais de rastreamento anormais. Uma situação menos comum é a presença de anemia avançada com seus sinais e sintomas associados. A anemia aguda é causada por perda de sangue ou hemólise. Se a perda de sangue for leve, ocorrerá aumento da Luíza Barreto – Medicina 2020.1 liberação de O2 por meio de alterações na curva de dissociação da O2-hemoglobina mediadas por uma redução do pH ou aumento do CO2 (efeito Bohr). Em caso de perda aguda de sangue, a hipovolemia domina o quadro clínico, e tanto o hematócrito quanto os níveis de hemoglobina não refletem o volume de sangue perdido. Surgem sinais de instabilidade vascular com perdas agudas de 10-15% do volume sanguíneo total. Nesses pacientes, o problema não é a anemia, mas a hipotensão e redução da perfusão dos órgãos. Quando ocorre perda súbita de > 30% do volume sanguíneo, o paciente é incapaz de compensar com os mecanismos habituais de contração vascular e alterações do fluxo sanguíneo regional. Ele prefere permanecer deitado, apresentando hipotensão postural e taquicardia. Se a perda de volume sanguíneo for > 40% (> 2 L no adulto médio), aparecerão sinais de choque hipovolêmico, como confusão, dispneia, sudorese, hipotensão e taquicardia. Esses pacientes apresentam déficits significativos na perfusão dos órgãos vitais e necessitam de reposição de volêmica imediata. Na hemólise aguda, os sinais e sintomas dependem do mecanismo que leva à destruição dos eritrócitos. A hemólise intravascular com liberação de hemoglobina livre pode estar associadaà dor lombar aguda, hemoglobina livre no plasma e na urina, bem como insuficiência renal. Os sintomas associados à anemia mais crônica ou gradual dependem da idade do paciente e do suprimento sanguíneo adequado para órgãos cruciais. Os sintomas associados à anemia moderada incluem fadiga, perda da energia, dispneia e taquicardia (particularmente com esforço físico). Todavia, em virtude dos mecanismos compensatórios intrínsecos que influenciam a curva de dissociação da O2-hemoglobina, o início gradual da anemia – particularmente em pacientes jovens – pode não ser acompanhado de sinais ou sintomas, até que a anemia se torne grave (nível de hemoglobina < 7-8 g/dL). Quando a anemia se desenvolve no decorrer de um período de vários dias ou semanas, o volume sanguíneo total apresenta-se normal ou ligeiramente aumentado, e as alterações no débito cardíaco e no fluxo sanguíneo regional ajudam a compensar a perda global da capacidade de transporte de O2. As alterações na posição da curva de dissociação da O2- hemoglobina são responsáveis por parte da resposta compensatória à anemia. Na anemia crônica, verifica-se uma elevação dos níveis intracelulares de 2,3-difosfoglicerato, deslocando a curva de dissociação para a direita e facilitando a liberação de O2. Esse mecanismo compensatório pode manter um suprimento normal de O2 para os tecidos na presença de um déficit de 2-3 g/dL na concentração de hemoglobina. Por fim, uma proteção adicional do transporte de O2 para os órgãos vitais é alcançada pelo desvio de sangue de órgãos relativamente ricos em suprimento sanguíneo, particularmente os rins, o intestino e a pele. Certos distúrbios encontram-se comumente associados à anemia. Os estados inflamatórios crônicos (p. ex., infecção, artrite reumatoide, câncer) estão associados à anemia leve a moderada, enquanto os distúrbios linfoproliferativos, como a leucemia linfocítica crônica e determinadas outras neoplasias das células B, podem causar hemólise autoimune. ABORDAGEM AO PACIENTE: A avaliação do paciente com anemia exige uma cuidadosa anamnese e exame físico minucioso. Convém avaliar sempre a história nutricional relacionada com o uso de fármacos ou o consumo de álcool, bem como a história familiar de anemia. Certas regiões geográficas e origens étnicas estão associadas a uma maior probabilidade de distúrbio hereditário da hemoglobina ou do metabolismo intermediário. A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) e certas hemoglobinopatias são observadas mais comumente em indivíduos do Oriente Médio e afrodescendentes incluindo afro-americanos que apresentam alta frequência de deficiência de G6PD. Outras