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DO ABSOLUTISMO AO ESTADO NACIONAL MODERNO - AULA 1

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Embora a ideia de nação ou império seja 
conhecida desde a Antiguidade, o conceito de 
nação ou país (Estado-Nação), tal qual 
conhecemos hoje, tem sua origem no início da 
Era Moderna, mais especificamente ao final da 
Idade Média (final do século XV e século XVI, 
período conhecido como Renascimento, 
quando ocorreram extraordinárias 
transformações sociais, econômicas, artísticas, 
religiosas e políticas). 
A partir desse momento, um sistema político 
denominado absolutismo (ou Antigo Regime) 
paulatinamente foi se fortalecendo na Europa e 
perdurou por quase três séculos, dando início a 
um processo de institucionalização do Estado. 
Assim, o chamado Estado nacional moderno 
passou a se constituir como uma das mais 
sólidas instituições da modernidade, a partir da 
sua aceitação (legitimidade) enquanto força 
militar específica e ator por excelência do 
cenário internacional, e também a partir de sua 
estrutura burocrática cada vez mais eficiente e 
poderosa. 
Nesta aula, analisaremos a origem remota do 
chamado Estado nacional moderno, 
procurando relacioná-la com o contexto social 
e político no qual surgiu; vamos analisar alguns 
casos específicos de nações absolutistas, 
diferenciando-as e elencando fatores comuns a 
todas elas. 
Se, por um lado, essa instituição nasceu durante 
o período absolutista, teve seu marco inicial 
com a Revolução Francesa (1789) e sua efetiva 
instauração nos séculos XIX e XX, quando se 
alastrou pelo mundo como um modelo cada vez 
mais padronizado de organização estatal, por 
outro, apesar de conter uma série de elementos 
que caracterizariam o Estado moderno, o 
Estado absolutista ainda possuía fortes 
vínculos com a lógica de dominação feudal. 
 Isso o tornou uma espécie de Estado híbrido. 
Neste sentido, é importante analisarmos em que 
aspectos ele foi fundamental para superar a 
lógica feudal, e também em que aspectos ele se 
aproximou do atual Estado moderno. 
Esse contraponto é essencial para entendermos 
o quanto as ideias iluministas e liberais foram 
importantes para forjar tal instituição, assim 
como para entendermos a lógica de dominação 
moderna e os princípios gerais das relações 
internacionais baseados no Estado-Nação 
SLIDES 
Contextualizando 
O Estado Moderno começou a se formar 
durante o período absolutista, mas só se 
consolidou a partir dos séculos XIX e XX. 
Absolutismo sistema político que 
predominou na Europa entre o século XVI e o 
final do século XVIII 
Contexto profundas transformações 
sociais, políticas e econômicas a partir do fim 
da Idade Media 
Cronologia Básica 
• Idade Média século V ao XV 
• Renascimento século XVI 
• Absolutismo século XVI ao 
XVIII 
Inglaterra, França, Holanda, Rússia, Portugal e 
Espanha estão se organizando como ‘nações’. 
TEMA 1 – DO ESTADO ABSOLUTISTA 
AO ESTADO NACIONAL MODERNO 
O absolutismo pode ser entendido como um 
sistema político que perdurou na Europa entre 
o século XVI e o final do século XVIII. Foi um 
período de transição entre o feudalismo e o 
capitalismo. Diferenciou-se do modelo feudal 
na medida em que se organizou a partir de uma 
forte centralização administrativa e política. 
Ao longo do século XVI foi se estabelecendo 
na Europa a ideia de um Estado forte, que se 
personifica na figura do monarca. 
 Mas foi no século XVII que este modelo se 
consolidou, de forma que se criou uma 
instituição com poder absoluto, distanciando-
se da interferência da nobreza e da igreja. 
A ideia de nação ou nacionalidade passa a 
basear-se no território e na noção de povo 
(todos os que habitam o território), e não tanto 
na etnia ou religião, como foi, por exemplo, em 
boa parte do Império Romano e no feudalismo. 
A partir dessa nova ideia de nação traçavam-se 
os objetivos do Estado absolutista, fossem 
comerciais, fosse a proteção aos súditos. 
De fato, o comércio internacional passou a 
crescer a partir da lógica do mercantilismo, ou 
seja, um comércio acima de tudo estatal, ainda 
que existissem companhias privadas, bancos e 
empreendedores individuais. 
Em relação à segurança, o Estado era agora o 
grande protetor, com a criação dos exércitos 
nacionais compostos por cidadãos, e não mais 
por mercenários ou indivíduos de outras 
nacionalidades. 
Mas o que produziu tão profundas 
transformações? Quando se analisa 
determinado período da história, é fundamental 
que compreender o contexto social, político e 
econômico da época. 
Duas mudanças se iniciavam sem, no entanto, 
se aprofundar – o fim da servidão, aquela forma 
medieval de relação entre o senhor e o 
trabalhador, e o fortalecimento da classe 
burguesa. 
O Estado absolutista assumia, ainda, uma 
função muito mais de proteção à nobreza do 
que de fortalecimento da burguesia ou dos 
camponeses. 
De acordo com Perry Anderson, o absolutismo 
não significou melhores condições de vida aos 
camponeses. 
Antes disso, o temor de uma revolta geral desta 
classe, agora livre da servidão, fez com que a 
nascente burguesia fosse cooptada juntamente 
à nobreza pelas monarquias absolutas. 
Essa aliança teria sido fundamental para 
pacificar a sociedade e garantir o apoio político 
daquelas classes sociais que, na verdade, 
tinham interesses opostos (a burguesia e a 
nobreza). 
Assim, o Estado absolutista, apesar de alguns 
traços modernos, foi, na verdade, um 
instrumento de domínio da classe social que 
dominava desde o feudalismo. 
De acordo com o autor, “Essencialmente, o 
absolutismo era apenas isso. 
Um aparelho de dominação feudal recolocado 
e reforçado, destinado a sujeitar as massas 
camponesas [...]. Era a carapaça política de 
uma nobreza atemorizada” (Anderson, 2004, p. 
18). 
Por outro lado, ocorreu naquele período um 
intenso processo de urbanização, a partir de 
dois elementos. A expulsão dos camponeses, 
forçando-os a migrar para as cidades, e o 
nascimento da indústria moderna, ainda em 
seus primeiros passos, com novas formas de 
produção (o tear mecânico foi o maior 
exemplo). 
Outros fatores também contribuíram, como o 
desenvolvimento técnico, em especial no que 
diz respeito à navegação, permitindo o domínio 
dos mares e, consequentemente, das novas 
terras então descobertas (América, África e o 
Extremo Oriente). 
Em conjunto, tais fatores induziram uma nova 
mentalidade, principalmente em relação ao 
comércio, que deixa de ser centrado em 
pequenas localidades e passa a se concentrar 
em amplos mercados, basicamente mercados 
europeus, mas com um sistema de produção já 
global (as colônias espalhadas pelo mundo). 
É neste contexto que a moderna ideia de 
Estado-Nação começa a ser forjada, mas não 
sem variados conflitos. Inglaterra, França, 
Holanda, Áustria, Suécia, Rússia, Portugal e 
Espanha estão se organizando como nações. 
Há disputas por mercados e por colônias, além 
de disputas religiosas que acabaram por 
contribuir para a formação desta nova 
instituição, como veremos a seguir. 
Slides 
Características do Estado absolutista 
Centralização: Estado forte regido por um 
único indivíduo. 
Primeiros passos da organização burocrática 
moderna. 
Economia mercantilista. 
Patrimonialismo: público = privado 
 