informações que podem ser úteis incluem a exposição a determinados agentes tóxicos e sintomas relacionados com outros distúrbios que costumam estar associados à anemia. Esses sinais e sintomas incluem sangramento, fadiga, mal-estar, febre, perda de peso, sudorese noturna e outros sintomas sistêmicos. Os indícios relativos aos mecanismos da anemia podem ser obtidos no exame físico pelo achado de infecção, sangue nas fezes, linfadenopatia, esplenomegalia ou petéquias. A esplenomegalia e a linfadenopatia sugerem doença linfoproliferativa subjacente, enquanto a presença de petéquias indica alguma disfunção plaquetária. Os resultados de exames laboratoriais anteriores são úteis para estabelecer a época de início. No paciente anêmico, o exame físico pode revelar um batimento cardíaco vigoroso, pulsos periféricos fortes e sopro sistólico. A pele e as mucosas poderão se mostrar pálidas se o nível de hemoglobina for < 8-10 g/dL. Essa parte do exame físico deve concentrar-se nas áreas em que os vasos estão perto da superfície, como as mucosas, os leitos ungueais e as pregas palmares. Se a coloração das pregas palmares for mais clara que a pele circundante com a mão em hiperextensão, o nível de hemoglobina será habitualmente < 8 g/dL. QUADRO CLÍNICO: Na anemia, a capacidade de transporte de oxigênio pela hemoglobina é reduzida, causando hipóxia tecidual. A hipóxia dos tecidos pode dar origem à fadiga, fraqueza, dispneia e, por vezes, angina. A hipóxia do tecido encefálico resulta em cefaleia, fraqueza e problemas de visão. A redistribuição do sangue a partir de tecidos cutâneos ou a falta de hemoglobina provocam palidez da pele, mucosas, conjuntiva e unhas. Podem se manifestar taquicardia e palpitações à medida que o corpo tenta compensar por meio de um aumento do débito cardíaco. Um sopro cardíaco do tipo fluxo sistólico pode decorrer de alterações na viscosidade do sangue. Em pessoas com anemia grave, podem se desenvolver hipertrofia ventricular e insuficiência cardíaca de alto débito, particularmente em indivíduos com doença cardíaca preexistente. O processo de eritropoese é acelerado e pode ser reconhecido pela sensação de uma dor difusa nos ossos e sensibilidade na região do esterno. Além das manifestações comuns de anemia, em casos anemia hemolítica os sintomas são acompanhados por icterícia provocada por um aumento nos níveis de bilirrubina no sangue. Nos casos de anemia aplásica, o surgimento de petéquias e púrpura (pequenos pontos hemorrágicos e áreas arroxeadas na pele causadas por sangramento de pequenos vasos) resulta da diminuição da função plaquetária. EXAMES LABORATORIAIS: Exames laboratoriais são úteis para determinar a gravidade e a causa da anemia. A contagem de hemácias e os níveis de hemoglobina fornecem informações sobre a gravidade da anemia, enquanto características das hemácias, como tamanho (normocítica, microcítica, macrocítica), cor (normocrômica, hipocrômica) e formato, muitas vezes carregam informações sobre a causa da anemia. O hemograma completo de rotina é necessário como parte da avaliação e inclui o nível de hemoglobina, o hematócrito e os índices eritrocitários: o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), e a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) por volume de eritrócitos. Diversos fatores fisiológicos afetam o hemograma, como idade, sexo, gravidez, tabagismo e altitude. Podem-se observar valores normais Luíza Barreto – Medicina 2020.1 altos da hemoglobina em homens e mulheres que vivem em grandes altitudes ou que são fumantes inveterados. As elevações da hemoglobina em decorrência do tabagismo refletem uma compensação normal devido ao deslocamento do O2 pelo CO na ligação à hemoglobina. Outras informações importantes são obtidas com a contagem dos reticulócitos e as determinações do suprimento de ferro, incluindo o nível de ferro sérico, a capacidade total de ligação ao ferro (TIBC, medida indireta do nível de transferrina) e a ferritina sérica. Alterações acentuadas nos índices eritrocitários geralmente refletem distúrbios da maturação ou deficiência de ferro. Uma cuidadosa avaliação do esfregaço de sangue periférico é importante, e os laboratórios clínicos frequentemente fornecem uma descrição da morfologia dos eritrócitos e leucócitos, contagem diferencial e contagem plaquetária. Em pacientes com anemia grave e anormalidades na morfologia dos eritrócitos e/ou contagens baixas dos reticulócitos, o aspirado ou a biópsia de medula óssea podem ajudar a estabelecer o diagnóstico. O esfregaço de sangue periférico fornece informações importantes sobre defeitos na produção dos eritrócitos. Como complemento dos índices eritrocitários, o esfregaço de sangue periférico também revela a presença de variações no tamanho (anisocitose) e na forma (poiquilocitose) das células. Em geral, o grau de anisocitose correlaciona-se com aumento no RDW ou na faixa de tamanho das células. A poiquilocitose sugere um defeito na maturação dos precursores eritróides na medula óssea ou a ocorrência de fragmentação dos eritrócitos circulantes. O esfregaço de sangue periférico também pode revelar a existência de policromasia– eritrócitos ligeiramente maiores do que o normal e que exibem uma cor azul-acinzentada à coloração de Wright-Giemsa. CLASSIFICAÇÃO: Os componentes do HC também ajudam na classificação da anemia. A microcitose reflete-se por um VCM inferior ao normal (< 80), enquanto valores elevados (> 100) indicam macrocitose. A HCM e CHCM refletem defeitos na síntese da hemoglobina (hipocromia). Os contadores celulares automáticos descrevem o índice de anisocitose (RDW). O VCM (que representa o pico da curva de distribuição) não é sensível ao aparecimento de pequenas populações de macrócitos ou micrócitos. A classificação funcional da anemia tem três categorias principais: Defeitos na produção medular (hipoproliferação), defeitos na maturação dos eritrócitos (eritropoiese ineficaz) e diminuição da sobrevida dos eritrócitos (perda de sangue/hemólise). Tipicamente, a anemia hipoproliferativa é observada em associação a um baixo índice reticulocítico, juntamente com pouca ou nenhuma alteração na morfologia dos eritrócitos (anemia normocítica normocrômica). Os distúrbios da maturação geralmente exibem um aumento discreto a moderado do índice reticulocítico, acompanhado de índices eritrocitários macrocíticos ou microcíticos. O aumento da destruição dos eritrócitos em consequência de hemólise resulta na elevação de pelo menos 3 vezes o normal do índice reticulocítico, contanto que haja ferro suficiente. Em geral, a anemia por sangramento não resulta em índices de produção maiores que 2-2,5 vezes o normal, devido às limitações à expansão da medula eritroide pela disponibilidade do ferro. - No primeiro ponto do algoritmo da classificação da anemia, um índice reticulocítico > 2,5 indica maior probabilidade de hemólise. Um índice reticulocítico < 2, anemia hipoproliferativa ou distúrbio da maturação. Anemias Microcíticas: A presença de pequenos eritrócitos (VCM < 77fL) indica um defeito na produção de hemoglobina. A maioria dos indivíduos com microcitose apresenta anemia ferropriva ou talassemia. Anemias Macrocíticas: Um aumento modesto no tamanho de eritrócitos é encontrado em uma variedade de condições, incluindo doença hepática, hipotireoidismo, perda aguda de sangue, anemia hemolítica, anemia aplástica e alcoolismo. Os macrócitos na doença hepática e no hipotireoidismo podem estar relacionados com um aumento da deposição de lipídios na membrana dos eritrócitos. Se o VCM exceder aproximadamente 105 fL, o paciente é provavelmente deficiente em cobalamina (vitamina B12) ou ácido fólico. A medula óssea revela a morfologia megaloblástica, refletindo o comprometimento da replicação do DNA. Devido à maturação nuclear ser retardada em relação ao desenvolvimento citoplasmático, tendem a ser produzidos grandes eritrócitos na medula óssea. Anemias Normocíticas: As anemias normocíticas de subprodução são um grupo diverso de distúrbios. Elas podem ser convenientemente divididas em duas categorias: aquelas Luíza Barreto – Medicina 2020.1 decorrentes de patologias intrínsecas da medula óssea e aquelas que são secundárias a alguma outra doença subjacente. ANEMIAS HEMOLÍTICAS: Com exceção da doença falciforme, as anemias hemolíticas são encontradas