TEMA 2 – ESTADO BUROCRÁTICO E 
ESTADO-NAÇÃO 
Ao falar em Estado, temos duas abordagens 
distintas. Uma se refere à organização interna 
de um país; outra, ao Estado como ator 
internacional. 
A primeira se refere à Administração Pública, 
ao sistema político, às regras constitucionais, 
aos direitos e deveres dos cidadãos. 
De acordo com Bresser Pereira (2008), em 
termos administrativos, “o Estado é o sistema 
constitucional legal e a organização que o 
garante”. 
 Já o Estado Nação “é a unidade político 
territorial soberana” e se caracteriza pelo papel 
exercido no cenário internacional. 
O autor arremata: “Em cada Estado-Nação ou 
estado nacionalexiste uma nação ou uma 
sociedade civil, um estado e um território 
(Bresser Pereira, 2008). 
Vejamos a seguir alguns detalhes dessas duas 
formas de Estado durante o período absolutista. 
 
2.1 O Estado burocrático 
As amplas transformações sociais e 
econômicas ocorridas a partir do século XVI 
tiveram forte impacto sobre a organização 
política das sociedades europeias de então. 
Dessas transformações, algumas foram 
essenciais para que a instituição estatal fosse 
aos poucos sendo fortalecida, em especial para 
conduzir a economia mercantilista. 
O mercantilismo foi o modelo econômico 
predominante durante o absolutismo europeu. 
Consistia basicamente em uma política de 
acúmulo de riquezas – metais preciosos 
provenientes da América. 
A nobreza e a burguesia comercial, tanto como 
o Estado, assumiam esse papel de acúmulo, 
sendo o Estado o grande indutor e protetor 
desse sistema. 
 Mas o poder estatal tinha já interesses próprios 
e, para isso, precisava de um estado forte, que 
protegesse a produção, o território, os meios de 
transporte e os cidadãos. Internamente, deveria 
gerar ordem social em uma sociedade que 
passava por mudanças radicais. 
Na Europa, em vez do trabalho servil, 
prevalecia o cada vez mais comum trabalho 
assalariado. 
 Nas colônias, o predominante era o trabalho 
escravo. O Estado torna-se, então, o agente de 
controle das massas camponesas, dos 
trabalhadores urbanos, dos escravos e dos 
povos conquistados. 
Outra característica é a centralização: todas as 
decisões passavam pelo monarca e seus 
conselheiros a partir de uma rígida estrutura 
hierárquica. 
Mas a principal ferramenta da centralização foi 
a arrecadação de impostos. 
Em vez de cada nobre cobrar impostos, como 
ocorria na Idade Média, no absolutismo o 
Estado centraliza a arrecadação, de forma que 
isso o alimenta e o torna cada vez mais forte. 
Neste contexto, os negócios de Estado se 
ampliam e surgem os primeiros rudimentos da 
organização burocrática moderna, com os 
chamados ‘juristas’, os funcionários 
encarregados de redigir as leis. 
De acordo com Anderson (2004, p. 28), esses 
eram indivíduos com formação em princípios 
do direito romano, retomado desde a 
Renascença. 
No entanto, tais princípios acabaram em um 
cenário muitas vezes contraditório, misturando 
modernos instrumentos de administração e 
formas arcaicas, como o patrimonialismo, 
forma de organização estatal – ou mesmo social 
– na qual o público e o privado se confundem 
ou, antes, na qual o público está submetido ao 
privado. 
 
2.2 O Estado-Nação 
Em termos do que hoje definimos como 
“relações internacionais”, o cenário a partir do 
século XVI estava se ampliando com a 
formação de nações e a colonização das terras 
recém-descobertas que, em muitos casos, 
gerava conflitos por posse, pela busca de 
metais preciosos e pelo domínio de mercados. 
Até então, os mediadores no cenário 
internacional eram a Igreja Católica e o Sacro 
Império Romano¹, que submetiam direta ou 
indiretamente as nações europeias. 
É neste momento que um novo ator 
internacional começa a emergir, o Estado-
Nação, com seus interesses políticos e 
econômicos específicos e com uma lógica 
própria de existência. 
Mas é um fator conjuntural que selará o 
fortalecimento deste novo ator: as guerras 
religiosas. 
O avanço do protestantismo acabou por gerar 
uma das mais sangrentas guerras da história 
europeia: a Guerra dos 30 anos (1618-1648). 
Não cabe aqui entrar em detalhes sobre esse 
conflito, mas importa saber que, nele, culminou 
o Tratado de Westfalia (1648), conhecido como 
um ponto de virada (embora simbólico naquele 
momento) nas relações internacionais. 
O tratado estabelecia que nenhum Estado 
poderia interferir em outro e, mais que isso, 
todo Estado é soberano, isto é, não está sujeito 
a nenhuma autoridade humana ou institucional 
maior. 
A partir deste tratado, o Estado-Nação 
paulatinamente se tornou independente na 
medida em que a igreja foi perdendo seu poder; 
primeiramente, com o enfraquecimento do 
argumento do direito divino e, em segundo 
lugar, com a Igreja deixando de ser um árbitro 
internacional, possibilitando um sistema laico 
– não ligado à igreja – de relações 
internacionais, prevalecente até os dias atuais. 
 
SLIDES 
Distintas abordagens sobre o Estado 
Estado burocrático: administração interna do 
Estado-nação. 
1 Não confundir com o Império Romano da 
Antiguidade. O Sacro Império Romano foi uma 
tentativa medieval, a partir do século XI, de reviver 
aquele império, mas sem muito sucesso. No 
entanto, não deixou de ser uma instituição a 
interferir nos assuntos internacionais e internos 
das nações europeias. Foi extinto por Napoleão 
Bonaparte. 
Estado-nação: ator internacional. 
O Estado burocrático 
Administração interna centralizada 
Proteção interna dos súditos 
Controle e proteção da economia 
Controle da arrecadação de impostos 
Patrimonialismo 
O Estado Nação 
Transforma-se no ator principal do cenário 
internacional 
Liberta-se da Igreja Católica e do Sacro 
Império Romano 
O Tratado de Westfalia 1648 
Estados não devem interferir em assuntos uns 
dos outros 
Todo Estado é soberano, não sujeito a 
autoridade humana ou institucional 
Naquele momento foi um tratado simbólico, 
mas criou as raízes das relações internacionais 
modernas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 3 – O ESTADO ABSOLUTISTA 
E SUA IDEOLOGIA 
Transformações tão amplas ou profundas em 
uma sociedade exigem novas formas de 
interpretação e de justificativas para a sua 
efetiva aceitação e legitimação. 
 Nesse sentido, as ideologias são essenciais. Se 
na Idade Média europeia a Igreja Católica era a 
principal criadora e disseminadora de 
justificativas para explicar a realidade, nos 
períodos Renascentista e Absolutista outras 
explicações são necessárias. 
A religião católica ainda era dominante, mas 
tinha concorrência, fosse do protestantismo ou 
das ideias cada vez mais frequentes de que a 
política, assim como o Estado, tinha uma 
realidade própria. 
O absolutismo, então, caracteriza-se em termos 
ideológicos como uma mescla de valores 
religiosos tradicionais e valores modernos 
laicos. 
A ideia moderna de Estado foi apresentada por 
Maquiavel no Livro O Príncipe (1532), no qual 
ele analisa o Estado e o poder político como 
tendo natureza própria e sendo ponto central da 
política moderna. 
Já Hobbes é um dos principais defensores do 
absolutismo monárquico. 
Na obra Leviatã (1651), com base em uma 
visão pessimista da natureza humana, ele 
defende um Estado o mais forte possível para 
evitar que “o homem seja lobo do homem”, 
dando segurança aos súditos; no plano externo, 
a ideia é impedir que um Estado invada ou 
interfira em outro. 
Assim, o estado absoluto seria o garantidor da 
paz interna e da segurança externa. 
No absolutismo, a soberania se confunde com 
o poder pessoal do rei, ideia celebrizada pela 
famosa frase do regente francês Luís XIV, “O 
Estado sou eu”. 
Tal princípio é fundamentado pela ideia do 
Direito Divino, no qual o poder seria uma 
concessão a determinados indivíduos, mas 
também pela proposta laica do cardeal francês 
Richelieu (1585-1642), a expressão “Razão de 
Estado”. 
Por outro lado, o surgimento do protestantismo 
no século XVI acabou por gerar diversas 
mudanças no plano ideológico, seja como 
facilitador da aceitação de diversos valores do 
nascente capitalismo (tese de Max Weber em A 
ética protestante e o espírito do capitalismo), 
seja por fomentar conflitos entre as nações 
daquele período. 
Diferentes ideologias prevaleceram durante o 
absolutismo, o que trouxe implicações no 
modelo de Estado que certos países adotaram. 
É o caso da recusa de Portugal e da Espanha em 
aceitar os novos valores econômicos. 
Se em meados do século XVI eram nações de 
vanguarda, a partir da adoçãodos princípios da 
Contrarreforma recusaram inovações, gerando 
um tipo de Estado que sufocou o nascente 
capitalismo. 
 Enquanto a Inquisição findava em outros 
países, Portugal e Espanha resgataram-na como 
prática religiosa e de Estado. 
Assim, o Estado absolutista, nesses países, 
antes de se modernizar, desperdiçou tempo e 
grande parte das riquezas obtidas na América. 
 
SLIDES 
Teóricos do Estado absolutista 
Ideologias são explicações criadas para 
justificar a realidade e para orientar projetos e 
decisões. 
Propõe-se um novo modelo de Estado, assim 
como novos princípios para justificar o poder 
político. 
• Maquiavel (1469-1527) 
o O Estado como realidade própria 
• Hobbes (1588-1679) 
o O Estado como salvaguarda e 
proteção 
• Bossuet (1627–1704) 
o O monarca e o direito divino de 
governar 
• Bodin (1530-1596) 
o A soberania indivisível 
• Richelieu (1585-1642) 
o Razão de Estado 
 
Exemplo de ideologia no período, indicado por 
Max Weber (2004) 
• O protestantismo favoreceu a 
disseminação do capitalismo ao 
reinterpretar o significado do conceito 
“trabalho” e deixar de considerar lucro e 
juros como pecado. 
 