com frequência muito menor que aquelas causadas pela diminuição da produção eritrocitária. Embora seja um grupo diverso, as anemias hemolíticas partilham uma série de características clínicas e laboratoriais. Os pacientes com hemólise moderada ou grave podem ter icterícia devido a uma elevação da bilirrubina não conjugada (indireta). Além disso, os indivíduos com vários tipos de anemia hemolítica muitas vezes apresentam esplenomegalia, o que significa o local primário de destruição eritrocitária aumentada. A anemia hemolítica se caracteriza por: Destruição prematura das hemácias; Retenção orgânica de ferro e outros produtos da degradação da hemoglobina; Aumento na eritropoese. Quase todos os tipos de anemia hemolítica se distinguem pela existência de hemácias normocíticas e normocrômicas. Devido à redução da vida útil da hemácia, a medula óssea geralmente se torna hiperativa, resultando no aumento do número de reticulócitos na circulação sanguínea. Tal como acontece com outros tipos de anemias, a pessoa sente cansaço, dispneia e outros sinais e sintomas de comprometimento do transporte de oxigênio. Nos casos de anemia hemolítica, a degradação das hemácias pode ocorrer dentro ou fora do compartimento vascular. A hemólise intravascular é menos comum e ocorre como resultado da fixação do complemento em reações transfusionais, dano mecânico ou fatores tóxicos. É caracterizada por hemoglobinemia, hemoglobinúria, icterícia e hemossiderinúria. Ocorre hemólise extravascular quando as hemácias perdem parte da capacidade de deformação, o que dificulta sua passagem através dos sinusóides do baço. As hemácias anormais são sequestradas e fagocitadas por macrófagos no baço. As manifestações de hemólise extravascular incluem anemia e icterícia. Outra classificação de anemia hemolítica se baseia na causa: intrínseca ou extrínseca. Causas intrínsecas incluem defeitos da membrana das hemácias, diversas hemoglobinopatias e deficiência enzimática hereditária. Dois tipos principais de hemoglobinopatias podem causar a lise das hemácias: a substituição anormal de um aminoácido na molécula de hemoglobina, como nos casos de anemia falciforme, e falhas na síntese de uma das cadeias polipeptídicas que formam a porção globina da molécula de hemoglobina, como no caso de talassemia. As formas extrínsecas ou adquiridas de anemia hemolítica são causadas por agentes externos às hemácias, como medicamentos, toxinas bacterianas e outras, anticorpos e traumatismo físico. Embora todos esses fatores possam causar a destruição prematura e acelerada de hemácias, não devem ser tratados da mesma maneira. Alguns respondem à esplenectomia, outros ao tratamento com hormônios corticosteroides e outros ainda não apresentam resolução até que seja corrigido o transtorno primário. Há também um grupo de anemias hemolíticas hereditárias, como anemia falciforme, talassemia e esferocitose hereditária. As pessoas que herdam um desses tipos de anemia podem ter diferentes manifestações clínicas, a depender do genótipo que apresentam. → A esferocitose hereditária é transmitida principalmente de forma autossômica dominante e é a doença hereditária mais comum da membrana das hemácias. A doença é causada por anormalidades nas proteínas de membrana espectrina, anquirina, proteína 4.2 ou banda 3, que conduzem a uma perda gradual da superfície da membrana. A perda relativa de membrana em relação ao citoplasma faz a célula perder sua bicamada lipídica do citoesqueleto. As hemácias assumem uma forma esférica e não conseguem atravessar facilmente o baço. Gradualmente, a maioria dessas hemácias perde uma quantidade cada vez maior de membrana superficial e morre. Os sinais clínicos variam, mas geralmente incluem anemia hemolítica leve, icterícia, esplenomegalia, cálculos biliares de bilirrubina. Pode advir uma crise aplásica potencialmente fatal quando a interrupção súbita da produção de hemácias (frequentemente por parvovírus B19) provoca uma rápida queda nos índices de hematócrito e níveis de hemoglobina. A doença é tratada, em geral, com esplenectomia para reduzir a destruição das hemácias. Podem ser necessárias transfusões de sangue durante