TEMA 4 – MODELOS DE ESTADO 
ABSOLUTISTA 
A França foi a nação com o mais perfeito 
modelo de Estado Absolutista, principalmente 
sob reinado de Luís XIV (1638-1715), 
consolidando o mercantilismo e criando uma 
forte centralização política e administrativa. 
O maior teórico deste momento foi o Cardeal 
Richelieu, que criou a expressão “Razão de 
Estado”, ou seja, o uso de ações ou leis ilegais, 
incluindo o autoritarismo e a aplicação da 
violência nos planos interno e externo, para 
supostos benefícios do Estado, mas também o 
uso da razão para conduzir as questões desta 
instituição. 
A França controlou a influência dos nobres nas 
questões políticas e administrativas, 
fortalecendo os funcionários e criando uma 
forte burocracia controlada pelo rei. 
Se a França foi um modelo clássico de Estado 
absolutista, outras potências europeias 
seguiram caminhos um tanto diferentes. 
A Inglaterra é o caso mais notório. Ainda no 
Século XIII, bem antes do absolutismo, os 
ingleses estabeleceram certos controles ao 
poder dos monarcas. 
Em 1688, a Revolução Gloriosa acarretou, 
entre outras coisas, uma monarquia com 
poderes limitados pelo Parlamento, instituição 
que, naquela época, já se dividia em dois 
partidos e governava o vencedor das eleições 
parlamentares, o qual tinha o poder, inclusive, 
de nomear os ministros. 
A maior parte do sistema político britânico 
atual tem sua origem neste período. 
A Revolução Inglesa foi uma revolução 
burguesa, a primeira da história, e o Estado 
britânico incorporou uma série de exigências 
desta classe social, o que em outras nações só 
ocorreria dois séculos depois. 
A Rússia do início do século XVIII começava 
a se transformar em um império, mas com um 
tipo de Estado Absolutista mais aberto à 
modernização. 
Era o chamado despotismo esclarecido, 
primeiramente com Pedro, o Grande (1672-
1715), e posteriormente com Catarina II (1725-
1796). 
Valores absolutistas conviveram com ideais de 
modernização, incluindo a ênfase à indústria, 
ao aparelhamento da marinha e abertura de 
portos e à ciência, aceitando-se muitas das 
ideias iluministas em vigor na Europa 
Ocidental neste período. 
Portugal também seguiu o modelo político das 
demais potências europeias, mas por vias 
diferentes. 
De um lado, assim como a Espanha, foi 
profundamente influenciado pela Igreja 
Católica, enquanto as demais potências 
paulatinamente se distanciavam. 
Os portugueses, ainda, fecharam-se para os 
valores capitalistas burgueses, aceitando tão 
somente o chamado capitalismo de Estado. 
Isso acabou por influenciar um tipo de Estado 
cheio de contradições, conforme constata R. 
Faoro (2001), para quem o Estado colonial 
português transformou os altos funcionários 
públicos praticamente em elementos da 
nobreza, sufocando a burguesia e privilegiando 
os funcionários de Estado. 
Em meados do século XVIII, em Portugal, 
ainda prevalecia uma organização estatal 
arcaica, cheia de superstições, fraca hierarquia 
e excesso de funcionários (Faoro, 2001, p. 
204). 
Neste período, nem mesmo o “déspota 
esclarecido” Marquês de Pombal conseguiu 
efetivamente modernizar o país. 
SLIDES 
França, um modelo clássico de absolutismo: 
• Estado fortemente centralizado. 
• A nobreza controlada. 
• Fortalecimento da burocracia. 
 
Inglaterra, um caso diferente: 
• Magna carta e parlamento (século XIII). 
• A Revolução Gloriosa (1688-89): 
originou a monarquia constitucional 
inglesa. 
• Os partidos políticos Whigs 
(conservadores) e Tories (liberais). 
A Rússia e o despotismo esclarecido: 
• Ênfase à modernização. 
• Aceitam-se algumas ideias iluministas. 
 
 
Portugal e o absolutismo retrógrado: 
• Ao contrário de outras nações, em 
Portugal a igreja aumentou seu poder 
sobre o Estado. 
• A burguesia foi sufocada. 
• A burocracia não se modernizou. 
• Pombal tentou modernizar o Estado 
português (séc. XVIII). 
O Estado português, em meados do século 
XVIII era ainda altamente influenciado por 
pensamentos medievais. 
Exemplo: após o terremoto de Lisboa, em 1750 
• “O Estado financiava a construção de 
igrejas; rezas e procissões, pois, o 
terremoto teria sido causado pelos 
pecados dos portugueses.” (Weffort, 
2006, p. 145) 
 
TEMA 5 – CRISE E DECADÊNCIA DO 
ESTADO ABSOLUTISTA 
Ao final do século XVIII, apesar do despotismo 
esclarecido, uma tentativa de coexistência com 
o novo cenário moderno e com os novos 
valores propagados pelo Iluminismo, era 
notório que o Estado absolutista era uma forma 
anacrônica de governo. 
A ascensão da burguesia era cada vez mais 
evidente, demandando mais espaço político e 
econômico e menos controle do Estado. 
O capitalismo superou de vez o mercantilismo 
e o Estado-Nação tornaram-se a principal 
instituição internacional – notadamente, a 
potência da época era a Inglaterra. A ciência 
prosperava e a religião perdia o espaço que 
ocupava como ator político. 
 É neste cenário que as ideias iluministas 
encontram terreno fértil para prosperar (cf. 
Aula 2). 
O pensamento de Locke, Smith, Rousseau, 
Montesquieu, Kant circulou não apenas pela 
Europa, mas também pelas colônias 
americanas. 
O ideal de liberdade individual ou nacional 
influenciaria processos de luta por 
independência em vários lugares, 
principalmente na América, culminando, 
poucas décadas depois, no surgimento de 
diversas nações. 
Neste ínterim, em 1789, explode aquela que é 
considerada o marco da passagem do 
absolutismo para a modernidade: a Revolução 
Francesa. 
Mesmo considerando que a França só se tornou 
efetivamente republicana e capitalista, no 
sentido moderno do termo, quase 100 anos 
depois, aquela Revolução mostrou ao mundo 
que mudanças estruturais estavam ocorrendo, 
inclusive induzindo a que um novo tipo de 
Estado fosse pensado e organizado, pautado em 
princípios distintos daqueles apregoados pelo 
absolutismo. 
Entretanto, além da França, outro processo 
revolucionário ocorria do outro lado do 
Atlântico, onde os ideais de modernização 
tinham mais liberdade para prosperar. 
Foi a independência dos Estados Unidos da 
América, a primeira experiência mundial de um 
Estado formado a partir dos ideais iluministas. 
É o que veremos na próxima aula, com o 
chamado Estado liberal. 
 