uma crise. → As talassemias são distúrbios hereditários causados por mutações que reduzem a síntese das cadeias a ou b-globina. Como resultado, observa-se deficiência de Hb e alterações adicionais dos eritrócitos devido ao excesso relativo da cadeia de globina não afetada. As mutações que originam a talassemia são particularmente comuns entre populações no Mediterrâneo e em regiões africanas e asiáticas, onde a malária é endêmica. Do mesmo modo quea HbS, existe a hipótese de que mutações na globina associadas à talassemia tenham papel protetor contra a malária causada por P. falciparum. Há dois fatores que contribuem para a anemia que se desenvolve nos casos de talassemia: baixa hemoglobina intracelular (hipocromia) devido à diminuição na síntese da cadeia afetada, juntamente com a produção e acumulação contínua da cadeia de globina não afetada. A redução na síntese de hemoglobina resulta em uma anemia hipocrômica e microcítica, enquanto a acumulação da cadeia afetada interfere na maturação de hemácias normais e contribui com as alterações de membrana que conduzem a hemólise e anemia. *ANEMIA FALCIFORME* A anemia falciforme (drepanocitose) é uma doença hereditária em que ocorre a produção de uma hemoglobina anormal (hemoglobina S [HbS]), que conduz a um estado crônico de anemia hemolítica, dor e falência de órgãos. O gene HbS é transmitido por herança recessiva e pode se manifestar como traço de células falciformes ou anemia falciforme. A estrutura anormal de HbS resulta de uma mutação pontual na cadeia b da molécula de hemoglobina, com a substituição anormal de um único aminoácido, a valina, pelo ácido glutâmico. Existem variações nas proporções, e a concentração de HbS está relacionada com o risco de afoiçamento das hemácias. No indivíduo homozigoto com anemia falciforme, a HbS causa o afoiçamento quando desoxigenada ou em baixa tensão de oxigênio. A hemoglobina desoxigenada forma agregados que sofrem polimerização no citoplasma e formam um gel semissólido, que altera a forma e a capacidade de deformação da célula. A célula que sofreu afoiçamento pode retornar à sua forma normal pela oxigenação dos pulmões. No entanto, depois de repetidos episódios de desoxigenação, as células tornam-se permanentemente falciformes. A pessoa com traço falciforme, que tem menos HbS, apresenta Luíza Barreto – Medicina 2020.1 pouca tendência de desenvolver células falciformes e é praticamente assintomática. HbF inibe a polimerização de HbS. Portanto, a maioria das crianças com anemia falciforme não começa a sentir os efeitos do afoiçamento até depois de 8 a 10 semanas de vida, quando a HbF foi substituída por HbS. Há duas grandes consequências relacionadas com o afoiçamento das hemácias: anemia hemolítica crônica e oclusão dos vasos sanguíneos. A destruição prematura das células devido à membrana rígida e indeformável ocorre no baço, causando hemólise e anemia pela diminuição do número de hemácias. A oclusão vascular é um processo complexo que envolve uma interação entre células falciformes, células endoteliais, leucócitos, plaquetas e outras proteínas do plasma. Os fatores associados ao processo de afoiçamento e oclusão vascular incluem frio, estresse, esforço físico, infecção e condições que provoquem hipóxia, desidratação ou acidose. A taxa de polimerização de HbS é afetada pela concentração de hemoglobina na célula. A desidratação aumenta a concentração de hemoglobina e contribui para a polimerização, resultando no afoiçamento. A acidose reduz a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, resultando em maior quantidade de hemoglobina desoxigenada e no aumento do afoiçamento. Manifestações clínicas: Indivíduos homozigotos para o gene HbS sofrem de anemia hemolítica grave, hiperbilirrubinemia crônica e crises vasoclusivas. A hiperbilirrubinemia proveniente da degradação dos produtos da hemoglobina muitas vezes leva a icterícia e à produção de cálculos de pigmentos na vesícula biliar. A oclusão dos vasos sanguíneos é responsável pela maioria das complicações graves. Um episódio de dor aguda resulta de uma oclusão vascular e da hipóxia e pode ocorrer subitamente em quase qualquer parte do organismo. Infartos causados pela lentidão do fluxo sanguíneo têm como consequência lesões crônicas do fígado, baço, coração, rins, retina e outros órgãos. A síndrome torácica aguda é uma pneumonia atípica resultante de um infarto pulmonar. É uma das principais causas de hospitalização em pessoas com doença falciforme e se caracteriza por infiltrado pulmonar, que causa dispneia, tosse e angústia respiratória. A síndrome é capaz de causar insuficiência respiratória crônica e é uma das principais causas de morte em casos de anemia falciforme. Crianças podem apresentar atraso no crescimento e suscetibilidade à osteomielite. Crises ósseas dolorosas podem ser causadas pelo infarto da medula dos ossos das mãos e dos pés, resultando em edema dos membros. Um ataque isquêmico transitório ou uma hemorragia cerebral podem preceder um acidente vascular encefálico. O baço é especialmente suscetível a danos por HbS. Devido à lentidão do fluxo sanguíneo e à baixa tensão de oxigênio no baço, a hemoglobina nas hemácias que atravessam o baço sofre desoxigenação, que provoca isquemia. A lesão esplênica se inicia na infância, caracterizada por congestão intensa, e geralmente é assintomática. A congestão causa asplenia funcional e predispõe ao desenvolvimento de infecções potencialmente fatais por organismos encapsulados, incluindo Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae tipo b e Klebsiella spp. Recém nascidos e crianças pequenas ainda não tiveram tempo de produzir anticorpos contra esses microrganismos e dependem da função do baço para a remoção. Não havendo um anticorpo específico para os antígenos capsulares de polissacarídeos desses microrganismos, a atividade do baço é essencial para a remoção deles quando invadem a corrente sanguínea. Patogênese e morfologia: As hemoglobinopatias consistem em um grupo de distúrbios hereditários causados por mutações herdadas que originam anormalidades estruturais na hemoglobina. A anemia falciforme, o protótipo das hemoglobinopatias (e a mais prevalente), decorre de uma mutação no gene da b-globina, que origina a hemoglobina falciforme (HbS). No processo de desoxigenação, as moléculas de HbS formam polímeros longos através de contatos intermoleculares que envolvem o resíduo de valina anormal na posição 6. Esses polímeros distorcem o eritrócito, que adquirem forma alongada crescente ou falciforme. O afoiçamento dos eritrócitos é inicialmente um fenômeno reversível após a reoxigenação. Entretanto, a distorção da membrana produzida após repetidos episódios de afoiçamento leva a um influxo de cálcio, que causa a perda de potássio e água, como também danos ao esqueleto da membrana. Ao longo do tempo, esses danos cumulativos criam células afoiçadas irreversíveis, que são rapidamente hemolisadas. As alterações anatômicas da anemia falciforme baseiam-se nas seguintes características: (1) anemia hemolítica crônica severa, (2) aumento da degradação do grupo heme em bilirrubina e (3) oclusões microvasculares, que provocam isquemia tecidual e infarto. Nos esfregaços de sangue periférico, observam-se células alongadas, fusiformes ou em forma de barco irreversivelmente afoiçadas. Tanto a anemia quanto a estase vascular conduzem a alterações induzidas por hipóxia nos ácidos graxos do coração, pulmão e túbulos renais. Luíza Barreto – Medicina 2020.1 Verifica-se hiperplasia compensatória dos progenitores eritróides na medula. A proliferação celular na medula geralmente causa reabsorção óssea e neoformação óssea secundária, resultando em maçãs do rosto proeminentes e alterações no crânio semelhantes a “cabelo escovinha” nas radiografias. Hematopoese extramedular pode surgir no fígado e baço. Nas crianças verifica-se esplenomegalia moderada (o peso do baço atinge até 500 g) devido à congestão da polpa vermelha causada pelo aprisionamento das células afoiçadas. Entretanto, a eritroestase esplênica crônica resulta em dano hipóxico progressivo e infartos, que ao longo do tempo reduzem o baço a um inútil vestígio de tecido fibroso. Esse processo, denominado autoesplenectomia, completa-se naidade adulta. Congestão vascular, trombose e infarto podem afetar qualquer