SLIDES 
Transformações sociais e políticas na 
Europa (final do século XVIII) 
- Revolução Industrial. 
- Fortalecimento da burguesia (Inglaterra, 
Holanda e França). 
- Predomínio de ideais iluministas. 
- Revolução Francesa (1789): 
• Marco da passagem para a 
modernidade. 
• O absolutismo passa a ser visto como 
coisa do passado. 
• O Estado Moderno começa a se 
consolidar. 
 
NA PRÁTICA 
Nem toda a Europa se transformou em Estado 
absolutista.A Holanda era uma república² dominada pela 
burguesia comercial. 
A Suíça era uma 
república quase que 
isolada, com muitas 
instituições 
democráticas. 
Itália e Alemanha ainda não estavam 
unificadas, divididas em vários estados com 
características distintas. 
Em termos globais, existiam outras forças 
políticas, como o Império Otomano e a China, 
cujos Estados eram muito parecidos com o 
feudal europeu. 
 
SLIDES 
Outras formas de Estado-nação 
contemporâneas ao absolutismo: 
• Suíça e Holanda: repúblicas 
democráticas. 
• China e Império Turco Otomano: 
sistema semelhante ao feudal europeu. 
 
 
 
FINALIZANDO 
Vimos, nesta aula, o Estado absolutista e sua 
influência no surgimento e consolidação dos 
modernos Estados nacionais. 
Foram cerca de três séculos durante os quais o 
atual Estado-Nação germinou e o chamado 
Estado burocrático moderno encontrou um solo 
fértil para se desenvolver, seja do ponto de vista 
econômico e político, seja a partir de mudanças 
no plano ideológico. 
Contudo, o Estado absolutista ainda era 
essencialmente feudal ao garantir o domínio da 
nobreza, fato que só seria superado com o 
advento do Estado liberal. 
SLIDES 
- Estado Absolutista: 
• primeiro passo na formação do moderno 
Estado Nação. 
• Contraditório, mesclava o moderno e o 
arcaico. 
• Existiram diferentes modelos, 
justificados ideologicamente. 
• Entrou em crise ao final do Século 
XVIII. 
 
- Estado absolutista: 
• Primeiro passo na formação do moderno 
Estado-nação. 
o Contraditório, mesclava o 
moderno e o arcaico. 
o Existiram diferentes modelos, 
justificados ideologicamente. 
• Entrou em crise ao final do século 
XVIII. 
 
LIVRO: SUBCAPÍTULO 1.1 
 
1.1 Contratualistas: Hobbes, 
Locke e Rousseau 
² A Holanda se 
transformou em 
Monarquia 
Constitucional em 
1815. 
A melhor forma de compreender o Estado 
moderno é buscar as teorias mais influentes 
sobre ele. 
Por isso, não há como iniciar a discussão sem 
apresentar os três teóricos contratualistas 
icônicos: Thomas Hobbes (1588-1679), John 
Locke (1632-1704) e Jean Jacques Rousseau 
(1712-1778). 
Esses autores sofreram influência direta do 
contexto histórico em que viviam, como as 
ditas descobertas de novos mundos 
considerados não civilizados e a 
posterior colonização do mundo não europeu. 
 Notícias vindas desse “novo mundo” traziam 
relatos de povos que viviam em estado de 
natureza, isto é, sem uma organização política 
similar ao Estado nos moldes ocidentais. 
Hobbes e Locke, em particular, foram 
contemporâneos às Revoluções Inglesas que 
ocorreram em quase todo o século XVII, tendo 
como característica central o conflito entre a 
Coroa e o Parlamento. 
A Coroa representava o absolutismo e o 
Parlamento representava a burguesia liberal 
ascendente. 
Foi um período de crise política, religiosa e 
econômica. 
Foi nesse contexto de guerra civil e de uma 
sociedade carente de uma autoridade política 
central que Thomas Hobbes e John Locke, 
ambos ingleses, viveram e escreveram suas 
teorias sobre o contrato social. 
Hobbes publicou o Leviatã em 1651, 
defendendo um Estado forte e absoluto. 
John Locke, por sua vez, publicou Carta sobre 
a tolerância, Ensaio sobre o entendimento 
humano e Dois tratados sobre o governo civil 
em 1689, quando os conflitos na Inglaterra 
findavam, após a Revolução Gloriosa, que 
assinalou o triunfo do liberalismo e do 
Parlamento com a aprovação da Bill of Rights 
(Mello, 2000). 
 
Os filósofos contratualistas buscavam a 
fundamentação racional do poder soberano 
para conseguir uma base de legitimidade que 
não necessitasse das explicações divinas ou 
religiosas. 
Mais especificamente, os teóricos do 
contratualismo tinham como ponto de partida 
o estado de natureza: a situação na qual os 
indivíduos viviam como proprietários livres e 
iguais de si mesmos e com um leque irrestrito 
de ação. 
Suas teorias giravam fundamentalmente em 
torno da explicação do abandono, por parte 
dos indivíduos, de um estado de natureza 
fictício para constituir uma sociedade 
politicamente organizada. 
Essa passagem do estado de natureza para um 
estado civil teria acontecido por meio de um 
pacto: um contrato social que originaria o 
Estado. 
A abordagem filosófica desses autores 
distanciava-os de uma interpretação histórica 
sobre um suposto contrato social que teria 
dado origem ao Estado e à sociedade 
politicamente organizada. 
Daí que seus esforços eram lógico-dedutivos, 
não cronológicos, a respeito da “razão de ser” 
do Estado, seu fundamento último. 
Nesse sentido, o crucial para os contratualistas 
não é a história do Estado, mas no que se 
ancora legalmente a legitimidade da ordem 
social e política. 
Das divergências entre os contratualistas, 
podemos listar as modalidades de soberania 
que deveriam ser produto do contrato social, 
os tipos de arranjos institucionais que 
deveriam estruturar o Estado e seus 
entendimentos sobre qual era a essência da 
natureza humana. 
Com relação a este último ponto, Hobbes fala 
de uma natureza imutável dos homens em 
relação ao tempo e à história, o que os coloca 
em condição de igualdade plena entre si e faz 
com que nenhum possa se sobrepor 
integralmente aos demais. 
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Para o autor, essa situação leva a uma 
instabilidade, na qual ninguém consegue saber 
o que os outros pensam ou desejam. 
O mais prudente sempre seria atacar, com 
vistas a evitar ser atacado em algum momento. 
Assim, o homem estaria em um permanente 
estado de guerra de todos contra todos 
(Ribeiro, 2000). 
Nesse contexto, somente um Estado forte e 
soberano seria capaz de dar fim ao conflito 
generalizado entre homens racionais que 
primam por sua própria vida em estado de 
natureza. 
Daí a máxima de Hobbes de que o homem é o 
lobo do próprio homem, pois, no estado de 
natureza, todos teriam direito a tudo, cada qual 
governado por sua própria razão. 
A realidade da guerra generalizada obrigaria, 
por consequência, que se buscasse alguma 
forma de conciliação por meio de um pacto, o 
contrato social fundado na renúncia da 
liberdade natural de cada qual (Ribeiro, 2000). 
Para que o contrato social seja efetivo, é 
premente um Estado forte, absoluto e armado, 
porque as leis da natureza (como a justiça, 
a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em 
resumo, fazer aos outros o que queremos que 
nos façam) por si mesmas, na ausência de 
temor de algum poder capaz de levá-las a ser 
respeitadas, são contrárias às nossas paixões 
naturais, as quais nos fazem tender para a 
parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas 
semelhantes. 
E os pactos sem a espada não passam de 
palavras, sem força para dar a menor segurança 
a ninguém. (Hobbes, 1999, p. 142, grifo do 
original) 
Assim, Hobbes é interpretado como um 
autor que legitima o Estado absoluto. Para ele, 
o poder do Estado deveria ser uma única 
“vontade” dada a partir de diversas outras 
“vontades”. Ou seja: 
é como se cada homem dissesse a cada 
homem: cedo e transfiro meu direito de 
governar-me a mim mesmo a este homem, ou a 
esta assembleia de homens, com a condição de 
transferires a ele teu direito, autorizando de 
maneira semelhante todas as suas ações. Feito 
isso, à multidão assim unida numa só pessoa se 
chama Estado […]. 
É esta a geração daquele grande Leviatã. 
(Hobbes, 1999, p. 144, grifo do original) 
É obrigação do Estado fazer uso da força 
e de seus recursos para manter a paz: razão de 
sua existência que legitima o poder ilimitado do 
governante. 
Esse poder, no contrato social hobbesiano, é 
fruto de seu não comprometimento, pois o 
soberano não assina o contrato, acordado 
somente entreos que virão a ser súditos. 
 O soberano (beneficiário do contrato social) 
deve se conservar fora dos compromissos 
acordados, sendo sua única obrigação manter a 
paz e proteger a vida, evitando a guerra de 
todos contra todos. 
Somente se essa obrigação não se efetuar é que 
o contrato social pode ser rompido, tornando os 
súditos livres da obediência ao soberano, uma 
vez que este descumpriu seu único 
compromisso e, por isso, perdeu sua razão de 
existência (Ribeiro, 2000). 
A marca distintiva do Estado hobbesiano 
é o medo. 
O temor leva os indivíduos no estado de 
natureza a abrir mão de toda liberdade e 
igualdade. 
Contudo, a esperança de uma vida mais 
confortável (na sociedade politicamente 
organizada) vence o medo da morte (do estado 
de natureza). 
 
Outra interpretação da história do 
contrato social é dada por John Locke. 
Diferentemente de Hobbes, monarquista e 
absolutista em sua defesa do Estado, Locke 
condenava o poder absoluto e defendia um 
governo parlamentar e liberal, que pudesse 
frear o poder da Coroa. 
Locke colocava o indivíduo como anterior à 
sociedade. Para ele, o estado de natureza não 
seria essencialmente selvagem, mas um estágio 
pré-político com completa igualdade e 
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liberdade, um estágio de relativa paz e 
harmonia, no qual os indivíduos eram dotados 
de racionalidade e propriedade. 
O lugar da propriedade na teoria lockeana é 
central e significa que a primeira propriedade 
do ser humano é o seu próprio corpo, sua 
própria pessoa. 
Por extensão, aquilo que decorre do seu 
trabalho também se torna 
sua propriedade (Mello, 2000). 
 