órgão, incluindo ossos, fígado, rim, retina, cérebro, pulmão e pele. A medula óssea é particularmente suscetível a isquemia devido ao lento fluxo sanguíneo e à alta taxa metabólica. O priapismo, outro problema frequente, pode causar fibrose do pênis e disfunção erétil. Em relação às outras anemias hemolíticas, hemossiderose e cálculos biliares são comuns Complicações: Uma complicação muito temida é a síndrome torácica aguda, que pode ser desencadeada por infecções pulmonares ou êmbolos gordurosos da medula infartada. O fluxo sanguíneo no pulmão inflamado e isquêmico torna-se lento e “similar ao do baço”, conduzindo a um afoiçamento dos eritrócitos no interior dos leitos pulmonares hipóxicos. Consequentemente, há exacerbação da disfunção pulmonar subjacente, criando um círculo vicioso de piora do quadro de hipóxia pulmonar e sistêmica, afoiçamento e vaso-oclusão. Outra grave complicação inclui o acidente vascular encefálico (AVC), que algumas vezes ocorre durante o estabelecimento da síndrome torácica aguda. Apesar de qualquer órgão poder ser afetado pela injúria isquêmica, a síndrome torácica aguda e o AVC são as duas principais causas de morte relacionada com a isquemia. Um segundo evento agudo, a crise aplástica, é causado pela redução súbita na produção dos eritrócitos. Do mesmo modo que na esferocitose hereditária, essa crise é geralmente ocasionada pela infecção dos eritroblastos pelo parvovírus B19 e, enquanto severa, é de caráter autolimitante. Além dessas crises, pacientes com anemia falciforme são suscetíveis a infecções. Tanto adultos quanto crianças com anemia falciforme são funcionalmente asplênicos, tornando-os suscetíveis a infecções causadas por bactérias encapsuladas, como os pneumococos. A base para o desenvolvimento do “hipoesplenismo” nos adultos é o autoinfarto. Na fase inicial de aumento do baço na infância, a congestão causada por eritócitos afoiçados que foram aprisionados aparentemente interfere no sequestro e morte das bactérias; assim sendo, mesmo crianças com baço aumentado apresentam risco de desenvolvimento de septicemia fatal. Pacientes com anemia falciforme também apresentam predisposição para osteomielite causada por Salmonella, possivelmente, em parte, ligada a defeitos adquiridos da função do sistema complemento, ainda pobremente elucidados Diagnóstico: O diagnóstico neonatal da anemia falciforme é feito com base nos achados clínicos e nos resultados de solubilidade da hemoglobina, que são confirmados por eletroforese. A contagem de reticulócitos é o procedimento mais simples e a mais custo/ efetivo para distinguir entre as anemias hemolíticas e aquelas devido à diminuição da produção eritrocitária. Nesse teste, uma coloração supravital ou uma sonda de RNA revela fitas de polirribossomas que estão presentes por apenas 24 a 48 horas após os eritrócitos saírem da medula óssea. Em uma coloração de rotina de Wright ou Romanowsky, essas células frequentemente parecem relativamente grandes, com uma cor cinza-azulada (chamada de policromasia). A contagem de reticulócitos é quase sempre elevada em pacientes com hemólise (a menos que haja uma supressão concomitante da medula, tais como pela deficiência de ácido fólico ou de ferro). Esse teste é um índice confiável da produção eritrocitária. Assim, em pacientes com anemia hemolítica, a medula óssea quase sempre exibe hiperplasia eritroide. Por este resultado ser previsível, um exame da medula óssea raramente é útil em pacientes com anemia hemolítica, a não ser que haja suspeita de que a hemólise seja decorrente de um linfoma subjacente. A concentração sérica de bilirrubina não conjugada é elevada em proporção à gravidade da hemólise. As isoformas de lactato desidrogenase (LDH) tipo 1 a 3 são liberadas dos eritrócitos durante a hemólise, resultando no aumento dos níveis séricos de LDH. A maioria dos tipos de anemia hemolítica é extravascular, com destruição eritrocitária mediada por macrófagos no baço, fígado e na medula óssea. Nestes pacientes, uma quantidade relativamente pequena de hemoglobina é liberada pelos eritrócitos fagocitados para o plasma, onde se liga especificamente à haptoglobina. O complexo