Em sua perspectiva, o estado de natureza 
era pouco violento e os conflitos existentes 
derivavam das violações ocorridas em relação 
à propriedade: vida, liberdade e bens. 
O estado de guerra somente ocorreu com o 
surgimento da escravidão e a violação da 
propriedade. 
Daí a necessidade de um juiz imparcial para 
arbitrar os conflitos, bem como da força 
coercitiva para inibir a guerra generalizada. 
Surge então, para Locke, a necessidade do 
contrato social, que intermediou a transição do 
estado de natureza para o estado civil. 
Tal contrato deveria ser firmado livremente 
entre os indivíduos com a renúncia da liberdade 
e igualdade natural que possuíam no estado de 
natureza. Nessa transição para o estado civil 
por meio do contrato social, todos estariam 
sujeitos à lei, imposta pela formação de um 
corpo político único com força concentrada na 
comunidade e com capacidades judiciárias. 
Podemos pensar a ideia de corpo político de 
Locke como o governo e a estrutura estatal 
moderna – inclusive com a separação entre 
poderes Legislativo, Executivo e 
Judiciário(Mello, 2000). 
Teórico da propriedade privada, Locke 
encontra a principal razão de ser do corpo 
político na preservação da propriedade e na 
proteção da comunidade diante dos perigos, 
tanto internos quanto externos. Nas palavras do 
autor: 
o objetivo capital e principal da união dos 
homens em comunidades sociais e de sua 
submissão a governos é a preservação de sua 
propriedade. O estado de natureza é carente de 
muitas condições. 
Em primeiro lugar, ele carece de uma lei 
estabelecida, fixada, conhecida, aceita e 
reconhecida pelo consentimento geral, para ser 
o padrão do certo e do errado e também a 
medida comum para decidir todas as 
controvérsias entre os homens. (Locke, 1994, 
p. 156) 
O ponto central é que o contrato social 
teria a função de criar uma sociedade civil que 
pudesse gozar da mesma liberdade e igualdade 
que possuía no estado de natureza. É nesse 
sentido que se clama pela positivação dos 
direitos tidos como naturais e inalienáveis do 
ser humano: direito à vida, direito à liberdade e 
direito aos bens decorrentes do trabalho (Mello, 
2000). Essa positivação dos direitos é 
denominada jusnaturalismo. 
Com a formação do corpo político 
investido de autoridade, o passo seguinte é a 
escolha da forma de governo. Quanto a esse 
aspecto, Locke assevera que o Poder 
Legislativo (por ele chamado poder supremo) é 
o mais relevante porque emana do poder do 
povo. Ele deve sobrepor-se aos demais 
poderes: o Poder Executivo (príncipe) e o 
Poder Federativo (relações exteriores: paz, 
guerra, alianças e tratados). Diz o autor: 
O legislativo não é o único poder supremo da 
comunidade social, mas ele permanece sagrado 
e inalterável nas mãos em que a comunidade 
um dia o colocou; nenhum edito, seja de quem 
for sua autoria, a forma como tenha sido 
concebido ou o poder que o subsidie, tem a 
força e a obrigação de uma lei, a menos que 
tenha sido sancionado pelo poder legislativo 
que o público escolheu e nomeou […]; jamais 
um membro da sociedade, pelo efeito de um 
juramento que o ligaria a qualquer poder 
estrangeiro ou a qualquer poder subordinado na 
ordem interna, pode ser dispensado de sua 
obediência ao legislativo e agir por sua própria 
conta; da mesma forma, também não é 
obrigado a qualquer obediência contrária às leis 
adotadas, ou que ultrapasse seus termos; seria 
ridículo imaginar que um poder que não é o 
poder supremo na sociedade, possa se impor a 
quem quer que seja. (Locke, 1994, p. 162-163) 
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A preocupação de Locke residia nos 
excessos tirânicos do poder absoluto, daí a 
preponderância do Legislativo (o representante 
da sociedade civil) para poder se contrapor e 
mesmo remover o Poder Executivo quando este 
for abusivo. Contudo, o autor atribui um papel 
central ao juiz e à sua independência no 
gerenciamento das contendas, sempre pautado 
nas normas legais (Mello, 2000). 
É importante ressaltar que Locke 
considerava o princípio democrático da 
maioria como regra para a escolha da forma de 
governo, mas, ao mesmo tempo, asseverava o 
respeito ao princípio da minoria para a proteção 
dos direitos e das liberdades civis. Assim, 
quando um governo atua contra a sociedade e 
deixa de proteger a propriedade (vida, 
liberdade e bens), ele perde sua função e se 
desvirtua de sua finalidade. Ou seja, torna-se 
ilegítimo e ilegal, degenerando-se em tirania. 
Quando tal violação sistemática ocorre, o 
governo entra em estado de guerra contra a 
sociedade, e esta legitimamente pode gozar de 
seu direito de resistência à opressão. Nesse 
momento, dissolve-se o contrato social, 
retorna-se ao estado de natureza e o uso da 
força se coloca como instrumento de resolução 
de conflitos (Mello, 2000). 
Locke foi considerado o pai do 
individualismo liberal e contribuiu para 
amalgamar as formas institucionais do Estado 
liberal moderno, em razão de seu entendimento 
de que os direitos naturais são anteriores ao 
próprio Estado. Nesse sentido, sua teoria serviu 
de justificação moral (a posteriori) para a 
Revolução Gloriosa e para a forma de governo 
que se instituiu na Inglaterra pós-revolução: a 
monarquia parlamentar. O autor também 
influenciou enormemente a Revolução Norte-
Americana (1775-1776) e os artigos presentes 
no texto da Declaração de Independência dos 
Estados Unidos da América (1776), que foi 
redigida em termos de direitos naturais e direito 
de resistência (Mello, 2000). 
O terceiro autor do rol dos contratualistas 
é Jean Jacques Rousseau. Como já ressaltado, 
os contratualistas objetivavam reconstruir a 
história da humanidade por meio do método 
lógico-dedutivo e da construção de modelos 
hipotéticos. Entre eles, Rousseau foi o que mais 
se apossou desse método. Locke se pautava em 
uma explicação a posteriori da Revolução 
Gloriosa, por isso, contava com evidências 
empíricasda experiência histórica recente. 
Hobbes, por sua vez, era um estudioso da física 
e da geometria, fato que influenciou a 
construção de seu pensamento, como seu 
conceito de liberdade, que significava ausência 
de barreiras (restrições) aos corpos sociais em 
movimento (Skinner, 2006). 
No que se refere a Rousseau, a chave 
interpretativa para a compreensão de seu 
ideário está no primeiro parágrafo no capítulo 
I, do livro I, de Do contrato social: 
O homem nasce livre, e por toda parte 
encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos 
demais, não deixa de ser mais escravo do que 
eles. Como adveio tal mudança? Ignoro-o. Que 
poderá legitimá-la? Creio poder resolver esta 
questão. […] Se considerasse somente a força 
e o efeito que dela resulta, diria: “Quando um 
povo é obrigado a obedecer e o faz, age 
acertadamente; assim que pode sacudir esse 
jugo e o faz, age melhor ainda, porque, 
recuperando a liberdade pelo mesmo direito 
por que lha arrebataram, ou tem ele o direito de 
retomá-la ou não o tinham de subtraí-la”. A 
ordem social, porém, é um direito sagrado que 
serve de base a todos os outros. Tal direito, no 
entanto, não se origina da natureza: funda-se, 
portanto, em convenções. Trata-se, pois, de 
saber que convenções são essas. (Rousseau, 
1983, p. 22) 
Como se observa nessa passagem, o autor 
afasta deliberadamente os fatos e se concentra 
na compreensão sobre a legitimidade do pacto 
que originou a sociedade. Segundo seu 
diagnóstico, os fatos concretos sobre a história 
da humanidade são de difícil verificação 
(lembrando que ele viveu no século XVIII), 
pois há insuficiência de vestígios – daí sua 
opção pela busca de argumentos racionais com 
apelos normativos sobre o “dever ser” da ação 
política (Nascimento, 2000). 
Segundo Rousseau, o contrato social foi 
uma espécie de “mal necessário”, tendo em 
vista a impossibilidade de retorno ao estado de 
natureza. Ao contrário de Hobbes, ele 
acreditava na essência benévola do ser humano 
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em estado de natureza (o homem como “bom 
selvagem”). O estado de natureza 
rousseauniano era pacífico e harmonioso, daí 
sua máxima de que “o homem nasce livre e por 
toda parte encontra-se aprisionado” (Rousseau, 
1983). Na transição do estado de natureza para 
a sociedade organizada civilmente, e com o 
surgimento da propriedade privada, o ser 
humano perdeu sua liberdade, tornando-se 
súdito. Assim, a origem da sociedade se deu 
com a destruição da liberdade e da igualdade 
que havia no meio natural, gerando a 
desigualdade e o aprisionamento generalizado 
(Nascimento, 2000). 
A grande questão que Rousseau procura 
resolver é a da possibilidade de reconciliação 
entre a liberdade e a submissão. Para isso, ele 
busca uma forma de associação na qual “cada 
um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si 
mesmo, permanecendo assim tão livre quanto 
antes” (Rousseau, 1983, p. 32). Trata-se de uma 
alienação (transferência) de cada associado à 
comunidade toda. Importa, assim, descobrir as 
condições que possibilitaram o contrato social 
de forma que ele pudesse ser politicamente 
legítimo. Para tanto, as pessoas devem desistir 
de seus poderes privados, tendo como efeito o 
surgimento de um “corpo moral coletivo” que 
forma o “eu comum” e a “vontade geral”. 
Assim, para Rousseau, as condições para 
a liberdade civil se dão por meio de um papel 
duplo centrado na cidadania: o povo soberano 
é ativo e passivo ao mesmo tempo. Ou seja, se, 
por um lado, o povo é agente do processo de 
elaboração das leis, por outro, é obediente às 
leis que ele mesmo criou em associação. Trata-
se de uma conjugação perfeita entre liberdade 
e obediência, de modo que obedecer às leis 
prescritas por si mesmo é um ato de liberdade. 
Por isso, a obediência é a submissão deliberada 
de cada cidadão atuando como parte do 
soberano, este emanado dos contratantes 
reunidos em associação (Cunningham, 2009; 
Nascimento, 2000). 
Merece destaque o fato de que o autor 
diferencia a vontade geral da vontade de todos 
e da vontade da maioria. A vontade geral não 
pode ser de uma única pessoa e nem de um 
grupo, mas também não pode ser a simples 
somatória das vontades particulares (vontade 
de todos), pois, assim, o critério seria 
meramente quantitativo. Muito menos pode ser 
a competição pelos votos particulares, ou seja, 
a vontade da maioria. A vontade geral, para ser 
legítima, necessita de concertação e de pontos 
de consenso. São os interesses comuns que 
conectam as pessoas, de sorte que uma 
associação de pessoas livres não pode ser 
resumida a uma agregação pura e simples das 
preferências de cada qual. Este é o processo 
político legítimo para Rousseau: um processo 
em que as decisões coletivas devem promover 
o bem comum, ou seja, beneficiar igualmente a 
todos (Cunningham, 2009; Nascimento, 2000). 
Note que há um esforço democrático na 
construção teórica de Rousseau, que se 
manifesta na ideia de que o soberano surge 
após o contrato social e é o único a poder 
determinar o funcionamento político da 
associação. 
O autor assume que, para a administração 
da coletividade, é necessária a criação de um 
governo; porém, este é somente o funcionário 
do soberano, limitado pelo poder do povo e, 
portanto, não autônomo. No entanto, a forma 
de governo se torna secundária, uma vez que os 
governos sempre se esforçam continuamente 
contra sua fonte de legitimidade – o soberano – 
e tendem a inverter os papéis para subjugá-lo. 
Nesse sentido, no pensamento rousseauniano, a 
liberdade e a democracia são os pilares do 
Estado, que é constituído de cidadãos reunidos 
em assembleia. 
Apesar da defesa implícita da 
democracia, o autor é intransigente em relação 
à representação, mantendo a coerência com a 
construção de sua teoria: as vontades não 
podem ser representadas, pois estão no âmago 
de cada um – ou seja, a representação é uma 
forma de sobrepor as vontades. Nesse sentido, 
o autor afirma que, “no momento em que um 
povo se dá representantes, não é mais livre; não 
mais existe” (Rousseau, 1983, p. 110). 
Rousseau, no entanto, pondera que, se a 
representação for indispensável, somente a 
vigilância constante sobre o governo e os 
representantes pode remediar a situação. 
Rousseau viveu e escreveu às vésperas da 
Revolução Francesa, que teve início em 1789. 
Seus textos influenciaram os revolucionários e 
seu livro Do contrato social serviu como um 
manual de ação política (Nascimento, 2000). 
Mais que isso, Rousseau foi um autor liberal 
heterodoxo em relação aos iluministas de seu 
tempo, pois advogou em favor de um “eu 
comum” social, dando grande peso aos 
auspícios comunitários e alertando para os 
perigos do individualismo liberal, aos moldes 
de John Locke. As críticas do autor são ainda 
relevantes por denunciar as mazelas que podem 
ser causadas pela ausência de um espírito 
comunitário. Conforme observa Frank 
Cunningham (2009), a crescente urbanização 
levou o ser humano a esquecer que ele também 
foi, e é, parte de um estado de natureza. Nas 
sociedades contemporâneas, o consumo 
aumentado dificulta a distribuição justa dos 
recursos, em um contexto de egocentrismo e 
individualismo possessivo. 
Como procuramos ressaltar no início, o 
pensamento dos autores contratualistas se deu 
em um contexto marcado pela descoberta do 
mundo “não civilizado”, que vivia em estado 
de natureza, bem como pelos períodos 
conturbados e conflituosos que levaram a 
momentos de pouca autoridade política, 
tornando a sociedade acéfala de um centro 
político, isto é, um Estado – como foi o caso da 
Revolução Gloriosa, marcada pelo conflito 
entre o Parlamento e a Coroa inglesa. Tudo isso 
serviu-lhes de inspiração para questionar a 
origem da sociedade política esuas formas de 
legitimação da autoridade política. 
A próxima seção terá como foco 
elementos históricos da queda do absolutismo 
e da ascensão do Estado moderno e liberal. 
Acreditamos que, munido dos principais 
conceitos dos filósofos contratualistas, você 
conseguirá ter um bom aproveitamento das 
informações que seguem.

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