hemoglobina-haptoglobina é rapidamente eliminado da circulação. A determinação dos níveis séricos de haptoglobina é um teste útil da hemólise. A grande maioria dos pacientes com hemólise clinicamente significativa apresenta níveis baixos ou ausentes. De forma menos frequente, os pacientes apresentam hemólise intravascular, com níveis muito altos de hemoglobina livre no plasma, suficiente para atravessar glomérulos renais e exceder a capacidade de reabsorção tubular. Estes pacientes apresentam urina vermelha ou marrom que, após a centrifugação, se submetem ao teste positivo com uma "fita reagente" que detecta a proteína do heme. A hemoglobinúria pode ser rapidamente distinguida da mioglobinúria. No primeiro, tanto o plasma quanto a urina são pigmentados. No último, o plasma permanece incolor, pois a Luíza Barreto – Medicina 2020.1 molécula menor de mioglobina atravessa rapidamente os glomérulos. A hemoglobinúria muitas vezes é transitória. Tratamento: Atualmente não existe cura conhecida para a anemia falciforme. Portanto, as estratégias de tratamento devem se concentrar na prevenção de episódios de afoiçamento, manejo de sintomas e tratamento das complicações. A pessoa é aconselhada a evitar situações que precipitam episódios de afoiçamento das hemácias, como infecções, exposição ao frio, esforço físico intenso, acidose e desidratação. As infecções devem ser tratadas de maneira agressiva e podem ser necessárias transfusões de sangue (manter HbS > 30%) em um episódio de crise ou cronicamente realizadas em casos graves da doença. A maioria das crianças com anemia falciforme apresenta maior risco para o desenvolvimento de septicemia por infecção por microrganismos encapsulados durante os três primeiros anos de vida. Recomenda-se manter em dia o calendário de vacinação, incluindo vacina contra H. influenzae e contra hepatite B, e deve tomar também a vacina contra pneumococo. A hidroxiureia é um fármaco citotóxico utilizado para evitar complicações da anemia falciforme e é recomendado como tratamento padrão para todos os portadores dessa condição. A hidroxiureia reduz as crises dolorosas e diminui a anemia através de vários efeitos benéficos intra e extracorpusculares, incluindo (1) aumento nos níveis de eritrócitos HbF; (2) efeito anti-inflamatório devido à inibição da produção de leucócitos; (3) aumento no tamanho dos eritrócitos, que diminui a concentração de hemoglobina corpuscular média; e (4) metabolismo de NO, um potente vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária. O transplante de medula óssea ou de células tronco tem o potencial de cura em crianças sintomáticas, mas traz consigo vários riscos de complicações. Atualmente muitas pessoas com anemia falciforme são tratadas com terapia anticoagulante, como heparina e varfarina, para evitar o desenvolvimento de outros distúrbios trombóticos e vasoclusivos. No entanto, ainda não existem dados que sustentem a eficácia desse tratamento em casos de anemia falciforme. - Fazer reposição de ácido fólico 5 mg/dia, por conta da hiperplasia eritropoética. - Para crise vasoclusivas, tratar fator desencadeante; fazer hidratação oral e/ou endovenosa; analgesia para alívio da dor (se necessário, usar opioides). - Pode usar penicilina profilática oral ou benzatina a cada 21 dias para prevenir infecções (dos 2-3 meses até 5 anos de vida). - Tratar todo episódio febril como potencialmente fatal. - Na síndrome torácica aguda, fazer antibioticoterapia agressiva e de amplo espectro; manter SO2 > 92%; pode fazer transfusão. TESTE DO PEZINHO: A data para acoleta do teste do pezinho foi preconizada entre o 3º e o 5º dia de vida do bebê, principalmente por causa do início muito rápido dos sinais e sintomas de três das seis doenças detectadas pelo Programa, como o hipotireoidismo congênito, hiperplasia adrenal congênita e fenilcetonúria. O teste do pezinho no SUS possibilita o diagnóstico precoce de fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. REFERÊNCIAS: Cecil (Medicina Interna); Harrison (Medicina Interna); Carol Porth (Fisiopatologia); Robbins (Patologia); Ministério da Saúde
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